Capítulo 1
Por Keira
Meses antes…
Eu encarava a tela de meu computador tentando achar uma forma de resolver aquele problema na codificação do sistema que havia desenvolvido recentemente para uma empresa de softwares. Aquilo estava me dando uma bela dor de cabeça e eu já não aguentava mais ver números e letras na minha frente. Olhei para o relógio no canto da tela, pouco menos de cinco minutos para as seis da tarde. Ora, que se danasse. Fechei toda a programação e logo em seguida desliguei o computador. Revirei meu nécessaire em busca de um remédio que fizesse a dor de cabeça passar e fui até a cozinha em busca de um belo copo d’água. Eu mal havia terminado de engolir o comprimido quando meu celular tocou fazendo minha cabeça zunir.
— Alô? — retruquei um pouco mal-humorada.
—
Nossa, o que houve com você? — Ouvi a voz de Tricia perguntar do outro lado da linha.
— Ah, eu fiquei o dia inteiro tentando descobrir qual o problema do sistema que criei para a Saunders Tech e agora estou com uma bela dor de cabeça… — murmurei massageando a base do meu nariz.
—
Puxa, que droga! — Tris exclamou parecendo emburrada. —
Eu ia te chamar para sair em alguma balada por aí — ela disse parecendo realmente ressentida.
— Tricia, amiga… Você
sabe que eu detesto baladas, não sabe? — perguntei me jogando no sofá para ficar encarando o teto branco de meu apartamento.
—
Aff, sério, Key. Você precisa arrumar um namorado. — E você sabe o que eu penso sobre o que você pensa sobre o assunto “namorado para Key”, certo? — disse, apenas para me certificar.
—
Blábláblá… — Tris retrucou. —
E você sabe o que eu penso sobre você não querer ninguém na sua vida. Poxa, Keira, existem tantos homens maravilhosos por aí! — Eu não preciso de um homem na minha vida, Tris. Estou muito bem como estou. — Pontuei, logo em seguida ouvindo minha amiga bufar.
—
Você precisa de um homem para realizar o seu sonho. — Não preciso dele todo para isso, Tricia. Só dos espermas — resmunguei.
—
Sério, você tem problemas… — Sou perfeitamente normal como toda mulher independente que apenas quer ter filhos e não sexo — retruquei.
—
De verdade, você é maluquinha. — Tris gargalhou, mas sabia bem quais eram os meus planos para o futuro. E não incluía nenhum homem, a não ser que meu filho fosse um menino.
Desde a adolescência eu já sabia que não teria uma família “convencional” já que, apesar de conseguir achar caras bonitos e tudo mais, eu nunca senti atração ou vontade de ter alguma relação que fosse além de um flerte e troca de olhares que não levariam a mais nada. Eu havia tentado me impor a relacionamentos convencionais antes. Havia tido um namorado na adolescência, mas tudo foi por água abaixo quando
ele percebeu que meu “apetite sexual” não era nem de longe o mesmo que o dele e nem afloraria com o tempo.
Entendi desde aquele momento que constituir uma família convencional não era para mim. Embora meus pais tenham me levado à especialistas para tentar “reverter” a situação, bem lá no fundo eu
sabia que eles não teriam um genro. Mas eu teria meu bebê.
Por mais que meus instintos de procriação estivessem fora dos padrões, meu lado
maternal ainda existia. E é
claro que eu correria atrás desse sonho; eu era uma programadora bem paga para trabalhar em casa, tinha dinheiro o bastante para investir nisso
e existiam as inseminações artificiais com doações de esperma. O que poderia me impedir?
—
Tudo bem, tudo bem. Um dia eu vou entender esse seu lado, prometo — Tris murmurou suspirando. —
Mas você não quer mesmo
ir pra uma balada comigo, só pra fazer companhia? — choramingou e então foi a minha vez de suspirar.
— Tris, eu
realmente preciso descansar e uma balada não é o melhor lugar para isso — murmurei.
—
Ok. Vou sozinha. Sua chata — ela disse e desligou. Conhecendo como a conheço, ela deve ter mostrado a língua para o telefone pela frustração.
Tricia Conner era minha melhor amiga desde os 18 anos. E desde essa idade ela vive querendo me empurrar para o primeiro homem que surge na nossa frente. Não é por mal, eu sei. Já tentei explicar várias vezes que
aquilo não rolaria comigo como rolava com ela, mas ter uma amiga que não sente atração sexual por homem
ou mulher era confuso demais para Tris processar, por isso sempre tínhamos a mesma discussão quando os assuntos eram baladas e ficadas.
Eu tinha trinta anos e por mais que eu ainda fosse jovem o bastante para ir à uma balada, qual
exatamente seria meu objetivo num lugar como aquele? Eu não sabia dançar, detestava lugares cheios, não era muito chegada às bebidas servidas nos bares
e não queria arranjar um ficante nem um caso de uma noite só. Tris sempre ficava triste quando eu frustrava seus planos de me arranjar alguém numa balada, mas eu sabia que ela se divertiria muito mais sem mim. E era
de fato o que realmente acontecia.
Estava quase pegando no sono quando minha campainha tocou e eu dei um pulo com o susto. Um pouco cambaleante e sonolenta, fui até o olho-mágico na porta e espiei para ver quem era a pessoa que me visitava. Destranquei a porta e abri uma brecha para que o visitante entrasse enquanto eu voltava para meu lugar no sofá.
— Mas que modos, Keira! — Julian ralhou comigo enquanto entrava e fechava a porta.
Julian Deasey era meu melhor amigo de infância. Não nos desgrudávamos e isso significava que morávamos no mesmo prédio.
— Lian, você já é de casa e tem sua própria chave, não sei por que ainda toca a campainha — retruquei me esparramando no sofá.
— Eu tenho modos, Keira,
modos — ele disse erguendo minhas pernas para poder se sentar também.
— O que te traz aqui? — perguntei fechando os olhos enquanto recebia massagem nas pernas. Já disse o quanto amo Lian?
— Você se lembra de que entrei com o processo de adoção há alguns meses? — ele perguntou e eu assenti sentindo a sonolência voltar ao meu corpo. — Eles estão demorando mais do que o normal para prosseguir com o processo — resmungou parecendo magoado.
Abri os olhos imediatamente e me endireitei no sofá para poder encarar meu melhor amigo.
— Hei, vocês
vão conseguir — eu disse segurando em suas mãos.
— Eu não sei, de verdade. — Lian parecia desanimado de uma forma que eu nunca tinha visto antes.
— Vocês dois têm tudo para conseguirem a adoção, Lian, você
sabe disso. — Acariciei sua bochecha e ele me encarou sério, seus olhos com um brilho de dúvida.
— Sabe que existem muitos contra o nosso tipo de família, Key. E receio que o encarregado de avaliar nosso caso seja um
desses.
Suspirei pesadamente. Julian, assim como eu, não tinha – ou teria algum dia – uma família “convencional”. Lian é gay e estava noivo de Mathias Wurfel. Os dois haviam entrado num processo para adotar uma criança, mas, por mais que o
mundo diga que não há mais preconceito em relação a isso, mesmo na lei, com toda a certeza o fato de Julian e Mathias serem um casal homo afetivo interferia bastante na decisão do juiz.
Lian e eu sempre fomos muito unidos e confidentes um do outro, mas a verdade é que foi uma grande surpresa quando ele anunciou a mim e aos pais que era homossexual. Ele nunca tinha se deixado demonstrar sua orientação sexual até aquele momento, apesar de nunca ter falado muito sobre interesses amorosos ou aparecer com algum “peguete”, para mim, talvez ele fosse alguém como eu.
Foi convivendo com ele, meu melhor amigo, que percebi o quanto todos nós estereotipamos homossexuais como aqueles personagens de filmes e seriados
afetados e com trejeitos femininos. Para algumas pessoas do nosso círculo social ainda é desconcertante saber que Julian é gay. E muito bem
quase casado.
— Pense positivo, Lian — falei séria. — Nem parece o Julian que eu conheço com essa cara insossa e desanimada.
Ele gargalhou, mas por poucos segundos, o que
ainda não era um bom resultado.
— Ora, vamos, se não der certo, ainda temos um ao outro — murmurei nosso velho bordão de quando ainda éramos adolescentes sonhadores.
— Mathias está ficando de cabelos brancos com a falta de ação em nosso processo — Julian disse bagunçando os cabelos, forma como ele expressava sua aflição.
— Vai dar tudo certo — disse, rezando em meu íntimo para que
realmente desse certo.
Depois de alguns instantes em silêncio, Lian voltou-se para mim.
— Você e sua ideia maluca de inseminação artificial pelo banco de doadores.
— Até tu, Brutus? — resmunguei.
— Até você acha que é maluquice eu querer ter um filho sem ser da forma convencional? — perguntei um pouco indignada.
— Olha, Key, eu
realmente não sou contra você querer ter um filho, mas acho que é bastante arriscado usar o banco de doadores de sêmen, você sabe… Não vai saber quem é o pai biológico da criança… E se ele tiver algum problema genético que não foi mapeado?
— Não me interessa nem um pouquinho quem será o pai biológico da criança e você me conhece, Lian. Acredito que se for para ser, simplesmente
será — retruquei cruzando os braços e as pernas, um pouco emburrada.
— Eu sei, eu sei. Mas você poderia considerar a adoção também… — Ele deu de ombros.
Sim, eu realmente poderia considerar a adoção, mas desde os meus 25 anos eu tenho o sonho de ser mãe passando por todos os estágios – tirando a parte do sexo, claro – desde o possível enjoo das primeiras semanas até o esperado dia do nascimento do bebê. Queria amamentar e ninar, e ensinar coisas e também – admitindo um pouco de egoísmo da minha parte –, queria poder olhar para a criança e ver um pouco de mim nela. E por essas razões eu optei pela inseminação.
— Ok, isso não me diz respeito, é uma decisão sua, já saquei — Lian murmurou depois de eu ficar calada por longos instantes.
Sorri para ele. Por mais que o tempo passasse ainda nos entendíamos perfeitamente, mesmo sem usar palavras.
Ficamos em silêncio por alguns instantes até que o celular de Julian tocou. Era Mathias preocupado pela demora.
— Preciso ir, Keikey. — Ele se levantou e deu um beijo em minha testa como sempre fazia quando nos despedíamos. — Mathias preparou o jantar e parece que teremos vinho hoje.
— Poupe-me dos detalhes, Julian! — exclamei tacando-lhe uma almofada que sequer o acertou, já que ele já estava praticamente na porta de meu apartamento.
— Até mais tarde, Keikey! — cantarolou em meio a risinhos antes de fechar a porta.
E então, lá estava eu novamente, sozinha em meu apartamento… Com uma bela dor de cabeça querendo voltar a dar o ar da graça.
Nota: Um Bebê Para Lian & Key foi escrita em 2017 em menos de 30 dias para o desafio do Nanowrimo – foi a primeira e última vez que participei dele de forma satisfatória e completa kkk. Essa história é mais ou menos meu sonho de vida e de mundo perfeito HAHAH Eu sei que existem vários pequenos detalhes na história que não são bem como descritos aqui, mas vou usar de licença poética e deixar como está por enquanto :B
Espero que gostem, porque eu amo essa família não convencional de forma muito especial <3
Capítulo 2
Julian encarava as crianças na fila de espera do hospital em que estava dando plantão no momento, ele sentia seu coração bater com alegria ao vê-las – ao menos em sua maioria – alegres e brincalhonas umas com as outras. Ele sempre quis ser pai, pelo menos desde que era criança e brincava de casinha com Keira no quintal dela. Mas também sempre soube que seria uma coisa bastante difícil de se alcançar da forma “tradicional” dada a sua orientação sexual. Lian é gay e desde pequeno sabia que era diferente dos garotos dados como “normais”, e como a maioria bem sabe – mas gosta de fingir que não – pessoas “diferentes” tendem a ser encaradas com certo
asco pela sociedade, mesmo que atualmente haja toda uma luta de direitos iguais, não a preconceitos e todo o resto, a mente de uma boa parcela da população ainda não está preparada para
realmente aceitar que um homem ou uma mulher
gays podem e têm o
direito de serem felizes com quem quiserem com os mesmos direitos de pessoas heterossexuais.
Lian tinha um tio que havia dito aos familiares que era gay quando Julian tinha pouco mais de dez anos. Ele viu o quanto o tio sofria com os preconceitos até da própria família. Jackson havia sido casado por longos quinze anos e tivera um casal de filhos. Tia Molly, sua esposa, o apoiou naquele momento como sempre havia feito durante toda a vida de casados, mas os avós de Julian haviam ficado horrorizados em saber que tinham um filho “
daquele tipo” como costumavam rotular os homossexuais e qualquer outra coisa que fugisse do parâmetro “branco, rico, heterossexual”. Os primos, filhos de Jackson, ficaram bastante confusos na época, mas por terem um pai gay, aprenderam desde cedo a serem mais respeitosos com o “diferente”.
