Um Romance Para O Natal
Capítulo 1
tinha tudo sob controle.
Desde pequena, o mantra era conseguir manter no controle si mesma e tudo ao seu redor. Filha de uma mãe obcecada por organização, que também era filha de outra mulher ainda mais obcecada pela própria família, obteve a característica de gostar das coisas em seus devidos lugares, mesmo que seja só de faixada.
A verdade era que ela não era, em nada, organizada ou obcecada por sua família. Ao contrário, gostava muito de passar a maior parte de seu tempo relaxada, fazendo coisas que se sentia bem. Aos 27 anos, não havia feito nada demais da vida, porque não queria nada além do que já tinha.
Era por isso que, ao finalizar o colégio, entrou em uma universidade na cidade mais afastada o possível de sua família: São Paulo. Apesar da cidade estar a apenas 40 minutos de sua cidade natal, demorou um ano inteiro para convencer sua família controladora a deixá-la sair de suas asas e alçar o próprio voo.
Sonhadora, achou que sua vida mudaria da água para o vinho, para melhor. São Paulo, uma cidade tão grande, com certeza teria espaço para mais uma garota pronta para viver a própria vida. Entretanto, tudo o que conseguiu, foi dividir um apartamento de 2 dormitórios minúsculo com mais 3 estudantes e, após se formar, trabalhar em uma empresa pequena que, às vezes, lhe pagava o salário – baixo, se comparado ao de seus colegas de sala – atrasado.
Foi há 2 anos que tudo em sua vida mudou. Enquanto fazia as compras de natal, recebeu um telefonema de uma entrevista da qual havia feito há quase um ano. Uma vaga havia aberto em uma empresa multinacional que estava, cada vez mais, abrindo seu caminho no mundo, e o currículo de fora indicado pela pessoa que havia a entrevistado. Ainda que não tivesse a contratado, a pessoa havia dito que ela possuía um bom currículo, e que ela deveria ter mais fluência em uma segunda língua, o motivo real de não ter sido selecionada.
Mas a magia do natal havia transformado sua vida, dando-lhe a oportunidade de finalmente ter o emprego que tanto esperava. Após confirmar disponibilidade para a entrevista, pôde imaginar tudo o que faria com o salário que entrasse. Primeiro, mudaria de apartamento. Talvez pudesse alugar algum lugar só para si. Em seguida, pagaria o curso de inglês – ou, se desse sorte, a própria empresa o faria –, por fim, finalmente poderia adotar um cachorrinho. Sempre se viu assim, morando em um apartamento médio, o suficiente para si, com um cachorro como companheiro e tendo o final de semana livre com ele e uma garrafa de vinho. O que mais poderia pedir?
– Casamento – a avó disse, quando Ana Amélia, sua filha e mãe de informou sobre a mudança de emprego da última –, isso já passou pela sua cabeça, menina?
E como não?, pensou. A maioria dos primos da mesma idade dela ou mais velhos já haviam se casado, a irmã mais velha, no ano anterior, e a mais nova, noiva do namorado de infância que, por coincidência ou não, era amigo do irmão mais velho das três, formado em medicina. As duas eram o orgulho de Ana Amélia, costumava dizer. O irmão mais velho, Thales, já havia cessado qualquer esperança das matriarcas; elas esperavam, sentadas, o homem de 30 anos sossegar.
– Os homens da minha idade estão casando perto dos 40 – ele disse da última vez, quase causando um ataque da avó.
De qualquer maneira, era mais fácil controlar , com seu temperamento dócil, do que Thales, dono de seu próprio nariz.
A notícia do emprego não havia sido recebida com o entusiasmo que esperava, por isso, manteve-se calada e se isolou em um canto, se contentando com a alegria que as amigas passavam através de mensagens de celular.
O trabalho se mostrou bom. Ela seguiu o ramo administrativo e agora era assistente principal do presidente da empresa, , que veio dos Estados Unidos a pedido do verdadeiro presidente da empresa, seu pai, que, em um meio de fazer o filho entrar na linha, deu-lhe um prazo de 2 anos para mostrar que tinha competência para herdar a empresa bilionária.
2 anos que estavam chegando ao fim.
– Ele está cada dia pior. – disse para Noemi, sua melhor amiga, com quem dividia o apartamento. Ela descobriu que, melhor do que ter um apartamento pequeno para si, era muito melhor dividir um apartamento grande com suas três melhores amigas. – O prazo de seu pai está chegando ao fim, e ele está desesperado.
– Se eu estivesse prestes a perder um legado bilionário, talvez estivesse pior. – Ana, a outra companheira de apartamento E melhor amiga, disse, saboreando o próprio vinho.
– Eu acho – Carol, a última do quarteto, apoiou os braços na mesa e se inclinou para frente, olhando animada para , que ergueu uma sobrancelha. Cáa era a amiga que sempre tinha ideias malucas que, na maioria das vezes, as levavam em cana. A única certeza, era que, em todas as situações, as quatro se divertiam muito –, que você deveria aproveitar para colocar sua competência na mesa e mostrar suas cartas!
– Verdade – Noemi olhou para –, você sempre foi muito boa com ideias, poderia sugerir algo para ele.
– Ele não confia em mim, porque não tenho um doutorado. – revira os olhos. – Para ser sincera, acho um absurdo ele achar que não sou competente o suficiente para criar um projeto bom para subir as vendas, e ainda assim deixar toda sua vida exposta para que eu cuide.
era a assistente pessoal do presidente. Desde suas reuniões, até quais presentes enviar para as mulheres com quem ele terminaria (ela terminaria por ele), não tinha medo, nem vergonha de mostrar quem ele realmente era para a garota. Aos 35 anos, o homem tinha uma vida saudável e, contanto que as vendas não caíssem, seu bom humor era garantido.
O problema era que, há três meses, o pai havia lhe enviado uma carta através de seu assistente – que, obviamente, não foi quem recebeu, mas sim ela –, dizendo que gostaria de ver o desempenho positivo de , através das estatísticas da empresa. Isso fez com que o presidente júnior finalmente entendesse que não bastava manter o seu lugar no pódium, mas sim alcançar o primeiro lugar e permanecer lá.
Desde então, a vida de se tornou um inferno, com reuniões e mais reuniões, gerentes reclamando para ela de terem suas ideias recusadas, companheiros de negócio discutindo por telefone, pedindo um posicionamento sólido do presidente e, o pior de tudo, mulheres aparecendo repentinamente na empresa, tacando-lhe presentes e flores que ela não havia mandado.
– Eu não me formei para isso… – ela resmungou, terminando de beber a taça, que logo foi preenchida por Ana. – Não sei qual emprego é o pior. O anterior ou esse.
– Pelo menos nesse você ganha bem – Ana disse.
– Bota bem nisso! – Carol exclamou. – Não sei por qual razão que ele escolheu você ao invés da louca do T.O.C, mas, o que importa, é que você nunca errou com ele nestes dois anos e, portanto, merece receber um crédito. O que custa criar um plano e mostrar para ele? Se todo mundo está tendo suas ideias negadas, você só seria mais uma. Mas, se você for aprovada, você será A funcionária. Entendeu?
adorava as amigas, porque elas sempre transformavam seu desânimo, em um plano de fuga para uma festa.
Olhou para o celular, que começou a tocar incessantemente e, ao ver a foto da mãe no visor, resmungou um palavrão.
– Oi, mãe.
– Oi, querida, como você está? Estou te ligando, porque você não confirmou no grupo do Whatsapp da nossa família sobre sua presença no natal e sua avó está pirando. Ela, inclusive, mandou um áudio para você lá, não conseguiu ouvir? Como está o trabalho? Você conseguiu um tempo para se dedicar a você e encontrar algum companheiro? Seu irmão disse que irá trazer uma pessoa, dá para acreditar? É a primeira vez em 32 anos! Acredita que seu pai veio me dar um sermão sobre o que eu posso ou não fazer? Disse que eu irei assustar a pobre garota, mas, convenhamos, se ela está com seu irmão, qual a probabilidade de eu assustá-la? Além disso, sou uma ótima sogra, João e Caio sempre dizem isso nas cartas de natal. Por que você não está me respondendo?
suspirou, levantando-se da mesa ao ver as amigas taparem a boca, evitando rir. Ana Amélia tinha uma linha de raciocínio rápida, de modo que todos os seus pensamentos vinham à tona de uma só vez. A filha, conhecendo-a como conhecia, respirou fundo, buscando o auto controle que tanto dizia ser o segredo de seu sucesso, e fechou a porta do quarto.
– Eu já disse para a senhora que vou, mãe. A senhora me ligou ontem, lembra?
– Eu disse a você para responder no grupo da família! Sua avó está esperando uma resposta sua.
– E o que a impede de responder para mim, mãe? Não consigo ficar o dia inteiro de plantão no Whatsapp. A senhora sabe que o final do ano é complicado para mim.
– Bem, você deveria saber que sua avó não aceita respostas que não venham da pessoa à quem ela fez a pergunta.
bufou e abriu o notebook em sua mesa de escrivaninha, indo para a versão web do Whatsapp e digitando para a avó “ confirmada (árvore de natal)”.
– Pronto.
– Obrigada. Aproveitando a ligação, você conseguiu encomendar aquele bolo da doceria que fomos na última vez que a visitei? Sei que é um lugar difícil de conseguir encomendas, mas eu estava na esperança de me gabar para sua tia, você sabe, ela vive achando que a doceria dela é a melhor de todas, enquanto a minha empresa de organização poderia fazer um trabalho melhor. Bem, ela não perde por esperar.
– Encomendei, mãe. Semana passada, quando a senhora me pediu. Três bolos e uma torta.
– Ótimo. E não se esqueça de comprar um presente para sua irmã. Eu acho que ela está grávida! – a mãe sussurrou animada.
Ótimo. Mais um motivo para seu natal ser um inferno. Já não basta a avó e a mãe compará-la com suas irmãs, por ser a única solteira. Agora, Ana Julia estava grávida! Fabuloso!
– E o namorado? Você irá trazê-lo também? Sei que você vive saindo com um ou outro, mas que parar em um só. Se você trouxer alguém, será o primeiro natal que todos os primos estão acompanhados!
– Mãe. Eu não estou namorando. Eu– só um minuto. – olhou o celular empresarial tocar. A única pessoa que poderia ligar aquela hora em uma sexta-feira… – Mãe, desculpe, tenho que desligar, meu chefe está me ligando.
– Chefe? São oito da noite! Você está fazendo hora extra? Ele te paga sob isso?
– Sim, mãe, ele paga. Nos falamos depois, tudo bem? Te amo! – e desligou, sem esperar que a mulher voltasse a falar; caso deixasse, sabia que perderia o telefonema do chefe e, dadas às circunstâncias atuais, ela não podia correr o risco. – Senhor Evans, boa noite.
– . Me diga que você está na empresa.
São oito da noite de uma sexta-feira, pelo amor de Deus! Ela pensou. Limpou a garganta e olhou seu reflexo no espelho. Tudo sob controle. Emoções sob controle.
– Não senhor, por quê? Esqueceu algo lá?
Ouviu um murmúrio de resposta, seguido de uma porta batendo ao fundo.
– Senhor Evans?
– Você não tinha uma reunião até às nove?
– Ontem, senhor. – revirei meus olhos. Era muito pedir para ele prestar atenção no contexto completo, e não somente no que lhe convinha? – Hoje é sexta, quase ninguém trabalha até às oito da noite.
– Pois bem. – ele pausou. aguardou alguns minutos. O chefe tinha uma mania que ela achava irritante de parar de falar no momento em que começava a pensar. Apesar de entender que um presidente não podia perder a linha de raciocínio, isso não significava que devia deixar a assistente três minutos inteiros no vácuo. Ou, talvez, pudesse sim. – O que está fazendo?
Oh-oh… essa é nova.
Limpou a garganta, não conseguindo imaginar o que o homem queria com ela. , obviamente, sabia de tudo sobre seu chefe, principalmente quais termos que ele dizia com frequência, que poderia levá-la a tomar atitudes diferentes. Por exemplo, quando ele dizia seu nome em um tom de “eu te avisei” no meio de uma reunião, tudo o que ela tinha de fazer, era dar um jeito de acabar com o assunto, liberando-o do compromisso. Ou, então, começava a falar “Sabe…”, era porque, definitivamente, estava na hora de pesquisar um presente caro para sua atual namorada, com quem ele terminaria naquele dia.
Mas Evans nunca havia lhe perguntado o que ela fazia.
Na verdade, ele nunca lhe perguntava sobre ela.
– Estou em casa. – ela respondeu, tentando não demonstrar a surpresa e o nervosismo. Será que era a resposta certa?
– E qual sua programação para o resto do dia?
Da noite, você quer dizer. Ela pensou.
– Hum… estou tomando um vinho com minhas amigas. Nada demais.
– Nada demais?
– Não, senhor.
– Ótimo. Vista-se bem, estou passando aí para te buscar. Vamos jantar.
COMO É QUE ERA?
– Desculpe?
– Chego em vinte minutos. Seu endereço é o mesmo do seu currículo? Parece um pouco longe daqui da empresa.
– Não senhor, mudei de residência.
– E por que não atualizou com o RH– não importa. Me envie por mensagem o endereço e vista-se bem.
Sem esperar por uma resposta, o homem desligou, deixando , literalmente, no vácuo. A mulher olhou para o visor do celular, que estava na tela principal, nenhum sinal de ligação em andamento. Levantou-se por puro instinto e foi até a sala, onde as amigas imediatamente pararam de falar, para olharem para a amiga.
– O que foi? – Noemi perguntou.
– Questionaram sua virgindade novamente? – Carol riu.
– Meu chefe me ligou e mandou eu me arrumar para ir jantar com ele.
Por um instante, as quatro permaneceram caladas, até que um rebuliço tomou conta das amigas que, pelo jeito, não se importaram com o fato de que o chefe dela a havia chamado para jantar, mas sim um homem.
– Pelo amor de Deus, faça esse favor e nos prove que mulheres da nossa idade conseguem arranjar um herdeiro como namorado. Meu Deus, que coisa mais clichê! – Ana dizia, enquanto as quatro caminhavam de volta para o quarto de , as outras duas abrindo os armários para escolher uma roupa. – O mais incrível de tudo, é que ele realmente é um gato!
De fato, aquilo era uma verdade. era o típico empresário americano dos filmes. Alto, com o físico em dia, os cabelos sempre arrumados em gel, o terno sempre engomado, o relógio caro no pulso e o sorriso de propaganda dental. Além disso, tinha três carros esportivos e uma moto. Jogava golfe e, quando não tinha muita coisa para fazer, viajava com alguma de suas namoradas para alguma praia do país.
Mas, diferente do que a maioria das pessoas achavam, ele não era um mau profissional. Havia vindo para o Brasil, porque era uma filial vista como potencial pelo pai, mas que precisava de um pulso firme. O irmão mais velho de havia sido enviado para a China, lugar onde a empresa mais lucrava. O ato só comprovava o favoritismo do irmão mais velho à presidência. , antes de deixar os Estados Unidos, havia ouvido do pai para não chamar muita atenção. Apesar de achar que aquilo foi mais uma maneira do homem conseguir com que o segundo filho não se sobressaísse e assim o primeiro ganhasse de lavada, não podia dar sua opinião ao chefe, que estava muito seguro de que percorria o caminho certo.
– Perfeita! – as amigas gritaram, animadas, ao ver vestida e maquiada, na medida do possível que conseguiram fazer em vinte minutos. Ela usava uma saia de couro na cor tijolo e uma camisa bege leve e solta. Um mule de bico fino e salto quadrado acompanhou o look, e os cabelos permaneceram soltos, pois não havia muito o que fazer. A maquiagem, no entanto, ficara ótima. O ponto chave dele eram os olhos bem delineados.
– Preciso descer – disse, pegando a bolsa.
– Espero que você não volte para casa hoje, amiga! – as amigas desejaram, enquanto observavam-na entrar no elevador rindo.
Era óbvio que voltaria para casa. Como sempre, atolada de trabalho e estressada com o chefe que não se tocava que ela era um ser humano que gostava dos finais de semana, e que não tinha culpa nenhuma do pai ser um idiota.
Assim que saiu da área comum do prédio, avistou um carro se aproximando. Sorriu, orgulhosa de sua pontualidade. Isso, sim, ela tinha controle. Era seu maior orgulho, o fato de estar sempre na hora nos lugares.
O chefe apenas parou o carro na frente, e baixou o vidro:
– Ótimo, entre.
suspirou. Ótimo? Era isso o que ele achava? Ela faz um milagre em vinte minutos, e tudo o que recebe era um ‘ótimo’? Segunda-feira, ela faria questão de adicionar na planilha de pontos, a hora extra na sexta-feira à noite.
– Para onde vamos, senhor? – ela perguntou, enquanto colocava o cinco. acelerou, entregando o celular para ela, que guardou em sua bolsa sem ver.
– Tenho um jantar e uma festa para comparecer. Preciso estar acompanhado, mas a mulher com quem vinha saindo cancelou.
– Natália cancelou com o senhor? – a mulher olhou surpresa para o chefe, que riu.
– Acha que não levo foras?
– Acho, sim.
– Bem, essa foi a primeira vez. – ele disse, com um sorriso no rosto.
– O senhor não parece mau para quem recebeu o primeiro fora da vida.
– Porque não estou. Ela era só um rolo. – ele disse, dirigindo tranquilamente. – A propósito, nos dois eventos, ninguém sabe que você é a minha assistente, portanto, comece a me tratar de forma mais casual.
– O quê?
suspirou e diminuiu a velocidade do carro.
– O assistente do meu pai está aqui para me sondar. Me mandou uma mensagem há duas horas, dizendo que estava na cidade e gostaria de encontrar para passar algumas informações enviadas por Jonathan.
– E por que seu pai não falou diretamente com o senhor?
– Com você. – ele a corrigiu. – Porque é assim que as coisas funcionam. Ele só fala com quem merece sua atenção e, aparentemente, filhos não estão nessa lista.
Ela ergue as sobrancelhas, pensando na situação. Como seria se a mãe e a avó não lhe dirigissem a palavra, ou não exigissem que ela lhes respondesse a cada mísera pergunta, que insistiam em fazer todo santo dia? Seria uma bênção ou um pesadelo?
– Você quer que eu ligue para ele e diga que houve um imprevisto? Consigo–
– Não. Tenho um plano.
– Um plano?
sorriu.
– Thadeo veio para o Brasil porque algo aconteceu. Jonathan não o enviaria, caso estivesse certo de que estava tudo sob seu controle. Mas, aparentemente, há algo que eu possa estar fazendo que ele não programou. Preciso descobrir o que é.
– Para isso…
– Para isso, preciso que você finja que não sabe falar inglês.
– E você acha mesmo que o assistente pessoal do seu pai não saberá sobre mim?
soltou uma risada.
– Dois anos comigo e você ainda não aprendeu, ?
Ela viu o brilho no olhar dele. Tinha certeza. Aquele brilho significava que ela não o conhecia como achava conhecer e que, provavelmente, estava prestes a descobrir um lado ainda mais escondido do chefe que todo mundo idealizada perfeito e burro.
– Martha é a minha assistente pessoal, sob os olhos dos dois. – ele disse, fazendo-a abrir a boca em choque. Poderia ter suspeitado, se houvesse algum evento que fosse necessário a presença de sua assistente pessoal, mas não havia. – Para todos os casos, você é a assistente dela. E apesar de eu não poder namorar a minha assistente, posso namorar a assistente dela. – e, com um sorriso repleto de malícia uma inteligência que ela havia ignorado até então, ele lhe enviou uma piscadela.
– Mas… todo mundo… Eu já falei com Thadeo por e-mail e telefone…
– Não se sinta ofendida, mas Martha possui um currículo muito mais capaz do que o seu. – ele disse, sem um resquício de hesitação por dizer a verdade nua e crua. – E é por isso que você é perfeita para o cargo. Para ser minha assistente pessoal, preciso que, acima de tudo, você obedeça somente a mim. E isso não aconteceria com o pessoal lá em cima de olho em mim.
– Faz sentido. – diz, cruzando os braços. – Você não deixaria qualquer pessoa controlável saber de toda sua vida.
– Exatamente.
– E no meu currículo, não tem que eu sou fluente em inglês, apenas que possuo conhecimento básico.
– Sim.
– E minha assinatura está somente como Assistente.
– Bingo.
Ela permaneceu o encarando, enquanto ele dirigia com um sorriso convencido no rosto.
– Então, você não aumentou o desempenho na empresa por conta de uma estratégia?
– Claro. Ele achava que eu fosse querer surpreendê-lo com bons resultados. – riu, balançando a cabeça. – Mas ao ver que isso não acontecia, começou a se preocupar. Os acionistas devem estar de olho em mim. O que um cara faz para, ao mesmo tempo que não cresce, não deixa a empresa cair sequer 0,1% do valor no mercado?
– Enquanto seu irmão faz todo o trabalho sujo lá da China. – ela finalizou, vendo-o aumentar ainda mais o sorriso perfeito, satisfeito com a conclusão da assistente. – Estou muito surpresa.
– Assim você me ofende. – ele brinca. – Nós, americanos, somos extremamente competitivos. A diferença entre um bom vencedor e um mau vencedor, é que o bom vencedor não passa por perrengues para chegar aonde quer.
– Perrengues? – ela ri. – Desde quando usa esses termos brasileiros?
– Tenho que admitir que vocês são muito bons em criar expressões populares. Você está se saindo bem na conversa casual.
lembrou-se de sua posição, e que ainda não estava no jantar para poder agir de tal maneira com o chefe. Limpou a garganta e arrumou a postura:
– Me desculpe.
O chefe não lhe respondeu, mas ela viu, em sua expressão, que ele havia ficado satisfeito com a reação que havia demonstrado. Pelo menos isso, ela ainda conseguia enxergar. O que mais descobriria sobre o homem essa noite?
Capítulo 2
O jantar era no restaurante de um chef com estrela Michelin. A reserva havia sido feita por Martha, a pedido de . A mulher, que trabalhava como assistente do diretor, às vezes obedecia ordens do presidente, quando se encontrava repleta de serviço para fazer. A assistente verdadeira, no entanto, nunca imaginava que Martha estivesse fazendo alguns serviços a pedido do chefe, apenas para passar uma imagem falsa à sede, nos Estados Unidos.
apoiou o braço no do chefe, quando este lhe deu a ordem, assim que saíram do carro. Lentamente, caminharam para dentro do restaurante, e foram conduzidos até uma mesa onde um homem já se encontrava sentado.
– Boa noite. – ele disse, em um inglês extremamente polido. Levantou-se para cumprimentar , e então olhou para . – Senhorita…
Ela olhou para , confusa, fingindo bem seu papel de uma ignorante na língua inglesa.
– Ela não fala em inglês?
– O básico. – responde em sua língua natal, sentando-se. – Não se preocupe, não irá nos atrapalhar.
Thadeo enviou um olhar para , que abriu um sorriso, como se aquilo fosse cumprir com o cumprimento que não pode fazer, por “não ter compreendido” o que o homem havia dito. Em resposta, recebeu um pequeno aceno de cabeça.
Os dois conversaram sobre amenidades. Mercado financeiro, as dificuldades que a empresa estava enfrentando no exterior, e as projeções para o próximo ano. Durante o diálogo, percebeu os olhares de Thadeo em sua direção. Ela dividia sua atenção entre fingir o papel que lhe havia sido atribuído, e guardar na memória tudo o que o assistente pessoal do presidente dizia.
– O senhor presidente tem muito interesse em ver o resultado de seu serviço aqui no Brasil. Como já mencionei antes, o prazo se finaliza no dia 1º de Janeiro.
– Bem, tenho certeza de que ele está muito satisfeito com minha performance. Fiz exatamente o que me pediu.
Thadeo olhou sério para , que manteve um pequeno sorriso no rosto. Em seguida, olhou para , que saboreava o resto de sua salada, enquanto deixava os dois conversando.
– Entretanto, acredito que ele tenha expressado a vontade de receber um feedback pessoalmente.
A boca de , que mastigava o alimento, parou. O homem olhou para o funcionário do pai, que o observava com curiosidade. olhou de um para o outro, sem saber exatamente como agir. Qual o problema de fazer uma ligação para o presidente?
