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Natashia Kitamura
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Temporada #006

Smoke & Mirrors
Demi Lovato

Esta história não possui capas prévias (:

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Zona Central

  Sentados no topo da colina, a noite parecia mais fria do que se de fato estivéssemos no inverno.
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  Não. Era verão e as cigarras cantavam tão alto, que poderíamos dizer que não havia ninguém em um raio de dez quilômetros de distância que não as ouvisse. Como era engraçado saber que o dia seguinte seria tão quente, quando a noite que estávamos vivendo era tão fria.
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  - Eles não vão demorar muito mais. – sua voz soou no meio de toda a cantoria das cigarras.
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  Apertei sua mão, sentindo um misto de emoções, nenhuma delas positiva.
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  Ansiedade, nervosismo, preocupação… saudade.
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  Eu já sentia sua falta, mesmo nem tendo certeza se iríamos nos separar. Talvez meu coração estivesse avisando de que seria assim. Meu coração geralmente sempre estava certo.
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  Ele só errou ao escolher justo Ele para amar.
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  Então o som das cigarras foram apagadas pelos gritos.
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  - Eles estão ali!
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  - Ali em cima da colina!
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  - Corra logo, moleque!
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  Encarei o rosto dele ao meu lado. Esperei ver algum tipo de reação em sua afeição, mas não havia nada ali. Nem ansiedade, nem nervosismo e nem preocupação. Mas havia saudade. Ah, havia sim. Seus olhos perdidos no horizonte puderam me deixar a par de todos os nossos momentos de alegria nas últimas semanas. Pude ver como se fosse um filme.
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  Abri um pequeno sorriso e apertei sua mão de novo
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  Tudo ficaria bem.
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Phoenix, Arizona – 16 de Junho de 2017

  Dentro de uma cidade, há sempre pequenas comunidades que são formadas por famílias que possuem os mesmos pensamentos e talvez os mesmos ideais de vida. Seja o que for que tenham em comum, é o suficiente para viverem em harmonia, convivendo pacificamente uns com os outros.
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  No entanto, a existência de outras comunidades às vezes pode ser vista como um estorvo para os integrantes delas. Saber que devem dividir um território com pessoas que não respeitam seus pensamentos ou escolhas é razão para brigas e discussões, além da necessidade de provar que é o melhor.
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  A verdade é que hoje em dia as coisas não são mais assim, tão segmentadas. As pessoas convivem normalmente, não se importam com as outras e suas opiniões, e decide viver a vida da maneira que quer, mesmo que os próprios pais sejam contra suas escolhas.
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  Isso, meus caros, é a vida normal.
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  Minha vida, devo dizer desde já, não é nada normal.
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  Vivo na sociedade segmentada, como comecei explicando. Faço parte da comunidade do Sul de Phoenix, assim como meus pais, assim como os pais dos meus pais, os pais dos meus avós e assim por diante.
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  O que quero dizer é que nunca, jamais um integrante da zona Sul se uniu com o de qualquer outra zona.
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  É possível achar que sou uma louca, afinal, o mundo não é dividido por zonas. Talvez o local de moradia informe a qualidade que os imóveis têm ou o tipo de vida social se terá na área. Não é assim que acontece aqui em Phoenix. Pessoas de outras cidades são bem-vindas em nossa não-mais-pequena-comunidade, que inicialmente, na época dos meus tatara-tatara-tatara-tatara-avós era composto por cerca de 40 famílias; atualmente, somos em mais de mil. Talvez bem mais, mas não importa. O que importa é: se você nasceu em Phoenix (seja por acidente ou não), você só é bem-vindo na zona em que nasceu. Se você não nasceu em Phoenix e não tem nenhuma associação sanguínea com uma pessoa nascida em Phoenix (todos tempos um primo de não sei quantos graus desconhecido), então você é bem-vindo em qualquer zona (desde que não diga que gostou mais de outra zona).
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  Atualmente, somente as famílias que migram para Phoenix não vivem essa segmentação. Por conta da divisão das zonas, cada uma se esforça em ser considerada a melhor de todas – o tipo de briga que se tem no mundo, entre países, mas aqui, em Phoenix –, consequentemente, a qualidade de vida em nossa cidade se torna uma das melhores do país. Isso faz como que pessoas de outros lugares tenham interesse em se mudar para nossa cidade e arriscar uma vida melhor.
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  Tudo bem, todas zonas recebem de braços abertos os novos cidadãos de Phoenix. E tudo bem se, após ter se estabilizado em uma zona, a pessoa ou família decida se mudar para outra zona. Ninguém deve ficar em um local que não se adapta bem, não é? Claro! Desde que você não tenha filhos lá.
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  Como já disse, a questão de linhagem sanguínea é levada muito a sério em Phoenix, portanto, se você, um estrangeiro, teve um filho na zona Norte e quer vir para a Sul, você será bem-vindo, mas seu filho não. Para conseguir uma transferência, é necessário muita burocracia (já ouvi falar que tiveram de mudar o local de nascimento do bebê) e jogo de cintura (corre o rumor de que o prefeito, nascido na zona Leste, gastou um bom dinheiro e ofereceu muitas vantagens à zona Oeste, que acabou o aceitando).
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  Tudo isso somente porque um dia há centenas e talvez milhares de anos atrás 4 famílias brigaram e, por todos terem uma forte personalidade, decidiram criar seus próprios grupos de amizade, recusando ter qualquer tipo de relação com os antigos amigos. Blábláblá.
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  No meio disso tudo, existe eu, , nascida no sul e provavelmente mantida nessa zona pelo resto da minha vida. Meus pais, assim como todos os adultos, levam a divisão de zonas muito a sério. Eles nunca tiveram uma boa experiência com cidadãos de outras zonas (deixo claro que eles também nunca trataram as outras pessoas bem), então insistem em me dizer que o melhor está na zona sul.
