21 Days

Bruna Pottroff | Revisada por Luba

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Capítulo 01

  Ter que me mudar de semanas em semanas não é muito agradável, principalmente quando você tem poderes os quais não podem ser descobertos, mas tem sempre alguém que tem a capacidade incrível de descobrir. Nesses vinte e um dias que passei na cidade de Forks, descobri que reencontrar com seu inimigo mortal não é tão bom assim, nossos destinos foram realmente traçados para a morte de ambos.
  ― As trevas me odeiam por eu ser um anjo. – Disse me escondendo em meio as árvores.
  ― Eu também te odeio, odeio esse seu sorriso angelical que me tira completamente do sério. – Num piscar de olhos ele já estava do meu lado.
  ― Não brinca com isso, vamos nos machucar. – Sua testa estava colada na minha, uma mordida feroz se instalou em meu lábio inferior.
  ― Eu não ligo. – Seu sorriso foi maléfico.
  Não sei se deveria brincar com isso, mas eu estava louco pra saber o que iria acontecer.

MARCH 13, 2001

  O sono tomava conta de mim, já estava a mais de três horas esperando o voo para a cidade de Forks e nada de fazerem a chamada de embarque. As pessoas ao meu lado já estavam me olhando estranho, minha mudança de humor afetava a cor dos meus olhos, hora estavam verdes, outrora ficavam amarelos e tentava o máximo possível não deixa-los vermelhos. Levantei-me com a intenção de ir voando, mas uma voz me impediu, era a chamada do voo, dei meia volta indo em direção a entrada e não demorei muito para entrar no avião e ir direto para o meu assento, sem pensar duas vezes me aconcheguei e dormi.
  Senti alguém me cutucar e despertei num pulo, outro pulo deu a pessoa que me acordou, sua voz soou doce e ao mesmo tempo medonha ao me dizer que já íamos pousar. Assenti com a cabeça e logo coloquei o cinto, me consertando na cadeira. Pelo reflexo pude ver meus olhos completamente amarelos, só assim entendi o motivo do susto daquela senhora. Senti uma leve turbulência e logo depois vi que já estávamos no solo.

**

  Estava nevando em Forks, as ruas estavam quase vazias, alguns estabelecimentos abertos e as casas todas fechadas. A casa na qual ficaria era uma das ultimas das ruas, melhor assim, que ficaria sossegado. Apressei meus passos e logo cheguei na casa, minhas costas doíam por conta das minhas asas. Ser um anjo tinha seus prós e contras, eu poderia me transformar em qualquer pessoa e forma que eu quisesse, porém isso não era o certo a se fazer. Tranquei todas as portas e janelas e tirei minha jaqueta e camisa, fazendo minhas asas se abrirem com rapidez. Senti um breve alivio ao ver a dor passando, me joguei no sofá e minha vontade maior era de dormir até o dia seguinte.
  Já eram quase 17 horas e resolvi ir ao mercado próximo dali, estava com fome e não tinha nada pra comer em casa, vesti uma roupa qualquer e sai. As pessoas me olhavam estranho, não sei ao certo se era por eu ser novo lá, ou se era pelo fato deles conseguirem sentir que sou anormal, meus olhos não me deixavam negar. Ignorei os olhares e continuei andando até o mercado. O frio tomava conta de toda parte, entrei no mercado com pressa e logo fui escolhendo algumas coisas, vi um vulto passar no início do corredor e senti um arrepio, aquele vulto não me parecia estranho, voltei minha atenção no que eu estava fazendo e logo aquele vulto apareceu novamente, mas não tão rápido quanto ao primeiro. Se eu não estivesse enganado, só tinha uma pessoa no mundo que me perturbava assim e sempre: o meu pior inimigo de todos os anos que já vivi. Tentei não pensar muito nisso, não dando atenção quando ele aparecia. Já a caminho do caixa fui interrompido por uma criança que me pedia informação.
  ― Harry, você pode me dizer onde ficam os biscoitos? – Sua voz era doce, mas eu não entendi como ele sabia meu nome.
  ― Ficam naquele corredor ali, mas como você sabe meu nome? – O encarei incrédulo temendo sua resposta.
  ― Você me disse ‘ué. – Um sorriso se abriu de orelha a orelha.
  ― Em que momento eu disse isso? – Agachei-me, ficando na mesma altura que ele.
  ― Desde que nascemos. – Sua voz e feição mudaram imediatamente, se tornando quem eu já imaginava.
  ― Eu sabia. – Suspirei ao ver aqueles olhos azuis me fitando.
  ― Achei que tomaria um susto, Harryzinho. – Seu tom de voz soou estridente.
  ― Já me acostumei com suas aparições perturbadoras. – Revirei os olhos tentando o ignorar.
  ― Sei que é mentira, você sempre quer que eu apareça, admita, querido. – Louis conseguia ser irritante quando queria.
  ― Não, agora, se me der licença, preciso ir. – Avancei passando por ele deixando-o para trás.
  ― Como quiser, anjo. – Sua risada fora sarcástica.
  Tentei não olhar para trás, sabendo que ele estaria me encarando. Odiava o fato dele aparecer sempre para me perturbar, mas, parando bem para pensar, os demônios fazem isso mesmo, perturbam as outras pessoas. Apressei-me, indo direto para a casa e tomando a forma de outra pessoa, talvez assim ele não me perseguiria.

**

  Os pingos fortes da chuva batiam na janela fazendo bastante barulho, já não conseguia mais me concentrar no livro. Levantei, indo até a cozinha beber e comer algo. A casa vazia me deixava aflito, sinto falta do meu irmão que já não vive mais aqui na terra, Niall era a melhor pessoa que existia no mundo, sempre me fazia rir e me ajudava em tudo. Despertei desse devaneio, abrindo a geladeira a procura de algo, tomei a jarra de suco em minhas mãos e peguei um copo, quando me virei o deixei cair com o susto que tomei.
  ― Será que dá pra parar com isso? – Gritei.
  ― Me desculpe, querido. – Seu sarcasmo tomou conta de si.
  ― Vai embora, como descobriu onde moro? Não tenho sossego, acabei de crer. – Dei as costas em busca de uma vassoura.
  ― Você nunca teve e nunca terá, sabe disso. E afinal, esse seu cheiro doce fica por onde você passa, nem precisei de muito esforço pra descobrir onde você mora. – Disse ele, já escorado na bancada com seus braços cruzados.
  ― Você é um encosto. - Fiquei nervoso e sem querer minhas asas se abriram, o assustando de certa forma.
  ― Nossa, ficou nervosinho? Seus olhos estão vermelhos. – Gargalhou.
  ― Vai embora, aproveita enquanto peço com educação. – Me contraí, fechando minhas asas.
  ― Tudo bem, mas não fique feliz com isso. – Deu as costas, mas virando logo. – E afinal, eu também moro aqui. – Um sorriso fechado apareceu em seu rosto.
  ― Já entendi, agora vá. – Respirei fundo e dei as costas.
  Eu não podia acreditar que nem nesse lugar eu teria paz, Louis sempre aparecia com a intenção de me levar para as trevas junto a ele, mas eu nunca farei isso, seria condenado para o inferno, imediatamente caindo em suas tentações.

  

Capítulo 02

  Estava sentado em um banco num parque qualquer, o vento estava tão forte que era de se imaginar uma arvore caindo por conta dele, o tempo estava nublado e o lugar completamente vazio, no meu relógio já eram 13h46 e eu não fazia ideia do que eu estava fazendo ou esperando ali. Alguns trovões tomaram conta do céu e os pingos grossos de chuva começaram a cair com mais velocidade, procurei algum lugar onde eu pudesse fugir da chuva mais não encontrei nenhum se quer e o que me restou foi correr para a casa. O cenário mudou completamente, agora estava em uma floresta, estava anoitecendo e, se não fosse pela minha ótima visão noturna, eu não enxergaria nada além de um centímetro a minha frente. Pude escutar passos, mas não identifiquei de que lado estavam vindo, a velocidade dos passos aumentou e eu me assustava cada vez mais. Uma voz ecoou bem de longe, podia ter certeza a quem pertencia aquela voz, sem engano nenhum, um sorriso idiota escapou, me fazendo pestanejar por isso.
  ― Hora, hora, se não é Harry Edward. Estava me esperando? – Pude escutar seu sorriso nasal.
  ― Por que eu estaria? Por acaso eu gosto de você? – Respondi logo.
  ― Responda-me você mesmo. – Virei, a procura dele, que já estava em minha frente.
  ― Sabe muito bem o quanto nos odiamos. – Sorri com ironia.
  ― Eu nunca disse que te odiava, você quem sempre repetiu isso. – Dei alguns passos para trás, tentando me afastar.
  ― Louis, me deixa em paz, pelo menos uma vez na vida. – Bufei.
  ― Mas eu já deixei, você não se lembra? – Suas asas se abriram e assim percebi que eram maiores que as minhas. – Ah, é mesmo, nunca deixei, e nunca deixarei. – Gargalhou.
  ― Isso só pode ser brincadeira. – Disse baixo a mim mesmo.
  ― Realmente, é uma brincadeira. – Respondeu ele já na minha frente. - Na verdade, eu vim aqui para te levar comigo, seu momento chegou. – Seu sorriso foi de orelha a orelha.
  ― Nunca irei com você. – Minhas asas se abriram com velocidade.
  ― Veremos. – Seus passos foram lentos, indo para trás.
  O olhava fixamente para não o perder de vista, mas era impossível, em questão de milésimos ele já estava perto de mim e eu não conseguia reagir, senti uma força maior me puxando para trás, me virei de imediato e vi minhas asas se colando com as dele como se fossem imãs, tentei fazer força contra e não conseguia mais. Nossas asas estavam coladas nos fazendo ter uma asa só, senti uma dor terrível tomando conta do meu corpo, eu não queria aquilo, tentei sair novamente e não consegui.
  Um ultimo raio bateu em minha janela, me fazendo despertar desse pesadelo terrível. Ainda suspirando, me levantei indo em direção a cozinha beber água, não tinha coisa pior para um anjo do que sonhar que está indo para o inferno. Tomei um gole buscando calma, retomei meu ar, logo voltei ao meu quarto e tentei dormir de novo. Estava um pouco difícil de dormir com todo aquele barulho de trovões, não que eu tenha medo, mas é que a cada minuto que eu conseguia dormir eles batiam na janela bruscamente e me acordavam. Eram 4AM e eu ainda não conseguia dormir, sentei-me na cama, pegando meu livro na cômoda que havia do lado da minha cama e dei inicio de onde havia parado.

