You Must Remember This
- Oi, sou e eu te amo. – Foi assim que o rapaz de cabelos bagunçados e castanhos se apresentou quando saí de meu quarto para tomar meu café da manhã.
Eu ri com sua maneira de se apresentar a mim. Como ele poderia me amar se mal nos conhecíamos?
Dei de ombros, ele não parecia capaz de me fazer mal e estava na minha casa com meus empregados que jamais permitiriam que algum maluco me perturbasse.
Sentei-me a mesa na companhia de uma mulher e um homem que me disseram ser meus pais… Estranho, não me recordava deles…
Tudo para mim parecia novo e estranho naquele dia a não ser minha casa e alguns de meus empregados como a minha dama de companhia, Kate. Percebi que aos poucos fui me lembrando de meus pais e me assustei. Como eu podia me esquecer deles?
- Está tudo bem, , todos nós temos alguns probleminhas de memória… – Papai disse reconfortando-me.
- Lembra-se de , querida? – mamãe perguntou ao lado do rapaz que se apresentara primeiramente a mim. Ele tinha o olhar esperançoso.
- Claro, o rapaz que disse que me amava hoje de manhã. – Murmurei vendo a luz nos olhos do tal se apagar e seu olhar de esperança se esvair. O que eu havia dito de errado?
- Ah não, filha… – Minha mãe ia dizer mas foi interrompida.
- Isso mesmo, . – sorriu para mim de uma forma doce, mas eu sabia que ele escondia-me algo, algo que me deixava confusa e que o deixara magoado e triste, eu queria tanto saber o que é!
Fui para os jardins na companhia de Kate, eu acho que gostava de ir para lá, me sentia bem rodeada de flores e árvores.
Eu observava a paisagem e apreciava o canto dos pássaros alegres pela bela manhã quando se aproximou e Kate se afastou sorrateiramente de nós tentando fazer com que eu não percebesse. Resolvi que fingiria que não a vi adentrando de volta a casa me deixando sozinha com o rapaz que disse que me amava.
- Olá. – Murmurei vendo-o sentar-se ao meu lado no banco longo que ficava no meio do jardim.
- Olá. – Sorriu depois de se acomodar. – O dia está bonito hoje, não acha? – perguntou olhando para o céu azul e límpido.
- Maravilhoso… – Comentei fechando os olhos para ouvir melhor o canto dos pássaros.
O silêncio voltou a reinar entre nós dois, ele parecia pensar em alguma coisa que o entretinha e eu tentava me conter para não perguntar o que queria… Tentei por um bom tempo mas não consegui…
- Por que disse que me amava? – soltei de repente abrindo os olhos e vendo me olhar surpreso.
- Porque eu te amo. – Respondeu simplesmente dando de ombros.
- E por que me ama?
Ele ficou em silêncio encarando o chão de modo pensativo. Por que não podia responder simplesmente?
- Porque você é minha borboleta. – Respondeu por fim me deixando ainda mais confusa. Borboleta?
observou minhas feições confusas e riu de algo, só não soube se ele ria de mim ou do que ele havia dito. Franzi o cenho em sua direção tentando entender, mas nada plausível me vinha a mente. Ele não seria cavalheiro o bastante para desfazer minha confusão?
- Como assim sua borboleta? – perguntei por fim.
- Dizem que borboletas tem memória momentânea, nunca lembram das coisas por mais de um dia. – Respondeu-me mas ainda assim não sabia o que isso tinha a ver comigo. Ele sorriu antes de prosseguir. – Assim como você, . – Baixou o olhar parecendo triste com alguma coisa que eu não conseguia enxergar o que era.
- Como assim? – resmunguei sem entender.
- Confia em mim? – perguntou encarando-me seriamente. Medi as consequências em acreditar ou não nele. Um terço de mim se perguntava por que raios confiaria num desconhecido, já os outros dois terços restantes gritavam que sim, eu confiava plenamente naquele rapaz.
- Sim… Eu… Confio. – Conclui ainda na dúvida.
sorriu para mim e mostrou a mão direita que tinha um anel de compromisso prateado. Fiz cara de interrogação e então ele pegou a minha mão direita e percebi com espanto que em meu dedo havia um anel idêntico ao dele, apenas mais delicado e menor. Olhei-o confusa, por que tínhamos anéis de compromisso iguais? Por que eu não me lembrava daquela aliança ali em meu dedo?
- Informação demais, ? – ele questionou por conta de meu silêncio, eu apenas balancei a cabeça num sim ainda encarando as alianças. Ele riu. – Acho que eu também ficaria um pouco assustado com isso… – fez cara pensativa enquanto eu o encarava.
- Mas… Como? – consegui finalmente perguntar. Ele segurou minhas mãos e me encarou ternamente.
- Você tem um tipo de amnésia rara, … Você só se lembra de coisas que sempre estiveram na sua vida, como sua casa, seus pais… As memórias de curto prazo são deletadas quando você dorme… – Sorriu amargamente ao dizer a última parte.
Como? Por quê? Era em tudo o que eu conseguia pensar.
Então era por isso que ele dissera que eu era sua borboleta, “Dizem que borboletas tem memória momentânea, nunca lembram das coisas por mais de um dia” Agora eu sabia o que aquela comparação tinha a ver comigo. Eu tinha um namorado, uma família, uma vida, porém, eu não me lembraria da maioria dessas coisas por mais que vinte e quatro horas. Senti vontade de chorar, por que comigo?