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  Dentre toda essa anormalidade, existe a zona central. Ela é geralmente ocupada por turistas e empresas multinacionais. Pessoas de todas as zonas passeiam pelo local sem saber exatamente quem é de outra zona e quem não é, afinal, com o tanto de gente que tem em Phoenix, é difícil até saber quem são as pessoas da própria zona.
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  A zona central é mantida pelo governo federal (é a mentira que os prefeitos inventam para não queimarem a imagem com os eleitores de sua própria zona). As eleições são feitas de forma justa, em que há uma ordem a qual os cidadãos de Phoenix seguem, ou seja, sabemos que se o prefeito de agora é do norte, na próxima eleição será eleito um prefeito do oeste. Apesar da ordem ser respeitada para a posição de prefeito, dentro da câmara há uma quantidade enorme de políticos das outras zonas, para garantir que o prefeito não prevaleça somente à sua zona (o que facilmente acontece).
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   O problema dessa bagunça toda, é que vivemos praticamente em uma ditadura. Se estamos em Phoenix e somos nascidos em Phoenix, então as regras são claras. Quem não quer segui-las, basta não viver em Phoenix. Entretanto, não foram muitas pessoas que partiram da cidade. É mais fácil arranjar um emprego em um local que pensa em você, do que em outra cidade que mal sabe como funciona.
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  É por isso que estou na zona central, e é por isso que passo todos os meus dias aqui. Quero aproveitar todo o tempo disponível que tenho, me acostumando a viver fora do esquema das zonas. Apesar de ser bastante cômodo, nunca gostei de não poder ir a outro lugar porque nasci em outra zona. Chega a ser bastante ridículo. Quero viver em um lugar onde eu possa ir aonde quiser e meus filhos não precisarão ser julgados só porque nasceram no hospital errado.
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  - Você vai continuar jogando? – ouvi ao meu lado, tirando-me de meu transe.
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  - O quê? – perguntei automaticamente.
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  Seus olhos eram acinzentados.
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  Foi tudo o que vi, porque não consegui desviar meu olhar para o resto de sua aparência, quando as íris dele eram absolutamente exóticos.
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  - Ei! – um estalo de dedos em frente ao meu rosto me trouxe de volta, mais uma vez, à realidade. – Eu queria jogar aí. – apontou para o fliperama.
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  - A-ah… é… claro. – dei um passo para o lado.
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  - Você pode terminar – ele riu. –, não quis dizer para você sair imediatamente.
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  - Não, não, eu já terminei. – disse, parecendo mais uma mongoloide do que uma garota comum.
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  - Tem certeza? – ele se moveu para perto de mim quando concordei com a cabeça, já que meu cérebro se uniu ao estado de mongoloide.
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  Havia resquícios de verde e azul próximo ao centro.
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  - O quê? – ele perguntou.
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  - O quê? – perguntei, saindo do transe pela terceira vez.
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  Ele riu e se voltou ao jogo, terminando-o para mim.
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  - Você disse que tem resquícios de verde e azul próximo do centro. – seus olhos estavam focados no jogo, então não corri o risco de travar novamente.
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  Rapidamente enviei as mãos à boca. Eu havia dito em voz alta?
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  - Não é nada.
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  - Sou conhecido por ser uma pessoa bem curiosa. – ele disse sorrindo. – Mesmo não nos conhecendo, posso me tornar um martírio até o final do dia. – seus olhos de repente voltaram a me encarar, mas eu havia me preparado. Só um pouco, mas havia. – Acredite, não quero ficar seguindo você o dia inteiro. Me programei durante uma semana para gastar todo o meu tempo de hoje aqui.
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  - Tudo isso só para dizer que está curioso em saber o que eu queria dizer? – perguntei, ouvindo sua gargalhada. Em seguida, um vários cupons apareceram em meu campo de visão.
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  - Isso mesmo. Ou posso ficar com seus cupons, você sabe, parte por ter feito todo o trabalho sozinho – olhou para o jogo finalizado. –, e parte por não ter minha curiosidade saciada com uma explicação.
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  - Você pode ficar com a sua parte do trabalho – peguei metade dos cupons de sua mão. –, mas eu fico com o resto. Eu estava falando dos seus olhos.
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  - Meus olhos? – ele ergueu uma sobrancelha enquanto enfiava os cupons de qualquer jeito em sua pochete. – Você conseguiu ver as nuances das cores dos meus olhos?
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  - Eu nunca havia visto olhos acinzentados antes. – ergui os ombros, como se não tivesse culpa de ter vidrado meus olhos nele na maior cara de pau.
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  - Bem, então eu sou uma obra de arte. – ele afirmou, tirando de mim uma exclamação. – Obrigado.
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  - Não há de quê.
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  Olhei para meus cupons todos reunidos e comecei a conta-los, só para ter certeza de que eu poderia conseguir algumas balas ou pelo menos um refil de bebida na lanchonete do shopping.
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  - Você precisa se esforçar mais para conseguir prêmios bons. Isso que você tem dá para um pirulito.
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  - Eu vim pelo pirulito. – respondi, vendo-o abrir a boca, pasmo. Após um tempo de choque, ele decidiu se expressar:
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  - Mentira!
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  - Claro que é mentira, por que eu viria até aqui me esforçar para conseguir cupons e trocá-la por um pirulito?
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  - Uma caixa de pirulitos. – ele me corrigiu.
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  - Uau. – nem fingi animação, o que o fez rir mais uma vez. – Você não deveria estar trabalhando?
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  Ele riu.
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  - Por que você acha que eu deveria estar trabalhando? Eu posso muito bem ser um estudante, não é?