– Temo dizer que não será possível. Eu confirmei com de que passaria o natal com ela e sua família. – sem avisá-la, pegou a mão da mulher, que estava apoiada à mesa de acordo com a etiqueta, e entrelaçou seus dedos, enviando-lhe um doce olhar. Ela imediatamente reagiu ao ato e também ao sorriso. – Irá me apresentar.
Thadeo ergueu uma sobrancelha e olhou para , que manteve o sorriso sem malícia. Ele não podia saber que ela entendia perfeitamente o que os dois conversavam, por isso, deixou um quê de confusão em seu olhar.
O homem, educado e discreto, limpou a boca com o canto do guardanapo de tecido e então respirou fundo, provavelmente arquitetando a resposta perfeita para o possível herdeiro à presidência.
– Seu irmão, Logan, também foi convocado. Com a noiva.
sentiu os dedos de apertarem os seus com a notícia.
– Noiva? Acho que não o parabenizei por essa… novidade.
O assistente pessoal do presidente abriu um pequeno sorriso, certo de que havia ganho aquela batalha. Olhou para mais uma vez, antes de dizer para :
– Acredito que será outra novidade para sua família, senhor, saber que está envolvido em um relacionamento sério.
Xeque-mate, pode ouvir claramente do homem, apesar dele não ter verbalizado. Thadeo havia colocado contra a parede, e agora era necessário uma dose grande de esperteza e jogo de cintura para contornar aquela situação.
– Algum problema? – ela perguntou ao chefe, fingindo estar alheia à luta travada entre os dois. a encarou e, sem perceber, acariciou a mão que segurava da mulher, com o polegar.
E então, soube: vinha problema por aí.
Talvez tenha sido os longos minutos de silêncio, que ela sabia que sempre vinha com alguma tempestade. Ou, quem sabe, a pequena curva que se formou no canto do lábio do homem, um sinal de que tudo estava ocorrendo da maneira que ele queria, o que pedia pela sequência do plano. E apesar de não saber o que exatamente o chefe estava tramando, tinha certeza que ela não sairia ilesa da situação.
– Acredito que exista passagens prontas – ele olha para Thadeo, que assente.
– Uma passagem, que pode ser resolvida sem problema – o homem olha para novamente, que sorri sem graça com a atenção dos dois dirigida a ela –, devo confirmar a presença do senhor?
– O que você acha, ? De ir para Nova Iorque?
Haja de acordo com o plano. Ela pode ouvir a boca dele dizer, apenas de olhá-los nos olhos. Fez uma expressão de surpresa e, conforme o chefe esperava, disse:
– Achei que passaríamos com a minha família.
– Surgiu um imprevisto – olhou para Thadeo, que se mantinha calado, aproveitando seu momento de silêncio para comer –, e terei de comparecer a um evento familiar. Adoraria que você fosse comigo.
Por que diabos estamos falando sobre o assunto em frente a um homem que mal fala minha língua? Ela quis perguntar a , mas, tão rápido veio a resposta, dizendo que, se ele estava falando com ela sobre o assunto, então talvez Thadeo estivesse, da mesma maneira que ela, fingindo ignorância sobre uma língua da qual não era a sua nativa.
– Acredito que serei recompensada por essa mudança de planos – ela tentou se desfazer do toque do homem, que a segurou com mais força, sorrindo.
– Farei questão de recompensá-la pessoalmente.
Ela hesitou por um segundo, fingindo pensar. A verdade era que queria responder um alto e sonoro NÃO, ao mesmo tempo que chorava de alegria por não ter que enfrentar o possivelmente pior natal em família de sua vida.
– Bem, então não vejo nenhum mal em mudar nossos planos.
– Ótimo. – ele disse, enviando-lhe uma piscadela, e voltou-se para Thadeo, que ao ver a atenção de , parou de comer. – Será necessário uma passagem extra.
– Perfeitamente. – ele retirou o celular do bolso e digitou algumas palavras. – A data para partida está marcada para o dia 20.
Foi necessário todo esforço do mundo para não se engasgar com a notícia. Dia 20 era em dois dias.
Ela era uma filha e neta morta.
– Eu não entendo o motivo de você se expor a esse tipo de trabalho escravo! – a mãe repetia a exclamação pela quinta vez.
Ao chegar em casa, avisou às amigas sobre a notícia, que celebraram uma vitória inexistente e iniciaram uma lista de coisas para ela trazer do exterior. A família, no entanto, reagiu de maneira totalmente oposta, com a mãe ligando, nervosa, plena meia-noite.
– Eu vou mandar os doces e os presentes, mãe. A Mari levará para mim quando voltar.
– Que chefe faz com que a funcionária perca o natal em família? Ele não tem uma família? Você explicou a ele quão importante é estar presente no nosso evento? Sua avó está quase tendo um infarto, , e eu também estou quase lá. Ninguém nunca faltou no natal, principalmente por um motivo pequeno como este! O que direi para suas tias– ah, suas tias! Elas tirarão sarro de mim! É isso o que você quer para sua mãe no natal? Que ela vire motivo de piada? Eu não esperava que você…
suspirou, olhando para seu reflexo no espelho. Estava, sim, chateada por não poder comparecer ao evento, mas a mãe estava tornando tudo um pouco mais fácil.
Ela amava sua família. Era unida, querida e divertida. Só tinham uma inclinação em achar que podiam mandar na vida dos filhos e netos, mas que família não tinha uma pessoa assim?
Só que ela estava cansada. Não queria ir para os Estados Unidos também, pelo menos não assim, a trabalho, repentinamente e com uma missão secreta que inclui se passar por namorada do próprio chefe. E a família parecia, como sempre, não entender. E disso ela também estava cansada. De sempre ser a vilã, apenas porque escolheu não se casar.
Ouviu calada a mãe falar por mais 40 minutos, até que ela lhe permitiu dizer algo:
– Mãe, a senhora me acha uma filha ruim?
– Que pergunta é essa? Eu não criei um monstro, oras. Não obedecer os pais, não a faz uma filha ruim. Não na sua idade, mas admito que tive minhas dúvidas quando você tinha 6 anos e adorava rolar morro abaixo no sítio da sua tia Ana Laura, quando eu insistia dizer para não fazer, porque era um trabalho enorme lavar tudo depois.
soltou uma risada nasalada, pois Ana Amélia conseguia, sempre, mudar o rumo da conversa em um piscar de olhos.
– Se você está feliz, minha filha, é o que importa para mim e seu pai.
Após mais meia-hora, desligou a ligação, aliviada por ter ouvido da mãe que não era o estorvo que achava que era. A terapeuta havia dito uma vez que, para as coisas começarem a melhorar, era necessário se comunicar. “Achar” era um erro cometido com frequência pelas pessoas, e que quase sempre levava a um desentendimento ou conflito.
Satisfeita, ela adormeceu quase 2 da manhã com o pensamento de que, após essa viagem, não havia jeito de não conseguir um cargo melhor que a assistente faz-de-tudo do chefe.
Manhattan era linda. Com seus prédios imponentes e as ruas parecendo espertamente organizadas, a ilha oferecia tudo o que uma pessoa poderia desejar. Com o esplendor ao seu redor, mal se lembrou do quanto estava desgostosa com a ideia de passar os próximos dias naquele lugar.
– É sua primeira viagem ao exterior – disse, sentado ao seu lado no banco de trás do carro que “Marta” havia contratado para buscá-los no aeroporto.
– Sim! – ela disse, sorridente.
– Não foi uma pergunta.
Ela diminuiu o sorriso um pouco, sem graça por ter se esquecido de que estava ali a trabalho, e que a pessoa que estava ao seu lado era, além da causa da viagem, seu chefe.
Limpou a garganta e voltou a se sentar polidamente.
– Desculpe, senhor.
Ela o observou encará-la com uma das sobrancelhas erguidas. Sentiu-se mal. Ele nunca havia a encarado com uma das sobrancelhas erguidas. Geralmente, aquele ato significava que ela havia cometido um erro, apesar de não grave, ainda um erro que ele gostaria que não se repetisse.
Mas, o que ouviu em seguida, a fez-se questionar se os mesmos sinais que ele usava com outras pessoas, valeriam para ela:
– Eu acho – ele começou a dizer, abaixando o tablet e pousando-o no próprio colo –, que devemos nos falar com menos casualidade. Quero dizer, você deve falar.
– A-ah… – ela gaguejou, sentindo-se extremamente desconfortável. – É-é possível que…
– O possível é que você possa ser pega me tratando como um superior sem nem ao menos perceber. – ele disse, a sobrancelha voltando a se erguer. – E isso, sim, será um problema.
– Claro. Entendi. – ela disse rapidamente, uma maneira que encontrou de fazê-lo parar de pensar em seus erros de uma vez. Trabalhando com , viu que, quanto mais o homem pensava em um assunto, mais criativo ele ficava, seja criando um novo esquema, ou querendo prejudicar outra pessoa. – Então… – ela limpou a garganta –, qual o plano?
– Mantenha-se calada o máximo que conseguir. – ele disse, voltando sua atenção ao tablet. – Minha família, como deve imaginar, é muito inteligente. Conseguirão captar qualquer mínimo deslize que cometermos. Basta fingir-se ignorante o tempo todo. Eles tentarão te testar, como Thadeo fez.
A mulher assentiu, nervosa, pensando no quanto aquilo poderia ser perigoso. A empresa de , no Brasil, era uma das mais promissoras do mercado, o que tornava atrativo tê-la no currículo, mas uma mancha permanente neste, caso se torne algo negativo.
– Iremos nos hospedar em meu apartamento. – voltou a falar. – Para não levantar suspeitas. Haverá um quarto para você, mas caso aconteça alguma visita, teremos que fingir que estamos dormindo juntos.
– Sim, senh… sim. – ela corrigiu-se rapidamente ao vê-lo olhá-la de canto.
– Tirando a agenda dos encontros com minha família, você terá todo o resto do tempo livre para fazer o que quiser. – ele finalmente olhou para ela. – Aproveite para passear.
– Obrigada.
Aquilo, sim, havia sido uma ótima notícia. Havia prometido à mãe e às amigas que voltaria com as malas cheias de presentes e itens de suas listas de pedidos. Além disso, era Nova Iorque e bem na época do Natal, portanto, havia centenas de lugares que gostaria de visitar a passeio. Ter o tempo livre significava poder tirar, finalmente, depois de anos, um tempo para si mesma.
– Algum deles fala português? – ela perguntou. – Sei que não irei falar nada sobre qualquer coisa, mas se for obrigada a fingir algo, seria melhor que soubesse se alguém fala a língua.
olhou para cima, pensativo.
– Todos falam espanhol. Logan, meu irmão, com certeza entende um pouco do português.
entortou a boca e olhou para a paisagem afora. Não seria fácil, com certeza. Se a família era ligeira como , ela sabia que estava entrando em um ninho de cobras.
Mas havia convivido com o chefe durante dois anos inteiros. Podia lidar com mais esse obstáculo que, com muita sorte e merecimento, seria o último até que ela fosse finalmente uma funcionária de alta patente, com um salário melhor e uma vida como a das mulheres nos filmes americanos.
E nada como começar a se inspirar em seu futuro, vivendo o presente no lugar ideal: Nova Iorque.
Capítulo 3
O apartamento de não era nada como ela esperava.
Sabia que não podia esperar nada diferente da cobertura que ele morava em São Paulo, no Jardins, bairro nobre da cidade. No entanto, percebeu que a família era muito mais do que rica. Eles eram podres de rico.
A porta fora aberta por um funcionário perfeitamente uniformizado, com quepe e luva. Cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso polido no rosto. Enquanto abria um sorriso de agradecimento ao homem, passou por ele, dizendo para entregar as malas em sua residência.
Será que ela deveria agir da mesma maneira? Chegou a pensar, mas decidiu que não. Fingir ser a namorada do chefe não significava que ela era uma rica esnobe. Além do mais, a família provavelmente sabia que ela era uma funcionária da empresa, portanto, poderia dizer que veio de família humilde.
O hall da residência era todo em mármore e tão enorme – e vazio -, que ela se perguntou quantos residentes haveriam ali. Mais funcionários surgiram para comprimentar , que passou reto por todos e seguiu para o elevador com a mão nas costas de . Ele havia mencionado que deveriam se tratar como amantes no condomínio, pois haviam conhecidos morando no mesmo prédio e, pior, seus funcionários poderiam ser facilmente comprados para espiarem os dois.
A mulher viu-se cansada em ter que pensar em todos esses detalhes. A vida de uma pessoa rica, possível herdeira de um império e com inimigos a derrotar não era nada fácil. Agradeceu por ser uma simples funcionária, mesmo que estivesse envolvida em todo aquele drama.
A cobertura era um duplex que ocupava a extensão toda do prédio. Havia, inclusive, um elevador pessoal para os moradores – no caso, somente -, da residência. olhou o painel de botões, que consistiam em apenas 4: térreo, cobertura, garagem e emergência. Acabou se perguntando quantas vezes aquele elevador fora utilizado nos últimos dois anos, já que veio para Nova Iorque não mais que duas vezes durante o tempo, e a trabalho.
– A senha é a mesma da minha residência de São Paulo – ele disse, digitando-a em um painel numerado. apenas assentiu, pois sabia de cor o número. Estava mais interessada no ambiente que surgiria após a abertura das portas do elevador.
Ambiente que foi de tirar o fôlego.
Talvez o hall de entrada, junto do escritório que se localizava à primeira porta no lado esquerdo de quem entrava, fosse exatamente do tamanho do apartamento em que dividia com suas três amigas. Havia ainda uma sala de inverno, com uma lareira digital, a sala de jantar, a de estar, uma varanda gourmet, uma cozinha com quarto de empregada, despensa e adega, e uma escada com degraus iluminados que levavam ao segundo andar, onde cinco suítes, uma sala de descanso e uma pequena, mas bem equipada copa preenchiam o local.
jamais imaginaria que houvesse uma mansão dentro de um apartamento. O nível de cobertura em Nova Iorque realmente era surreal.
– Seu quarto é o mais próximo da escada. – ele disse, enquanto subia para o segundo andar, acompanhado de . – Tenho um chef que vem todos os dias, e um funcionário de limpeza que vem nos dias ímpares. Eles não subirão para o segundo andar, enquanto estivermos aqui. Nos seus dias livres, você terá que descer junto comigo.
– Sim.
– Eles apenas falam em inglês. Caso tenha que responder alguma chamada na língua, vá para a varanda e feche a porta, ela é anti-som.
Ele abriu a porta do quarto que ela se hospedaria. abriu a boca, assustada com a beleza do ambiente. Apesar de não ser grande quanto ao resto da casa, ainda assim era três vezes maior que o quarto dela em São Paulo. Uma cama king size, uma mesa de escrivaninha, duas poltronas no canto ao lado de uma janela enorme, com uma vista incrível do Central Park. O banheiro era completo e possuía um pequeno closet.
Como seria viver naquele luxo todos os dias? Não era à toa que as pessoas ricas sempre se esforçavam em continuarem ricas. Ela mesma não iria querer deixar aquele lugar, para viver em algo menos.
– Temos um jantar de boas-vindas às oito. Sairemos sete e meia. É um casual chique.
– Sim.
– Receba nossas malas. – ele retirou uma nota de vinte da carteira e deu para ela. – Para o funcionário.
– Sim senhor. Precisa que suas malas sejam desfeitas…
– O funcionário fará tudo amanhã. Inclusive – ele olhou para ela –, deixe sua mala em meu quarto essa noite.
– Ah. Claro.
olhou para ela por um tempo e então mexeu a cabeça, como se tivesse dito algo para si mesmo. Em seguida, deixou o quarto, seguido para a última porta do corredor, provavelmente a suíte dele.
Ela aproveitou para olhar o quarto mais um pouco. Parecia ter saído de um catálogo de revista de design de interiores. Sentou-se na cama e quase quis deitar ali mesmo e não sair mais. Mas levantou em um pulo ao ouvir o som da campainha. Devia ser o funcionário com as malas.
Suspirou. Estava ali a trabalho, e não a passeio, lembrou-se.
Olhou tristemente para a cama e se afastou, seguido para o primeiro andar, em direção à porta de serviço, onde um homem uniformizado aguardava com as malas dos dois.
A residência dos , ao contrário do que imaginava, não ficava em Manhattan, mas sim em uma vila de luxo localizada a pouco mais de 2h da ilha, nos Hamptons. Cenário de filmes e seriados, ela reconheceu o nome e se viu deslumbrada por, ao invés de pegar o carro conforme esperava, ir ao local de helicóptero.
Nova Iorque era linda vista de cima. Sabia que era uma visão privilegiada e não pensou em seu disfarce quando murmurou, animada, enquanto o piloto fazia uma volta pela ilha, que começava a se mostrar iluminada, devido ao início da noite. Pouco menos de uma hora, ela recebia a ajuda de um funcionário para descer do automóvel, caminhando em cima de seu salto alto, agradecendo por não ter optado por um vestido, mas sim um conjunto social simples, mas muito fino. Viu o olhar do chefe avaliá-la assim que desceu as escadas para o primeiro andar da cobertura, onde ele falava com alguém ao telefone. Desviou o olhar, desinteressado, assim que aprovou o look da mulher.
Como se eu não soubesse me vestir. Ela pensou, mau humorada.
Era uma mansão. Até então, nunca havia visto uma. Deveria ter mais do que seis quartos. Talvez fosse como as mansões das Kardashians, com sua própria área de entretenimento e SPA.
Enquanto fazia o caminho do heliporto até a sala de estar, percebeu que a família era a favor da frase “o menos é mais”. Sentiu a ausência de móveis e os largos corredores claros e bem iluminados. Era até um pouco intimidador. A primeira coisa que ela pensou ao entrar no corredor que ligava a porta de conexão com a área externa e a sala de estar, foi que deveria se esconder, entretanto, essa era a única coisa que não conseguiria fazer naquele lugar, ainda que “se perder” fosse uma opção.
, no meio do caminho, segurou-lhe a mão, em um sinal de que o disfarce começava ali. corrigiu a postura, que já estava ereta, e caminhou ao lado do chefe, olhando deslumbrada ao seu redor.
– ! – a voz de uma mulher soou assim que os dois apareceram na sala de estar.
Pelo que sabia, a mãe de beirava os 65, mas não aparentava ter mais que 50. Esbelta, alta e com cabelo e a maquiagem bem feitos, ela se levantou para cumprimentar o filho, que soltou a mão da companheira para retribuir o abraço.
– Mãe – ele lhe deu um beijo na bochecha, e então se afastou, abrindo espaço para que a mulher visse sua acompanhante –, esta é .
– Oh! Ouvi dizer que você estava namorando, que encantador.
E apesar do tom simpático em sua voz, os olhos avaliavam a mais nova da cabeça aos pés. Assim como o filho, pareceu aprovar o visual.
– Seja bem-vinda, . – ela disse, erguendo os braços para cumprimentá-la.
– Er… obrigada. – a mais nova respondeu, mostrando dificuldade e extremamente sem graça, o que surpreendeu a mãe, que olhou para o filho.
– Ela não fala inglês?
– Está aprendendo. – ele diz rapidamente. – Mas não. Não fala muito.
esforçou-se em abrir um pequeno sorriso como pedido de desculpa. A notícia, era claro, não agradou a mãe, que diminuiu o sorriso, mas manteve a postura, pelo bem de seu papel como anfitriã.
– . – a voz grossa do homem que não se levantara como a esposa, soou.
– Pai.
– Você e o seu irmão vieram com novidades para casa.
Os olhos de se viraram para o homem que estava sentado ao lado do pai. Somente após tal ato, que se permitiu seguir o olhar, como se apenas tivesse o feito porque fora o ato do “namorado”.
Eram idênticos, ela concluiu. Gêmeos. Os mesmos olhos amendoados, o mesmo rosto com traços bem definidos e até o mesmo corte de cabelo. Logan se levantou, mostrando que era ligeiramente mais baixo que o irmão mais novo. A mulher ao seu lado, que dividia o sofá com ele, também se ergueu com um sorriso presunçoso.
– Irmão. – Logan disse.
– Logan. – lhe respondeu.
Era quase possível ver as faíscas entre os dois olhares. , por outro lado, manteve seu olhar levemente ansioso, como se esperasse o momento em que seria apresentada novamente e tivesse que arriscar treinar seu péssimo inglês. Estava começando a se surpreender com sua atuação. Deveria acrescentar no currículo – Atriz novata.
– Ouvi dizer que você está mantendo bem os negócios no Brasil. – Logan olhou para , que, apesar e não precisar, sentiu-se sem graça. – Inspirado, eu vejo.
– Você, por outro lado, esforçou-se em não perder o contato com nossa cidade natal.
Os sorrisos poderiam congelar qualquer pessoa. olhou para o patriarca, que mantinha um pequeno sorriso no rosto, mostrando claramente o quanto gostava de ver os dois filhos competindo entre si.
A mãe, por outro lado, ficara calada, esperando que a pequena guerra entre os dois acabasse.
– Esta é Coraline. – Logan colocou a mão na cintura da mulher que aguardava pacientemente seu momento. – Cora, esse é meu irmão mais novo, . E ela… , não é mesmo?
não se deu o trabalho de falar nada além de um “muito prazer”. Era esperado que ela soubesse o básico; estava conhecendo a família do namorado E chefe, portanto, mesmo que não soubesse nada de inglês, um cumprimento era o mínimo.
– Cora é advogada na Barks. Nos conhecemos na China, quando ela nos defendia contra um produtor no ano passado. – Logan olhou para a mulher, que lhe sorriu de volta e estendeu uma mão para .
– É um prazer conhecê-lo, . Seu irmão me falou um pouco sobre você, que tem feito um bom trabalho na América Latina. É um lugar difícil para se trabalhar, não?
– Em questão de oportunidade, não vi muita dificuldade – respondeu educadamente, vendo a mulher abrir um pequeno sorriso em resposta.
– E sua acompanhante? O que ela faz? – a mãe pergunta a , olhando para , que engole seco. Não havia gostado de Coraline, que deu a entender que o Brasil era um país de segundo mundo. Apesar de não ser uma mentira, ninguém gostava de ouvir aquela verdade de um extrangeiro. Talvez ela nunca nem tenha ido para o Brasil. Além do mais, se a havia aberto um negócio lá, então eles possuíam, sim, muito potencial.
Mas ela apenas sorriu sem graça e olhou para , que segurou-lhe a mão, mostrando que a confortava na frente da família.
– trabalha na empresa. É uma ótima funcionária.
– Funcionária? – a mãe o encarou, séria. – Você está namorando uma funcionária?
– Nossa empresa não possui nenhuma lei que impede o presidente de namorar uma funcionária. Além do mais, ela sabe muito bem separar uma coisa, da outra.
– Ainda assim…
– Deixe-o, Amanda. – a voz do patriarca surgiu à conversa. – Se diz que está tudo certo, então devemos confiar nele, afinal – o homem olhou para o filho –, ele mostrou o desempenho esperado.
Logan se mostrou perturbado com o posicionamento do pai. Sentou-se com Coraline ao lado, enquanto ocupara o sofá mais afastado da família com .
Seria uma longa e exaustiva noite.
O jantar não mostrou a verdadeira intenção do presidente em querer acompanhar mais de perto o comportamento dos filhos. Logan disse que sua intenção já era voltar antes do prazo, já que a empresa na China havia sido deixada em tal forma que conseguiria se manter em andamento sozinho até que o próximo presidente fosse anunciado, na primeira semana de janeiro.
, por outro lado, disse que gostaria de voltar ao Brasil. Apesar de sua presença lá não fazer diferença para o resultado que queria mostrar ao pai, ele deu a entender que sua vontade se devia à . O ato de carinho entre os dois à mesa, quando, após confirmar seu retorno ao país, segurou a mão da namorada, não foi vista com orgulho pelo restante da família.
Talvez eles quisessem que se casasse com alguma herdeira, chegou a cogitar. Observou todos os pontos possíveis da casa, além de guardar qualquer informação que pudesse ser utilizada mais tarde, no entanto, a pedido da mãe, o jantar não foi alvo de conversas sobre negócios. A família falou sobre os planos para a véspera do natal, que aconteceria em três dias.
O dia seguinte haveria um jantar beneficente muito importante. A família era sempre os convidados de honra, devido à grande quantidade de dinheiro que costumavam doar no evento. Para ele, a mãe de , Amanda, disse que pediria à personal shopper que enviasse alguns vestidos para a residência do filho no dia seguinte, afinal, era um jantar de gala e eles não deveriam passar vergonha com uma mulher fora do código de vestimenta. não expressou reação, por não poder demonstrar que entendia perfeitamente o que eles falavam, mas, dentro de si, queria saber se aquele gasto estava dentro do plano, pois acreditava não poder arcar com uma despesa dessa. , por outro lado, concordou, sem se preocupar em explicar para a namorada o que havia sido decidido em seu lugar.