Lian, por outro lado, ficou bastante assustado com a reação do restante da família, o que incluía o próprio pai que, por um bom tempo, se manteve afastado do irmão. Por aquele motivo, Julian resolveu que não deixaria o seu eu “daquele tipo” transparecer. Seria um menino
perfeitamente normal. E por vários anos ele realmente fez bem aquele papel – embora só tenha beijado duas garotas na vida – até completar dezessete anos e decidir “sair do armário”. Sua mãe aceitou o fato com certo pesar, mas sempre com aquele jeito de mãe “Eu sempre vou te amar, não importa como”; já o pai quase derrubou a casa dizendo que não admitiria mais um
do tipo de Jackson em sua família. Por sorte Keira estava com Julian naquele momento.
Ah, Keira. Keira Christensen era a melhor amiga de Julian Deasey desde sempre, e havia sido ela a última garota que ele tinha beijado na vida. Sim, ele tinha beijado a melhor amiga. Depois de ter contado a ela que era gay.
— Vamos só testar, oras — ela disse quando propôs o beijo.
— Keikey, eu já disse que
garotas não são muito a minha praia — Julian respondeu encostado no muro do colégio, todos os alunos já haviam saído e os dois ainda estavam lá sabe-se lá por qual motivo.
— Eu não sou
só uma garota, eu sou sua
melhor amiga!
O garoto revirou os olhos com a resposta.
— Tudo bem então — respondeu. Ele suspeitava que na verdade Keira só estivesse querendo beijar pela primeira vez, mas que mal poderia haver em um simples beijo?
Keira avançou na direção do amigo, o que o surpreendeu, e então o primeiro beijo mais desajeitado e esquisito do mundo aconteceu em frente ao portão da escola. Não demorou mais do que cinco segundos até os dois se separarem de bom grado e murmurarem um “eca” em uníssono.
—
Definitivamente não — Julian disse limpando a boca com as costas da mão.
—
Definitivamente. — Key concordou fazendo o mesmo.
Lian tinha a leve impressão de que aquele foi o momento em que a melhor amiga
começou a pensar em não ter um namorado ou casar. Às vezes ele se sentia um pouco culpado ao pensar na situação. Talvez
ele tivesse estragado a concepção de amor “normal” para a melhor amiga, mas depois disso, Adam surgiu.
Adam foi o primeiro e único namorado de Keira, mas os dois terminaram com pouco mais de seis meses de namoro. De início a garota não queria se abrir com o melhor amigo sobre o término, mas depois finalmente explicou que não sentia atração sexual pelo parceiro. E por nenhuma outra pessoa.
Ambos eram um casal de amigos bastante
peculiar…
Lian foi até a recepção e chamou pelo nome de sua próxima paciente: Eva Woods.
Eva era um dos nomes que ele gostaria de dar para sua filha e, coincidentemente, era o nome da garotinha que ele e Mathias estavam tentando adotar.
— Olá, pequenina — murmurou para a criança no colo da mãe que riu para ele e logo escondeu o rosto entre os cabelos da mulher.
— Diz oi para o doutor, Eva.
A garotinha sorriu um pouco acanhada e deu um oi com as mãozinhas gorduchas.
— E então, o que as trazem aqui? — Julian perguntou guiando as duas para a sala de atendimento.
— Ah, Eva está com uma tosse seca faz alguns dias…
Julian havia decidido fazer medicina e se especializar em pediatria quando percebeu que se dava bem com crianças e elas pareciam gostar de sua companhia. Trabalhar ajudando-as, de alguma forma, era gratificante.
Ele acabou optando por trabalhar numa clínica pediátrica durante a semana e no hospital comunitário durante os fins de semana para famílias carentes. Queria poder ajudar ao máximo aqueles pequenos que seriam o futuro do mundo.
O turno de Deasey terminou às seis e antes de ir para casa, ele decidiu passar no apartamento de Keira, que ficava no mesmo prédio em que ele e o noivo moravam.
Tocou a campainha e Key o atendeu como sempre atendia: abriu a porta e saiu andando.
— E então, como vão os planos? — Lian perguntou fechando a porta e acompanhando a amiga que foi se sentar em frente ao computador no qual vivia trabalhando.
— Vou fazer os exames amanhã de manhã! — anunciou com animação, mesmo sem olhar para o homem.
Keira estava no processo de exames para fazer uma inseminação artificial, a maneira que ela encontrara para realizar seu sonho de ser mãe
sem ter de arranjar um parceiro.
— Isso é ótimo — Julian murmurou puxando uma cadeira para se sentar ao lado da mulher e observar o que ela fazia. Códigos e mais códigos.
Deus, como ela conseguia
entender qualquer coisa daquilo?
— Só vai ser ótimo quando os resultados saírem e indicarem que estou perfeitamente bem para ter um filho — Keira murmurou virando-se para o melhor amigo. Ela parecia
um pouquinho preocupada.
— Vai dar certo, assim como vai dar certo comigo e com Mathias, lembra? — Lian a cutucou lembrando de todo o positivismo que ela tivera semanas antes quando
ele estava sem muitas expectativas com relação ao processo de adoção de Eva.
Keira sorriu cansada e o abraçou. Ela parecia com medo de as coisas não darem certo, assim como ele havia sentido antes.
Era engraçado o quanto os dois conseguiam “equilibrar” um ao outro… Quando um estava mal, o outro estava bem o bastante para alegrar a ambos, e quando os dois estavam bem, era pura festa.
O que mais podia se querer da vida?
Os dois ficaram conversando por algum tempo até Julian olhar o relógio e perceber que eram quase sete e meia. Mathias deveria estar esperando. O homem se despediu de uma Keira cansada e preocupada com os exames do dia seguinte e rumou para o elevador, apertando o número 11, andar do apartamento que morava com o noivo.
Quando ele adentrou o lugar, encontrou Mathias sentado à mesa com seu notebook, concentrado no que estava fazendo, tanto que mal havia percebido sua chegada.
— Boa noite, meu amor — Lian murmurou deixando sua maleta de lado e indo na direção do noivo.
— Ah, boa noite — respondeu parecendo um pouco desapontado com o que estava vendo na tela de seu notebook.
— Nosso processo continua parado… — Soltou completamente desanimado.
Havia
meses Mathias e Julian haviam entrado com o processo de adoção de Eva, e como Math era advogado, havia pedido a um amigo para fazer todos os requerimentos necessários para o início do processo de adoção. Apesar de não ter sido o requerente direto, Mathias tinha acesso ao status do processo, o que o deixava ainda mais ansioso, verificando praticamente todos os dias como estava o andamento.
— Math, precisa parar de ficar olhando isso todas as vezes — Lian murmurou sentando-se na cadeira ao lado do homem. — Vai acabar ficando paranoico — disse acariciando sua mão.
— Eu sei,
eu sei! — exclamou. — Mas já fazem
meses e não temos resposta alguma — disse frustrado.
— Hei, quer saber do meu dia hoje? — Julian perguntou quase de forma retórica. — Atendi uma menininha linda chamada Eva. E imaginei como
nossa Eva vai ser quando a tivermos conosco. — Sorriu encarando o noivo, que sorriu de volta um pouco triste.
— Não sei se vamos conseguir, Lian…
— Shh — retrucou o outro. — Nós
vamos conseguir, Math.
Nós vamos. — Lian havia repetido aquele mantra milhares de vezes na própria mente durante semanas e agora ele
realmente pensava que conseguiriam.
— E se não conseguirmos? — Mathias andava bastante pessimista ultimamente, o que deixava o companheiro um tanto irritado.
— Se não conseguirmos tentaremos de novo. E se não conseguirmos de novo, tentaremos outra coisa — respondeu um pouco ríspido.
— Desculpe. Eu sei o quanto você
detesta quando eu fico negativo demais, mas é que isso anda demorando
tanto que está me deixando
maluco! — exclamou passando as mãos pelos cabelos. Deasey se sentiu culpado por ter sido tão grosseiro, afinal,
os dois estavam no mesmo barco esperando pela Eva deles, mas Lian tinha seu trabalho para dispersar os pensamentos sobre o assunto pelo menos por algumas horas do seu dia, já Mathias… Bem, o trabalho
dele era pensar em como andava o processo jurídico tanto da adoção de Eva quanto outros processos de outros clientes. Ele não tinha escapatória quanto a isso.
— Me perdoe, Math — murmurou segurando a mão do noivo com firmeza. — Eu deveria saber o quanto é difícil ter que lidar com isso todos os dias, mesmo sem
querer.
Mathias suspirou um pouco consternado e massageou a base de seu nariz.
— Vem, me ajude a fazer nosso jantar. — Julian levantou dando um beijo na testa do companheiro.
— Já vou — ele murmurou um pouco desanimado, mas já se levantando. — O que vamos fazer?
— Grude à carbonara? — perguntou sorrindo de lado.
— Que tal um pouco de vinho hoje? — ele sugeriu.
Os dois gargalharam e concordaram com o vinho.
Nota: Essa história vai ser atualizada com maior frequência porque já está finalizada #alegria.
Esse começo vai ser um pouquinho parado, mas espero que consigam passar da metade da história e aproveitar o meio pro fim que são minhas partes favoritas HAHAHAH
Sinto que algumas questões dessa história ainda estão muito cruas e não tão maduras, mas sabe quando a gente relê uma história antiga e pensa “nah, tá bom assim”? Pois é, estou nesse pé com Um Bebê kkkkk
Um dia eu prometo que vou melhorar nisso, não desistam de mim :B
Capítulo 3
Por Keira
Era segunda de manhã e eu estava ansiosa para entrar no consultório da doutora Pearson para que ela avaliasse meus exames e dissesse que tudo estava perfeitamente normal para que pudéssemos dar início aos preparativos da inseminação. Foram os dez minutos de espera mais longos da minha vida. Quando Sophia – a médica – finalmente me chamou, eu dei um pulo de minha poltrona na recepção e quase corri em sua direção.
— Você parece animada, Keira — a doutora Pearson comentou enquanto fechava a porta e ia em direção à sua mesa.
— Hoje é o começo do grande dia! — Esfreguei as mãos com empolgação e entreguei os resultados da bateria de exames que havia feito.
Sophia passou página por página dos exames de sangue, ultrassons e todas aquelas coisas em um silêncio que quase me matou de ansiedade.
— Sophia, pelo amor de Deus…
— Está tudo em ordem — ela murmurou guardando os últimos exames em seus devidos envelopes. Soltei um suspiro de alívio e me deixei relaxar na cadeira.
— Quando podemos começar? — perguntei sentindo a ansiedade retornar aos poucos em mim novamente.
— Poderemos iniciar os preparativos assim que você menstruar. — A doutora explicou. — No segundo dia de sua menstruação começaremos a aplicação dos hormônios.
Fiz as contas nos dedos e ainda faltava meio mês para que eu finalmente menstruasse, seriam
longos quinze dias e aquilo estava começando a me deixar nervosa.
— Querida, vai dar tudo certo — Sophia disse sorrindo. — E ansiedade só piora as coisas nesses momentos. — Pontuou.
Ela estava certa, eu não podia ficar ansiosa daquela forma. Eu bem sabia que quando alguma coisa incomum mexia com meu psicológico minha menstruação começava a desregular.
E não era aquilo que eu queria. Respirei o mais fundo que consegui e depois de alguns segundos prendendo a respiração, expirei.
— Tudo bem, eu vou conseguir — murmurei para mim mesma.
— Volte aqui em… — A doutora olhou em seu computador. — Quinze dias, certo?
Assenti.
Saí do consultório da doutora Pearson feliz e ao mesmo tempo angustiada. Tão perto e
tão longe! Eu não podia menstruar naquele exato momento e começar o tratamento no dia seguinte?
Peguei o carro no estacionamento e dirigi sem pressa para chegar em casa. Dirigir me fazia não pensar nas coisas. Eu apenas me sentava ao volante e tudo no que tinha que me concentrar era no meu caminho. Só. Então o telefone tocou e toda a concentração foi para o lixo. Aproveitei o farol fechado para colocar o telefone no viva-voz.
—
E aí, como foi? — Ouvi a voz de Tricia soar animada e curiosa.
— Está tudo bem e em quinze dias poderei começar o tratamento.
—
Quinze dias? Por que quinze dias? Com um suspiro expliquei a Tris como todo o tratamento funcionava e como eu
infelizmente precisava esperar o segundo dia da minha menstruação para poder começar tudo
de verdade.
—
Mas quinze dias passam rápido! — Deus te ouça, Tris, Deus te ouça… — murmurei voltando minha atenção para o tráfego à minha frente. — Eu estou tão
ansiosa! — exclamei.
