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Capa por Fe Camilo

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Sem curiosidades para essa história no momento!

Visium

1. Sonhos…

Visão é a capacidade de enxergar 
além do que os olhos são capazes de ver.
[ Myles Munroe ]

  Há quem diga que existe uma parcela rara de pessoas que nascem com um sexto sentido, algo sutil e raro que chamamos de intuição. A ciência não explica e os filósofos seguem debatendo o assunto, fato é, não se pode negar que certas pessoas possuem este “dom” específico e Grimes era uma delas.
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Outono de 2010

  A noite estava fria para a época mais acolhedora do ano, pelo menos era o que achava de sua estação favorita. O céu nublado carregava densas nuvens com sinais claros de uma tempestade a caminho, o que deixava a criança inquieta internamente, não pelo clima, mas por seus pensamentos conflitantes que a atordoam de tempos em tempos. Não sendo a primeira vez que acordara no meio da noite assustada por seus sonhos, ou melhor, pesadelos, desta vez segurou o grito de susto para não acordar o pai que, cansado, adormeceu no sofá da sala sem previsão para acordar após um dia agitado no 21º DP – Chicago Police Department
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  Com o olhar marejado, fixou os olhos na janela que aparentava uma fresta aberta, observando as cortinas balançarem com a brisa gélida que adentrava sem pedir licença. Ela sabia que se fechasse os olhos e tentasse dormir novamente, teria o mesmo sonho que há três anos se tornou recorrente.
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  Foi no seu aniversário de sete anos que tudo começou. Naquele dia, havia ganhado dos avós maternos um filhote de cachorro como presente de aniversário, sua afeição pelo animal fora tão grande que o pai não teve outra alternativa a não ser aceitar a presença do animal em casa. No meio da madrugada, o que iniciou como um sonho colorido, foi ficando cinzento e confuso, até que a criança acordou repentinamente com um número em sua mente juntamente com a imagem do avô. Dias depois, a pequena voltou a sonhar com a casa dos avós no Texas, especificamente com um cavalo branco, que posteriormente se acidentou em um temporal tendo que ser sacrificado. Passados os meses, mais sonhos estranhos e confusos surgiram com animais dos vizinhos próximos, que misteriosamente faleceram tempos depois, deixando-a amedrontada.
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  Seu primeiro sonho com uma pessoa surgiu como um filme de terror, que de tempos em tempos retornava para lhe deixar ainda mais assustada. A cada noite que John Grimes acordava em meio aos gritos de sua filha no meio da madrugada, mais preocupado e aflito ficava, sentindo-se impotente sem saber o que fazer para ajudar a pequena no pouco tempo que tinha com ela. Afinal, seu trabalho lhe consumia tempo e energia para se executar. O único recurso encontrado fora aceitar o auxílio da psicóloga Bridget Gilmour, indicada pela diretora da escola, após notarem o estranho comportamento da criança e a baixa em seu desempenho acadêmico.
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  Contudo, gradualmente as sessões após a aula reduziam o impacto negativo no emocional de , fazendo-a cada vez mais se abrir com sua psicóloga. A maior parte do tempo, seus diálogos se resumiam ao momento específico do seu sonho em que, a cada vez, um detalhe a mais ia surgindo aos seus olhos:
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  Uma casa velha e aparentemente abandonada, todo o ambiente escuro com sons abafados de uma porta rangendo ao fundo. Com o corpo trêmulo e o coração acelerado, sempre fazia exatamente os movimentos que da primeira vez, mesmo sabendo o que aconteceria. O aproximar suave a passos cautelosos que gerava um silêncio repentino, a figura de uma senhora de cabelos grisalhos deitada ao chão com o corpo coberto de sangue e o rosto desfigurado. 
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  Parte essa que a fazia despertar aos gritos.
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  Por um breve período próximo à chegada da primavera, as imagens que inicialmente se passavam apenas nos sonhos da criança, foram presenciadas no mundo real pelo pai que, ao responder um chamado repentino em um dos bairros do subúrbio da cidade, deparou-se com a mesma cena que a filha lhe descrevera repetidas vezes, o forçando a conversar com a doutora Gilmour sobre o ocorrido ainda que preferisse permanecer cético quanto às coincidências.  Após o fato, finalmente pôde ter uma longa e tranquila noite de sono, que perdurou pelos próximos meses até seu décimo aniversário.
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  Alguns dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, entretanto, sempre há uma exceção à regra…
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  — Vinte e seis — sussurrou a criança, o número que apareceu em seu novo sonho, sentindo as lágrimas rolando pelo rosto. — Onze, dois, zero, um, zero.
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  Passar o restante da noite em claro não seria um sacrifício. Porém, sobreviver àquele dia com a imagem de uma mulher ruiva em situações críticas em sua mente seria bem pior. Ao nascer do sol, John notou a ausência da filha na mesa do café; com dois toques na porta de seu quarto, ele adentrou encontrando-a abraçada às pernas, com o olhar fixo na janela.
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  — ?! — Um passo para dentro do quarto, analisando as expressões apáticas e inexpressivas dela. — , está tudo bem?
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  O silêncio como resposta foi o sinal para que ele entendesse que havia sido mais uma noite de terror para ela. 
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  — Querida… — John se aproximou da cama, sentando ao seu lado para abraça-la.
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  A sensação de conforto e aconchego retornou para a criança, fazendo-a despertar de seus devaneios e se aninhar nos braços do pai.
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  — Por que não me gritou desta vez? — sussurrou ele num tom preocupado. — Sabe que sempre estarei aqui por você.
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  — O senhor estava tão cansado… — Ela se afastou um pouco enxugando as lágrimas, manteve o olhar baixo.
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  — Não importa o quão cansado eu esteja, somos nós dois contra o mundo… — Ele entrelaçou seu dedo mindinho no dela. — Lembra da nossa promessa?
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  Ela assentiu com a cabeça, focando o olhar naquele gesto de cumplicidade. Eram pai e filha, desde que se entendia por gente, pois sua mãe havia falecido no parto, decorrente de complicações com sua pressão alta. Perder a esposa no mesmo dia em que ganhara o melhor dos presentes foi um choque para John. E manter-se mentalmente capaz de lidar parcialmente sozinho com uma recém-nascida em seu início de carreira policial, não estava em seus planos.
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  Felizmente, amigos como Jack Donson e sua esposa Hilary, e a parceira Margareth Finn, sempre estiveram por perto para lhe amparar e transmitir ânimo em suas cruzes de choro e saudade.
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  — Papai, eles voltaram… Os sonhos reais voltaram — sussurrou ela, sentindo os olhos marejados novamente. — Pensei que não aconteceria novamente depois daquele dia.
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  — Minha querida — John suavizou mais seu olhar e acariciando os cabelos da filha, sorriu com gentileza para acalmá-la —, que tal me ajudar a preparar aquelas panquecas que tanto ama? Hum?!
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  — Mas já passou o horário do café… — sussurrou ela, se encolhendo um pouco. — O senhor pode se atrasar para o trabalho.
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  — Sabe, o bom de ser um policial exemplar é que sempre tenho horas a mais a meu favor e posso tirar o dia de folga. — Ele piscou de leve para ela. — Que tal esquecermos a escola e fazer panquecas?
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  Ela assentiu novamente ao segurar na mão do pai e se levantar da cama. Ao longo destes três anos, John havia notado que cozinhar na companhia da filha sempre era um tempo de qualidade, e ajudava a fazê-la esquecer dos traumas que vivia. Uma válvula de escape, precisa e divertida que arrancava muitas gargalhadas de ambos, além do que guardariam em suas memórias.
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  — Agora, acrescentamos um pouco mais de açúcar, mas não muito para não ficar doce demais, pois teremos a geleia de morango também — disse John, ao observar a filha colocando as colheradas, enquanto a ensinava pela centésima vez sua receita de família infalível.
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  — Agora vai ficar bom? — perguntou , assim que o pai voltou a misturar a massa com precisão.
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  — Sim, e vamos para o fogão que a massa está pronta. — Ele olhou para ela com um sorriso no rosto. — Que tal fazermos a geleia antes?
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  — Me deixa fazer desta vez?! — pediu apressadamente, com um brilho incomum nos olhos.
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  Ali estava, o cumprimento da missão de um pai que outrora ficava desesperado, agora já conseguia lidar com a situação e transformar as lágrimas assustadas em sorrisos animados.
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  — Desta vez eu farei, mas… Se continuar sendo uma aprendiz atenciosa, um dia a deixo fazer seu primeiro bolo — garantiu ele, num tom animado.
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   sorriu de volta para o pai. Por mais que sua madrugada em claro tivesse sido fria e sombria, passar a manhã na companhia de seu pai era como a luz que afugentava a escuridão. Porém, nem mesmo aqueles momentos a faziam esquecer os sonhos, apenas suavizava o impacto em seu lado emocional.
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  — Está tudo bem, querida? — indagou John, ao perceber que a filha encarava o último pedaço de panqueca de seu prato.
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  Ela assentiu com a cabeça, permanecendo em silêncio. Parecia reflexiva aos olhos do pai.
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  — ?! — Seu tom de voz elevou um pouco, atraindo a atenção dela. — Combinamos de sempre conversar sobre o que te incomoda. Pode dizer, pandinha, com o que sonhou desta vez?
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  — Eu ainda não sei, não foi como o primeiro sonho. — Ela manteve o tom baixo, quase sussurrando.
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  — E como foi? — O olhar atento do pai e a aflição interna começavam a incomodá-la.
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  John não queria que acontecesse novamente e, lá no fundo, pedia a Deus para que desta vez fosse apenas um sonho ruim corriqueiro. Imaginar que a filha tivesse a capacidade de sonhar com a morte de outras pessoas o assustava ainda mais, angustiando seu coração por não poder protegê-la dos próprios sonhos.
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  — Estava tudo escuro, mas tinha uma luz bem ao centro, iluminando uma mesa. — Ela continuou a encarar o prato, com seus pensamentos bem claros. — Quando me aproximei, vi alguns números escritos… Quando comecei a dizê-los em voz alta, uma mulher apareceu em minha frente, estava sentada em uma cadeira de ferro e amarrada por correntes… Foi quando acordei assustada.
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  — Da próxima vez que tiver mais um sonho assim, me acorde — pediu ele, ao segurar sua mão. — Não hesite, não está sozinha, filha.
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  — Tudo bem. — Ela soltou um suspiro fraco e finalmente comeu o último pedaço da panqueca.
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  John tomou o restante do café em sua xícara e se levantou da cadeira, pegando o celular no bolso. O olhar atento da filha o acompanhou até que se afastasse, e retornasse cinco minutos depois.
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  — , vá se trocar vamos caminhar um pouco — disse ele ao se aproximar da mesa para recolher a louça suja.
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  — Onde vamos? — indagou ela ao se levantar, já sabendo que não seria apenas uma caminhada comum.
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  — Vamos ver a doutora Gilmour — anunciou ele, piscando de leve para ela.
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   se retirou para o quarto. Ao entrar, deu alguns passos até o armário e ficou olhando para as roupas sem saber o que vestiria; mais uma vez a imagem de seu novo sonho lhe tomou a atenção, fazendo-a paralisar por alguns segundos ao reviver a mesma sensação acordada. Desta vez, sua mente parecia mais confusa e menos controlável.
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  — Bom dia, — disse a doutora Gilmour, assim que os recebeu em seu consultório. — Como está minha companheira de conversa favorita?
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  — Estou bem. — A menina sorriu para ela, observando uma sutil mudança na disposição dos móveis da pequena sala. — A senhora tem certeza que eu posso ser a favorita? As outras pessoas não vão ficar com ciúmes?
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  — Eu não conto se você não contar. — Ela piscou de leve e sorriu com graça.
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   assentiu indo se sentar no sofá, enquanto seu pai e a doutora prosseguiam em uma conversa rápida da porta. Bridget notou o olhar atento do pai para a filha, assim como sua frustração pelo ocorrido.
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  — Como ela estava quando você entrou no quarto? — perguntou a doutora para iniciar sua avaliação prévia a partir dele.
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  — Imóvel e abraçada às pernas — respondeu ele, lembrando-se do momento. — Após três anos sendo assombrados por causa desses sonhos, achei que minha filha estava livre, mas…
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  — Sabe que não é sua culpa. — A mulher manteve sua voz suave e gentil.
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  — Eu me forço a ser cético e não quero pensar que, ao chegar ao trabalho, posso me deparar com o sonho da minha filha diante dos meus olhos, não pela segunda vez… — John segurou suas emoções, mantendo-se firme diante dela.
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  — Certos estudiosos afirmam que existe uma parcela rara de pessoas que nascem com um sexto sentido, algo sutil e raro que chamamos de intuição — iniciou ela, sua definição do caso. — A ciência não explica, mas quando estas intuições surgem como visões ou sonhos, algumas culturas tendem a enxergar isso como um dom divino.
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  — Eu só queria que minha filha tivesse uma infância tranquila e feliz, depois de tudo o que passamos, de perder a mãe ao nascer… Por que Deus… — Ele respirou fundo, desviando o olhar para o chão.
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  — Percebo que o retorno dos sonhos o deixou abalado — observou ela, que John mantinha suas mãos fechadas.
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  Para a doutora, aquilo significava seu ponto de controle para manter-se calmo diante da situação.
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  — Então, desta vez, gostaria que caminhasse um pouco pelo quarteirão, enquanto eu e conversamos — sugeriu ela com firmeza para que ele não insistisse o contrário.
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  John assentiu, ainda que relutante internamente. Porém, se retirou para realizar a atividade sugerida pela médica. Assim, Bridget fechou a porta e se aproximou da criança, sentando na poltrona ao seu lado com um sorriso acolhedor no rosto.
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  — Por onde quer começar? — perguntou a doutora, mantendo a atenção nela.
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  — Papai me chamou para fazer panquecas desta vez — contou , voltando o olhar para o vaso de orquídeas azuis em cima da mesa de centro. — Sua teoria tem funcionado, consigo me distrair vendo ele cozinhar.
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  — Para os grandes chefs de culinária, cozinhar é uma terapia que te diverte, principalmente quando tem panquecas relacionadas — contou a médica, criando o ambiente adequado para que os relatos da menina fluíssem melhor. — No meu caso, como não cozinho muito bem, eu cultivo orquídeas, esta é minha terapia.
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  — Eu gosto de cozinhar com o papai, ele sempre me conta histórias de como conquistou a mamãe com seus dotes culinários — contou ela, pensativa. — Infelizmente, pela minha idade, ele disse que é perigoso eu cozinhar sozinha, mas gostaria de me juntar aos grandes chefs um dia.
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  — E o que mais gosta de cozinhar com seu pai? — indagou a doutora, curiosa.
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  — Gosto de fazer bolo de chocolate e torta de maçã — respondeu prontamente. — Aquelas maçãs com a casca bem vermelha, não como os cabelos da moça em meu sonho.
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  — Eram vermelhos como um pimentão ou alaranjados como um suco de laranja? — Bridget já havia se acostumado com a forma em que os relatos lhe eram passados, de forma aleatória e em total sincronia com os diversos assuntos que surgiam nos sessenta minutos de conversa.
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  Um caminho incomum que a doutora construiu para que sua paciente especial pudesse externar as turbulências internas que sofria, de uma forma leve e descontraída.
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  — Eu odeio suco de laranja, mas tinha exatamente esta cor, com direito a pintinhas pelo corpo — continuou a menina, se curvando um pouco para tocar na planta. — Não como as pintas do seu cachorro Dálmata, as dela eram bem menores.
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  — Vejo que está conseguindo descrever com mais fluidez desta vez — notou a mulher.
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  — Eu achei que não teria mais esses sonhos. — A criança voltou o olhar para ela, havia uma certa tristeza escondida. — Eu não gritei desta vez… Achei que fosse um pesadelo normal, até que ela apareceu na minha frente…
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  — Você já tinha visto uma orquídea assim antes? — perguntou a doutora, quebrando o assunto antes que suas palavras ficassem mais densas.
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  — Não, estou curiosa agora. — voltou o olhar para a toca, tocando novamente nela. — O azul dela é mais escuro e vívido que dos olhos da ruiva 26.
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  — Ruiva 26? — Seu olhar ficou confuso.
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  — Como ainda não sabemos o nome dela, como descobrimos da senhora 74, devo chamá-la como? — indagou a criança.
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  Sem saber como reagir, Bridget permaneceu em silêncio, refletindo em como havia superado tantas coisas nos três anos de sessões com ela, e de como uma singela criança poderia demonstrar tanta força como ela.
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  — Elas nascem azuis assim? — perguntou , despertando a atenção dela.
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  — Não, sua tonalidade azul é fruto de uma manipulação genética da orquídea chamada phalaenopsis, tida como a espécie mais comum de cor branca, e este processo funciona por meio da injeção de uma tinta não tóxica no caule da flor, então ela floresce assim — explicou Bridget, controlando sua empolgação em falar sobre seu assunto favorito, deixando o brilho nos olhos transparecer. — Se quiser, podemos fazer juntas da próxima vez.
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  — Jardinagem é legal, mas eu gosto mais de cozinhar — confessou a menina, sua preferência pela culinária. — Já decorei algumas receitas do papai, 26 no total.
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  — 26?! — enfatizou ela.
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  — Sim, o mesmo número que vi no meu sonho, antes dela aparecer. — Assentiu . — Doutora Gilmour…
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  — Sim? — Seu olhar manteve-se atento.
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  — Meu sonho, vai se tornar real como da primeira vez? — voltou seu olhar para ela.
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  A menina não queria demonstrar estar assustada, porém, era inevitável para a criança não pensar sobre a possibilidade de realmente acontecer como da primeira vez, assim como com os animais antes da senhora 74.
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  Já a médica, permaneceu em silêncio desejando não ter a resposta para aquela pergunta, entretanto, sabendo que seria a mais óbvia de todas.
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Na escuridão, eu fecho as portas 
  E em silêncio sinto-me impotente.
  – Promise / EXO

2. Madrugada

Feita de escuridão e silêncio, ironicamente é ela, 
  a madrugada, quem ilumina as falas de nossos pensamentos.
  [ Karyne Santiago ]

  Segundo estudiosos, a mente humana é capaz de processar aproximadamente 11 milhões de bits de informações, entretanto, nossa consciência é capaz de lidar com cerca de 16 a 50 bits, mostrando mais uma vez como podemos ser frágeis mesmo nos sentindo tão fortes. E diante de tantos acontecimentos que ocorrem ao longo da vida, há um momento em que a pessoa se sobrecarrega com seus pensamentos, desejando ter um segundo de paz e quietude para encontrar seu equilíbrio interno. E não há nada como o silêncio da madrugada.
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Outono de 2010