Após o jantar, pode passear pela área comum da residência, enquanto Coraline atendia um atendimento de negócio pelo celular, Amanda dava orientações à governanta e os irmãos se reuniam com o pai em seu escritório. Por haver a barreira com a língua, nenhum mostrou-se interessado em ser um ótimo anfitrião para , que preferiu assim. Pode caminhar livremente pela casa, observando as estátuas e quadros que preenchiam o ambiente vazio.
Teve a sensação de que, apesar de aquele ser o lar de alguém, não passava a sensação de ser, verdadeiramente, um lar. Suspirou, pensando o que o chefe da família poderia estar armando. Ela achava errado colocar os próprios filhos um contra o outro, apenas pelo bem da empresa; no entanto, sabia que era assim que as coisas funcionavam nas famílias nobres. Casamentos por conveniência, apesar de não ser apoiado pela sociedade, ainda acontecia, sob uma manta falsa de felicidade. Havia os golpes e os sorrisos maliciosos de quem estava prestes a atacar a conta bancária do outro. Entendia que, para eles, a quantidade de dígitos na conta era prova o suficiente de superioridade sobre o outro.
Esperava encontrar ao menos uma foto da família. Achava que os ricos gostavam de exibir uma família feliz, seja com uma foto ou um quadro. Mas, pelo jeito, não os . Durante o passeio de vinte minutos pelos aposentos do primeiro andar, pode observar peças de arte e móveis em tons sóbrios. não desejou morar ali, por mais que o pensamento tenha lhe passado à cabeça enquanto o helicóptero pousava.
De volta à sala de estar, onde todos já estavam novamente se acomodando, ela pode observar a maneira como eles se organizavam. Pareciam confortáveis em se manterem afastados uns dos outros, inclusive os casais. Os pais sentavam em poltronas, enquanto o irmão mais velho e sua noiva dividiam um sofá, mas permaneceram sentados cada um em um extremo. Sabendo que não faria diferença para nenhum, mas que para poderia, sim, fazer, ela caminhou até , sentando bem ao seu lado, enquanto enlaçava um braço ao seu e sentia a mão do homem apoiar em seu joelho, quando ela cruzou a perna. Permaneceu calada o tempo todo, esforçando-se em não mostrar que estava avaliando cada um ali.
– O jantar na véspera de natal será na residência de sua avó. – Robert, o pai, disse, após terminar de falar sobre algumas estatísticas e previsões do próximo ano para a filial do Brasil. – Ela insiste em oferecer a ceia para nós, então não pude recusar.
– Vovó sempre foi uma mulher que se preocupa com a família. – Logan diz, mostrando-se frio e pouco disposto a passar a data com a própria família. – Mas, além de Cora, voltei por vocês.
Cabeças se voltaram na direção de e . A mulher olhou para o chefe, que aguardou sua vez de se pronunciar.
– Vim com o único propósito de encontrá-los.
– Ótimo. – Robert disse, aceitando a bebida que o funcionário lhe entregava. – Não é preciso levar nada, Amanda providenciará tudo.
A conversa rendeu apenas 30 minutos, com Amanda dizendo que precisava ir cedo para a cama, uma orientação médica após um procedimento estético. Nenhum dos integrantes se opôs em ter de ir embora.
– Seria mais conveniente que sua companheira falasse a língua, assim ela e Cora poderiam se conhecer melhor. – a voz de Logan surgiu após a saída dos pais. A noiva havia dito precisar ir ao toalete e o irmão mais velho não pareceu se preocupar em provocar o mais novo assim que a oportunidade aparecera.
– Sua noiva não é tão inteligente? Soube que a Barks é a sociedade que mais possui clientes do Brasil. O mínimo que poderia se esperar de um profissional deles, é que soubesse a língua de seus clientes.
Um pequeno sorriso surgiu no rosto dos dois, enquanto olhava de um para o outro, perdida. Eles estavam brigando ou somente se provocando? Era uma diversão ou realmente havia uma segunda intenção?
A conversa, no entanto, se limitou a apenas aquela troca de palavras. Logan e Coraline se dirigiram para a porta, já que estavam hospedados na mansão do mais velho, a poucos quilômetros dali. Já e voltaram para o heliporto, para voltarem a Manhattan.
– Descobriu alguma coisa? – perguntou a , que negou com a cabeça. – Logan não parece tão melhor do que eu.
– Talvez seu pai esteja tentando atiçá-los, para ver como se saem frente a frente.
abriu um pequeno sorriso, como se já soubesse daquilo. Massageou o queixo com a barba feita e olhou para o céu negro ao seu redor.
– O que achou? – perguntou, olhando afora.
o encarou, surpresa com a pergunta, mas decidiu não demorar-se a responder.
– São… perfeitos.
Ele soltou um riso nasal.
– Perfeitos… – murmurou. – É exatamente a palavra.
Ela o observou perder-se em pensamentos. era um homem muito belo. Destes que parecia ter sido feito em um Photoshop. O fato de se preocupar com a própria saúde, o fazia estar sempre se exercitando e tendo uma alimentação regrada. Na empresa, ele era uma verdadeira sensação, mesmo com a personalidade fria.
Voltou o olhar para a paisagem, deixando o chefe para lá. Imaginar qualquer envolvimento com ele era errado, além de que, na opinião dela, após conviver com o homem pelos últimos dois anos, viu-se imune aos charmes que outras mulheres achavam irresistível. , definitivamente, não era o seu tipo de homem.
Pelo menos era o que ela achava.
Capítulo 4
Eram 8 em ponto quando se sentou para comer o café da manhã junto de . Como ele havia dito, o funcionário de limpeza e o chef de cozinha já estavam no apartamento, limpando e fazendo com que o aroma da refeição passeasse livremente pelo primeiro andar.
Ela havia acordado uma hora antes e arrumado todo o quarto de hóspedes, para que não fosse possível saber que alguém havia passado a noite ali. Ao ouvir uma batida na porta, saiu, pronta. fez sinal para que ela deixasse as coisas dela em seu quarto, enquanto ele fazia uma ligação ainda no andar de cima.
O quarto do chefe parecia um apartamento dentro de outro. Apesar de não haver cozinha, havia um pequeno bar logo ao lado da porta. Uma área de descanso, com um sofá e duas poltronas, a cama logo ao centro, encostada à parede oposta da entrada. Duas portas, uma dupla e uma simples, provavelmente de seu closet e banheiro.
– Deixe os produtos de higiene no banheiro. – ele diz.
não deixou de pensar o quanto receber aquela herança era importante para ele, para permitir que uma funcionária agisse como se fosse a próxima dona do local.
Pediu licença e entrou no banheiro, onde um box em que caberia facilmente, e sem brincadeira, uma enorme banheira de jacuzzi. Qual seria a finalidade de um box tão grande? Ela jamais saberia. Viu uma enorme banheira, que provavelmente nunca havia sido usada, e uma bancada enorme de mármore com duas pias. Porém, o que mais encantou no local, foi a imensa parede de vidro com a vista para o Central Park. Era absolutamente de tirar o fôlego e ela conseguiu se imaginar tomando um banho de rosas naquela banheira, lendo um livro, bebendo um vinho e observando o parque em sua beleza arquitetada. Sem perceber, suspirou.
– Darei a ordem para que suas malas não sejam desfeitas. Será mais fácil para você transportá-la nos dias ímpares. – disse no quarto, tirando de seu transe.
– Sim. – ela respondeu, apressando-se para voltar. – Tenho o dia livre hoje?
– A manhã e o início da tarde. – ele olhou em seu relógio. – Vou aproveitar para resolver alguns negócios que tenho na cidade. Os vestidos chegarão às quatro, é melhor que esteja aqui, para qualquer correção que precise fazer antes do evento.
– Claro, sem problema.
Sem dizer mais nada, os dois desceram para o café da manhã. A mesa, posta como nos filmes, deixou de bom humor. Havia uma manhã inteira somente sua. Já havia decidido que visitaria alguns pontos turísticos, a começar pela biblioteca nacional e o parque que havia logo atrás dele, com uma feira de natal famosa.
O lugar era mais incrível do que ela imaginava. Estava cheio, devido à quantidade de turistas, mas por estar sozinha, conseguia fazer tudo em seu próprio tempo. Achou a biblioteca menor do que nas fotos, mas não por isso era menos bela, muito pelo contrário. Podia entender por que aquela era uma das bibliotecas mais lindas do mundo.
Atrás, a feira de natal corria. Sorriu e decidiu observar as pessoas se divertirem no ringue de patinação montado. Crianças e adultos gargalhavam dentro e fora do ringue. Ela comprou um cinnamon roll e um chocolate quente, e se sentou em uma mesa próxima ao ringue. Tirou algumas fotos em seu celular e enviou para as amigas, que logo responderam com emojis, expressando a inveja de , por ela passar o natal na ilha.
– Com licença – ouviu um pouco atrás de si, virando-se para o dono da voz. Abriu a boca ao ver um homem alto, com um belo sorriso e um olhar calmo –, o lugar está vago? – apontou para a cadeira disponível.
– Sim, fique à vontade.
Mantendo o sorriso, ele depositou o livro na mesa e se acomodou.
– É uma época cheia. – ele disse. – Mas muito boa para se misturar às pessoas.
retribuiu o sorriso, feliz por ter alguém com quem conversar.
– Sim, principalmente quando se está sozinha.
– Meu nome é Daniel. – ele estendeu a mão, que ela apertou em um cumprimento.
– .
– E o que faz sozinha em Nova Iorque em plena época de natal, ?
– Trabalho. – ela sorri. – Hoje é meu primeiro dia livre, quero dizer, manhã livre. – ela deveria estar falando isso para um estranho?
Daniel abriu um sorriso simpático. Esse era o problema. Ele parecia confiável. Um cara divertido no meio de Manhattan, aquilo, sim, parecia uma sorte de filme americano.
– Que ótima maneira de gastá-lo. Se você gostar de comida japonesa, há um pequeno empório atravessando a rua em frente à biblioteca, no lado direito.
– Uau, eu realmente estava afim de uma comida japonesa! – ela disse, animada. – Você lê pensamentos?
– Sou péssimo nisso, na verdade, mas é o que eu gostaria de comer em meu primeiro dia livre.
– Você é daqui?
– De nascença. – disse, parecendo até orgulhoso com o fato.
– Então acho que posso confiar na sua indicação. – ela brinca, ouvindo-o rir. – E o que você faz, local?
Ele balança um livro.
– Sou autor.
arregala os olhos.
– Mesmo? Esse livro é seu?
– Este? – ele olha para o objeto. – Não, estou pesquisando.
– Ah, e o que você escreve?
– Em sua maioria, fantasia.
– Uau. Estou impressionada. Encontrar um nova-iorquino, autor, atrás da biblioteca nacional. – ela sorriu. – Acho que estou de parabéns.
Daniel riu.
– E você? De onde é?
– Brasil.
– Brasil? – surpreendeu-se, arrastando sua cadeira para mais perto. – Acho que se tem alguém que está de parabéns aqui, essa pessoa sou eu. Nunca conheci uma brasileira antes.
– O que é uma novidade – ela aponta para ele –, todos que saem do país, nos chamam de praga, pois nos encontram em todo lugar.
– Bem, você é minha primeira. – ele sorri. – E se são praga como dizem, devo ter sido bastante azarado, já que nunca conheci nenhuma outra pessoa.
Daniel se mostrou muito mais divertido do que ela esperava de um autor. Durante uma hora inteira, os dois conversaram sobre tudo: a vida em Nova Iorque, a vida em São Paulo, a diferença entre as duas cidades, o que fazem no tempo livre, lugares que gostariam de visitar, rumores dos países do outro que haviam ouvido.
– Nossa, já é hora do almoço. – ela diz, olhando para o relógio e vendo-o quase marcar meio dia e meia. – Acho que vou aceitar sua sugestão e arriscar um japonês.
– Importa-se de eu acompanhá-la? – ele sorri, levantando-se junto. – Minhas duas opções é: ler sozinho ou saber mais sobre uma brasileira trabalhando em Nova Iorque.
– De fato, parece que sou um evento bem mais interessante.
Em resposta, ele lhe enviou uma piscadela, ajudando-a a sair da multidão.
Daniel era um autor de livros famosos ali nos Estados Unidos. Suas obras haviam permanecido por várias semanas na lista de mais lidos do New York Times, tão importante que até o brasileiro reconhecia o nome. Ele contou mais sobre como iniciou sua carreira, durante sua vida universitária, quando cursava Engenharia em uma instituição local. Foi descoberto por um agente após postar seus textos na internet, e logo fechou contrato com uma editora de grande porte, o tornando um autor profissional, com ganho o suficiente para se manter na ilha. Apesar da fama, gostava da tranquilidade e se ver no meio da multidão, ainda que estivesse sozinho.
– É mais fácil pensar. – ele diz, após terminar de mastigar o almoço.
– E como funciona o processo de criação? Você cria um personagem e então um mundo para ele?
– Hum… – ele olha para cima. – Vamos supor que eu conheça você e crie uma personagem com os olhos em um tom avelã, os lábios cheios e a pele que fizesse lembrar da primavera. – a encara, sereno, enquanto ela era mais uma vez se surpreendia com o homem.
– Ela seria a heroína?
– Não sei… – Daniel diz em tom pensativo, mas sorrindo, o que a fez entender que a decisão cabia a ela.
– Sempre quis ser mais a vilã. Acho que me identifico melhor com elas.
– É mesmo? E por quê?
Ela ergue os ombros.
– Acho que ouvi muito das pessoas ao meu redor sobre como estou acabando com a minha vida e tudo mais. Nunca me senti culpada por não fazer o que os outros esperam de mim, mas, de alguma forma, acho que isso é coisa de vilão.
– Muito pelo contrário – Daniel balança o dedo indicador no espaço entre os dois –, é isso o que a faz uma heroína. Ninguém chegou ao inesperado fazendo o que todo mundo espera.
ficou olhando para Daniel e, só quando olhou para o celular, que apitava o alarme programado, que ela foi perceber que estava sorrindo.
– Tenho de ir. O dever chama – ela balança o celular já com o alarme desativando.
– Que pena – ele disse, tirando a carteira da bolsa que carregava, entregando um cartão para ela –, se você precisar de um guia para te entreter, esse é meu número.
Ela pegou o cartão, vendo rapidamente o nome de Daniel estampado em caixa alta.
DANIEL HARRIS
Consultoria empresarial.
– Consultoria? – ela ergueu uma sobrancelha.
– Nas horas vagas – ele sorri, levantando-se com ela –, é meu hobby.
– Ser consultor é seu hobby e autor sua profissão primária? – perguntou com um riso pronto para sair de sua boca. Daniel continuou com seu sorriso no rosto e, como não houve resposta, ela entendeu como uma afirmação. – Bem… então até mais, Daniel Harris.
– Até mais, . – respondeu, abrindo a porta do empório para ela sair na frente.
Em passos apressados, foi embora primeiro, pensando no quão sortuda havia sido ao encontrar um cara legal. Será que ligava para ele?
– A senhora informou que era possível que fossem necessários alguns ajustes, mas tudo coube perfeitamente. – Olivia, a personal shopper que Amanda havia enviado para , disse, após fazê-la experimentar cerca de 12 vestidos diferentes. – Se eu soubesse que o corpo dela tinha proporções tão boas, jamais teria trazido essa gama de peças, torna tudo mais difícil para ser decidido.
– Ela irá com o vermelho – apontou para o segundo vestido da lista. Não havia expressado, mas também estava surpreso com o perfil de . Até então, nunca havia dado atenção ao porte físico da assistente, mas, por ter sido obrigado a comparecer na decisão da peça, não pode evitar perceber que ela estava em forma.
A decisão pelo vermelho se devia ao fato de que poucas mulheres ficavam bonitas com a cor, em um vestido de gala. Além disso, a roupa possuía uma fenda que valorizava as pernas da mulher e que ele poderia tirar bom proveito da situação com sua família. Coraline com certeza estaria de preto; era o que advogadas da Barks costumavam usar, soube.
, por outro lado, ergueu uma sobrancelha. Havia gostado bastante do vermelho, mas não o achava adequado como a roupa que usaria no primeiro evento que seria apresentada como namorada do chefe. Suspirou ao vê-lo voltar o olhar para o tablet e o celular, onde trabalhava mais um pouco. Havia perguntado ao homem mais cedo, se havia algo que ele gostaria que ela fizesse com relação ao serviço, mas ele lhe respondeu que ela já estava fazendo. Achou gentil da parte dele não lhe dar coisa para fazer durante a viagem, mas, mesmo assim, a fim de mostrar serviço, mandou alguns e-mails enquanto esperava Olivia chegar com as roupas.
A cabeleireira e maquiadora chegaram meia-hora depois da saída de Olivia. já havia tomado banho e, enquanto se observava no espelho as duas fazerem a magia, pensou em como ela estava parecendo Julia Roberts em Uma Linda Mulher, com a diferença de que ela não era uma prostituta. Olhou de canto para , ainda com o terno do dia, falando ao telefone próximo à parede de vidro no lado oposto do quarto. Mantinha a mão livre no bolso. Era, sim, uma bela visão, ela pensou.
– Acho que não preciso fazer mais do que isso. – a cabeleireira disse, ao mesmo tempo que a maquiadora informou que havia terminado. Os cabelos estavam presos em um coque elegante, e a maquiagem, o mais discreto possível.
entrou no banheiro e, sem esperar que as duas profissionais saíssem, surgiu com uma caixa de veludo.
– Acredito que vá precisar, para usar com o vestido.
A reação, no entanto, veio das mulheres que haviam preparado-a. Se aproximaram para verem o conjunto de colar e brincos de brilhante que o homem havia trazido.
abriu um pequeno sorriso, olhando-o pelo reflexo do espelho.
– São lindos.
Ele mesmo colocou as peças, ouvindo as mulheres imediatamente elogiarem o visual final da mulher. sorriu educadamente e agradeceu. Em seguida, as dispensou.
– O que está fazendo? – ele perguntou, ao voltar para o quarto e vê-la retirando os brincos, após o colar ter sido cuidadosamente colocado de volta à caixa.
– Não é para eu devolver?
– É claro que não. – ele a encarou, como se ela fosse louca. – Você vai aparecer no evento com o colo nu?
Ela olhou para a parte do corpo mencionada e limpou a garganta.
– É emprestada, as marcas fazem isso em eventos como este. – ele disse, passando por ela e entrando no closet. – Apenas cuide para que elas não se percam.
– Sim senhor.
Suspirou, deliciada com a ideia de parecer uma princesa, ao mesmo tempo que se encontrava assustada com a ideia de carregar tanto valor em seu corpo. Principalmente um valor que não poderia pagar, poderia custar o seu emprego e que era para as outras pessoas invejarem.
O evento era muito maior do que ela imaginava. Deveria haver milhares de pessoas no local, luxuosamente decorado com ornamentos dourados, uma associação à riqueza daquelas pessoas, e, de quebra, também ao natal.
e estavam sentados à mesa principal junto do restante da família . Ela havia sido apresentada a diversas pessoas importante, mas, como parte do papel que interpretava, apenas sorriu e respondeu com um breve aceno. quem fazia o restante.
– Vou ao toalete. – olhou para o chefe, que assentiu, vendo-a se afastar em direção ao banheiro.
A decoração era incrível. Os comes e bebes também. Alimentos, inclusive, que ela só pode experimentar a caminho do banheiro, já que a família não tocara no prato servido e, se eles não fizeram, ela também não faria.
Respirou fundo e, antes de chegar no banheiro feminino, encostou-se em uma parede mais escondida, para que pudesse olhar o celular. Estava cansada de fingir a burra, enquanto ouvia as mulheres atrás de si falando mal dela.
– E por que diabos eu fingiria uma gravidez? – ouviu próxima a si, logo virando a esquina de onde estava. – Você não acha que está indo longe demais?
Reconhecia aquela voz. Engoliu seco, dando um passo para mais perto da voz, enquanto ela dizia, raivosa:
– Mudança de planos. Eu não esperava que ele fosse aparecer com uma mulher também.
– E o que isso muda? A mulher mal entende uma palavra do que falamos.
soube por aí que se tratava de Logan e Coraline. Olhou para o celular, que gravava a conversa desde o momento em que a discussão começara, e então tirou da tela, para que, caso os dois a vissem ali, achassem que ela estava falando com alguém por mensagem.
– O fato de haver uma mulher de verdade muda tudo. Não importa se ela fala mandarim.
Coraline bufa, impaciente.
– Você quer que eu dê um jeito nela? Do jeito que ela é burra, não será difícil.
– Você já foi mais inteligente, Cora – Logan disse baixo –, não podemos fazer nada com a mulher. Ela, em si, não é uma ameaça, mas pode causar uma comoção caso queira pedi-la em casamento no natal.
– Você está na frente, meu amor. – Coraline disse de forma doce. – Não é preciso fingir uma gravidez para isso. Só tornará as coisas mais difíceis para nós. Quando seu pai escolherá o herdeiro?
– Na ceia de natal, mas não sabe. Ele não sabe de nada, aquele tolo. Como pode querer cuidar do negócio inteiro, sendo da maneira como é?
– Não há probabilidade nenhuma de ele herdar e você sabe disso. Não tem motivo para se sentir ameaçado, além do mais, se algo der errado, você ainda pode usar aquilo para convencer seu pai a reconsiderar.
Logan soltou uma pequena risada.
– Você é maléfica demais para o seu próprio bem, Cora.
– É por isso que você pediu a mim em casamento, e não aquela idiota da Kaira, que, a propósito, precisamos discutir sobre.
As vozes foram se afastando, de acordo com que os dois foram voltando para a festa. olhou para o arquivo do áudio, tendo certeza de que ele havia sido bem guardado, para que pudesse mostrar ao chefe assim que chegassem em sua residência. Sorriu, animada por finalmente conseguir mostrar algum serviço.
– Você parece feliz para quem estava ouvindo a conversa alheia. – uma voz soou em seu ouvido, fazendo-a saltar de susto, olhando para trás e dando de cara com…
– Daniel! – ela olhou para os lados, assustada. – O que faz aqui?
– Devo lhe perguntar o mesmo? – ele sorriu. Estava elegante, com o terno completo e as mãos nos bolsos. Os cabelos, no entanto, permaneciam no mesmo penteado de mais cedo. – Está aqui a trabalho?
– Ah… sim… estou. – ela olhou nervosa para trás. Era perigoso conversar em inglês ali. Limpou a garganta. – E você?
– Refeição grátis – ergueu os ombros, como se estar ali não fosse nada demais. – E então, foi uma discussão divertida?
– Não – ela riu, sem graça –, bem tediosa, na verdade. Eu poderia ter utilizado do tempo para fazer o que eu queria – e apontou para a porta do banheiro feminino.
– Ah, claro. Devo esperá-la?
Ela se conteve. Conteve-se muito. Queria conversar mais com ele. Era um cara divertido – e agora, misterioso –, e muito bonito também. Mas ela estava a serviço e não podia ser pega falando em inglês, por isso, abriu um pequeno sorriso ao dizer.
– Obrigada, mas preciso voltar.
Viu os olhos do homem analisá-la por alguns segundos, mas o vislumbre logo passou, percebeu. Abriu um pequeno sorriso tranquilo e disse:
– Fico aguardando a sua ligação. – e, depois de dar-lhe uma piscadela, se afastou com as mãos no bolso.
A mulher ficou encarando as costas de Daniel enquanto ele se afastava. Só podia estar louca, deixá-lo ir assim. Além do mais, se ele havia suspeitado de algo, foi educado o suficiente para não se intrometer.
“Você tem outras coisas com o que se preocupar agora, .” Disse a si mesma, virando-se para ir ao banheiro e então percebendo que havia demorado tempo demais. Suspirou e fez a volta, deixando para trás a vontade de ter um tempo para si.
Na mesa, todos conversavam como se ela nunca tivesse saído. foi o único que a recebeu, enviando-lhe um olhar com um sorriso, e então voltou-se para a conversa que já travava, com um casal de senhores, aparentemente importantes no mundo dos negócios.