—
Amiga, você realmente é doida. — Tricia rebateu. —
Quer dizer, se tivesse um homem envolvido nessa história eu até entenderia a sua ansiedade, mas… — Tecnicamente
vai ter um homem. Eu só não vou saber quem é e nem vou ter que ter relações com ele.
—
Aí é que está! Você vai pular a melhor parte! Revirei os olhos. Acho que para pessoas “convencionais” como Tricia era realmente difícil de entender pessoas “nem-tão-convencionais” como eu. Eu, Keira Christensen, a mulher sem desejo sexual. Para Tris aquilo era tão esquisito quanto um cara dançando pelado no meio da rua. Para mim, beijar ou transar com um cara era tão esquisito quanto tudo isso era esquisito para Tricia.
— Você pode ficar com essa parte, Tris. Eu só quero o meu bebê — respondi.
—
E você pode ficar com seu bebê, eu ainda sou muito nova para essas coisas — ela resmungou de volta.
Tris e eu tínhamos a mesma idade e por mais que agíssemos como adolescentes loucas de vez em quando, nós duas tínhamos ideais diferentes para nosso futuro. Ela queria diversão e alguns caras para amar antes de finalmente se estabelecer e
talvez começar uma família. Eu queria uma família sem cara nenhum e só com meu bebê. Não era assim tão difícil de aceitar.
—
Sério, você vai deixar um médico enfiar um tubo em você, mas não deixa um cara enfiar… — Tricia,
eu já decidi que vai ser assim e pronto. — Eu a interrompi antes que as coisas saíssem de controle.
—
Você não tem jeito mesmo — ela murmurou. —
Então só me resta esperar meu sobrinho sem pai.
— Ele vai ter um progenitor e uma mãe que vai amá-lo muito. É o bastante.
—
Progenitor não é o mesmo que ter um pai! E sério, qual seria o problema em tentar da forma tradicional? — Tchau, Tricia — eu disse desligando o celular. Havia acabado de chegar ao meu prédio.
Eu havia ligado para meus pais há algum tempo para contar meu plano de ser mãe. Meu pai logo saiu da ligação quando as coisas começaram a rumar para “coisas de mulher” dizendo que qualquer escolha que eu fizesse ele estaria apoiando, contanto que ele não tivesse que conhecer nenhum aproveitador barato interessado apenas em nosso dinheiro. Já minha mãe fizera a mesma pergunta que Tris
“Qual era o problema em tentar da forma tradicional?” e lá fui eu tentar explicar mais uma vez à minha mãe qual era o problema.
Desde muito jovem tanto ela quanto eu sabíamos que eu não era lá “normal” com relação a namoros e relações mais íntimas. Fui obrigada a ir a médicos e psicólogos para tentar “sanar” o “problema”, mas aquilo não era um
problema, aquilo era
eu. Simplesmente como eu era e ainda sou.
Eu não teria um marido. Não teria um namorado. Não teria nem mesmo um caso de uma noite. Só teria a mim mesma e, contando com a sorte, meu bebê. E eu não
precisava de mais nada. Talvez só um cachorro para ter mais companhia. Mas mais nada além disso para ser feliz.
Cheguei em casa e fui direto para minha máquina de café para tomar “um gás” e finalmente começar a trabalhar. Eu havia conseguido resolver o problema da Saunders Tech, mas agora eles queriam que eu mudasse a interface e o design de outro software para que a usabilidade dele se tornasse mais prática.
Quem diria que minhas aulas de web design e design digital serviriam para alguma coisa neste momento da minha vida. Ok. Julian havia me dito. E me obrigado a fazer os cursos dizendo que
um dia eles seriam necessários para mim. E cá estou…
Fiz pesquisas e pensei de forma prática para poder enviar um esboço para a Saunders o mais rápido possível, porém, isso me tomou mais da metade do meu dia e, quando percebi, me vi ansiosa e apreensiva novamente pensando no meu futuro bebê e os quinze dias que me separavam de
quase tê-lo.
Olhei para o relógio e decidi ligar para Julian. Eram quatro e meia e ele geralmente terminava seu expediente às quatro em dias normais na clínica, então não havia o problema de atrapalhar alguma consulta. A não ser é claro, se
não fosse um dia normal na clínica. Mas decidi arriscar mesmo assim.
—
E aí, Keikey? — Ouvi a voz de meu melhor amigo soar do outro lado da linha.
— Você está livre para falar? — perguntei torcendo para que estivesse.
—
Estou terminando de ver algumas coisas na clínica, mas pode falar. — Não é nada de mais, é só que eu estou muito ansiosa — murmurei começando a andar de um lado para o outro com o telefone na mão.
—
Ansiosa para q… — Lian se interrompeu. —
Ah, a coisa toda a inseminação! — exclamou se lembrando. Era por isso que eu amava Julian. —
E então, deu certo? — Tenho que esperar mais quinze dias para poder começar o tratamento — resmunguei.
—
Mas por que é que… Ah! O ciclo menstrual… — Ele mesmo respondeu à pergunta.
— Estou ansiosa, Lian! — disse num tom completamente manhoso, preciso admitir. — São quinze dias! — reclamei e ele soltou um muxoxo.
—
São apenas
quinze dias — retrucou. E então me lembrei de quanto tempo Julian e Mathias estavam esperando pela guarda de Eva. Então me senti terrível e egoísta por estar ligando para Lian para reclamar dos meus quinze dias.
— Ai, Lian, me desculpe por te incomodar com uma besteira dessas… E quanto à Eva? — perguntei rezando para que não tivesse estragado ainda mais a conversa.
—
Ainda estamos no mesmo pé. Ao menos parece que o pedido foi enviado para análise. Vamos ver quanto tempo mais teremos de esperar… — Ah, Lian! — exclamei querendo me chutar. — Eu sinto muito. Eu nem deveria ter ligado para te atrapalhar. Eu sou uma péssima amiga. — Quase choraminguei.
—
Key, ainda está um pouco cedo para sua TPM, querida — Julian murmurou um tanto desdenhoso e logo depois riu, o que me fez ficar um pouco mais aliviada.
— Eu só não queria te deixar preocupado com a história da Eva — expliquei.
Eva era um assunto delicado. Fazia mais ou menos quatro meses que Mathias e Lian haviam decidido adotá-la como um casal. Eles estavam pensando em adoção fazia mais de um ano e durante esse tempo ficaram indo de orfanato em orfanato à procura da criança que tocaria seus corações. E essa criança foi a pequena Eva, de um ano e meio. Lembro que “Eva” era o nome que Lian queria colocar em sua filha caso tivesse uma no futuro e
por isso acho que essa menininha foi feita para esses dois. Mas não estava apenas nas mãos de Lian e Math a decisão de dar um lar para Eva. Precisavam do consentimento do juizado de menores e da assistente social que avaliariam se eles seriam uma boa família para a criança. O que nos leva à questão do preconceito. A porcentagem de aceitação de casais gays para adoção era muito baixa, apesar de
haver algumas adoções aceitas. Todos nós tínhamos medo de que Julian e Mathias estivessem junto com a maioria dos casais homossexuais da lista.
—
Keikey, lembra da minha filosofia? — Lian perguntou sério.
“Se for para ser, será…” murmuramos em uníssono. Era o que eu levava para mim também, mas o desejo de que tudo desse certo era ainda maior do que essa filosofia. Eu só queria ver meu melhor amigo podendo ser feliz e completo tanto quanto eu poderia ser e
seria.
—
Tudo vai dar certo, de um jeito ou de outro — Julian disse numa mistura de sentimentos, eu só não sabia distinguir quais…
Nota: Logo mais chegaremos ao momento em que a desgraça baterá à porta, mas acho que ela vai durar pouco YAY!
Capítulo 4
Finalmente eles haviam liberado o processo para a adoção de Eva. Era dia da visita da assistente social à casa dos candidatos a pais. Julian e Mathias estavam completamente
malucos e
neuróticos com aquela notícia, precisavam causar uma boa impressão para passarem à próxima etapa do processo. As mãos de Lian estavam suando e Math não parava quieto no lugar. Estavam os dois uma pilha de nervos.
Julian estava indo preparar um café quando o interfone tocou e Mathias quase
literalmente deu um pulo com o susto. Era isso, havia chegado a hora da verdade. Math foi atender ao interfone para deixar a assistente subir e então ambos trocaram olhares ansiosos.
A casa estava impecável. Não que normalmente ela já não fosse, mas os dois haviam reforçado um pouco mais na limpeza daquela vez. Estava tudo nos conformes, mas nada exagerado demais para que não parecesse artificial, para não dar a impressão de que tudo havia sido feito exclusivamente pela visita da assistente.
A campainha tocou e daquela vez os dois deram um salto. Mathias se endireitou e foi abrir a porta enquanto Julian secava o suor das mãos nas calças.
— Bom dia, Mathias, certo? — A assistente social o cumprimentou num aperto de mão animado. — Sou Dorothy Jones, a assistente do seu caso. — Sorriu.
— É um prazer finalmente conhecê-la, senhorita Jones.
A mulher encarou ao seu redor e fez algumas anotações na prancheta que carregava, depois ficou em silêncio como se estivesse esperando por algo.
— E então…? — Mathias perguntou um pouco sem jeito.
— Poderemos começar quando sua noiva Julia se juntar a nós. — Dorothy sorriu largamente e Lian parou onde estava, como uma estátua, absorvendo as palavras que aquela mulher havia acabado de proferir.
Mathias olhou em sua direção sem saber o que dizer e tampouco Julian sabia como se pronunciar com aquele pequeno erro…
— Hum… Bem… — Math murmurou um pouco sem jeito.
— O que foi? — a assistente perguntou inocentemente.
— Oi. — Deasey resolveu chamar a atenção da mulher para si. — Sou
Julian, o noivo de Mathias. — Tentou ser o mais simpático possível.
O sorriso de Dorothy Jones foi se desfazendo aos poucos enquanto discretamente ia verificar sua ficha na prancheta.
— Oh… — ela murmurou erguendo as sobrancelhas. — Parece que esqueceram de uma letrinha aqui — disse encarando Lian, um sorriso falso nos lábios. — Sinto muito pela confusão.
O homem ia abrir a boca para se manifestar, mas Mathias foi mais rápido.
— Então, já que já nos conhecemos, podemos começar a visita? — perguntou esperançoso, tentando amenizar a situação desconfortante.
— Claro, claro. — Dorothy assentiu no mesmo instante, mas seus olhos pousaram sobre Julian novamente de uma forma que o incomodou um pouco.
Todo o apartamento foi apresentado e a assistente social ficou fazendo anotações em sua prancheta, então os três sentaram para conversar. Mathias e Julian ficaram lado a lado no sofá, de mãos dadas, enquanto Dorothy sentara-se na poltrona adjacente, encarando-os com uma postura superior que deveria ser intimidante.
— Bem, vocês… Pretendem casar quando? — perguntou, seus olhos se voltando ligeiramente para as mãos entrelaçadas de Mathias e Julian.
— Assim que tivermos uma resposta positiva sobre a adoção de Eva — Mathias murmurou com expectativa, de forma inocente e sonhadora. Mas Lian logo percebeu naqueles olhos escuros de Dorothy Jones que as chances eram mínimas se dependesse dela.
— Vi que o apartamento só tem um quarto, onde pretendem colocar a criança? — questionou, o tom amável e leve indo embora de sua voz.
— Estamos negociando um novo apartamento neste mesmo prédio, ele tem três quartos — Math disse radiante voltando-se para o noivo com um sorriso que o faria sorrir também se não fosse a assistente social os encarando. — E um dos quartos poderá ser o quartinho da bagunça de Eva! — Ele apertou firme a mão do companheiro de forma empolgada.
— Certo… — Dorothy murmurou fazendo mais anotações. — Vejo aqui que Mathias Wurfel trabalha como advogado. E quanto ao senhor, Julian Deasey?
— Sou pediatra numa clínica no centro e aos fins de semana faço plantão em um hospital comunitário — respondeu quase de forma ríspida, recebendo um leve cutucão da parte de Math.
Ela anotou mais alguma coisa e então se levantou.
— Muito bem, meu trabalho está feito por hoje. — Anunciou.
— Mas já? A senhora não gostaria de uma xícara de café ou chá? — Mathias perguntou levantando-se também.
Dorothy encarou o homem com certo ar de asco disfarçado e então recusou da forma mais educada que conseguira.
— Meu amor, a senhorita Jones deve ter mais casos para analisar, vamos deixá-la ir — Lian disse acompanhando a mulher até a porta.
— É a triste verdade, Math. Ela precisa ir — disse fechando a porta da forma menos delicada possível assim que a mulher botou os pés para fora do apartamento.