**

  Estava esperando meu café chegar até minha mesa, uma rajada de sol que estava coberto pelas nuvens refletia em meu rosto, já estava quase no fim do meu livro e já estava chateado. Flashbacks do meu pesadelo vieram em minha mente no momento em que senti que Louis poderia estar por perto, não sei, mas sentia que algo de ruim ia acontecer. A maioria dos sonhos que anjos tem na verdade são visões futuras de algo que irá acontecer. Implorei pra mim mesmo que aquilo fosse só um pesadelo e que nada disso iria acontecer. Vi alguém se aproximar e parando ao meu lado, era uma mulher, loira, e tinha um belo sorriso.
  ― Olá, será que poderia me sentar aqui? É que está lotado. – Suas bochechas coraram e eu apenas sorri assentindo com a cabeça. – Obrigada. – Seu jeito desengonçado me fez rir por um momento.
  ― Cuidado para não cair ou derrubar as coisas. – Disse ainda rindo.
  ― Me desculpe, eu sou um pouco desastrada mesmo. – Ela sorriu de volta. – Eu sou a Gemma, prazer. – Sua mão se esticou em forma de cumprimento.
  ― Harry. – Apertei sua mão e voltei a ler meu livro.
  Não fui de muitas palavras pois já estava quase indo embora, ela também parecia tímida circulando coisas em um jornal que havia em sua mão, podia dizer que ela estava a procura de um emprego. Já estava na minha hora e, antes de ir, me despedi dela que, ainda desastrada, me cumprimentou de volta. Fechei meu sobretudo, colocando as mãos nos bolsos, e logo fui embora, ficando longe da vista de qualquer um que fosse, a não ser de Louis, que já estava me esperando na esquina da minha rua.
  ― Soube que sonhou comigo essa noite. – Ele brincava com seus dedos enquanto esperava minha resposta. – Já entendi, não quer falar sobre isso né? – Continuei o ignorando. De todas as opções que tinha, essa era a melhor. – Tudo bem, entrarei na sua casa e ficarei lá até que fale algo. – Seu sorriso ficou como o de uma criança ao ver doce.
  Abri a porta e nem fiz muito esforço par fechá-la, já que o encosto já estava lá dentro. Tirei meu sobretudo, pendurando na arara que havia alguns centímetros da porta, e fui andando para a cozinha.
  ― Ainda espero resposta. – Dizia ele de cima da bancada, enquanto comia uma torrada, um abuso.
  ― Louis, se você sabe que eu sonhei, porque ainda pergunta? – O cerrei com os olhos.
  ― Quero ouvir da sua boca, é mais emocionante. – Ele bateu umas palminhas, empolgado.
  ― As vezes me pergunto se sua personalidade é de alguém de vinte e quatro anos ou de dez. – Revirei os olhos.
  ― Vamos Edward, o que custa falar. – Num piscar de olhos ele já estava ao meu lado.
  ― Demônios, todos iguais. – Dei de ombros e caminhei até a sala.
  ― Você é um anjo sem graça e bem medroso, digamos. – Disse ele, se acomodando em meu sofá.
  ― E você é um carma que só tira as pessoas do sério. Olha só, vai embora, sua cota já deu por hoje. – Apontei para a porta.
  ― Hoje ficarei mais um pouco, obrigado. – Sorriu, pegando o controle da TV e a ligando.
  ― Eu não mereço isso, Deus. – Respirei fundo tentando manter a calma, caso contrário meus olhos iriam mudar de verdes a vermelhos num instante.
  Subi para o meu quarto, trancando a porta. Não importava se ele estava lá sozinho, o que importava era que eu queria ficar sozinho e em paz, mas, sabendo que ele estava no mesmo lugar que eu, não conseguia manter minha mente calma. Sua presença me deixava impaciente e inibia qualquer tipo de vontade de fazer algo que eu tinha, era como se ele sugasse toda minha energia e ficasse feliz com isso. A ajuda de calma que eu sempre pedia era ao Niall, ele era o único por quem eu mantinha a calma e não fraquejava, se não fosse por ele, já teria me entregado as trevas há tempos.

Capítulo 03

  Uma fresta da janela aberta fazia com que uma rajada de sol batesse em meu olho me despertando do sono. Olhei no relógio e vi que ainda não eram oito da manhã, esfreguei meus olhos ainda pesados por conta do sono e me levantei, indo até o banheiro. Minha cara estava horrível, toda amassada, parecia que tinha sido pisoteada por elefantes, joguei um pouco d’água para amenizar a situação, escovei meus dentes e logo desci para fazer um café. Os degraus da escada pareciam nunca ter fim, apressei meus passos e enfim estava na sala, passei direto para a cozinha e assim que cheguei na entrada dei alguns passos para trás, percebendo que havia alguém deitado no meu sofá. Não seria possível Louis ter dormido na minha casa, me aproximei do sofá e dei de cara com ele jogado, sua boca entreaberta emitia roncos baixos, seus cabelos estavam totalmente embaraçados e seus braços por cima do braço do sofá.
  ― ACORDA! – Dei um grito, fazendo com que ele fosse parar do outro lado da sala.
  ― Quer me matar do coração? – Disse com uma mão pousada sobre seu peito.
  ― Se ao menos você morresse disso, eu até tentaria. – Cruzei meus braços, escorando no sofá.
  ― Engraçadinho. Bom, o que temos para o café da manhã? – Perguntou enquanto tirava sua camisa, qual era a necessidade disso?
  ― Quem disse que você vai tomar café aqui? – Apontei o dedo para ele.
  ― Você me disse. – Sua resposta foi curta e rápida.
  ― Não me lembro de ter dito nada disso. – Seus olhos cerraram os meus, me fazendo aumentar meus batimentos cardíacos. –Tá, pode ficar. – Saiu sem que eu quisesse. – E para de controlar minhas emoções, isso é super errado.
  ― Mas eu nem fiz nada. – Deu de ombros e sorriu, andando até a cozinha.
  Bufei e saí batendo os pés até chegar lá, ele já estava de frente para a pia preparando algo, não sei exatamente o que era, mas não hesitei, deixando-o quieto.

  Enquanto mordia minha torrada pelos cantinhos ele me olhava fixamente com seus belos olhos azuis, suas mãos pequenas pegavam pela metade da caneca, o obrigando a usar as duas mãos para segura-las firmemente. Suas tatuagens pelo braço e uma no peito me chamaram atenção, de todos os demônios que já lidei, ele era diferente, sem clichê e mesmice. Arqueei uma de minhas sobrancelhas, mantendo meus olhos grudados com os dele, esperando que ele dissesse o porquê disso, mas foi em vão. Dei um gole do meu café, o fazendo se distrair olhando para minhas mãos enquanto seguravam a xicara e colocavam-na em cima da bancada. Uma ultima mordida foi o suficiente para que ele abrisse a boca e começasse a falar.
  ― Porque seus olhos estão amarelos? – Sua voz soou rouca.
  ― Esse tempo todo e você não sabe o motivo da mudança de cores? – Sorri sarcasticamente.
  ― Na verdade, não. – Sua pupila dilatou-se, tomando conta de praticamente seu olho todo. – Pode me contar? – Deu um gole em seu chá.
  ― Tá legal! – Exclamei. – Quando eles estão verdes, meu humor está normal, quando eles ficam amarelos, são minhas emoções que estão à flor da pele, já quando estão vermelhos você já sabe né? – Batia meus dedos sobre a bancada, fazendo-o acompanhar o movimento deles. – Louis? – O chamei.
  ― Perigo. – O sorriso tomou conta de seu rosto, como se o fato dos meus olhos ficaram vermelhos fosse algo que o agradasse.
  Sorri de canto ao ver ele ainda sorrindo, no momento não sei se ele me controlava ou eu sorria por vontade própria.

**

  De volta a mesma cafeteria, estava sentado em uma das mesas sozinho, como de costume, faltando poucas páginas eu ainda terminava de ler o meu livro, fui interrompido com uma doce voz feminina que se referia a mim. Eu reconheci aquela voz e aquele rosto. Gemma!
  ― Oh! Sente-se, querida. – Sorri ao dizer.
  ― Obrigada Harry. – Ela se curvou rindo e logo se sentou.
  ― Como você está? – Perguntei educadamente.
  ― Estou bem, e você? Me parece meio perturbado. – Parecia que ela me conhecia há tempos.
  ― Estou bem. – Respondi logo. – E, a proposito, um pouco perturbado também. – Sorri de canto.
  ― Seja lá o que for, vai passar. – Sua mão acariciou a minha, me fazendo puxa-la para trás, fazendo com que ela fechasse o sorriso sem graça.
  ― Me desculpa, é que eu não... – Ela me interrompeu antes que eu continuasse.
  ― Não precisa se explicar. – Sorrindo novamente, ela abriu seu livro.
  ― Tudo bem. – Desviei o olhar sem saber a cor dos meus olhos, seja lá como estivesse eu não queria assusta-la. Ela seria uma ótima amiga.
  Ficamos algumas horas ali conversando, tive devaneios em alguns momentos, não sei o porquê dos meus pensamentos estarem voltados para Louis e seu corpo a mostra hoje em minha cozinha, eu não poderia pensar nisso, nem ao menos nele. Ele mexia comigo de uma forma que me deixava com emoções a flor da pele, mudando radicalmente meu humor, me deixando com várias emoções ao mesmo tempo. Me veio em mente suas mãos pequenas ao segurar a caneca, seus olhos azuis marcantes me olhando e seus pés, que mal encostavam no chão o sentar no banco um pouco alto, isso era fofo e estranho, de toda forma, ter esses pensamentos era estranho.
  ― Harry? – Com um estalar de dedos ela me acordou dos devaneios terríveis e maravilhosos.
  ― Sim, me desculpe. Estava longe. – Sorri sem graça.
  ― Percebi. – Ela sorriu. – Bom, já esta ficando tarde e tenho que ir, então, até mais. – Ela se levantou, beijando minha bochecha. – Boa noite. – Seu sorriso tomou conta de orelha a orelha.
  ― Até mais, Gemma. – Sorri de volta.
  Mantive meus olhos fixos a minha frente, não havia nada ali, mas meus pensamentos estavam longe, bem longe de mim e do seu normal. Que anjo em plena consciência de seus pecados, pensaria dessa forma em um demônio, e o pior de tudo, um homem? Isso não estava certo, e eu estava muito afim de descobrir no que daria isso.

