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Temporada #008

Wish that you were here
Florence + The Machine

Capa por Kelly O.

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Sem informações no momento.

Wish That You Were Here

  - Então, como estão os preparativos? 
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  - Tudo na mesmice, Candice. Bem trabalhosos, mas eu e o Ryan estamos conseguindo lidar. Inclusive, quero a sua opinião: azul ou amarelo? – Mostrei as duas opções, balançando-as incessantemente. 
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  - Azul. Você ama azul, Lisha, não sei o motivo de tanta dúvida. 
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  - É algo novo para mim, sabe? Quero que saia da melhor maneira. Agora não me vejo longe desse lugar, meu coração está em casa. 
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  Suspirei, terminando de arrumar o que faltava juntamente de minha irmã. Deixamos a janela aberta para que o vento batesse sem piedade em nossas peles tão judiadas pelo nosso querido amigo sol. Não que eu não gostasse do verão, mas quando está carregando quilos a mais do que os seus por alguns lances de escada durante a manhã inteira, você começa a querer evitá-lo a todo custo. Enrolei meu cabelo e o prendi em um coque bem firme, e tirei a minha blusa, tendo uma liberdade maravilhosa de estar sem muita roupa. O calor que eu sentia era duplicado, e esse gesto simples já foi de grande feito. Candice passou por mim, revirando os olhos e mandou eu pegar água para nós duas, já que, segundo ela, eu tinha que me manter hidratada para não ter mais infecções urinárias. Fiz o trajeto até a cozinha, encontrando um rosto cansado com a boca ocupada se deliciando com o meu último pedaço de bolo. Respirei profundamente e só sosseguei quando percebi a torta alemã que Ryan colocou na bancada. Abri a embalagem e peguei uma fatia bem generosa, levando rapidamente para a minha degustação. 
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  - Que foi? – Perguntei de boca cheia sem me importar. 
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  - Eu me pergunto se eu moro com um dragão ou com a minha namorada. 
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  - A resposta certa é um dragão, não me decepcione. 
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  - Isso eu já aceitei desde que nos conhecemos, minha linda. Vem cá. – Meu corpo foi puxado cuidadosamente e meus lábios foram grudados aos dele. – Devo comentar dessa recepção maravilhosa? Ah, espera, você faz isso há três anos. 
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  - Nem para fingir, né? Que tipo de namorado é você, Ryan? 
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  - O tipo que não vai te iludir e que te traz a sua torta preferida. 
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  - Mas você não trouxe a de limão. – Fiz uma voz manhosa. 
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  - Olha na geladeira. – Ao abrir, meus olhos foram preenchidos pelo amor da minha vida. 
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  - Já disse que te amo hoje? Amo você, amor! Bom, preciso levar água para a fera lá em cima, provavelmente vai falar que ficou mofando por minha culpa. 
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  - Vou só tomar um banho e colocar o uniforme para lavar, encontro vocês daqui a pouco. Ah, Lisha?
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  - Sim?
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  - Sua consulta está marcada para amanhã cedo. Candy ficou de te levar, está bem? – Assenti com a cabeça e subi as escadas, tentando ignorar a ida ao hospital.
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  Assim que entreguei a água para minha irmã, senti meu corpo um tanto estranho e algumas fisgadas percorrendo meu peito e minha barriga. Minha visão ia se escurecendo e eu podia jurar que ouvia vozes distantes de Ryan e Candice, e quanto mais eu tentava falar, mais minha garganta não permitia que minha voz saísse. Minha última memória era do estalo que meu corpo fez no chão, da dor e do sangue.
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*