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  - Você com certeza não é mais novo do que eu. E já estou formada. Na faculdade. – cruzei meus braços. – Então…
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  - É por isso que dizem que as mulheres amadurecem mais rápido que as mulheres. – ele resmungou. – Você está certa, sou mais velho do que um estudante universitário, mas posso te garantir que não cheguei nos 30 anos.
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  Abri um pequeno sorriso com o esquivo que ele deu para não me dizer sua idade. Geralmente são as mulheres que escondem essa informação.
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  Pelos meus cálculos que só cismam em serem eficientes em momentos assim, não tão importantes quanto uma prova final da aula de gestão administrativa, mais de 15 minutos de conversa faz com que seja obrigatório uma apresentação, nem que seja informal.
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  - Meu nome é .
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  O fato de dividir com ele minha identidade básica (vejam que não informei meu sobrenome), o fez me encarar e gastar um tempo avaliando toda a situação.
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  - Se eu me apresentar, significa que somos amigos. Você tem disposição para ser minha amiga?
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  - A pergunta é, você tem disposição para ser meu amigo?
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  Ele soltou uma gargalhada e então balançou a cabeça, como se tivesse sido convencido de que eu era mais esperta do que ele – o que, até agora, provou-se certo de que sou.
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  - Sou .
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  - ? – ergui uma sobrancelha.
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  - É. Quase como a onomatopeia do som que fazemos quando batemos na porta.
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  - Caraca. Quantas vezes você teve de explicar seu nome, para ter um argumento desse?
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  - Milhares. – ele suspirou, deixando os ombros caírem. – Para ser sincero, apesar de não ser tão velho quanto devo parecer, também não sou tão novo como você, então talvez já tenha ido para a casa do milhão.
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  - Milhão? – ri. – E você conseguiu conhecer um milhão de pessoas?
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  - Você pode estar falando com uma pessoa milionária. Eu posso ter viajado o mundo. Quando viajamos sozinho, é como uma aventura, você tem que se entrosar com os nativos.
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   não era famoso, disso eu tinha certeza. Passo a maior parte do tempo na internet lendo sobre o mundo – as fofocas dele, admito – e estou certa de que não havia nenhum famoso que pudesse conhecer um milhão de pessoas em menos de ¼ de um centenário.
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  Só que ele era divertido à beça. Disse que sempre estava por ali, mas não era, obviamente, da região. Ninguém mora na zona central, afinal. Contive minha curiosidade em saber mais sobre ele, de qual zona ele era. Se você omite o lugar que veio, então é de uma determinada zona. Espero que ele não seja do norte. É o maior rival do sul e até mesmo eu, liberal como sou, não tenho muita vontade de conhecer o lado deles. De todas as zonas, a norte é a mais distinta. Enquanto no sul, leste e oeste tempos opiniões ligeiramente parecidas, o norte parece gostar de ser diferente.
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  Talvez não seja do norte. Ele não me pareceu ser tão diferente de mim, quero dizer, ser discreto não é muito da praia dos nortistas.
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  Uma semana se passou e as férias de verão se iniciaram. Eu e pudemos nos encontrar com mais frequência na zona central. Todos os dias, eu acordava e rapidamente me trocava. Era como se ele fosse o meu melhor amigo. Nós mal nos separávamos no final do dia e já tínhamos programação para o dia seguinte.
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  - O que tanto você sai nessas férias? – Ollie, meu irmão mais novo perguntou. Sou um ano mais velha que ele, mas sempre me sinto um ano mais nova, tamanha é a necessidade dele em agir como mais velho. Isso tudo porque de todos os meus irmãos, ele é o único mais novo. Somos em 6. Desses 6, sou a única garota, o que me impediu de ter uma vida tranquila.
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  Quando se é a única garota numa família com seis filhos, nós não temos muitas opções senão agir como um garoto ou ter muitas amigas interessadas mais neles do que em minha amizade.
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  Nenhuma das duas opções me pareceu ser favorável, por isso acabei sendo a exclusa da família que gosta de ficar trancada dentro do quarto fazendo coisas na internet, como aumentar minha vontade de morar fora de Phoenix.
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  - Nada demais. Vou no fliperama da zona central.
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  - Nós temos um fliperama aqui no sul. – Paul, o terceiro mais velho, disse. – Por que ir até lá?
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  - Lá tem o jogo da morte. – ergui os ombros.
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  - E você jogar ele? São tantas pessoas falando desse tal de jogo da morte, que acho que deve ser impossível conseguir jogá-la.
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  - É por isso que fico lá o dia inteiro. Eu chego, pego uma senha, jogo outros jogos enquanto espero e pronto.
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  - Você chega cedo e ainda tem de esperar um dia inteiro? – Ollie me olhou com suspeita. Revirei meus olhos.
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  - Eu jogo mais de uma vez e como temos de jogar para pegar outra senha…
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  - Estabelecimento espertinho… – Paul comentou. – E é isso o que você faz? Duas semanas de férias passaram e essa foi sua rotina?
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  - É impressionante como ela consegue criar uma rotina com tanta facilidade.
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  - Que bom que a vida é minha. – me levanto, pegando a fatia de pão que não havia terminado de comer. – Vou indo.
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  - Quer uma carona? Vou até o Johnny.
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  - Nah, vou de bike.
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  - E desde quando você anda de bike?
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  - Desde que vocês me ensinaram. – respondi, acenando.
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  O bom de ser uma exclusa é que ter uma amizade se torna algo impossível de acontecer. Por isso, nenhum irmão meu se preocupou em me questionar com quem eu estive durante todo o tempo. Eles, melhor do que ninguém, sabem bem que sou uma pessoa que consegue viver tranquilamente sozinha, o que minha mãe diz ser um pouco preocupante para ela.