Capítulo 04

  MARCH 16, 2001
  Não sei se seria o correto a se fazer, mas eu estava disposto. Admitir algo assim era complicado, ainda mais para mim. Niall havia desaparecido, me deixou na mão e agora estou aqui falando com as paredes do meu quarto. Queria somente alguém para desabafar, pra mim seria ótimo se não fosse pelo fato de eu ser um anjo e não poder contar para ninguém. Queria ligar para Gemma, mas não tinha o número dela, ela seria uma ótima companhia agora. Lembrei-me das vantagens de ter alguns poderes e num instante meu celular já chamava o número dela, queria conversar, tomar um café, sei lá, qualquer coisa para me distrair desses pensamentos sórdidos.
  ― Alô? – Sua voz estava acelerada.
  ― Gemma? – Respondi logo.
  ― Sim, Harry? – Como ela sabia?
  ― Sim querida. Então, está ocupada agora? – Fui direto.
  ― Na verdade não, por quê? – Senti uma certa ansiedade.
  ― Pode vir aqui em casa, preciso conversar com alguém e pensei em você. – Ela ficou em silêncio. – Gemma?
  ― Uau! Tudo bem, me informa o endereço. – Informei o endereço e finalizei a chamada.
  Dei uma ajeitada na casa, não que estivesse bagunçada, mas era sempre bom arrumar. Estava nervoso, era primeira vez que alguém desconhecido viria aqui, isso era até estranho. Meus pensamentos se voltaram pala Louis, por que isso de novo? Estava pensando em como ele é delicado, como tudo a ele é proporcional ao seu tamanho, menos suas asas, que são gigantes e ainda me pergunto o porquê disso. Retomei ao que estava fazendo e corri para a cozinha, fiz um suco e algo para comermos ao longo do dia. Alguns minutos depois a campainha tocou, corri para atendê-la e lá estava ela, com aquele sorriso no rosto, abri mais um pouco a porta para que ela pudesse entrar e, assim fechei, fui até ela.
  ― Que bela casa, e que bela vista. – Ela riu olhando ao redor.
  ― Sim, eu gosto bastante daqui. – Sorri de volta. – Pode sentar, quer uma água, suco? – Ia saindo em direção a cozinha.
  ― Não, obrigada. – Suas bochechas ficaram coradas.
  ― Tudo bem. – Gargalhamos.
  Sentei-me no outro sofá e demos inicio a conversa, ela já não estava mais tímida como no começo, conversamos sobre muitas coisas conforme o passar do tempo, ela me disse sobre sua infância, foi um pouco triste, porém com um final feliz. Eu quase não falei de mim, afinal não tinha e nem podia dizer nada além de “foi boa”. Começamos a falar sobre livros, uma coisa que interessava a ambos, estava começando a achar que ela é minha versão feminina, afinal, éramos bastante parecidos em tudo, e, por alguma razão, eu sentia mesmo que podia confiar nela. Enquanto ela falava ia chegando mais perto de mim, minha cabeça novamente nas nuvens, dessa vez pensando se deveria contar a verdade a ela ou não. Senti uma proximidade maior da sua parte e, quando me retomei, percebi que ela tentaria me beijar. Hesitei e, sem perceber, minhas asas se abriram, a fazendo dar um pulo até a porta. Meus olhos mudaram de cor e o que eu menos queria agora era que ela fosse embora. Respirei fundo, tentando me acalmar, ela não podia tentar me beijar sem me avisar antes e, mesmo se avisasse, eu não poderia fazer isso. Enquanto caminhava até ela, completamente assustada, vi a porta da sala se abrir e Louis adentrar por ela.
  No momento em que me deparei com Louis senti como se eu estivesse engolindo gelos, meu coração disparou, achei que iria ter um ataque fulminante. Ver seus olhos azuis ficando cinza era de matar qualquer um, e eu agora apenas tentava entender o porquê de estar nervoso com sua presença.
  ― Aconteceu alguma coisa? – Sua voz soou doce como de um anjo.
  ― Na verdade, eu não sei mais. – Gemma disse com uma das mãos em seu peito.
  ― Olha Gemma, eu preciso conversar com você, mas preciso que você me prometa uma coisa. – Minhas asas se fecharam e eu caminhei até ela.
  ― Tudo bem. – Agradeci por ela não ter sido histérica.
  ― Primeira vez que vejo alguém calmo ao se deparar com um anjo. – Louis disse arrancando um olhar assustado de Gemma.
  ― Obrigado Louis, obrigado mesmo. – Respondi nervoso.
  ― Você fique quieto, deixe Harry falar. – Ela rebateu.
  ― Então, como ele já adiantou, eu sou um anjo. Por favor, não conte para ninguém, você não sabe o quanto é ruim ter que me mudar por conta de pessoas descobrindo. – Comprimi os lábios arrancando um olhar devastador de Louis.
  ― Tudo bem, não se preocupe. Eu não contarei. – Ela sorriu mostrando seu dedo mindinho em forma de promessa. Entrelacei o meu no dela e sorrimos.
  ― Se ela ficou assim quando viu um anjo, imagina como me ver. – Louis disse glorioso.
  ― Louis é seu nome, certo? Acho que não terei medo algum de ver como você é, me parece tão normal quanto eu. – Ela rebateu, o deixando nervoso.
  ― Será mesmo, Gemma? – Em questão de segundos, Louis tomou forma de Gemma, a assustando completamente.
  ― Como? Você... – Ela correu, se escondendo atrás de mim. – Harry, o que ele é? – Sua voz estava tremula.
  ― Quer saber o que sou? – Ele deu alguns passos agora tomando a minha forma.
  ― Nossa, como sou lindo. – Disse rindo dele.
  ― É lindo agora? – ele tomou sua forma real, seus olhos estavam negros.
  ― Muito lindo. – Falei baixo, mas ele conseguiu ouvir e me encarou.
  ― Porque os olhos dele estão negros, Harry? – Ela perguntava encolhida atrás de mim.
  ― Ok, você quer saber certo? Vou lhe mostrar, querida. – senti sarcasmo em sua voz.
  Naquele momento, suas enormes asas negras se abriram. Observei o quanto elas eram maiores que ele e o quanto eram bonitas, vi Gemma se encolher, ainda mais assustada, atrás de mim, eu não poderia deixar Louis fazer nada com ela.
  ― Louis chega, por favor. – Pedi educadamente, o fazendo voltar ao normal de imediato.
  ― Mas o que você é, afinal? – Ela gritou.
  ― Um demônio. – Em um piscar de olhos ele já estava atrás dela. Seus dedos passearam pelo rosto dela, a fazendo estremecer. – Eu posso controlar suas emoções, sabia? – Ele sorriu a olhando.
  ― Como? – Ela o encarou.
  ― Olhe em meus olhos querida, você verá tudo o que quiser. – Ele sorriu enquanto ela o olhava fixamente, vi os olhos dela ficarem vermelhos, ela estava intacta e completamente vermelha.
  ― Louis, da um tempo. – Puxei ela, a tirando de perto dele.
  ― Você é um mostro. – Ela tentou dizer enquanto recuperava o ar que lhe faltou naquele momento. – O que fez comigo? – Seu olhar agora era desesperador.
  ― Gemma, está tudo bem, eu estou aqui. – Abracei ela, a acalmando. – Louis, você é um idiota, não precisava fazer isso, vai embora da minha casa. Agora! – Apontei para a porta, mas ele não deu nenhum passo. – Anda Louis, nos deixe sozinhos. – Ele apenas sorriu e desapareceu.
  ― Eu estou completamente confusa. – Disse ela, se jogando no sofá.
  ― Eu imagino, Louis é um completo idiota, indelicado. – Ao falar nisso lembrei de seus olhos cinzas me olhando.
  ― Eu percebi, mas por que você, um anjo, deixa um demônio frequentar sua casa? – Essa pergunta me confundiu completamente.
  ― Bom, deixa eu ver como posso te explicar... Eu e Louis, desde que nascemos, tivemos nossos destinos traçados como rivais até depois do fim. Meu irmão perdeu a vida na guerra contra seu inimigo e... – Suspirei ao me lembrar do meu querido anjo Niall. – Eu sinto tanta falta dele. – Minha voz já estava embargada.
  ― Ei, me desculpa ter perguntado, eu não sabia. – Ela esfregou as mãos em minhas costas tentando me acalmar.
  ― Tudo bem, não esquenta. – Sorri com os olhos cheios de lagrimas.
  ― Bom, eu preciso ir, se precisar de mim pode ligar. – Ela me deu um abraço meigo e calmo, com um breve sorriso.
  Acenei pra ela enquanto a observava tentando pegar seu casaco na arara, toda atrapalhada, e abrindo a porta ao mesmo tempo. Assim que a porta se fechou, eu permiti que minhas lágrimas rolassem como forma de desabafo, me lembrar do meu irmão me deixava sensível ao extremo, lembrar ele era como se eu revivesse as alegrias e o meu momento de tristeza de sua perda.
  Deitei no sofá tapando meus olhos com meu braço, tentando respirar em meio aos soluços, deixando as lágrimas rolarem o quanto quiserem, aquele se tornou o meu momento, e não teria ninguém para me atrapalhar.

**

  Senti uma respiração próxima a minha boca, tinha também um hálito de menta suave, em meus pensamentos eu não conseguia saber quem era, apenas sorria como criança. Abri meus olhos e me deparei com belos olhos azuis mapeando os meus lábios, o que ele queria dessa vez? Continuei o encarando, mapeando também seus lábios, eles estavam vermelhos e úmidos, suas pupilas se dilataram deixando seus olhos azuis com mais intensidade. Comprimi os lábios, tentando conter os pensamentos que eu estava tendo ao olhar para seus lábios sendo mordidos pelo próprio Louis. Isso era completamente errado, mas eu estava com uma enorme vontade de beijar aqueles lábios avermelhados.
  Sua mão acariciava meus braços como gesto de carinho, um leve arrepio percorreu minha espinha, me fazendo contrair e, sem querer, ficar bem mais próximo de sua boca. Vi ele se aproximando e fechei meus olhos, pedindo para ser acordado, querendo que fosse apenas um sonho, foi em vão. Ele sorriu o ver a cena no mínimo ridícula que eu acabara de fazer, e agora nossos narizes estavam colados completamente. Eu não podia me render a isso, isso é o pior pecado que um anjo pode cometer, eu estaria condenado. Mas meu desejo falou mais alto.
  ― Louis o que você está querendo comigo? – Sussurrei de olhos fechados, sentindo sua respiração vacilando de vez em quando.
  ― Não, Harry. Olha o que você fez comigo. – Sussurrou de volta, com sua voz rouca falhando em algumas palavras.
  ― Não podemos. – Resmunguei.
  ― Uma vez só, não vai nos matar. – Ele sorriu e me beijou de leve.
  Não sabia descrever a sensação que senti nesse momento, eu apenas estava com vontade de ser beijado, com vontade, com desejo, algo em mim me dizia que os lábios de Louis eram ótimos a serem beijados. Mordi meus lábios querendo mais, muito mais e Louis atendeu ao meu pedido, antes sentado no chão em minha frente, agora no sofá em cima de mim, suas mãos pequenas cobriam minhas bochechas, seu cabelo caia sobre sua testa deixando-o mais lindo ainda. Suas pernas abraçaram minha cintura, debruçado em cima de mim, nossas testas estavam coladas, olhos nos olhos, respiração mesclada, agora estávamos em um caminho sem volta.
  Com carinho, ele selou nossos lábios, seu beijo era quente, seus lábios; macios e ótimos a serem mordidos. Senti sua língua procurando a minha, me entreguei, me perdi ao calor do seu corpo. “Oh, Deus, isso é tão bom”, nossas línguas já estavam envolvidas, nosso beijo estava completamente quente. Por impulso e desejo mordi seu lábio, arrancando suspiros. Em uma pausa suas mãos acariciaram minha barriga por cima da camisa. Não, isso não poderíamos fazer. Mais perto do meu ouvido ele sussurrou cinco palavras que me fizeram perder a cabeça, “Eu quero entrar em você”, logo mordendo meu lábio inferior e me fazendo soltar um baixo gemido, essas palavras foram o suficiente para me fazer tomar conta do que eu estava fazendo e tirá-lo de cima de mim.
  Suas bochechas arderam em chamas, seus olhos ficaram cinza, ele estava nervoso, eu podia sentir isso.
  ― O que fizemos, Louis? Não podíamos. – Disse enquanto me retomava.
  ― Você quis, eu quis, não há nada que nos impeça. – Sua mão acariciou meu ombro.
  ― Eu preciso ficar só, por favor. – Sem muita insistência ele se retirou.
  Esperei ele fechar a porta para correr até meu quarto e me jogar na cama, estava me sentindo culpado e com mais desejo ainda daquilo.
  Deus, o que foi que eu fiz?