  A brecha que deixei na minha cortina liberava pouquíssimos raios solares a encontrarem a minha pele pálida que não fazia questão de encara-lo novamente. Puxei a coberta e me cobri totalmente, ignorando o fato de que teria que me arrumar em meia hora e olhar o mundo depois de seis meses. E mais uma vez eu me levantava, caminhava até o banheiro, tirava a minha camiseta e calcinha, entrava no box e sentia a água quente queimar minhas costas, relaxando meus ombros e me fazendo esquecer tudo. Essa era basicamente a minha rotina de todos os dias, menos hoje. Hoje seria o dia que eu mudaria a temperatura da água para morna e sentaria no chão, a fim de reunir meus pensamentos em um só e tendo a certeza de que a hora estaria se aproximando. O banheiro não ficaria preenchido de vapor e eu não desenharia uma estrela no espelho, tentando depositar alguma esperança naquilo. Enrolei meu cabelo na toalha e procurei alguma roupa que servisse, porém me encontrei em frente ao pedaço de vidro enorme após tê-lo evitado por esses meses.
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  “É por isso que eu não tirava o pano.”
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  Minha mente foi invadida pela dor e subitamente meus dedos percorreram a linha que me marcava pelo resto da minha existência. Alguns flashes vinham e iam rapidamente, e a sensação era de que eu havia obtido a cicatriz ontem. Meus olhos não tinham mais lágrimas e meu sorriso mal aparecia, meus lábios estavam descascados por conta do frio e da incessante mania de morder os mesmos, na falha tentativa de afastar a ansiedade. Eu observava cada milímetro, imaginando como tudo seria diferente se eu não tivesse desmaiado, em como as horas passariam tão rápidas, eufóricas e cansativas, e no final, eu deitaria na minha cama com o coração aquecido, tendo a certeza de que achei o meu lar.
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  Arrumei a minha bolsa e alguns minutos depois a joguei no banco do carona, entrando totalmente no carro em seguida. Fiz o exercício da respiração para me acalmar, e assim, pude engatar a viagem que era precisa. Liguei o som e tocava uma música conhecida, a qual eu amava e a escutava pelo menos uma vez no dia. Aos poucos fui cantarolando juntamente com a cantora, e logo menos eu refletia o que a letra dizia. Era como se toda a história estivesse nela, e eu senti as lágrimas tão sumidas brotarem nos meus olhos exaustos.
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  Há seis meses eu decidi me isolar do mundo, alugando uma casa há três horas da minha cidade. O local era simples e os donos me deixaram mudar de lugar o que eu quisesse, mas, a única coisa que fiz foi acender a lareira e abraçar a minha coberta. Eu nunca tive problema em ficar sozinha, a verdade é que eu gostava tanto quanto curtia a presença de Candy e Ryan. Talvez sumir por esse tempo fosse suficiente o bastante para a minha recuperação, para eu pôr minha mente em ordem e raciocinar a transição que ainda estou passando. As inúmeras ligações de pessoas de fora eram ignoradas, a visita a cada quinze dias só era liberada já que Ryan precisava cuidar de mim, e eu sabia que eu também tinha que olhar por ele. Por conta de seus plantões no hospital ele ficava um pouco mais distraído, porém nada tiraria a dor instalada em seu peito. Desde o desmaio era evidente o quanto isso o afetou, e o seu achismo de que poderia ter feito algo para evitar o machucavam mais ainda. E eu também pensava assim, e as vezes me pego me culpando, mas, eu entendi que não somos culpados.
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  Minha gravidez foi descoberta pelo acaso, bastou um enjoo para que Ryan ficasse em alerta. Não demorou muito para que eu fizesse o exame de sangue e o resultado veio positivo, então após um plantão entreguei o pedaço de papel para o meu namorado e vi que compartilhávamos da mesma surpresa e alegria. Assim começamos a planejar o novo estilo que levaríamos e em como seriam as decorações e todos esses mimos que acontece durante uma gestação. Candy tinha uma animação enorme ao saber que seria tia e me arrastava para tudo que era loja e feira de grávidas e bebês, tirando o fato de sempre levar uma lembrancinha para enfeitar o quarto. Nós três entramos no consenso de decorar o cantinho do nosso jeito, juntando as cores que mais gostávamos e enchendo as paredes de desenhos, já que eu e Candice amávamos pintar também. Um tanto cedo para arrumarmos isso, mas a tamanha ansiedade não deixou que víssemos tudo mais