  Não há nada melhor para um estudante que o fechamento de uma estação com feriado nacional, e era assim que os alunos da Academic Minelli High School se sentiam com a proximidade do dia de ação de graças. Para , era um dia festivo em que poderia passar com o pai na companhia dos amigos da família, um dia para agradecer e renovar as esperanças para o futuro.
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  — Bom dia, pandinha — disse o pai, num tom carinhoso assim que percebeu sua presença adentrando a cozinha.
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  — Bom dia, papai. — espreguiçou levemente o corpo, dando passos até a cadeira, se sentando em seguida, ficou o observando enquanto terminava de preparar o café.
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  — Dormiu bem, esta noite? — indagou ele, ao se voltar para ela e observar suas expressões faciais.
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  A criança assentiu com a cabeça, voltando o olhar para a jarra de suco em cima da mesa, na sua frente. Já se contava pouco mais de três semanas desde a última vez que tivera o sonho com a mulher ruiva, ela não sabia se ficava aliviada por um tempo de paz em suas noites de sono, ou ansiosa em esperar pelo próximo sonho. Mesmo sabendo que poderia ser algo pesado para sua filha, John havia pedido a menina que observasse o máximo de detalhe na próxima vez que acontecesse, assim o policial poderia tirar suas dúvidas relacionadas aos acontecimentos se tornarem reais. Talvez tenha sido apenas coincidência da primeira vez, e o pai queria provar isso.
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  — Sim, vinte e um dias sem pesadelos. — voltou o olhar para ele, as linhas de expressão do seu rosto estavam mais suaves. — Papai, o que vamos fazer para o dia de ação de graças? — Indagou ela, mudando rapidamente de assunto.
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  Por mais que soubesse que tinha a liberdade de conversar com o pai sobre isso, ainda se preocupava em não o sobrecarregar com sua condição especial. Mesmo tendo no pai um ponto de apoio, sentia-se mal pelos ocorridos, principalmente nas madrugadas.
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  — O que sugere? — retrucou ele, ao encostar na bancada da pia, e cruzar os braços.
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  Para John, cozinhar na companhia da filha o fazia sentir que suas vidas poderiam ser normais, mesmo que em um curto espaço de tempo, eram somente os dois, pai e filha. Sem sonhos, sem problemas, sem as pressões do trabalho, sem rondas noturnas de plantão.
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  — A tia Hilary com certeza vai se encarregar do peru… — observou ela, ao se esticar para servir um pouco do suco dentro do corpo vazio à sua frente.
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  — E Margo sempre leva purê de batatas — completou John, se virando e pegando o prato de torradas para levar à mesa. — E Jack sempre faz a sua infalível salada temperada.
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  — O senhor convidou a doutora Gilmour? — indagou ela, voltando a olhá-lo enquanto se aproximava.
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  — Acho melhor não, das outras vezes ela recusou e sabemos que ela não pode ser tão próxima assim de nós, ela é sua médica — explicou ele, pegando duas torradas para servi-la. — As pessoas podem achar que é falta de ética profissional.
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  — Uma vez ela me disse que a família mora em Seattle — comentou , ao pegar o pote de geleia de morango para abrir. — Deve ser triste passar essas datas comemorativas sozinha.
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  — E o que você quer que eu faça? — Ele a olhou, atentamente.
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  — Não custa nada convidá-la mais uma vez. — Ela olhou para o pai, de forma chorosa para que ele aceitasse seu pedido.
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  — Tudo bem, eu a convido novamente. — O homem sorriu de canto e pegou o pote das mãos dela, para abri-lo em seu lugar, então, pegando uma colher, entregou a ela novamente. — Bom apetite.
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   assentiu e rapidamente fechou os olhos, agradeceu pelo alimento e então pegou uma quantidade generosa de geleia e passou na torrada. John ficou observando-a por um tempo, até que finalmente despejou um pouco de café na xícara e começou a bebericar.
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  — Papai, por que não fazemos uma sobremesa esse ano? — sugeriu ela, em forma de indagação.
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  Era um fato que, nas muitas receitas que aprendeu com o pai nos últimos anos, as sobremesas eram suas favoritas, principalmente aquelas que envolviam chocolate, maçãs ou chantilly. E mesmo estando em sua fase de descobertas, havia duas coisas as quais amava fazer: cozinhar com o pai e desenhar. E a pequena tinha certo talento em seus traços no papel, sendo sempre incentivada por sua professora de artes da escola.
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  — E qual sobremesa sugere? — Ele tomou mais um gole, atento à filha.
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  — Torta de maçã — respondeu, levando a torrada à boca.
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  — Mas é dia de ação de graças, seria mais comum levarmos torta de abóbora — questionou ele, as tradições culinárias que a data exige.
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  — Não somos uma família comum e normal, papai. — Ela voltou o olhar para ele, no fundo tinha um tom de inocência em seu argumento, que tornava a realidade mais leve do que realmente era.
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  — Então faremos uma torta de maçã. — O homem tomou o último gole e se levantou da cadeira. — Só preciso que me lembre de comprar maçãs frescas quarta-feira.
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  — Nossas maçãs acabaram, porque amanhã é quarta-feira? — Ela voltou a atenção para o restante das torradas na bandeja e pegou mais duas, passando geleia nelas.
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  — Acho que sim, mas mesmo se tivesse, a calda fica mais gostosa com maçãs frescas, você sabe disso — explicou ele, o segredo da receita de família. — E podemos comprá-las no mercado noturno.
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  — Vamos subornar o produtor? — brincou ela, com a referência de Ratatouille.
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  — Voilá, o melhor restaurante leva. — Ele piscou de leve ao complementar a brincadeira dela. — Termine logo, mocinha, que vou te levar para a escola e depois ir para o DP.
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  — Vai fazer ronda hoje? — A menina alisou a geleia na torrada com o dedo indicador e depois o levou à boca, sentindo o gostinho doce.
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  — Sim, para poder passar quarta e quinta com a senhorita e após a aula, vai ficar com a senhora Poppy do vinte e dois — disse ele, se referindo a moradora do segundo andar do prédio.
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  Morar em um apartamento nunca foi o objetivo de John, seus planos e da falecida esposa, Marie, eram de se mudar para uma casa após o nascimento da filha, entretanto, nem sempre o que queremos é o que acontece. Após perder a esposa, o policial apenas desistiu de prosseguir com o planejado e se acomodou com o pouco espaço do apartamento. Um ponto positivo foi encontrar auxílio na sábia senhora Poppy, que sempre demonstrou carinho pelo casal.
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  — Eu gosto dela, aprendi a fazer crochê da última vez — comentou , enquanto terminava sua torrada. — Ela disse que é uma terapia natural.
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  — Terapia natural?! — O pai riu baixo.
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  Ela assentiu com a cabeça enquanto mastigava, saboreando seu café. O pai sorriu de canto e caminhou em direção ao corredor dos quartos. Mesmo pequeno, o apartamento tinha o conceito aberto, da cozinha integrada com a sala, dando-lhe uma leve sensação de maior. Pelo valor da hipoteca, era o que o salário de policial dava para pagar, pois todas as economias do casal haviam sido guardadas para a faculdade da filha.
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  Após se vestir com a roupa que havia escolhido na noite anterior, colocou sua blusa de moletom cinza claro e verificou se tudo o que precisava estava em sua mochila. Então voltou para sala e encontrou o pai digitando no celular, ela permaneceu em silêncio até que ele terminasse e percebesse sua presença. Por um breve momento, ela voltou o olhar para a janela entreaberta, o sol estava frio e uma brisa gélida compunha a temperatura do dia.
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  — Pandinha — disse John ao perceber a filha, guardando o celular no bolso.
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  Ela manteve sua atenção no céu azulado, em dias assim, a menina sabia que possivelmente as horas passariam mais rápido. No fundo ela não queria, afinal, se contava exatos vinte e seis dias desde o último pesadelo, e seguia pedindo a Deus para que realmente não acontecesse como da primeira vez, pois se fosse esse o caso, certamente ela teria o mesmo sonho naquela noite.
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  — ?! Filha?! — disse o pai, num tom mais alto, finalmente despertando a sua atenção. — Está tudo bem?
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  — Sim, me distraí olhando o céu — explicou ela, sorrindo de leve para despreocupá-lo.
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  Ambos saíram juntos, deixando o apartamento devidamente trancado; com a crescente onda de roubos no bairro onde moravam, John precisou colocar mais duas trancas na porta de entrada e alguns reforços nas janelas que davam para a escadaria lateral do prédio. Levando a filha de carro para a escola, no curto espaço de dez minutos de deslocamento eles se divertiam cantarolando a trilha sonora proporcionada pelas estações de rádio.
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  — Tenha uma boa aula, pandinha. — John piscou de leve para ela, ao estacionar o carro próximo à escola.
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  — Obrigada, papai, te amo. — lhe deu um beijo na bochecha, então saiu do carro e seguiu para a entrada do prédio.
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  John manteve o olhar sereno e atento à filha até perdê-la de vista, então, com um suspiro cansado, ligou o motor e soltou o freio com seu trajeto já traçado na mente. Antes de chegar ao trabalho ele passou na clínica da doutora Gilmour, não somente pelo convite como também para um desabafo rápido, que a deixou surpresa.
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  — Poderia ter me ligado, assim não teria que esperar tanto — disse ela assim que abriu a porta de sua sala, para que ele entrasse.
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  — Eu não pretendia incomoda-la, sei que suas manhãs sempre são ocupadas — explicou ele, um pouco sem graça passando pela porta. — Além do mais, não é uma consulta formal…
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  — E desde quando dou consultas?! — argumentou ela em um sutil tom de repreensão. — A única coisa que faço aqui é conversar com pessoas que precisam ser ouvidas, mas não conseguem fazer isso sozinhas.
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  Ele parou ao centro da sala e voltou o olhar para ela. Era estranho para John, mas a face de Bridget sempre lhe transmitia paz e tranquilidade, fazendo seu coração desesperado se acalmar em meio às dificuldades, e suas palavras sempre tinham fundamentos.
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  — Então podemos conversar? — perguntou ele.
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  Ela assentiu com um sorriso e estendeu a mão para que ele se sentasse. Bridget tinha seus métodos não convencionais para envolver seus “convidados” nas longas conversas que proporcionava. Ela agia de forma específica em cada situação, analisava a outra pessoa e logo construía estratégias que lhes trouxessem o melhor resultado.
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  — Como tem sido desde a nossa última conversa? — perguntou ela, seguindo em direção à varanda que tinha em sua sala.
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  Seu amor por plantas a induziu a montar uma pequena estação de jardinagem a qual utilizava em diversas conversas que achava necessário, principalmente quando havia crianças envolvidas. Bridget parou e voltou seu olhar para a bancada de trabalho em estrutura de cavalete de metalon com base de tampo de madeira envernizada.
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  — Eu… Bem, nos vimos na última quinta-feira — respondeu ele, a observando sem entender seu propósito.
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  — E?! — insistiu ela, mantendo o tom suave e acolhedor. — Muitas coisas podem acontecer em sete dias.
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  — Ainda não completaram sete dias — argumentou ele, ouvindo uma risada rápida vindo dela.
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  — Sim… E não me respondeu à pergunta inicial. — Ela continuou firme no objetivo.
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  — Hoje é dia vinte e seis… — O homem respirou fundo, deixando o silêncio invadir o ambiente por alguns instantes, refletindo se realmente deveria entrar naquele assunto. — Pela primeira vez após perder minha esposa, estou com medo de alguma coisa acontecer e eu não ser capaz de proteger a .
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  — E o que este dia de hoje o faz pensar que não conseguirá manter a promessa que fez à sua esposa? — indagou ela, mantendo-se na varanda e iniciando o replantio que havia planejado para uma orquídea.
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  — Tenho passado boa parte da madrugada em claro, esperando pelos gritos da minha filha e suplicando para que não acontecessem… — continuou ele, mantinha-se de pé, com o olhar na orquídea azul em cima da mesa. — Se acontecer exatamente como na primeira vez, não sei o que farei… E não quero imaginar que esta noite mais um pesadelo vai visitar os sonhos da minha filha, e eu não estarei lá, ao seu lado…
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  John segurou suas emoções, ao sentir os olhos marejados. Das poucas vezes que chorou, a maioria se referiam às pessoas que amava e de como se sentia impotente por não conseguir protegê-las como gostaria.
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  — Como da primeira vez os sonhos se repetiam de 74 em 74 dias, então, pela lógica, este segundo sonhos se repetirá de 26 em 26 dias, até que se concretize — Bridget pronunciou em reflexão às preocupações do policial, fazendo as devidas comparações entre os acontecimentos.
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  O silêncio de John confirmou seus pensamentos.
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  — O que tanto faz aí? — perguntou ele, após despertar de seus pensamentos.
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  — Venha e veja — incentivou ela, parando por um momento, até que ele aparecesse.
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  — Orquídeas — disse ele, parando na porta e a observando. — Quando descobriu que é seu ponto de apoio?
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  — Quando eu era pequena. — Um sorriso espontâneo saiu no seu rosto, algo que ele pode notar. — Minha avó paterna tinha uma floricultura em Seattle, todas as tardes após a aula eu ajudava, sempre tinha as melhores histórias para me contar.
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  — Eu me lembro muito pouco dos meus avós, meus pais se mudaram com frequência por causa do trabalho do meu pai — contou John, vendo-a concentrada no preparo do pequeno pedaço de tronco em que a orquídea seria anexada.
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  — Mesmo sendo poucas, toda memória é valiosa — reforçou ela.
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  Mais algum tempo de silêncio.
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  — Não deveria colocá-la em um vaso?! — perguntou ele, inocente em sua curiosidade, recebendo um olhar atravessado como se tivesse dito o maior dos pecados. — O que eu falei demais?
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  — Esta é uma Orquídea Cattleya, esta espécie não pode ser plantada na terra, pois elas são classificadas como orquídeas epífitas — explicou ela, voltando o olhar para a planta. — Por isso, é necessário ter cuidado com a umidade, pois a planta pode apodrecer se ficar encharcada, entretanto, pode queimar se ficar exposta ao sol direto, por isso, ela deve ficar em um ambiente equilibrado.
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  O olhar do policial mostrou admiração pelos conhecimentos da doutora, o que o lembrou em seus momentos de culinária com a filha, explicando os segredos do tempero da família.
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  — Pretende continuar suas pesquisas no departamento? — indagou ela, retornando ao assunto que o levou ali.
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  Ele respirou fundo antes responder.
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  — Eu precisei parar por uns dias, quando me senti obcecado em provar que não haveria nenhum caso ligado aos sonhos da . — O tom baixo de sua voz fez a doutora perceber o cansaço físico e mental que o sobrecarregava.
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  — Eu não gosto muito dessa expressão — disse ela, num tom mediano, falando consigo mesma.
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  — Qual?! — Curioso, manteve as mãos nos bolsos da calça.
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  — Se a vida te der limões, faça uma limonada. — Ela parou o manuseio com a planta e o olhou. — Acho que é uma frase de efeito desconfortável que faz com que as pessoas aceitem o que acontece de ruim com elas… Entretanto, ela se adequa ao seu caso, ainda que te deixe desnorteado inicialmente.
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  — Onde quer chegar? — perguntou ele, franzindo a testa.
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  — Não sabemos de onde veio ou se um dia isso vai acabar, mas como alguém que escolheu proteger pessoas, que tal olhar isso como uma dádiva? — sugeriu ela, mantendo a suavidade e fluidez nas palavras, em um ritmo que gerasse reflexão e não confronto. — Se for mesmo real e se houver mais sonhos como estes… Talvez, você possa salvar estas pessoas, antes que possa acontecer com elas.
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  — Não sei se conseguiria… — O homem balançou a cabeça negativamente. — Eu só queria que minha filha não sofresse mais.
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  — Você pode amenizar transformando a maldição em benção — explicou ela. — Se houver uma forma de encontrar e salvar a pessoa antes de chegar a data que ela morre.
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  — Estamos há três anos sofrendo com esta situação, se realmente acontecer como na primeira vez… — Ele voltou o olhar para a rua, controlando a mistura de raiva e frustração interna. — Não sei se conseguiria suportar… Pedir minha filha para lidar com isso com naturalidade, mesmo sendo para salvar vidas.
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  John retornou o olhar para ela, que mantinha a serenidade.
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  — Doutora Gilmour, só tem dez anos — completou ele.
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  — E acredite, ela é muito forte — disse ela, confiante em sua avaliação. — Talvez mais forte que nós dois juntos.
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  Ele suspirou fraco, então sentiu o celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de sua parceira, lhe perguntando se estava a caminho para o trabalho.
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  — Eu preciso ir. — Deu impulso no corpo para se retirar, porém parou no meio do caminho. — Antes… Eu queria te convidar…
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  — Para o dia de ação de graças? — Ela o interrompeu, ainda mantinha o olhar fixo nele, deixando transparecer um sorriso no canto do rosto.
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  — Sim… me fez prometer que iria te convidar — explicou ele.
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  — Há três anos eu venho recusando — admitiu ela, segurando o riso. — Mande o endereço, talvez…
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  Ele assentiu com o olhar e se afastou em silêncio. Estava grato por ter encontrado alguém tão incrível como ela para apoiar sua nada comum família.
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  O dia foi seguindo com pai e filha desempenhando suas atividades com dedicação, mesmo com a ponta de ansiedade, estresse e preocupação que os rodeavam. Após as aulas, se despediu de sua amiga Lilo, após passarem duas horas a mais na biblioteca adiantando o trabalho da feira de ciências. Ao chegar no prédio onde morava, foi recebida pela senhora Poppy do apartamento 22, com cookies de chocolate e chá de camomila. Para a moradora mais antiga do prédio, não havia uma só preocupação que não se resolvesse com uma boa xícara de chá. 
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  — E então?! — perguntou a senhora, observando atentamente a pequena degustar o quinto cookie consecutivo, sem se importar em perder o apetite para o jantar.
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  — Está mais gostoso do que na última vez — confessou , após engolir o pedaço generoso que mastigava. — As gotas estão mesmo com gosto de chocolate.
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  — É porque eu mudei de fabricante depois que reclamou — explicou a senhora o motivo. — Não sei se seu pai já te ensinou, mas na cozinha, a qualidade dos ingredientes conta bastante.
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  — Meu pai não é tão especialista em sobremesas como a senhora, mas já me disse que devemos observar isso — confessou a menina, se mostrando uma boa aluna. — A senhora vai me ensinar a fazer?
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  — Um dia, claro que vou. — Poppy sorriu, se mantendo escorada à mesa com um sorriso singelo. — Mas por enquanto não, pois se aprender agora, não terei mais como suborna-la para vir em minha casa.
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  Seu tom de brincadeira arrancou uma risada boba da criança. Ambas conversaram um pouco sobre o dia de ação de graças e do cardápio que a senhora Poppy planejava para passar com os filhos e netos, que vinham do Colorado apenas para passar o feriado nacional com ela. Com algumas sugestões da menina, principalmente na parte dos doces, a matriarca novamente pode perceber o talento escondido que a pequena possuía, já pensando em como trabalhar isso para seu futuro.
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  Ao final da noite, se acomodou no quarto de hóspedes de Poppy. Deitada na cama, luzes apagadas e um feixe de luz passando pela fresta da cortina, a única coisa que ela não queria, era fechar os olhos.
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  — E se eu sonhar?! — ela se perguntou em sussurro, no fundo, também tinha medo do que poderia ver, e se realmente fosse sonhar a mesma coisa?
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  Havia algumas probabilidades, nas quais passou o dia todo pensando mesmo não querendo focar no assunto. Ela ergueu o corpo, abraçando-se às pernas, manteve o olhar na fresta da cortina, permitindo à sua mente retornar às imagens do segundo sonho.
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  — Mas e se eu não sonhar? — sussurrou, novamente, a possibilidade.
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  Se ela sonhasse, poderia significar que a ruiva 26 ainda estaria viva, pois estavam no mês de sua possível morte. Mas se ela não sonhasse, poderia significar o mesmo que aconteceu com a senhora 74, dos cabelos grisalhos. Ou, poderia significar que todo aquele tormento havia acabado e tudo pareceu apenas um sonho ruim.
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  — O que eu faço? — indagou para si, fechando os olhos por alguns minutos.
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  Uma madrugada nunca foi tão longa quanto aquela. E por mais que se esforçasse para permanecer com os olhos abertos e a mente longe dos seus conflitos internos, em um dado momento o peso do cansaço foi maior fechando de vez suas pálpebras, fazendo cair em sono profundo.
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  — Hum… — se espreguiçou na cama, com um semblante suave de alguém que teve o sono dos justos.
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  O que de fato aconteceu.
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  — Bom dia, bela adormecida. — A voz de seu pai a fez despertar por completo.
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  Um sorriso largo e um pulo apressado da cama, fez o pai se assustar com a rapidez em que recebeu um abraço apertado da filha. Acariciando seus cabelos, ele retribuiu com carinho, percebendo que sua reação à presença dele era sinal de boas notícias.
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  — Devo presumir que não houve pesadelos? — perguntou o pai, esperançoso.
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  — Sim, papai. — o olhou com um brilho incomum nos olhos. — Hoje é dia vinte e sete, e não houve sonhos… Mas…
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  — Mas nada — disse a interrompendo. — Isso já é o bastante para termos o melhor feriado do mundo.
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  Ela manteve o sorriso no rosto e o abraçou novamente empolgada. O dia de pai e filha obteve um cronograma apertado, no qual, se manteve nos improvisos de atividades que John ia propondo à filha. A primeira delas foi a hora da faxina, com o objetivo de deixar o apartamento limpinho para receber os convidados do dia seguinte. No geral, os feriados eram sempre comemorados na casa do casal Donson, porém, com a reforma devido ao anúncio do primeiro filho do casal, com previsão de nascer no final do inverno, a escolha do anfitrião foi sugestão de Margareth.
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   A policial Finn havia conhecido o amigo anos atrás na academia de polícia. Ambos tiveram um romance de dois segundos em que, de comum acordo, resolveram manter apenas a amizade. E foi através dela que ele conheceu sua esposa, Marie. A policial aceitou ser madrinha de casamento e da primeira e única filha do casal.
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  — Papai, acho que está faltando açúcar — disse , ao experimentar a calda do recheio.
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  — Deixe-me ver. — Ele pegou um pouco com a colher e experimentou. — Tem razão, está meio…
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  — Sem doce — completou ela.
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  Ele concordou, rindo baixo.
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  — Mas você notou que fica bem melhor com maçãs frescas? — perguntou o pai, pegando o pote de açúcar para a calda.
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  — Verdade, ficou bem melhor do que aquela que fizemos no 14 de julho. — A menina fez uma careta ao se lembrar do gosto.
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  — E vamos terminar rápido para colocar no forno e tomar um banho em seguida — disse John, concentrado em mexer corretamente a calda para não dar a textura errada e perder o ponto.
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  — O senhor mexe de uma forma diferente da vovó Lucy — comentou a pequena, atenta aos movimentos do pai, como uma mini aprendiz dedicada.
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  — Sim, mais um segredo de família. — Ele olhou para a filha rapidamente. — A forma como mexe, sempre influencia a textura, seja uma calda, uma massa, um molho.
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  Ela assentiu com a cabeça, memorizando seus conselhos.
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  — Papai — chamou ela.
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  — Sim?! — Ele manteve a atenção no manuseio da panela.
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  — O senhor pretende se casar de novo? — indagou, fazendo-o se assustar com o assunto.
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  — Por que me pergunta isso? — retrucou o homem.
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  — É que eu ouvi algumas conversas de corredor… — explicou ela, cautelosamente para que o pai entendesse. — Dizendo que madrastas podem ser chatas e cruéis… E se eu tiver mais daqueles pesadelos e… Não atrapalhar sua vida.
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  — Jamais pense assim. — O homem desligou o fogo e voltou sua atenção total para a filha. — Você é meu presente da vida, não pense assim… E não pretendo me casar tão cedo, mas se isso um dia acontecer… Ela terá que te amar primeiro, antes de me amar.
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   sorriu para o pai, sentindo o coração quentinho e com a certeza que ela e o pai sempre seriam próximos e cúmplices. 
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  Finalmente o feriado começou o dia com a brisa de final de outono e, claro, muita gratidão acumulada. A hora do almoço foi se aproximando e finalmente os poucos, porém importantes convidados, chegaram na casa dos anfitriões. Jack, a princípio, se impressionou com a organização do lugar, afinal, seu conhecimento do amigo foi sempre sobre o policial ser bagunceiro e desorganizado, o que o deixava confuso pelo amigo ser tão disciplinado no trabalho e com os assuntos relacionados à filha. Já Margareth, estava mesmo interessada em sua afilhada que lhe devia uma festa do pijama regado a desenhos da Barbie.
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  Hilary, com seu senso de dona de casa, tomou a frente da organização da mesa. Vinte minutos antes de se reunirem à mesa, o interfone tocou, deixando John surpreso com a pessoa que batia em sua porta.
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  — Doutora Gilmour?! — disse ele, ao abrir a porta para ela.
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  — Olá. — Ela estava totalmente diferente de como costumava aparentar, parecia tímida para a ocasião e um pouco deslocada por estar ali. — Trouxe bolinhos de arroz, receita de família.
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  — Bem-vinda. — John sorriu, abrindo um pouco mais a porta para que ela entrasse.
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  — Obrigada. — Ao balançar positivamente a cabeça, ela passou pela porta sentindo o coração acelerado. — Espero que gostem.
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  — Doutora Gilmour. — O som da voz de soou animado do centro da sala.
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  — Olá, pequena. — Bridget sorriu com gentileza, esticando uma sacola para ela. — Trouxe para minha companheira de conversa favorita.
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   agradeceu com o olhar ao pegar a sacola, já curiosa para saber o que tinha dentro. Com o olhar curioso dos amigos, John tratou de fazer as devidas apresentações para que não houvesse nenhum mal entendido com a presença da médica ali. Claro que Margareth ainda se mantinha curiosa.
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  — E qual é o lance com a doutora? — perguntou ela, discretamente, enquanto organizavam os pratos na mesa.
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  O olhar da policial se mantinha na convidada especial, sentada no sofá ao lado de .
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  — Não tem nenhum lance. — Ele manteve a atenção nos talheres em sua mão. — Você sabe que a tem sessões com a psicóloga que, no caso, é ela.
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  — E um médico pode se envolver com seu paciente? — retrucou Marg, cutucando um pouco o amigo.
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  — Onde quer chegar? — Ele a olhou com seriedade.
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  — No mesmo lugar de sempre. — Seu olhar curioso o deixava impressionado. — Sou sua melhor amiga, mas ainda tenho minhas ondas de ciúmes.
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  — Não há nada entre mim e a doutora. — John foi firme e sincero.
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  — Se está dizendo. — Por ora, ela se deu por satisfeita.
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  Ao som de uma faca de mesa tocando a taça de vinho, Hilary chamou a atenção de todos, que se reuniram em volta da mesa. Entre um discurso formal e sério de John, com algumas risadas descontraídas dos comentários de Jack e Margareth, o dia de gratidão deu seguimento com um dos melhores almoços já degustados. Pelo menos na opinião de , com o coração quentinho e cheio de esperanças.
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  — Não deveria deixar o celular ligado em dias assim. — O lado médica de Bridget falou mais alto, repreendendo John ao vê-lo pegar o aparelho do bolso.
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  — Sou um policial — argumentou ele, olhando na tela.
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  — Em dia de folga — contra-argumentou ela, com o olhar sério. — Acabamos de agradecer pelas coisas boas, desfrutamos de um almoço saboroso… Não deveria se preocupar com o trabalho.
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  — Sinto que desta vez eu devo. — O homem manteve o olhar firme na tela, uma ligação direta de seu chefe.
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  John se afastou da mulher, colocando o celular no ouvido para atender. A cada minuto de ligação suas expressões foram ficando mais sérias e rígidas, preocupando assim seus convidados.
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  — O que aconteceu?! — perguntou Margareth, já conhecendo o olhar do amigo.
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  John não consegui ter outra reação inicial a não ser ficar estático.
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  — John?! — A voz suave de Bridget o despertou. — O que aconteceu?
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  — O que eu mais temia. — Ele voltou seu olhar para a doutora, sentindo seu corpo estremecer por dentro.
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  — Papai, meu sonho aconteceu? — indagou a criança, sentindo seu coração apertado.
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  Os olhos de lacrimejaram ao ver que o silêncio de seu pai era uma afirmativa à sua pergunta. Não querendo acreditar que, pela segunda vez, seus sonhos se tornaram realidade, ela apenas afastou-se de todos e saiu correndo, trancando-se em seu quarto. 
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  — . — Bridget tentou ir atrás da criança, porém parou antes mesmo de tomar impulso.
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  — John, o que está acontecendo? Quem te ligou? — indagou Margareth, tentando entender as palavras e olhares que somente o pai e a médica entendiam.
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  — O chefe ligou, temos um chamado — anunciou ele.
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  — Agora? — A mulher ficou confusa.
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  — Mas que chamado foi esse?! — perguntou Hilary, baixinho para o marido.
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  — Com certeza é da DP — respondeu ele.
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  — Sim, Margareth, temos que ir. — Ele voltou o olhar para a doutora. — Cuide dela por mim.
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  Assim que Gilmour concordou com a missão, John pegou as chaves do carro e, sendo seguido pela parceira que ainda tentava entender o que ocorria, seguiram para o 21º DP. Ao receber as coordenadas do chefe pelo celular, mais uma vez John presenciou o impossível, pois a cena detalhada por sua filha várias vezes, estava diante dos seus olhos, deixando-o estático.
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Sou realmente agradecido por te ter
  O presente que Deus me deu.
  – Sing for You / EXO