Julian foi até a cozinha pegar um café para tentar relaxar.
— O que foi, Lian? — Math foi a seu encontro com preocupação. — Foi por causa da confusão com os nomes?
Quem dera fosse apenas aquilo…
— Você percebeu a forma como ela nos olhou depois que descobriu que éramos um casal? — Deasey perguntou segurando a irritação.
— Julian, foi só um erro de grafia…
— Não, não foi
só um erro de grafia, Math! — exclamou. — Enquanto Dorothy pensava que eu era “Julia” ela foi completamente diferente de quando ela descobriu que eu era
Julian — retrucou.
— A opinião pessoal dela sobre casais homossexuais não pode interferir no nosso processo — Mathias murmurou sério, agora compreendendo a situação.
Lian coçou a nuca e respirou fundo depois de engolir uma boa quantidade de café.
— Mas você sabe que
vai… — retrucou largando sua caneca no balcão da cozinha e indo em direção à sala.
Mathias sentou-se ao seu lado no sofá e parecia frágil e angustiado.
— Por que precisa ser tão difícil assim? — questionou com a voz um tanto trêmula.
Julian o puxou para um abraço e ele se aninhou em seu peito.
— Nós sabíamos que seria complicado conseguirmos a guarda de uma criança — murmurou deixando de lado sua raiva pela assistente social para dar mais conforto a seu parceiro.
— Nós não vamos conseguir nossa Eva, vamos? — Math perguntou de forma deprimida, sem se desfazer do abraço.
Lian afagou seus cabelos e suspirou. Não podia deixar que a esperança dos dois morresse. Se um estava descrente o outro precisava acreditar. E naquele momento
Julian precisava acreditar que tudo daria certo, que eles teriam sua garotinha com eles em breve.
— Vai dar tudo certo, meu amor — murmurou dando um beijo no topo de sua cabeça.
Depois de ficarem horas – haviam tirado o dia de folga dos trabalhos – conversando e tentando pensar positivo, Math decidiu ir visitar a casa da mãe para contar as “novidades” e Lian decidiu ir visitar Keira para tentar descontrair um pouco.
Quando chegou no andar da melhor amiga e tocou a campainha como sempre, Key abriu a porta com cara de acabada, pijamas e pantufas enormes nos pés.
— Tá tudo bem? — perguntou ele adentrando o apartamento.
— Tudo péssimo — ela resmungou indo se jogar no sofá.
— Sinto como se tivesse sido violada — ela disse se encolhendo ao deitar.
— Hoje foi o dia da inseminação… — resmungou.
— Você não deveria estar
feliz? — Julian questionou indo se sentar numa poltrona perto de onde a cabeça de Keira se encontrava coberta por um lençol.
— Eu
estou feliz — disse de forma abafada. — Mas dolorida — explicou.
Deasey ergueu a sobrancelha sem entender muito bem. O processo de inseminação costuma ser indolor…
— A doutora Pearson disse que usaria o cateter mais fino que tinha no consultório, mas que poderia ser um pouco desconfortável já que eu sou virgem…
Claro, como ele podia ter esquecido daquele
pequeno detalhe?
Keira Christensen era virgem. E aquele processo de inseminação intrauterino deveria tê-la traumatizado… E agora ela estava mais abatida do que quando havia recebido a notícia de que não fora aceita como técnica de informática na empresa que ela mais almejava.
— Ah, Keikey, eu sinto muito por você ter de passar por isso… — Lian murmurou botando a mão em sua cabeça.
— Já está passando. — Ela meio que fungou e se endireitou para encarar o melhor amigo. — E como foi a visita da assistente? — perguntou abraçando uma almofada como uma criança.
Julian coçou a nuca um pouco desconfortável, mas contou como a visita tinha acontecido. Keira não escondeu a diversão sobre o fato de Dorothy ter chamado Julian de Julia, ela gargalhou até sentir falta de ar.
— Oh meu Deus, Lian! — exclamou entre risos. — Eu queria ter estado lá para ver a sua cara! — Gargalhou mais ainda.
— Haha. Besta — retrucou.
— Desculpe, mas foi engraçado — ela disse tentando se recompor.
— Poderia ter sido engraçado se fosse só a questão do nome — Lian murmurou sério, o que a fez parar de rir e olhar em sua direção. Então finalmente compreendeu.
— Ah,
não… — Foi o que ela soltou com seu melhor tom de ultraje.
— Essa Dorothy sei lá o que
não pode se atrever…! — Estamos nas mãos dela, Keikey. Não há nada que possamos fazer se ela decidir que nós não somos o casal perfeito para adotar Eva.
— Processem ela por homofobia! — Keira praticamente berrou, o rosto ficando avermelhado com a raiva que lhe subia.
— Não temos
provas, Key. E além disso, pode ser só minha imaginação. — Julian tentou se convencer daquilo ao mesmo tempo em que falava.
Keira o encarou com os olhos semicerrados e bufou. Ela sabia que o amigo não era o tipo de cara que enxergava preconceito e homofobia em tudo e em todos, e se ele desconfiava de algo, ela sabia que na maior parte das vezes era
real.
— Se vocês não forem aprovados para Eva, eu vou
pessoalmente dar umas na cara dessa Dorothy — Keira disse cerrando os punhos e com ar de determinação, o que fez o homem rir. —
O quê? — Fiquei imaginando uma mulher grávida aos tapas com uma assistente social, só isso. — Riu novamente.
— Grávida ou não, ela vai apanhar! — Key disse fazendo sua expressão mais maquiavélica.
— Keira, querida. Melhor se acalmar — ele murmurou fazendo a amiga se deitar novamente.
— Mas eu quero que ela se ferre — a mulher resmungou, mas deixando que o amigo a deitasse.
— Tudo vai se resolver da melhor forma para todos nós. Espero. — Ele acrescentou no final.
Era engraçado o fato de Julian ter ido até Keira para desabafar e no final estar defendendo uma ideia nem tão negativa assim. Ele sentia bem lá no fundo que a adoção de Eva não daria certo naquele momento, mas também sentia que algo estava preparado para
ele. Só restava esperar para saber
o quê.
Nota: Nossa, acho que essa é a história longa com mais diálogos que eu já escrevi HSAOIHDOIASHD
Por alguma razão eu acho que diálogos cabem mais do que descrições nessa história, então perdão, com o passar do tempo a gente vai amadurecendo as coisas (já é a 3ª revisão de Um Bebê e algumas coisas mudaram ligeiramente kkkkk).
E bom, a merda foi jogada no ventilador. Daqui pra frente vai ter uns para trás, mas prometo que prosseguiremos com rapidez HAHAHAHAHAH
Capítulo 5
Por Keira
Aquele era o segundo mês, lá estava eu esperando para que meu exame de sangue fosse liberado e torcendo para que um
positivo surgisse. Há pouco mais de um mês eu havia passado por aquela mesma coisa e o resultado da inseminação havia sido negativo. A doutora Pearson me tranquilizou e disse que era normal a primeira vez não dar certo na maioria das vezes e que poderíamos tentar mais uma. E lá fui eu passar por todos os procedimentos de hormônios e inseminação.
Estava nervosa enquanto esperava. Eu havia prometido a mim mesma de que se daquela vez não desse certo, então eu não devia mais tentar. Simplesmente não era para ser, não é? Por mais que eu desejasse com todas as minhas forças que
fosse para ser, eu tinha em minha mente que se as coisas não davam certo de primeira – ou de segunda – era um sinal para que eu
parasse.
Mas eu queria tanto aquele bebê! Os minutos se passaram arrastados e eu estava acabando com minhas unhas com a ansiedade. A enfermeira enfim chamou meu nome e me entregou o envelope lacrado do exame de sangue que diria se eu realizaria meu sonho ou não. Peguei o resultado das mãos da mulher agradecendo e então segui para fora do laboratório direto para meu carro. Respirei fundo e depois de me acomodar no banco do motorista, rasguei o lacre do envelope branco e comecei a analisá-lo com atenção. Meus olhos marejaram quando finalmente entendi o que estava descrito ali…
Eu não estava grávida. Mais uma vez a inseminação havia dado errado.
Encostei minha cabeça no volante por alguns instantes deixando a papelada do exame de lado. Eu queria chorar para o resto da minha vida ali, parecia que tudo o que eu teria em minha família não-convencional seria um cachorro gigante para me fazer companhia. Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto e eu as sequei tentando não chorar de vez.
Calma, Key, calma. Eu dizia para mim mesma inspirando e expirando. Ergui a cabeça do volante e foi aí que percebi que um dos guardas do estacionamento do laboratório me encarava com certa preocupação. Acenei para ele e lhe dei um sorriso meio sem vontade e então me preparei para partir.
No meio do percurso eu não consegui conter as lágrimas que foram escorrendo enquanto eu dirigia e tentava não bater nem atropelar ninguém.
Chegar em casa e perceber que eu não teria futuramente um filho me esperando com um abraço de boas-vindas simplesmente fez meu mundo desabar.
Eu nunca seria mãe. Tranquei a porta e me arrastei até o sofá, me jogando de bruços sobre ele, finalmente me permitindo chorar o quanto queria.
Talvez eu tenha chorado por
horas antes de pegar no sono, eu não sabia direito. Só sabia que a tarde já havia passado e a noite estava caindo quando acordei. E levei um susto quando vi Julian sentado em minha poltrona me observando de sobrancelha erguida.
— Como você entrou aqui? — perguntei ainda tonta de sono e com cara amassada e inchada pelo choro.
— Foi a primeira vez que tive que usar a minha cópia da chave nesse apartamento — ele respondeu simplesmente. —
Mas o que diabos aconteceu com você? — perguntou se levantando e vindo em minha direção, me analisando. — Eu te liguei de tarde pelo menos umas cinco vezes e você não atendeu. E quando toquei a campainha
você também não me atendeu. O que houve?
Me sentei no sofá e suspirei.
— Deu negativo — murmurei simplesmente, sentindo que a tristeza estava novamente prestes a me sufocar.
Lian me encarou por alguns segundos sem entender e então abriu a boca sem saber o que dizer.
— Ah, minha Keikey… — Ele sentou ao meu lado e me abraçou com força. — Mas você ainda pode continuar tentando, não é? — perguntou se afastando um pouco para poder me encarar.
— Eu não vou continuar, Lian — respondi com a voz embargada. — Acho que não é a vontade de Deus que eu tenha a minha família “não-convencional”. — Sorri triste.
— Mas você só tentou duas vezes, o começo pode mesmo ser difícil…
— Não, Lian. Acabou. Eu nunca vou ser mãe. Preciso começar a aceitar isso.
— Keira, você estava tão feliz com essa ideia… — ele murmurou segurando minhas mãos.
— Mas quando não é para ser…
— Ah, Keikey… — Julian voltou a me abraçar enquanto eu começava a fungar. — Eu
sinto que não terminou ainda. Nem para você e nem para mim — ele murmurou afagando meus cabelos. Lian era o único homem que eu permitia uma aproximação como aquela.
Foi então que eu parei para analisar o que meu melhor amigo havia dito.
Não terminou nem para você e nem para mim.
Me afastei de súbito do abraço e o encarei séria.
— O que houve? — perguntei um pouco esquecida da minha dor e mais preocupada com a resposta que eu temia já saber.
— O Conselho não aprovou o nosso pedido de adoção. — Ele sorriu tristemente. — Mathias está arrasado.
Julian falara aquilo com tanta naturalidade que parecia que ele já sabia que a resposta daquele processo de adoção seria tal.
— Ah, Lian, eu sinto muito! — exclamei, daquela vez eu o abracei com força.
Nós dois ficamos abraçados por longos minutos, cada um sentindo a própria dor. Eu não sabia o que dizer para ele numa situação como aquela. Julian, assim como eu, desejava desde jovem ser pai, ter uma criança para chamar de sua. E agora ele tinha a chance tirada de seu alcance por –
provavelmente – preconceito de pessoas que não encaravam as diferenças como uma coisa boa.
Por que o mundo tinha de ser tão injusto? Funguei e me afastei limpando algumas lágrimas que haviam se acumulado em meus olhos.
— Hei, eu
realmente sinto que não é o fim para nós, Keira — meu melhor amigo disse soando esperançoso e sonhador como costumava fazer quando era mais jovem.
— E o que você acha que ainda tem para nós, Lian? — perguntei com certa amargura.
— Eu não sei, mas
não acabou. — Ele sorriu com uma confiança que era de assustar.