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  Eu não iria para o fliperama dessa vez. No dia anterior, eu e decidimos explorar os arredores de Phoenix, que era repleto por trilhas naturais que levavam a colinas ou montanhas com vistas espetaculares, ou riachos e cachoeiras. Por ser verão, a rota das águas se torna chata de se visitar, então optamos pelas colinas. Vamos até o local de bicicleta, onde deixamos em um lugar seguro e terminamos o trajeto a pé. Lá, passamos todo o dia conversando e falando sobre nosso futuro.
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  - Fala, vai. – disse ao meu lado, as mãos erguidas e servindo de apoio para a cabeça. – De que zona você é?
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  - Você é mesmo insistente.
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  Desde a semana anterior quer abrir o jogo e trocarmos a informação de qual zona somos. Como eu nunca tive muito contato que não fosse online com uma pessoa de outra zona ou de fora de Phoenix, não me senti segura em dizer.
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  - Eu não vou te matar, dedurar ou qualquer coisa que seja uma encrenca. Na verdade, tudo é apenas para sanar uma curiosidade minha. Venho pensando nisso há um tempo. Eu acho que você é da leste.
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  - Leste? Por que eu seria?
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  - As garotas de lá tendem a ser loiras como você. Não vi muitas pessoas com seu tom de cabelo nas outras zonas.
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  - Você conhece pessoas de todas as zonas?
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  - Você não deveria estar surpresa. – ele mexeu o dedo. – Sou o cara que conhece um milhão de pessoas, lembra?
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  Abri um sorriso.
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  - Agora é sério. – ele disse. – Não minto quando digo que conheço pessoas de outras zonas. Tem sempre os rebeldes que não querem ser da zona que são, mas têm medo de sair de casa e viver independente.
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  - Você gosta da zona em que vive.
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  - Estou acomodado. – ele ergueu os ombros. – Tenho um trabalho lá, não preciso pagar minhas contas… bem daora. Minha mãe disse que só falta eu casar.
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  Senti minhas bochechas corarem com o assunto de casamento. Eu nunca havia discutido sobre isso nem com meus familiares, quanto mais com pessoas de fora. Quando meus amigos online perguntam sobre o modo de vida das zonas, falo sobre casamento como se fosse um argumento técnico.
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  Mas agora era diferente.
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  Diferente porque estou vivendo uma situação.
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  E por que sou boba o suficiente para me imaginar com .
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  - Está me ouvindo, ?
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  - Hum?
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  - Eu estava falando sobre como as mães são exigentes com as garotas.
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  - Talvez seja porque elas tiveram de passar pela mesma situação.
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  - Talvez. – ele virou seu rosto de volta para o céu, já que estávamos deitados em uma área da colina que havia uma seiva macia para nos acomodar. Da outra vez que viemos já havia umas pessoas no local, então decidimos chegar mais cedo para ninguém tomar o lugar que havíamos decidido ser nosso. – Às vezes acho que a divisão das zonas torna tudo mais difícil do que fácil.
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  - Por quê?
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   ergueu os ombros e em seguida suspirou.
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  - Posso não conhecer um milhão de pessoas, mas conheço todas as garotas do norte. Meus pais esperam que eu case com uma delas, mas garanto para você que não sou fresco quando digo que nenhuma delas parece ser boa o suficiente para mim.
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  - Você pode tentar conhecer melhor alguma.
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  Vi seus olhos cinzas virarem para mim. Em seguida, foi o corpo que se virou em minha direção.
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  - Vai ser difícil encontrar alguém melhor que você lá.
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  Não desviei meu olhar do dele. E não era somente porque seus olhos me hipnotizavam. Eu, de fato, encarava o olhar, mas minha mente não estava travada. Funcionava muito bem; tão bem que em menos de um minuto de pausa do diálogo foi o suficiente para eu repetir sua fala mais de 100 vezes em minha cabeça.
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  - O que você quer dizer?
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  - Você é . – ele disse, me surpreendendo.
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  - Como você—
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  - A internet é mesmo fascinante. – ele sorriu. – Minha irmã mais nova lê o seu blog. Ela diz que se identifica muito com você.
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  - Ah.
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  Carlo, meu irmão mais velho, já havia dito que a internet poderia me trazer problema. Eu nunca havia dito de qual zona sou, e sabia que havia leitores de zonas diferentes da minha, mas jamais iria imaginar que teria acesso a ele. Quero dizer, meu blog fala sobre muitas coisas, mas principalmente sobre minha vontade de conhecer um mundo que não é tão minimamente segmentada.
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  - Por que você ainda não saiu?
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  Essa era uma pergunta cuja resposta eu ainda procurava. Não consigo descrever como medo, porque não tenho. Se alguém me oferecesse um trabalho assim que eu terminasse a faculdade, o que aconteceu há menos de um mês, eu teria rapidamente aceitado e colocado minhas mochilas nos ombros.
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  Meu defeito, de acordo com a psicóloga do colégio em que estudei, é que não gosto de passar por momentos inusitados. Sempre estou planejando tudo o que faço, para que não haja surpresas no caminho. Depois que ela me falou, pude perceber que até para ir ao mercado, me preparo horas antes para garantir que não passe por apuros.
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  É por isso que venho juntando dinheiro para sair de Phoenix. E é por isso, também, que ainda não saí de Phoenix.
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  - Estipulei um valor que devo alcançar para conseguir sobreviver fora de Phoenix.
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  - Você pode arranjar um emprego.
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  - Esse valor é para eu conseguir aguentar, caso não ache um emprego de imediato.
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   ficou me olhando com bom humor. Eu aposto que estava sendo um bom entretenimento para ele. A garota que se planeja meticulosamente.