tarde, então intercalamos nossos horários e montamos. Esse era definitivamente um dos momentos mais felizes para mim. Eu sempre tive uma relação complicada com os meus pais e no fim, só restava eu e Candy para o que der e vier. Minha infância e adolescência foram marcadas por brigas, estresse e falta de diálogo, algo que você acaba se acostumando e nem se importa mais depois de alguns anos. A última vez que tive contato com os meus pais foi quando precisei falar da gravidez, já que alguma vizinha fofoqueira foi dar as felicitações para os mais novos avós por ter me visto com a barriga um pouco salientada. Querendo ou não, a dedução foi certeira e meus progenitores opinaram a respeito, perdendo a chance de ficarem calados. No terminar da noite fui embora com ambos dizendo que eu era muito jovem e esperavam que eu não perdesse o bebê, pois de acordo com suas visões a minha carreira artística era um erro, como várias decisões da minha vida. Desde então nós não nos falávamos, na verdade, só trocamos meia dúzia de palavras porque meu celular não parava de apitar com inúmeras ligações.
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  E para concretizar seus desejos, um mês após eu perdi a minha criança.
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  Eu não os culpo, muito menos guardo rancor, a lei do retorno já fez o bastante em fazê-los sentir o remorso batendo em suas portas, não é à toa que a cada ida de Candy lá em casa, ela levava girassóis dados por eles. Meus pais viam isso como um jeito de se desculparem, era de praxe receber flores quando queriam conversar algo sério ou pedir perdão.
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  Se eu não tivesse a minha irmã e o meu namorado, não sei como estaria suportando os dias. Quando acordei naquela sala branca, vi a silhueta de Ryan cansada e tristonha, e ao encontrar seu olhar, percebi que algo estava muito errado. Ele hesitou por um momento, e foi aí que a sensação de agonia veio com tudo para cima de mim. O desespero bem sorrateiro ia crescendo rapidamente e a primeira coisa que fiz foi levar a minha mão até a barriga, e o rastro de voz que saía da minha garganta era de negação. Ryan me abraçou e senti minhas bochechas ficarem molhadas com suas lágrimas, enquanto eu não sabia o que fazer. A dor física da queda era nada comparada à que eu sentia agora, a dor de perder um filho que nem completou os seus quatro meses. O mundo estacionou ali e o meu corpo ia ficando anestesiado, como se eu não soubesse o que se passava por dentro de mim, sem conseguir sentir alguma coisa.
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  Ryan me explicou sobre o aborto espontâneo e o que ocorreu desde a hora do desmaio. Candice entrou no quarto assim que meu namorado saiu, me abraçando com cuidado e com os olhos avermelhados de tanto chorar. Ela me disse que foram os piores momentos de sua vida e de seu cunhado, eles ficaram tão preocupados e aflitos que era agonizante cada minuto até eu acordar. Candy decidiu passar a tarde comigo nesse dia, e ficamos uma nos braços da outra em silêncio, apenas falávamos quando Ryan ou a enfermeira vinha me checar. Fiquei em observação e ao ser liberada, eu não conseguia pensar em estar em casa e eu sabia mais do que ninguém que eu não aguentaria. Na mesma semana comentei com Ryan e decidimos alugar um chalé mais perto da floresta, lugar o qual me acalmava e eu tinha grande apreço por ele. Nas primeiras semanas nós dois pudemos ficar juntos quase todos os dias, e depois desse período, meu namorado voltou ao hospital e quando não tinha plantão, ele ia me ver. Candy aparecia sempre que podia também, mas como seu trabalho a mandava em viagens, seu tempo era escasso e o meu celular vivia com mensagens dela.
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  Desde que comecei a ficar sozinha, minha mente me metralhava com inúmeras suposições e acontecimentos passados com o intuito de piorar a minha saúde mental. Eu me culpava todos os dias, como eu era tão incapaz de abrigar um bebê e meus pensamentos diziam que eu podia ter feito algo. Era toda uma dor e conspiração me puxando para o fundo do poço, o meu melhor estado era os das olheiras e as noites de insônia. Meu corpo voltava ao normal aos poucos, me dando uma sensação tão estranha que me fazia evitar o encontro com o espelho.
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  O que mais me machucava era imaginar como seria se eu ainda estivesse carregando a minha criança, o modo que ela ou ele seguraria o meu dedo e se gostaria que eu enchesse suas bochechas de beijos.