Nós tentamos ficar jogando conversa fora até que Julian dissera que precisava voltar para Mathias que estava desolado no apartamento. Pois é, eu sabia muito bem como ele estava se sentindo…
Nota: IHÁ! Pronto, chegou o drama pra todo mundo HAHAHAH
Mas quero dizer que o drama – pelo menos um pouco/pra um dos lados – vai durar pouco. No próximo capítulo já começamos com a ideia maluca e depois… Tem uns para trás ainda, mas vai dar bom, prometo! HAHAHAH
Capítulo 6
Keira não havia engravidado com sua inseminação artificial e Julian e Mathias não tinham conseguido a guarda de Eva. Por mais que as coisas estivessem
parecendo realmente ruins, Lian sentia bem lá no fundo uma pontinha de esperança. Esperança de conseguir realizar seu sonho de ser pai. Ele não sabia como, mas sabia que em
algum momento realizaria esse sonho.
Estavam Lian, Mathias e Tricia no apartamento de Keira conversando sobre amenidades, ela estava bastante abalada com o resultado de sua inseminação e os três decidiram fazer-lhe companhia num domingo ensolarado.
Math e Julian já haviam se acostumado com a ideia de não poderem adotar Eva. Claro, ainda estavam um pouco mexidos com aquilo, mas já não machucava
tanto pensar ou falar sobre o assunto. Ao contrário de Keira que parecia estar num eterno luto.
— Amiga, eu bem que disse pra você tentar do modo tradicional — Tricia murmurou enquanto comia um pedaço de pão doce.
— Tris! — Lian exclamou censurando a mulher, mas Key deu um pequeno risinho.
— É, talvez tivesse dado certo se tivesse sido desse jeito… — ela disse num tom desanimado enquanto brincava com as migalhas de pão à sua frente na mesa em que estavam todos reunidos.
— Mas você vive com essa ideia de não se relacionar com ninguém e tudo mais…
— Tricia, isso não é
exatamente uma escolha dela… — Deasey retrucou.
Tris era praticamente uma amiga para ele também, Julian a conhecia desde que Keira a conhecera, mas os dois não frequentavam o mesmo círculo de amizade e a única coisa que conectava ambos era Key. Todavia, eles se davam bem quando se encontravam e pelo tempo que se passou, os dois se permitiam algumas intimidades como fazer piadas ou repreender um ao outro.
— É claro que é! — Tris exclamou erguendo a sobrancelha.
—
Não — murmurou com paciência. — Não é como se ela tivesse vontade e simplesmente
não fizesse. — Começou. — Ela
não tem essa vontade ou necessidade.
— Mas todo mundo tem vontade de transar! — Tricia exclamou bastante alto. — Ou pelo menos de beijar e dar uns amassos.
— Como dizia mamãe: Eu não sou todo mundo, Tris — Keira respondeu ainda cabisbaixa, agora brincando com a colher em sua xícara de chá vazia. — E nunca fui. — Deu de ombros.
Tricia, Mathias e Lian começaram uma longa discussão filosófica sobre sexualidade e sobre como cada um se descobriu como era.
— Eu sou a louca da uma noite. — Tris riu de si mesma. — Mas não tô nem aí para o que os outros podem
pensar em dizer sobre mim. — Ela estufou o peito com orgulho. — Eu tenho a liberdade de transar com quem e quantos eu quiser — disse.
— Meu pai não levou muito bem a história de eu ser gay — comentou Julian. — Mas acabou
tendo que lidar.
— Os meus conseguiram estragar minha adolescência, mas eu sobrevivi — Mathias murmurou.
Math havia passado por maus bocados quando decidiu revelar aos pais que era homossexual. Nem a mãe ou pai dele o apoiaram e passar por um momento assim sem um apoio
na adolescência foi extremamente complicado para ele. Havia se envolvido com drogas e com pessoas que não deveria para conseguir uma certa proteção dos
bullies do colégio.
O quarteto falava sobre besteiras que todo grupo de amigos fala, até mesmo Key estava se divertindo um pouquinho. Foi quando Tricia deu um berro, os interrompendo.
— Amiga, você ficou louca? — Keira perguntou parecendo realmente assustada.
— Não. Quer dizer… — Tris parou e seu olhar começou a passear entre Lian e Key. —
Bom… — Desembucha logo, Tris! — Mathias riu da cara da mulher.
— Bem, eu estava pensando… — Ela começou. — Vocês dois são um casal que quer filhos… — murmurou olhando para Julian e para Math. — E
você é uma mulher que quer ter filhos. — Apontou para Keira. — E
vocês dois são melhores amigos.
— Hmm… — Julian entoou. — Não sei se estou gostando do rumo desta conversa… — murmurou encarando Keira, que parecia mais confusa do que qualquer um deles.
— E você é
homem. — Tris continuou ignorando o comentário.
— É bem interessante você ter percebido isso, Tricia… — Lian ergueu a sobrancelha.
—
Por que vocês não têm um filho juntos? — Ela soltou como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Mathias engasgou com o chá que estava terminando de beber, Keira deixou a colher cair de forma barulhenta dentro da xícara e Julian apenas encarou a melhor amiga de faculdade de sua melhor amiga de infância.
— Olha, Tris… — Keira murmurou. — Eu não sei se você sabe, mas vai haver divergência de interesses por aqui. — Ela encarou Mathias sugestivamente. — E você se lembra que eu sou a virgem de 30 anos e o Lian é gay, certo? — Key murmurou lentamente, como se estivesse lidando com uma pessoa completamente maluca.
— Ai, gente! Vocês vivem falando de família “não-convencional” e agora tão com essa frescura? — Tricia perguntou.
— Meu interesse está em constituir uma família com
Mathias, Tris… — Deasey murmurou com cuidado.
— Bom, e por que não constituir uma família com Mathias, Keira
e um bebê? — ela questionou como se fosse a coisa mais normal e óbvia do mundo.
Ficaram os três em silêncio intercalando olhares um para o outro.
— Tris,
nós — Key apontou para Julian —
não vamos transar.
— E quem tá falando em transar? — Tricia revirou os olhos. — É só um dos dois doar o esperma e você fazer a inseminação, oras.
Ela esclareceu a ideia e todos voltaram a se entreolhar.
— Não, eu já disse que não vou mais tentar inseminação alguma — Key retrucou ficando um pouco emburrada.
— E nós dois não teríamos capacidade de escolher quem seria o doador… — Lian murmurou pensando seriamente nas condições psicológicas em que Tricia se encontrava.
— Duh. — Ela bateu na própria testa. — É
óbvio que teria de ser você, Julian. É
você o melhor amigo de infância da Key, é
você que a conhece melhor do que ninguém e é o confidente dela. Tá mais do que óbvio, né, gente? — Tricia parecia estar perdendo a paciência com a explicação. — E
vocês três seriam uma família
nada convencional, feliz e com bebezinhos. — Concluiu.
Os três continuaram parados tentando processar aquela ideia maluca que Tricia havia dado.
— Eu não tenho o que dizer. — Keira ergueu as mãos em rendição.
— Nem eu. — Math desviou o olhar.
Julian permaneceu calado, remoendo aquilo em sua mente, mas ninguém realmente percebeu ou deu atenção.
Mathias e Lian foram embora quando a noite caiu.
— Dá pra acreditar na ideia da maluca da Tricia? — Math indagou enquanto adentravam o apartamento.
Julian continuou em silêncio por alguns instantes, instantes longos demais para Mathias.
— Você está considerando a ideia, não está?
Ele desviou o olhar do companheiro, tentando achar as palavras certas para um momento tão delicado.
— Math, pode ser nossa chance — murmurou puxando-o para sentar no sofá e conversar melhor. — Claro que a guarda seria compartilhada e nos primeiros meses ele ficaria mais com Keira, mas seria
nosso também.
Mathias baixou o olhar por alguns instantes.
— Pode ser a nossa única chance, Math. E quem melhor do que Keira para ser a mãe? Podemos confiar completamente nela e ela completamente em nós! — exclamou deixando aquela ideia
terrível tomar conta de seu ser.
— Então vamos desistir de Eva?
Aquela pergunta fez Julian engolir em seco. Por mais que ele tivesse
quase superado a história, Eva ainda mexia consigo. E como não mexeria? Ele havia me encantado com aquela pequenina.
— Talvez possamos ter
a nossa própria Eva… — murmurou por fim.
Lian sabia que aquela proposta poderia soar descabida e egoísta de sua parte, mas sentia que
aquela era a chance que estavam todos esperando. Mathias poderia se sentir um pouco mal por não ter os genes na criança, mas a primeira opção do casal havia sido a adoção e a criança não teria gene algum de nenhum dos dois.
Tecnicamente Julian seria o pai biológico do bebê, mas aquilo não era importante. Nada mudaria se os três soubessem lidar com a situação.
E eles saberiam! Deasey argumentou por vários minutos e explicou seu ponto de vista para o noivo.
— Ok, tudo bem — Mathias murmurou se deixando convencer. — Se você acredita que essa pode ser a nossa chance, então eu estou com você. — Sorriu e Julian se animou com a resposta.
Ele abraçou o companheiro e selou seus lábios nos dele com ternura.
— Que tal terminarmos a noite com vinho? — perguntou se levantando.
— Com toda a certeza eu aceito — ele respondeu o seguindo para o quarto.
Nota: Eis que veio aí como a ideia dessa família não-convencional surgiu!
Por mais que a Tris tenha lá suas questões, ela é uma personagem que eu amo de coração HAHAHAH Graças a ela a vida desses dois amigos não fica no marasmo LOL
Então é isso, tivemos o início da história enfim HAHHAAH
Capítulo 7
Por Keira
Eu não acredito que estou fazendo isso de novo…
Já estava tudo nos conformes, eu estava
quase aceitando o fato de que nunca seria mãe quando
Tricia veio com a brilhante ideia.
E Julian acatou! E me convenceu a aceitar a ideia também! Que tipo de pessoa sou eu? Eu estava me preparando para engravidar
artificialmente do meu
melhor amigo gay! Eu não podia estar no meu melhor estado mental, simplesmente
não podia.
Um mês depois daquela conversa maluca com Tricia, Julian foi ao meu apartamento e eu o atendi como sempre, dando atenção ao meu trabalho ao invés de prestar atenção nele. Até que ele disse:
— A ideia de Tris não é tão ruim.
Eu estava prestes a tomar um gole de café da minha caneca favorita, mas consegui parar antes de correr o risco de engasgar.
—
O quê? — disse em um tom estridente que quase nunca uso.
— Você sabe, sobre
nós termos um bebê.
Fiquei encarando Julian como se ele fosse a maior aberração do mundo.
Mas o que diabos ele estava
pensando? — Lian, você tá bêbado? — perguntei chegando mais perto para ver se sentia o cheiro de álcool nele, mas nada. Completamente limpo e com cheirinho de hortelã.
— Eu tô falando sério, Key — respondeu fechando um pouco a cara. — Math e eu ficamos conversando sobre isso ontem.
E essa é a nossa chance! De nós três.
Eu não conseguia fazer muita coisa a não ser ficar encarando feito boba o meu melhor amigo, aquele que me conhecia desde a infância, aquele que foi o primeiro cara que beijei – e foi horrível, devo acrescentar –, aquele que me contou em primeira mão que era gay… Aquele que naquele instante estava pedindo para termos um filho juntos…
— Julian, você só pode ter perdido a noção. Você e Mathias! — exclamei me levantando e finalmente dando um gole em meu café. — A história da adoção deve ter mexido muito com o psicológico de vocês dois.
Lian suspirou e coçou a base do nariz, lá vinha uma longa conversa pela frente.
— Escute, Keikey. — Ele se levantou também e se aproximou de mim segurando meu braço. — Eu sei que parece loucura…
— Shiu, me deixa falar. Fique calada. — Ele pousou o indicador sobre meus lábios e depois de perceber que eu não calaria a boca de forma tão fácil, Lian tapou-a toda com a palma de uma das mãos. — Eu sei que parece loucura, mas é o nosso sonho desde muito tempo sermos pais. Eu não poderia ser pai da forma convencional e, Deus me livre, nunca arrumaria uma barriga de aluguel para isso; e
você não poderia ser mãe de forma convencional sendo…
Você. — Ele dera de ombros ao dizer “você”. — Então aqui estamos nós, querendo realizar nossos sonhos.
Por que não? Lian finalmente me soltou e liberou minha boca para que eu pudesse falar.
— Porque isso não faz o menor sentido! — exclamei. — E como seria com Mathias? Ele estaria fora dessa equação. — Apontei.
— Não se nós compartilhássemos a guarda da criança.
— Julian, um bebê
não é brinquedo. Não é algo que se pode levar e trazer como bem entender e a hora que quiser! — rebati.
— Escute, nós faríamos a criança se acostumar a isso — ele argumentou. — Eu sei que posso confiar em você enquanto estiver com o bebê e você
sabe que pode confiar em mim e em Mathias quando
nós estivermos com ele.
Parei e me voltei para encarar Julian. Ele estava
mesmo disposto a seguir com aquela ideia maluca, já tinha pensado em todos os argumentos e todos os tipos de coisas para resolver problemas
que nem tinham acontecido ainda.