Capítulo 05

  Eu gosto de tempos chuvosos, gosto de ler ou assistir TV enrolado na coberta, tomando chocolate quente com marshmallows, gosto de ouvir o barulho da chuva batendo em minha janela, gosto de frio, mas se tem uma coisa que eu não gosto é de ficar sozinho. Gemma precisou viajar a trabalho e Louis em momento algum apareceu, depois do que aconteceu ontem, acho que ele ficou chateado por eu ter o rejeitado. Minha consciência ainda pesava, eu, como anjo, deveria saber os limites, deveria conhecer as regras, e eu conheço, mais não consegui obedecer. Algo em mim falou mais forte, e me sinto horrível com isso, me sinto mais horrível ainda por sentir falta de Louis nesse momento, não que fosse para fazer algo, mas a companhia dele já me deixava alegre e sem ter que falar com as paredes. Faz exatamente quinze horas que ele não aparece e sinto que não irá aparecer tão cedo.
  Levantei-me, indo até a cozinha com cuidado ao andar, pois as meias facilitariam minha queda, e esfreguei minhas mãos umas nas outras a fim de esquentá-las. Abri a geladeira em busca de algo, peguei um pedaço de pudim e ia saindo quando escutei algo, me virei imediatamente e sorri ao ver Niall.
  ― Até que enfim. – Exclamei, aliviado, enquanto ele me olhava incrédulo.
  ― Temos que conversar, Harry. – Seu tom foi o mais sério possível.
  ― Sim, eu sei. Eu queria tanto te abraçar agora, mas não se pode abraçar espíritos. – Disse rindo.
  ― Hoje não dá para brincadeira, meu bem, prefere conversar aqui ou em seu quarto? – Seu tom foi intimidador.
  ― Vamos até o quarto. – Dei meia volta, subindo as escadas correndo.
  ― Bom, você sabe do que vamos falar, certo?
  ― Sim, mas antes que fale algo, eu queria dizer que eu não sei mais o que está acontecendo comigo. – Suspirei.
  ― Harry, lá em cima está uma loucura com o que aconteceu ontem, eu não quero que você seja condenado. – Sua feição mudou de séria para triste.
  ― Eu também não quero ser condenado, mas eu preciso de ajuda, eu não sei o que está acontecendo comigo, Niall. Eu estou tendo pensamentos perversos, eu não era assim.
  ― Eu estou vendo como você está, eu não apareci por esses dias pois queria ver se você ia saber ter controle da situação, mas você não conseguiu e por isso eu vim.
  ― O que eu faço?
  ― Se afasta, foge, ignora, você vai conseguir. – Olhei em seus olhos azuis e quis abraçá-lo.
  ― Mas e quando já desenvolve algum tipo de sentimento?
  ― Como é que é? – Disse bravo.
  ― Me desculpa. – Minha voz embargou e, sem que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele sumiu, me deixando mais confuso ainda.
  Deixei o que estava comendo de lado, me deitei para poder refletir em tudo o que veio acontecendo nesses dias que estou aqui, foi muita coisa ao mesmo tempo, eu estava muito confuso. Por que isso aconteceu comigo? Por que eu tinha que me apaixonar justo pelo meu inimigo? Eu não estava aceitando o fato de estar apaixonado por ele, muito menos por ele ser um demônio. Escutei algo caindo lá embaixo e me assustei, eu não estava pronto e adequado para receber pessoas em minha casa a essa hora. Desci as escadas, seguindo para onde havia vindo o barulho e me aproximei lentamente, vendo asas negras enormes em minha sala, não é possível. Louis colocava o vaso de metal de volta a minha mesinha de centro, o que parecia era que sua asa havia derrubado tal. Ele nem se quer percebeu que eu o observava, pude sentir minhas pernas bambeando ao ver que ele dava passos leves para trás, observando o vaso de metal. Sem olhar para trás, ele continuou a dar passos, dei as costas para sair, mas minhas asas se abriram sem motivo, me puxando para trás. Por mais que eu fizesse força contra, a força que me puxava para trás era mais forte, consegui olhar para Louis que estava tendo a mesma força o puxando, o que estava acontecendo?
  ― Harry, será que da pra você parar? – Ele gritou.
  ― Não sou eu, não sei o que está acontecendo. – Fiz força contra, mas foi em vão.
  ― Mas que merda.
  Olhei novamente e nossas asas estavam se colando e virando uma só, como no sonho que eu tive. Isso não podia ser real. Fiz o máximo de força que consegui, apenas me cansando. Por fim, nossas asas se juntaram, dando lugar a uma asa só, com o lado direito negro e o lado esquerdo branco. Eu não fazia ideia do que tinha acabado de acontecer, eu e Louis estávamos completamente grudados sem poder nos mexer.
  ― Mas que diabos aconteceu aqui? – Louis disse nervoso.
  ― Eu que pergunto, aconteceu exatamente como no meu sonho. – Disse sem pensar.
  ― Como? Que sonho, Harry?
  ― Esquece, temos que sair daqui. – Fiz força para frente, caindo com Louis em cima de mim.
  ― Não faça isso sem me avisar. Agora como vamos levantar daqui, meu filho? – Ele estava nervoso.
  ― Tenta fechar suas asas, talvez dê certo.
  Senti a força que ele fazia ao tentar fechar as asas e, quando não deu certo, eu comecei a ficar nervoso também. Os barulhos dos trovões ficavam cada vez mais fortes, o que dificultava minha concentração. Ainda estávamos caídos no chão da sala tentando levantar, quando menos esperei nossas asas se fecharam fazendo as costas de Louis encostarem completamente nas minhas, me deixando paralisado.
  ― Saia de cima de mim. – Pedi.
  Ele se jogou para o lado, reclamando da dor que estava sentindo nas costas, a qual eu também estava sentindo, isso que aconteceu foi extremamente estranho. Louis se levantou, me ajudando a levantar também, sua mão estava quente e isso me causou um arrepio.
  ― Está uma graça com essa calça moletom, meias e esse coque. – Seus pés se levantaram para brincar com meu cabelo.
  ― Louis, não enche e me explica logo o que aconteceu aqui.
  ― Eu não sei, Hazza, isso foi surpresa pra mim.
  ― Como sabe meu apelido, você está ultrapassando todos os limites. – Bufei. – E porque sumiu esse tempo todo?
  ― Ei, vai com calma, tá? Sou um só. – Ele me encarou e logo sorriu. – Sentiu minha falta, né? – Quando vi que suas mãos iam sentido a minha barriga e me fazendo cócegas eu logo as segurei.
  ― Precisamos conversar. – Fechei o semblante, subindo até meu quarto e vi que ele veio atrás.
  ― Pode dizer. – Ele se sentou na ponta da cama.
  Um trovão estourou com mais força, me assustando de certa forma. Louis, de imediato, deu um pulo para me abraçar com a força do habito, eu não queria aquilo, mas seu abraço foi aconchegante e me desligou de todos os pensamentos.
  ― Louis, para de me deixar assim. – Sussurrei sentindo o seu perfume cítrico.
  ― Não sou eu, Harry, é você. – ele me repetiu.
  ― Você me desfoca de tudo, eu não posso mais ficar perto de você. – Me afastei, engatinhando até o outro lado da cama.
  ― Você quer mesmo isso? – Ele me olhou como um gato pidão.
  ― Não me controle Louis, eu não quero isso, eu vou ser condenado. – Abracei meus joelhos afundando minha cabeça no meio.
  ― Eu não deixaria isso acontecer, eu me afastaria antes. – Essas palavras ecoaram por vários segundos em minha mente.
  ― Não, Louis, se afastando ou não eu já estaria condenado, pelo simples fato de beijar você. – Rebati.
  ― Me deixei levar pelo desejo, e agora estou... – Ele se afastou, voltando para a ponta da cama novamente.
  ― Está o que, Louis? – Cruzei minhas pernas, o encarando esperando respostas.
  ― Esquece, eu só queria uma ultima coisa. – Ele engatinhou até mim, ficando rente aos meus olhos.
  ― O quê? – Sussurrei.
  Ele se aproximou de mim, colando nossos lábios. Sua mão estava em minha nuca, ele me deitou ficando por cima de mim, meu coração estava mais acelerado do que nunca. Seu beijo estava quente, sua língua se enroscava com a minha fazendo a sincronia perfeita, eu podia ter certeza que esse era o melhor beijo que já havia tido. Segurei seu rosto com as duas mãos logo olhando em seus olhos, por que tão lindo? Beijei delicadamente de sua orelha, passando pela mandíbula e chegando em seu lábio, o mordendo, suas mãos, que estavam em minha cintura, me apertaram, me fazendo contrair. Eu não podia fazer nada daquilo, mas algo em Louis me tirava do sério. Beijei-o delicadamente ainda com as mãos em seu rosto, logo lambendo a ponta do seu nariz.
  ― Louis, eu não posso. – Passei minhas mãos pelas suas costas, o abraçando.
  ― Eu te entendo, Harry, e respeito. – Eu não acreditara naquilo que ele disse. – Quer que eu vá? – Os pingos grossos de chuva bateram em minha janela, um raio fez um clarão, fazendo com que a luz de toda cidade acabasse.
  ― Não, fica comigo essa noite? Eu tenho medo de trovões. – Minha voz soou manhosa.
  Pude escutar sua risada nasal, soltei-o deitando direito na cama e ele logo deitou ao lado, de costas para mim, quieto sem fazer nada. Eu queria chorar por tudo isso estar acontecendo, mas, ao invés disso, me virei e abracei Louis, que se encolheu em meus braços, segurando minhas mãos, que envolviam sua cintura.