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  - E você vai na zona central para se acostumar a uma vida sem zonas. – ele concluiu. Como resposta, apenas assenti. – Para ser sincero, vou na zona central justamente porque gosto de pensar que vivo fora de Phoenix.
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  - Como?
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  - Você não sente que a zona central é o mais próximo do resto do mundo que nós temos? Quero dizer, deve acontecer algo do tipo entre os países, mas se formos para Los Angeles, não haverão grupos segmentados te impedindo de se relacionar com as pessoas. É assim na zona central. As pessoas não se importam se você é do leste ou do oeste.
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  Sim. Era exatamente isso. Viver em uma sociedade em que as pessoas não se importam aonde você nasceu ou que te julgam precocemente por isso.
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  Abri um sorriso e passei a prestar atenção na aparência de , muito mais interessante no momento. Que ele é bonito, é indiscutível, mas eu jamais imaginaria que ele se tornaria quase um deus depois de mostrar sua personalidade. tinha os cabelos escuros. Não pretos, dois ou três tons mais claros. Mas ainda era escuro, o que fazia seus olhos se tornarem ainda mais chamativos.
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  Ele também era alto. Perto de mim, parecia um poste. Ou eu parecia uma anã. Gostava de conversar um pouco afastada ou sentada, porque assim meu pescoço não doía de ter de olhar para cima. Ele não era muito magro. Visivelmente não fazia muito exercício, o que significava que ele definitivamente não era da zona sul. Lá, todos são muito vaidosos, não para mostrar para os outros, mas para própria autoestima. Fomos criados assim, para nos olhar no espelho e estarmos satisfeitos com o que olhamos. Por um lado é legal, já pelo outro… vamos dizer que a preocupação com o externo é tanta, que às vezes alguns esquecem do interno.
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  - Você não está na sua zona porque é cômoda. – disse.
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  Vi os olhos de darem uma leve arregalada com a surpresa. Aposto que ele não esperava que o nosso silêncio significava que eu estava o analisando. Gosto de analisar as pessoas só de olhar. É divertido e me previne de muitas situações embaraçosas.
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  - É verdade. – ele sorriu, sem graça. – Comodidade nunca foi meu forte.
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  E também, ele, como uma pessoa que trabalha com tecnologia, poderia muito bem se dar bem em outros lugares, como, por exemplo, no Vale do Silício, na Califórnia, onde fica o centro tecnológico do país. disse que trabalha com sistemas.
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  - O que eu queria mesmo era desenvolver jogos. – disse na semana passada.
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  E então me disse que trabalha para uma empresa na zona dele, e que pode fazer home office, além de estipular o próprio horário, o que consiste em toda a madrugada e os finais de semana – para ele, todo dia é um final de semana.
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  - Quando eu tinha sua idade, decidi que queria sair de Phoenix. Peguei minhas coisas, minhas economias e fui. Não durei uma semana. Foi terrível.
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  - Você não se planejou.
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  Ele riu e apontou para mim, mostrando que eu havia acertado em cheio.
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  - Achei que minha boa vontade seria o suficiente. Por sorte, havia dito aos meus pais que iria visitar meu primo que estava fazendo um serviço fora de Phoenix, na cidade vizinha. Eles nunca chegaram a saber que saí de casa com a intenção de não voltar. – soltou uma risadinha. – Desde então, decidi viver no comodismo.
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  “Até que peguei minha irmã lendo o seu blog e, por incrível que pareça, vi você na foto. Li tudo. Todos os seus planos, suas vontades. Acho que sei mais de você do que de mim mesmo. Mas gostei. Achei legal o seu ponto de vista. Foi como se minha animação tivesse voltado.”
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  - Por que você não tenta de novo?
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   riu e voltou a olhar para o céu. Ficou calado por alguns segundos.
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  - Eu tenho medo.
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  - De dar errado?
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  - De acontecer a mesma coisa.
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  - Não vai acontecer a mesma coisa. Nunca é a mesma coisa.
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  - Como você sabe?
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  - Hum… é como ir para a zona central. – imitei sua posição. – Você sabe, conhecer gente diferente, não se apresentar pela sua zona… eu vou todos os dias. Nunca é igual. Sempre acontece uma coisa diferente. Uma pessoa esbarra na outra e derruba a bebida, uma criança se perde, um carro que bate, um jogo que é ganho… talvez você tenha se focado no resultado final. Mas se você for ver, foram dias completamente diferentes um do outro. Por isso eu sei que não vai acontecer a mesma coisa. Você pode acabar voltando para casa, mas retornará com outra experiência, não a mesma da primeira vez.
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  - E você não acha que não vale a pena, se o resultado for o mesmo?
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  - Eu me planejo justamente para garantir que o resultado não seja o mesmo.
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  - Você não pode planejar tudo.
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  - É verdade. Mas eu planejo a maioria. E acredite em mim quando digo que raramente… ou devo dizer nunca? Bem, jamais aconteceu algo inesperado.
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   desatou a rir. Riu por longos segundos. A risada foi tão longa que pensei se deveria achar ofensivo. Ele ergueu a mão quando me viu sentar e encará-lo séria.
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  - Não estou rindo de você! – exclamou, esperando que eu fosse acreditar. – Gostaria de poder explicar… quer saber? – ele se sentou e tomou fôlego. – Deixa pra lá.
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  E me beijou.
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  Bem. Não sei se foi exatamente um beijo, já que nunca o fiz antes. Mas nossos lábios se tocaram. Se isso não é um beijo, então assisti aos filmes errados.
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   se afastou e encarou bem meus olhos.
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  - Eu ri porque fiquei feliz de finalmente conhecer a pessoa certa para mim.
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  - O que me faz certa para você?
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  - Sou péssimo em planejamento, mas sou muito bom em ganhar dinheiro.