3. Dons

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem… 
O ato de ver não é uma coisa natural.
[ Rubem Alves ]

  Todos nascem com um dom específico, por mais que em alguns casos levem anos para descobrir qual é. Contudo, aquela habilidade natural que carregamos desde o nascimento e desenvolvemos ao longo da vida, não se perde e nem se é roubado, e somente nós mesmos podemos exercer. E este dom sempre estará vinculado a um dos cinco sentidos, seja em sua voz, seus ouvidos, suas mãos, seu olfato e o mais intrigante de todos, sua visão.
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Primavera de 2014

  A primavera é sem dúvida a estação mais perfumada do ano, trazendo a sensação de renovo e recomeço para a natureza e também algumas pessoas. Este foi o caso do tenente recém-transferido de Seattle para o 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago, Gregori Watts e do seu filho incompreendido e problemático . A conturbada família Watts havia perdido o mais importante membro há três meses, a delicada senhora Olivia Watts, teve seus anos de vida ceifados por um câncer silencioso e devastador. Trazendo assim, a frieza e distanciamento entre pai e filho.
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  Mudar é sempre necessário, entretanto naquelas circunstâncias, pedir transferência e estar à frente do Esquadrão de Resgate º3, foi um plano de contingência para afastar o filho das más influências e se mudar para um novo ambiente que pudesse proporcionar novas perspectivas de vida. Mesmo com as divergências de pensamento entre Gregori e , o pai havia prometido à esposa em seus últimos minutos, que seria o mais compreensível com o adolescente e não desistiria daquela família. Assim, após longas horas atravessando o país, ambos finalmente chegaram no pequeno apartamento que o bombeiro conseguiu por indicação do chefe de batalhão, senhor Wallace Brown.
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  — Quer ajuda com suas malas? — perguntou Gregori, assim que desceram do carro em frente ao prédio, e prosseguiu para abrir o porta-malas.
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  — Não — disse com seu tom baixo e áspero de sempre ao ajustar sua mochila nas costas e pegar a mala de viagem juntamente com a capa da guitarra.
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  O pai soltou um suspiro cansado enquanto observava seu filho se afastar em direção à porta de entrada. Com um árduo caminho para adaptar-se à nova realidade pela frente, ele pegou sua mala e encaixou a alça transversal no ombro, em seguida retirou as três caixas do porta-malas, o fechando em seguida. Por uma decisão unânime, haviam vendido a maior parte das coisas que tinham, arrecadando assim uma boa quantia em dinheiro para a nova cidade. Foi sorte o apartamento já estar mobiliado com o básico, tendo apenas os eletrodomésticos portáteis para serem inseridos por Watts.
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  Subindo os degraus a passos lentos, carregando a mochila de um lado, a guitarra do outro e a mala na mão esquerda, mantinha sua atenção no celular em sua outra mão livre, escolhendo a próxima música de sua playlist. Alheio ao mundo a sua volta, nem mesmo havia percebido movimentações no corredor do seu andar. A poucos metros dele, estava a doce revirando sua mochila pela sexta vez, sem entender como perdera as chaves.
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  — Não acredito… — sussurrou ela, remexendo o bolso do fundo. — Onde coloquei, tenho certeza que não te perdi.
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  Ambos os adolescentes, distraídos em suas preocupações ou distrações, não perceberam a presença um do outro, ocasionando assim um sutil esbarrão, que deixara estática de imediato. Um frio passou pelo corpo da garota, deixando-a com o coração acelerado sem motivos lógicos. No impacto, tanto a sua mochila como a guitarra de , foram ao chão.
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  — Me desculpe, estava… — se abaixou para pegar a capa com a guitarra, enquanto involuntariamente ele pegou sua mochila. 
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  — Não tem problema. — manteve sua voz grossa e seca, e sem que a garota pudesse reagir aos seus reflexos, ele pegou sua guitarra entregando a mochila no mesmo instante.
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  Com o corpo erguido, ela nem mesmo conseguiu reagir ao momento da troca dos objetos, assim que segurou sua mochila e finalmente pôde olhar para ele, já estava de costas para ela seguindo para a porta do seu apartamento, que curiosamente era do lado. ficou parada o observando até que percebeu outra presença, e se virando avistou a silhueta de Gregori finalizando os degraus da escada.
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  — Boa tarde — disse o homem ao passar por ela, já percebendo a porta do seu apartamento aberta.
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  — Boa tarde — respondeu ela, observando a insígnia dos bombeiros na blusa que usava.
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  — Você viu um rapaz passando por aqui? — indagou o homem, ao parar um pouco mais à frente e se virar para lhe perguntar.
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  Ela assentiu, novamente sentindo um frio na espinha seguido de uma sensação estranha de medo e solidão mexendo sutilmente com suas emoções. Isso a assustou a ponto de a impulsionar fisicamente para se retirar dali, então se afastou mais e seguiu em direção às escadas, desceu-as às pressas e saiu correndo pela rua em direção a DP, em que John trabalha. Ainda no corredor, Gregori não entendera o motivo para que a garota saísse com tanta pressa, porém, não era de sua conta. Sua atenção voltou para a porta aberta e passando por ela, entrou no apartamento fechando-a em seguida. Para um recomeço, sua nova residência estava de acordo com seu orçamento e se localizava próximo ao trabalho, sendo mais um ponto positivo motivacional.
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   já estava no quarto que seria dele, de portas fechadas e jogado em sua cama, com os fones no ouvido e encarando o teto, com seus pensamentos bem distantes de sua realidade. Na sala, Gregori deixou as caixas próximas do sofá, junto com sua mala, e caminhou até o corredor, parando em frente à porta do quarto do filho. Ele queria insistir mais um pouco, pelo menos um diálogo básico do primeiro dia em uma nova cidade, porém, ao pensar com mais cuidado, deu meia volta e seguiu para a cozinha a fim de conferir como estava a geladeira.
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  — Como eu imaginei… — disse ele em um suspiro fraco, vendo-a apenas com algumas garrafas de água. — O síndico disse que estaria cheia quando chegasse.
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  Gregori procurou um caderno em sua mala e escreveu um bilhete ao filho, informando sua breve saída até o mercado.
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  As horas se passaram e finalmente saiu do quarto, ao passar pela sala notou as caixas ainda do lado do sofá, o que o deixou admirado. Seu pai, por ter tido um treinamento militar em seus anos servindo ao exército, era considerado como o general da organização, um apelido “carinhoso” dado pela esposa. Para o adolescente, era mais uma forma do pai fazer comparativos entre os dois e mostrar que era melhor em tudo.
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  — Fui ao mercado — sussurrou , ao ler o bilhete. — Poderia não voltar nunca mais.
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  Ele caminhou até a geladeira e retirou uma das garrafas, despejando a água no copo, tomou-a em duas goladas. Ao dar impulso para voltar ao quarto, seu celular vibrou no bolso, indicando uma mensagem de sua namorada Clair, já declarando estar sentindo sua falta. Ele ignorou inicialmente, mas depois começou a digitar uma mensagem de resposta.
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      Ainda não completou vinte e quatro horas.
  Não importa, , já sinto sua falta.
  Como é Chicago?
   
      Mais quente e aparentemente menos chuvosa.

  Ele respirou fundo, voltando a cabeça para trás e fechando os olhos. Assim como seu grupo de amigos encrenqueiros, seu namoro com Clair não era bem visto por seu pai, um dos motivos pelos quais ele continuava a sair com ela, completando seis meses de relacionamento oficial. Assim que abriu os olhos, desligou a tela e colocou o aparelho de volta no bolso, em um piscar de olhos, seu pai adentrou o apartamento com algumas sacolas na mão e se admirou de vê-lo fora do quarto.
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  — Olha só quem saiu da toca — brincou ele, mantendo o tom sério. — Está com fome.
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  — Talvez — respondeu , retirando os fones do ouvido e se encostando na parede para observá-lo.
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  — Não vai voltar para o quarto? — indagou o pai, percebendo sua permanência ali.
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  — Se quiser eu volto. — Áspero e direto.
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  Gregori colocou as sacolas em cima da bancada e o olhou, reunindo o máximo de paciência possível dentro de si para não terem a primeira discussão na casa nova por algo insignificante.
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  — Me ajuda guardando a compra? — pediu o bom, num tom mais brando e olhar sereno. — Assim o jantar fica pronto mais rápido.
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  O argumento era válido, então assentiu com a cabeça e se aproximou das sacolas, olhando superficialmente o conteúdo de dentro. Voltando os fones para os ouvidos, enquanto abria os armários para guardar a compra, manteve sua atenção na tarefa solicitada. Já o pai, com um sorriso escondido, pegou os ingredientes que se tornaram um espaguete à bolonhesa. 
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  Por mais que o silêncio fosse o morador mais evidente naquele pequeno espaço, assim que terminou de guardar as compras, o adolescente permaneceu na área da cozinha observando o pai. Sua mente não se conteve em recordar algumas memórias com a mãe, dos momentos felizes que tiveram e de como o sorriso dela transmitia tanta paz ao filho. Isso o fez refletir sobre quando as divergências de opiniões entre ele e o pai se iniciaram, trazendo as discussões constantes que tanto chatearam sua mãe. Talvez por não saberem lidar com a doença do pilar da família, que cada um tentou à sua maneira não dando conta do turbilhão de emoções, no fundo ferindo o outro e a si mesmos.
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  — Está gostoso pelo menos? — Gregori puxou assunto, vendo o olhar baixo do filho concentrado no prato de macarrão.
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  — Minha opinião importa agora? — Seu tom amargo soou com naturalidade.
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  — … — O pai respirou fundo, sabendo que o esforço maior certamente seria dele, que tanto o criticou com o passar dos meses. — Não preciso ser o seu melhor amigo, mas sou o seu pai e a única coisa que quero é que nossa convivência seja em paz e tranquila.
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  Gregori não queria dizer a palavra suportável. Mesmo não sendo do tipo carinhoso, ele amava seu filho, só não sabia demonstrar por diversos fatores. manteve sua cabeça baixa e a atenção na comida, refletindo em suas palavras por instantes.
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  — Não ficou salgada desta vez — comentou o filho, num tom engraçado.
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  Gregori ficou sem reação de imediato, então começou a rir com leveza.
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  — Sim, acho que desta vez eu acertei no sal — concordou ele, rindo um pouco mais.
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  — Deixa que eu cozinho aqui, já que estamos na casa nova. — se ofereceu, não percebendo o grau de importância que tinha para o pai.
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  — Com os estudos, acha que vai dar conta? — indagou Gregori, impressionado.
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  — Não vamos almoçar aqui, você vai passar a maior parte do tempo no batalhão, posso pelo menos fazer o jantar… — O rapaz recordou mais uma lembrança da mãe. — A mamãe iria querer isso, ela sabia que a cozinha não era o seu forte.
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  — Que bom que nasceu mais parecido com ela — comentou o homem, voltando a atenção para a comida. — Sua mãe tinha o dom para cozinhar, tudo o que fazia tinha um gosto especial.
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  — Sim. — concordou, sentindo uma ponta de tristeza, porém segurando suas emoções.
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  — Quer que eu te leve para a escola amanhã? — perguntou Gregori, parcialmente ansioso pelo dia seguinte. — Sua escola fica a três quadras do batalhão.
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  — Não precisa, posso ir de ônibus — recusou o menino.
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  — Tem certeza? — insistiu o pai. — Eu vou de carro.
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  — Tenho. — deu a última garfada e se levantou, indo para a pia.
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  — Ensino médio é complicado, é sempre bom causar uma boa impressão no primeiro dia de aula. — Gregori retirou as chaves do carro do bolso.
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  — Estou entrando na metade do ano letivo — argumentou ele, lavando o prato e colocando no escorredor. — Não preciso do carro emprestado.
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  — Mas eu insisto. — O pai colocou as chaves em cima da mesa, voltando a atenção para ele.
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   apenas permaneceu em silêncio e se retirou da cozinha voltando ao quarto. O pai passou a mão no rosto, pela ansiedade e em partes aliviado por tudo ter terminado bem no primeiro dia. Com vestígios de insônia à vista, não deixou para o amanhã as coisas que poderia arrumar hoje, então retirou das caixas todos os objetos que levaram para Chicago, e foi organizando uma por uma em seu novo lugar.
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  Mais cedo naquele dia, ao chegar na 21ª DP, procurou por seu pai. Devido à ausência do detetive, a atendente Lola a conduziu até o escritório dele, para que pudesse aguardá-lo em privacidade. Foram longas horas, até que finalmente a porta se abriu e o olhar preocupado de um pai foi reconhecido por ela.
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  — , o que faz aqui? — perguntou ele, vendo o olhar temeroso dela. — O que aconteceu?
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  — Eu não sei… — Ela tentou se manter calma, deixando sua mente racional para analisar o que lhe tinha acontecido. — Eu tive uma sensação estranha essa tarde, meu coração acelerou e senti medo de que algo ruim fosse acontecer.
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  Não que a jovem já estivesse acostumada com suas visões realistas enquanto dormia, contudo, durante estes quatro anos que se seguiram, ela já havia se conformado com sua condição. Para se sentir um pouco melhor e não perder as esperanças, a doutora Gilmour havia lhe aconselhado a compartilhar o máximo de detalhes com o pai, a fim de ajudar as vítimas e salvá-las de alguma forma. Seus sonhos, que sempre surgiam com um espaço considerável de tempo entre a primeira visão e a data final, se tornaram pistas preciosas de grande auxílio para o pai que, em meio aos diversos casos, conseguiu salvar algumas vidas.
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  — Calma, querida. — Ele se aproximou dela e a abraçou, fazendo-a se sentir mais segura. — Eu estou aqui, e se for mais uma visão a caminho vamos conseguir encontrar a pessoa.
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  — Pai… — Ela se impulsionou para contar o restante.
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  — Sim? — Ele a olhou com carinho e um sorriso singelo no canto do rosto.
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   retribuiu o sorriso. Seu pai já havia passado por tanta coisa com ela, e suas visões haviam causado tantas especulações de outros departamentos que, pensando melhor, não era uma boa ideia preocupá-lo ainda mais.
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  — Eu te amo — disse ela, voltando a abraçá-lo.
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  — Eu também te amo querida — disse ele, retribuindo o abraço com mais carinho ainda.
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   não iria contar sobre o gatilho que lhe despertou a sensação ruim. Porém, lá no fundo ela desconfiava que pudesse estar relacionado com o homem que cumprimentou no corredor, pois ocorreu no momento exato em que seus olhos cruzaram com os dele.
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  — Meu turno vai terminar em alguns minutos — anunciou John.
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  — Vamos para casa?! — perguntou ao assentir com a cabeça.
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  — Hum… — Ele pensou por um momento. — Não.
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  — Onde vamos então? — indagou a garota, curiosa.
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  — Uma surpresa. — Ele piscou de leve para a filha e seguiu em direção à sua mesa.
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  Não demorou minutos para que a porta se abrisse novamente e a policial Finn entrasse na sala com seu bom humor, em gargalhadas.
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  — Tia Margo — disse ao vê-la, dando um sorriso meigo.
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  — Olha só, nossa princesa aqui. — A policial se aproximou dela, lhe dando um abraço apertado. — O que faz aqui? Teve outro sonho?
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  Margareth havia sido a segunda pessoa a saber sobre o dom de . Sendo a melhor amiga e parceira de trabalho de John, ela precisou de uma semana e várias garrafas de cerveja para absorver a informação e lidar com a realidade. Ouvir a menina contando seus sonhos nos mínimos detalhes e depois visualizar a cena exatamente da mesma forma, lhe trouxeram muitos arrepios no corpo e também algumas noites sem dormir. Algo que também aconteceu com o casal Donson e a chefe da DP, capitã Lindsay Morattis.
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  — Não… — respondeu com certo cuidado para não a preocupar à toa. — Só acontece quando estou dormindo e já tem uma semana que não sonho com nada.
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  — Ah, que bom, é um alívio — disse a mulher, voltando à sua vibe animada. — Pois tenho novidades.
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  Seu olhar voltou para o amigo, deixando-o confuso.
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  — E que novidade seria? Suas férias? — perguntou ele, rindo baixo. — Já está com uma atrasada e já vai vencer a segunda.
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  — Não… Eu já fiz a requisição das minhas férias, não se preocupe, e a segunda vou vendê-las para conseguir pagar a hipoteca da casa. — A mulher fez uma careta de frustração. — Não imaginei que meu pai havia deixado tanta coisa sem pagar, suas dívidas estão me levando quase o salário todo.
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  — Eu lamento não poder ajudar. — John se sentiu impotente por não poder fazer muito pela amiga.
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  A situação financeira de Margareth conseguia ser bem pior que a dele, tendo que pagar as contas deixadas pelo pai que atualmente se encontrava internado em uma clínica de repouso, sofrendo da doença de Alzheimer. A hipoteca atrasada, as dívidas do pai com terceiros, gastos com remédios e a mensalidade da clínica, a deixava com o mínimo para sobreviver o mês e pagar a conta de luz. Suas refeições eram de graça, fornecidas pelo 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago, uma cortesia do chefe Brown para a filha do seu grande amigo.
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  — Por favor, não me olhe assim — pediu ela, com olhar chateado. — Eu sei dos seus gastos com as consultas ao psicólogo, a hipoteca do apartamento e agora as aulas de confeitaria da nossa princesinha.
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  — Obrigado — sussurrou ele, assentindo.
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  — E por falar em aulas… — Margo voltou o olhar para a jovem. — O que se fez do meu bolo de nozes que prometeu semana passada?
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  — Bem… Ele não ficou muito bom e tive que jogar fora — explicou , sentindo-se envergonhada pelo fracasso de sua receita.
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  — Que absurdo, jogar comida fora. — Margareth colocou a mão na cintura. — Da próxima vez, me deixe prová-lo antes de dizer que ficou ruim… Não me importo com a textura ou o sabor, é comida, eu como.
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  Ambos, pai e filha, riram da expressão da mulher.
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  — Você não disse a novidade — indagou John, ainda curioso.
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  — Ah, sim, verdade. — Lembrou ela, voltando à euforia. — Fomos convidados a um churrasco no 25º, neste sábado — anunciou ela, com sua forma abreviada, se referindo ao Batalhão do Corpo de Bombeiros, com o olhar de quem estaria em sua segunda casa.
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  — Você foi convidada? Ou toda a DP? — perguntou ele a procedência daquele convite.
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  O detetive Grimes sabia que sua capitã Morattis não se dava bem com o chefe Brown. Assuntos inacabados de relacionamentos passados, que ainda persistem em atrapalhar a boa convivência de ambas as equipes, deixando assim para Margareth a incumbência de fazer a ponte de ligação entre ambos.
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  — Todos os policiais envolvidos no resgate daquele acidente seguido de tiroteio no centro — explicou ela. — E como você foi o detetive responsável pelas investigações e eu a policial maravilha…
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  — Já entendi, Margo. — John soltou um suspiro fraco, voltando a olhar para filha. — Vamos, querida, ainda temos que passar em outro lugar antes de ir para casa.
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  — Verdade — concordou , ao abraçar a policial novamente para se despedir.
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  — É confidencial ou eu posso saber para onde vão? — indagou ela, abraçando a menina, porém com a atenção no amigo.
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  — Nem mesmo eu sei para onde vamos — afirmou , rindo de leve.
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  — É confidencial — informou ele para a amiga e segurando a mão da filha. — Vamos .
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  Margareth permaneceu em choque pelo ar de mistério deixado por ele, contudo, John a conhecia muito bem para saber que se contasse a localização, certamente não teria um minuto de paz o resto de sua vida.
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  Sem detalhes, seguiram para seu carro, ele conduziu a filha até a parte mais nobre e residencial da cidade, estacionando em frente a uma casa. se impressionou de imediato com o jardim frontal que poderia ser descrito como impecável por tamanha beleza e cuidado. A primavera contribuía com o perfume que os lírios exalavam nos canteiros, deixando a adolescente ainda mais encantada. Passando pela trilha de pedras brancas, chegaram finalmente à escadinha de acesso à varanda em estrutura de deck. O coração do pai acelerou um pouco, assim que tocou a campainha.
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  — Vocês vieram. — O sorriso espontâneo surgiu no rosto da doutora Grimes assim que ela abriu a porta e se deparou com suas visitas.
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  A surpresa era para a filha, pois John não havia tido tempo para informar a garota do convite para o jantar de sua médica. Algo que surpreendeu , que precisou se esforçar para não demonstrar sua falta de informação e agir com naturalidade.
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  — Boa noite — disse ele, ao esticar a sacola de papel em sua mão, contendo uma delicada caixa de bombons. — Eu não sabia o que trazer em agradecimento ao convite, então…
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  — Obrigada — disse Bridget, voltando o olhar para a garota. — Que bom que também veio, .
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  — Confesso que sempre quis conhecer a sua casa — disse a garota ao passar pela porta e tentando ser mais discreta em seus olhares.
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  — Bem, não é tão luxuosa quanto as outras casas da rua, mas é bem aconchegante como eu sempre quis — explicou a mulher, esperando que o pai terminasse de entrar para fechar a porta. — E confesso que a única parte que me incomoda são as cortinas da sala, ainda não consegui trocá-las.
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  — São de renda — comentou ao se aproximar da janela e tocar a cortina para sentir sua textura.
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  — Sim, e sujam só de olhar para elas — concordou a doutora, segurando o riso. — Bem, acho que chegaram um pouco adiantados.
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  — Nos desculpe, mas aconteceu alguma coisa? — indagou John.
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  — É que… Bem, eu tenho que confessar que encomendei nosso jantar por não ter aptidão para a cozinha, este dom eu não possuo, e infelizmente a entrega está atrasada — contou ela, com um olhar envergonhado. — Eu é que peço desculpas.
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  — Sua geladeira possui alguma coisa? — perguntou John, num tom suave.
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  — Acho que sim, minha faxineira fez o supermercado essa semana — respondeu Bridget, confusa pela pergunta.
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  — Então, não vamos morrer de fome — afirmou o pai, serenamente. — Poderia me levar até lá?
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  — Claro… — Com o rosto corado de vergonha, a doutora os guiou até a cozinha.
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  Inicialmente ela levou na brincadeira a oferta de John para cozinharem, eles mesmos, o jantar daquela noite. Porém, ao ver pai e filha cozinhando juntos, ela apenas se pegou admirando a cena, com brilho nos olhos, principalmente pela forma em que seus pensamentos e ações espontâneos se complementavam.
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  — Eu nem sei o que dizer… Estou tão envergonhada — disse ela, assim que terminaram de pôr a mesa e sentaram nas cadeiras. — Os convido para o jantar e são vocês que cozinham.
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   riu discretamente da situação. 
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  Após o pai fazer o agradecimento pelo alimente, a filha voltou a olhar para sua médica, que permanecia da mesma forma.
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  — Seu rosto está corado — comentou a garota, ao dar a primeira garfada no risoto de frango com cogumelos que o pai fez.
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  — É a vergonha — explicou Bridget.
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  — Não se sinta assim, para e eu, é um prazer cozinhar — disse John, tentando suavizar a situação. — E sua cozinha é de causar inveja pelo espaço que tem, foi divertido fazer isso. Não é, filha?
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  — Com certeza. — Assentiu a garota com um sorriso. — E até consegui fazer a sobremesa que aprendi recentemente.
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  — E como anda seu curso de confeitaria? — O olhar de Bridget ficou mais curioso, mesmo tendo indicado tal atividade, ela tinha certeza que daria certo.
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  — Divertido — contou , com os olhos brilhando. — Não é a mesma coisa que cozinhar com o papai, mas eu tenho aprendido tantas coisas novas e legais que nem sei por onde começar.
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  — Fico feliz por isso e peço que comece pelo início, pelo primeiro dia de aula, pois estou curiosa sobre suas aventuras na confeitaria — instigou Bridget ao perceber o discreto olhar de John para ela.
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  — Posso começar pela professora Florence — disse a garota se animando um pouco mais. — Ela é uma mâitre pâtissier especialista em confeitaria francesa, e eu sempre fico apreensiva nas aulas dela porque na França a confeitaria é mais voltada para preparações à base de leite, gemas e massas leves, utilizando de poucos ingredientes e bastante adição de frutas ou algum elemento para saborizar o preparo, como a baunilha. É muito detalhe técnico que, se eu não anoto, fico perdida no final.
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  — E qual é a sua favorita entre as sobremesas francesas? — indagou a doutora, ao saborear a comida em seu prato.
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  — Por mais que eu goste muito de fazer macarons com o papai, ainda prefiro o Crème Brulée — contou.
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  — E o seu? — perguntou John, entrando no assunto. — Você possui alguma sobremesa favorita, doutora Gilmour?
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  — Bem… Gosto de uma que pode-se achar que veio da França, mas foi uma invenção dos brasileiros que experimentei em um congresso que participei em São Paulo — contou ela, com a sensação do gosto da sobremesa em sua boca. — Petit Gateau, é uma junção do famoso Fondant au Chocolat acompanhado de sorvete de creme.
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  — Eu nunca ouvi falar, mas a combinação parece ser boa — comentou .
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  — Fica uma dica de receita para você experimentar. — Bridget piscou de leve para ela, em incentivo.
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  Como a cozinha havia se tornado a válvula de escape para , sua tendência para a confeitaria foi visível de imediato, fazendo com que John consentisse e concordasse com a sugestão da médica. E, como previsto, aquele era mais um dom revelado da garota, que se permitia encantar com o universo da culinária.
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  Enfim, a manhã de sábado. 
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  O céu curiosamente estava nublado, deixando os noticiários em alerta sobre uma possível tarde chuvosa, entretanto, nem mesmo o clima foi capaz de estragar os planos do 25º Batalhão do Corpo de Bombeiros, que preparava seu refeitório e espaço de convivência para a chegada de seus convidados do 21º DP. Enquanto Margareth acordou bem cedo para chegar ao Batalhão e ajudar no preparo do churrasco, seu parceiro John não se esforçou para levantar cedo, permitindo-se descansar um pouco mais.
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  Contudo, no quarto ao lado, sua filha havia despertado de um de seus sonhos reais às três em ponto. Para não atrapalhar o sono do pai, preferiu passar o restante da noite em claro, tentando reprisar seu sonho mentalmente para focar nos detalhes em questão. Então, assim que ouviu a movimentação na cozinha, se deu conta de que era de manhã e poderia sair do quarto. A cumplicidade dos dois havia se tornado tão profunda, que bastou John olhar para filha e já entender que mais um sonho tinha lhe aparecido à noite.
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  — Você quer falar sobre isso agora? — perguntou ele, no tom sereno de sempre, pronto para aceitar qualquer que fosse a resposta dela.
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  — Não, não quero atrapalhar nosso dia de folga. — manteve sua atenção na xícara de chocolate quente depositada na mesa por seu pai.
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  Ambos já conheciam o processo, então ela sabia que pelos próximos setes dias ela teria o mesmo sonho, e depois os intervalos de tempo iniciariam até a sua data final, como das outras vezes. Pai e filha concordaram em se desligar do assunto e aproveitar o dia, momentos de lazer e diversão como aqueles não eram rotineiros entre os departamentos. E assim que chegaram no Batalhão, Margareth de imediato já arrastou o amigo para a cozinha, lhe pedindo socorro com o tempero da salada mediterrânea que inventou fazer.
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  — Tem certeza que sabe mesmo cozinhar? — John fez uma careta ao olhar para a mistura dentro da tigela.
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  — Mas é claro que sei. — Ela cruzou os braços. — Só não tenho o talento que você tem, agora pode me dizer onde eu errei aí?
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  — Primeiro, eu queria entender o motivo de você querer fazer um prato árabe em um churrasco americano. — O detetive olhou a amiga confuso e intrigado.
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  — Olha, foi um pedido do chefe Brown, tá legal? — explicou ela, num tom de impaciência. — Ele me disse que a nossa chefe gosta de Tabule e pediu para preparar.
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  — Ele quer mesmo causar boa impressão hoje — comentou John, rindo baixo. — Tudo bem, pelo cheiro, acho que só se esqueceu do suco de limão.
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  — Ah… Sabia que estava faltando algo — disse ela, bufando de leve.
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  — Me dê três limões que eu resolvo isso aqui — pediu John, rindo da amiga. — E hortelã também.
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  — Eu não comprei isso não — alegou ela, coçando a cabeça.
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  — Então trate de comprar, porque é primordial para dar gosto ao trigo.
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  Ela bateu continência e saiu correndo, quase atropelando os outros que chegavam. Enquanto isso, se entreteve com o cachorro que o batalhão havia adotado como mascote, sentada no sofá brincando com o animal, sem se importar com os pelos em sua roupa de tons pastéis. Infelizmente, seu animal de estimação havia sido sacrificado após contrair uma doença rara, deixando-a triste e chateada com a situação.
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  — Gostaria de pedir um minuto da atenção de todos — disse o chefe Brown, assim que conferiu a chegada da capitã Morattis.
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  Os olhares se voltaram para o homem, que estava acompanhado de duas pessoas.
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  — Como sabem, este churrasco é uma forma de agradecimento aos policiais do 21º DP, que trabalharam bravamente para nos garantir segurança no resgate do tiroteio, e me sinto honrado pela presença da capitã Morattis — iniciou ele seu discurso. — Aproveitando o momento, queria apresentar a todos o tenente Watts que inicia hoje com a gente, no lugar do saudoso tenente Hilte, que acabou de se aposentar. Este jovem ao lado de Watts é seu filho .
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  Ao terminar das palavras do chefe Brown, o rosto de se ergueu e seus olhos focaram em ambos apresentados, entretanto, ao direcionar para sua atenção, seu corpo novamente congelou.
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  Ao sentir um arrepio na espinha, tudo ficou estático para ela, que automaticamente começou a ver seu sonho da madrugada como uma visão mesmo estando acordada, sendo tão real que poderia assegurar que havia sido transportada para outro lugar.
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Porque nós perdemos tudo
Nada dura para sempre
Sinto muito, eu não posso ser perfeito.
– Perfect / Simple Plan