Capítulo 06

  Louis estava sentado na outra ponta da mesa, segurando uma caneca de café enquanto esfriava o mesmo, assoprando-o, parecendo de bom humor. Comemos em silêncio, sei que ele quer dizer algo. Sei que ele sabe que quero dizer algo também, trocamos sorrisos enquanto não podemos falar nada. Ele se levantou assim que viu que terminei e veio atrás de mim, me abraçando, seus braços rodeando minha cintura, é diferente e bom quando seus lábios estão tocando meus ombros e pescoço.
  ― O que vamos fazer? Você sabe que todos lá em cima devem estar furiosos.
  ― Harry, uma vez na eternidade, você não pode viver as coisas que quer sem se importar com o que todo mundo pensa?
  Estremeci com a sua frase. É assim que ele me vê? Frágil e submisso?
  ― Só não consigo entender porque agora, depois de séculos, você quer algo comigo. Você sempre me odiou, Louis, e nunca me disse o motivo.
  ― Você não sabe? Quando Niall morreu na grande batalha, avisei para que te avisassem e não levassem Niall. Mas você o colocou na linha de frente mesmo sabendo que ele era um alvo, que ele era um dos mais fortes. Você foi bobo e inocente e o deixou lá para morrer. Todos os aliados de Lúcifer se juntaram em Niall e deixaram apenas seu espirito no limbo. Você sabe o quanto doeu para mim? Me senti covarde por não ter ido lutar. Senti essa dor horrível de perda por séculos, estava tão machucado que por dentro estava negro, então decidi tornar meu externo o mesmo e fiz minha aliança. Escolhi o lado do inimigo, o lado dos que machucaram quem eu amava. Se não pude contra eles iria me unir a eles, porque ninguém do céu veio me ajudar. Nenhum deles veio tirar ou amenizar minha dor. Fiquei ali, apenas agonizando por meu melhor amigo enquanto você simplesmente sumiu!
  Louis dizia com raiva e, pela primeira vez, eu o vi chorar, lágrimas de raiva, dor e tristeza por relembrar o passado o consumiam. Podia sentir tudo, estávamos ligados pelas asas, todas suas emoções eram minhas e meus olhos mudavam de cor do amarelo ao vermelho em segundos, me sentia fraco.
  ― Sumi Louis, não fui à batalha, assim como você. Não fui avisado, não fui lutar. Você já se perguntou o porquê? Estava na linha de frente e eles armaram para mim. Eles foram ate a casa da mortal que me protegia. Não podiam me matar, sou um anjo. E anjos só são vulneráveis em batalhas, então me prenderam. Já ouviu falar na flecha amaldiçoada de Aquiles? Cravaram ela em meu peito. Fiquei imóvel por todos os anos que você sofreu e, quando finalmente fui libertado, você chegou totalmente mudado. Eu precisava do meu momento sabe? Eu perdi o meu irmão, eu sofri mais do que você. Pois quando cheguei suas asas estavam negras e você me acusava de algo que nem mesmo dizia o motivo. E tudo faz sentido, erámos os mais fortes. Com Zayn e Liam renunciando e pedindo para serem humanos e saírem da batalha, os inimigos maiores eram eu e você. Eles sabiam que tínhamos essa ligação e Niall estava no meio dela. Armaram pra nós, nos separaram e ainda tiraram meu irmão de mim, apenas caímos em seu plano e eles pegaram você como um deles. Como você pode me beijar agora?
  Ele estava imóvel e perplexo. Pela primeira vez sem palavras. Só se aproximou de mim, selando meus lábios.
  ― Eu não sei, só quero poder estar com você, Harry. E eternizar todo esse desejo de tempos. Preciso de um tempo.
  Quando abri meus olhos, ele não estava mais ali. Estava na cozinha, sozinho, olhando nossas duas xicaras de café vazias. Eu não acredito que deixei ele ir embora mais uma vez, eu quero me livrar dele, mas ao mesmo tempo eu quero o perigo. Niall me disse para me afastar, mas está sendo difícil, e eu acho que não irei dar ouvidos ao Niall, preciso seguir meu coração e minhas vontades. Subi para meu quarto, indo me vestir, eu precisava ir atrás do Louis, eu precisava dele, e ninguém mais do que Gemma poderia me ajudar.
  Em frente ao mercado eu andava de um lado ao outro esperando Gemma, eu estava aflito e precisava muito contar a ela tudo o que aconteceu, eu precisava desabafar, e ela no momento era a melhor pessoa, depois que Niall me abandonou de vez. Senti alguém me abraçar pela cintura, sua cabeça batia em meio as minhas costas, olhei suas mãos que estavam em minha barriga: Gemma.
  ― Até que enfim. – Me virei abraçando ela.
  ― Desculpe a demora, tive que resolver uns problemas. Mas venha. – Ela puxou minha mão até o outro lado da rua, onde ficava uma lanchonete.
  Entramos e sentamos, fizemos um pedido qualquer e enquanto ela vasculhava sua bolsa em busca de algo. Eu respirava fundo, tomando coragem para contar tudo a ela.
  ― Pronto. – Disse ela, sorrindo e colocando sua bolsa de lado.
  ― E-er... Eu não sei c-como vou te dizer isso. – Engoli em seco, analisando seus olhos que não se desgrudavam do meu. – É que eu estou confuso.
  ― Confuso com o que, horas? – Seu queixo estava apoiado em suas mãos e ela me analisava como nunca.
  ― Com... o Louis. – Cocei minha nuca, desviando o olhar.
  ― Mas, o que ele te fez? – Ala girava seu anel com um de seus dedos sem parar de me olhar, eu agora me sentia intimidado.
  ― Tudo, tudo o que ele fez, tudo o que eu fiz. Não era pra ser assim, não era pra eu beijar ele, não era pra eu me apaixonar por ele. – Afundei minha cabeça no meio de meus braços e senti vontade de chorar.
  ― Se apaixonar? Ficou maluco? Ele é um homem e você... também. – A encarei sem entender o porquê do histerismo. – Não faz sentido você se apaixonar por um demônio e... Harry, presta atenção. – Ela fazia gestos com as mãos enquanto falava.
  ― Eu não te entendo, Gemma, você não ajudou em nada. – Senti minha irritação ficar pior.
  Meus olhos já estavam ardendo, assim como a ponta do meu nariz, a encarei por alguns segundos antes de me levantar e desaparecer, parando em minha casa. Eu agora realmente queria ficar sozinho e apenas chorar em forma de desabafo por tudo isso estar acontecendo.
  Liguei o chuveiro, deixando a água morna escorrer pelo meu corpo todo, junto a água que ia pelo ralo, iam minhas lágrimas. Eu estava me sentindo fraco mediante essa situação, fraco para qualquer coisa, se tivesse que enfrentar alguma batalha eu seria o primeiro a morrer. Agachei-me, sentando no chão, abraçando minhas pernas e com a cabeça escorada em meus braços, deixando minhas lágrimas correrem o quanto quisessem, me sentia tão ingênuo e idiota a ponto de me apaixonar por Louis, meu maior inimigo, mas, melhor amigo na infância. Onde eu estava com a cabeça quando cedi a isso tudo?

Capítulo 07

  “Eu me lembro de ter acordado naquela manhã de primavera sorrindo pelas flores desabrochadas em meu jardim, sentindo a brisa leve que percorria o interior da casa e um clássico vindo da cozinha, era Niall. Lembro-me de como ele adorava cozinhar e de como eu amava as coisas que ele fazia, o quanto ele era feliz por ter pessoas queridas bem perto a ele; Louis e eu. Era trinta de março quando estava na sala tomando meu café com os meninos e escutei uma das trombetas soarem, isso não era bom, nos assustamos e corremos para fora da casa. Milhares de anjos estavam descendo e, por algum motivo, eu sentia um aperto no peito. Segurei na mão de Niall e sabia que a batalha está mais próxima do que imaginávamos. Entrei, a procura do meu escudo. e quando voltei ninguém estava mais ali, Niall e Louis haviam sumido e me deixado para trás, eu me encontrava de joelhos no chão, tentando imaginar para que raios de lugar eles foram. Eu fui até a casa dos mortais que me protegiam, eu precisava protege-los de certa forma, sei que Liam e Zayn faziam isso por mim, mas eu não poderia deixa-los nesse momento.
  Foi horrível chegar e ver demônios os torturando a mando de Lúcifer, eu cheguei no momento certo, eles afastaram Zayn e Liam disso, eles queriam a mim, eu daria minha vida pela dos mortais, mas eu não podia ser morto e me senti culpado naquele momento. Eles me cravaram a flecha em meu peito e, a partir daí, eu não podia fazer mais nada, nem se quer lutar ao lado do meu irmão. Caí no chão a olhares de desespero sobre meu corpo ali estirado, não queria dar adeus daquela forma: a pior possível.”

  Esses pensamentos consumiam minha mente ao longo do dia, cada milésimo, segundo, minuto ou hora que passava sozinho eu enlouquecia com meu próprio sofrimento, eu sabia que era cruel me lembrar dessas coisas, mas é que eu não conseguia evitar, ainda mais depois da discussão com Louis ontem de manhã.
  Eu ainda estava na cama, olhando para a parede a minha frente, não tinha força para levantar ou fazer qualquer outra coisa, eu só queria uma coisa, a qual não poderia ter momento algum, ou começaria a pior guerra de todas. Eu queria tanto poder ler os pensamentos das pessoas, mas isso foi me tirado, junto a mais alguns dons quando aquela flecha de Aquiles foi cravada em meu peito, perdi meus melhores dons. Escutei as batidas na porta soarem, eu não queria atender ninguém, eu queria me isolar e ficar ali até tudo isso passar, mas quem batia não queria me deixar quieto. As batidas insistiram, quem quer que seja irá cansar de bater na porta por que eu não iria me levantar para atender.
  Foi meio que impossível continuar deitado, depois de longos dez minutos com a pessoa insistindo nas batidas me deixando sem opção, eu não estava preparado para lidar com emoções e não sei como reagiria se fosse Louis ali atrás daquela porta. Levantei batendo os pés, eu estava nervoso e antes de abrir a porta respirei fundo algumas vezes, minha mão tremula girava a maçaneta na esperança de não ser o Louis ali atrás dela, meu coração acelerava conforme a porta iria se abrindo e logo quando vi Gemma ali, com os olhos vermelhos de choro, minha reação foi me afastar, permitindo que ela entrasse. Por mais que eu estivesse chateado pela reação dela ontem, eu não conseguiria fechar a porta na cara dela e não falar mais com ela como se nada tivesse acontecido.
  ― H-harry? – Sua voz soou trêmula atrás de mim.
  ― Estou ouvindo. – Respondi seco.
  ― Eu vim... te pedir desculpas pelo jeito que reagi ontem, eu fiquei confusa e... me desculpa se te magoei. – A vi sentar-se no sofá ao meu lado, escorando seu rosto em suas mãos.
  ― Tudo bem, eu te entendo. – Me sentei no sofá do outro lado, a encarando, ela estava diferente.
  ― Não, Harry, eu agi como uma criança em ter falado daquela forma, você estava frágil e submisso... – A interrompi.
  ― É assim que você me vê? Frágil e submisso? – Gritei, pois já havia tido esses pensamentos antes.
  ― Não foi isso... Harry, me desculpa. – Meus olhos estavam cheios de lágrimas.
  ― Olha, Gemma, passei minha vida toda preso, me sentindo culpado por todas as coisas que já aconteceram, principalmente por Louis se aliar a Lucífer. – Senti uma lágrima escorrer por minha bochecha. – Você acha que fiquei feliz quando o vi? Quando vi que suas lindas asas brancas impecáveis se transformaram em asas negras? Quando vi que antes éramos amigos e hoje tudo o que ele quer é me destruir? – Meus joelhos se dobraram por não aguentar a força das palavras que eu mesmo havia dito.
  ― Harry, não se sinta assim... talvez tenha uma razão pra tudo isso. – Ela disse ainda sentada, me encarando.
  ― A RAZÃO FOI EU. – Gritei cuspindo toda a culpa que estava sentindo. – Se eu não tivesse ido atrás dos mortais que me protegiam ele ainda seria um anjo, um lindo anjo do coração que valia ouro. – Disse já entre soluços. – Eu não queria isso Gemma, eu queria ter me aliado no lugar dele, eu deveria ter morrido no lugar do meu irmão. – Minha voz já estava falha.
  Escorado no sofá e abraçando minhas pernas, eu chorava em desespero, mesmo eu jogando todas aquelas palavras pela janela, eu sentia um chumbo sobre mim. Eu sabia que, por mais que fosse mínima, eu ainda tinha culpa nisso tudo. As lágrimas embaçavam minha visão ao ver Gemma chorando ali no sofá, eu ia sentindo raiva, ela não conseguiu me acalmar ou me ajudar em momento algum e isso me irritava bastante. Enquanto limpava as lágrimas dos meus olhos, vi ela inquieta no sofá, estava nervosa, algo a consumia, ela não era a mesma, e confirmei quando vi asas negras pulando para fora de sua jaqueta me assustando, vi sua forma de Gemma se tornar Louis e eu comecei a chorar ainda mais.
  ― Harry, chega. – Ele gritou, vindo até mim. – Eu não aguento mais te ver chorando assim, isso está me machucando, para, por favor. – Vi a ponta do seu nariz ficar vermelha e ele logo se ajoelhar diante a mim.
  ― Não acredito que foi você esse tempo todo, Louis, você não deveria saber dessas coisas. – Desviei o olhar, evitando mais lágrimas.
  ― Eu deveria, no inicio achei loucura, mas eu, eu te entendi Hazza, e eu queria te dizer que nada foi culpa sua, em, olhe para mim. – Suas pequenas mãos tocaram em minhas bochechas, pegando cada lágrima que escorria sobre elas.
  ― Amar um demônio é tão ruim assim? – Disse com dengo, arrancando um sorriso dos lábios de Louis.
  ― Não. Amor nunca é ruim, pelo menos não deveria ser.
  Louis se aproximou de mim, a mão dele tocou hesitante meu rosto, me acariciando.
  ― Todas as vezes, na historia do mundo, quando um anjo ama um demônio as coisas não vão bem, Louis.
  Ele suspirou e continuou a me olhar diferente. É diferente porque ele não estava bravo, ele não parecia ansioso e nem mesmo chateado, não é uma reação das que sei que ele possivelmente poderia ter. Estava apenas acariciando meu rosto e estamos aqui, juntos, de alguma maneira.
  ― Não ligo pra historia, nós podemos mudar ela se quisermos. Se estamos apaixonados é porque devemos estar, não é algo que possamos controlar. Só não posso mais te ver chorando, só não posso mais me arrastar pelos cantos e viver sabendo que não tentei. Se há uma guerra, que lutemos ela, se há uma guerra, que eu esteja com você antes de começar, se ganharmos uma guerra, que fiquemos juntos depois dela. Não é ruim amar um demônio, não quando ele ama você de volta e destruiria o inferno por você.
  Todas as palavras que saíram de sua boca me deixaram paralisado, não pode ser ele ali me dizendo tudo isso. A dor e o peso da minha história, de todas as coisas que perdi e de todas as minhas feridas foi embora. Abracei Louis e minhas mãos tocaram suas asas abertas e expostas. Meus dedos subiram até sua nuca e a seguraram firme, não queria o soltar, não queria o deixar, não podia o deixar ir me abandonar de novo.
  ― Não me deixe de novo. – Disse em meio o aperto em nossos corpos.
  ― Estou aqui, confuso, mas estou aqui com você. – Ele respondeu, selando nossos lábios com amor, envolvendo em um beijo que nunca senti em toda minha vida.