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  Não consegui manter a seriedade e desatei a rir.
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  - Eu não disse! – apontou para mim.
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  - Bem, admito que você está certo.
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  - Quando li seu blog, ao invés de ironizar sua empolgação, acabei me empolgando junto.
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  - Junto?
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  - Eu poderia dizer que você não sabe para o que está se preparando. Mas a internet nos faz muito mais sabidos de outros lugares do que as próprias pessoas que vivem lá. Sei que você está planejando algo e que apenas não vai porque precisa aumentar suas economias. Saber que você tem um plano consistente me fez pensar se as coisas teriam sido diferentes quando eu saí.
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  - Com certeza serão diferentes. – disse.
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  - É isso que eu gosto em você. – ele apontou para mim. – Sua segurança. Você quer uma coisa, se planeja e executa com segurança. É como aprender a escrever e ter certeza de que a palavra que escreveu está certa. Eu não tenho essa segurança.
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  - Se você se planejasse…
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  - Acho que você me conhece o bastante para saber que eu não sou muito bom na área de planejamento. – e abriu um sorriso maroto. É claro que não, todos os nossos passeios fora do fliperama foram porque eu havia planejado. Tudo o que ele fazia, era me acompanhar e garantir que ninguém mexesse comigo, o que era muito melhor, porque me sentia ainda mais segura.
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  - É como se você fosse meu polo oposto. – ele apertou minha mão.
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  Abri um sorriso. Ninguém jamais havia me considerado um polo oposto na vida. Como eles se atraem, permanecem unidos… eu nunca foi próxima a ninguém. Devo dizer que nem aos meus irmãos ou meus pais. Meus pais me dão o incentivo comum que todo pai que ama dá aos seus filhos. Mas nunca mais que o necessário, e por mim tudo bem.
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  Mas agora me apresentou a um novo mundo. A uma nova sensação.
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  - Eu gosto de você. – ele disse baixo, quase em forma de sussurro. – Gosto de como você completa todos os meus vazios. Gosto dos momentos que passamos juntos.
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  - Eu também. – o vi se aproximar de mim. – Você é a primeira pessoa que me faz sorrir.
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  Ele se inclinou para trás boquiaberto.
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  - É sério?
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  - É sim.
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  - Ora, então eu sou bastante especial.
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  Soltei uma risada, me divertindo com sua personalidade. enxergava as coisas de uma maneira muito mais dinâmica. E às vezes o dinâmico pode ser mais divertido do que a segurança. Por exemplo, todos os lugares que fomos juntos por causa dos meus planos, foi porque eu conhecia pela internet. Mas se não fosse por ele, eu jamais iria lá pessoalmente.
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  - Vamos para a Califórnia. – ele disse de repente.
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  - O quê?
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  - Não temos nada a perder senão o outro, certo? E eu realmente não quero te perder. – apertou minhas mãos. – Eu tenho dinheiro, você tem o plano, acha possível dar certo?
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  - É claro. – disse, sentindo o fogo da animação de saber que o dia chegou.
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  Sair de Phoenix. Ir para a Califórnia. Não ver mais montanhas e colinas, mas o mar. O mar!
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  - Podemos ir amanhã. – ele disse, mas então me encarou. – Não podemos?
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  - Sim! – me levantei em um pulo. – Sim! Sim! Sim!
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   se levantou comigo e sorriu, mesmo quando desatei a falar sem parar sobre as pequenas mudanças necessárias nos meus planos, já que estaremos em dois, ele manteve-se calado me ouvindo, dando sua opinião aqui e ali.
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  - Tem um horário de voo às cinco e meia da manhã. Podemos nos encontrar lá pela meia-noite no fliperama. – disse.
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  - Feito. – ele sorriu.
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  O plano era simples. Nós pegaríamos um voo para Los Angeles, seria o responsável por comprar as passagens.
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  Enquanto ele voltava para a zona dele, a fim de se organizar. Eu passaria no banco antes para tirar uma grana. Não poderia, de jeito nenhum, deixa-lo pagar por tudo. Eu havia economizado para isso, afinal. Podia arcar com minhas despesas. Só iria depender dele se não conseguisse arrumar um emprego imediatamente.
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  Às oito, eu jantava com minha família. Minha mãe não parava de falar sobre o trabalho. Ela tem um salão de beleza e é de conhecimento comum que os salões são apenas uma desculpa das mulheres para ficarem sabendo da vida de todas.
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  Então, de repente, Brian, meu irmão mais velho, disse:
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  - Para onde você vai, ?
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  Ergui meus olhos para ele e vi meu pai me encarando bastante sério.
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  - Não entendi.
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  - Você já devia saber que não deve subestimar Brian, . – papai disse, sério. – Ele trabalha no banco da zona central, lembra?
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  - E o que tem?
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  - Você tirou grande parte do seu dinheiro hoje. O que pretende fazer com ele?
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  - Por que eu deveria dar satisfação do que vou fazer com o meu dinheiro?
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  - , querida, você precisa nos deixar a par de suas escolhas. – mamãe falou, mais carinhosa. – Não queremos que nada de ruim aconteça com você.
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  - Você quer abrir um negócio novo? – Ollie perguntou.
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  - Você quer viajar? – Paul foi mais direto.
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  Ficamos calados, com todos esperando por uma resposta. Pensei em mentir. Então, pensei em dizer a verdade. Fosse o que fosse, não sei qualquer uma das duas seriam bem aceitas, por isso, Brian se pôs à frente para dizer:
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  - Você não vai sair de Phoenix.
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  - O quê? – o encarei.
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  - Conheço pessoas que trabalham na United. Tem uma passagem para Los Angeles no seu nome.
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  Merda. Mas que grande merda!