Discretamente, ela procurou por Daniel com o olhar. Sentia-se incomodada em saber que ele estava ali. Não esperava que ele fosse alguém muito importante, a ponto de ser convidado daquele evento, da qual ouviu Amanda dizer milhares de vezes sobre sua importância.
– Tudo bem? – inclinou-se para próximo de , sussurrando em seu ouvido, uma ação que chamou a atenção de Amanda e Logan. Ao perceber, sorriu, como se ele houvesse dito algum charme.
– Te conto mais tarde. Em casa.
Percebeu pelo erguer das duas sobrancelhas do chefe, que ele não esperava por uma resposta como aquela. lhe deu um pequeno sorriso; talvez ele fosse capaz de ler seus códigos comportamentais, assim como ela havia decorado o dele.
Ele lhe depositou um beijo na bochecha, fazendo com que Logan desviasse o olhar dos dois, incomodado. sorriu para mostrando-lhe um brilho no olhar de orgulho. Ela, com certeza, seria efetivada ao final daquilo tudo.
– Por que não pudemos ouvir no carro? – a questionou assim que a porta da cobertura se fechou atrás de si.
A assistente imediatamente retirou o celular da bolsa.
– Um áudio.
As mãos que afrouxavam o nó da gravata borboleta imediatamente pararam, como um sinal de surpresa.
Ela não esperou ser pedida para colocar o áudio em andamento. Abriu o arquivo e colocou a conversa entre Coraline e Logan tocar.
A cada frase dita pelos dois, observou as reações de . Ele mantinha seu olhar fixo no aparelho, como se o casal estivesse ali dentro conversando.
– … Você é maléfica demais para o seu próprio bem, Cora…
permaneceu calado por mais alguns minutos, pensativo. A assistente aguardou pacientemente, como sempre fazia. Se fosse possível ver as ondas neurotransmissores, tinha certeza que o cérebro de seu chefe estaria a mil por hora.
– Eles realmente acham que sou um idiota. – diz, em um tom de riso. – É por isso que estão sendo tão descuidados.
Ela concordava. Os dois de fato não estavam tendo nenhuma cautela, ou disfarçando o desagrado em terem de “competir” com o irmão mais novo negligente e sua namorada burra.
Observou o homem caminhar até seu bar e servir-se de whisky, enquanto ela permanecia em pé, aguardando alguma ordem vir dele. caminhou até a parede de vidro, que tinha como vista a cidade e uma parte do Central Park.
– Você sabe por que estou fazendo tudo isso? – ele perguntou.
ponderou por um tempo. Já havia pensado sobre isso antes, sem mesmo o chefe ter de perguntá-la. O que levaria uma pessoa a competir com o próprio irmão, a fim de garantir uma empresa? Era claro que valia muito. Pelo que havia pesquisado, a empresa valia bilhões de dólares e o presidente apenas demonstrou seu interesse em passar o poder para um dos filhos há quase 2 anos, quando iniciou o teste final. Antes de entrar na empresa, na mesma época que o chefe chegou ao Brasil para tomar conta dos negócios da filial, ela não sabia como que as coisas funcionavam ali, no entanto, tinha cerca noção.
– O senhor deve ter sido orientado sobre isso desde pequeno.
virou o rosto para ela, a expressão pensativa.
não era uma funcionária qualquer. Desde quando começou a trabalhar com ela, apesar de sua falta de habilidade e talvez até preparação para a posição de assistente principal de um presidente, ela tinha o que ele raramente via em funcionários: fidelidade e força de vontade. De nada adiantava ter alguém trabalhando para si, que pudesse ser comprado por um concorrente, ou que nunca excedesse as expectativas. se considerava uma pessoa paciente, por isso, ao ver dando o melhor de si para atender a todas suas exigências, que ele admitia, não eram fáceis, o fez desconsiderar, quando seus subordinados de poder na empresa sugeriram trocá-la por alguém mais adequado à posição.
Seu sexto sentido, como sempre, estava certo. Em seis meses, era capaz de suportar as exigências de seu papel sozinha, nunca reclamando e sempre estando disposta para qualquer afazer, pessoal ou profissional de , a qualquer hora de qualquer dia da semana.
– Ela não ficará para sempre, – Matheus, o diretor de marketing e com quem melhor se deu na filial brasileira, disse, durante uma partida de bilhar em sua casa. – Ela pode ser fiel a você, mas nenhuma mulher trabalharia esse tanto para sempre.
– Nenhuma mulher? – ergueu a sobrancelha, questionando a afirmação do amigo, que riu.
– Você acha que algum homem teria suportado? Às vezes questiono quem é o verdadeiro sexo frágil.
abriu um pequeno sorriso. As pessoas achavam que ele preferia as funcionárias mulheres, porque gostava de ser um charlatão. Ele mantinha a postura mulherenga porque era mais fácil de lidar com as demais pessoas, se elas achassem que sabia de tudo sobre ele. Mas as pessoas, como sempre, achavam muito e prestavam pouca atenção aos detalhes. E era nos detalhes que ele se atinha e, por isso, mostraria ao pai que merecia mais do que o irmão, cuidar dos negócios.
Atenção aos detalhes, inclusive, foi o que fez com que permanecesse em seu trabalho, ele pensou, vendo-a arrumar o bar e seguir em sua direção com a garrafa de whisky, preenchendo o copo e colocando dois cubos de gelo, a quantidade exata que ele gostava. Ele sabia que ela havia decorado todas as suas reações e, antes mesmo dele pensar em exigir algo, já vinha com a solução ou lidava com os problemas à sua frente. nunca havia encontrado, até então, alguém que se igualasse a Thadeo, o secretário particular do pai, que esteve na família praticamente a vida inteira. Seu pai, Thomas, era mordomo da família . O filho mais velho de Thadeo, Junior, trabalhava com Logan, mas, apesar dos genes eficientes, não era, de longe, parecido com o pai. , no entanto, estava quase lá.
– Qual o seu plano de carreira na empresa? – ele perguntou para a funcionária, chamando-lhe a atenção.
o encarou, pensativa. Ela não procurava uma maneira de se explicar ao chefe, mas a pergunta lhe colocou a pensar qual o ponto máximo que acharia conseguir chegar na empresa.
– Gostaria, primeiro, de fazer uma pós-gradução em gestão de negócios. Acredito que há mais para aprender e, infelizmente, minha experiência na empresa anterior não se iguala às exigências de uma multinacional. – ela olhou nos olhos do chefe, confiante. – E então, permaneceria alguns anos trabalhando em uma equipe, para saber como funciona, de perto, a empresa. Minha meta final é chegar à diretoria.
– Quer ser diretora na minha empresa? – ele perguntou, interessado em seus planos.
– Sim.
bebeu um gole do líquido, ao mesmo tempo encarava . Ele a faria sua diretora, muito antes do que ela imaginava. Bastava ela continuar sendo daquela maneira, fiel, com força de vontade e eficiente.
– Joanne. – ele disse, vendo-a rapidamente prestar atenção em suas palavras. – É o nome de minha avó. É uma senhora doce, que pode até passar despercebida, mas muito importante para nossa família. O natal será na casa dela. Amanhã, jantaremos na casa dela nos Hamptons.
– Sim. Há algo que gostaria que eu fizesse?
continuou a encarando, pensando se exigiria alguma ação da subordinada. Ela o encarava com a expectativa de sempre; toda vez que ele se via olhando para os olhos de sua assistente, o fazia querer trabalhar mais. Se alguém que não tinha as mesmas responsabilidades do que ele, nem em importância, nem em qualidade, dava o seu melhor, então ele também o faria.
– Surpreenda-a.
– Sim, senhor.
Capítulo 5
olhava ao redor com a boca formando um perfeito ‘O’, enquanto os olhos mal conseguiam acompanhar a quantidade de informação que havia ao seu redor. Era sensacional, fantástico, e um pouco intimidante. Jamais havia visto tanta imagem em um só lugar, mas, por outro lado, sentia que estava na 25 de Março, área de lojas baratas que, na época de natal, ficava lotada como estava a Times Square naquele momento.
– Pegue. – Daniel a encarou, subindo as escadas vermelhas bem ao meio da praça mais famosa do mundo inteiro, entregando a ela um hot dog. – Hoje, comeremos como nova-iorquinos.
– Vocês não comem isso com frequência.
– Para os turistas, nós comemos. – ele sorri, sentando-se ao seu lado.
– Aqui é incrível. Eu amei todos os outros lugares que fomos, mas aqui, definitivamente, é o meu lugar favorito.
– Bem – os olhos dele encararam-na de bom humor –, acho que você é a primeira. Há vários outros lugares interessantes aqui em Nova Iorque.
– Sim, mas… sinto que posso encontrar disso em outros lugares, se procurar, mas aqui… isso não existe no meu país. Essa vibe toda… não sei. É tudo incrível demais. Sou uma boba, não é?
– Eu não acho.
Sentiu suas bochechas esquentarem, mesmo estando absurdamente frio. A frente fria que estava, até o dia anterior, prevista para chegar no ano novo, repentinamente chegou mais cedo, fazendo com que os locais reclamassem do frio, e até alguns turistas, mas, aparentemente, não fez com que as pessoas ali se intimidassem e ficassem no calor de seus quartos.
– Fechamos com chave de ouro? – ele perguntou, vendo-a olha-lo com os olhos brilhando.
– Com certeza!
Daniel a viu ignorar o hot dog em suas mãos e voltar a encarar ao redor. Maravilhada era a palavra perfeita para descrever a expressão no rosto daquela mulher. Ele preferiu, na noite anterior, ignorar o fato dela estar ao lado de , assim como definitivamente tentou ignorar o fato dele, de tempo em tempo, sussurrar e trocar carícias com ela, em frente aos familiares, que não se mostravam muito felizes com o ato. Já havia encontrado com uma ou duas vezes, em eventos sociais, seu irmão mais velho, Logan, havia sido colega de sala na Universidade Columbia. O mundo, ele pensou, era realmente pequeno.
Passearam mais um pouco pela praça e colocaram-se a caminhar pela 5ª avenida até ela guiá-lo por algumas ruas e parar na esquina de uma rua residencial.
– O que fará amanhã? – ele perguntou, antes dela ter a oportunidade de se despedir dele.
– Ah, tenho um trabalho importante para fazer. – ela diz, sem graça. – E talvez eu volte para o Brasil no dia seguinte.
– Uau – ele disse –, é realmente uma viagem de trabalho.
– Sim, mas aproveitei bastante as minhas horas livres, graças a você.
Daniel encarou o rosto corado da moça, que esperava dizer algo. Ou, talvez, esperasse que ele dissesse algo.
– Bem, feliz natal – ele disse, inclinando-se para perto dela, para então tocar-lhe os lábios com os seus.
Esperava que ela fosse se afastar e dar-lhe um belo sermão, mas não foi o que aconteceu. moveu os lábios, retribuindo o beijo, até que, por conta da falta de ar, os dois foram obrigados a se afastar.
– Uau… – disse ele.
– É… hum… obrigada.
– É pedir muito para que tente ficar alguns dias a mais por aqui?
– A-ah… – ela riu. – Infelizmente, não tenho como controlar minha agenda, você sabe…
Ele sorriu, apesar de chateado com a resposta dela. Gostaria que ela ficasse mais. Era uma mulher encantadora. Passaram a manhã e a tarde na companhia um do outro, após, na noite anterior, ela lhe mandar uma mensagem sugerindo um café da manhã. Ele, no entanto, esforçou-se em acompanhá-la em todos os lugares que ela queria. Teria falado sobre a família e seu trabalho, mas ela não lhe deu abertura e, se não queria tocar no assunto, ele também não forçaria a barra.
– Bem… obrigada pelo dia. Foi maravilhoso. – ela sorriu, erguendo a mão em um cumprimento. Daniel apertou-a, sorrindo.
– Se decidir ficar ou, quem sabe, voltar para cá em breve, sabe meu número. – ele lhe deu uma piscadela, fazendo-a sorrir. Antes de ela virar e se afastar, deu-lhe mais um beijo de despedida, este mais rápido que o anterior. – Até mais, .
– Tenha um bom natal, Daniel. – ela sorriu e se afastou.
Havia colocado em sua cabeça que Daniel não era nada senão um caso de inverno. Foi uma ótima companhia e muito divertido, mas ela voltaria para o Brasil e não havia como mudar isso. Dessa maneira, era melhor que fosse racional e não criasse esperança. No entanto, ficou feliz com a iniciativa dele em beijá-la. Gostava de homens com esse tipo de atitude. Ainda que tivesse a pego de surpresa, ela sentiu, inicialmente, que ele lhe dera a opção de cortar o beijo, sem aprofundá-lo.
Suspirou e entrou no hall do prédio onde ficava a cobertura de seu chefe. Sorriu para o funcionário, que retornou o sorriso com um cumprimento e um desejo de feliz natal. Assim que o elevador chegou ao andar que ela estava, se assustou ao ver já lá dentro.
Olhou para trás, onde alguns funcionários passeavam pelo local, cumprindo seus afazeres. sorriu para imediatamente, que lhe retribuiu o sorriso, e então o abraçou, sentindo o perfume masculino Chanel que ela comprou há alguns meses, após ver que o conteúdo do frasco anterior estava próximo do fim.
– Se divertiu? – ele perguntou, pouco antes da porta do elevador se fechar, mantendo-os sozinho sob as câmeras de segurança do prédio.
– Sim, a cidade estava completamente cheia.
O homem abriu um pequeno sorriso, que logo foi desfeito, com a abertura da porta do elevador no andar da cobertura.
saiu na frente, indo em direção às escadas que levavam ao segundo andar. Por ser véspera de natal, os funcionários haviam sido dispensados. Ela havia dito ao chefe que seria responsável pelo próprio cabelo e maquiagem, e que havia trazido uma boa roupa para a ceia de natal na casa da avó dos .
– De onde você conhece Daniel Harris? – a voz de soou atrás de si, quando tocou na maçaneta de seu quarto.
olhou para o chefe, que tinha o paletó do terno apoiado no braço e as mãos dentro dos bolsos da calça social. Seus cabelos escuros estavam um pouco bagunçados e a gravata desfeita, mas ainda pendurada ao pescoço.
– O conheci durante meu passeio.
– Hoje?
– Ontem. – ela o olhou, confusa. – Ele é um autor. O senhor conhece? – Não lembrava de ter visto algum livro com o nome de Daniel na casa do chefe no Brasil, nem ali.
– Ele te disse que é autor? – riu.
– Ele não é?
não lhe respondeu. Ficou calado com um sorriso presunçoso no rosto.
– Como o senhor sabe que eu o conheço?
– Eu disse para ser discreta, não disse? Se eu sei, outras pessoas também podem saber. – tirou o sorriso do rosto e a encarou como costuma, quando ela faz algo de errado. – Você não deveria tê-lo beijado na esquina da minha casa.
arregalou os olhos e abriu a boca, assustada por ter sido pega pelo chefe. Não que ela estivesse errada, mas… bem. Não podia estragar o plano. Havia deixado sua família em segundo lugar para aquilo.
– E-eu…
– Seja o que for, Daniel Harris não é alguém com quem deve se envolver. – finalizou a conversa, passando por ela, indo em direção ao próprio quarto.
No entanto, foi surpreendido pela pergunta da mulher:
– Por quê?
se virou na direção de , que o encarava séria.
– Como?
– Por que eu não posso me envolver com Daniel? Ele é um cara legal e não tem nada a ver com meu trabalho. Eu estava em meu horário livre.
Ele ergueu uma sobrancelha, que era a mesma coisa do que tivesse dito “como ousa me retrucar?”, mas, dessa vez, a reação da funcionária não foi a mesma de sempre. Ela ficou o encarando, aguardando por uma resposta.
– O que você faz em seu horário livre não me diz respeito – ele começa -, mas a partir do momento que seus atos atrapalhem os meus planos, então eu tenho, sim, direito de falar o que eu quiser. Além do mais… – ele parou de falar por um instante, perdendo-se em pensamentos, para em seguida voltar a falar com mais tranquilidade. – O fato de eu lhe dar tempo livre não significa que você pode se esquecer da razão pela qual foi trazida até aqui. Manhattan é uma ilha, logo, a probabilidade de você encontrar com alguém que me conhece é grande. E não se engane, você pode não conhecer as pessoas, mas ao estar comigo, as pessoas saberão quem é você. E esse tipo de ato em público não favorece em nada o seu trabalho.
Sem dizer mais nada, deu-lhe as costas e fechou a porta de seu quarto, deixando-a sozinha no corredor, perdida em seus pensamentos.
A mansão de Joanne, mãe de Robert e avó de e Logan, era, sim, uma mansão. Perto dela, a residência de Amanda e Robert era uma mera casa. Pelo helicóptero, pode ver que a mansão estava decorada em uma extensão absurda. Os jardins, de cima, tinham a iluminação triplicada, em comparação às casas vizinhas. Após entrar na residência, ela pode ver que Joanne tinha um gosto muito melhor para decoração do que os pais de . O que ela não esperava, era que a ceia de natal fosse mais do que um jantar em família. Era uma festa.
Assim que entraram no salão principal da mansão, percebeu que, só ali haveriam mais de 100 pessoas.
“Você disse que era só um jantar.” Era o que queria dizer para , mas manteve o comentário para si. Os dois não estavam em muito bom termo após a pequena discussão mais cedo e, por isso, permaneceram calados durante o trajeto inteiro do voo da cobertura, até a residência a avó. No entanto, ao saírem do helicóptero, ambos imediatamente entraram em modo casal.
– ! – uma voz chamou do meio do salão. O homem abriu um pequeno sorriso de satisfação ao ver a senhora com um grosso vestido se aproximar dos dois. – Meu querido!
– Joanne. – ele disse, dando um beijo na bochecha da avó, que o abraçava com um prazer não visto por nenhum outro até então. – Espero que não tenha acabado com o champanhe antes do brinde.
– Bobinho! – deu um tapinha no rosto do neto e então olhou para . – E quem é essa mulher linda?
– Oi – ela disse –, meu nome é .
– ! – Joanne sorriu. – Bem-vinda, querida. Você é alérgica a algo? Ninguém me falou sobre…
– Joanne, não fala muito o inglês.
– Oh! – a mulher olhou assustada para a moça, que apenas manteve o sorriso. – Mas que surpresa, bem, e que língua ela fala?
– Português. A trouxe do Brasil.
– Ah, infelizmente não sei falar português, mas diga a ela que é muito bem-vinda à minha residência. Tenho alguns convidados para receber, então fiquem à vontade. Não me lembro de ninguém da lista de convidados que fale em português, então não a deixe sozinha.
– Sim senhora. – ele sorri. – Não se preocupe com ela.
– E como não, é minha convidada também.
Joanne abriu um sorriso carinhoso para , que apenas retribuiu, mas permaneceu calada. Assim que a avó se afastou para comprimentar mais convidados que chegavam, caminhou pelo salão comprimentando os conhecidos, que eram praticamente todos.
– Quando Debora me disse que Jane havia ouvido de Coraline que você estava com uma namorada latina, eu só pude pensar que, na verdade, ela deve ter confundido a moça com sua empregada. – uma voz surgiu da multidão, chamando a atenção de e . – Mas aqui está você, com uma… estrangeira.
– O nome dela é , e ela é, sim, brasileira, Rachel.
– Brasileira? Como a Gisele Bundchen! – a mulher, com suas pernas longas mal cobertas pela saia do vestido preto, aproximava-se do falso casal. – Bem… talvez nem todas as mulheres no Brasil deem sorte de se parecerem como Gisele. – abriu um pequeno sorriso para que, com toda a força do mundo, abriu um doce sorriso de volta, como se não houvesse entendido cada palavra da ofensa dita pela mulher.
– Como está, Rachel?
– Agora, chateada. – seus olhos percorreram da cabeça aos pés. – Eu imaginava que fosse ser substituída pelo menos por alguém do mesmo nível que o meu, mas você realmente não me surpreende.
– Bem, não fui eu quem substituiu alguém. – ele disse, bebendo um gole do vinho, vendo-a erguer uma sobrancelha. imediatamente pensou que o ato deveria ser um código de etiqueta das pessoas ricas de Nova Iorque. – Por que você está sozinha?
– Obviamente porque eu quis. – ela mexeu em seus cabelos. – E você? Por que não está solteiro?
– Obviamente, porque encontrei alguém à minha altura. – colocou uma mão na cintura de , fazendo com que a mulher risse.
– Querido… você não precisa se humilhar assim. – aproximou-se do casal e, antes de sair, sussurrou no ouvido de . – Nos falamos mais tarde.
Ele não lhe respondeu, mas também não cortou a intenção da mulher, fazendo com que , internamente, se sentisse extremamente ofendida. Reconhecia o nome Rachel. Ela havia encomendado um belo colar de diamantes, que, inclusive, estava exposto no colo nu da moça, como um presente para compensar o término. pode ter chego no Brasil em um compromisso com ela, mas não durou muito mais do que algumas semanas. Foi a primeira compra que ela fez para o chefe.
– Preciso conversar com algumas pessoas – disse no ouvido de , que abriu um sorriso, para que as pessoas achassem que ele estava lhe dizendo algo carinhoso –, vá dar uma volta e veja se encontra Coraline. Ela está a cerca de meia hora ausente.
– Sim senhor. – ela sussurrou de volta, vendo-o assentir e enviar-lhe uma piscadela, observando-a por alguns minutos se afastar de si em direção à porta que ligava o salão, da casa.
, obviamente, se perdeu no caminho. A casa era grande e havia pessoas por todos os lados. Algumas sorriam quando os olhos encontravam com o dela, e tudo o que ela fazia era sorrir de volta. Encontrou Coraline em um canto do lado externo da casa e pensou em uma maneira de ir até o local, sem que fosse descoberta.
Quando estava quase encontrando uma solução, uma mão segurou a sua e a levou por um caminho vazio até uma porta simples de vidro, que levava para o lado de fora da casa. abriu a boca para questionar o que Daniel estava fazendo ali, mas não lhe respondeu nada, apenas assentiu em agradecimento quando ele colocou seu paletó nos ombros da mulher e acenou com a cabeça para que ela seguisse em frente.
andou o mais silenciosamente possível, ligando o gravador de seu celular, e, ao chegar perto o suficiente para ouvir a voz de Coraline, parou.
–… É claro que está tudo bem, sua boba! Logan é um cara incrível e irá lidar com toda a situação por você. Relaxa! Tudo o que você precisa fazer, é seguir o plano e não deixar que ninguém perceba a verdade, entendeu? Amiiiga… eu já disse: está-tudo-bem! Não me faça ficar brava. Eu preciso de todo meu bom humor pronto para daqui a pouco. Inclusive, preciso desligar, estou a muito tempo com você no telefone, as pessoas vão começar a…
Sem esperar que ela finalizasse sua ligação, voltou correndo para dentro da mansão, onde Daniel aguardava, de guarda, na porta.
– Conseguiu o que queria?
– Ela está vindo, acho.
Ele olhou para um ponto atrás de e então pegou novamente na mão dela, a levando para outro lugar, uma sala vazia.
– O que está fazendo aqui? – ela perguntou, sussurrando, enquanto ele trancava a porta. – Não posso ser vista com você.
– Sou convidado. – ele respondeu. – Joanne é amiga da minha mãe. Agora – ele olhou para ela – o que você está fazendo aqui?
– é meu chefe.
– Ele parecia bem mais que seu chefe.
não lhe respondeu. É claro que ele havia visto. fez questão de mostrar às pessoas ao redor que ela era sua acompanhante.
– O que você exatamente é de ?
– Funcionária. É sério! – ela acrescentou, ao vê-lo erguer as sobrancelhas. – O que há com vocês e as sobrancelhas?
– Como?
– Parece que existe uma comunicação à parte com o uso delas.
Daniel permaneceu a encarando por alguns segundos, até que soltou uma risada, balançando a cabeça.
– Por que você tem de ser tão adorável?
– Bem, não é como se eu estivesse me esforçando.
– O que a torna ainda mais adorável.
abriu um pequeno sorriso e retirou o paletó dele dos ombros.
– Obrigada. Por me ajudar.
– Espionar os outros faz parte do trabalho?
– Não geralmente. Na verdade, é a minha primeira vez.
– Segunda. – ele a corrigiu, vendo-a revirar os olhos.