Capítulo 08

  A chuva ficava mais forte a cada minuto que se passava, não era a primeira madrugada que não conseguia dormir. Depois que vim para cá, todas as noites têm sido perturbadoras para mim, não sei o porquê, mas talvez fosse pelo fato de uma guerra devastadora estar para acontecer por minha culpa. O rimbombar dos trovões me assustavam toda vez e, todas as vezes, as mãos delicadas de Louis me envolviam em forma de calma. Mesmo assim, eu não conseguia fechar os olhos e descansar completamente.
  ― I know you, haven't made your mind up yet, but I would never do you wrong... – Sua voz rouca soou em meu ouvido.
  ― Oh, Lou, talvez isso me acalme de vez. – Sussurrei enquanto sentia suas mãos fazerem caminho em minhas costas.
  ― ...I've known it from the moment, that we met no doubt in my mind, where you belong... – Era como se ele soubesse exatamente o quanto eu ficava bem ao escutar essas músicas. – Vai ficar tudo bem, amor. – Senti seus lábios em meus ombros enquanto ele continuava acariciando minhas costas.
  ― Não vai, Louis, eu sei que não. – Sussurrei novamente, porém mais calmo.
  ― Não pense assim. – Suas mãos viraram meu corpo de frente ao seu, permitindo que nossos olhos ficassem rentes um ao outro. – Vai ficar tudo bem, conosco e com o mundo. – Seus lábios colaram com os meus. – Não se preocupe. – Seus braços me envolveram em forma de proteção e eu o apertei carinhosamente.
  ― Tão pequeno. – Sorri enquanto o apertava.
  Pude escutar seu riso abafado enquanto buscava abrigo em meus braços. Eu me sentia melhor, Louis sempre tinha um jeito de me fazer ficar melhor, na verdade, sempre teve. A chuva havia cessado e agora só se escutava o tic-tac do relógio na parede e, em poucos segundos, batidas horrendas na porta fizeram com que Louis e eu corrêssemos para lá desconfiados. Eram duas vozes não muito estranhas para mim, me aproximei mais da porta murmurando um baixo “quem está ai?” e obtive respostas breves, me deixando feliz e preocupado num instante.
  ― Cara, como foi difícil achar você. – O moreno disse, adentrando a casa e paralisado ao ver Louis atrás de mim.
  ― O que fazem aqui? – Perguntei ainda confuso.
  ― Viemos a pedido de Niall. – Liam disse em pausa a cada palavra, observando Louis, que encarava os dois sem entender.
  ― Porque me encaram?
  ― Olha, Harry e Louis, o que viemos fazer aqui não vai agradar vocês dois. – Zayn disse se sentando no sofá. – Na verdade, é uma coisa muito ruim.
  ― Já imagino o que seja. – Sentei-me lentamente, respirando fundo.
  ― Eu ainda não sei do que estão falando. – Louis grunhiu confuso.
  ― Niall nos mandou aqui, para que avisássemos a vocês... – Pude ver o quão preocupado ele ficava a cada palavra dita. – Uma guerra vai acontecer se vocês continuarem juntos. – Senti meu corpo estremecer com o impacto daquelas palavras, eu sabia o que iria acontecer, mas me recusava a aceitar e ter que deixar Louis.
  ― Isso nunca, eu não vou deixar. – Louis se levantou e pude ver seus olhos mudando de azuis para cinza de imediato.
  ― Louis, calma, deve haver algum jeito de isso não acontecer. – Falei, na tentativa de acalmá-lo.
  ― Isso não vai acontecer, Harry, e vocês dois, vão embora, por favor, chega de escutar isso. – Ele gritou, assustando Liam e Zayn que, sem medir esforços, foram embora.
  Encarei Louis, nervoso com tudo aquilo e chateado por ele ter agido com grosseria com os meninos, talvez eles não estivessem mentindo. Talvez Niall realmente os mandou aqui, já que não aparecia mais para mim. Os olhos de Louis continuavam cinza e pude sentir a raiva que tomava seu coração, o fato de estarmos ligados pelas asas nos transfere todas as emoções que sentimos. Pude ver seus olhos lacrimejarem e senti minhas bochechas esquentarem, eu não gostava de ver Louis assim e, ao que parecia, ele também não. Dei um passo até ele, o puxando para um abraço e logo pegando cada lágrima que caia de sua bochecha com a ponta dos dedos, eu não podia deixá-lo desse jeito. Beijei cada canto de seu rosto, tentando arrancar um sorriso do mesmo, mas o que eu via em seus olhos não era calma.
  ― Ei, estou aqui com você, lembra? Deve haver algum jeito sim de acabar com isso.
  ― Você promete que não vai nos acontecer nada? – Sua voz soou manhosa.
  ― Sim, te disse isso ontem, hoje, te direi amanhã e sempre. Nada vai nos acontecer, baby. – Selei nossos lábios com amor e, quando olhei em seus olhos, eles estavam azuis novamente.
  ― Não entendo como tudo pode conspirar contra nós.
  Falei e fui para o meio da cama, me sentando e olhando para a parede da frente.
  ― As coisas boas não são fáceis.
  Louis disse e subiu na cama, ficando entre minhas pernas e me encarando.
  ― Eu sou fácil pra você.
  Falei rindo. Louis ficou próximo dos meus lábios e deslizou os seus ali, dançando com eles pelo meu rosto.
  ― Você é a escolha mais difícil e certa, Harry Styles.
  Suas mãos encontraram as minhas e ele deitou meu corpo, ficando por cima de mim enquanto subia meus braços e fazia com que eles ficassem acima da minha cabeça.
  ― Você é a escolha mais fácil e errada, Louis Tomlinson.
  Ele mordeu meu lábio inferior e o sugou devagar.
  ― Você gosta das coisas erradas, bonzinhos tem dificuldade em dizer isso. Não quero dizer que essa guerra vai acontecer. Não quero dizer que vamos nos separar, mas se for real, quero que essa noite fique pra sempre comigo e com você.
  Pude sentir que era como uma despedida, não queria pensar que era uma, Louis vai fazer de tudo para que fiquemos juntos. Seus lábios percorreram pelo meu estomago, os barulhos de trovão agora não são nada quanto ao medo que sinto, não quero o deixar ir, não posso o deixar ir. Meus ossos doíam junto com minhas asas, que queriam sair e queriam que eu o deixasse, por alguns segundos não ligo se tiver que lutar. O mundo inteiro lutaria por amor? Louis voltou aos meus lábios e me beijou, minhas mãos foram para a sua nunca e comecei a encarar cada beijo como se fosse o ultimo. Quando seria o nosso ultimo beijo? Eu o beijei como se nada pudesse me parar, como se tivesse que guardar cada memoria do gosto de sua boca quando toca a minha, cada sentimento que se passa na minha pele como se os fosse desenhar algum dia e lhe entregar, eu sou seu, sempre fui seu. E todos sabiam que nossas almas eram juntas, sei que ele sente tudo que esta se passando agora, nossas asas conectadas não nos deixam mentir. Ele beijou meu pescoço em todos os lugares possíveis e soube que estava fazendo o mesmo, estava fazendo memorias para serem guardadas, estamos assustados, estamos apaixonados. Louis tirou a minha boxer e a sua, suas mãos foram para o meu quadril, subindo ali uma de suas mãos até meu pescoço. Ele selou meus lábios.
  ― Nunca pare de lutar por mim.
  Ele falou e sua mão subiu ate meu rosto, o tocando.
  ― Nunca desista de lutar por mim.
  Quando falei, senti seu membro em mim, de uma vez só. Mordi meu lábio inferior pela dor repentina. Ele me beijou ate que a dor passasse e se moveu devagar, passei minhas pernas em volta de seu quadril e empurrei devagar, o sentindo. Suas mãos passaram pelos meus braços, me segurando. Eu o senti, o senti como nunca antes, nós estávamos conectados com isso que não pode ser explicado então tudo é duplicado. O nosso medo, a nossa vontade, o nosso amor. Alguns minutos e ele gozou em mim e fez com que gozasse em seu estomago, ficamos calados. Louis saiu de cima do meu corpo e se deitou do meu lado, ainda estava chovendo. Nos viramos de lado, encarando um ao outro. Comecei a chorar, era ridículo e impulsivo e caí sem controle. A realidade caiu sobre mim, de que somos eu e ele contra o mundo, e alguém pode se machucar. Louis não disse nada, só me puxou para perto dele e me abraçou. Porque as palavras estão ecoando na cabeça dele assim como ecoam na minha.
  ― “E nem os anjos do céu lá em cima, nem demônios debaixo do mar. Poderão separar a minha alma da alma. Da linda que eu soube amar.” Eu vou lutar por você Harry, vou fazer você feliz.
  Ele citou baixo, estávamos assustados, estávamos apaixonados. Dormimos abraçados enquanto a chuva caía.

Capítulo 09

  MARCH 29, 2001
  Os dias tem se passado rápido demais, era como se o mundo havia se esquecido de mim e Louis e do, digamos, erro que estávamos cometendo. Niall não apareceu mais, assim como Zayn e Liam, e eu realmente comecei a achar que tudo aquilo não passou de uma brincadeira. Eu e Louis? Estávamos a mil maravilhas, percebi que ele realmente me faz feliz, e que ele é tudo o que eu preciso.

“Inesquecível foi o seu olhar
Meu coração só quer você pra amar
Imprevisível seu jeito de ser
Eu sem você não dá pra imaginar...”