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  É claro que Brian iria descobrir. Meu irmão mais velho sempre gostou de ser o mais velho. Ele gosta da ideia de ter de ser responsável por toda nossa família, e é por isso que nossos pais sempre deixaram que ele fizesse tudo. Há quem diga que ele é o chefe da família, não papai.
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  - Você vai para a Los Angeles? – Ollie quase gritou.
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  - De jeito nenhum! – papai se exaltou. – Você não sairá do seu quarto!
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  - Eu já sou maior de idade e tenho poder sobre minhas escolhas, sabe?
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  - Enquanto viver em baixo do meu teto, seguirá as minhas ordens!
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  Fiquei parada olhando para todos os sete pares de olhos me encarando como se eu fosse a problemática. Nunca disse que não era, mas pelo menos nunca causei problema algum.
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  - Que seja. – murmurei, subindo para meu quarto. Cinco minutos depois, ouvi o som da minha porta sendo trancada. – Ah, fala sério! – bati. – Vocês estão mesmo achando que eu vou fugir?
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  - Estamos nos precavendo e te protegendo, . – Brian disse do outro lado. – Você não vai para a Califórnia. Mamãe conseguiu um emprego para você na administração do salão. Alguém tem de dar um jeito naquela baderna e você é a melhor pessoa para isso.
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  - Porque eu sou mulher?
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  - E também porque você é formada em administração.
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  - Eu não quero trabalhar num salão!
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  - É uma pena. – ele finalizou a conversa, dando a entender que a pena era que eu poderia escolher gostar de trabalhar no salão, já que irei de qualquer maneira.
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  Mas as coisas não ficariam assim.
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  Eu não esperei 21 anos da minha vida para encontrar alguém que gostasse de mim por quem sou e viver a vida que tanto esperei.
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~*~

  - Repita.
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  - Eu fugi.
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  - Você ta maluca? – segurou em meus ombros e balançou, como se eu fosse um cofre e ele quisesse conferir quantas moedas haviam dentro. – Volte já para sua casa.
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  - Não! – me desvencilhei dele. – Eu esperei anos por isso! Estava quase desistindo e agora que posso conseguir… agora que nós podemos conseguir… não podemos desistir, !
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  - Você sabe que eles vão chamar a polícia, não é?
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  - Aí é que está. Eles pensam que vamos para o aeroporto, mas não vamos.
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  - Não?
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  - Não. Eu mudei os planos. – o puxei. – Nós vamos para a colina e ficaremos lá até amanhã de noite. Há ônibus para Tempe. De lá, podemos pegar um voo para Los Angeles.
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  - Bem. Não parece tão mal. Você pensou que talvez tenhamos fome ou sede… é claro que pensou. – ele respondeu a si mesmo assim que ergui uma sacola com lanches e bebidas que comprei na loja de conveniência próxima à fronteira da zona central com a zona sul.
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  O caminho foi bastante silencioso. Tão silencioso que me perguntei se estava mudando de ideia. Sei que parece perigoso, mas meus pais e meus irmãos nunca fariam nada que fosse prejudicar outra pessoa, mesmo que fosse de outra zona (a não ser, talvez, da oeste. Nossa família tem um ranço que desconheço a razão por eles). Na colina, Phoenix parecia mal assombrada. Tudo escuro e com faróis funcionando para ninguém.
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  - Sei que eles irão nos achar antes de pegarmos o ônibus, . – de repente disse.
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  - Por quê?
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  - Sei quem é sua família.
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  - O quê?
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  - Faz parte da minha formação. – ele colocou as mãos nos bolsos e observou o arredor. – Tudo começa com querer desenvolver jogos ou hackear algum eletrônico. No final, você sabe o suficiente para os dois.
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  - Você hackeou meu computador?
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  - Eu queria saber quem você era. Você sabe. Quanto mais adultos somos, mais medo do mundo temos. Além disso, queria confirmar minha suspeita de que você era do leste, mas errei.
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  - Você é da onde?
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  - Da onde mais? Do norte, é claro. Da droga do norte. Não vale de nada querer ser diferente das outras zonas, quando na verdade somos exatamente como os outros.
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  Fiquei calada consentindo com sua indignação. Sempre soube que ser do norte não deveria ser fácil, mas não imaginava que havia algum cidadão de lá que fosse odiar ter nascido no norte.
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  - Seu segundo irmão trabalha na polícia. E a polícia tem acesso às câmeras de segurança da cidade. É só uma questão de tempo até eles nos encontrarem.
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  - E você dizia que não sabia planejar… – resmunguei. Leo é tão chato que não acharia que ele fosse utilizar de seus contatos para conseguir me achar.
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  - Eu sei lidar com situações inesperadas, o que é outra coisa que completo em você. – ele sorriu.
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  Ouvimos a movimentação abaixo, o que significava que eles estavam ali.
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  - Viu? – sorriu.
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  - Vamos desistir assim? – olhei para ele, suplicando que a resposta fosse não.
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  Mas ele não respondeu. Segurou minha mão e pôs a olhar no horizonte.
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  - Eles estão ali! – ouvi a voz de Ollie.
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  E foi aí que descobri o quanto queria ficar com . Olhei para ele e sua expressão suave não demonstrava o medo do que estava por acontecer. Eu gostava de como ele via a vida com leveza. De como ele não tinha medo de enfrentar as coisas, desde que estivéssemos juntos. Ele poderia ter desistido como fez na primeira tentativa, mas aqui está, esperando minha família chegar.
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  Não demorou mais que 10 minutos para meus irmãos e meu pai estarem próximo de nós. Olhei para eles e vi que encaravam com muito rancor.
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  - Vamos resolver isso civilizadamente. – Leo tomou frente. – Deixe-o ir, .
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  O quê?
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  - Como é que é?