— Lian, eu realmente não acho que seja a melhor ideia…
— Então vamos fazer o seguinte. — Ele apontou para mim como fazia quando tinha alguma ideia brilhante, ou achava que tinha. — Nós tentaremos só essa vez. Se a inseminação não der certo, então eu aceito, é o fim para nós dois.
Eu o encarei novamente sentindo um nó na garganta. Não estava preparada para ouvir um “É o fim para nós”. Fiquei sem muito o que dizer.
— Mas e se
der certo? — Foi a única coisa que consegui proferir.
— Se der certo então é porque
era para ser assim. — Julian pegou minhas mãos e me encarou profundamente nos olhos. — E quem melhor do que eu e você e Mathias para amar essa criança?
Nós nos amamos.
Eu ia argumentar que não amava Mathias – não
desse jeito – e que aquilo poderia dar uma bela encrenca futuramente, mas Julian já estava me abraçando e rodopiando comigo no ar como se minha resposta já fosse um sim…
E agora aqui estou eu, deitada na mesa de exames da doutora Pearson que havia acabado de fazer um ultrassom para avaliar meu óvulo e folículos, eu estava prestes a ovular, segundo ela.
— É a vez de seu parceiro entrar em ação! — a doutora exclamou com diversão pegando um potinho de coleta e uma revista para entregar a Julian, que naquele momento estava me acompanhando na consulta.
— Aqui está, o banheiro fica no fim do corredor, sabe o que fazer, não é? — disse Sophia me ignorando completamente.
Lian pegou o potinho de coleta e rindo soltou um “Pode apostar” antes de sair da sala de exames.
Eu
realmente não queria ser Julian naquele momento.
ECA! Depois de vários minutos, ele voltou com o potinho em mãos e entregou para a doutora Pearson que o pegou alegremente.
— Agora vou levar isso ao laboratório para fazermos a seleção dos campeões e volto logo!
Sophia parecia especialmente alegre naquele dia. Talvez porque pensasse que Lian era meu namorado-futuro-marido e que eu não morreria uma mulher solteira e solitária sem um companheiro para o resto da minha vida.
Pobre doutora Pearson, mal sabia ela que o que estávamos
realmente fazendo era uma coisa
terrível.
— E então, como está se sentindo? — Lian perguntou chegando mais perto de mim e fazendo menção de segurar minha mão.
— Você
lavou as mãos? — perguntei fazendo careta de nojo.
— Ora, que é isso, Key! — Julian gargalhou. — É óbvio que lavei. E ainda usei álcool gel depois disso — disse mostrando as palmas das mãos limpinhas.
— Como é que vocês conseguem fazer
isso? — perguntei mais de forma retórica do que para realmente receber uma resposta.
— Oras, é bem simples, você só precisa pensar em coisas que…
— Lian, Lian… — Chamei sua atenção. — Eu não quero saber.
Ele fez um positivo e se calou sentando-se ao meu lado.
Ficamos ali esperando a doutora Pearson voltar do laboratório, vez ou outra começávamos a falar de qualquer bobagem para passar o tempo, então, Sophia voltou com um largo sorriso nos lábios.
— Você tem espécimes fabulosos, senhor Deasey. Tem sorte, Keira — a doutora disse indo até seu balcão de apetrechos.
Lian lançou-me um olhar insinuador, o que me fez dar um belo tapa em seu braço.
— Bem, está na hora de começar — Sophia murmurou segurando o
terrível cateter e vindo em minha direção. — Eu sei que das outras vezes foi desconfortável, mas dessa vez você tem companhia, não é mesmo? — Ela encarou Lian sugestivamente.
— Ah, claro! — ele exclamou. — Quer que eu segure a sua mão? — perguntou baixinho.
— Sai pra lá — retruquei, mas ele riu e mesmo assim segurou minha mão.
— Ok, vamos lá, vou introduzir o cateter agora… — a doutora disse e no mesmo instante eu senti o conhecido desconforto. Apertei a mão de Julian que afagou meus cabelos com carinho, tentando me fazer relaxar.
Caramba! Se um cateter fino daquele jeito incomodava
tanto, eu mal podia
imaginar o que diabos aconteceria se fosse
outra coisa ali.
— Certo, certo, estou quase lá… — Sophia ia dizendo. — Querida, isso pode doer um pouco, mas terei de dar uma pequena pinçada para enxergar melhor seu útero — ela explicou e eu senti meu sangue todo gelar.
— Calma, Keikey, eu estou aqui. Respira — Julian disse apertando um pouco mais minha mão.
A pequena “pinçada” da doutora Pearson me fez retrair totalmente meu corpo.
— Pronto, pronto — ela disse tentando me deixar calma. — Agora é só inserir os safadinhos e… — Ela retirou o cateter de dentro da minha vagina e sorriu. — Prontinho! Agora é só deixar os danadinhos fazerem a festa! Ah, mas você precisa ficar nesta posição por meia hora, não se esqueça. — Advertiu.
Ótimo, eu estava com as pernas arreganhadas e em cima do suporte para exames com apenas um avental médico me cobrindo… Com meu melhor amigo ao meu lado. Era a cena mais esquisita que eu já havia protagonizado em toda a minha vida. Tirando,
talvez, o dia em que meu primeiro e único namorado tentou transar comigo e eu o fiz parar muito antes de ele começar a diversão.
— Você está se sentindo bem, Key? — Lian perguntou todo atencioso.
— Estou ótima — respondi um pouco rabugenta. — Quem mais pode falar que perdeu a virgindade com uma médica e um cateter? — Ri irônica.
— Você é que teve a ideia de inseminação antes mesmo de ter a primeira vez, então não reclame — Julian retrucou e eu acabei rindo.
— Acha que vai dar certo? — perguntei um pouco apreensiva e dividida. Por um lado eu
queria que desse certo. Por outro eu torcia para dar errado.
Claro que eu queria ser mãe, mas Julian e Mathias não estavam na equação inicial. Eu sei, estava sendo egoísta, mas aquilo ficava mais estranho do que eu ser mãe solteira por inseminação artificial. Agora se tudo desse certo, eu seria uma mãe solteira por inseminação artificial com os espermatozoides do meu
melhor amigo gay.
Deus,
no que eu estava pensando quando aceitei isso?
Capítulo 8
Os dias estavam se arrastando para Julian. Naquele instante quem estava ansioso e preocupado não era Mathias, era
ele. Fazia pouco mais de quinze dias que Keira havia feito a inseminação e Lian estava
louco para saber se o resultado seria positivo ou negativo. Agora ele podia imaginar o quanto a amiga sofrera durante os dois primeiros tratamentos. Era desgastante a ansiedade que sentia. Acordava pensando naquilo, trabalhava pensando naquilo, dormia pensando naquilo… Ele só conseguia pensar se Keira estava grávida ou não.
Mathias reclamava um pouco às vezes pela atenção do companheiro estar tão voltada para essa história, mas Lian
sabia que ele entendia que aquela era a última chance de constituir uma família para ambos, mesmo que
de início a soma não incluísse uma mulher na vida dos dois que não fosse a pequena Eva. Mas ambos teriam de se acostumar com a ideia de que Keira faria parte constantemente do novo futuro dia-a-dia do casal.
Julian estava um pouco distraído durante o trabalho só pensando na probabilidade de gravidez da melhor amiga, precisava admitir. Nem mesmo as gracinhas que as crianças faziam em seu consultório tiravam-lhe o foco daquilo.
— Doutor, o senhor parece um pouco distante hoje, aconteceu alguma coisa? — Uma das enfermeiras do hospital comunitário perguntou.
— Não é nada… — respondeu abanando o ar.
— Puxa, que
nada mais preocupante. — Julian riu da tentativa da mulher de extrair alguma coisa dele, mas ele não diria coisa alguma enquanto não tivesse a certeza de que poderia realizar
finalmente seu sonho.
A pequena Eva, a paciente, estava de volta ao hospital, daquela vez para tomar vacinas. Enquanto preparava a seringa, Julian ficou imaginando como seria quando fosse
seu filho. Seu, de Keira e Mathias. Como seria o primeiro choro? O primeiro banho? A primeira palavra?
Eva fora uma garotinha corajosa e não derramou sequer uma lágrima pela picada da agulha, ganhando um pirulito como recompensa, o que a fez abrir o sorriso mais radiante do mundo. Aquilo fizera o dia de Deasey… Por algumas horas. Logo ele já se sentia aflito pensando em Keira novamente. Quem o visse ou soubesse que ele pensava em Key tantas horas ao dia desconfiaria de sua sexualidade. Ainda havia enfermeiras no hospital comunitário que não sabiam que Lian era gay e era uma coisa estranha e divertida vê-las tentando chamar sua atenção, mesmo vendo a aliança de noivado. Julian Deasey não saía por aí contando para todos que conhecia que era gay, não importava na maioria das circunstâncias.
Quando o expediente terminou, Lian foi direto para o apartamento de Keira para ver como ela estava.
— Tirando a parte em que me sinto sufocada de tanta atenção de sua parte, estou ótima — respondeu encarando a tela de seu computador.
Certo, Julian vinha visitando a amiga todos os dias para saber como ela estava e se estava se cuidando bem, mas era culpa da ansiedade!
— Você não está
nem um pouco ansiosa para saber o resultado? — questionou pegando uma caneta e uma folha em cima da escrivaninha para rabiscar.
— Estou, mas já passei por isso duas vezes, estou começando a me acostumar… — Deu de ombros. — Mathias não está ficando magoado com tanta atenção voltada para mim? — perguntou finalmente encarando o melhor amigo.
De fato, Math não estava lá muito feliz com as constantes visitas do companheiro à Keira, mas Julian estava mais do que ansioso e
precisava saber das coisas,
fazer alguma coisa enquanto esperava o grande dia do exame.
— Não sei não — Key retrucou. — Não sei como funcionam as coisas entre vocês, mas eu
morreria de ciúmes se meu noivo estivesse dando mais atenção para outra pessoa do que à mim — ela disse erguendo a sobrancelha. — Não quero ser alvo da fúria de alguém enciumado.
— Mathias está ótimo. — O homem rebateu. — E além disso,
por que motivos ele teria ciúmes de mim com
você? — retrucou. — Eu sou
gay e você
assexual, onde isso resultaria em ciúmes?
Keira revirou os olhos. Ok, talvez Math estivesse
mesmo com um pouquinho de ciúmes, mas não exatamente de Keira, e sim do tempo que Julian passava com ela. Mas até ali ambos estavam lidando muito bem com a situação, sentando e conversando sobre os sentimentos um do outro. Era assim que funcionava aquele relacionamento, desabafos e discussões para achar soluções para os pequenos problemas do dia-a-dia.
— Acho que você deveria passar mais tempo com Mathias, Lian. Acho que ele pode ficar carente de companhia e você
sabe o que acontece quando alguém fica carente de companhia.
— Math
nunca faria algo assim. — O homem pontuou quase ofendido.
— Nunca se sabe. — Keira deu de ombros.
Traição, era disso que ela estava falando. Mathias nunca o trairia, os dois eram completamente felizes e a chegada de um bebê apenas traria ainda mais felicidade para ambos.
— Pare de dizer besteiras. — Lian retorquiu. — Já comeu o seu lanche da tarde?
— Lian, são quase sete horas, deveria estar preocupado com a minha
janta — ela disse revirando os olhos para mim.
— Ah, devo ter beliscado alguma coisa enquanto trabalhava nessa programação.
O homem suspirou derrotado. Keira não estava se cuidando como uma futura mãe deveria.
— Julian, eu
nem estou grávida! —
Ainda. — Pontuou fazendo a mulher bufar.
— Pois é. Será que podemos deixar para nos preocuparmos com minha saúde de grávida quando tivermos
certeza de que
estou grávida?
Keira andava de mau humor havia alguns dias. Talvez significasse alguma coisa. A gravidez mexia com os hormônios, afinal.
— Tudo bem, tudo bem. — Lian se deu por vencido. — Você está certa, eu não vou ficar te enchendo nos próximos quinze dias.
— Vai tomar vinho com o Mathias, Lian. — Ela retorquiu abanando a mão em direção à porta, enxotando o amigo. — Preciso terminar esse projeto ainda hoje.
— Você deveria colocar um limite de horas no seu… — Ele parou de falar, já que a expressão de Keira não era nada amigável. — Tudo bem, já estou indo… — disse indo em direção à porta.
— Apenas
pare de pensar sobre o assunto e o tempo vai passar num piscar de olhos! — A voz de Key ecoou antes que a porta fosse fechada
e trancada às costas de Lian.