– Aquela vez não foi de propósito. De qualquer maneira, ninguém pode saber de nada. Se você, por favor…
– Não se preocupe, não vou dizer nada. Mas acho que você terá que se esforçar em arranjar um tempo para mim mais tarde.
permaneceu calada, observando Daniel. Ele era um cara legal. Misterioso, mas legal. Queria poder se sentar com ele naquele sofá perto dos dois e se perder em conversar; ele era muito divertido. Mas precisava voltar para o salão e, principalmente, não podia ser visto com ele.
– Preciso ir.
– Isso não pode virar um hábito nas festas que nos encontramos. – Daniel brincou. – Vá na frente, eu vou mais tarde para não levantarem suspeitas.
– Obrigada. – ela sorriu, rapidamente dando-lhe as costas e indo para a porta, destrancando-a e olhando para os dois lados no corredor, antes de voltar a olhar para dentro e ver Daniel próximo à lareira, encarando-a. – Obrigada. – diz novamente, vendo um sorriso como resposta.
Caminhou em direção ao salão, mas, no caminho, olhou, sem querer, para dentro de um dos cômodos. estava na companhia de Rachel, extremamente próximos. Ela praticamente o prensava contra a parede e ele não parecia nem um pouco desconfortável, muito pelo contrário.
Em uma fração de segundos, os olhos de encontraram com os de , e permaneceram se encarando por o que pareceu uma eternidade. Então, sem dizer nada, a funcionária se afastou, chateada, em direção a qualquer lugar que não fosse para trás, nem para dentro daquele cômodo.
– Você não tem motivos para ficar chateada. – diz para si mesma, entrando em um cômodo aconchegante que havia visto logo na chegada à festa, e encontrando um sofá de dois lugares para se sentar. – Ele não tem nada a ver com você. Você não tem nada a ver com ele. Se toca.
– Está tudo bem, querida?
olhou para o lado e viu Joanne inclinada, próxima a ela, olhando-a com interesse.
– Ok! – faz um sinal com a mão, vendo-a sorrir.
– Ah, que ótimo! – a senhora disse, sentando-se ao lado dela. – É uma pena que você não fale em inglês. Poderíamos conversar melhor.
segurou a vontade de responder a mulher. Ela era simpática e doce, ao contrário de todas as outras pessoas que encontrou ali. Entendia por que disse que era importante para a família. Talvez ele estivesse se referindo somente a si mesmo.
– Há um momento em que precisamos de um tempo nosso. – Joanne suspirou. – Antigamente eu conseguia ficar a noite inteira na companhia de amigos e da família. Hoje em dia, preciso me sentar um pouco para descansar. Espero que esteja tudo bem para você, eu ficar aqui ao seu lado. Você está gostando daqui?
– A-ah… sim.
– Que ótimo! Disse para não deixá-la sozinha e veja só. Ele está sendo uma boa pessoa com você, querida?
Ela não tinha o que reclamar dele como chefe. Sabia que ele pagava-lhe um salário melhor do que qualquer outro chefe no Brasil, e, mesmo que houvesse muito trabalho, ele sempre a recompensava. No entanto, como personalidade, ele tinha um péssimo hábito de não saber se expressar. Ser autoritário era um defeito das pessoas que nunca haviam sido, na vida, funcionárias.
– Ele é um bom neto. – a avó disse, e foi o suficiente para confiar em sua palavra. A mulher tinha um jeito materno, e parecia saber lidar muito bem com as teias que as pessoas armavam para as outras. – Ele parece o avô, bem mais que Logan e até Robert. – ela dá uma risadinha.
encontrou um prazer inexplicável na companhia de Joanne. Ainda que não pudesse respondê-la, podia ficar ali, sentada ao seu lado, a ouvindo, e a senhora não parecia nem um pouco incomodada por não ser compreendida. Durante a meia hora que as duas permaneceram naquela sala de inverno, o ambiente era preenchido com o monólogo de Joanne, a tentativa de em responder as perguntas mais fáceis, ou o silêncio.
– Achei que vocês duas haviam fugido. – a voz de surge de repente. – só ia ao toalete e, quando vejo, não encontro nem ela, nem a senhora, Joanne.
– E eu achei que você havia a abandonado para conversar com aquela Dallas.
– Fui abordado.
A avó não disse nada, mas e puderam ver em seu olhar que reprovava a atitude do neto.
– Bem, agora que chegou, imagino que eu possa voltar aos meus convidados. Não se preocupem em voltar imediatamente, irei servir a ceia somente às dez.
– Falta meia hora.
– Oh! – Joanne arregalou os olhos, ao receber a ajuda de para se levantar. – Tenho que ir. Se ele abandoná-la de novo, diga-me e eu lhe darei uma lição. – disse para a mais nova, que apenas abriu um sorriso em resposta.
aguardou pacientemente a avó sair do local para olhar . Caminhou lentamente até onde ela estava e então disse:
– Eu disse para não encontrar mais com Daniel Harris.
Como, diabos, ele sabia?
– Não foi proposital. Eu estava indo atrás de Coraline…
– Rachel os viu e, claro, utilizou da oportunidade para tirar conclusões. Você não estará ajudando em nada, se eu me passar como corno.
olhou nos olhos do chefe e pensou em retrucá-lo. Pensou em se defender e defender a sua honra. Porém, decidiu que não. Que deixaria para depois, quando tivesse poder para o ato. No momento, se ela retrucasse, poderia ser enviada imediatamente para o Brasil, desempregada.
E ela não queria passar o natal desempregada. Não era isso o que a data significava para ela, e ela não deixaria que isso acontecesse.
– Desculpe, não irá se repetir.
– Ótimo. O que descobriu?
Ela pensou. Pensou se deveria dizer. Estava com raiva. Queria agir como uma adolescente rebelde e falar “nada”. Queria vê-lo se surpreender, apesar de que, de acordo com ele, o próprio nunca era surpreendido.
– Eles irão anunciar algo hoje. Não sei o quê, mas, aparentemente, contrataram alguém para ser álibi.
– Quem?
– Não sei. Uma amiga dela. Disse que seu irmão iria lidar com a situação.
olhou para o lado, pensativo.
– Não há o que fazer. – ele concluiu, minutos depois. – Vamos ter que pagar para ver. Seja o que for, eles farão de um modo que achem que eu não poderei revidar.
– Sempre há uma maneira. – ela diz, automaticamente, vendo o olhar do chefe em sua direção.
– Exatamente.
Assim como Joanne havia dito, o jantar foi servido às dez e seguiu até as dez e quarenta, quando a sobremesa foi servida. e foram colocados próximo de outros dois casais amigos de , com quem a moça pode ter um vislumbre da verdadeira personalidade do chefe. Ele parecia à vontade com os amigos, rindo e fazendo comentários em tom de brincadeira. Pela primeira vez, não falava sobre negócios, o que chegava a ser estranho para , que nunca havia visto esse lado seu antes.
Para ela, ele parecia mais humano.
– Sinto atrapalhá-los – a voz de Logan soou em uma das mesas do salão preparado para servir a refeição –, antes de tudo, gostaria de agradecer, em nome de minha avó e da nossa família, a presença de todos. A celebração do natal é muito importante para Joanne, como todos devem saber, e ela foi muito gentil em dividir comigo e Coraline, para que possamos celebrar de uma maneira mais especial este ano.
Um pequeno murmurinho começou a correr pelo salão, enquanto se mantinha com o queixo erguido, como se já esperasse pela notícia que os dois tinham para dar.
– Como sabem, Coraline me deu a honra de aceitar ser minha esposa há alguns meses e, após muito conversar, nós achamos que seria ideal que nossa cerimônia fosse celebrada em uma data tão importante para a nossa família. – ele fez um sinal para um funcionário, que abriu a porta para uma mulher em um terno vermelho entrar, portando uma pasta em mãos. – É por isso que, agora, vamos oficializar nosso matrimônio no civil. O natal tem tudo a ver com união e, convenhamos, tudo o que os precisam, é de uma nova união na família.
– Ah, que alegria, meu querido! – Joanne diz, sorridente, enquanto troca beijos com o neto e, logo, sua neta.
olhou para todos, que pareciam extasiados em poderem participar de uma cerimônia tão íntima. , por outro lado, fingiu bem sua satisfação em ver o irmão mais velho se casando sem dar nenhum aviso prévio. Duvidava que Joanne soubesse do plano antes daquela noite.
Talvez estivesse errado.
Talvez, dessa vez, ele não conseguisse reagir.
Capítulo 6
– … – andava atrás dele após os fogos de artifício. Não era impossível Coraline e Logan terem conseguido uma autoridade para oficializar o casamento civil deles. Coraline era advogada e possuía vários contatos, além disso, eles eram ricos, o que tornava impossível de não conseguirem uma pessoa em plena noite de natal, para fazer a cerimônia.
Assim que os fogos terminaram, permaneceu por uma hora na companhia dos convidados, dizendo o quanto estava feliz pelo irmão e fugindo das perguntas de quando seria a vez dele. , por outro lado, permaneceu fugindo de Daniel, pois agora, mais do que nunca, sabia que não poderia ser vista com ele.
No momento em que os convidados começaram a se despedir, devido à uma notícia de que uma tempestade de neve chegaria em breve, utilizou a primeira oportunidade para se retirar sem que ninguém percebesse. Ninguém, exceto .
Ele ia em direção ao corredor que os levariam para o heliporto. No entanto, ao chegarem lá, encontraram um piloto de mãos atadas. Não poderiam voar. A tempestade vinha de Nova Iorque e, por isso, corriam o risco de pegá-la. As torres de comunicação haviam avisado que não poderiam permitir a decolagem, devido ao risco.
– Teremos de partir amanhã. A tempestade está prevista para durar boa parte da madrugada. – o piloto disse, deixando furioso. entrou em contato com uma empresa de transporte particular para pedir um carro, mas estavam todos esgotados.
“Ótimo”, ela pensou “Era só o que me faltava!”
– ? Querido, você não vai para Manhattan nessa ventania, não é?
– Joanne, o que está fazendo aqui fora? – se assustou com a presença surpresa da avó, que estava envolta de um xale. acompanhou a senhora para dentro da mansão, enquanto terminava de combinar um horário com o piloto, que ficaria hospedado em um quarto de funcionário que havia para momentos como este.
– Pedi para arrumarem um quarto para vocês dois aqui, sei que fica mais à vontade em minha casa, do que na de Robert, tomara que você se sinta à vontade, querida.
não respondeu. Na verdade, ela não ficaria à vontade, justamente pelo fato de ter de dividir o quarto com o chefe, mas, obviamente, manteve-se calada. voltou segundos dois, os cabelos emaranhados por conta do vento, deixando-o com uma beleza diferente do natural.
Quando ele assegurou de que iam pernoitar ali e os dois caminharam até o quarto preparado por Joanne, que a senhora sorriu e deixou-os em paz, com a desculpa de que tinha de continuar se despedindo dos convidados.
Permaneceram em silêncio, enquanto ele olhava para a janela, onde mostrava uma ventania que não estava lá há algumas horas. Talvez estivesse em sintonia com o humor de .
– Não foi um casamento de verdade. – ele disse, sério.
– Como sabe?
– Aqui nos Estados Unidos, os advogados precisam utilizar um broche. Ouvi dizer que é impossível um profissional deixar de usá-lo em uma situação de trabalho. É o orgulho deles. Ela não utilizava um.
– Eles forjaram um casamento falso?
– O relacionamento deles não era real, para começar. – ele disse, fazendo abrir a boca, chocada. – Só um tolo iria acreditar. Como eu disse, eles acham que eu sou um idiota.
– Você não é.
– Não? – ele olhou para ela.
Era um olhar diferente. Um olhar que ela jamais havia visto antes em . Era verdade que nunca imaginaria vê-lo daquela maneira, mas o homem já estivera em situações piores durante sua estada no Brasil e, mesmo assim, não havia cedido para aquele olhar.
Fora derrota, o que ela vira. estava desistindo.
– Por que é importante? – ela perguntou, vendo-o encará-la exausto. – Ganhar.
ergueu os ombros. Retirou o paletó e o apoiou na poltrona.
– Logan sempre foi o favorito. – começou a dizer. – Por ser filho de quem é.
– Filho?
– Amanda é minha mãe. – ele disse. – Casou-se com meu pai pouco mais de um ano após a morte da mãe de Logan, quando ele tinha 6 anos. Eu nasci seis meses depois do casamento. Apesar de termos crescido de forma igual, e Amanda ter cuidado de nós dois como se ambos fossemos dela, era óbvio que havia uma diferença. Logan é filho do amor da vida de meu pai, e ninguém nunca deixou de esquecer isso.
– E sua mãe não se importou?
– Ela só quer ser rica. Conseguiu o que queria. – disse. – Sempre fui competitivo, desde criança. No começo, era uma competição saudável. Tudo o que Logan tinha, eu queria. Nos dávamos bem. Mesmo com a diferença de idade, ele era um ótimo irmão mais velho, com paciência para cuidar do mais novo. E então meu pai começou a treiná-lo para ser o próximo herdeiro. Obviamente, achei injusto. Queria ser descartado da posição por não ter a capacidade de administrar, mas eu sabia que era melhor que Logan. Ele nunca ligou para os negócios, até eu começar a mostrar interesse em cuidar de tudo.
– Ele te viu como uma ameaça?
– Mais ou menos isso. E então, meu pai aproveitou-se da situação. Está enraizado em nossa cultura americana, de que a competição fortalece os participantes e traz resultados mais satisfatórios. Era uma situação perfeita. Durante anos trabalhei para que tivesse milhares de motivos que provasse que eu era melhor que Logan para o cargo. E então de repente, meu pai ignora tudo isso e diz que nos testaria por igual. Nos mandou para filiais no exterior e disse-nos para manter os resultados nos 2 anos seguintes.
– Não foi por igual. – disse, aproximando-se de . – A filial da China é muito maior e mais importante para a sede, do que a do Brasil.
– O melhor para o favorito. – ele disse, amargurado. Calou-se por um tempo e se sentou no sofá do quarto. – Não sei por que estou te contando tudo isso.
– Está tudo bem. Meu turno acabou e não tenho o menor interesse na sua fortuna. – ela se sentou ao lado dele, o fazendo rir com o comentário. – Qual era o seu plano?
– Surpreendê-lo. Meu pai, assim como a maioria dos , ama a empresa. Aumentar o valor dela era um belo método de conquistar a sua confiança.
– E por que não funcionará mais?
– Porque, mais do que a empresa, meu pai amava a mãe de Logan. Sempre mencionou um papo de cumprir com a obrigação com ela, em dar a melhor vida para o filho deles. Há um grande peso emocional nisso tudo. Não posso competir com isso, Logan sabia muito bem.
O silêncio pairou entre os dois. observou olhar para o nada calado, como se não esperasse por nada. E talvez não esperasse. Ela sabia o que era perder o ânimo. Já havia acontecido várias vezes, principalmente após as reuniões familiares em que todo mundo parecia feliz e casado, e ela não.
– Ele é seu irmão. – disse, vendo-o olhar para ela. – Você já conversou com ele sobre a vontade de herdar a empresa?
soltou uma risada nasal.
– Não se conversa sobre essas coisas, .
– E por que não? Como eu disse, ele é seu irmão. E como você disse, ele foi um bom irmão até seu pai começar a instigar a competição entre vocês, o que, na minha percepção, se me permite expressá-la, é errado.
permaneceu a encarando, não parecendo se importar de sua funcionária estar falando consigo como se fosse sua igual. Ainda que, naquele momento, ela parecia ser, já que, provavelmente, era um homem desempregado e ela… bem, ela esperasse que fosse ser remanejada para algum cargo na empresa.
– Sabe, a maior parte do tempo, eu não suporto minha família. – ela olhou para a lareira eletrônica acesa à frente deles. – Existe essa “lei” que diz que as matriarcas mandam na vida de seus filhos, independente da idade que eles tenham, até que eles finalmente se casem, ou seja, tenho 30 anos com uma mãe e uma avó intrometidas, que acham que estou perdendo meu tempo trabalhando o tempo inteiro, ao invés de me dedicar a uma família. Odiava o fato delas e do restante das pessoas na minha família não parecerem dar valor para o meu sonho. Toda conquista que eu levava para casa era recebido com “e o que isso tem de melhor do que construir uma família?”
“E então, antes de vir, entrei em um conflito enorme, porque, assim como na sua família, o natal é uma data importante para a minha. Imagine só o drama que foi anunciar que eu não passaria a data com eles?” Ela riu, desgostosa.
– Sua família deve me odiar. – sorriu, vendo-a sorrir de volta.
– Eles podem ter falado uma coisa ou outra sobre você, mas quem eles realmente desgostam sou eu. Porque eu deveria ser como eles, mas escolhi ser a mulher moderna e independente. Como se eu tivesse dito a eles que jamais me casaria, sendo que eu só escolhi ter meu próprio dinheiro e realizar alguns sonhos, antes de ter de dividir minha vida com um cara!
“Até que, na última conversa com a minha mãe, perguntei se ela achava que eu era uma filha ruim. Eu me sentia como uma. Sentia como se… não sei, como se ela desejasse não ter me tido.”
olhou para com ligeira ofensa. Ela sabia que sua mãe jamais pensaria isso, mas, nos momentos mais difíceis, qualquer coisa se passava na cabeça de uma pessoa.
– Espera por muitas respostas, menos a que tive. Minha mãe disse que, contanto que eu estivesse feliz, ela estava, mesmo que não aprovasse o caminho que eu escolhi. Apesar de tudo, era o meu caminho e pronto. – sorriu enquanto olhava para a lareira. – Aquela resposta tirou de mim um peso enorme. Eu deveria ter tentado me comunicar com ela antes. É minha mãe, oras, minha família. Nada poderia ser pior do que as paranóias que minha cabeça estava criando.
Ela voltou seu olhar para , que a olhava com atenção.
– Eu só acho que talvez vocês tenham esquecido de que são uma família.
O homem permaneceu calado, olhando para , que abriu um pequeno sorriso sem graça. Talvez ela tivesse dito demais, mas precisava dividir a opinião com o chefe. Ou ex-chefe. Se ele achava que havia perdido tudo, então precisava se lembrar de que tinha uma família. E, pelo pouco que ela conviveu até então, não parecia ser o tipo de família que o abandonaria.
– Você é extremamente eficiente. – disse. – Possui um quê dentro de si, que faz com que as pessoas consigam enxergar a sua essência e senti-la. Sempre foi assim, desde quando começou.
Ela inclinou a cabeça para o lado, confusa. Parecia um elogio, mas ela não queria arriscar dizer alguma coisa errada.
– Todas as vezes que eu me via sem saída, bastava olhá-la, para que soubesse exatamente o que fazer, como se você tivesse a solução. – ele riu. – Era simplesmente assim – estalou os dedos – eu a olhava e a solução aparecia como em um passe de mágica. Por isso a mantive por perto. Se você fazia isso comigo, talvez fizesse com outras pessoas também. E eu não podia arriscar perdê-la para um concorrente. Mas você sempre foi leal.
“Era um elogio, definitivamente”, pensou.
– E agora, novamente, aí está a solução. – murmurou. Não percebeu quando se aproximou da assistente; ela, tampouco. No entanto, quando deram por si, os narizes estavam extremamente próximos.
Algo dentro de vibrou, como se algo que estava desligado, se acendesse de repente. Olhou nos olhos de e o desânimo havia sumido.
“Meu Deus”, ela pensou. Será que aquilo era desejo?
Mas a pergunta para si foi a última coisa que conseguiu raciocinar, pois, logo em seguida, os lábios de grudaram nos seus, em um beijo inesperado, mas muito bem-vindo.
Ela inclinou o corpo para trás quando sentiu o corpo dele muito próximo do dela. Ao invés de interromper o beijo, inclinou-se junto dela, até que as costas de encontrassem o encosto do sofá. Enquanto os dois se posicionavam em uma posição confortável, suas línguas começaram a brincar, e seus braços, a rodearem os corpos um do outro.
– O que está fazendo? – ela perguntou, ofegante, enquanto ele descia os beijos na direção de seu colo.
– Não sei – murmurou em resposta e ergueu-se para encará-la –, quer que eu pare?
– Não. – ela puxou-o de volta para si. – Por favor, não.
Era a primeira vez, veio-lhe à cabeça rapidamente, que ela lhe ordenava algo e ele a obedecia, como se fosse seu subordinado. Enquanto sentia as mãos do homem passearem por seu corpo, sorriu, sentindo como se aquilo fosse perfeito, da maneira como deveria ser.
Ao se separarem, no entanto, não veio a situação desconfortável que ambos achavam vir. Encararam-se nos olhos, em busca de uma resposta para suas perguntas.
– Você me beijou por impulso? – ela perguntou.
– Suponha que amanhã meu pai anuncie Logan como o herdeiro – ele começou a falar –, e que, por conta disso, você não seja mais minha funcionária.
– Você não tem certeza disso.
– Do quê? De Logan ser o herdeiro oficial ou você não ser mais minha funcionária?
– Os dois.
– Bem, acho que tenho bastante certeza em ambas questões. – ele diz, ainda posicionado em cima dela no sofá. – De qualquer maneira, não tê-la mais como minha funcionária, significa que não preciso mais suprir a atração que tenho por você.
Como é que era?
– Atração?
– Você não percebeu?
– Você tem atração? Por mim?
– Por Deus, , esse tempo todo você não percebeu? – ele se afastou, olhando-a com descrença.
– Por que perceberia? Você estava toda hora namorando com mulheres lindas! Além disso, deixei de lado qualquer ideia romantizada sua, quando passou a me ligar de madrugada para trabalhar.
– Eu nunca a fiz trabalhar de madrugada. – ele se sentou, tirando a gravata do pescoço e a jogando em qualquer lugar.
– O quê? Você só pode estar brincando! – se levantou e pegou a gravata no chão, colocando-a junto do paletó. – E as preparações em plena madrugada para a pauta de reunião da semana?
Ela o viu erguer os olhos e encarar o teto pensativo. Parecia querer se lembrar dos dias que cometeu tal injustiça. E então, minutos depois, riu.
– Eu queria ter certeza de que não estava saindo com Jorge Maia.
fez uma careta.
– Maia? Do financeiro?
– Eu ouvi dizer que ele a havia convidado para jantar algumas vezes.
Ela abriu a boca, descrente do que ouvia. De fato, Jorge a convidou para jantar, mas a empresa possuía uma política que proibia relacionamentos internos e, honestamente, entre um cara que curtia falar sobre política com amigos e o emprego bem pago de , não houve dúvidas sobre o que escolher.
– Você acreditou em fofocas? – ela perguntou, ainda mais descrente e boquiaberta, se aquilo era possível.
– Minhas fontes são muito confiáveis.
– E por conta disso, me ligou à uma da manhã para saber se eu estava em casa?
ergueu os ombros.
– Consegui o que queria.
– Você é… – ela lhe deu as costas, percebendo, ao ver seu reflexo na janela, que estava sorrindo.
O sorriso, no entanto, era devido ao fato de o homem a quem ela babou no início do trabalho estava lhe dizendo que tinha um interesse nela, ou por ela finalmente parecer estar entrando nos eixos, de acordo com as crenças de sua família?
, por outro lado, observava as costas de . Seu trabalho sempre foi mais importante. Mais importante que qualquer mulher, principalmente as que tentavam desviar sua atenção do que lhe importava ou que, pior, o fazia escolher entre as duas opções, o que, convinha-se, eram a maioria. Nunca havia acontecido de encontrar uma mulher focada exclusivamente em trabalhar. Elas sempre queriam alguma coisa, como sua própria mãe. Tinha de haver um benefício, e ele não se referia ao sexo. Jantares, presentes, passeios, algumas até cursos para familiares pediam. O fato dele ser rico era o suficiente para que pudesse se dispor a pagar o que elas queriam em troca de sexo e companhia, era o que parecia ser.