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  Eu não tive a chance nem de saber o sexo.
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  Uma das coisas boas que minha mãe dizia quando eu era pequena, é que ser mãe é algo mágico, encantador e é aí que você aprende o verdadeiro amor. Independente do jeito que ela me criou, ela me amava, e isso eu percebi melhor ao sentir as mudanças no meu corpo. Eu já amava aquele pequenino ser que habitava dentro de mim, sem ao menos saber muita coisa sobre o seu respeito.
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  A verdade é que eu continuo amando, e é por isso que decidi voltar a minha casa, era algo que eu precisava fazer.
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  Me dei conta de que entrava na rua tão conhecida ao ver o jardim muito bem cuidado de um senhor que me bajulava com suas flores quando eu ia trabalhar e lhe desejava bom dia. Estacionei e procurei as chaves na bolsa, levando um certo tempo para abrir a porta. Respirei fundo e entrei, vendo que nada havia saído do seu devido local. Comecei a olhar as fotografias espalhadas pela parede e um sorriso tímido brotou, lembrando da época que eu era louca em fazer um canto só de imagens importantes e aleatórias, tinha até foto de uma formiga. Dedilhei algumas delas até chegar na que eu mais gosto, porém a que eu evitei por bastante tempo. Era eu e Ryan colando algumas estrelas no teto, e nós e ríamos do modo que ele era um tanto desajeitado. Candy carregava sua câmera para qualquer lugar e decidiu registrar esse lindo e fatídico momento, revelando na mesma semana e nos entregou com mais um presente para seu sobrinho. De longe é a minha preferida, o cantinho do meu bebê estava tão incrível, as pelúcias espalhadas e o berço ficaram ótimos nas posições escolhidas. Encarei a escada e meus pés me conduziram até o quarto intocável. As lágrimas tão sumidas resolveram aparecer assim que pisei no tapete amarelo em formato de um leão e meu coração acelerou.
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  Havia um motivo em especial para eu ter voltado, eu queria ficar mais perto da minha criança. Na verdade, do que me fazia ter a sensação de que ela estaria ali, juntinha a mim em nosso lar. Esse tempo isolada me fez refletir bastante e eu realizei que para conseguir seguir a diante, eu tinha que conversar com o meu bebê no nosso canto. E cá estou eu, sentada no chão e segurando um bichinho de pelúcia, procurando as forças necessárias para conseguir proferir alguma palavra.
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  - Eu sei que você deve estar em algum lugar onde os ventos sopram em seu ouvido canções lindas para que tenha uma noite tranquila, então peço as brisas que levem a minha mensagem até você. O meu amor por você é verdadeiro e calmo, ele me reconforta e me fez entender bastante coisa até agora. Exatamente hoje completariam os noves meses e a qualquer momento eu iria te ter em meus braços, podendo ver seu pequeno sorriso e seus olhos que provavelmente seriam que nem os de seu pai. Minha vida mudou da água para o vinho desde a sua chegada até a sua ida, e o que eu tenho a dizer é: obrigada. – Pausei – Aprendi muita coisa que sem você eu não seria capaz de compreenderem a metade. Às vezes eu sinto como se a sua presença me encontrasse e uma sensação tão boa invade meus poros e acaba dominando o meu corpo, e são nessas horas que meus sentimentos tentam te encontrar, mas cada vez que eu tento ir mais perto, você aparenta estar mais longe. É um paradoxo, eu sei, mas desse jeito parece tão certo. Você foi a decisão mais certa da minha vida e eu espero, de coração, que possamos continuar com a nossa conexão, independente de onde os ventos te levarão. Só quero que eles digam também que eu sinto saudades. E que eu queria que você estivesse aqui.
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Fim

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André
André
1 ano atrás

Muito bom! Parabéns! 

Comentário postado originalmente em 26 de Junho de 2018

Liv
Liv
1 ano atrás
Reply to  André

Obrigada, nenê! <3

Comentário postado originalmente em 28 de Junho de 2018

Giovanna
Giovanna
1 ano atrás

Lindo como sempre <3 te dizer q caiu uma lágrima
 
Comentário postado originalmente em 28 de Junho de 2018

Lelen
Lelen
1 ano atrás
Reply to  Giovanna

aaaaaaa
obrigada, lindonaaa! <3

Comentário postado originalmente em 28 de Junho de 2018


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