4. Fogo

Seja como o fogo, 
saiba aquecer quem precisa 
e queimar quem merece.
[ Autor Desconhecido ]

  No início de tudo, o homem descobriu que do atrito de duas pedras que se chocam surgem as faíscas; das faíscas vem o fogo; e do fogo brota a luz. Depois notou que mantendo a chama acesa, o fogo se espalharia, trazendo duas vertentes ao seu usuário: aquecendo ou queimando.
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  Primavera de 2014

   nunca imaginou viver algo do tipo, ter seus sonhos reais acordada como uma visão que a deixou amedrontada e confusa. Ao seu redor não existia mais o Batalhão, apenas um lugar em chamas do qual conseguia sentir o calor de uma forma que se fosse mesmo real, certamente não estaria mais viva pela intensidade da temperatura. Queimar seria uma forma dolorosa de morrer e ela estava sentindo que fosse exatamente assim que aconteceria, ainda mais aterrorizante do que das outras vezes. Após permanecer instantes parada tentando processar internamente que tudo o que via não estava acontecendo de verdade, não naquele momento, finalmente tomou coragem para dar o primeiro passo e descobrir onde estava.
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  A jovem deu poucos passos pelo que parecia um escritório a estilo home office, sentindo o coração acelerado e um frio na espinha, precisou lutar contra suas emoções que já estavam afloradas, demonstrava angústia e ansiedade por não querer ver a quem se referia a visão, contudo, continuou observando até fixar seus olhos na janela e notar que a localização se tratava de um prédio, pois sua linha do horizonte lhe transmitia isso.
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  Mais um tempo e o barulho de algo caindo lhe chamou a atenção, saindo pela porta, se deparou com um longo corredor sendo atraída logo em seguida pelo vulto de alguém que passou por ela correndo em uma direção específica. Seguindo logo atrás, ao passar pelo corredor, percebeu alguns traços desenhados na parede, com o aspecto de brasa viva como se o fogo tivesse caminhado pelas linhas, deixando apenas seu rastro de cinzas. Chegando mais à frente, ela constatou que não se tratava de um local residencial, e sim de um prédio comercial que abriga uma livraria.
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  — O que… — Em sussurro ela se calou, enquanto olhava de forma estática a cena em sua frente.
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  Mesmo em meio ao calor, sentiu uma breve sensação gélida na espinha, o que apertou ainda mais seu coração, fazendo seus olhos lacrimejarem. Ao longe, o silêncio da visão foi sendo quebrado pelo som da voz de John a chamando ao longe, a fim de despertá-la daquele transe.
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  Na sala de convivência do Corpo de Bombeiros, estavam todos com olhares atentos e preocupados com a jovem garota desacordada, que havia passado alguns minutos em transe até que desmaiou nos braços do pai. Com o corpo sobre o sofá, Margareth auxiliava o amigo a reanimá-la.
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  — Papai — sussurrou , ao abrir os olhos com dificuldade por sentir sua vista dolorida.
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  — Minha querida. — John a abraçou apertado, se esforçando para conter sua aflição pela condição da filha. — Estou aqui… O que houve?
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  Assim que seu rosto encostou levemente no dela, John percebeu algo estranho, então afastando-se levou a mão direita na testa da filha, para aferir sua temperatura.
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  — Você está muito quente — disse ele, com o olhar confuso.
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  — Deixe-me ver. — A paramédica, Ginger, se aproximou com sua maleta de equipamentos que fora correndo na ambulância buscar. — Como está se sentindo?
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  — Bem, eu acho. — manteve sua voz baixa e não conseguiu conter seu olhar que direcionou para e seu pai.
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  — Vou medir sua temperatura primeiro, tudo bem? — perguntou Ginger, tendo seu consentimento.
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  Após todos os procedimentos, a paramédica orientou John a levar sua filha ao hospital para que fosse medicada corretamente, pois sua temperatura estava muito elevada e não havia explicação do motivo ou causa. Principalmente pelo fato de retomar sua consciência quando seu corpo demonstra uma instabilidade preocupante. Conforme direcionado, Margareth se ofereceu para acompanhá-los ao Charlotte University Hospital, que se localizava a três quadras do batalhão. Algumas horas se passaram, exames foram feitos e finalmente quando o diagnóstico foi liberado, somente uma pessoa seria capaz de ajudar a voltar ao seu equilíbrio.
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  — !? — A voz sua da doutora Bridget soou da porta, lhe chamando a atenção.
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  A jovem estava sentada na cama do hospital enquanto aguardava o pai retornar com a alta médica. Como John havia suspeitado desde o início, sua condição não era física e sim emocional, pois desta vez a visão da garota a havia afetado de uma forma nunca vista antes em sete anos de sonhos reais.
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  — Doutora Gilmour. — A jovem sorriu singela para ela, mantendo o olhar em suas mãos pousadas sobre as pernas.
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  — Tudo bem? — indagou a doutora, adentrando o quarto atenta à paciente, avaliando todas as suas expressões.
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  — Não entendo quando a senhora pergunta algo do qual já sabe a resposta. — A voz dela pareceu falha, porém era somente seu tom mais baixo que o costume.
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  — Porque quero que você admita para si mesma que não está bem, somente assim conseguirá resolver o problema — respondeu ela, se aproximando mais para sentar ao seu lado, mantendo o olhar sereno e compreensível para transmitir mais segurança à paciente. — Você vivenciou muitas coisas ruins nos últimos anos, compartilhou das dores e sofrimentos de outras pessoas e sentiu o que elas sentiram, quando passamos por tribulações como essas, é normal nossa mente querer nos enganar e dizer que está tudo bem.
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  As palavras da médica a fizeram refletir um pouco.
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  — Mas minha mente é a única que gera esses sonhos… — retrucou , sentindo seus olhos lacrimejarem mais uma vez. — E agora… Uma visão.
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  — O que aconteceu? — perguntou Bridget. Internamente, era a primeira vez que se sentia impotente sem saber como ajudar sua paciente especial.
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  — Eu não quero falar sobre isso. — se encolheu mais um pouco, abraçando suas pernas e mantendo o olhar fixo na porta.
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  Quanto mais ela se esforçava para não lembrar o que tinha visto, mais sua mente insistia em fixar na imagem final que a deixou abalada. Após voltar ao quarto, John guiou a filha até o carro e pediu à amiga para esperá-los, precisava ter uma conversa rápida com a psicóloga. Assim como a filha, aquele pai também tinha seus tormentos que o deixavam vulnerável emocionalmente.
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  — Ela lhe contou alguma coisa? — indagou ele, ao voltar seu olhar para a filha dentro do carro.
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  — Não, e receio que vá demorar a se sentir confortável para compartilhar o que viu, mas temo que seja algo bem mais grave ou de proporção maior do que das outras vezes — respondeu Bridget, avaliando a situação superficialmente. — Foi a primeira vez que ela vê algo estando acordada, o que indica que seu dom pode estar evoluindo.
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  — Ainda não vejo isso como um dom. — John segurou suas emoções de pai preocupado. — Isso é um fardo pesado demais para minha filha carregar e eu não consigo ajudá-la da forma que deveria…
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  — John — ela o interrompeu ao sentir traços de desespero na voz dele —, acredite, você está desempenhando o melhor papel possível, é o pai mais compreensivo, presente, atencioso e amoroso que conheço… E já lidei com vários pais solteiros desde que me formei nessa profissão, então, não aumente a cobrança em si mesmo, pois sua filha precisa dessa estabilidade que sempre passou para ela.
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  — Doutora Gilmour… — sussurrou ele, respirando fundo para voltar ao eixo.
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  — Quando se sentir preparada, ela dirá. — Seu tom de conselho estava presente. — Enquanto isso, continue sendo o pai que tem sido para ela.
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  John deu um sorriso fechado e assentiu. Agradecendo a médica, se afastou seguindo ao carro para regressarem. Chegando em casa, John se despediu da amiga e ajudou a filha a chegar no quarto, ainda pensativo nas palavras de Bridget.
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  — Aqui — disse ele, ao afofar as almofadas atrás dela.
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  — Obrigada, papai. — deu um suspiro cansado. — Me desculpe.
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  — Pelo que? — indagou o homem, não entendendo.
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  — Por te deixar preocupado. — Um tom baixo e triste.
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  — Não diga isso. — John sentou de frente para a filha e a abraçou novamente, apertado e reconfortante. — Não deve se desculpar, pais sempre se preocupam com os filhos, independentemente da situação ou da idade deles.
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   sorriu de leve para o pai ao ver seu olhar sereno e tranquilo.
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  — O que importa é que está bem, sua febre baixou e estamos em casa — afirmou ele, com segurança. — Quando quiser conversar, estarei aqui.
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  — Podemos cozinhar? — pediu ela, com os olhos quase marejados.
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  — Agora? — Ele ficou surpreso.
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  — Sim, não almoçamos e sinto que estou com fome — explicou ela, em argumento.
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  — Se sente bem para isso? — O homem fingiu um olhar desconfiado.
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  — Sempre me sinto bem para cozinhar — afirmou ela, deixando escapar outro sorriso.
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  John assentiu com a cabeça e, se levantando, esticou a mão direita para ela que segurou de imediato. Juntos, pai e filha seguiram para a cozinha já em planejamentos divertidos pelo caminho sobre o cardápio de execução. Após um tempo de escolhas de receitas entre os canais do youtube que seguiam, conseguiram finalmente escolher três pratos que lhes renderia muito tempo no preparo e a oportunidade de descarregar a parte negativa de sua realidade.
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  — Tem certeza que quer fazer isso? — perguntou o pai, assim que leu o modo de preparo da receita árabe que a garota escolheu.
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  — Kafta é muito fácil e rápido de fazer, aprendi com a senhora Poppy — explicou a filha, não vendo nada de errado em sua escolha. — Temos carne na geladeira, hortelã na horta da cozinha e é muito gostoso, já que não comemos o Tabule da tia Margo.
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  — Tudo bem, mas a senhorita vai se responsabilizar por isso. — Assentiu ele, segurando o riso da careta que ela fez.
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  Era um fato que a especialidade de havia se tornado a confeitaria, seus pratos de sobremesa que lhe encantavam os olhos quando preparava. Contudo, seu gosto por comida mediterrânea havia sido uma surpresa para o pai, influência essa causada por suas tardes com a senhora Poppy, que descendia de uma família de imigrantes do Líbano.
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  — E o que o senhor vai fazer? — indagou ela ao colocar a mão na cintura, indignada.
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  — Minha salada de grão-de-bico com batata-doce e o suflê de cenoura com gorgonzola que tem me pedido há dias — respondeu o homem, voltando o olhar para a filha. — Ainda estou saindo no prejuízo, com um prato a mais.
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  — Fala como se eu não fosse fazer a sobremesa — retrucou ela, rindo do pai.
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  — Empatamos então. — John piscou de leve, arrancando mais risos da filha e caminhou até a geladeira com um brilho nos olhos.
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  Quem os visse assim, tão animados e empolgados com o preparo de um simples jantar, jamais imaginaria que há poucas horas estivessem em um momento de aflição.
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  No apartamento ao lado, o fim de noite seguiria com sozinho devido ao plantão do pai no batalhão. Os pensamentos do rapaz curiosamente haviam permanecido na estranha garota que desmaiou ao olhar fixamente para ele. Não que quisesse pensar desta forma, mas antes de serem apresentados a todos, o jovem permanecera observando enquanto brincava com o mascote do batalhão, a forma singela que a garota sorria para o animal o acariciando. Suas bochechas estavam coradas demais, demonstrando estar saudável, para alguém que em seguida desmaiasse daquela forma.
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  — Grimes — sussurrou ele, ao mencionar o nome dela, enquanto mantinha seu olhar na janela do quarto, direcionado ao céu.
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  A única vez que havia visto alguém tão aflito e desesperado como John ficou, foi quando sua mãe faleceu e presenciou, por um breve e doloroso momento, o mundo de seu pai desmoronar junto. Pensar sobre isso o deixava inquieto, com um mau pressentimento, assim como quando souberam sobre o câncer de Olivia.
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  — Por que estou preocupado com você? Nem a conheço… — Continuou ele, ao desviar o olhar para seu celular na mesa de cabeceira.
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  O aparelho estava com o visor ligado, indicando mensagens recebidas. Uma era de seu pai, perguntando se havia chegado em segurança em casa e se estava tudo bem; a outra era de sua namorada de Seattle.
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  — Baby, sinto sua falta — sussurrou ele, ao ler o que dizia.
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   abriu a imagem enviada pela garota, uma foto sua em pose sensual com lingerie, em provocação ao seu silêncio nos últimos dias. O rapaz suspirou um pouco ao se lembrar da última noite de aventura com Clair e de como ela se fez manhosa ao lhe propor que ficasse com ela em Seattle morando no porão da casa dos tios. Foi uma oferta tentadora que quase chegou a considerar, com seus 16 anos completos, sair de casa era uma forma eficaz de contrariar ainda mais as ordens do pai, entretanto, havia uma promessa feita e honraria as últimas palavras ditas à mãe.
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  — Sabe mesmo me provocar… — Ele riu baixo, ao começar a digitar a resposta.
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  Já tinha planejado em sua mente sua visita à cidade chuvosa em breve, inicialmente seria uma surpresa à garota e aos amigos.
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  minhas férias de verão
  talvez me verá