No entanto, viu na assistente algo diferente. Achou que ela desistiria após ver-se em um trabalho extremamente complicado, com um chefe ainda pior. Pesquisou sobre a mulher enquanto ela fazia de tudo para conseguir se manter na empresa. Achava que sua eficiência tinha uma segunda intenção. E então, de repente, viu-se acostumado com ela. Ter sua presença se tornou natural; habituou-se a não precisar pensar em supérfluos, porque ela estava lá, resolvendo tudo por ele. Em seguida, pegou-se a admirando, não romanticamente, mas como uma pessoa que observa as pessoas. As pessoas de São Paulo não eram muito diferentes das de Nova Iorque, apostando alto e algumas até passando por cima de outras para conseguirem chegar até onde querem. No entanto, sempre pareceu paciente. Seu currículo não era bom. Foi contratada por engano, após a funcionária do RH ter lido errado um item de seu currículo. Por já ter assinado a carteira de trabalho, precisaria aguentá-la por três meses, o tempo para se adaptar ao cargo. Ele achou que se livraria dela e da provável incompetência que seu currículo mostrava, mas viu que não era ela quem era incompetente, era a empresa anterior que não soube explorar os seus funcionários. Trocou a opção óbvia de assistente por ela e, dali por diante, foi, aos poucos, abrindo mais e mais espaço de sua vida para a mulher, até que ela tivesse acesso até sua conta bancária.
Se houve algum momento nos dois anos trabalhando juntos, que desconfiou de , ele definitivamente foi esquecido pela eficiência que ela carregava. Em um dado momento, nos mais difíceis, ele passou a procurar pelo olhar da mulher, como se soubesse que enxergaria, ali, uma solução. E lá sempre estava ela. Sua sobrancelha se erguia, sempre em surpresa, mas que era interpretada como um incentivo à ação, que no final das contas era sempre bem-vinda.
Mas, como sempre, seu trabalho era mais importante. E se havia algum sinal de interesse na assistente, ele logo tratou de suprir o sentimento. Havia coisas mais importantes para se importar, como a concorrência com o irmão, que estava na China fazendo um bom trabalho.
Só que não mais. Não havia mais concorrência. Ele havia perdido, e não pela sua incapacidade, mas sim pelo destino. Estava escrito, desde seu nascimento, que ele sempre seria o segundo. Logan era o primeiro. No entanto, como o lembrou, era o seu irmão. E ainda que o pai houvesse incentivado na competição, não havia o intuito de transformá-los em rivais. Mais uma vez, ela havia trazido a solução. Dessa vez, para seus sentimentos. Ele deveria estar se sentindo um péssimo derrotado, mas, ao invés disso, olhava para as costas da assistente – ou talvez ex-assistente, com certeza ex, agora que ele havia cedido ao sentimento que trancou dentro de si há um ano, e que pareceu estar crescendo de tamanho para que, agora, sentisse de modo muito mais forte.
– Venha cá. – ele chamou, vendo os ombros de tensionarem antes de se virar para ele. – Não finja que nada aconteceu, ou terei de beijá-la novamente?
Ele se divertiu ao vê-la abrir a boca e então fechá-la. E quando estava prestes a abrir novamente – ele tinha certeza de que ela não conseguiria dizer nada -, alguém bateu na porta do quarto.
foi em direção à porta e a abriu, dando espaço para Joanne entrar com algumas sacolas.
– Trouxe pijamas para . – ela disse, sorridente. – Acho que ficaria desconfortável dormir com a roupa que está usando ou o roupão no banheiro.
– Obrigada! – exclamou, aliviada. Odiava dormir sem pijama, prezava bastante seu conforto na hora de dormir e, por mais que para algumas pessoas fosse bobagem, o pijama fazia uma grande diferença para ela.
– Está tudo bem com você, meu filho?
– Claro, vó, por que não estaria?
A avó não lhe respondeu, mas pode ver em seus olhos que ela enxergava muito. Sempre foi assim. Joanne era muito importante para si, até mais do que a própria mãe. Fora ela a pessoa que cuidou de si quando mais novo, enquanto a mãe saía para as compras ou em alguma viagem de amigas. Ela quem explicou que não havia diferença entre ele e Logan, e que o pai amava os dois da mesma maneira. Por muito tempo, acreditou em suas palavra; quando ficou adulto, passou um bom tempo querendo acreditar, até que se esqueceu.
– Feliz natal, Joanne. – ele disse, de repente, se levantando para abraçá-la.
viu o sorriso de , enquanto ele abraçava a avó. Lembrou-se de quando pensou que ele não era humano, pois só sabia falar de trabalho o tempo todo; talvez ele fosse um pouquinho humano. Talvez fosse só com a avó. Ou talvez, assim como acontecia com ela, fosse uma loucura do natal.
– Sairemos amanhã cedo. – ele disse para a avó.
– Os verei no almoço, imagino. – ela olhou de para , que mantinha um sorriso sereno no rosto.
– Claro.
– Talvez eu não esteja acordada para me despedir…
– Não esperaremos pela senhora, não se preocupe.
Joanne permaneceu um curto tempo observando o neto, para então depositar um beijo em sua bochecha e em seguida, se despedir de .
– Obrigada. – a mais nova disse à anfitriã, que lhe respondeu:
– Sou eu quem deve dizer isso, querida. – e então se retirou.
– Sua avó é a pessoa mais doce da sua família.
– É mesmo. – sorriu. – Ela é muito especial.
Os dois permaneceram calados, até perceber que carregava nos olhos, o olhar de quem só aguardava que ela se tocasse. E, no momento que ele abriu a boca para provocá-la, ela logo disse:
– Vou tomar um banho! – e correu para o banheiro, trancando a porta logo em seguida.
deu uma risada, algo que não esperava, pelo menos não naquela noite.
Olhou ao redor e viu-se sem nada para fazer. Havia pedido para a governanta da avó deixar o tablet no escritório e, apesar de não ter a intenção de usá-lo mais naquela noite, precisava de algo para se distrair enquanto insistia em fugir de si.
Saiu do quarto, vendo a equipe de eventos organizar toda a casa para deixá-la do modo que a encontrou. Lena, a governanta, estava no comando de tudo e se ofereceu para buscar o tablet para , mas ele dispensou o favor, dizendo que ele mesmo pegaria.
Seguiu o caminho até o escritório, que ficava em uma ala mais afastada, pois era o local onde o falecido avô trabalhava, e este reclamava da facilidade que tinha de se distrair com o barulho. No meio da caminhada de pouco mais de cinco minutos até o cômodo, ouviu um som de algo caindo ao chão. Seguiu a direção do som, a fim de orientar o convidado que havia sido deixado para trás bêbado, até Lena, que daria um jeito de fazê-lo chegar à residência de forma segura. No entanto, assim que entrou na sala de leitura da avó, deu imediatamente um passo para trás, ao ver Coraline acompanhada da autoridade que havia oficializado o casamento. Pediria desculpas se elas tivessem percebido a intrusão dele, mas elas estavam ocupadas demais. Se beijando.
Xingou-se mentalmente por não estar com o celular em mãos. Lembrou-se, então, do motivo de estar ali e se apressou para chegar logo no escritório. Com sorte, poderia…
Não. A conversa com não podia ir para o fundo do poço. De qualquer maneira, ele só seria visto como um maníaco pela herança, e isso ele não era. Tinha de aceitar a derrota, e deixasse que o irmão lidasse com o problema a que se envolveu sozinho. Esse era o seu limite.
Foi inesperado, entretanto, encontrar com Logan sentado no sofá próximo à lareira que havia no escritório. Olhou na direção de quando este abriu a porta, e então voltou o olhar para a janela.
– Pode entrar. – ele disse, como se fosse necessária sua permissão. – Está ali. – apontou para o tablet na mesa de centro do imenso cômodo.
entrou calado e caminhou até o objeto. Estava para fazer o caminho de volta, quando o irmão disse:
– Eu o surpreendi ou não?
“Depois do que acabei de ver, com certeza não.” Ele quis dizer, mas manteve-se calado sobre o assunto.
– Foi uma surpresa. Parabéns?
Logan soltou um breve riso nasal, não tirando o foco da neve que caía do lado de fora. Não havia previsão para neve, havia? Aquilo, sim, era o típico natal branco americano.
– Aonde vão morar? Aqui?
– Minha casa está aqui. – Logan disse. – Ela só precisa se mudar.
– É um longo caminho, de Manhattan para cá.
O mais velho encarou o irmão e disse:
– Ela vai sair.
– Ah.
– Não é o que a sua irá fazer quando isso acabar?
– Isso?
– . – Logan finalmente virou sua atenção, movendo o corpo até que ficasse de frente para o irmão. – Chega de mentiras.
– Meu relacionamento não é uma mentira. – pelo menos não seria mais, assim que parasse de fugir dele. Ela não lhe daria um fora, não é? Se não estiver interessada nele, ele era um homem paciente. Poderá conquistá-la, assim como ela fez com ele.
– Aonde foi que aconteceu? – ele perguntou, e quando estava prestes a responder sobre , Logan ergueu o copo da bebida que bebia. – Aonde foi que paramos de nos comunicar?
O mais novo não respondeu. Ao invés disso, caminhou até o bar e serviu a si mesmo da mesma bebida do irmão. Sentou-se em uma poltrona próxima e passou a olhar para a neve afora.
– Você me odeia? – Logan perguntou, de repente, ao ver que não lhe respondia. Talvez tenha achado que era proposital, mas na verdade, o mais novo somente pensava na resposta que não sabia.
– Não. – respondeu após hesitar. Não era adepto ao sentimentalismo como o irmão mais velho era, talvez tivesse a ver com a educação que recebeu da mãe. Ouvia dizer, quando mais novo, do próprio irmão mais velho, o quanto a mãe era carinhosa. Amanda, apesar de amar como uma mãe deve amar seu filho, não era de expressar o carinho da maneira como provavelmente a mãe de Logan fazia.
– Por quê?
– Porque é meu irmão.
– Isso não significa muito. – ele riu. – Há muitas pessoas que são irmãos e não se importam de odiar uns aos outros.
– Não eu.
Logan se calou e passou a observar . Uma característica paterna, os dois sabiam. Robert era muito mais observador do que ativo. Ele preferia ficar calado, do que impressionar os outros. Agia sempre silenciosamente e, desde pequenos, os dois filhos sempre viram nesse método, a maneira mais eficaz de se fazer um negócio. O que via como uma vantagem em cima de Logan, era justamente o fato de ele ser menos emotivo que o irmão, tornando-o um ótimo empresário, mas não tão bom ser humano.
– Houve uma época em que eu o odiei. – Logan chamou a atenção de . – A causa era a inveja. Você se destacava em tudo, suas notas eram ótimas, conseguiu um estágio sem precisar da ajuda do nosso pai. O odiei por estar sendo melhor do que eu havia sido. Por alguns meses, alimentei esse ódio com algumas mentiras, e então vi que estava sendo imaturo. Ninguém havia dito que você era melhor que eu. Eu apenas supus.
– Eu sempre achei que você fosse o favorito. – disse.
– Talvez eu seja. – ele ergueu os ombros. – No fundo, sempre soube que era. Quando achei que você estava roubando esse posto, o odiei.
soltou um riso com o irmão.
– O que falta entre nós é comunicação. Mas nunca fomos bons em nos comunicar. Não parece tão fácil do que quando éramos crianças.
Disso sabia. Havia, inclusive, pensando no assunto mais cedo. Quando mais novos, os dois eram, além de irmãos, amigos. Sabiam que podiam contar um com o outro, enquanto agora…
Agora eles estavam brigando por uma herança antes mesmo do falecimento do pai.
– Por que você quer a empresa? – Logan perguntou.
– Para ter o controle. – respondeu de imediato. – Minha vida inteira fui controlado. Comparado a você. Achei que, se eu conseguisse ser o presidente, não haveria ninguém acima de mim para me dar ordens. Sou bom em trabalhar sob ordem, mas sou melhor no comando. Gosto de mandar.
Logan riu, mexendo a cabeça em concordância. , de fato, sempre foi mandão. O comportamento, quando deixou de ser uma criança pequena e se tornou uma criança consciente, foi suprido por ordens e mais ordens. Era assim com a maioria das crianças. Principalmente quando havia uma hierarquia.
– O que você sabe sobre Coraline? – Logan perguntou, no momento em que terminou sua bebida e preparou-se para ir embora. O mais novo parou, pensando no que responder. A mudança, no entanto, não poderia ser de imediato. Ele não era tão bom assim.
– O que me permitiu saber. – respondeu, misterioso, mas claro o suficiente para o irmão. – E você? – retrucou, querendo saber o mesmo sobre .
– Há algo que eu deva saber sobre ela que você não mostrou?
abriu a porta com o tablet em mãos e, antes de sair, disse:
– Ela é muito mais inteligente do que imagina.
Na volta para o quarto, passou direto pela sala onde Coraline e sua amante estavam.
Capítulo 7
Ao abrir os olhos, quase pulou da cama. estava muito próximo, adormecido na mesma cama que ela.
Quando saiu do banho na noite anterior, não o viu e achou que ele havia ido dormir em outro cômodo, já que a avó havia dito que não os acompanharia na saída. Utilizou do momento para pensar no que havia acontecido. Seu chefe havia a beijado e dito que sentia atração por ela. Talvez, por conta de sua obsessão com o trabalho, deixou de lado os sentimentos, assim como ela havia feito logo no começo. Perguntou-se o que sentia no momento, mas não achou uma resposta imediata ou, talvez, não quisesse saber da resposta.
Achou que levaria um bom tempo para cair no sono, mas assim que fechou os olhos, não os abriu mais até o dia seguinte, quando tomou o susto de vê-lo tão próximo a si. Seu rosto perfeitamente angulado era ainda mais bonito quando adormecido. Ela achava que havia visto todo o tipo de expressão no rosto do chefe, mas aquele, de longe, ganhava de todos. A questão sobre a noite passada voltou à tona, fazendo com que ela tivesse vontade de sair correndo da cama, mas isso poderia acordá-lo. Não queria acordá-lo, porque não queria enfrentá-lo. Não tinha como fugir.
Suspirou, aceitando que deveria aguardar ele acordar. Sua paciência, contudo, não durou mais do que dois minutos. E tão logo ela se viu tentando sair da cama.
– Se você tentar mais um pouco, terei de beijá-la. – a voz do homem soou sonolento atrás de si, paralisando-a de susto. – Muito bem.
– E-eu estou apertada…
não respondeu por alguns segundos, que para , pareceram uma eternidade, até que então sua mão, apoiada na cintura da mulher, ergueu-se, livrando-a de seus braços.
Ela correu até o banheiro, que estava totalmente equipado, como se fosse um quarto de hotel. Fez a higiene matinal e preparou-se para encará-lo ao abrir a porta. Quando o fez, viu o homem quase vestido com a roupa da noite anterior.
– O helicóptero sairá em meia hora, você se importa de comermos em casa?
– Não! – sua voz saiu esganiçada, o que a fez murmurar em vergonha. , por outro lado, abriu um pequeno sorriso e passou por ela, entrando no banheiro atrás de si. suspirou, desanimada com o comportamento de adolescente, e se arrumou da melhor maneira que conseguia.
Meia hora depois, o piloto decolava com o helicóptero, em direção a Manhattan.
A vista da ilha de manhã era um espetáculo fora de série. Por estar ainda amanhecendo, o esplendor era visível e, para , inesquecível. Não conseguiu tirar os olhos do horizonte, onde o sol já havia raiado há pouco mais de uma hora. Durante todo o caminho, branco e mais branco. No céu e na terra. Era a primeira vez que ela via neve e com uma vista do céu… jamais esqueceria aquela visão.
– É lindo… – ela murmurou, triste pelo helicóptero fazer o caminho para pouso.
– É mesmo. – murmurou para si, enquanto olhava para ela.
No apartamento, os dois seguiram direto para seus quartos e, antes de entrar no seu, logo anunciou.
– O almoço está marcado para as duas. Sairemos à uma. Não precisamos estar em ponto. Ninguém é esperado para chegar na hora.
– Claro. – ela disse, lembrando-se de quem era. Ele era o chefe e ela, a funcionária. Mesmo que tivesse perdido, ele ainda não havia sido retirado de seu posto. – Tenho a manhã livre?
Aquilo chamou a atenção do homem.
– Por quê? Pretende sair?
Ela não queria responder. Daniel havia enviado uma mensagem na noite anterior, dizendo que queria encontrá-la para lhe dizer algo. Apesar de não esperar nada, ele foi uma pessoa muito simpática com e ela não queria tratá-lo com pouco caso, como havia dito para fazer.
– Hum… passear?
Esperou por uma resposta. Na verdade, queria que ele dissesse não. Assim, quem sabe, teria certeza de que a noite passada não foi somente uma coisa de momento, um sentimentalismo causado pela situação e o espírito de natal. Mas nada disse. Ergueu uma sobrancelha e então deu-lhe as costas, entrando em seu quarto. suspirou, derrotada, e perguntou-se se deveria mesmo ir para um encontro com Daniel. Ele havia dito que a encontraria independente do horário. Ainda não dera oito da manhã.
Entrou em seu quarto e se arrumou. Estava cansada, mas não o suficiente para fazê-la voltar para cama, quando Nova Iorque estava do lado de fora, a esperando. Ao se lembrar da ilha, a animação logo retornou e ela se aprontou para sair, dando de cara com assim que abriu a porta do quarto.
– O que…
– Vamos. – ele segurou em sua mão, fazendo-a arregalar os olhos. – A levarei para tomar café da manhã.
Aquilo, definitivamente, não estava nos planos da mulher. Ela não havia entrado em contato com Daniel ainda, mas esperava fazê-lo no elevador. Não sabia aonde encontrar com ele, mas imaginava que ele fosse lhe dar uma ideia. O plano mudou quando decidiu ser, ele próprio, o guia turístico do dia.
Levou ao Museu Metropolitano de Arte, o famoso MET. Lá, havia uma mesa separada em seu nome no restaurante do local, famoso por seu brunch. Haviam aberto, de última hora, a área para os dois. A diretoria, que sempre tratava os como reis, devido à alta doação anual em seu evento de gala, logo informou que providenciariam um café da manhã para e sua acompanhante.
– Achei que quase nada abrisse hoje.
– Não abrem. – afirmou, deixando da maneira que ele queria, boquiaberta e animada. Observaram a beleza do Central Park enquanto comiam o café da manhã, e conversaram sobre tudo, através das perguntas de .
– Você realmente conhece a Beyoncé?
– Você quer conhecê-la? – ele perguntou.
– Está brincando? – exclamou. – É a Beyoncé!
Ele sorriu. Já havia visto esse lado dela antes, quando a via se relacionar com os colegas na empresa. Ela não tinha muita dificuldade em fazer amizade, mas, devido à sua posição como assistente principal, não conseguia manter um grupo de amigos no trabalho.
Após o café, ele a levou para passear em lugares que ela havia mencionado, e que ainda não havia visto. Durante as quatro horas seguintes, os dois percorreram metade de Nova Iorque de carro, parando em lojas e fazendo o restante das compras que precisava para levar para sua família e amigas. No tempo livre dos dias anteriores, fora constantemente lembrada por todos de seus pedidos. Talvez tivesse que comprar uma nova mala de porão.
Perceberam que era quase meio-dia, quando saíram da última loja na 5ª avenida. Fora, inclusive, quem percebeu, chamando atenção para o horário e decidindo que estava na hora de voltarem para a cobertura e se preparem para o almoço na casa dos pais de . Este, no entanto, mantinha seu próprio ritmo, como se não tivesse pressa em voltar, o que, era claro, ele não tinha.
O almoço, apesar de mais íntimo do que a ceia da noite anterior, ainda possuía cerca de 50 pessoas. A família em si não era grande. Robert tinha apenas uma irmã mais nova, que era casada e possuía uma filha, também casada, mas que ainda não tinha filhos. Sendo assim, todos os demais convidados eram amigos de família que preferiam a companhia dos , à de suas próprias famílias.
não soube porquê se surpreendeu em ver Daniel ali. Ele estava em todos os lugares. Ao vê-lo conversando com um outro homem em um canto da enorme sala de visitas, pensou em como ele parecia um autor de livro, com a blusa branca de gola alta, a calça preta e o casaco sobretudo por cima. Faltava-lhe apenas um óculos e o livro nas mãos para finalizar a fantasia completa. Lembrou-se de , que acabava de desviar o olhar de si e passava a cumprimentar os convidados que já estavam presentes.
O almoço foi servido quase três horas e ninguém parecia faminto, como provavelmente sua família estaria a esta hora, observou. Fora posicionada do lado de , próximo de Logan e Coraline, e, diferente da noite passada, em que esteve à vontade junto de seus amigos, dessa vez manteve-se calado, deixando que Logan e o pai conversassem à vontade.
Após a sobremesa, um quarteto de músicos foi posicionado na sala de visitas, tornando o ambiente mais caloroso. aproveitou o momento para responder às mensagens da família, que não parava de lhe enviar mensagens de natal, já que ela era a única integrante não presente na casa da avó.
Falou com todos por vinte longos minutos, confirmando dezenas de vezes que havia comprado o que haviam pedido, e que a mala já estava pronta. Como passou o natal longe, deveria passar o ano novo junto deles, já que a regra era essa: por passarem o natal juntos, todos tinham o direito de passar o ano novo aonde e com quem bem quisessem. Mas, se por acaso algo acontecesse e o natal não pudesse ser passado junto, então a pessoa meliante deveria passar o ano novo.
– É uma família calorosa como você.
deu um pulo e se virou para trás, vendo Daniel encostado no batente da porta dupla da sala de descanso dos .
– Extremamente calorosa. – ela disse, olhando para trás, para ter certeza de que não havia ninguém ali. Ela não poderia falar em inglês naquela mansão. Pelo menos, não de maneira fluente.
– Você não me ligou. – ele observou.
– Desculpe. – ela coçou atrás da orelha, sem graça. – Dormimos na casa da sra Joanne ontem por conta da tempestade e tivemos de ir e voltar de Manhattan, para nos aprontarmos para o almoço.
– Entendo. – ele se aproximou dela, parando em uma distância respeitável, ao mesmo tempo que dentro de uma zona perigosa para quem surgisse de repente. – Podemos nos falar agora?
– Ah… – ela olhou ao redor. – Acho que sim?
– Acha? – ele sorri. – O que a faz pensar que não?
– Bem…
– Você anda sendo um ótimo anfitrião para a minha convidada, Harris. – a voz de soou à porta, fazendo com que , mais uma vez, desse um salto de susto, dessa vez para mais longe de Daniel. – Como sempre, devo dizer.
O sorriso que Daniel mantinha para mudou, ainda que a expressão que dirigiu a fosse considerado um sorriso.
– E você, como sempre, no meio do caminho, .
olhou de um para o outro. Dois homens maravilhosos, gringos, possivelmente com uma rixa antiga, mas que ela poderia se regojizar pensando que era a causa da desavença. Deu mais um passo para trás, a fim de ter uma visão melhor da cena.
– Interessante a sua maneira de enxergar a situação, Harris. – entrou no cômodo, as mãos dentro dos bolsos. – No meu ponto de vista, você sempre quem se intrometeu em lugares em que não é chamado.
– Vocês se conhecem. – afirmou, como uma maneira de fazê-los lembrar que ela estava ali e muito curiosa para saber o que acontecia entre eles.
– Ah, sim. Muito bem. – Daniel sorriu para ela. – Ele é irmão de um grande amigo meu.
não lhe respondeu, mas também não negou. Não achava, entretanto, que Daniel fosse um grande amigo de Logan. Colega, talvez.
– Você é amigo de Logan? – arregalou os olhos para Daniel.
– Acredite quando digo que foi uma coincidência.
– Mesmo? – quem respondeu. – Você sempre foi muito solícito.
– E você, desconfiado. , nem tudo corre em torno de seus problemas familiares. Além do mais, me parece que você não superou nosso último encontro.
– Você deve compreender que não tenho uma boa impressão sua, Harris, e que se você está aqui e ao meu redor, é porque tem um contato mais próximo de Logan.
– Estou perdida. – disse, vendo-os não desviarem os olhares um do outro para ela. Com certeza não era uma briga por ela, mas sim somente a rixa do passado.
– Seu chefe tem uma síndrome de perseguição de mim, porque é um mau perdedor.
– Não sabia que trair um amigo pode ser chamado de síndrome de perseguição, mas se é isso, então que seja. – disse, calmo.
– São águas passadas.
– E espero que não se repita. – o anfitrião disse, olhando para .
– Ela não é sua, .
– Você não é burro, Harris. Sabe que fui eu quem a trouxe.
– Como sua funcionária. Eu a conheci como uma pessoa normal e agora estou mantendo contato com ela.
Os dois permaneceram calados após a resposta de Daniel. não encontrava uma janela em que se apoiar, para seguir junto na discussão. Decidiu, então, manter-se calada e esperar que um deles cedesse, caso contrário, fingiria demência e sairia do cômodo para que eles resolvessem seus atritos sozinhos.