Como se isso fosse fácil! Ele sabia que andava um tanto paranóico com tudo aquilo, mas a chance foi jogada em sua cara e ele não iria cometer – ou deixar que Keira cometesse – nenhum deslize que o colocasse cada vez mais distante do sonho
dos dois.
Ao chegar em seu andar, Julian abriu a porta.
— Math, cheguei! — exclamou.
— Estava na Keira de novo? — Mathias perguntou sentado no sofá encarando a TV que passava o noticiário.
— Você
sabe o quanto Key é meio irresponsável com a saúde dela. — O outro respondeu indo se sentar ao lado do companheiro.
— Julian, você não pode ser responsável pela vida de alguém ou de como ela cuida da saúde. — Math retorquiu o encarando seriamente.
Lian virou em sua direção e ergueu a sobrancelha.
— Está com
ciúmes? — perguntou quase incrédulo.
Mathias desviou o olhar e Julian não conseguiu segurar um pequeno riso.
— Math, amor, você não tem porque sentir ciúmes!
— Eu
sei, mas você passa mais tempo com Keira do que
comigo agora. — Ele fez uma expressão ressentida.
— Mathias… — Lian chegou mais perto e acariciou o rosto do noivo, tentando fazê-lo olhar em sua direção. — Eu te amo e você sabe disso — murmurou erguendo seu rosto para que o encarasse.
Ele permaneceu sério e Julian o beijou tentando amolecer seu mau humor.
— Que tal um vinho? — perguntou sorrindo depois de se separarem.
— Acho que hoje não, Lian… — ele respondeu se levantando sem ânimo. — Vou preparar o jantar.
Dizendo aquilo, Mathias se afastou caminhando em direção à cozinha. Que ótimo, Julian tinha as duas pessoas que mais amava no mundo de mau humor naquele momento.
E Mathias nunca recusava um bom vinho.
Nota: Eu amo essa história de todo o meu coração, mas acho que como toda perfeccionista, sinto que ainda preciso passar por mais algumas revisões para deixar ela madura o bastante, mas quem está realmente ligando, é uma fanfic, então sejamos felizes kkkkk
Keira e Julian estão em frequências quase totalmente diferentes nesse momento, mas calma que as coisas vão se ajeitar, amém.
Capítulo 9
Por Keira
Era chegado o grande dia, o dia do exame de sangue que me diria se eu estava grávida ou não. Aquele sentimentozinho estranho ainda estava em meu ser, eu não sabia se eu
realmente queria que o exame desse positivo. Não que eu não
quisesse ser mãe, é
claro que eu queria! Era meu sonho desde… Bem, eu não lembro desde quando, mas já fazia muito tempo. É só que
um homem não estava incluso na equação e
muito menos dois.
Julian não estava incluso na equação inicial e
muito menos Mathias. E agora
os dois estavam ali, comigo, esperando o resultado de um exame de gravidez.
Mathias parecia estar num misto de ansiedade e ressentimento, já Julian parecia completamente fora de si de tão empolgado, ele já estava dando como certo o positivo, e eu… bem, eu estava receosa com o meu próprio futuro. Eu não tinha
ideia do que seria de mim se aquele exame desse positivo. Quero dizer, lidar com Lian seria fácil, eu já lidava com ele desde sempre, mas meu
verdadeiro receio era
Mathias. Julian não queria dizer com todas as letras, mas eu sabia – e sabia que
ele sabia que eu sabia – que os dois estavam tendo algumas discussões no último mês por conta da decisão de Lian de ter um filho comigo. E nem vamos comentar o quão estranho soou essa última frase.
Mathias era ciumento e eu entendo
perfeitamente o lado dele. Ele era a sobra da equação. Eu não queria pensar desse jeito, mas era a cruel realidade. Julian e eu tínhamos uma conexão desde muito pequenos, uma conexão que só se fortaleceu a cada ano passado, mas o que eu tinha com Mathias além da conexão que ele tinha com Lian?
Nada. Não que eu não gostasse de Math, mas eu só o conhecia havia cinco anos e ele não era muito do tipo que gostava de conversar e sair contando sobre seu passado para qualquer um. A conexão dele era com
Lian e não comigo, e aquele bebê – se é que eu estava grávida – era só mais um ponto para fortificar o que eu e Lian tínhamos. Mathias estava tentando lidar com aquilo tudo da melhor forma possível, mas eu sabia,
sentia que ele estava quase chegando no limite.
Eu não estava na equação da vida que Math estivera planejando com Lian. E nem ele e nem Lian estavam na minha. Nós tínhamos um grande problema prestes a explodir por conta de um mísero envelope.
— Senhora Keira Christensen? — A atendente chamou e eu prontamente me levantei. — Aqui está seu exame. — Sorriu me entregando o pequeno envelope branco.
— Obrigada. — Sorri um pouco amarelo por estar nervosa.
Voltei caminhando e respirando fundo, o peso daquele envelope parecendo o de uma bigorna gigante.
Julian pulou de seu assento e correu em minha direção.
— E então? — perguntou empolgado.
— Calma, Lian, ela acabou de receber o envelope… — Mathias chegou um pouco depois, fazendo meu melhor amigo se aquietar um pouco.
Eu parei onde estava e com certa relutância peguei o envelope e o abri. Fiquei em silêncio por vários segundos até absorver a notícia…
Positivo.
— Deu positivo — consegui murmurar.
Julian deu um berro de alegria fazendo vários olhares se voltarem para nós.
—
Nós vamos ter um bebê! — ele exclamou tentando conter o grito.
Havia uma alma radiante e duas confusas naquela sala de laboratório no momento.
Chegamos até nosso edifício e Julian fez questão de me acompanhar até meu apartamento.
— Nós três teremos um bebê! — Ele cantarolava a cada cinco minutos e eu ainda estava pensando se comemorava junto ou o mandava calar a boca de vez.
Mathias decidiu subir para seu apartamento dizendo que estava cansado e precisava rever alguns processos ainda naquele dia e desapareceu.
— Sério, Lian — eu disse quando ele foi ajeitar o sofá para que eu me sentasse —, eu não preciso de todo esse cuidado. Não vou quebrar só de sentar em um
sofá — reclamei. — E você sabe que eu
odeio ficar encostada em almofadas.
— Agora que sabemos que você
está grávida, precisamos tomar o máximo de cuidado para manter o embrião seguro e saudável — explicou. — Você precisa se alimentar o melhor possível, nada de besteiras.
Praticamente parecia mais que Julian quem estava grávido ali. Todo preocupado e revirando minha geladeira pegando todos os alimentos que ele julgava não saudáveis e enfiando em uma sacola.
— Lian,
pelo amor de Deus! — exclamei quase puxando meus cabelos com desespero. — A única coisa que eu
realmente preciso agora é de descanso. Só
isso.
— Claro, vou fazer um chá para você…
—
Lian, sai da minha casa — retruquei me levantando e apontando para a porta.
— Não, sai. — Fui até ele e o arrastei pelo braço em direção à porta. — Vá dar sua atenção a Mathias.
Ele precisa mais do que eu.
— Keira! — Mas eu o empurrei para fora e fechei o trinco.
Julian ficou alguns instantes resmungando e dizendo que ele também era parte daquela gravidez, mas logo desistiu e foi embora.
Então eu finalmente pude respirar um pouco e refletir. Eu teria um bebê. Eu
finalmente teria meu bebê. Embora agora o tivesse que dividir com mais duas pessoas, ainda assim era
o meu bebê. Me peguei acariciando minha barriga sem perceber. Não havia diferença alguma ali, mas agora que eu
sabia que havia uma vida se formando em meu ventre, senti aquele sentimento maternal voltar com tudo dentro de mim. Me vi sorrindo, quase gargalhando de alegria.
— Meu pequeno futuro bebê… — murmurei olhando para minha barriga como se o embrião realmente pudesse me ouvir ou sentir. — Eu vou ser a melhor mãe do mundo para você, meu amor… — sussurrei e depois me senti completamente boba falando sozinha com minha barriga que sequer tinha uma protuberância que indicasse gravidez.
Eu precisava contar a novidade para alguém. Normalmente esse alguém seria Julian, mas ele
já sabia e já estava se intrometendo demais, então decidi ligar para Tricia.
Ela berrou e gritou com muita empolgação quando contei a boa nova.
— Caramba
, não é a coisa mais estranha
estar grávida do seu melhor amigo? — ela exclamou toda espontânea e eu tive que rir daquilo.
— E sem sexo… — Soltei, de alguma forma eu estava com o humor melhor.
—
O que é mais estranho ainda… — ela disse. —
Mas me conta, o que o Julian e o Mathias disseram? — Ah, bom… — Comecei a enrolar um pouco. — Lian está
radiante, acho que nunca o vi desse jeito antes…
— Bom, você sabe… Está sendo difícil para ele…
— Difícil?
Difícil como? Você vai ter um bebê, Lian vai ter um bebê e consequentemente Math também vai ter um bebê! — ela exclamou como se aquilo fosse a coisa mais fácil de se assimilar.
— Tris, o filho tecnicamente é
meu e de
Lian, Mathias não tem nenhuma ligação genética com a criança — murmurei devagar.
—
E qual a complicação disso? Eles iam adotar uma criança que não tinha ligação genética com nenhum dos dois, qual é! — Tris, amiga,
aí é que está — murmurei querendo saber como a conversa alegre da novidade do
meu bebê havia virado uma conversa séria comigo tentando explicar o ponto de vista de Math. — Quando os dois decidiram adotar Eva,
nenhum deles tinha ligação genética com ela, então não haveria “briga” ou ciúmes. Mas
agora, Lian é o pai biológico do meu bebê e Mathias é o único excluído nisso.
Tricia ficou em silêncio por alguns segundos até que soltou um palavrão.
—
Cara, achei que Mathias ficaria feliz pela felicidade do Lian… — Tris murmurou completamente desapontada.
— Amiga, às vezes é difícil amar… — murmurei.
—
Mas vai tudo dar certo, não é? Quando o bebê nascer todos ficarão felizes, inclusive eu! — ela exclamou voltando a ficar animada. —
Aliás, já sabe que eu é que vou preparar o chá de bebê, né? Já que eu não tive a oportunidade de fazer a despedida de solteira… — Eu podia apostar que ela revirava os olhos.
— Ainda temos nove
longos meses pela frente, Tris…
Longos…
Capítulo 10
Uma semana havia se passado desde a notícia da gravidez. Julian não poderia estar mais radiante e Math não poderia estar mais infeliz por algum motivo. Lian tentava sentar e conversar com o noivo, mas ele não parecia disposto a se pronunciar a respeito. Talvez Julian estivesse tão particularmente feliz que tivesse esquecido da felicidade compartilhada, mas por mais que ele insistisse em saber qual era o motivo de Mathias estar tão chateado, ele simplesmente lhe dava respostas vagas e fugia do assunto.
— Math, amor, vamos conversar, por favor… — Julian murmurou sentando no sofá, esperando que o companheiro o ouvisse.
— O que quer, Lian? — perguntou secamente, o que era de se entranhar.
Muito.
— O que é que está havendo? — Lian questionou se levantando e indo na direção de Mathias. — Qual o problema?
— O problema é
exatamente você não saber o que há de errado, Julian! — o outro exclamou parecendo irritado e magoado ao mesmo tempo.
— Como é que eu vou saber o que está errado se nós não conversamos?
— Você simplesmente devia ao menos
desconfiar — Math retrucou pegando sua jaqueta que estava em cima da poltrona.
Julian ficou encarando-o sair e depois ficou encarando a porta por vários instantes.
Aquilo não era do feitio de Mathias.
Deasey, então, decidiu ir até Keira para conversar, talvez ela pudesse lhe dar alguma luz. Ele bateu na porta e a mulher atendeu rapidamente com cara de sono.
— Ai, graças a Deus alguém pra conversar! — ela exclamou com certo tom de alívio. — Eu estou
morrendo de sono
o dia todo — reclamou indo se sentar no sofá onde mexia em seu notebook.
— Mathias saiu de casa dizendo que ia
“por aí”. — O homem bufou indo se sentar ao lado de Keira.
— Uh, nada bom. — Ela voltou sua atenção para a tela do notebook. As conversas entre aqueles dois geralmente eram daquele jeito, ela quase nunca olhava enquanto ele falava, mas
aquele assunto era importante. Lian pegou o aparelho do colo da amiga e o fechou, afastando-o dela. — HEI!
Eu não tinha salvado nada desse projeto! — choramingou.
— Desculpe, mas seu melhor amigo aqui está precisando de atenção — resmungou. Ele sentiu um pouco de pena ao pensar em todo o trabalho provavelmente perdido da mulher.
— Credo, Julian… Eu que sou a solteira grávida e você é que tá na carência? — Ela riu. Incrível como os hormônios de uma grávida podiam interferir tão facilmente em seu humor.