 

Ele enviou e logo viu que ela digitava algo em resposta.

  talvez?
  já te mandei as provas
  estou com saudades
  você nem me ligou essa semana

 
 

  estou me adaptando
  e sentir saudade é bom
  assim quando me ver
  não a deixarei dormir

  mal posso esperar

 

   , desligou a tela do aparelho e o jogou ao lado. Em alguns momentos, o rapaz achava seu namoro com Clair vago demais, um tanto superficial e se tornou apenas voltado à atração física pela falta de profundidade. O que de fato não deixava de ser a realidade, já que apenas se envolveu com ela por ser uma das mais populares da sua antiga escola e o pai não aprová-la. Ele continuou jogado em sua cama, apenas deslizou o corpo sobre a colcha para se deitar e, fechando os olhos, abafou a claridade com o braço direito sobre o rosto.
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  Após horas de sono profundo, despertou no meio da madrugada e, voltando a atenção para a janela, notou uma claridade incomum do lado de fora, que o fez se levantar e conferir o que seria. A janela de seu quarto dava acesso à escada de incêndio na lateral do prédio, algo que o permitia ter a liberdade de tomar ar fresco no meio da noite, sem que o pai soubesse. Ao se apoiar no peitoril e inclinar a cabeça para fora, seu olhar reconheceu uma presença inesperada, o olhar de sua vizinha estava tão concentrado nas estrelas que o fez manter o silêncio ao sentar no peitoril e observá-la por um tempo.
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  — O que fazer para nunca mais dormir? — sussurrou ela para si, receosa do que poderia sonhar naquela noite.
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  — Desconfio que nem mesmo a NASA tenha essa resposta — disse ele num tom baixo, porém o suficiente para despertá-la de seu devaneio.
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  — Hum?! — olhou para trás e ficou ligeiramente estática ao vê-lo.
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  Não esperava que estivesse acompanhada, menos ainda pela pessoa que, em partes, era a causa de sua insônia. manteve seu olhar curioso e observador na garota, sem saber que, internamente, a menina se forçava a reagir ao momento e destravar seu corpo congelado pela sensação sombria que tanto a transtornava.
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  — Eu sou real, não um fantasma. — Continuou ele, instigando um assunto, num tom de brincadeira.
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  — Eu não disse que era. — forçou sua voz a sair, sentindo o coração acelerado, respirou fundo discretamente.
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  — Mas me olha como se eu fosse — retrucou , fixando ainda mais seu olhar, o que a fez engolir seco.
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  — Me desculpe. — desviou seu olhar para o chão.
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  Em sua mente ela concordava com a colocação dele, envergonhada por tal situação. não queria se passar como a garota estranha que mora ao lado, mas após anos tentando se mostrar alguém normal para as pessoas à sua volta, curiosamente ela não sentia a necessidade de se esforçar tanto perto dele, apenas queria ser o mais natural possível, mesmo que este natural fosse assustador.
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  — Não precisa pedir desculpas — continuou ele, rindo baixo —, mas em troca, poderia me dizer a causa do seu desmaio.
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  — Me desculpe — repetiu, como uma negativa às palavras dele.
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  — Entendi. — Seu riso foi rápido e fechado. — Significa que não quer falar.
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  — Não posso — corrigiu ela, voltando o olhar para ele. — Acredite, me acharia ainda mais estranha do que pareço.
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  — Por que eu te acharia estranha? — indagou , percorrendo seu olhar por todo o corpo da garota.
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   já não era mais uma criança para o mundo, porém, aos olhos dos garotos, seus 14 anos ainda a agraciou com um sorriso meigo e o olhar ingênuo de sempre. Ao contrário das líderes de torcida populares do ensino médio, a jovem nunca havia atraído atenção para si, apesar de conquistar a simpatia e companhia de poucos colegas de classe e até integrar o seleto clube de leitura formado pelo charmoso professor Han.
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  — Talvez por estar aqui fora a esta hora, no meio da madrugada. — Completou ele, para suavizar suas palavras.
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  — Talvez. — Concordou ela, sentindo um pouco de conforto pelo ponderar de suas palavras.
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  — Hm. — Ele se remexeu no parapeito, para encaixar as costas de forma que não o machucasse, mantendo o olhar fixo nela, fazendo-a ficar constrangida.
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  Porém, não se conteve em não retribuir, e permaneceu o encarando por alguns minutos até que novamente entrou em transe, com sua mente sendo mais uma vez transportada para a visão do prédio em chamas. logo notou que havia algo errado com a garota e, se lembrando do ocorrido na manhã anterior, se levantou da janela rapidamente para se aproximar dela, foi em questão de segundos que o corpo de desfaleceu, caindo ao chão sendo, por sorte, amparado por ele a tempo.
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  — … — sussurrou ele, chamando-a pelo nome que sua mente tanto reproduziu ao longo do dia. — , acorde.
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  Assim como anteriormente, a temperatura do corpo da garota se elevou, deixando o rapaz ainda mais preocupado e desnorteado. Pegando-a no colo, olhou para ambas as janelas dos quartos sem saber para onde iria, o seu ou o dela. Uma dúvida que resolveu não levar adiante, quando seguiu para sua janela e com cuidado passou por ela, seguindo para colocá-la em sua cama. não sabia o que fazer, mas estava certo que poderia causar sérios problemas para ela se o policial John o encontrasse saindo do quarto da filha. O rapaz não se importava consigo mesmo, contudo, não queria arrumar confusão para a garota.
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  — — chamou novamente, ao encostar a mão direita na testa da garota, sentindo-a quente além do normal.
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  Voltando o olhar para a porta, tentou pensar em algo, quando se lembrou de alguns treinamentos de primeiros socorros que teve por causa de sua mãe. Correndo até o banheiro, pegou uma toalha e a umedeceu com água fria para ajudar, retornando ao quarto, colocou na testa de , com a intenção de baixar sua febre.
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  — Hum… — As pálpebras da garota se mexeram, então seus olhos se abriram suavemente.
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  Com a vista embaçada inicialmente, ela sentiu a cabeça turva e pesada, até que foi voltando ao eixo. Seus olhos se arregalaram quando finalmente se deparou no quarto de , que a observava num misto de alívio e choque.
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  — O que estou fazendo aqui? — perguntou ela ao erguer o corpo no susto, se encolhendo com vergonha. — O que aconteceu?
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  — Você entrou em transe, como aconteceu ontem no batalhão e… — Ele não tinha palavras mais suaves para se expressar. — Seu corpo desabou, ficando inconsciente.
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   respirou fundo, não querendo admitir que ele pudesse ter sido o gatilho para o retorno da visão, o que jogou por terra seu receio de dormir, aumentando ainda mais sua angústia em pensar que visões assim poderiam se tornar recorrentes como os sonhos reais e acontecer a qualquer hora do dia em qualquer lugar.
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  — Eu preciso voltar pra casa — disse ela. Ao se levantar bruscamente e sentir tontura com o rompante: — Ai.
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  — Ei, vai devagar — aconselhou ele ao apoiá-la colocando sua mão esquerda no centro das costas dela, enquanto a direita segurava em seu braço. — Você acabou de ter outro desmaio e seu corpo está muito quente.
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   , que fechou os olhos para se recompor, assim que os abriu, percebeu o quão próximos ambos estavam. O suficiente para fazer seu coração acelerar, causando uma sensação de ansiedade nunca sentida por ela, não mediante a um ocorrido como aquele. Estar tão perto de um garoto, mais velho que ela e intrigante como ele. E sim, aquela estava sendo a primeira vez que a singela Grimes se via tão próxima de um menino, afinal, seu dom sempre a mantinha parcialmente afastada das pessoas, não se deixando ter amizades mais profundas ou algo do tipo.
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  — Obrigada — sussurrou ela ao se afastar, sentindo suas bochechas corarem de vergonha.
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  — Tem certeza que está bem para voltar? — indagou ele, preocupado.
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  — Sim, eu vou ficar bem… — manteve o olhar confiante, forçando um sorriso singelo. — É apenas emocional, já vai passar.
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  — Hum… Espere um minuto — pediu , se afastando e seguindo até o guarda-roupa.
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   manteve o olhar curioso, tentando entender o que ele tanto procurava, enquanto o rapaz pegou uma blusa de moletom e esticou para ela.
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  — Veste isso, está frio lá fora — disse ele, esperando a reação dela.
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  — Não precisa. — tentou recusar. — Eu moro aqui do lado.
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  — Eu insisto. — manteve o olhar sério e fixo nela.
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  Assim, assentiu pegando a blusa e a vestiu de imediato. Então pôde finalmente retornar para seu quarto na janela ao lado.
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  Se ela contasse ao pai a loucura que havia vivido naquela madrugada…
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  Os dias foram passando, com se esforçando para suportar os sonhos enquanto dormia, e agora as visões estando acordada. Para a garota que sempre sentia seu físico cansado devido ao cansaço mental, todos os dias ela acordava se sentindo como se passasse a noite em um campo de batalha lutando em meio à guerra. E para alguém que desejava pelo menos manter as aparências de uma vida normal, seu rendimento na escola era uma preocupação que não podia deixar para depois.
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  — Tia Margo? Por que está me ligando? — perguntou a garota, assim que entrou em casa, atendendo o celular.
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  — Boa tarde, minha confeiteira favorita. — A voz animada da policial, deixou-a intrigada.
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  — Tia Margo? — insistiu , esperando pelo pedido de algum favor.
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  — Por favor, não me veja como uma tia mercenária que só liga para pedir favores — reclamou ela, do outro lado da linha.
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  — Eu não disse nada. — A garota segurou o riso, mas sabia mesmo o motivo da ligação.
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  — Mas sim, desta vez é para pedir um favor — contou a policial, dando um risada boba.
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  — O que a senhora deseja? — indagou , curiosa pelo pedido da vez.
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  — Digamos que eu tenha prometido algo ao chefe Brown e não tenha habilidade suficiente para cumprir — explicou Margareth, de forma enigmática.
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  — Quer que eu faça algo no batalhão? — perguntou a menina.
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  — Não precisa ser lá, mas eu prometi uma torta de maçã para o café da tarde dos rapazes hoje, mas não queria comprar em nenhum lugar, e como minha afilhada é a melhor no que faz… — Seu tom de bajulação fez a garota segurar o riso.
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  — Tudo bem, tia Margo, eu faço a torta — assentiu , o óbvio.
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  Encerrando a ligação, a garota se dirigiu para a cozinha e pegou alguns ingredientes, puxando em sua memória a receita infalível que tinha aperfeiçoado do pai. Para ajudar nas despesas com seu tratamento, o curso de confeitaria, assim como as muitas compras no supermercado para seus testes culinários e os momentos pai e filha na cozinha, havia pensado em fazer algumas tortas por encomenda e vendê-las para o senhor Voith, dono da cafeteria próxima a sua casa. Uma sugestão, que mais parecia indicação, da senhora Poppy.
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  — Hum… Vamos começar pelos ingredientes da massa — disse ela, indo lavar suas mãos.
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  Quando o assunto era cozinhar, até mesmo se esquecia de seus problemas e das visões perturbadoras, era somente ela e o universo que tanto a deixava fascinada.
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  Assim que chegou no batalhão, ela cumprimentou a equipe de paramédicos que estava no horário de descanso, informando que havia levado a melhor torta de maçã que eles comeriam na vida. Não demorou muito até que o caminhão pipa e o carro de resgate chegassem, fazendo a equipe do café aumentar.
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  — Bem que eu senti um cheiro diferente quando chegamos — comentou Bob, assim que entrou e viu a garota. — Não me diga que a Margo te ligou de novo.
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  — Sim. — riu ao se lembrar que não era a primeira vez dela ali, levando comida aos bombeiros.
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  — Ela sempre faz isso — afirmou o capitão Casey, ao se sentar no sofá. — Ela sempre nos promete comida e, no final, é você e o detetive John que nos alimentam.
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  — Bem, ela nos ajuda com a compra dos ingredientes às vezes, então já é um começo, não acha? — A garota tentou defender a tia sem muito sucesso, rindo de leve.
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  Por um curto espaço de tempo, tudo parecia tranquilo para ela, até que o capitão Watts chegou acompanhado do filho, deixando-a surpresa. O olhar discreto de permaneceu nela todo o tempo em que todos degustavam as duas formas de torta que ela levou, até que mais um chamado soou, fazendo todos largarem seus talheres e correr aos carros. Já somava três semanas que incêndios criminosos estavam ocorrendo em prédios comerciais na região leste do centro, e os comentários de John para a filha sobre o ocorrido, a deixavam mais apreensiva em saber que o pai havia sido designado para investigar o caso.
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  Com todos fora e o lugar vazio, os únicos presentes eram ambos os jovens que, em silêncio, foram recolhendo os pratos sujos e guardando as sobras na geladeira. evitou olhá-lo para que não houvesse nenhum gatilho que lhe causasse o transe novamente, pois agora com suas visões, o padrão dos sonhos reais tinha mudado, não tendo mais uma contagem pré-definida de dias entre os ocorridos.
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  — Se precisa me dizer algo, apenas diga… — disse ao perceber seu esforço em não o olhar.
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  — Hum? — se assustou com a ação dele, interrompendo o silêncio, então parou o que fazia e o olhou com surpresa. — Falou comigo?
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  — Que eu saiba… — Ele olhou em sua volta, mostrando com gestos que estavam sozinhos. — É a única pessoa aqui comigo.
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  — Por que acha que preciso te dizer alguma coisa? — indagou ela.
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  — Porque desde o dia em que nos conhecemos seus olhos sempre estão em minha direção. — Sua afirmação fez o corpo de estremecer, pelo fato de ser tão real. — E agora está se esforçando para não me olhar, e confesso que me sinto curioso pelo motivo.
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  — Não há um motivo — disse ela, ao abrir a geladeira e guardar a garrafa de suco, fechando em seguida. — E não é por sua causa que tenho aquelas crises.
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  — Não foi isso que eu disse. — Ele encostou na parede e cruzou os braços mantendo o olhar fixo nela. — Mas é por minha causa, não é?
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  — Por que seria? — retrucou mantendo o olhar nele também.
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  — Eu ouvi seu pai falando ao telefone, sobre você — contou ele, num tom tranquilo e espontâneo. — Mencionou algo que ocorreu no dia em que eu e meu pai nos mudamos para cá.
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  — Você ouve a conversa dos outros? — Ela tentou se fazer de indignada.
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  — A porta estava entreaberta, não foi culpa minha — ele se defendeu. — Mas ouvi quando ele disse que alguma coisa ou alguém estava sendo o gatilho para suas… Qual foi a palavra mesmo? Visões.
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  — Isso não é da sua conta. — se virou e seguiu para sentar no sofá, ficando ao lado do cachorro que dormia despreocupadamente.
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  — Se for algo relacionado a mim, acho que é sim — insistiu ele, permanecendo onde estava. — E algo me diz que sim, está no seu olhar e na forma com que reage perto de mim.
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  De frente para ela, seu rosto manteve a seriedade, porém permanecendo suave.
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  — Se eu te dissesse, não acreditaria — retrucou ela.
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  — Experimente dizer — instigou ele, intrigado com o que poderia ser. — Talvez eu acredite.
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Na escuridão, eu fecho as portas 
e em silêncio sinto-me impotente.
– Promise / EXO

5. Chamas

As estrelas que brilham mais forte, 
são as que queimam mais rápido.
[ Gossip Girl ]

  Enquanto há vida, há também esperança; e segundo alguns, a esperança é como uma chama acesa que ilumina uma noite chuvosa, afastando os pesadelos e atraindo bons sonhos. Entretanto, nem sempre uma vela acesa pode ser algo positivo, não quando o fogo é nosso inimigo.
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  Verão de 2014

  As férias de verão sempre significaram o fechamento de um ciclo na vida de um estudante, seja no fundamental, ensino médio ou universitário. Não há nada melhor que o final de um ano letivo e o início de vários planos para três meses de sol e descanso. Porém, nem todos sentiam a mesma sensação de encerramento e novos começos, para a conversa inesperada com pela madrugada o havia deixado ainda mais intrigado, pois a menina o havia respondido com uma pergunta, deixando-o sem reação.
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  O que você faria se pudesse ver a morte de uma pessoa, antes mesmo de acontecer?
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  Sempre que ele pensava nessa pergunta, era como se a ouvisse com a voz da vizinha em sua mente. Deitado em sua cama, manteve o olhar para a janela, apenas esperando por um mínimo som vindo do outro lado da parede. Por ser dois anos mais velho, ambos os adolescentes não frequentavam a mesma escola, o que explicava seus encontros na escadaria lateral apenas no turno da noite. Um ponto negativo para a menina, que se sentia ainda mais curiosa sobre os moradores do apartamento ao lado, que lhe despertou o lado mais intenso e doloroso de seu dom.
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  — O que ela quis dizer com aquela pergunta? — sussurrou , ao erguer seu corpo no impulso do seu questionamento. — Que garota estranha, por que está monopolizando meus pensamentos? Nem é tão atraente assim.
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  Ele bufou um pouco e se levantou da cama. Caminhando até o guarda-roupa, retirou uma blusa de moletom preta e vestiu, pegando as chaves e jogando no bolso, saiu pela janela, fechando-a por fora e trancando com cadeado. Nem havia terminado a primeira semana de férias, já estava se sentindo entediado e por não ter dinheiro suficiente, resolveu aceitar o trabalho de meio período como serviços gerais no Batalhão de Corpo de Bombeiros. Uma oferta irrecusável do capitão, após um pedido silencioso do pai.
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  As coisas não haviam melhorado entre ele e o pai, pelo contrário, bastava uma palavra dita errada que as discussões se iniciavam, dificultando ainda mais o diálogo de ambos. A esperança depositada em um novo começo em Chicago, perdia forças dia após dia, alimentando ainda mais o desejo de de voltar para a cidade na qual se sentia em casa.
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  — Olha só nosso aprendiz — brincou Muse, um dos bombeiros, ao vê-lo entrando no refeitório pela passagem dos funcionários da limpeza. — Chegou cedo hoje.
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  O rapaz permaneceu em silêncio, seguindo para a área da cozinha onde retirou o avental da primeira gaveta do armário da pia e vestiu rapidamente. Seu trabalho, apesar de bem remunerado, era simples, apenas garantir que o Batalhão tivesse sua geladeira abastecida, ou seja, cozinhar para eles.
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  — Será que está de mau humor? — indagou Barnet, num tom baixo, ao afagar o cachorro.
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  — Espero que não passe para a comida — reclamou Muse, cruzando os braços, enquanto se inclinava mais no sofá. — Soube que as pessoas conseguem passar o que sentem para a comida quando cozinham.
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  — Deixe-o em paz. — Hill, outra bombeira, o repreendeu rindo e se aproximou da bancada de refeições que separava a cozinha da área de descanso.
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  O jovem continuou com sua atenção voltada para os ingredientes que tinha na geladeira e nos armários, com os fones no ouvido não se importando com os comentários alheios. Minutos de concentração, até que notou-se incomodado pelo olhar fixo de Hill para ele.
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  — Deseja alguma coisa? — perguntou ao retirar os fones do ouvido, voltando a atenção para ela.
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  — Não, só estou te observando — disse ela, abertamente suas intenções. — Que seu pai não me ouça, mas eu acho sexy homens cozinhando, não consigo me controlar.
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  Ela soltou uma gargalhada maliciosa, ao se lembrar de algumas de suas aventuras em dias de folga.
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  — Pare de dizer essas coisas — Louise, a paramédica, a repreendeu segurando o riso — ou os dois ali vão te denunciar para o conselho tutelar.
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  — Credo… Não fale como se eu fosse uma papa anjo. — Hill se fez de ofendida, e riu mais um pouco. — Apenas disse que admiro homens de cozinham.
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  — Então é por isso que você não quer sair comigo? — indagou Muse, ao espichar o pescoço para ouvir a conversa delas.
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  — Eu não saio com você porque é um babaca, o fato de não cozinhar é um mero detalhe — confessou Hill, sem se importar com os sentimentos dele.
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  Algumas risadas soaram pelo ambiente com uma careta que surgiu no rosto de Muse, até que perceberam a presença do chefe Brown, do capitão Watts e do tenente responsável pela equipe do caminhão 51, Jorge Mills. Logo todos ajustaram suas posturas, deixando expressões mais sérias no rosto, enquanto colocou seus fones no ouvido novamente, demonstrando não se importar com a presença do pai. Ele sabia que trabalhar mesmo que meio período no Batalhão, era uma forma de seu pai o controlar e vigiar. Algo que o deixava ainda mais irritado internamente.
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  — Bem, como eu dizia… — disse Hill, ao se virar novamente para o jovem para observá-lo.
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Atenção, caminhão 51, esquadrão de resgate 3, ambulância 61
chamada de incêndio na região do Bright Park, 
uma loja de penhores…