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  - Nós sabemos que você fez a cabeça dele. – Brian disse, exausto. – Apesar dele ser um nortista, sabemos que você quem quer sair de Phoenix e apenas usou uma pessoa que tem dinheiro para conseguir completar seus desejos egoístas.
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  - Não é um desejo egoísta e não me relacionei com por causa do dinheiro dele! Eu mal sabia que ele tinha dinheiro!
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  - Ele vai no fliperama todo dia, , quem é que vai no fliperama todo dia e fica jogando o tempo todo? – Paul disse. – Sem ofensas. – ergueu a mão em um pedido de desculpa para , que balançou a cabeça mostrando que estava tudo bem.
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  - , você só precisa aceitar a sua vida. Não arraste outras pessoas com você…
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  - Com todo o respeito – cortou Brian, que ergueu uma sobrancelha para si. –, mas vocês não ouviram o que ela falou?
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  - Como?
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  - não se aproximou de mim com as intenções que vocês a estão acusando. E eu certamente me lembro de que fui eu quem iniciei a ideia de irmos morar na Califórnia.
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  - Você sabe que consentindo com essa conspiração, posso transformar a situação em algo bem desagradável para você, não sabe? – Leo disse.
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  - Ah… eu estava certo. Os sulistas são mesmo arrogantes. – riu. – Se vocês querem leva-la para casa, por mim tudo bem.
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  - ! – virei minha cabeça para ele.
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  - Mas ela deve ir por vontade própria. – ele terminou. – Se ela quiser ir para a Califórnia comigo, é para lá que ela vai.
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  - Ela não é sua responsabilidade para você falar dessa maneira, moleque. – meu pai disse.
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  - Desculpe a ousadia, senhor, mas ela já é maior de idade, portanto, de acordo com a lei, pode tomar suas próprias decisões. – olhou para meu pai. – Além disso… – ele pegou minha mão e deu alguns passos para trás comigo. – Nós já estamos fora de Phoenix.
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  Ficamos calados olhando para como se ele fosse louco.
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  - Se vocês abrirem o Google Maps, poderão ver que a fronteira daqui com Tempe é bem… – fez uma linha com o pé. – aqui. Logo, vocês não estão mais nem em território municipal, ou seja, você – apontou para Leo. –, não pode mais se intrometer.
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  Apertei os lábios para evitar a gargalhada que queria dar. Ninguém nunca havia falado dessa maneira com qualquer um deles. Agora, todos juntos…
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  Brian olhou para mim e abriu a boca, mas foi papai quem decidiu falar:
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  - É isso mesmo o que você quer, ?
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  - É, pai.
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  - Mesmo com todas as dificuldades que está para enfrentar? Você não terá uma casa confortável e pode ser que haja dias que passará fome. Não sabemos se ele irá ficar com você para sempre como deve estar imaginando.
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  - Ele não estava no meu plano inicial. Sei me virar. Fiz muitas coisas que vocês não sabem.
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  - Acredite – Brian disse. –, nós sabemos.
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  - O quê?
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  - Nós também sabemos usar a internet, . Por que acha que não proibimos você de usar? É muito mais fácil saber de você, quando você não sabe que estamos te acompanhando.
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  Papai se aproximou de nós e parou antes da linha demarcada por .
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  - Nos ligue uma vez por semana. – e retirou um cartão. – Use uma vez por semana também. Para eu ter certeza de onde está.
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  - Tudo bem, obrigada, pai. – dei um abraço nele. – Eu vou viver bem.
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  - Sei que vai. Pelo menos viverá mais feliz. É o meu conforto.
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  - Eu falei para ele que não era para te dar o cartão. – Ollie disse. – Mas ele só ouve o Brian. Não é preciso uma notificação de cobrança para saber onde você está. Leo te achou pelo celular hoje.
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  - Quê? Celular?
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  - Você sabe que está cadastrada em nosso compartilhamento familiar, não sabe? Da Apple.
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  - Isso é verdade? – olhei para , que segurava o riso.
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  - Estou surpreso que isso não estava em seus planos.
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  Dei-lhe um soco, mas pude ver que Ollie estava mais tranquilo.
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  - Talvez eu vá te visitar.
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  - Você morre de medo de sair daqui.
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  - Eu morria de medo de ser o primeiro. Já que você está fora, posso ir passear, como você fez indo na zona central. Se for daora, fico com você.
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  - Farei o possível para mostrar as piores coisas de se viver fora.
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  Eles nos acompanharam até o aeroporto, onde nos despacharam para Los Angeles. No avião, observei olhar pela pequena janela.
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  - Aquela história da demarcação de Phoenix e Tempe… – ele olhou para mim.
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  - É mentira, claro. Falta alguns quilômetros até chegarmos de fato à Tempe.
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  Rimos, pensando no quão bravo Leo ficaria ao descobrir.
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  - E sua família?
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   olhou para mim com um sorriso sereno.
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  - Você é minha família agora.
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  - Mas…
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  - Eu não tenho uma. – me cortou. – Cresci em um orfanato. Fui adotado algumas vezes, mas não deu certo com nenhuma família. Mas não tenha pena de mim. Sou bem feliz. Mais agora.
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  Intercalei nossos braços e aconcheguei minha cabeça em seu ombro.
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  - Achei que você fosse me deixar ser levada pelos meus irmãos.
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  - Eu jamais faria isso. – acariciou minha mão. – Você é minha zona central.
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  - Sua zona central? – rio.
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  - Apostei em você todas as minhas esperanças de uma boa vida.
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  Olhei para ele surpresa por ter colocado tão bem o que a zona central significou para mim nesses 21 anos. Sorri, emocionada e tomei a iniciativa de lhe dar um beijo. Mas um beijo de verdade.
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Fim

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