- Hei, por favor, não chore… – agachou-se a minha frente no banco segurando entre suas mãos meu rosto provavelmente avermelhado por segurar o choro. – Sempre quando lhe explico tudo você o faz e isso me magoa, por favor, não chore. – Disse acariciando minha face tentando me acalmar, mas tudo o que conseguira foi fazer com que as lágrimas chegassem aos meus olhos mais rapidamente. – Hei, tudo bem, tudo bem… – Murmurou se levantando e me abraçando gentil e protetoramente.
Eu funguei com o rosto enterrado em sua camisa branca molhando-a um pouco com minhas lágrimas.
- Me… Desculpe… – Choraminguei com a voz embargada.
- Te desculpar pelo que, minha pequena? – perguntou voltando a se sentar ao meu lado mas sem deixar de me abraçar.
- Por chorar toda vez, por te fazer sofrer… Por não lembrar! – exclamei deixando as lágrimas rolarem ainda mais por meu rosto.
suspirou e puxou meu rosto em sua direção novamente, limpou minhas lágrimas e então sorriu.
- Não tem por que se desculpar, você me dá os melhores dias da minha vida. – Abriu ainda mais o sorriso ao dizer isso.
Fiquei encarando-o com confusão em meus olhos. Como eu poderia lhe oferecer os melhores dias de sua vida se sequer me lembrava dele todos os dias?
- Sabe, todos os dias eu chego aqui bem cedo para esperar você despertar e então poder dizer que te amo, pode imaginar coisa melhor do que dizer para a pessoa que ama que a ama? – perguntou com o olhar sonhador.
- Claro, a pessoa que você ama poder retribuir. – Respondi cabisbaixa.
- Isso! – concordou ainda sorrindo, o que me deixou ainda mais confusa. – E você sempre me retribui. – Murmurou colocando uma mecha de meu cabelo para trás da orelha.
- Mas…
- Vamos dar uma volta? – Ofereceu me cortando, eu apenas concordei pegando a mão que ele me estendia.
me levou para um parque de diversões montado num terreno da cidade.
Andamos em vários brinquedos, comemos algodão-doce, pipoca e várias outras guloseimas de parque. Eu estava adorando aquilo!
- Quer ir ao mini-cinema do parque? Estão passando alguns clássicos. – Sorriu dizendo.
- Claro! – exclamei empolgada com as novidades. Obviamente não me recordava de nenhum título que mencionou, mas decidi que queria assistir “E o ventou levou”, parecia-me ser algo interessante. comprou os ingressos e nós assistimos ao filme juntos, ele me permitiu encostar a cabeça em seu ombro e segurar sua mão, muito cavalheiresco da parte dele. Quando saímos da sessão era pouco mais de três horas. Resolvemos dar mais algumas voltas no parque e mais umas poucas voltas em alguns brinquedos. Acabamos que passamos o dia todo no lugar, eu estava exausta quando ele resolveu ir na roda-gigante. Sentamo-nos e depois de alguns instantes a roda começou a girar nos parando bem no alto onde podíamos apreciar o pôr-do-sol, o horizonte alaranjado e o céu escurecendo aos poucos. Olhei para aquela paisagem e me encantei, eu estava mergulhada em encanto quando senti que segurava minha mão. Olhei-as entrelaçadas e sorri sentindo que aquilo estava certo, estar ao lado dele, de mãos dadas, estar apaixonada…
- Você tinha razão , posso retribuir. – Sorri e ele me encarou um pouco confuso. – Eu te amo. – Murmurei sentindo minhas bochechas corarem. Ele sorriu largamente para mim e me deu um beijo na testa.
- Não sabe o quanto espero todos os dias por esse momento, pequena. – Sussurrou antes de selar seus lábios nos meus. – Eu te amo tanto… – Disse depois de me beijar.
- … – Murmurei abraçada a ele.
- Hum?
- Por que todas as manhãs diz que me ama? – questionei vendo a roda-gigante girar lentamente.
- Porque quero ouvir você dizer que me ama de volta. – Respondeu simplesmente.
- Só por isso? – perguntei e ele fez careta, provavelmente por eu achar pouco.
- E também porque alguns acreditam que se algo acontecer todos os dias e com os sentimentos certos, esse algo jamais será esquecido. – Ele murmurou abraçando-me mais forte e eu sorri.
Depois de sairmos da roda-gigante me levou de volta a minha casa, já passava das seis da tarde, ainda era consideravelmente cedo, mas eu me sentia exausta pelo divertido dia que nós dois havíamos tido. Subi para meu quarto, tomei banho e me joguei em minha cama, dormi pensando no quanto queria nunca mais esquecer aquele dia e nem qualquer outro que passasse com .
Despertei de manhã sentindo-me ótima, troquei de roupa, lavei o rosto e desci para tomar meu café da manhã, no meio do caminho para a sala de jantar topei com um rapaz de cabelos bagunçados.
- Oi, sou e eu te amo. – Murmurou encarando-me e eu ri do fato ao mesmo tempo em que ele suspirou parecendo desapontado.
- Engraçado, sonhei com um rapaz parecido com você me dizendo a mesma coisa essa noite… – Murmurei pensativa e quando dei por mim o tal me agarrou e me beijou docemente. Quando ele me largou tinha um sorriso enorme nos lábios.
- Eu te amo, minha borboleta. – Disse ainda sorrindo.
Não sei como nem por que, mas senti vontade de dizer o mesmo… “Eu te amo, “.
Fim
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