  Assim que ouviram o chamado, todos os bombeiros correram para os carros seguindo em direção à localização especificada pelo rádio. , aproveitando o momento de silêncio, continuou sua tarefa sendo o mais rápido e caprichoso possível para terminar antes da volta das equipes. Por algum tempo, esteve apenas na companhia do cão apelidado Mascote, até que notou a presença de alguém se aproximando.
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  — ?! — disse ao se virar, deparando-se com ela.
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  — Oi… — Ela se encolheu um pouco, também surpresa por vê-lo ali. 
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  — O que faz aqui? — indagou ele, movendo o olhar para a travessa de vidro em sua mão.
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  Visivelmente o conteúdo dentro era uma sobremesa, preparada pela menina.
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  — Bem… Prometi ao chefe Brown que faria essa sobremesa para o pessoal — explicou ela, meio sem graça pelo encontro.
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  Após a conversa da madrugada, somente havia visto o rapaz de longe e pelos corredores do prédio onde moravam. Talvez por evitá-lo, pois quanto mais perto ela chegava, mais ela pensava em sua primeira visão e de como se sentia envergonhada pelas madrugadas que acordava aos gritos, com a certeza que ele ouvia do outro lado da parede. Afinal, seus sonhos eram ainda mais intensos e cruéis.
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  — Está tudo bem? — indagou , se afastando da bancada e se aproximando mais dela, seu olhar ficou inexpressivo. — Há dias não a vejo, mas consigo ouvi-la do meu quarto de madrugada.
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  — Me desculpe — disse ela, quase sussurrando ao desviar seu olhar para o chão.
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  — Preferia que dissesse ao invés de se desculpar — retrucou o rapaz, com frustração pela forma enigmática que a garota agia.
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  — Eu preciso ir. — Ela colocou a travessa em cima da mesa de centro em frente aos sofás. — Vou deixar isso aqui, pode colocar na geladeira se quiser.
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  — Espere. — Ele tomou impulso e a segurou pela mão, fazendo-a se voltar para ele. — Você não está bem, é visível.
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   respirou fundo tentando se conter internamente, porém, assim que seu olhar encontrou o dele, instantaneamente a garota ficou estática, sendo transportada para mais uma visão.
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  Novamente no prédio comercial em chamas, estava no mesmo escritório que da primeira vez, entretanto, havia algo de diferente naquele lugar, ou consigo mesma, ela conseguia sentir o calor do fogo, que refletia em seu corpo elevando sua temperatura, porém, a mão que havia segurado, permanecera fria. Erguendo a mão, colocou-a na altura do coração o sentindo acelerado, respirando fundo, deu o primeiro passo para se retirar daquele cômodo. Ao sair pela porta, não caminhou para a mesma direção de antes, ela sabia muito bem o que possivelmente poderia ver naquela parte do prédio pelos sonhos que teve ao longo dos dias, então, se desviando para as escadas, desceu até o andar térreo onde era a livraria.
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  — Força, , você precisa entender esta visão — sussurrou para si mesma, ao fechar os olhos por uns instantes e reunir forças.
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  Ao abri-los novamente, ela notou que entre as chamas começaram a flutuar ciscos de cinzas, misturados a pequenos pedaços de papéis dos livros com as bordas queimadas. Esticando as mãos para pegar um, deixou que o minúsculo pedaço pousasse em sua mão, e então olhou o que tinha escrito.
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  — Um, zero, dois, zero, um, quatro… — sussurrou ela, lendo os números descritos em forma de data — Dez, outubro… Este ano…
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  De repente, começou a sentir falta de ar, talvez por seu coração começar a se angustiar com a nova informação, combinada com a cena dos demais sonhos que a deixou desesperada.
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  — ! — A voz de despertou-a do transe.
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  Recobrando a consciência, a garota logo percebeu estar sendo amparada pelo rapaz, que novamente demonstrou preocupação no olhar. A guiando até o sofá, a ajudou a se sentar e correu até a cozinha para pegar um copo com água.
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  — Aqui, beba — disse ele, lhe dando o copo.
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  — Obrigada. — Num tom baixo, ela forçou um sorriso e deu o primeiro gole.
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  — Você está quente — disse , assim que colocou a mão direita na sua testa.
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  — Não estou. — o tocou com sua mão direita para argumentar, a mesma que ele havia segurado. — Está tudo bem.
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  — Não é o que o restante do seu corpo diz — retrucou o garoto, encostando de leve com as costas de sua mão no pescoço dela.
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  — Mas estou. — Ela terminou de beber a água e se levantou no rompante, sentindo uma leve tontura em seguida.
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  — Viu. — Ele a amparou, de imediato. — Eu disse que não está bem.
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   respirou fundo, contra fatos não havia argumentos, mas como já estava acostumada com sua condição, não queria preocupá-lo.
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  — Poderia, por favor, fingir que estou? — pediu ela, com o olhar quase marejado.
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  — Se me der a sua palavra que vai me contar o porquê.
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  — O porquê? — indagou ela, confusa.
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  — Por que me fez aquela pergunta? — explicou ele.
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  Ela assentiu com a cabeça, então se afastou um pouco.
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  — Eu tenho que ir — anunciou, ajeitando a bolsa no ombro.
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  — Vou com você. — se ofereceu de imediato, não queria deixá-la sozinha pelas ruas.
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  — Não estou indo para casa — explicou , em tom de recusa.
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  — E vai para onde? — perguntou o rapaz, curioso. — Para a DP do seu pai?
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  — Não, estou indo para meu curso — explicou, rindo baixo. — Confeiteiros não tiram férias.
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   sabia que fisicamente não estava mesmo bem, porém, ela precisava de algo para extravasar sua mente e não ficar remoendo sua visão o restante do dia. E somente a cozinha a ajudaria com isso. Com as férias, seu tempo livre da escola havia sido preenchido por aulas extras do curso de confeitaria, um curso de desenho intensivo de verão e as constantes visitas à Dra. Gilmour, gastos a mais no orçamento familiar, que a deixava ainda mais preocupada com o pai.
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  — Hum… — Ele se viu um pouco mais confuso, porém manteve sua decisão. — Vou com você.
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  — Você quer ir comigo? — não entendia o motivo do rapaz querer se aproximar a cada momento que ela tentava se afastar.
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  — Por que está surpresa? — indagou, suavizando mais o olhar.
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  — É que… Eu sou tão estranha às vezes, não se importa com isso? — questionou , impressionada.
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  — Ninguém é perfeito. — Ele sorriu de canto, discretamente. — Vamos? Estou de carro.
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  Ela assentiu com a cabeça e o seguiu.
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  — Mas… O que estava fazendo na cozinha? — perguntou ela, no caminho.
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  — O jantar do Batalhão — respondeu o garoto. — Eu cozinho e o chefe Brown me paga.
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  — Hum…
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   também não entendia o motivo de ter se aproximado tão rapidamente de , afinal, ela era o contrário de tudo que o atraía em uma garota. Sua ousadia estava apenas nas palavras e argumentos, e talvez fosse isso que chamava a sua atenção. Fazendo um comparativo com sua namorada, Clair era popular, tinha um lado rebelde que o atraía, além das belas curvas que faziam a adolescente se mostrar ainda mais sensual para ele.
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  Contudo, naquela tarde, o jovem, sem perceber, se viu inteiramente encantado por , ao observá-la concentrada em sua aula de confeitaria brasileira. O brilho nos olhos dela o fazia lembrar sua mãe e dos raros momentos divertidos que tinham em família; dos biscoitos com chocolate quente no inverno e do sorvete caseiro no verão. Sentimentos bons, gerados por um simples sorriso de uma garota que ele nem conhecia direito, mas que lhe transmitia paz e esperança.
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  — Estou impressionado — comentou ele, atento aos movimentos da garota na bancada de trabalho, enquanto a mesma enrolava o brigadeiro em suas mãos, transformando a massa em uma bolinha.
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  — Com o fato de terem te deixado entrar na cozinha? — indagou , concentrada no que fazia.
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  — Com o seu amor pelo que aprende aqui — explicou o rapaz.
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  Ela parou e o olhou.
  — Experimenta — disse ao aproximar a bolinha perto da boca dele.
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  No susto, apenas abriu a boca e a deixou colocar dentro. A sensação de déjà-vu o preencheu, lembrando de uma cena parecida com sua mãe.
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  — Tudo bem? — perguntou , percebendo a mudança em seu olhar.
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  — Sim. — olhou para ela e forçou um sorriso. — Estou bem, e essa coisa de chocolate, como chama mesmo?
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  — Brigadeiro — respondeu a garota, fingindo acreditar nele. — É uma sobremesa do Brasil.
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  — É boa, você gosta de chocolate?
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  — Sim, e você? — respondeu ela.
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  — Também. — Ele riu baixo e brincou com uma frase de efeito de sua mãe. — Nunca confie em alguém que não gosta de chocolate.
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  Ela riu junto.
  Mesmo preocupada com suas visões, se deixou aproveitar aquela tarde na companhia mais inesperada que poderia ter. Um sutil momento de descontração e diversão, que os fez perder a noção de tempo e espaço, fazendo desejar que aquele dia não terminasse.
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  — Você quer tentar?! — perguntou , ao separar os ingredientes da terceira receita que testaria.
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  — Você não deveria ter algum professor te orientando? — indagou , mais uma vez achando estranho estarem sozinhos naquela enorme cozinha.
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  — Confeiteiros não tiram férias, mas meus professores ganharam duas semanas de folga, nós alunos podemos utilizar a cozinha no recesso para treinar as receitas que aprendemos — explicou a garota, ao passar o olho em seu caderno de anotações, conferindo se pegou os ingredientes corretos. — E sempre tem os monitores por perto, em caso de emergências.
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  — Emergência, tipo, você colocar fogo na cozinha? — brincou ele, rindo baixo.
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  — Não diga isso. — Ela o repreendeu de imediato, num tom temeroso e sério, seu olhar demonstrou medo.
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  — Me desculpe… — disse , mantendo seu olhar na garota, vendo a preocupação em seu rosto. — Eu não deveria brincar com algo sério. — Confessou.
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  — É que… — respirou fundo.
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  Aquela era sua zona de conforto, o lugar seguro para onde fugia quando não queria enfrentar seus sonhos reais e os medos causados por seu dom. não queria imaginar que seu universo da cozinha poderia ser um lugar de risco que a faria associar a visão que tanto queria esquecer.
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  — Que?! — insistiu , atento.
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  — Nada. — Ela desconversou e logo mudou de assunto. — Você quer ou não tentar?
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  — Não sei se levo jeito com doces — confessou o rapaz, meio tímido.
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  — Ouvi do seu pai que sua comida é muito boa e você está cozinhando para o chefe Brown, tenho certeza que vai se sair bem com as sobremesas também — disse a garota com o olhar animado.
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   assentiu e se mostrou atento às explicações da moça, principalmente da forma em que contava a história do doce.
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  — Tem certeza que pelo nome, é mesmo brasileira? — indagou ele, fazendo uma careta engraçada.
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  — Sim. — Ela riu. — Palha Italiana é mesmo curiosa pelo nome, mas é uma sobremesa cem por cento brasileira.
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  — Italiana — disse num tom baixo. — Só por isso já nos deixa achar que é da Itália.
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  — Dizem que brasileiros adoram pregar peças — contou ela, rindo também. — Eu comecei a me interessar pelas sobremesas brasileiras quando comi uma na casa da minha…
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  Ela se limitou a dizer sobre a doutora Gilmour.
  — Bem, eu comi uma sobremesa chamada Petit Gateau — continuou , voltando a se empolgar — e acredite, mesmo tendo o nome francês, é uma sobremesa brasileira.
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  — Isso me choca — comentou o rapaz.
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  — A mim, também.
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  Eles riram juntos. Então começaram o preparo da receita. Em um dado momento, notou a seriedade e concentração de , o deixando impressionado novamente. Em uma ação espontânea, ele pegou um punhado de cacau em pó e jogou na garota, fazendo-a desconcentrar.
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  — Ahh… — Ela ficou alguns segundos sem reação, até que pegou um punhado também e jogou nele, descontando.
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  Assim iniciou a pequena guerra de cacau em pó na cozinha, fazendo um correr atrás do outro, em risos e gargalhadas com olhares vingativos. Em um dado momento, esbarrou na caixa de leite que havia esquecido de guardar, a derrubando no chão. A garota, ao tentar limpar, se desequilibrou quase caindo ao chão, por sorte, , que estava próximo, a amparou ao sustentar seu corpo segurando-a com a mão direita ao tocar em suas costas.
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  Mais uma vez se viu em extrema proximidade do rapaz, causando o acelerar de seu coração, sendo acompanhado por suas pernas trêmulas. Os olhares encontrados, como uma cena de dorama, em que até mesmo a respiração do casal segue sincronizada. Para a garota, em sua condição mental e psicológica, ela jamais poderia pensar ou desejar viver um romance juvenil. Mas então, o que estava acontecendo com ela naquele momento?
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   era seu vizinho, o gatilho que afetava seu dom, fazendo-a ter visões acordada. Teoricamente, um perigo para sua saúde mental, não somente por este motivo, como também por ser bonito, charmoso, misterioso e ter uma namorada. Mas um sentimento novo estava surgindo, talvez de ambos os lados, algo que poderia fornecer o refrigério que tanto precisavam ou machucá-los ainda mais.
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  — Obrigada — sussurrou ela, tentando controlar os batimentos, percebendo a sutil aproximação dele a ponto de sentir sua respiração.
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  Era sua segunda vez tão próxima de um garoto e, curiosamente, com o mesmo garoto. Não sabia se estava preparada para vivenciar esta parte de uma vida normal.
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  — Me permite testar uma coisa? — pediu em sussurro, deixando seu rosto ainda mais próximo do dela a ponto de seus lábios estarem a centímetros de distância.
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  — O que seria? — indagou ela, num misto de medo e curiosidade que deixava seu coração desnorteado, sem saber se acelerava mais ou parava de vez.
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  — Isso…
  Ele iniciou o beijo de forma suave e doce, percebendo de imediato que aquele era o primeiro na vida de . De maneira respeitosa, manteve sua mão nas costas dela, trazendo seu corpo para mais perto, enquanto sua outra mão se ergueu para acariciar a face da garota. Internamente, se encontrava em um misto de emoções e pensamentos, não a deixando raciocinar direito, porém, fazendo-a sentir cada pequeno detalhe do momento que vivia.
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  — Eu… — sussurrou ela ao respirar fundo, após ele se afastar.
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   manteve seu rosto colado ao dela por alguns segundos. O jovem estava tentando absorver o impacto de sua ação involuntária, pois não conseguia entender o motivo que o levou a tomar tal atitude. Beijar não estava em seus planos, e o que mais o assustava, era seu desejo de fazê-lo novamente, mesmo sabendo que havia agido de forma errada e provavelmente leviana.
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  — Me desculpe — disse o rapaz, ao finalmente voltar a si e se afastar dela.
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  — Precisamos limpar essa bagunça… — A garota respirou fundo novamente, tentando normalizar a situação e suavizar o clima de constrangimento formado entre eles.
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  — Sim… — Assentiu ele, se afastando um pouco mais.
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  Após limparem tudo, decidiu que era hora de voltarem para casa. A palha italiana teria que esperar por uma próxima oportunidade para ser testada pela jovem. Assim que chegaram, a garota seguiu pela entrada principal, enquanto se direcionou para as escadas na lateral do prédio. John disfarçou seu olhar para o relógio no pulso com o abrir da porta e não querendo sufocar a filha de perguntas, apenas a convidou para prepararem o jantar juntos.
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  As semanas se passaram… 

  Mesmo com momentos de silêncio de ocultando o que estava de errado com suas visões e sonhos reais, pai e filha nunca foram tão unidos e cúmplices como agora, algo que não acontecia no apartamento ao lado, em que as cobranças de Gregori sobre o filho ter mais responsabilidade com seu emprego arranjado no Batalhão, e exigências de explicações sobre suas escapadas à tarde, os faziam discutir com frequência.
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  De um lado, o capitão Watts tinha medo do filho fazer amizades ruins na nova cidade e sabendo que as gangues de Chicago eram ainda mais perigosas, o preocupava ainda mais. Do outro lado, já se sentia cheio das ordens e questionamentos do pai e de sua falta de confiança. O jovem não queria contar sobre sua proximidade com , pois tinha medo do pai estragar tudo, contando para o pai da garota. Seus antecedentes não eram bons e infelizmente não tinha o troféu de filho do ano para apresentar.
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  — Abaixa o tom para falar comigo, rapaz. — Gregori elevou mais sua voz, com o tom de repreensão. — Você me deve respeito enquanto morar debaixo do meu teto.
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  — Não seja por isso. — saiu no rompante da sala e se trancou no quarto.
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  — , aonde pensa que está indo, eu ainda não terminei! — gritou Gregori, seguindo atrás do filho e batendo na porta bruscamente. — ! , abra essa porta! .
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  Do lado de dentro, o filho, revoltado com a situação, apenas pegou sua mochila e jogou algumas roupas dentro. Sua determinação em sair de casa não o deixou lembrar da promessa para mãe e, ao checar no aplicativo do banco o valor que tinha na conta, guardou o celular no bolso, pegou a carteira e saiu pela janela. Nas escadas, deu de cara com , que disfarçou seu olhar de preocupação.
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  Ambos, ainda constrangidos, evitavam mencionar sobre o beijo sempre que se viam. E agora, para ela, havia uma sensação ruim em seu coração, trazendo a certeza da partida do rapaz antes mesmo das palavras confirmarem.
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  — Não deveria ir assim — disse ela, no impulso da coragem. — O seu pai só está preocupado com você…
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  — Falou a garota esquisita. — O garoto bufou, seu lado racional não pensando direto, nem mesmo notou a forma como a tratou. — Você não entende sobre isso.
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  Antes que ela pudesse argumentar, desceu as escadas correndo e seguiu pela rua em direção à estação. Era oficial, o jovem estava mesmo deixando o que restou de sua família para trás a fim de retornar para o lugar que achava lhe fazer bem. Para , de alguma forma, sua partida poderia ser o gatilho para a consumação de sua visão.
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  Motivo esse que fez as lágrimas escorrerem por seu rosto.
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Eu quero respirar, eu odeio essa noite
Eu quero acordar, eu odeio esse sonho
Eu estou preso dentro de mim e estou morto
Não quero ficar só.
– Save Me / BTS

6. Esperança

E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; 
sabendo que a tribulação produz a paciência,
E a paciência a experiência, 
e a experiência a esperança.
[ Romanos 5:3-4 ]

  Dizem que a esperança é a última que morre, contudo, a sobrevivência de alguém vai além de um pouco de sorte, e talvez esteja mais ligada à imprudência do que à sabedoria. O quão prudente uma pessoa consegue ser em momentos de tensão que lhe exigem escolher entre salvar a sua vida ou a de outro inocente?
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  Verão de 2014