– Como está Abigail? – perguntou a Daniel, causando um riso no homem. – E Naya? Rachel, não precisa se preocupar, caso não tenha percebido, ela está bem aqui, na sala de visitas. – apontou com a cabeça na direção de onde a maioria dos convidados, exceto os três, estavam.
– Acredito que estejam bem. Rachel, por outro lado, soube recentemente, ontem, para ser mais preciso.
– Isso, sim, é uma novidade.
– Quem são elas? – perguntou.
– Você não quer colocá-la no mesmo patamar que as outras, não é ? – Daniel colocou as mãos nos bolsos. – Por que não vai puxar o saco do seu pai mais um pouco, enquanto eu converso com e explico a ela a nossa história?
– Por que você não vai puxar o saco do meu pai, enquanto eu mantenho bem afastada de você?
– Bem, isso está ficando desagradável. – disse, vendo os dois a encararem. – Ou vocês falam comigo, ou acho melhor eu me retirar.
– Bem pensado – Daniel sorriu – eu e a acompanho.
ergueu uma sobrancelha na direção do outro, e logo soube que talvez fosse melhor ficar calada em um canto e esperar o desenrolar de tudo.
– O problema de , , é que as namoradas deles cansaram do perfil workaholic que ele tinha e, como deve saber, Manhattan não é uma cidade grande, e eu não tenho culpa nenhuma de ter sido escolhido para lidar com as mágoas que ele deixou nelas.
Ela não podia negar que era, sim, um mulherengo, e que a maioria de seus términos era por conta do trabalho. Olhou para o chefe, que, apesar de não manter um sorriso no rosto como Daniel, tinha a calma de observar a situação.
– É interessante como, em todas as vezes, elas escolheram afundar as mágoas durante o relacionamento.
E, dessa maneira, foi encaixando as peças. O colar de diamantes que mandou enviar para Rachel, sua última namorada americana, possuía um bilhete que equivalia o mesmo de sumir de sua vista, e ter sido bem recompensada. Lembrou-se que, na época, o achava o homem mais lindo que já havia visto pessoalmente, mas que era melhor manter-se longe, pois ele parecia tóxico. A atitude, inclusive, ajudou na retenção da atração que sentira pelo chefe. Não imaginava que o término, na verdade, tivesse acontecido antes por uma iniciativa dela, que o traiu com Daniel.
– Você sabia? – ela olhou para o autor, que a encarou. – Que eles ainda namoravam?
– Eles não estavam mais juntos. Ele a havia deixado para ir ao Brasil, puxar o saco do pai para conseguir uma herança que nem era dele para começo de conversa.
– Então você sabia.
Daniel, pela primeira vez, sentiu-se incomodado.
– Talvez tenha razão. – disse. – Talvez você o esteja perseguindo.
– Não diga besteira, . Eu realmente gosto de você. – ele manteve-se no controle, mas ela pode ver na mudança de peso da perna, que ele estava desconfortável. – O que importa nesta situação, é que existe um histórico. Se você escolhê-lo, eventualmente será deixada para trás. Trocada por um trabalho, enquanto que, se me escolher, terá um relacionamento saudável.
– Até eu encontrar outra pessoa. – finalmente tomou frente para se defender. Daniel o encarou. – Convenhamos – disse mais para Harris, do que – se for para considerarmos um histórico, então não importa com quem fique, o que importa é que, no final, a mulher que eu escolher para mim, você automaticamente escolherá para você.
Daniel soltou uma risada.
– Você está sendo absurdo.
– Estou mesmo? – sorriu. – Acho que estou sendo racional. Foi pura lógica. Além do mais, você já contou sobre quem realmente é, Harris? Ou ainda insiste em se passar por um autor literário?
– Você não é um autor? – ela o encara, estupefata.
– É claro que sou.
– Lançou somente um livro. – disse, chamando a atenção da mulher. – Um livro, há anos, e continua usando esse perfil para atrair as mulheres. Onde se conheceram? Na Biblioteca Nacional?
abriu a boca ao mesmo tempo que Daniel finalmente ficava sério.
– Como eu disse, pura lógica. – diz, dando dois toques com o indicador na cabeça. – Harris é um herdeiro, assim como eu. Sua luta foi há anos, mas, assim como eu, ele perdeu. Vive de uma renda humildemente cedida por seu irmão. Pelo menos até a morte do pai.
– Você está passando dos limites, .
– Isso se chama autodefesa, Harris. É um comportamento natural do animal. E, no fundo, somos todos, não somos? Você se meteu no lugar errado. Se quer uma aventura para suas fantasias, então procure-a melhor.
O silêncio pairou no ambiente. olhava de um para o outro. Daniel parecia outra pessoa. Tinha os olhos repleto de raiva. Talvez por ter trazido à tona um fato que lhe doía.
– Meu pai é dono da empresa X. Você deve ter ouvido falar. – Daniel olhou para , mantendo a pose e lhe explicando com a tranquilidade conhecida por ela. – Quando ele sofreu o primeiro infarto, soube que não poderia arriscar sofrer outro, para então decidir que era hora de transferir a responsabilidade para um dos filhos. Na época, eu estava na universidade, e meu irmão, treinando para ser diretor na empresa. Foi uma escolha sensata e óbvia. E eu não fui contra.
– Uma boa desculpa de perdedor. Você mal tentou, Harris.
Daniel manteve-se calado, olhando para como se estivesse prestes a atacá-lo. No entanto, voltou-se para .
– A família , entretanto, teve um peso forte na decisão do meu velho. Nossas famílias se relacionam há anos e, por isso, quando Robert disse que eu não tinha aptidão para dirigir uma empresa, meu pai imediatamente concordou e assinou todos os documentos, passando as ordens para que meu irmão fosse o herdeiro legítimo.
– E você guarda rancor deles? Acha que eles são os culpados por seu pai não ter escolhido você?
Daniel não respondeu. Manteve-se calado, mas não pensativo. A resposta era óbvia, o que tornou suas intenções ainda mais óbvias.
– Você não deveria ter feito isso. – disse. – Você deveria ter lutado por seu espaço, mesmo que fosse provável que seu pai não aceitasse.
– Ele não mudaria nada.
– Eu não acho que é verdade. – ela disse, fazendo-o, dessa vez, erguer a sobrancelha como costumava fazer. – Se ele lhe cede uma mesada, é porque se preocupa com seu bem-estar. Nenhum pai que se importa, faria isso.
Tanto Daniel, quanto olhavam para , como se ela fosse uma louca. Porém, ambos sabiam que ela tinha um ponto válido e que provavelmente tinha razão. Daniel nunca havia tentado mudar aquela decisão e, se começasse agora, talvez tivesse uma chance, antes do pai falecer, o que não parecia ser de imediato, já que o velho passou a cuidar mais da saúde após o primeiro enfarte.
– Ainda assim, acredito que sou uma opção melhor para você, . Fui sincero a dizer que não planejei esse encontro por conta de .
não disse nada. Manteve-se calado, observando como sempre a situação.
– Você não tem uma garantia de que ele não a deixará pelo trabalho. Talvez agora que está sem um rumo, possa ser diferente. Mas logo as coisas mudarão e ele voltará a dar mais valor aos próprios propósitos, do que a você.
– Isso não vai acontecer. – responde imediatamente.
– Como pode ter tanta certeza?
Ela olhou para e então foi até o homem, segurando sua mão, para enfim dizer:
– Porque sou igual a ele.
Daniel olhou para os dedos intercalados dos dois e então pode demonstrar, através de seus olhos, que havia compreendido a derrota. Assentiu, calado, enquanto deixava o ambiente de mãos dadas com .
– Boa sorte – ela disse para a Daniel -, com seu pai. Sei que vai conseguir. E se ficar estressado, pode sempre escrever um novo livro. Eu realmente achei que você fosse um autor, é bom com as palavras.
Recebeu um sorriso do homem. Talvez fosse de agradecimento. Ou talvez por pura educação. não deixou que ela tirasse a própria conclusão, pois puxou-a para longe daquela sala e de Daniel.
Não houve tempo, no entanto, de os dois conversarem sobre o assunto ou qualquer outra coisa. Assim que chegaram ao hall, que tinha conexão com a sala de visita, Thadeo surgiu à frente dos dois e anunciou que a família aguardava os dois no escritório de Robert.
olhou para , sem se preocupar em mostrar ao secretário, que havia entendido tudo o que havia dito. O chefe, no entanto, não demonstrou nenhuma reação. Virou-se na direção do escritório e, sem desfazer o toque com a mão de , caminhou em sua companhia até o local.
Era hora do julgamento final.
Capítulo 8
Ninguém ousava iniciar a conversa.
Além de Robert e Amanda, os filhos e suas acompanhantes, estava também na sala Thadeo, o secretário particular de Robert, e quatro advogados, dois da empresa, um da família e um de Robert. As decisões que seriam tomadas dentro daquele cômodo, que apesar de ser enorme, mais parecia um cubículo naquele momento, mudariam a vida de todos os integrantes dali.
manteve-se calado, aguardando o pai iniciar o curso discurso. Logan, por outro lado, se via mais disposto a iniciar a conversa, o olhar correndo de um lado para o outro, enquanto sua esposa mantinha-se como ele, ansiosa, mas comedida. Amanda, por outro lado, não se importava com a decisão. É claro que queria que cuidasse de tudo, havia, inclusive, tentando convencer o marido a favor do filho, no entanto, após um tempo e uma breve resposta negativa sobre seus pedidos, viu que seu posicionamento poderia ser mais desfavorável a , do que favorável. Além disso, o próprio filho nunca lhe pediu ajuda, fazendo com que ela se afastasse da situação e continuasse com sua vida de luxo, sem se preocupar com o futuro da família. Sabia que os não eram pessoas ruins; quando conheceu o marido, então recém-viúvo, não esperava que ele fosse se apaixonar por ela. Era a quarta filha solteirona de um magnata em Wall Street que só sabia trabalhar porque queria manter-se no luxo, e nenhum homem podre de rico queria a quarta filha, eles sempre paravam na terceira. Mas Robert quis e ela viu-se em vantagem às irmãs, já que, além de podre de rico, ele também era muito carinhoso e se preocupava com a família, o que significava, acima de tudo, que não passaria por cima dos desejos e ambições dela, desde que ela não fizesse o mesmo. E assim se é a harmonia entre o casal, que apesar de não serem exatamente próximos um do outro, também não eram falsos, como a maioria dos casais empresários.
observou todo o ambiente, perfeitamente organizado, de modo eficiente ao dono, para que ele não precisasse fazer nenhum esforço além do necessário. Ela admirava as empresas de organização que conseguiam criar um espaço proativo para pessoas com muito o que fazer e se preocupar, do que levantar-se para pegar um documento em um armário do outro lado do cômodo.
– Acredito – Robert começou a falar, após Thadeo lhe informar que aquele era o último documento necessário de sua atenção. Retirou a pasta da frente do chefe e a uniu com as demais em uma prateleira vazia logo ao seu lado, propositalmente esvaziada para aquele fim – que esteja na hora de passar a responsabilidade da empresa para um de vocês.
Mesmo ansiosos, Logan e Coraline mantiveram-se parados, observando atentamente cada palavra de Robert.
– Tenho plena certeza de que sabem tudo o que precisam para dirigirem a empresa. – ele continuou, observando calmamente os dois filhos. – Porém, preciso deixá-los a par de uma única informação, extremamente sigilosa, que somente pessoas parte da família deve saber.
sentiu suas sobrancelhas erguerem, assim como faziam todas aquelas pessoas. Sabia que estava ali como acompanhante de , mas não era oficial como Coraline, que havia se casado com o filho mais velho na noite anterior. No entanto, manteve-se calada.
– Por ser uma informação de sigilo, é obrigatório que ela mantenha-se oculta de qualquer pessoa não presente nesta sala, sob pena de multa. – Robert enviou um olhar para os quatro advogados, que dirigiram-se aos quatro mais jovens, entregando-lhes uma pasta com um único papel, contendo claramente que a informação passada ali deveria ser mantida em sigilo por período permanente. Os quatro assinaram o papel sem fazer nenhuma observação, mas cientes de que a informação poderia lhes custar milhões de dólares.
, antes de assinar, aguardou lhe dar uma orientação. Ainda estavam em pé na atuação sobre o relacionamento e o fato dela não entender inglês. Ele lhe disse, em português, de que estava tudo bem e que, contanto que ela não contasse para ninguém, algo que tinha certeza de que ela não faria, ele cuidaria de tudo.
– Muito bem. – Robert continuou, após observar os advogados se afastarem dos quatro com os documentos assinados. No entanto, ao invés de continuar a falar, fez um sinal para Thadeo, que atravessou até a porta que dava para uma pequena sala de descanso, com vista para o mar. Ao abrir, os quatro permaneceram calados, porém surpresos em ver Joanne acompanhada de uma mulher bem vestida. logo pode ver o broche que havia mencionado dos advogados. Os quatro que já estavam na sala também fazia uso.
Diferente da Joanne que haviam visto nos dias anteriores, aquela mulher tinha um olhar ambicioso ao invés de amoroso e, mesmo vestindo-se da mesma maneira, tinha uma postura mais ereta e empoderada.
– Joanne? – Logan perguntou.
– A empresa , ao contrário do que todos imaginam, não foi criada e administrada pelo seu avô. – Robert explicou, fazendo os netos abrirem a boca. – Durante muito tempo, a avó de vocês escolheu manter-se por detrás das cortinas, enquanto seu avô e eu fazíamos o papel de frente.
– Era uma época complicada. Obrigada, querida. – ela sorriu para , quando esta se levantou para ajudá-la a se sentar na poltrona próxima do sofá que ela e ocupavam. – Ter uma mulher no comando antigamente não era bem visto, muito menos dado credibilidade, mas alguém precisava tomar a liderança e o avô de vocês preferia apenas ser conduzido às tarefas. Cabia a mim cuidar de tudo.
Ela explicou como decidiu criar uma pequena loja com o avô logo após se casarem, e como, na altura em que estava grávida de Robert, o mais velho, três anos depois, a loja se tornara uma empresa com mais de 50 funcionários. Quando Robert se formou, eles já haviam conquistado os Estados Unidos, e na época em que o marido adoeceu e ela decidiu que era hora do filho tomar conta, já havia filiais na China e na Europa.
– Por que a senhora quis continuar às escuras, vó? – perguntou. – Poderia tomar a liderança da empresa facilmente.
A mulher balançou a mão.
– Eu fiz o que tinha que fazer. Não me importo em dirigir tudo por trás, é até mais conveniente. Posso fazer o que eu quero. Além disso, seu pai quem toma grande parte das decisões, eu apenas dou o veredito final.
O silêncio se instalou entre todos, até que Joanne olhou para os netos.
– A maior vantagem de se ocultar o papel em uma empresa, é que podemos observar a todos que estamos interessados, sem que eles nos vejam como um risco. – abriu um pequeno sorriso. – Vocês irão aprender, com o tempo, de que estar na liderança não significa em nada ser eficiente ou o melhor. Vanessa.
A mulher que permanecia junto dos demais advogados se aproximou com uma pasta já aberta para Joanne, que colocou os óculos e começou a ler o conteúdo:
– Coraline Evans, a filha mais nova de um comerciante de Nova Jersey, sem formação aparente, mas diversos cursos profissionalizantes… – ela ergueu os olhos para a moça, que olhava assustada para Logan. – Você é advogada, querida?
– Não. – a moça respondeu baixo, o rosto corando.
– E também não é casada com Logan, eu suponho?
Logan assentiu ao ver os olhos de Coraline se dirigirem em sua direção. A mulher voltou-se para a líder da família e lhe respondeu:
– Não.
– Foi o que eu achei. Você, no entanto, possui uma loja de artes em Boston. – ela voltou seu olhar para a folha. – Foi assim como se conheceram?
– Fiz dois anos de direito na Columbia. – Coraline disse. – Foi na universidade.
– E por que não se formou?
A moça ergueu os ombros.
– Eu gosto de liberdade.
– Todos nós. – Joanne lhe sorriu e devolveu a pasta para a advogada, que logo lhe entregou outra no lugar. soube imediatamente que era sobre ela. – E suponho, querida, que você saiba exatamente sobre tudo o que estamos falando. – os olhos de Joanne seguiram para a acompanhante de .
– Sim, senhora.
– Formada em administração de empresas… bem, me parece que vocês ocultaram bem menos do que os dois, não é? O que você veio fazer aqui, querida?
não respondeu de imediato. Manteve-se pensativa em qual seria a resposta ideal, mas, se estava para ser demitida, então poderia ao menos ser sincera e sair com a consciência menos pesada.
– Senhor é meu chefe. Me pediu para acompanhá-lo nesta viagem porque desconfiava das intenções do senhor em pedir para manter uma empresa, quando tinha completa capacidade de fazê-la crescer.
– É mesmo? – Joanne olhou para , que mantinha-se calado. – E por que não o fez?
– Ele fez. – respondeu, chamando a atenção, dessa vez, do próprio pai. – O desempenho mensal da empresa aumentou após uma mudança no quesito de sustentabilidade. Houve um aumento de produção por parte dos funcionários, após uma mudança na política interna. Foram mudanças aparentemente pequenas, mas que diminuiu o número de demissões, aumento de capacitações e melhoria na imagem da empresa com o público. Vimos uma melhora de doze por cento no ano passado e, provavelmente, mais dez por cento este ano.
– E por que esses relatórios não chegaram a nós?
– Porque eu não quis. – disse.
Joanne, pela primeira vez, mostrou-se surpresa com a resposta. Virou-se para o neto.
– E por que não?
– Porque, aparentemente, não era do interesse de vocês ter um filho melhorando os negócios. Era somente do interesse que um filho o fizesse. – olhou para Logan, que não demonstrou qualquer reação na afirmação.
A avó respirou fundo e manteve-se calada, enquanto todos os outros permaneciam em silêncio. Aguardaram por longos minutos, até ela erguer os olhos e encarar Logan.
– Filho, seja sincera com sua avó. – ela diz. – Você quer herdar a empresa?
– Honestamente? – Logan perguntou, vendo-a assentir. – Não.
o encarou, sério. Aquilo, sim, era uma novidade. Durante sua vida inteira, achava que o sonho do irmão mais velho era herdar a empresa, assim como a dele próprio. Manteve-se calado, esperando uma explicação, que não demorou a vir.
– Há dez anos, recebi uma ligação. – ele disse. – Era de Hilbert, meu avô materno. Ele estava adoecido e queria me encontrar, antes que partisse dessa para melhor. Fui até Ohio visitá-lo em seu leito de morte. Ele me entregou uma carta, que minha mãe havia deixado com ele, como se soubesse que iria morrer pouco tempo depois. A carta era simples. Ela pedia o que uma mãe pedia: que eu crescesse saudável, não esquecesse dos meus sonhos e cuidasse do meu pai.
Robert, ao ouvir a mensagem da falecida esposa, mexeu-se em sua poltrona, desconfortável. Observou atentamente as palavras do filho, mas não disse nada.
– Na época, eu pensava em uma maneira de informar a Robert que não queria ser seu herdeiro. estava indo bem na universidade, destacando-se em todos os aspectos. Eu poderia muito bem me mudar para o Havaí e abrir minha escola de surfe. E então, tudo mudou. O que poderia fazer meu pai mais feliz do que herdar sua empresa?
– Logan… – Robert murmurou. O pai jamais soube da existência daquela carta, e que, acima disso, o filho interpretaria de uma maneira a deixar de querer viver sua vida, para viver uma que achou que sua mãe queria. – Sua mãe jamais desejaria que você fizesse algo por obrigação.
– E o senhor? – ele perguntou. – Sei o que minha mãe queria para mim. Mas e o senhor?
O pai se calou. Pela primeira vez, , pode perceber, sem a real intenção de manter-se calado. Estava sem fala. Nenhum dos filhos nunca questionou o amor que o pai tinha por eles, podia-se ver claramente, se comparado ao relacionamento de seus colegas e amigos, no entanto, houve uma mudança após a morte da primeira esposa. A segunda, Amanda, trouxe certa vivacidade de volta, mas ninguém volta a ser a mesma pessoa de antes, após passar por uma experiência de morte.
– Eu gostaria que você fosse feliz, independente do que isso signifique para mim.
Os olhos de Logan encheram-se de lágrimas imediatamente, ao mesmo tempo que os ombros relaxaram como há tempos não fazia. Joanne e Amanda também viam-se sensíveis com a situação e, assim, Thadeo surgiu com uma caixa de lenços, distribuindo-os para todos.
– Devo dizer que casar-se não é um pré-requisito para ser o presidente de uma empresa familiar. – a avó anuncia, fazendo com que os demais rissem. – Mas querer ser o próximo no cargo faz, sim, uma grande diferença – ela olhou para , que mantinha-se sério. – É o que você sempre quis, não é, querido?
– É. Mas só se eu fosse capaz.
– Se não é capaz, duvido que haja alguém no mundo que seja. – Logan logo disse, abrindo um sorriso no pai.
– Eu concordo.
Joanne olhou para , que abriu um pequeno sorriso em resposta, concordando que ele também achava que seria uma boa opção.
– Bem, então acredito que esteja decidido. – Joanne diz, olhando para os advogados, que imediatamente começam a agilizar o serviço que haviam sido chamados para fazer. – será o presidente a partir do próximo ano.
– O que você irá fazer, Logan? – o pai perguntou interessado. – Uma escola de surfe no Havaí parece pouco promissor para sua personalidade.
O mais velho suspirou, pensativo. Havia cogitado algumas possibilidades, mas nunca a levou a sério. Olhou para Coraline, que ergueu os ombros, sem saber o opinar. Ela voltaria para Boston e se dedicaria à sua arte. Ele havia lhe prometido um ateliê maior e, no tempo em que esteve se passando por sua noiva, conseguiu conquistar vários clientes potenciais.
– Que tal uma pousada? – , de repente, disse. – No Brasil, alguns artistas estão investindo em nossas praias e ilhas, criando pousadas pequenas. Algumas, no entanto, já estão se tornando hotéis, devido à proporção.
A família olhou para Logan, que tinha suas sobrancelhas erguidas em surpresa. Havia visto algumas pousadas, inclusive, era seu lugar favorito para se hospedar. Pensou em investir em casas de aluguel, mas ter um lugar onde receber turistas de todo o mundo não parecia uma má ideia.
– Você tem experiência no ramo imobiliário? – ele perguntou à moça, que negou com a cabeça.
– Só sou observadora.
– Um pré-requisito para os , devo dizer. – Amanda finalmente disse algo, ouvindo risadas dos de sangue. – Se você quiser, Max, tenho amigas no ramo imobiliário em Los Angeles. Elas podem te guiar sobre o ramo.
Robert sorriu para a esposa, orgulhoso de vê-la cuidando de seu primogênito como se fosse dela. Agora que estava para se aposentar, talvez tivesse mais tempo para se dedicar à ela como merecia, se a mulher permitisse.
Enquanto a família começava, finalmente, a agir como uma família, pensou, os advogados faziam o trabalho de editar a documentação pronta e informar ao novo chefe da família, todos os trâmites necessários que para que a transferência fosse feita com sucesso. O anúncio seria feito dali a 2 dias em um evento para acionistas e diretores das filiais de todo o mundo.
Isso significaria que não voltaria mais para o Brasil, pensou. Por outro lado, não imaginava como seria a sua vida, já que, tecnicamente, ainda era assistente do chefe. Talvez ele a transferisse para alguma equipe ou, quem sabe, a demitisse, apesar de não haver motivos. Suspirou, pensando em como mais cedo os dois passaram por um momento tranquilo, conhecendo um lado novo de e passeando pelo que se transformou em sua cidade favorita.
Mas manteve-se calada sobre o assunto, conversando com Joanne quando ela começou a lhe perguntar sobre sua vida no Brasil. Logan informou que Coraline precisaria ir embora, pois havia um compromisso em Boston. A família anunciaria o divórcio dos dois em dois meses, por motivos de diferenças irreconciliáveis. As pessoas julgariam um pouco, mas a notícia não afetaria a empresa, pois confirmou que lançaria, na mesma época, algo que tornasse a separação do irmão um assunto praticamente insignificante. Durante sua experiência no Brasil, trabalhou em projetos para a empresa, que implantaria assim que entrasse na presidência.