  Estávamos na cozinha, ele preparava o almoço enquanto eu fazia o suco, era um dia normal como todos tem sido e isso era maravilhoso. Ele se virou e me encarou, sorri sem entender, seus olhos encontraram o meu e senti que estava vermelho.
  ― Já disse que adoro quando seus olhos ficam amarelos? – Pude escutar seu riso abafado.
  ― Já disse que adoro os seus quando estão azuis da cor do céu? – Fui em sua direção, apertando a ponta do seu nariz e o beijando em seguida.
  ― Que tal darmos uma volta pela cidade, ir ao parque, sei lá, qualquer coisa. – Seus lábios percorriam minha mandíbula já cerrada, isso me causava arrepios.
  ― Ok, baby, vamos, vou a qualquer lugar, desde que seja com você. – Sorri e o beijei rápido, mordendo seu lábio.
  ― Hm amor, se fizermos isso agora eu não faço o almoço.
  ― Idiota. – gargalhamos e logo terminei o que estava fazendo.
  Assim que terminamos de almoçar, nos arrumamos e fomos dar uma volta pela cidade. Nós andávamos de mãos dadas, as pessoas pareciam não se importar e nós também não, isso era uma coisa bem normal. Ajeitei a touca em minha cabeça, meus cabelos estavam bastante desgrenhados e a minha preguiça de arrumá-los falou mais alto, Louis me olhava e sorria o tempo todo, eu adorava o seu sorriso. Era engraçado o fato de eu ser maior do que ele, ele odiava quando eu brincava com isso e eu amo o ver bravo. Estávamos no parque, as crianças brincavam e sorriam o tempo todo nos brinquedos, havia um casal de velhos sentados em um banco, pareciam felizes, isso me fez sorrir, do outro lado vi uma mulher chorando, eu não sei ao certo o que aconteceu, Louis saberia me dizer mas eu não queria que ele fizesse isso. Eu não gosto de ver pessoas chorando, isso me parte o coração, dói saber que ela não possa estar bem ou algo do tipo, ver alguém chorando é como ver Louis chorando em minha frente, eu não suporto e me dá vontade de chorar também. Apressei meus passos, segurando a mão de Louis, que me olhava sem entender, isso realmente mexeu comigo e eu agora queria chorar.
  ― Lou... – Murmurei baixinho e ele me olhou esperançoso.
  ― Diga, amor.
  ― E se essa calmaria toda for em vão? - Minha voz foi falhou, sentamos em um banco qualquer para conversar.
  ― Harry, de novo isso?
  ― Me desculpa, mas... Pensa comigo, está tudo muito calmo, tem algo atrás disso tudo, eu consigo sentir.
  ― Amor, olha pra mim, não vai acontecer nada, eles não estão tramando nada, eles simplesmente aceitaram e pronto. Se caso acontecer, vai ser só um nevoeiro e tudo sempre passa. – Um beijo se instalou em minha testa.
  ― Mas e se demorar demais pra passar? E se não passar? Eu realmente tenho medo disso. – Desviei o olhar e senti suas mãos me envolverem em forma de abraço.
  ― Não vai demorar e, independente de qualquer coisa, eu vou estar aqui com você sempre, eu te amo, amor. – Sussurrou.
  ― Eu te amo bem mais, meu pequeno anjo. – O abracei mais forte o beijando em seguida.

  MARCH 30, 2001
  Era um novo dia, fazia muito barulho e isso me fez acordar mais cedo que Louis. Abri as cortinas e vi neve espessa caindo. Uma tempestade. Louis dormia de lado, analisei todos os seus traços, ele era perfeito até demais para mim, o jeito que cerrava sua mandíbula enquanto sonhava, o jeito que ele respirava calmamente, seu cabelo desgrenhado com um pouco caindo sobre a testa. Sorri ao ver tudo isso e beijie seu rosto.
  ― Louis, acorda.
  Falei baixo, ele abriu os olhos devagar e levou a mão até o rosto, esfregando os olhos.
  ― O que aconteceu, Harry?
  Fiquei de joelhos na cama o observando.
  ― Esta nevando! – Falo animado e ele riu.
  ― Você me acordou pra falar que esta nevando?
  Subi no corpo de Louis e me sentei em seu quadril. Abaixei-me devagar e beijei seu pescoço.
  ― Gosto de te ver acordar.
  Quando meus dentes puxaram sua pele e minha boca sugou sua pele, ele arfou, minhas mãos deslizando pelas suas laterais.
  ― Você gosta?
  Ele disse com dificuldade.
  ― Gosto quando você acorda, gosto quando esta de pé perto da janela apenas usando calça de moletom e fica olhando lá fora, gosto quando esta cortando legumes usando avental, gosto quando esta deitado no sofá vendo TV e dorme. Gosto de todos os seus pequenos pedaços, Louis Tomlinson. – Olhei em seus olhos, a cor mudando do azul para o cinza, das bordas até que se completem em toda a cor do olho. – Lide com isso Louis, deixe eles ficarem azuis pra mim, vamos mostrar pra eles que podemos ser mais humanos com amor do que eles pensam.
  Louis respirou e fechou seus olhos. Abaixei-me e o beijei, minhas mãos tocando seus ombros. Foi um beijo calmo, Louis respirava rápido, como se pedisse para que ele desacelerasse todo o mundo agora e deixasse somente eu e ele ali. Somos só eu e ele. Minha língua tocou a dele e minhas unhas curtas fincaram-se em sua pele enquanto minha pele tocava a pele dele, tudo nele me despertava. O seu cheiro, a sua voz, o seu toque. Separei-me dele, que abriu os olhos. Estavam azuis de novo, meu coração acelerou. Um estouro ocorreu por toda a casa, vidros voaram por toda a parte, as janelas, os vasos, tudo que era feito de vidro se partiu em mil pedaços. A tempestade parou. Flocos de neve apenas caiam finos lá fora.
  ― Eles não vão nós deixar em paz Louis. Nós passamos todos os limites.
  Louis segurou meu pulso e me fez olhar para ele. Sua mão segurou a minha. Nossos olhos estavam vermelhos, todos os nossos instintos de raiva, amor e ódio estavam ali.
  ― Nós vamos lutar por amor.
  Olhei para a janela e tudo ficou negro. Eu não estava preparado para isso tudo, eu não queria isso, não queria essa luta e, o pior de tudo, eu não queria perder o Louis, sabendo que sofreria a vida toda.

Capítulo 10

  MARCH 30, 2001
  O céu estava negro, minha casa já estava sem vidro nenhum, dou um passo até a janela furando meu pé com um dos cacos, me sento na cama o tirando lentamente – droga – olho pela janela e vejo pessoas correndo desesperadas, crianças e seus pais chorando mesmo sem saber o que estava acontecendo. Olho para Louis ao meu lado, seus olhos estão negros e ele esta prestes a se transformar. O abraço inesperadamente, ele não retribui, ele realmente está nervoso, nossas asas se abrem e se juntam no mesmo momento. Nossa ligação é mais forte do que qualquer coisa que possa existir, ando contra as forças e quando nos soltamos caímos, olho para minhas asas e elas estão diferentes, uma parte esta negra e a outra branca – como em um sonho que tive – isso não poderia estar acontecendo.
  ― Louis, que dia é hoje? – Perguntei irritadiço.
  ― Eu não sei, sexta? – Seu olhar era confuso.
  ― Não Louis, que data é hoje? – Ele não conseguiu me responder, corro até o calendário que estava na cômoda. – MAS QUE DROGA. – Gritei, jogando-o longe.
  ― Harry, o que aconteceu?
  ― Hoje é dia trinta Louis, você sabe o que significa? Como eu pude ser tão tolo a ponto de me esquecer disso. – Minha voz se embargava. – Louis, eles vão nos separar novamente.
  ― Não vão Harry, porra. – Suas mãos seguravam meu rosto. – Eles não estão nem doidos de fazerem isso novamente, você me ouviu?
  ― Eu te ouvi Louis, mas eles eu acho que não. – Senti uma lágrima correr pelo meu rosto. – Temos que ir, nós precisamos lutar. – Apertei a ponta do meu nariz buscando calma, olhei em seus olhos. – Lindos olhos azuis, ficarão comigo para sempre. – Sorri de canto enquanto acariciava sua bochecha e o via beijando minha mão. – Independente do que aconteça hoje, saiba que você foi minha primeira paixão real, Louis.
  Vi seus olhos lacrimejarem e nossos lábios selarem, não queria pensar em perder ele, mas não sabia o que nos aguardava.
  Saímos pela janela voando, as pessoas nos olhavam com medo, deviam estar imaginando que fossemos o motivo disso tudo. Fixamos nossos pés no chão, olhando em volta não víamos ninguém, pedindo para que as pessoas se mantivessem calmas, no meio de muitos vi a Gemma, um pouco desesperada vindo em minha direção, seu sorriso ao me ver sumiu quando ela olhou para minhas asas. Seus passos se apressaram e quando ela já estava de braços abertos para mim, algo a vinte centímetros de mim a impediu do abraço, era como um campo protetor.
  ― Harry, o que está acontecendo? – Ela perguntava chorando.
  ― Chegou o dia, Gemma, eu quero que você vá para sua casa, se esconda, não vou aguentar ver eles te machucarem. – Pedi, me afastando.
  ― Harry, não. – Não ousei olhar para trás e me afastei junto a Louis.
  ― Ela vai ficar bem. – Ele passou as mãos sobre minhas costas e eu respirei fundo, me acalmando.
  Escutei os gritos de espanto das pessoas, quando levei meu olhar para onde eles apontavam, vi; milhares de anjos descendo, e não eram só anjos, asas negras gigantes se misturavam em meio as brancas e douradas. Em minha mente, a única coisa que se passava era de que toda essa guerra era por minha causa, realmente era. Será mesmo que eu era o culpado de tudo isso? Será que eu fui enganado pelo Louis também? Meu estomago embrulhou e em minha garganta estavam nós, minha vontade era de gritar e correr para longe dali, agora me sentia como um ninguém, e acima de tudo, traído pela minha própria família.
  Todos os demônios me atacaram, todos os anjos atacaram Louis. As ruas viraram um campo de batalha.
  ― O que vamos fazer? – Gritei para Louis, que estava um pouco longe.
  ― Se defenda. Pegue o máximo que conseguir, alguém vai nos explicar o que está acontecendo.
  Não era como da primeira vez, não era organizado. Eles estavam todos misturados e o foco era em mim e Louis. Anjos que perderam suas asas estavam no meio, lutando com espadas e atacando todos que entravam em sua frente. Meus punhos já doíam, me ajoelhei e fechei os olhos, luzes saíram por todo meu corpo, fazendo com que todos que estavam ao meu redor caíssem. Quando olhei para frente, tudo ao redor de Louis pegava fogo, ele incendiou a rua toda e anjos de asas brancas voavam, tentando o atacar. Ele voou rápido ate mim.
  ― Não faz sentido. – Falei, respirando rápido, o ataque de luzes deixou meu corpo fraco. Eles vieram todos ao nosso encontro, Louis fez um circulo de fogo que vai aumentando, como se fosse uma parede que impedia que eles passassem.
  ― Temos que sair daqui. – Ele pegou minha mão e, quando estávamos quase saindo de perto do lugar, alguém me segurou e me impulsionou para baixo, ate que minhas costas atingissem a calçada. Um pé pressionando a minha garganta.
  ― Mas que merda é essa, Niall? – Louis gritou atrás de mim e atingiu Niall, jogando-o no chão.
  ― Surpresos? – Ele sorriu com êxito.
  ― Muito. – Respondi baixo.
  ― Imaginei. – Ele gargalhou, se levantando e nos observando. – E agora, sabem o porquê de eu estar aqui? – Seu olhar era maléfico.
  ― Eu realmente não sei. – Disse nervoso.
  ― Vejamos. – Seus olhos cerraram os meus, me causando medo. – Há séculos atrás, exatamente no dia trinta de março, uma guerra aconteceu e, o mais engraçado, quem foi separado?
  ― Niall, o que esta acontecendo?
  Seus olhos estavam cinza e os meus, vermelhos. Suas asas tinham as cores de um demônio.
  ― Louis, na verdade a culpa toda foi sua. Vocês sabiam, que a guerra aconteceu por causa de vocês, certo? Aquilo tudo foi uma armação para ver se assim vocês se separavam.
  As palavras saíam como tiros em meu peito, o que havíamos feito para merecer isso?
  ― Eu ainda não entendo o que você quer, aonde quer chegar. – Perguntei, mesmo com medo.
  ― Tudo bem. – Ele estalou seu pescoço. – Vocês são a destruição do mundo, desde que nasceram, vocês sabiam disso? E então, vocês se apaixonam, que lindinho. – Disse em um tom sarcástico. – Isso está errado, muito errado. O amor de vocês não constrói, no caso, ele destrói mesmo, tanto a vida de vocês, quanto a de quem convive com vocês. E eu ainda tive sorte. Ele se tornou um demônio e mesmo assim você não desiste! Você quebrou a maior regra, anjos não amam demônios, e ninguém fez nada! Estava cansado sobre ninguém fazer nada, anjos não podem amar, a balança não fica certa. Então eu reuni todos eles. – Ele abriu as asas, como se fosse o líder de todos os anjos que estão atrás dele. – Eu vou ter poder Harry, eu vou comandar tudo isso e só você esta no meio.
  Seu olhar era de nojo.
  ― Nós matamos você na primeira guerra. – Meus olhos já ardiam, assim como a ponta do meu nariz.
  ― Eu estou vivíssimo, meus queridos, não veem? Mais vivo do que vocês estarão daqui a pouco.
  Seu sorriso mais uma vez foi glorioso.
  ― Não fale sobre o nosso amor, Niall, você nunca vai ser capaz de sentir algo assim, você é só um monstro. Acha que pode nos matar e ficar com todo o controle da terra pra você? Que pode comandar todos esses anjos? Eles nunca vão deixar.
  Louis estava prestes a partir para cima de Niall, mas eu o impedi.
  ― Posso! Louis, o demônio idiota e rejeitado. Queria aproveitar o momento e dizer, que, quando você nasceu, sua mamãezinha querida, Joh, que Deus a tenha. – Ele beijou um de seus dedos apontando para o céu. – Enfim, quando ela te pegou no colo, toda feliz, olhou em seus olhos e te jogou longe e disse exatamente assim “Quando te conheci e olhei em seus olhos, eu vi as trevas.”   Seu tom foi de repugnância.
  ― Cala a boca. – Louis gritou já com lágrimas nos olhos.
  Ele se aproximou de Niall e, quando vi, Louis havia sido jogado para longe.
  ― Harry, o irmãozinho poderoso. Achei que afastando vocês e cravando a flecha de Aquiles em seu peito eu conseguiria todo o poder sobre a terra, mas vi que foi em vão, demônio incompetente. – Mais uma vez, as palavras me acertaram como tiros. – Você é um tolo que acredita em tudo e todos, realmente um anjo, muito ingênuo por sinal, caiu nas garras de outro sem noção e agora olha no que deu, que maravilha, não?
  ― Como você pôde? Todos os dias eu me lembrava de você, todos os dias senti sua falta. Saí de perto de Louis, me isolei porque não aceitava o fato de não poder ter você perto.
  ― Deveria ter se mantido afastado, Harry. Não estaria acontecendo essa guerra se você soubesse que seu lugar é longe de Louis. Louis é poderoso e, quando você não estiver mais aqui, ele vai me ajudar a governar, vai entender que pode ter mais.
  Ele pegou algo familiar, a flecha de Aquiles, e se aproximou de mim devagar.
  ― Você é ganancioso, não sei mais quem você é. – Disse já com mais nós na garganta.
  ― Não me importa, é bom não corresponder suas expectativas idiotas. Vou fazer o que tinha que ter feito na primeira guerra.
  Dei alguns passos para trás, tentando me afastar. Eu não acredito que meu próprio irmão estava querendo me matar, o que aconteceu com ele? Ele costumava ser tão amoroso comigo e Louis, sempre nos protegendo de tudo e todos, nunca nos deixou faltar nada, sempre me amou, e agora queria me matar? Eu realmente não sabia quem era ele. Ele empunhou a flecha e me acertou, a ponta atravessou meu coração e Niall a puxou de volta. O céu ficou escuro e a neve caiu fina novamente. Passei meus dedos sobre meu peito e o sangue escorreu. Escutei Louis gritar meu nome quando caí no chão.
  ― NÃO, HARRY, NÃO, NÃO, POR FAVOR VOCÊ NÃO! – Ele gritou se abaixando contra meu corpo com lágrimas nos olhos, uma delas escorreu pela sua bochecha e caiu sobre meu rosto, me fazendo sorrir fraco.
  ― Você sempre vai estar em meu coração, Louis. – Tentei dizer mais alguma coisa, mas o que eu sentia no momento era dor.
  A minha visão começara a ficar turva, meu peito queimava, era como se a flecha continha fogo, eu não suportaria por muito tempo. Olhei mais uma vez para Louis sentindo seus lábios macios e rosados colarem com os meus, seria a ultima vez que os sentiria. Acariciei seu rosto angelical, seus olhos eu já não via. Uma ultima pontada e eu já não via mais nada, era o fim de Harry e o inicio de Louis sem mim.