  — ! ! — A voz de seu pai soou ao longe e foi este som que a guiou até que finalmente conseguiu despertar.
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  — Papai! — exclamou a garota ao abrir os olhos e o ver ao seu lado com sua expressão séria de preocupação.
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  — , eu sei que você precisa de espaço e se sentir bem para se abrir, mas a cada dia seus sonhos estão ficando piores. — Estando sentado na cama da menina, seu olhar permaneceu sereno, mas no fundo era visível perceber uma ponta de angústia. — Por favor, se não for para mim, conte pelo menos para a doutora Gilmour, não precisa carregar este fardo sozinha.
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  Ele estava certo, pois a cada noite os gritos de agonia vindos do quarto de se tornavam mais altos e assustadores, isso aumentava o medo que a garota tinha de se tornar real, e o silencioso desespero do pai por não conseguir ajudá-la como gostaria. Por mais que a menina não quisesse preocupá-lo, não tinha controle sobre isso, piorando ainda mais sua sanidade mental após constatar a relação dos sonhos com pessoas próximas. O que se confirmou com a partida de , sendo mais um gatilho para toda essa turbulência.
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  — Eu sei… — Assentiu ela com a cabeça, mantendo o olhar abaixado, controlando os pensamentos que a oprimiam. — Por mais que eu não queira, sei que está preocupado comigo…
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  Olhos de lacrimejaram, fazendo-a sentir um aperto no coração.
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  — Eu queria te contar, mas tenho medo que fazendo isso as coisas possam ficar piores. — Sua voz continuou baixa, equivalente a um sussurro.
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  — Está com medo que seus sonhos fiquem piores? — indagou o pai tentando entender as entrelinhas.
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  — Sim. — Assentiu ela.
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  — — ele se remexeu ficando de frente para ela —, me responda…
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  — Hm. — A garota o olhou, receosa pela pergunta.
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  — Para estar tão assustada assim… — John também não queria continuar suas suposições, porém, seus pensamentos o consumiam internamente. — Há alguma possibilidade, dos seus sonhos… Estarem relacionados a mim?
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   abaixou seu olhar e permaneceu em silêncio, em instantes as lágrimas começaram a rolar por seu corpo, dando a John a resposta que ele não desejava ter. Logo o pai abraçou-a com carinho e aconchego, transmitindo seu amor, para que ela se sentisse segura junto a ele. Mais lágrimas rolaram pelo rosto da adolescente, com o policial segurando suas emoções tentando ser forte, pois precisava continuar sendo o ponto de apoio da filha.
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  — Eu te amo, filha, e daria a minha vida por você. — As palavras dele foram significativas para ela, o que doía ainda mais.
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  Tanto positivo quanto negativo, sabia a profundidade das palavras do pai, e não queria imaginá-lo dando sua vida por ela, menos ainda alguém perdendo sua vida para salvar a dele. O momento de aconchego nos braços do pai era o que ela realmente precisava para se sentir forte e confiante que, de alguma forma, poderia salvá-lo.
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  — Minha querida… — sussurrou John, agora entendendo bem que a garota certamente passava por um turbilhão de emoções.
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  — Papai, eu não quero que você morra — sussurrou ela, como um pedido.
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  — Eu não vou, pandinha — assegurou ele, num tom suave.
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  — Promete? — sussurrou a garota, fungando o nariz.
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  — Prometo. — Ele se afastou de leve com um sorriso no rosto. — Agora me dê um sorriso e não chore mais. — Pediu com o olhar sereno, ao receber um sorriso vindo dela, que limpava as lágrimas do rosto.
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  — Papai, podemos cozinhar? — A garota voltou seu olhar ainda marejado para ele, sabendo que apenas a cozinha lhe trazia a paz e calmaria que internamente precisava.
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  — O que você quer cozinhar? — indagou o homem, dando um sorriso singelo com o olhar compreensivo.
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  — Torta de maçã? — sugeriu a menina, num tom baixo.
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  Com um olhar suave e um sorriso positivo, John se levantou da cama e estendeu a mão para ela, que segurou com firmeza deixando transparecer um leve brilho nos olhos. Seguindo para a cozinha, sugeriu que colocassem uma trilha sonora desta vez e, a passos curtos com o celular na mão, foi montando a playlist do momento.
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  — Mexa com cuidado — aconselhou John, ao observar sua filha com carinho.
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  Ainda que o dom de trouxesse tristeza e angústia para a família, ele se sentia grato pela filha que possuía e orgulhoso pela força que ela demonstrava.
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  — Desta forma? — indagou , mantendo a leveza em sua mão.
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  — Sim, o segredo para um recheio com a textura harmônica dos ingredientes está no modo de misturá-los na panela, com o fogo baixo e muita paciência — continuou ele, dando um sorriso no final.
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  — Sei que não ficará tão boa quanto a sua, mas tenho certeza que ficará muito saborosa — confessou a garota, com humildade em seu grau de aprendiz.
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  — Você está se tornando uma especialista em doces — elogiou ele ao pegar uma colher para experimentar o teor de açúcar do recheio. — Vejo que suas tardes de monitoria no curso estão sendo produtivas.
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  — Sim, tem sido meu refúgio nessas férias — contou a menina num tom nostálgico por se lembrar que seus dias longe da escola estavam terminando. — E tenho testado receitas novas.
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  — Você realmente tem o dom para sobremesas — comentou o pai, puxando a banqueta para se sentar. — Acho que não será um problema se você aceitar o emprego de meio período no próximo ano letivo.
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  — Eu vou mesmo poder trabalhar? — desligou a trempe do fogão e o olhou esperançosa.
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  — Meio período. — Frisou o pai, ainda relutante internamente ao pedido da filha. — E somente se não prejudicar seus estudos.
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  — Se os meus sonhos não prejudicaram até hoje, não será um emprego de meio período. — tentou fazer soar de forma descontraída, porém, sem sucesso pela seriedade do assunto.
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  — … — disse num tom suave, seguido de um olhar de repreensão.
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  — Desculpa. — Ela se encolheu um pouco, meio sem graça pelo comentário. — Mas… Obrigada por me deixar fazer isso.
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  Ela manteve o olhar agradecido ao pai.
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  — Sei que nossa situação financeira não é das melhores e parte disso é por minha causa… — iniciou ela, seu momento reflexivo de agradecimento. — Minhas consultas, meu curso de confeitaria, as aulas de desenho… Eu não quero que minha condição continue sendo um fardo para o senhor…
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  — — ele segurou em sua mão, com o olhar singelo de pai coruja —, jamais pense isso de si mesma ou do seu dom.
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  John puxou-a para mais perto e lhe deu um abraço apertado, acariciando os cabelos da filha com carinho. Ela sorriu de leve, então se afastou e voltou a atenção para os ingredientes da massa. As horas foram passando e após retirarem a torta do forno, John colocou a travessa de vidro na mesa, enquanto separou os copos e pratos. Ao sentarem à mesa, agradeceram pela refeição e começaram a degustar os pequenos pedaços de torta.
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  — Ficou gostoso — elogiou John, piscando de leve para a filha.
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  — Sim, gostei da textura. — Assentiu , dando mais uma garfada. — A massa ficou crocante como eu gosto e o recheio molhadinho e doce.
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  John assentiu com um balançar da cabeça.
  — Eu soube que o filho do capitão Watts saiu de casa — comentou o pai, o assunto, de forma aleatória.
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  — Tia Margareth te contou? — indagou a garota curiosa pela fonte da informação.
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  — Sim, e me parece que o humor e o psicológico do bombeiro não têm estado tão bem assim — continuou ele, analisando as reações da filha —, a preocupação de um pai é algo que não se pode controlar.
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  — Eu espero que possa voltar para casa — comentou , esperançosa.
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  No fundo, a garota desejava encontrar uma forma de encontrá-lo e contar a ele sobre seus sonhos, pois se havia uma pessoa para quem precisava compartilhar a profundidade dos seus tormentos, este alguém era ele.
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  — É suposição minha ou vocês ficaram um pouco próximos? — indagou John, mantendo sua atenção na filha.
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   se encolheu com timidez, pois novamente a teoria de seu pai estava correta.
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  — Nós… Trocamos algumas palavras — confessou ela, com um sorriso bobo no rosto.
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  — Somente algumas palavras? — Ele riu baixo, tentando disfarçar para não a constranger. — Margo me disse que viu ambos conversando várias vezes e ela enfatizou bem ter visto alguns sorrisos em seu rosto.
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  — Ela ficou nos espionando? — o olhou surpresa, tentando mudar o foco do assunto.
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  — Não, claro que não. — O homem riu mais abertamente. — Fico feliz que esteja se aproximando de pessoas da sua idade, você nunca me conta dos seus amigos de escola, nunca foi à uma festa do pijama…
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  — Eu em uma festa do pijama — se limitava a imaginar tal cena — com meus sonhos…
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  — Não pense assim, querida, qualquer pessoa que se deixar ser seu amigo será uma pessoa de sorte — argumentou John com firmeza nas palavras. — E sinto que aquele rapaz percebeu isso.
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  — Espero que ele possa se arrepender e voltar… — sussurrou ela, voltando o olhar para a última fatia de torta.
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  Para , estava bem clara a ligação de seus sonhos com a família Watts, e a inesperada partida de havia contribuído para o surgimento de novos sonhos com cenas alternativas, porém com o mesmo desfecho cruel.
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  Bem distante dali próximo ao pôr-do-sol, chegando na rodoviária de Seattle, estava . O rapaz havia viajado de ônibus e durante todo o trajeto seus pensamentos conflitantes sempre o direcionavam a uma só pessoa: Grimes. Internamente ele estava zangado com seu pai por todas as brigas, frustrado pela perda da mãe de forma precoce e confuso por querer tanto estar perto de uma garota tão estranha e diferente.
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  — Meu jovem?! — chamou o motorista, ao perceber que ele não havia descido. — Já chegamos.
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  — Ah… Obrigado — disse , ao se levantar e ajeitar a mochila no ombro.
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  Para a surpresa do rapaz, estar de volta àquela cidade não estava sendo exatamente como imaginava, não pelo menos internamente. Nem mesmo uma única sensação boa de felicidade ou liberdade, afinal, seus pensamentos estavam presos em Chicago. Um passo para fora do ônibus e pegou o celular do bolso, havia inúmeras mensagens de seu pai, que seguia ignorando, então focou sua atenção na mensagem de Clair com o endereço de um primo que o abrigaria.
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  — ! — A voz de Clair soou no meio da rua, assim que o avistou.
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  O rapaz apenas deu um sorriso de canto, enquanto continuava a se aproximar dela, a garota por sua vez correu ao seu encontro e se jogou em cima dele, em um abraço surpresa.
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  — Valeu por conseguir um lugar pra eu ficar — disse ele, retribuindo o abraço com certa frieza.
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  — O que foi? — perguntou ela ao perceber seu distanciamento.
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  — Nada, por quê? — indagou ele, não entendendo-a.
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  — Você parece diferente — resmungou a garota, fazendo bico.
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  — Faz um tempo que não nos vemos, é isso — explicou o rapaz, sorrindo de canto. — Podemos entrar? Foi uma longa viagem.
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  — Claro, e eu posso aproveitar para te fazer uma massagem. — Ela o olhou com um sorriso malicioso.
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  — Interessante. 
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  Clair o conduziu até o loft, como seu primo trabalhava viajando, o lugar sempre ficava vazio e de tempos em tempos era utilizado para fazer festas clandestinas entre os jovens. Mesmo sendo pequeno, era bem organizado e confortável. Quando entrou, se aproximou da janela da sala, se deixando perder em seus pensamentos por um momento, ao contemplar a vista.
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  — No que está pensando? — indagou Clair ao abraçá-lo por trás e beijar seu pescoço.
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  — Apenas em como é bom estar de volta. — Ele manteve o tom baixo ao se virar para ela.
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  — Que tal uma pequena comemoração de boas-vindas? — sugeriu ela ao iniciar o beijo com algumas carícias provocativas.
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  Foram longas horas na companhia intensa de Clair, até que a garota adormeceu no sofá-cama. aproveitou o silêncio instaurado no loft para novamente voltar aos seus pensamentos conflitantes, enquanto se mantinha sentado no beiral da janela. Era notório para si mesmo o esforço que fazia para não direcionar as imagens de sua mente a , pois seu coração curiosamente sempre pulsava mais forte.
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  — Preciso parar de pensar em você — sussurrou ele ao voltar seu olhar para Clair, que se remexia no sofá. — Garota dos sonhos.
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  Não era apenas que buscava respostas nesta inesperada ligação entre as duas famílias, afinal, também tinha seus segredos. O jovem havia sonhado com a doce Grimes duas semanas antes de trombar com a garota no corredor do prédio quando chegou em Chicago. Inicialmente não queria admitir para si mesmo o sonho, não queria se sentir insano por conhecer alguém que nunca havia visto, mas que estava em seus sonhos.
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  Dois dias se passaram e no loft algumas visitas frequentes foram surgindo para , de seus velhos amigos Mark, London e Will, com demonstrações de euforia por seu retorno.
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  — Eu sabia que Chicago não iria te prender por muito tempo — brincou London ao se esparramar no sofá levando a garrafa de cerveja à boca.
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  — Lá é bem diferente daqui, eu confesso — comentou , rindo baixo. — E você? O que fizeram por aqui enquanto eu estava fora?
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  — London foi acorrentado por uma nerd das aulas de química — comentou Will, rindo da careta do amigo que se concentrava no celular em sua mão. — Agora ele tem até toque de recolher.
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  — É difícil se apaixonar, não é? — brincou , sabendo o fundo de verdade em suas palavras.
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  — E por falar em se apaixonar… — Will o olhou curioso. — Como foi ficar longe da garota intensa?
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   soltou um suspiro, deixando transparecer um discreto sorriso no canto do rosto ao refletir sobre a pergunta dele. Não precisava de muito para admitir para si mesmo que não era apaixonado por Clair.
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  — Foi estranho — respondeu em poucas palavras ao se levantar da cadeira, se espreguiçando. — Vou ver se Clair já voltou com as cervejas, vocês estão entornando tudo aqui.
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  — E você viu o Mark? — indagou London mantendo o olhar na tela do seu celular.
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  — Ele disse que viria mais tarde — respondeu Will, pegando outra garrafa e abrindo. — Este é outro que está de segredinhos.
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  — Por quê? — perguntou London, curioso ao desviar o olhar para o amigo.
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  — Peguei ele falando ao celular com uma garota, marcando um encontro — contou Will.
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  — Mark sempre foi discreto em suas aventuras — comentou ao se aproximar da porta. — Não quebrem este lugar, o loft não é meu — brincou o rapaz antes de sair.
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  Com o elevador estragado, desceu pelas escadas tranquilamente, entretanto, o silêncio que abrigava o espaço foi sendo quebrados por algumas vozes levemente alteradas. Vozes estas que ele conseguiu identificar.
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  — Me diz então. Até quando vai continuar essa encenação com ele? Ein? — A voz amargurada de Mark soou, enquanto manteve seu corpo pressionando o da garota na parede.
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  — Não deveríamos estar aqui e você deveria esquecer o que aconteceu — disse Clair em resposta o olhando seriamente — voltou, as coisas vão voltar ao normal agora.
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  — Enquanto estava sozinha minha companhia era necessária, então… — Constatou o jovem, se sentindo enganado pela garota, ao apertar sua cintura com a mão direita e beijar seu pescoço. — Vai me dizer que ele te dá mais prazer que eu?
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  — Mark, por favor — pediu ela, em sussurro, tentando resistir às investidas dele. — O que aconteceu não vai se repetir, já disse.
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  — Não é o que o seu corpo está dizendo. — As palavras de Mark lhe deram o impulso para beijá-la com ousadia e intensidade, fazendo a garota se render facilmente a ele.
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   não esboçou nenhuma reação ao ver aquela cena, sua ainda namorada gemendo nos braços de outro. Curiosamente, por dentro, ele se sentia aliviado por não ter que continuar aquele relacionamento, talvez lá no fundo, estivesse buscando algum motivo para deixar Seattle e voltar para Chicago.
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  — — sussurrou Clair, no susto, ao abrir os olhos e vê-lo no patamar superior das escadas.
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  Logo Mark se afastou dela e olhou para trás, sentindo seu corpo gelar ao ver o “amigo” atrás deles. Sereno e tranquilo, o jovem Watts terminou de descer as escadas, finalmente sentindo a liberdade que havia ido buscar naquela cidade.
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  — Podem continuar o que estavam fazendo — disse alto e claro com sua voz grossa e firme.
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  — , eu… — Clair tentou pronunciar as palavras, se sentindo constrangida pela cena que ele presenciara e por suas roupas semiabertas.
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  — Já disse, podem continuar. — Ele sorriu de canto ao ver a expressão confusa no rosto do amigo, que se mantinha estático diante da reação pacífica dele. — Só não esqueçam da camisinha, não vão querer uma gravidez indesejada.
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  O jovem Watts passou por eles e se dirigiu para o próxima lance de escadas.
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  — Ah — olhou para trás e fixou em Clair —, agradeço por me abrir os olhos.
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  O rapaz continuou descendo as escadas até chegar na rua. Mesmo com a sensação de liberdade e alívio, ainda se sentia sem direção certa, ou melhor, não queria admitir a direção certa. Após uma caminhada por ruas aleatórias, ele retirou seu celular do bolso e ficou encarando a tela por alguns instantes, até que a desbloqueou e fez a ligação que seu coração estava ansiando há dias.
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  — ! — A voz de surgiu do outro lado da linha, como se soubesse quem era a pessoa que ligava para ela.
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  — Como sabia que era eu? — perguntou ele, sentindo um sorriso surgir em seu rosto.
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  — Porque eu sonhei com você — afirmou ela num tom esperançoso e feliz.
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Não há nenhum pensamento complicado, 
mas eu quero dizer
A reposta é você
Minha resposta é você.
– My Answer / EXO

7. Vision

“The best vision is insight.”
“A melhor visão é a intuição.”
[ Thomas Edison ]
  
  
  