Uma vez decidido e fechado todos os termos entre neto, pai e avó, a família voltou à celebração, onde amigos íntimos aguardavam, enquanto eram mimados pelos funcionários da mansão. Houve uma pequena troca de presentes, um ato simbólico, já que ninguém realmente precisa trocar presentes de natal. Eram quase oito da noite quando disse que ele e possuíam planos. Ela o encarou, visivelmente confusa, pois, até onde sabia, a encenação havia chego ao fim e, também, o serviço. Mais uma vez manteve-se calada e começou a se despedir do restante da família de . Agora que já tinham conhecimento de sua fluência na língua e de seu relacionamento com , manteve-se o mais profissional possível, mesmo Amanda e principalmente Joanne se despedirem calorosamente dela.
No voo de volta para Manhattan, observou o semblante feliz e tranquilo de . Mais uma vez experienciou uma nova expressão do chefe. A serenidade em seu rosto, sem todas as preocupações que o rodeavam, lhe dava um novo brilho.
Engoliu seco. Descobrir um novo lado de foi, mais do que uma surpresa, um problema para si. Ele era mais do que um homem de negócios. Passaram poucas horas juntos naquela manhã, mas foram o suficiente para criar milhares de fantasia em sua mente desocupada. Observá-lo sorrir como uma pessoa comum, fazer brincadeiras e não olhar nenhuma vez para o relógio ou o celular o fez parecer como um cara possível para . Enquanto dentro do trabalho e por trás dos ternos, cabelos arrumados e acessórios de valor altíssimo ele era um homem intocável, vendo-o agora, observando a noite escura com um pequeno sorriso no rosto a fazia imaginar que sentiria a falta de vê-lo todo dia.
não mencionou o que eles fariam ou se a programação mencionada era apenas uma desculpa para saírem mais cedo da mansão dos . Chegaram no heliporto da cobertura em Manhattan eram quase dez horas, mas, como ela havia ouvido falar de uma vendedora, Nova Iorque quase nunca dormia.
Pegaram o elevador direto para o subsolo, onde se dirigiu para uma vaga especial onde havia dois carros de marca estacionados. Com a chave destravou o carro maior.
– Entre. – disse, dirigindo-se para o lado do motorista.
Não passaram muito tempo dentro do carro. Pararam no estacionamento do Rockefeller Center e subiram para o térreo, onde o local estava praticamente inteiro coberto de decoração de natal.
observou boquiaberta o local. Apesar de público, devido ao horário não havia muitas pessoas, ainda que também não fossem poucas.
– Você sabe patinar? – perguntou, olhando para ela durante o caminho até um enorme ringue de patinação. De dia, quando ela passou na companhia de Daniel, era impossível enxergar o local, que estava rodeado de pessoas.
– Nunca vesti um patins na vida. – disse, lembrando-se de sua infância e adolescência, quando os primos e amigos passeavam de um lado, para o outro no clube e na rua do bairro onde moravam, e ela permanecia correndo atrás ou sentada os observando, porque não tinha um. Era caro e por ter mais 2 irmãos, os pais acabavam não comprando. Se os 3 não podiam ter, então nenhum teria. Essa era a regra.
então a fez se sentar em um banco de madeira, e em seguida seguiu para onde alguns funcionários mantinham-se aquecidos. Pegou dois pares de patins, de acordo com o tamanho de seus pés, e voltou até , entregando os pares menores para ela.
– Não sei patinar. – ela disse, caso ele não tenha compreendido o “nunca vesti um patins na vida”.
– Irá saber agora. Vista. – apontou com a cabeça para os calçados, enquanto vestia os próprios.
Ela hesitou por um instante e então, cuidadosamente, retirou os próprios sapatos. Algumas pessoas se aproximavam para perguntar se o ringue ainda estava aberto ao vê-los, mas os funcionários informavam que não. supôs que o chefe utilizou dos contatos para conseguir aquele feitio. Fazer o ringue do Rockefeller abrir em plena noite de natal somente para duas pessoas não era para qualquer um. Imaginava se era para alguém.
Quando terminou de calçar seus patins, agachou-se na frente de e tratou de terminar de ajudá-la a calçar os patins dela. Em seguida, ofereceu as mãos para que ela se apoiasse e pudesse seguir para o ringue.
– Eu vou cair. – foi a primeira coisa que ela disse assim que parou na entrada do local, sentindo o frio que o gelo da pista emanava. Olhou ao redor algumas pessoas observando os dois. – Será um show de horrores.
– Você só precisa se equilibrar.
– Aí é que está – ela murmurou, segurando-se firmemente no muro da entrada –, mal consigo me equilibrar no chão firme.
Ouviu uma risada e então a mão de se estender em sua direção.
– Cair faz parte do aprendizado. – ele disse. – Mas se você não se permitir tentar, jamais vai aprender. Vamos, estarei te segurando. Se você der sorte, talvez eu leve um ou dois tombos com você.
– Disso eu duvido. – ela segurou-lhe a mão, apoiando-se nele. – Não há nada no mundo que você não saiba fazer.
soltou uma risada enquanto aguardava ela tomar coragem para entrar no ringue.
– Há várias coisas. Eu não cozinho.
– Ah, este com certeza é um pré-requisito em um homem atualmente. – ela revirou os olhos. – Me segure!
– Para isso, você precisa confiar em mim. – ele apontou com a cabeça para o chão fora do ringue em que ainda estava em pé. Ela suspirou e soltou um gemido de quem não queria fazer aquilo. Ganhar uma marca roxa de natal, causada por um tombo em público no meio do Rockefeller Center não é exatamente o que ela tinha em mente para a viagem.
No entanto, era quem estava a chamando, com a roupa que não era seu uniforme de trabalho – milagrosamente, pareceu que ele vestia algo além do terno – e um sorriso que achava nunca ter visto durante sua permanência no Brasil. Por essa razão, respirou fundo e enfrentou o medo da vergonha e dos tombos que viriam.
– Confie em mim. – diz quando ela rapidamente vai ao chão, por sentir as pernas bambearem com o chão deslizante sob os pés. – Faça o que eu digo e aprenderá com mais facilidade.
Ela assentiu. Havia confiado no chefe nos últimos dois anos, apesar de ele tê-la testado diversas vezes neste período. Contudo, não possuía razão para não confiar nele. Disso ela tinha certeza. Percebeu que era fiel a quem lhe era fiel, assim como era extremamente sacana com quem tentava lhe passar a perna.
As aulas duraram por uma hora, obviamente não o suficiente para aprender a patinar sozinha, mas o bastante para que ela perdesse o medo de cair e tentasse, algumas vezes, arriscar dar alguns passos sem o apoio do homem.
Após as aulas, ele a levou para jantar em um restaurante no topo de um prédio. Não era o mais alto, mas dava uma ótima vista para o mar que circundava Manhattan. A noite estava fria, mas não chuvosa, o que era um milagre. Havia visto na previsão que o tempo pioraria na próxima semana, mas que seria possível sentir uma drástica mudança de temperatura nos dias que se seguiriam.
– O chefe é um amigo. – disse. – Eu tenho amigos. – ele completou ao ver o olhar surpreso da mulher. – Sabe, eu imagino o tanto que fiz, para que você tenha essa imagem fria sobre mim.
– Apenas sei o necessário para o trabalho, senhor… . – ela logo se corrigiu ao ver o olhar do homem. Mais cedo, antes de irem para a casa dos pais de , ele havia mencionado na vontade de ser chamado pelo nome, já que possivelmente não seria mais o chefe dela. Pelo jeito, parecia que ele mantinha a opinião sobre querer ser chamado pelo nome, mesmo agora ele sendo o chefe não só dela, mas de todo mundo envolvido nas empresas .
– Eu gosto de cachorros, apesar de ter alergia a eles. Aos animais em geral. Isso, em parte, colaborou para minha imagem de homem frio. As pessoas acham que não suporto animais, quando, na verdade, o único que posso ter são peixes, já que não posso e nem preciso tocá-los. Também gosto de dormir até tarde. Apenas não faço porque tenho medo disso se tornar um hábito e transformar minha vida em um inferno. O que mais quer saber sobre mim?
– Por que manda presentes caros para as mulheres com quem termina?
– Porque é disso que vivia meus relacionamentos. Dinheiro. É assim como sempre fui visto pelas mulheres, como um banco. É comum saber que um relacionamento baseado em dinheiro não durará muito tempo, e a melhor maneira de terminar tudo, é da mesma maneira como começou.
– Você nunca namorou alguém que não se importa com o seu dinheiro? Que se importa com você primeiro?
– Esse tipo de pessoa não existe no meu mundo. É comum haver casamentos de negócio. Mas já encontrei uma pessoa para mudar essa perspectiva.
– É mesmo?
– Sim. Você.
se calou. Não percebeu o quanto queria ouvir aquilo, até de fato ter ouvido. Ficou observando o homem olhá-la com um pequeno sorriso nos lábios, enquanto ela fazia o mesmo, só que de forma inconsciente.
– Antes do meu avô morrer, nós sempre amávamos o natal. Ele era um apaixonado pela data e sempre nos encantava junto. – começou a dizer. – Após sua morte, Joanne tentou manter a tradição, como vem tentando até hoje. Mas não é a mesma coisa. A magia do natal não vem. Até hoje. Hoje, me pareceu um milagre, e não estou falando do fato de eu ter conseguido herdar a empresa.
– Não? – ela perguntou, surpresa. Ele negou com a cabeça.
– Hoje, mais cedo, você me lembrou de como era me sentir no espírito de natal. Estar acompanhado de alguém que gosto de ter por perto e querer sorrir junto dela. Você tornou mais fácil de aceitar minha perda. Eu estava preparado. E sempre foi assim, eu disse, um combustível para meus momentos difíceis. Acho que é algo no seu olhar. Há um brilho inexplicável que move as pessoas para frente.
Ele parou se falar, deixando com que absorvesse tudo aquilo que ele disse. Deu tempo, inclusive, dela lembrar do que haviam feito pela manhã. Parecia ter sido há muito tempo.
– O que você acha de tentarmos? – perguntou, segurando a mão de sob a mesa.
– Tentar?
– Eu e você. Juntos.
Os olhos de se arregalaram. Uma declaração era tudo o que ela queria, mas havia muita coisa não dita ali.
– Mas duas pessoas não podem namorar na empresa…
– Eu mudarei a regra.
– Mas é um tanto inconveniente, não é?
– Eu sou o dono de tudo agora. Algumas regras não se aplicam a mim.
– Mas torna mais difícil para mim. Como seria minha relação com meus colegas de trabalho, quando…
– Demitirei qualquer um que ouse falar mal de você ou trate-a mal.
– Isso soa ótimo, mas não me sentiria nada bem em saber que—
– – ele a interrompeu, fazendo com que a mulher olhasse em seus olhos –, esqueça o trabalho. Eu resolverei isso. O que quero saber, é algo que, infelizmente, não posso fazer sozinho. Preciso de seu consenso, sua permissão para seguir em frente.
Ela viu a verdade nos olhos dele. Onde estava essa atração mútua que eles tinham pelo outro durante todo esse tempo? Talvez, lembrou-se ela de quando estava com e Daniel naquela sala, na mansão dos , ela estivesse certa, os dois eram muito iguais.
Mas isso, no caso deles, era uma vantagem.
– Vamos. – ela diz, sorridente. – Vamos tentar.
abriu um novo sorriso que, por força do hábito, observou como novo, já que nunca viu antes. O sorriso número 3, mas que, na opinião dela, já era o seu favorito.
– Ótimo. – ele disse, imediatamente movendo-se para perto dela e selando o acordo dos dois com um beijo.
Capítulo 9
No dia seguinte e pela primeira vez em sua vida, foi acordada com beijos e carinhos. Inicialmente, assustou-se, já que nunca havia acontecido antes, mas, ao seu lembrar da noite anterior, o rosto corou. Enquanto um par de mãos percorria seu corpo e um lábio beijava-lhe o pescoço, ela se afundava mais e mais entre a coberta e os travesseiros.
Ouviu uma pequena risada bem humorada de .
– Bom dia. – ele disse, ouvindo um murmúrio de resposta dela. – Não vai olhar para mim.
Lentamente e contra sua vontade, ela foi virando o corpo até estar absurdamente perto do corpo bem formado de . Por Deus, ela pensou, dormi com meu chefe!
E que noite havia sido aquela. Desconfiou que as mulheres com quem ele ficou ficaram com ele não somente pelo dinheiro, mas não quis fazer esse tipo de comentário logo na primeira manhã juntos dos dois. Naquela manhã, queria ser a única atenção dele.
Assim que começou a se arrastar para longe da cama, compreendeu que era hora de acordar. O relógio batia as oito da manhã, horário que ela há tempos não acordava e que duvidava que o chefe havia, alguma vez, acordado.
Tomaram um banho e se arrumaram para o café da manhã que já estava posto na mesa. Enquanto comiam, os funcionários faziam seus serviços no andar de cima da cobertura.
, por outro lado, se perdeu na vista incrível que a residência tinha: Nova Iorque. Aquilo parecia surreal, e somente o milagre de natal que acontecia todos os anos – ou quase todos – poderia explicar tudo aquilo. Estava no exterior, comendo um café da manhã de pessoas ricas, acordando às 8 em plena quinta-feira após uma noite de amor quase que inacreditável com seu chefe. O mesmo chefe a quem ela já imaginou cenas da noite anterior há alguns anos, no início de seu trabalho. O mesmo chefe que ela odiou alguns dias, por fazê-la trabalhar “como uma camela”.
Mas, será que ele ainda será seu chefe?
– Espero que eu seja o motivo desse devaneio. – a voz de a despertou, fazendo-a sorrir sem graça e voltar a comer. – Algo a preocupa?
– Não. – respondeu imediatamente, por força do hábito.
– Tudo bem – ele deu um gole em seu suco, a encarando –, agora, diga-me a verdade.
olhou para e soube que ele conseguia enxergá-la. Não sabia como, mas ele conseguia. O homem nunca havia prestado muita atenção nela e, em questão de alguns dias, já conseguia lê-la?
E ele ainda insistia dizer que não era perfeito em tudo.
– Bem – ela começou, após terminar sua refeição –, como que irá ficar meu trabalho? Continuarei sendo sua assistente? Você terá de ficar na sede, aqui em Nova Iorque, não é?
ergueu uma sobrancelha, surpreso. No entanto, não era pela questão em si, mas por achar que já soubesse o que aconteceria em seguida.
– Ficarei aqui. – ele respondeu, desanimando-a. – E você também.
– Como?
– Oras, você quer manter um relacionamento à distância?
– Você está pensando no relacionamento?
– É claro que estou. – ele riu, achando graça da seriedade da mulher. – Podemos trabalhar de vários lugares, mas não podemos nos relacionar, estando a praticamente um continente de distância do outro.
– Mas o trabalho é importante––
– – ele a interrompeu, dessa vez sério –, o trabalho é o de menos. Ainda que eu a demita por ordem dos acionistas devido à lei interna da empresa, consigo facilmente colocá-la em outra empresa tão boa quanto a minha ou, se preferir, abrir um novo negócio para você. O que me importa agora, não é um problema que consigo resolver com facilidade, é o que não consigo resolver sozinho.
– Nosso relacionamento. – ela murmurou, lembrando-se da conversa da noite anterior.
– Exatamente.
– Então… bem. Ficarei aqui com você. – disse lentamente, tentando associar a ideia.
– Estou achando muito charmoso a sua insegurança e falta de atenção nas minhas palavras, apesar de eu não querer que isso aconteça dentro da empresa.
– Não – ela rapidamente lhe responde –, não sou lenta assim no trabalho.
– Eu sei – ele riu. – Trabalhei com você nos últimos dois anos, lembra?
Ele terminou seu café e se levantou, imitando seu ato.
– Vamos nos arrumar, vamos sair.
– Para onde iremos? – ela perguntou no caminho do quarto.
– Lhe dar um presente de natal.
O presente, ela percebeu logo depois, vinha em forma de compras. Enquanto ela hesitava ao entrar nas lojas das marcas de grife que escolhia, ele tentava deixá-la tranquila sobre comprar tudo o que quisesse. entendia que era essa a maneira que ele entendia como agradar a uma mulher, mas tudo o que ela sentia, era desconforto. Não tinha aquele nível de vida, apesar de querer muito, e conseguir dessa maneira não lhe parecia certo.
Lembrou-se da avó e da mãe, que lhe ensinavam sempre que podiam, a não aceitar o caminho mais fácil, apenas porque ele parecia melhor. Muitas vezes esse mesmo caminho a levava para destinos ruins. No entanto, ela sabia que, às vezes, havia caminhos fáceis que levava a lugares bons.
Permita-se, . Permita-se. Ela pensava em forma de mantra, olhando para entrar em uma nova loja com ela e logo conversar com o atendente que traria dezenas de roupas para ela experimentar.
Passaram a manhã e o início da tarde comprando. Ela nunca imaginava que pudesse fazer aquele tanto de compras e gastar aquele tanto de tempo comprando, sem olhar para uma etiqueta e saber que havia dinheiro para pagar tudo aquilo. A vida de ainda a deixava um pouco desnorteada, mas se acostumaria.
Quando achou que era o suficiente para o dia, disse que estava na hora de almoçarem em algum lugar.
– Espero que goste de italiana. – ele disse, vendo-a sorrir em confirmação, enquanto saíam do carro, para um pequeno restaurante no SoHo.
Tão cedo a porta foi aberta para os dois, um grito em coro os saudou, fazendo-a arregalar os olhos e parar ali mesmo onde estava. Não era possível, ela pensou. Piscou até três vezes fortemente.
– Ora, mas não fique parada aí, , está parecendo uma boba! – a voz da mãe soou logo à frente.
olhou para , que estava logo atrás dela. Havia um pequeno sorriso nos lábios dele quando tocou na lombar da mulher e lhe sussurrou:
– Feliz natal.
– Por Deus, até que enfim! – a voz de Ana Amélia surgiu de repente. – está namorando!
Um segundo coro surgiu dos familiares e um abraço envolveu . Era a mãe, que emocionada, a abraçou fortemente.
– Eu sabia que você não me decepcionaria, minha filha!
– Mãe!
– Quando recebemos a visita de sua amiga do trabalho, achamos que você havia sofrido um acidente e morrido, mas, para nossa surpresa, ela trazia um convite do seu chefe para virmos até Nova Iorque passar o ano novo com você! – a mãe disse, animada. – Todos nós, dá para acreditar?
– Bem – ela olhou para o resto da família sorridente e barulhenta atrás da mãe –, agora acredito.
– Eu disse que era essa a menina que iria brilhar. – a avó surgiu logo atrás da mãe, que lhe deu espaço, para enfim abraçá-la. – Tenho muito orgulho de você, minha filha. Sempre tive.
– Sempre teve?
A avó inclinou-se para trás a fim de enxergá-la melhor, ao ouvir o tom de dúvida sair da boca da neta.
– E como não? Você foi a única que ousou sair da nossa tradição para buscar o seu sonho. – deu dois tapinhas carinhosos no rosto da neta. – A última pessoa que fez isso foi sua bisavó Ana Maria, que criou o nosso hábito de natal após enfrentar os próprios pais, que não acreditavam na data.
– E por que nunca soube disso?
– Ora, minha filha. – a mãe disse, abraçando a avó. – Se você ousou trilhar seu próprio caminho, deve passar por todos os obstáculos sozinha. E veja só como se saiu bem!
– Ouvi dizer que vai morar aqui, . – a avó disse, olhando para . – Você é o chefe que a roubou de nós?
– Eu sou o homem que a roubou de todos os outros homens. – ele disse, fazendo mãe e avó olharem para ele boquiabertas. – No Brasil, me parece que não há muitos homens inteligentes. – se colocou ao lado de , que corou.
– Graças à Santíssima, um homem inteligente! – a avó disse mais alto, ouvindo, mais uma vez o coro do restante da família. – Trate mal minha neta e verá o que uma velha pode fazer.
– Ah, sei bem o que mulheres como a senhora conseguem fazer. Me manterei em linha. – disse, logo murmurando para . – Ela me lembra muito alguém.
– Pensei nisso também. – ela lhe murmurou de volta, a imagem de Joanne surgindo à mente.
– Então quer dizer que você, além de ter encontrado um bom trabalho, também encontrou um bom namorado? – a tia surgiu, olhando para . – Você é daqui?
– Nascido e criado.
– E você gosta de mulheres que gostam de trabalhar?
viu erguer uma sobrancelha, um sinal de que não havia gostado da pergunta. No entanto, a família permaneceu calada aguardando por uma resposta e, por isso, se limitou a dizer:
– Gosto de .
A família fez um som de aprovação, fazendo com que corasse. Nunca havia pensado que fosse, ao mesmo tempo, começar a namorar E apresentá-lo à família inteira de uma vez. Observou o comportamento de todos enquanto a avó arrastava para apresentá-lo um a um aos integrantes presentes.
Enquanto isso, a mãe de logo se aproximou da filha e lhe deu um forte abraço.
– Quando se vira mãe – ela começou -, há milhares de coisas que você deseja para o seu bebê. Cria diversos futuros, todos felizes. Quando os vemos começar a falar, andar, correr e tomar as próprias decisões, é como se sentíssemos que estão dando um passo mais longe. É difícil.
olhou para a mãe, que a encarava carinhosamente. Sem perceber, os olhos encheram de lágrimas.
– Você sempre foi a mais fraquinha. Sua irmã, apesar de mais nova, a derrubava com facilidade quando pequenas. Foi uma surpresa para eu e seu pai quando você decidiu seguir um caminho diferente. Ele disse que você um dia se rebelaria, mas você foi além.
As duas observaram a avó fazer apertar a mão de todos os enteados, falando o que faziam, a quanto tempo estavam casados e quantos filhos tinham, informações, segundo ela, muito importantes.
– É bom saber que você encontrou alguém que goste de você da maneira que é. Nós, mulheres , temos uma personalidade que não deve ser mudada ou moldada por homens.
A filha olhou para a mãe com novos olhos. Aquela, sim, era uma mulher a quem ela gostaria de se espelhar. Isso, sim, era ter o verdadeiro controle sobre as coisas.
– A senhora, Ana Amélia – sorriu, retribuindo o abraço da mãe -, é uma mulher e tanto.
A mãe sorriu com certo orgulho para a filha.
– Antes de mãe, também sou mulher, . E uma mulher muito forte.
Disso, pensou com certo humor, ela tinha certeza.
– Diga que está drenado. – disse a , enquanto entravam na cobertura, após passarem o dia inteiro na companhia de sua família.
– Sua família é mesmo muito… excêntrica. – ele tira o casaco e o pendura no chapeleiros próximo à porta de entrada.
– Está se arrependendo de querer entrar nela?
– Não, se o motivo real de eu querer entrar nela me dar uma boa recompensa. – ele segurou sua cintura assim que adentraram à enorme sala de estar.
– Então… – ela o responde, passando os braços ao redor de seu pescoço, enquanto observa a vista do Central Park logo atrás dele – será que consigo um bônus de natal?
– Mais um?
– Você sabe o quanto me fez trabalhar fora do meu horário nos últimos dois anos?
abre um sorriso e gruda os lábios nos de , abraçando sua cintura, ao mesmo tempo que a traz para mais perto de si.
– Não se preocupe, pagarei todo bônus que você quiser, da maneira que você quiser. Mas se eu a fiz trabalhar tanto assim – apertou a cintura da mulher, sentindo o aroma de seu perfume, ao passear os lábios por seu pescoço –, talvez não consiga pagar tudo neste natal.
– Ah! – ela disse, sorrindo, sentindo o corpo estremecer com os toques daquele homem impossível. – Leve o tempo que for.
Eu tava precisando de uma história assim, embora eu esteja numa vibe muito kpop e tenha tido que usar a imaginação em algumas partes para ler com coreanos kkkkkkkkkkkkkk
NATASHIA, EU TAVA AGONIADA COM O DANIEL, TU SABE, MUIÉ. Mas acabou que deu tudo certo e o drama nem doeu tanto, grazadeus KKKKKKK
Eu tô com o coração quentinho e sorrindo igual besta aqui KHAJAHAHAHAHA
Amo quando tem tudo uma razão pra ser. E EU NÃO ESPERAVA QUE O SONHO DO LOGAN FOSSE O SONHO DELE. HAHAHA
Adorei as reviravoltas. É por isso que eu sou tiete sua faz tanto tempo KKKKKKKKK
Comentário originalmente postado em 28 de Dezembro de 2020