[Louis POV’S]
  Era como se todos meus ossos estivessem quebrados, uma dor insuportável. Harry estava ali no chão, sem vida, e seus lábios, antes vermelhos, agora estavam brancos. Levantei, não conseguia parar de chorar, não conseguia controlar nada, tudo queimava em volta de mim e do corpo de Harry. Era contraditório, neve caindo do céu e chamas brotando do chão. Todos os anjos voaram para cima enquanto o chão pegava fogo e todas as casas, tudo que é material, era destruído. O fogo foi cessado. O céu ficou escuro e todos os anjos desceram. Lá encima era como um buraco negro agora, ele estava ali. Nunca apareceu, só o vi uma vez, quando me aliei ao seu lado.
  ― Parece que alguém está brincando por aqui. – Sua pele era negra e ele era alto, estava descaço e vestia branco, com suas asas grandes e pretas que continham algumas faixas em dourado.
  Ele olhou para Niall e apenas apontou para ele, fazendo as asas de Niall cairem e ele se ajoelhar.
  ― Não estou feliz, Niall, sabe por quê? Porque você fez bagunça enquanto seu pai não está olhando. O que você não sabe é que estou sempre olhando e quis ver ate aonde iria. É uma pena. – Ele pegou Niall pela garganta e a apertou. Niall sufocou um pouco e ele o soltou. – Resolvo as coisas com você depois. – Ele veio ate mim e me olhou fixamente. – Louis Tomlinson, o amante do anjo.
  ― Eu mesmo. – Assenti com a cabeça, eu estava confuso e ainda enxugando as lágrimas.
  Ele olhou para o corpo de Harry caído ali e voltou a olhar para mim.
  ― Gosto da sua coragem, lutar por amor e todas essas coisas. Na verdade mesmo, eu não gosto, por mim você ia ficar sem suas asas e condenado a virar humano ou qualquer coisa bem pior. Mas parece que o Senhor... – Ele aponta para o céu – Gosta dessas coisas, então fizemos um acordo, não tão bom para você, mas ainda sim um acordo.
  O encarei desconfiado, ele não era de acordos, eu custaria a acreditar que ele realmente estava fazendo isso, então ele prosseguiu.
  ― Você pode ficar com Harry, mas ele está morto e anjos só morrem por anjos, Niall fez o favor de o matar, para meu desprezo. Não leve a mal, em outras ocasiões acharia uma graça ele ter matado um anjo, mas dessa vez me trouxe dor de cabeça e, veja, estou aqui, perdendo meu tempo, dando um jeito nessas crianças. – Ele bufou, revirando os olhos.
  ― Qual é o acordo? – Perguntei sério, o interrompendo.
  ― Você pode ficar com Harry, mas ele será um mortal. Sempre voltará para você quando morrer, em todas as encarnações será seu e somente seu. Chamo essa maldição de soulmates, ele é sua alma gêmea e, mesmo que você esteja cansado dele, ele virá atrás de você. Sentirá necessidade de você, Louis, e você dele.
  ― Não parece ruim. Vamos viver juntos todas as vidas ele só não será imortal. – Eu não conseguia pensar em nada além de ter o Harry comigo, nem mesmo nos contras dessa maldição.
  Ele sorriu, como se tivesse um segredo.
  ― Então entra minha parte do acordo. Ele nunca vai se lembrar da vida anterior, incluindo essa, ele vai te amar porque vocês tem essa coisa. – Ele colocou a mão dramaticamente no coração. – Mas nunca vai se lembrar e terá memórias a partir do momento que voltar a viver de novo. Você nunca vai saber quem ele é porque vai voltar com um rosto diferente a cada vida, sempre vai ser quando você menos esperar. – Ele revirou os olhos como se estivesse cansado de explicar e murmurou um baixo e seco: – Seja feliz, Louis.
  Ele disse e, quando fechei os olhos e os abri novamente, a rua estava limpa, todos haviam ido embora. Não havia nenhum vestígio de guerra, a neve caia fina e no chão apenas o cordão que Harry costumava usar com um pingente de aviãozinho de papel. Eu o peguei e sorri pela lembrança, eu dei aquele cordão para ele nos séculos passados, era seu aniversário.
  “Estavam todos na sala, tia Anne, Niall, minha mãe e eu, Harry ainda não havia chegado e eu estava louco para dar meu presente para ele, não era algo grande e nem caro, mas, era uma coisa que eu sabia que ele gostava e aposto que ficaria feliz com isso. Vi a maçaneta girar e todos ficaram em silencio, as luzes estavam apagadas e, assim que Harry entrou, as luzes se acenderam e todos gritaram “Surpresa!”. Pude ver a felicidade em seu olhar, eu de certa forma podia escutar seus pensamentos, não sei como, mas achava legal. Ele havia achado que todos haviam esquecido seu aniversário, mas não esquecemos, era tudo uma surpresa e eu queria contar logo para ele. Ele estava fazendo dez anos, eu achava seus cachos engraçados, o vi se aproximando de mim, sorrindo com aqueles lábios vermelhos e covinhas fundas que eu adorava brincar afundando meu dedo nelas, seus braços estavam abertos prontos para o abraço, e assim o fiz.
  ― Parabéns, Harry, desculpa não te contar, mas tinha que manter segredo. – Sussurrei em seu ouvido, sorrindo em seguida.
  ― Achei que vocês haviam se esquecido de mim, passei o dia todo triste, poxa, Boo. – Ele deu um soco em meu braço de leve e gargalhamos, minha bochecha corou, eu adorava quando ele me chamava de Boo.
  ― Eu... queria te dar seu presente, não é algo grande e legal, mas você vai gostar. – Sorri um pouco sem graça enquanto coçava minha nuca.
  ― Cadê? – Seus olhos brilharam enquanto ele dava pulinhos de alegria.
  Tirei o cordão do bolso e fiquei feliz ao vê-lo sorrir também, seus olhos não paravam de brilhar e pude jurar que eles tinham mudado de verde para amarelo, ele me abraçou apertado e eu retribuí.
  ― Eu amei, Boo, obrigado mesmo. – Peguei o cordão de sua mão, colocando-o em seu pescoço...”

  Coloquei o cordão em meu pescoço.
  ― Estarei sempre em seu coração, Harry.
  Murmurei para mim mesmo, voltando para a casa que costumava ser de Harry.

Fim.



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