  Outono de 2014

  Nunca o coração de sentiu tanta aflição com os passar dos dias, principalmente pela estação em questão. Ela havia feito um acordo com o jovem Watts, que lhe contaria toda a sua história com todos os detalhes possíveis, em troca, ele retornaria para Chicago.
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  Em menos de dois dias após a ligação, estava mais uma vez longe de sua antiga casa, e este retorno certamente aconteceria mais cedo ou mais tarde, sem a necessidade de uma barganha. Fato é que a delicada Grimes estava disposta a salvar todas as pessoas de sua visão, mesmo que no final tenha que sacrificar a si mesma para isso.
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  Inicialmente, diante de toda a história, demonstrou-se cético ao dom de sua nova amiga, porém, assim que a menina relatou em detalhe uma visão aleatória que teve da morte da mãe dele, não havia mais espaços para questionamentos. Principalmente por ele também ter tido diversos sonhos com , antes de conhecê-la, sendo relatados também a ela.
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  — Você pode me contar, só mais uma vez, a visão da livraria — pediu o rapaz, deixando seu olhar reflexivo no horizonte enquanto permanecia com as mãos apoiadas no peitoril da janela.
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  — Já te contei tudo em detalhes umas doze vezes — respondeu , permanecendo sentada na banqueta o olhando atentamente.
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   , mesmo retornando para Chicago, ainda não havia se resolvido com o pai, mesmo o amando e temendo os relatos da garota, ele ainda sentia uma raiva inexplicável. Então, sob a interferência do chefe Brown e um pedido silencioso e desesperado de Gregori, o rapaz havia sido acolhido pelo tenente Mills, se abrigando em um minúsculo quarto nos fundos da garagem de sua casa. Era visível para Amélia que o orgulho dos homens da família Watts seria seu maior desafio para vencer suas visões.
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  — Você realmente está contando? — Ele riu baixo, soltando um suspiro depois. Mesmo estando ali e acreditando nas palavras dela, ainda se sentia estranho pelas visões e toda ligação entre as duas famílias.
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  — Desculpa. — Ela riu junto, tentando descontrair o ambiente, pois minutos antes ambos haviam tido uma pequena discussão sobre a importância de ele retornar para o apartamento do pai.
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  — Está tudo bem. — se virou, deixando o corpo escorado na janela, cruzou os braços e fitou o olhar nela. — Eu é que peço desculpas… Por ter alterado minha voz.
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  — Você está com raiva pela morte da sua mãe, mas não sabe como jogar isso pra fora e acaba descontando nas pessoas que gosta — explicou ela, com suavidade na voz, como se conseguisse lê-lo com clareza. — Eu sei o que é perder alguém que ama e ter medo de perder sua única família.
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  — Como consegue? — perguntou o rapaz, desviando o olhar para o chão, tentando reprimir seus sentimentos de frustração.
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  — Como consigo o que? — indagou , com o olhar confuso.
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  — Entender as coisas dentro de mim melhor do que eu mesmo — confessou o jovem Watts, lutando contra suas emoções ao sentir os olhos marejados.
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   apenas sorriu com sutileza, um pouco envergonhada pelo olhar profundo e confuso dele. Ela se levantou da cadeira e se aproximou dele, a passos lentos e cautelosos, enquanto o rapaz mantinha sua atenção fixa nela. Então, parando a sua frente, a garota respirou fundo ao se concentrar em sua visão.
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  — Você realmente quer ouvir de novo? — perguntou ela, deixando seu olhar mais sério e temeroso.
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  Prometendo a que contaria tudo em seus mínimos detalhes, não conseguiu nem mesmo omitir a parte importante de sua visão, aquela que a deixava angustiada em tentar salvar a todos, pois a companhia de lhe dava esperança, porém, ao mesmo tempo também a deixava assustada.
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  Naquelas poucas semanas que se passaram entre as mudanças de estações após o retorno do garoto, ambos se encontravam todas as tardes após a aula e antes do curso noturno de confeitaria. Em meio às muitas conversas aleatórias que surgiam, a curiosa conexão entre eles foi ficando ainda mais intensa e evidente, ao ponto de constatarem que o jovem Watts realmente era o gatilho para as visões de .
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  — Quero. — segurou em sua mão dando um sorriso de canto discreto, seu olhar sereno transmitiu a ela a segurança necessária. — Não vou soltar a sua mão em nenhum momento.
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  — Obrigada… — Agradeceu ela, retribuindo com um sorriso singelo em gratidão.
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  Com o assentir de , ela respirou fundo fechando os olhos, então, mais uma vez, se concentrou em reproduzir em palavras o mesmo cenário que havia gravado em sua mente, por vê-lo repetidas vezes tanto dormindo quanto acordada.
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  — … — sussurrou ela, ao apertar um pouco a mão do rapaz quando repentinamente de suas memórias, foi transportada para mais uma visão da mesma livraria em chamas.
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  — , eu estou aqui. — O jovem manteve seu olhar fixo na garota, de alguma forma, internamente, conseguiu entender que ela estava em uma visão. — O que você está vendo?
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   respirou fundo, sentindo todo seu corpo estremecer em um calafrio, exceto suas mãos que seguravam as dele. Se era seu gatilho para as visões, certamente também era seu ponto de apoio para passar pelas mesmas, sem que sentisse as dores de quando estava sozinha, não deixando dúvidas que a presença do rapaz era como um refrigério para ela.
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  — O que está vendo?! — insistiu ele, mais uma vez, ao receber um breve silêncio dela.
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  Não que a garota não quisesse responder, contudo, ela estava tentando processar a inesperada mudança em sua visão, a livraria não estava em chamas, havia objetos que não existiam antes e estavam presentes no ambiente, assim como um leve dedilhado de piano, que formava uma melodia suave, tocando ao fundo. Aos poucos a sensação de estranheza foi crescendo dentro dela, fazendo-a passar por uma crise de ansiedade.
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  — … — deixou sua voz mais entonada, já se preocupando com o silêncio dela e seu estado de paralisia. — , fala comigo, eu estou aqui, está me ouvindo?
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  Quanto mais ele a chamava, mais a sua voz era abafada pelo fundo musical presente na visão, enquanto isso, a garota continuou a passos lentos e curtos seguindo para fora da sala onde sempre iniciava. Aos seus olhos, era inacreditável uma mudança tão específica no cenário diante dela.
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  Logo um vulto passou por ela, o que a fez segui-lo de imediato tentando entender o que estava acontecendo. Em segundos, a respiração de começou a ofegar, um grito preso na garganta como se quisesse pedir por socorro, a sensação de agonia havia retornado a ela, até que a puxou para perto e lhe abraçou.
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  Em um piscar de olhos, ela voltou ao normal e, ao perceber o abraço dele, apenas se aninhou nos braços do rapaz, respirando fundo para se acalmar.
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  — Está tudo bem, eu estou aqui — sussurrou ele, ao perceber que ela não estava mais em transe. —
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  — Vai acontecer, … — Ela se afastou dele, seu olhar assustado era visível, mas, diante dos fatos, ela precisava ser ainda mais forte e corajosa. — Eu não sei como, mas está pra acontecer.
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  — O que está pra acontecer? O que você viu? — indagou ele, tentando entendê-la e não ficar em surto no processo.
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  — A livraria não estava em chamas, tinha detalhes novos e eu vi alguém… — Ela fechou os olhos com algumas lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu vi a pessoa que vai incendiar, eu vi como ele fez como se estivesse no momento exato ao seu lado.
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  — Você viu em tempo real? — perguntou ele, um pouco temeroso pela profundidade que o dom dela havia chegado.
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  — Eu não sei, mas… — Ela puxou o ar mais forte para dentro dos pulmões.
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  — Se for, ainda podemos impedir. — Ele segurou a mão de e a puxou para seguirem para a porta de saída.
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  — Para onde vamos? — indagou ela confusa pelo rompante dos gestos do amigo.
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  — O seu pai é policial, não é? Ele pode ajudar, sua visão mudou, se conseguirmos impedir… Ninguém morre, nem o meu pai e nem o seu.
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  — Sim. — Assentiu ela.
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  Ali estava o ponto central da visão de . Em todas as vezes que encarou o seu dom, a garota sempre se deparava com a mesma cena final, ambos os pais mortos naquele incêndio, um tentando salvar a vida do outro.
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  Ao passarem pela garagem, avistou a moto de Mills estacionada próximo da porta, pegando os capacetes, entregou um para ela e colocou o outro em sua cabeça. Juntos, eles seguiram até a delegacia, com a esperança de encontrar o detetive Grimes.
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  — ?! — A voz surpresa de Margareth soou, atrás deles.
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  Ambos estavam na recepção da delegacia.
  — Tia Margo. — A garota se voltou para ela, com um olhar desesperado. — Onde está o meu pai?
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  — Eu não o vi hoje — respondeu a mulher, intrigada pela presença da garota na delegacia. — Mas pelo que sei, ele tem andado ocupado ajudando a 24ª DP com os casos de incêndio nas áreas comerciais.
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  Ao ouvir aquilo, virou seu olhar para , sentindo um aperto no coração.
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  — E se… — ela começou a dizer.
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  — O que está acontecendo, ? — indagou Margareth, se preocupando com as expressões dela. — Você teve alguma visão?
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  — Sim… Eu vi o incendiário, eu vi a livraria e… — respirou fundo, para se acalmar e manter-se racional as circunstâncias.
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  — As visões dela mudaram. — tomou a palavras para explicar melhor. — Acreditamos que vai acontecer hoje e que podemos impedir se chegarmos antes do criminoso.
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  O rapaz estava certo de que as mudanças causadas nas visões de , geradas por sua presença na vida dela, poderia ser considerada a luz no fim do túnel e o sinal de que as maldições poderiam de transformar em bênçãos.
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  — Eu vou ligar para seu pai e vamos impedir isso de acontecer. — Margo retirou o celular do bolso da calça e iniciou sua chamada.
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  A cada minuto que passava sem nenhum tipo de retorno, mais a garota demonstrava seu nervosismo e apreensão pela falta de localização do pai, até que John finalmente atendeu a ligação e , controlando o desespero, lhe contou tudo o que tinha visto naquela tarde.
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  Havia duas livrarias com as mesmas características que a filha descreveu e, pela ironia do destino, o detetive Grimes estava justamente próximo a uma delas. Margareth aconselhou o amigo para aguardar a chegada de reforços, enquanto ela fazia a batida na outra livraria, reforçando a ele os relatos de , que possivelmente o incêndio seria naquele dia e eles precisavam se dividir para a melhor eficiência da missão.
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  Enquanto a equipe de policiais se dividiu para cobrir ambos os perímetros, o 21º Batalhão de Corpo de Bombeiros foi mobilizado discretamente pela capitã Morattis. Os dois jovens foram aconselhados a esperarem na DP por notícias, contudo, com o passar de algumas horas, agora era que se forçava a controlar a ansiedade.
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  — . — se aproximou dele, seu olhar já dizia tudo.
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  — Eles não vão conseguir impedir, não é? — indagou o rapaz a ela, sentindo uma angústia interna.
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  — Eu não sei — sussurrou , ao sentir as pupilas dos olhos dilatarem, fixando-os na janela.
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  — ?! — Ele segurou a mão da amiga. — Outra visão?
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  — Não… — Ela se voltou para ele. — , está acontecendo… Eu posso sentir.
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  — Não podemos ficar aqui, precisamos salvá-los! — Assim que ele a puxou para saírem da sala da capitã, ambos já se depararam com uma intensa movimentação do lado externo.
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  Nem todos no departamento de polícia sabiam do dom de , porém, assim que a equipe de John se movimentou em divisão de perímetro, vários outros chamados apareceram, deixando todo o lugar um caos de ligações com pedidos de socorro.
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  De relance, escutou o comentário da recepcionista ao telefone dizendo que aquele dia estava sendo uma turbulência, principalmente pela loja em chamas na área comercial. Sabendo a localização, ambos se deslocaram para o lugar na moto do rapaz, no meio do trajeto, em flashes, conseguia acompanhar a evolução do incêndio e o que ela mais temia.
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  Seu pai havia conseguido chegar à livraria, porém, não a tempo de impedir o criminoso de atear o fogo. Em um confronto regado a combate corpo a corpo e uma troca de tiros, o homem do fogo foi abatido, enquanto John se encontrava ferido aos fundos do depósito e desacordado. Para a jovem, ver aquela cena sabendo que estava acontecendo em tempo real, lhe deixava ainda mais angustiada pela possibilidade de perdê-lo.
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  — Chefe Brown — disseram os jovens ao se aproximarem do homem após ultrapassarem a linha de barreira de segurança para os civis.
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  — , ?! O que fazem aqui? — O olhar repreensivo do homem não assustou o rapaz.
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  — Nossos pais estão lá dentro — informou de forma segura.
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  — O detetive Grimes está lá?! — A expressão facial de Brown ficou um pouco mais preocupada, pois o último relatório que havia tido do esquadrão de resgate era que todos os civis já haviam sido retirados.
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  — Sim. — Assentiu .
  — , seu pai informou há dois minutos que o prédio estava limpo, mas que faria uma varredura no andar de cima — disse o homem — Como sabem que eles estão lá?
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  — viu ambos — contou o jovem. — Por favor, nos ajude.
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  Brown sabia sobre o dom de , contudo, mesmo presenciando em alguns casos as habilidades da garota, se deixava permanecer cético devido a suas crenças pessoais.
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  — , me informe exatamente onde está o seu pai — pediu o capitão, dando um voto de confiança a eles.
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  — No depósito, há uma porta à esquerda no final do corredor que dá acesso às escadas para lá — respondeu ela prontamente, já com a planta do lugar decorada em sua mente. — O pai de está bem próximo a este corredor.
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  — Capitão Watts… — disse o chefe, pelo rádio transmissor. — Capitão Watts na escuta?
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  — Chefe Brown. — Ouvir a voz do pai, fez com que soltasse um suspiro de alívio. — Posso te ouvir alto e claro, não achei mais nenhum civil, estou saindo.
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  — Não! — gritou , sendo amparada pelo amigo.
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  — Capitão, temos um policial no depósito do prédio — informou Brown, de acordo com as coordenadas que lhe passava. — Ele está ferido, há uma escada de acesso no final do corredor em que você está.
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  — Vou tentar chegar lá — disse Gregori, se preparando para enfrentar as chamas que haviam a sua volta.
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  — Pai! — gritou, fazendo o homem reconhecer a voz do filho.
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  — ?! — Watts conteve suas emoções, pois era a primeira vez que ouvia a voz do filho após a discussão de ambos.
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  Diante do prédio em chamas, também precisou conter suas emoções e, pedindo o rádio para Brown, sentia lá no fundo que precisava orientar seu pai. O chefe dos bombeiros entregou o objeto ao garoto que, ao respirar fundo, pegou-o reunindo forças para continuar otimista até o final.
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  — Pai… Eu… — Ele sentiu sua voz falhar inicialmente. — Me desculpe.
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  — Filho, eu sei, está tudo bem. — Assentiu o bombeiro, entendendo os sentimentos do filho.
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  — Se o senhor for, poderá não voltar… — O rapaz olhou para que segurava as lágrimas no canto dos olhos. — Mas se não for, o detetive Grimes não vai sobreviver.
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  — Não se preocupe, filho, tudo vai acabar bem. — Assegurou Gregori, mesmo não tendo a certeza de suas palavras. — Eu vou encontrá-lo.
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  Um ligeiro silêncio pairou no rádio, até que o capitão Watts deu sinal, informando que havia encontrado o detetive Grimes, contudo, suas opções de saída haviam sido bloqueadas por uma estrutura que desabou no processo de resgate. , ao ouvi-lo dizer que não conseguia encontrar uma alternativa, lembrou-se de cada detalhe que ela havia dito sobre a primeira visão, então voltou seu olhar para , sabendo o que ambos precisavam fazer.
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  — Agora eu entendo — sussurrou ele, ao segurar sua mão. — O porquê sonho com você todas as noites.
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  — . — A primeira lágrima escorreu no rosto dela, com o coração angustiado.
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  — Nós podemos salvá-los — disse ele, com segurança no olhar. — Você pode encontrar a saída para eles.
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  — Eu não sei se consigo. — Ela estava assustada e com medo.
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  — Você consegue. — a abraçou forte, deixando sua mão que segurava o rádio mais próximo do rosto. — Feche os olhos e se concentre, não está sozinha, vou entrar lá com você.
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   assentiu com o rosto, se aninhando nos braços do rapaz. Por mais que o jovem não pudesse se transportar com ela no meio da visão, de alguma forma a garota conseguia sentir sua presença através daquele abraço.
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  Levou alguns instantes para que ela conseguisse controlar seu emocional e pensar com a razão para salvar a vida de duas pessoas importantes para eles. Assim, a cada informação que ela lhe dizia, repassava ao pai, que com certa dificuldade seguia milimetricamente sua orientação. Demorou alguns minutos até que finalmente o capitão Watts conseguiu avistar um duto de ar por onde rastejou, enquanto puxava o corpo desacordado de John, que amarrou a ele.
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  Enquanto isso, uma equipe de quatro homens começou a furar um buraco na parede lateral onde havia apontado para a saída deles, pois o duto não tinha uma ligação externa com a rua. As duas ambulâncias de resgate já estavam a postos esperando pela saída deles que, ao finalmente serem retirados do duto, foram amparados e levados aos veículos às pressas. Mesmo as condições de John sendo graves, ele tinha boas chances de recuperação, e fora levado ao hospital, na companhia de sua filha.
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  Já
  — Pai! — disse o rapaz ao correr até a ambulância e abraçar o pai, não se importando com o estado do mesmo, deitado na maca. — Achei que fosse te perder.
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  — ! — Gregori tossiu um pouco, mas demonstrou felicidade ao sentir o abraço dele. — Você jamais vai me perder filho.
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  — Obrigado — sussurrou o filho, sentindo o coração aquecido por finalmente se sentir em casa ao lado de seu pai.
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  Mesmo com todas as diferenças de ambos, pai e filho tinham apenas um ao outro e estavam felizes por ainda serem uma família.
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Três semanas depois…

  — Então, como está o seu pai? — perguntou ao aparecer da janela.
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  — Ele está bem… Se recuperando. — girou levemente a cadeira em que estava sentada e sorriu de forma meiga, o observando entrar em seu quarto. — E o seu?
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  — Está vivo, é o que importa — brincou ele, sorrindo de canto.
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   manteve o olhar sereno para a amiga, permanecendo escorado na janela. Nunca imaginou viver tantas emoções em um curto espaço de tempo, mas estava grato a Deus por tudo o que tinha vivido. Principalmente pela garota dos seus sonhos ser real e tê-la conhecido.
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  — E como vocês estão? — indagou ela, curiosa para saber se tinham melhorado a convivência.
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  — Ah, temos conversado sobre algumas coisas… — respondeu o rapaz, sem jeito e com um olhar envergonhado. — Falamos sobre a morte da mamãe ontem.
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  — E como foi? — O olhar curioso de o deixava admirado, ela se levantou da cadeira para se aproximar dele.
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  — Choramos muito — confessou num sussurro.
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  — Não é vergonhoso um homem chorar — disse ela num tom descontraído. — O que mais conversou com seu pai?
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  — Hum… Falamos sobre o futuro — contou , soltando um suspiro fraco, atento a aproximação dela.
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  — Futuro? — se colocou ao seu lado, interessada no restante da história. — O que falaram sobre o futuro?
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  — Bem… Eu faço dezessete na próxima semana — explicou ele, pensativo na indagação dela —, falamos sobre a possibilidade de ir para a faculdade.
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  — Mas você deseja ir? — Mantendo a atenção no amigo, sentiu um leve aperto no coração, já que era mais nova que ele.
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  — Não sei, mas tenho certeza que não serei um bombeiro no futuro. — O rapaz riu com leveza, como se lembrasse disso como uma sugestão do pai.
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  — Você pode virar um policial como o meu pai — sugeriu ela, de forma espontânea.
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  — Policial? — Ele não tinha pensado no assunto, contudo, achou interessante.
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  — Sim. — voltou sua memória no dia do incêndio dos seus pais. — Você foi tão seguro e incisivo em salvar nossos pais, a forma como conduziu minhas visões para isso.
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  — Acha mesmo? — se pegou confuso diante daquelas palavras, não acreditando em si mesmo e no seu potencial.
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  Ela assentiu com sutileza no olhar, o que o fez sorrir de canto novamente, mantendo seu olhar profundo fixo nela. O coração de acelerou de imediato no momento em que foi se aproximando suavemente de seus lábios. Porém, em um piscar de olhou, John bateu na porta, fazendo o casal se afastar rapidamente e assim que o rapaz pulou a janela, ela abriu para o pai entrar.
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  — O que foi papai? — indagou ela, tentando disfarçar sua sutil frustração.
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  — Hum… Vim te chamar para fazermos o jantar juntos. Não está com fome? — respondeu o homem, observando-a balançar a cabeça negativamente, o pai voltando o olhar para a janela. — Bem, caso mudem de ideia, sinta-se convidado também, .
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  Do lado de fora o rapaz ficou confuso pela situação e, respirando fundo, apareceu novamente na janela.
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  — Boa noite, senhor Grimes. — O olhar envergonhado do garoto foi surpresa para ela.
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  — Entre rapaz, sei que também cozinha bem — comentou John, num tom descontraído para que o jovem não sentisse receio de seu convite.
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  — É ele quem cozinha para o batalhão do chefe Brown — contou , com um sorriso bobo no rosto.
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  — Fome eu não passo. — Assentiu ele, sendo modesto, ao entrar novamente no quarto.
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  — ! Filho?! — A voz de Gregori soou do lado de fora, até que ele se colocou de frente a janela do quarto de . — Algum problema aqui?
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  — Nenhum — disse John, ao passar pela filha, adentrando mais no quarto. — Eu estava planejando cozinhar com minha filha, mas… Acho que as conversas do casal adolescente têm sido mais interessantes do que passar um tempo com seus pais.
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  — Pai?! — olhou para o pai, o repreendendo, cheia de vergonha.
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  O capitão Watts riu baixo, entendendo a situação.
  — Olha, eu ia chamar meu filho para ver o jogo dos Lakers comigo, mas… Já percebi que também serei trocado — reclamou Gregori num tom brincalhão. — Não seria nada mal uma nova companhia.
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  — Você tem cerveja gelada, aí? — perguntou John, ignorando totalmente a presença dos filhos ali.
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  — Mas é claro, e uma TV de 50 polegadas — completou o bombeiro, ao respondê-lo.
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  — Por que não disse antes? Eu adoro os Lakers. — John soltou uma gargalhada e passando pelo jovem Watts, o olhou com seriedade. — Ah, juízo, hein, rapaz, seu pai está aqui, mas eu ainda sou um policial.
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   ficou estático por um momento, apenas observando John passar por ele e seguir seu pai para entrar no apartamento ao lado, pela janela do seu quarto.
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  — Você entendeu o que aconteceu aqui? — perguntou o rapaz ao voltar seu olhar abobalhado para mia.
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  — Não, mas foi engraçado sua cara com a ameaça do meu pai — disse ela, em risos.
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  — Ah, é! — se fez de ofendido pela reação da garota. — Você gosta de rir de mim?
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  Ele se aproximou dela e começou a lhe fazer cócegas, rindo de suas gargalhadas. tentou fugir do rapaz, porém, sem sucesso, e ao se desequilibrar, caiu ao chão o puxando consigo.
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  — Opa… — disse ele, ao sentir suas respirações sincronizadas.
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  — … — sussurrou ela, com o coração visivelmente acelerado.
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  — Obrigado — sussurrou o rapaz, de volta.
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  — Pelo que? — indagou , confusa por suas palavras.
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  — Por entrar na minha vida — explicou o jovem, aproximando mais seus rostos.
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  — Eu que agradeço — retrucou ela, sentindo um frio na barriga com o arrepio do seu corpo por ele estar com seus lábios a milímetros de distância.
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  — Pelo quê? — perguntou .
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  — Por me deixar ficar…
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  Ela nem mesmo finalizou sua frase direito e já foi interrompida por um beijo singelo, doce, apaixonado e intenso vindo dele.
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Sou realmente agradecido por te ter
O presente que Deus me deu.
– Sing for You / EXO

  “Ver: Visão sem ação é sonho. Ação sem visão é pesadelo.”
  [Provérbio japonês] – By: Pâms

Fim

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Lelen
Admin
1 ano atrás

HEEEEEEEITA QUE O NEGÓCIO TÁ TENSO DESDE O COMEÇOOO! 
Eu acabei de ver um vídeo da Mckenna Grace pequenina fazendo papel de criança prodígio, agora eu tô imaginando a Mia como a Mckenna HAHAHAH HELP 
Mal posso esperar pra ver a contribuição do Jin na história. E eu amei a forma como o pai da Mia é um amorzinho e é pai de verdade. BORA SABER MAIS DESSE ENREDO <3 

Comentário originalmente postado em 16 de Junho de 2023

Fe Camilo
Fe Camilo
1 ano atrás

Uaau! Tô super curiosa com o que vem por aí 🤩 
Amei a pequenina, a psicóloga e o pai, todos fofos ❤️ 

Comentário originalmente postado em 18 de Junho de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

Ai, tadinha da Mia </3 
E vai rolar romance com a psicóloga? Shippo HIASHOAISAIOSBO 
Adorei a Poppy, por favor, que ela não esteja na lista de pesadelos, amém. 
Quero saber como senhor Jeremy vai entrar nessa história toda, VEMK MOÇO 
 
Comentário originalmente postado em 01 de Julho de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

AE, FINALMENTE APARECEU O BONITO AHHAHAHAH 
Ai, o pai dele vai morrer? Num pode, eles precisam voltar a ser uma família antes disso e aproveitar o tempo juntos, NÃO FAZ ISSO COMIGOOOOOO 
Mas a Mia sentiu calafrios com os dois, então os dois estão em perigo. NO. NO. 
Dá um jeito aí, destino, não aceito isso! 
Mas ansiosa pra ver o que vem pela frente <3 

Comentário originalmente postado em 16 de Julho de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

IHA! Finalmente os dois se encontraram e trocaram palavras. O Jeremy parece ser fofo em certo nível HAHAHAH 
Eu tava com medo de o incêncio já estar acontecendo e tava “ah pronto, morreu todo mundo” KKKKKK 
Então… Incêndios criminosos, hein? HUM. Pelamor, salva o povo tudo, não tem um personagem aqui que eu não goste e poderia morrer que eu não me importaria HASODBAHSDOPB 
Tá, talvez a Clair, mas ela tá só lá existindo por enquanto, então deixa ela lá quieta. LOLOLOLOL 
SOCORRO QUE EU QUERO SABER COMO VAI SER ESSA CONVERSA DOS DOIS. MIMDÊ. OBRIGADA. 

Comentário originalmente postado em 28 de Julho de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

AH, PRONTO, COMEÇOU! 
Jeremy, tu tava indo bem, meu rapaz; é difícil aprender a se comunicar vocês Watts? 
Eu tô curiosa pra saber o que vai desencadear a desgraça da visão. NENHUM DE VOCÊ PODE MORRER AINDA, CÊS PRECISAM SE ENTENDER, CACETA! NÃO ADMITO! u.u 
E Jeremy é bom cozinheiro, já é uma boa adição pra família, obrigada. 
DEUS, AJUDA AÍ. E Capitão, acho que você deve se lembrar muito bem o que é ser um adolescente (ou não) e por isso tá preocupado com seu filho, mas veja bem, com adolescente você precisa falar com jeitinho, sabe? Porque qualquer respirada diferente já traz o caos. 
 
PÂMS, ME DIZ QUE NINGUÉM DELES VAI MORREEEEEEER ;-; 

Comentário originalmente postado em 15 de Agosto de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

Ai, o Jeremy tá virando um amorzinho, coisa linda <3 
VOLTA LOGO PRA CASA, DISGRAÇA, PARA DE PREOCUPAR A MIA E EU U.U 
Ainda bem que Clair saiu da jogada sem maiores esforços e eu não preciso passar raiva com ela HAHAHAHAH 
E que história é essa do sonho do Jin? MIMDÁ EXPLICAÇÕES, QUERO, PRECISO. OBRIGADA, DE NADA. 
Estamos chegando no fiiiim “Fim”, né? HEHEHEHEH 
EU QUERO ESSE CASAL SENDO UM CASAL LOGO E NÃO QUERO NINGUÉM MORRENDO, POR FAVOOOOOOOOOR 

Comentário originalmente postado em 05 de Setembro de 2023

Lelen
Admin
1 ano atrás

EITA QUE CHEGOU O FINAL. EITA QUE FOI AGUENTA CORAÇÃO.
Fiquei com medinho de a autora dar aloka e resolver não ouvir minhas preces de tudo terminar bem e resolvido OIHASNDPOASNDP
AMEI que o Jeremy e o pai fizeram as pazes e se entenderam enfim, AMEI o John todo fofo já sabendo da relação desses dois adolescentes. E AMEI AINDA MAIS QUE OS DOIS PAIS VIRARAM AMIGOS. É ISSO AÍ. COISA MAIS LINDA.
Eu quero continuação porque quero ver Jeremy policial. MAS POR FAVOR, NÃO MATA NINGUÉM NESSA PARTE QUE SEJA DESSE CÍRCULO LINDO DE AMIZADE/FAMÍLIA. Mata gente que não tem importância sentimental aqui OIASNDOPASNDP
Amei acompanhar esse suspense/mistério e vou adorar saber se depois disso tudo as visões da Mia acabaram ou se continua e como é essa coisa da ligação do Jin com ela HEHEHE
SOU ABUSADA MESMO OIASHDOIASBDOIASD


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