— Mathias anda chateado com alguma coisa, mas não quer me dizer o que há de errado.
— Muito provavelmente porque ele esperava que você soubesse do que se trata… — Ela ergueu a sobrancelha como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
—
Foi isso que ele disse! — Julian retrucou se sentindo mal sem enxergar o óbvio.
— Lian, você está tão
ensandecido com toda essa história de ser pai que deve ter deixado passar alguma coisa — Keira disse simplesmente.
O que ele havia deixado passar? O aniversário de Mathias? Não, ele fazia aniversário no começo do ano e os dois já haviam comemorado,
e como. Também não foi aniversário de namoro, ele ainda se lembrava da comemoração daquele ano. Então,
o quê? — Julian, pelo amor de Deus, é mais do que óbvio que ele está chateado com a minha gravidez! — Key exclamou um pouco impaciente.
Deasey parou de pensar e encarou a melhor amiga.
Não fazia o menor sentido! — Não, Keikey. Antes de tomarmos essa decisão nós conversamos e ele aceitou — disse convicto.
— Mas depois que as coisas aconteceram, talvez ele tenha mudado de ideia.
—
Mudado de ideia?! — exclamou incrédulo. — Desistido do
nosso sonho de ter uma família? — questionou.
— Talvez o sonho dele não incluísse a mim e um filho
comigo, Lian — Keira murmurou com cara de tédio.
— Julian, essa criança terá o
nosso DNA, meu e seu, nada de Mathias. Acha que ele não ia se importar com isso?
Lian parou para pensar um momento mais. Sim, o bebê só teria o
seu código genético – e o de Keira –, mas ele nunca pensou que Mathias poderia se incomodar com algo assim. Seria o filho
deles de qualquer forma. Seriam a família mais linda, feliz e incomum do mundo!
— Acha que é mesmo isso? — perguntou ficando um pouco chateado.
Keira suspirou profundamente olhando o melhor amigo com paciência.
— Lian, se fosse
comigo, eu ficaria
muito magoada com algo assim — disse.
— Porque meu
noivo estaria tendo um filho com a
melhor amiga dele! — exclamou. — Porque os dois teriam uma ligação que ele
jamais teria comigo.
Lian engoliu em seco, ele não havia pensado pelo ponto de vista de uma das pessoas mais importantes de sua vida. Havia sido egoísta e esquecido que aquela era uma decisão a ser tomada a dois,
por um casal.
Ele havia decidido sozinho e convencido tanto Math quanto Key a aceitarem o que propunha.
— Eu sinto muito — murmurou para Keira que o olhou surpresa.
— Por não ter pensado em vocês dois,
em você.
— Não se preocupe comigo. — Key abanou o ar sem dar muita importância. — Não é uma maravilha o que os hormônios de uma grávida fazem com seu lado maternal? — Ela cantarolou. — Mas admito que fiquei
bastante puta no início disso tudo. Quer dizer,
ter um filho do meu melhor amigo gay? Que ideia de jerico era aquela?
O homem se sentiu ainda mais culpado e imbecil com aquela afirmação.
— Mas então percebi que era a
melhor ideia que poderia ter surgido. Você seria o amor da minha vida se não fosse gay e eu pudesse sentir alguma atração por você… — Keira disse como se comentasse o tempo. — Mas é ainda melhor do que isso, porque você
é um dos amores da minha vida, me entende melhor do que ninguém, sempre me apoiou, sempre esteve comigo…
Somos praticamente um casal. Mas um casal de melhores amigos.
— Keikey, amor… Você está precisando descansar… — Deasey murmurou estranhando toda aquela “declaração de amor”.
— Eu só estou feliz, Lian. Por poder realizar o sonho da minha vida com alguém mais que perfeito para isso.
O homem sentiu a garganta secar. Ele e Keira estavam realizando o maior sonho de ambos e Julian havia excluído seu parceiro, o amor de sua vida,
seu noivo, disso. Ele devia belas desculpas a Math. Se levantou e foi caminhando em direção à porta sem dizer mais nada.
— Já acabamos? — Keira perguntou erguendo a sobrancelha para o amigo.
— Preciso falar com Math.
— Obrigado, nada. Você vai me pagar pelas horas que perdi fazendo a programação que
você fechou sem me deixar salvar! — Ele ouviu ela gritar de dentro do apartamento, ele já estava de saída.
Julian subiu para seu apartamento e percebeu que Math não havia voltado.
Decidiu fazer um jantar especial para ele naquela noite. Lian era péssimo na cozinha, mas
todos conseguem cozinhar seguindo receitas, certo? Preparou paella, o prato favorito de Mathias, e serviu vinho do porto em duas taças.
Lian ficou esperando por Math durante
horas, mas ele não voltou no horário de costume, eram quinze para as nove quando ele abriu a porta e jogou o casaco em cima da poltrona.
— Onde estava? — Deasey perguntou se levantando.
— Andando — o outro respondeu se jogando no sofá.
— Andando durante
cinco horas?
— Julian, eu precisava espairecer. — Mathias bufou.
— Fiz o jantar e fiquei te esperando!
— Não estou com fome, comi um lanche na rua.
Julian respirou fundo se lembrando de que quem devia desculpas naquele momento era ele. Levantou e foi até o lado de Mathias no sofá.
Ele se afastou para que o outro pudesse se sentar.
— Eu sei que te excluí da maior decisão de nossas vidas e peço desculpas por isso, eu estava cego de empolgação e acabei atropelando a sua opinião. A opinião do meu futuro marido — murmurou pegando as mãos do companheiro.
— Ah,
agora você se lembra de que somos noivos, Julian? — Mathias resmungou afastando as mãos do alcance do companheiro. — Porque no último mês parecia mais que você estava noivo de Keira.
Lian ficou encarando Math por longos instantes processando a última frase proferida.
— Você está com
ciúmes de Keira? — perguntou boquiaberto.
— Eu não sei, vocês decidiram ter um filho juntos, vivem grudados mais do que o normal… — Wurfel resmungou de forma insinuadora.
— Mathias, você sabe que eu
amo você — Lian disse seriamente. — Keira e eu temos uma conexão
diferente…
— Bom, talvez essa conexão
diferente na verdade esteja se tornando alguma outra coisa.
Julian riu exasperado. Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo do homem que era seu noivo e havia ficado com ele por mais de cinco anos.
— Mathias, nós estamos
noivos, pelo amor de Deus, você sabe melhor do que ninguém que
sou gay. Eu não sinto absolutamente nada diferente de amizade por Keira!
— Desculpe, Julian, mas eu nunca pude ser capaz de compreender a amizade de vocês — ele disse se levantando — e agora compreendo menos ainda.
— Eu estou cansado, Julian. Foi um longo dia e estou com uma dor de cabeça terrível, se não se importar, vou para a cama.
Deasey queria dizer que
sim, ele se importava, mas acabou parado feito bobo encarando o noivo caminhar para o quarto dos dois.
Lian bufou e berrou com a cara enfiada em uma almofada. Como foi que as coisas ficaram daquela maneira?
Ele ficou horas na sala vendo qualquer coisa que passasse na TV. Esperou que Mathias pegasse no sono para poder ir para a cama também, tirou a roupa e colocou uma calça moletom que geralmente servia de pijamas, deitou ao lado de Math – que estava de costas para o seu lado – e o abraçou querendo mantê-lo o mais perto possível.
No dia seguinte Julian Deasey acordou sozinho e atrasado para o trabalho.
Nota: Nosso Lian finalmente está voltando a si e percebendo as merdas que estava fazendo, será que vai dar tempo de reverter as coisas?
Talvez dê uma demoradinha pro próximo capítulo que preciso re-re-re-rever alguns detalhes nele HAHAHHAHAH (isso se eu não desistir por pura preguiça e só postar do jeito que está mesmo :B)
Capítulo 11
Por Keira
Lian estava completamente preocupado com o rumo que sua vida amorosa estava tomando. Mathias parecia cada dia mais distante e querendo menos conversa, o que levava Julian a se aproximar cada vez mais de minha companhia. Eu detestava vê-lo daquele jeito. Quero dizer, Lian tivera
vários namoros frustrados com base apenas em sexo –
ECA! – e isso o estava deixando completamente insatisfeito. Até encontrar Mathias. O cara mais velho, sério e centrado que queria um relacionamento à sua altura. Julian provara que era digno de sua atenção, eles ficaram juntos por quase cinco anos e agora estavam noivos há seis meses. Eram o casal mais perfeito do mundo e agora… agora mal se falavam direito. E eu me sentia culpada por parte disso. Antes de eu concordar em tentar a inseminação com Julian as coisas iam perfeitamente bem.
Agora eu tinha um melhor amigo choramingando pelos cantos
da minha casa por conta de um noivo frustrado. Eu já havia dito que entendia perfeitamente o ponto de vista de Mathias,
não poderia existir uma família biológica de
três. Não pelo menos
nessa família. O desejo de Mathias era poder compartilhar com Julian a felicidade de ter uma criança, mas me incluir no meio não fazia parte do plano e muito menos
sentido.
Julian jurava que insistia em conversar com Math, tentando explicar as coisas, tentando entender o lado dele, tentando
arranjar uma solução, mas a menos que eu perdesse aquele bebê, não havia uma solução à vista, por mais que digamos que
nós três seríamos os pais, a paternidade era de Lian. E para ser sincera, eu não queria perder o bebê. Eu estava realizando meu sonho… massacrando o sonho de outra pessoa, mas realizando o
meu sonho.
Eu ainda era do pensamento de que se até aquele momento havia dado certo, então eu podia seguir adiante com aquela loucura,
porque era para ser. Eu esperava que as coisas melhorassem para Lian, não estava lá muito preocupada com Mathias, ele não ia muito com a minha cara por causa da minha aproximação com seu noivo, o que tecnicamente era uma questão
boba, já que Lian era
completamente gay e eu
completamente assexual, não havia motivo para ciúmes e muito menos para “perigo”.
O tempo se passou e completei pouco mais de três meses, era hora de fazer o ultrassom que poderia me mostrar alguma imagem mais real do meu bebê. Não dava para perceber
muito a minha barriga,
mas quem realmente estava ligando? Julian quase saltitava de empolgação naquele dia, Math apenas dissera que tinha uma audiência para acompanhar e saiu de casa.
— Mas é importante o ultrassom do nosso bebê — murmurei tentando fazê-lo entender que aquela criança também seria dele, mas tudo o que recebi em resposta foi um sorriso irônico e uma porta fechada.
Lian ficou irritado com a atitude. Na verdade, ele andava irritado com qualquer atitude hostil dirigida a mim,
parecia mesmo que ele era meu marido… Ah, Julian, por que você não se ajuda, seu paspalhão?
Decidimos – Lian decidiu – ir no carro dele, já que eu estava grávida, não deveria passar pelo estresse do trânsito. Julian dirigiu muito cuidadosamente como sempre dirigia, mas xingava a cada fechada ou falta de seta dos outros motoristas. Caramba, quem estava sofrendo mudanças no corpo e nos hormônios mesmo? Sei lá, talvez Lian estivesse com aquele tipo de gravidez imaginária que alguns maridos tinham quando as esposas ficavam grávidas. Tirando a parte do
esposa nessa nossa história, claro.
Chegamos à clínica e a doutora Pearson em minutos nos atendeu.
— E então, papai, está pronto para ver uma imagem de seu filho? — Sophia perguntou completamente empolgada.
Eu queria pontuar mais uma vez que Lian não era meu marido, mas deixei quieto, afinal, ele
era mesmo o pai da criança.
— Vamos lá… Isso pode ser gelado e fazer cócegas. — A médica me alertou, em seguida passando o gel para poder fazer o exame.
Ela ficou alguns instantes vasculhando minha barriga e aqueles instantes estavam me deixando ansiosa. O que estava acontecendo? Não era um bebê crescendo na minha barriga? Era algum tipo de tumor ou monstro que Lian e eu havíamos criado? Mas então Sophia abriu um largo sorriso e virou o monitor de exames em nossa direção.
— Aqui. — Ela apontou para uma imagem que eu não conseguia entender. Definitivamente. — Ainda não se consegue ver muito, mas o bebê de vocês está aí! — ela exclamou completamente alegre e acho que se ela não fosse
muito profissional, estaria dando saltitos e batendo palmas de alegria. — Ah, querida, não sabe o quanto eu estou feliz por você — ela me disse dando um leve tapinha em minha mão.
Mais algumas analisadas nas imagens do ultrassom enquanto eu tentava bisbilhotar a tela de exames.
— Já dá para saber se é menino ou menina? — perguntei curiosa.
— Ainda é um pouco cedo para isso, querida. — Sophia sorriu compreensiva. — Mas talvez nas próximas consultas consigamos descobrir esse mistério. — A doutora Pearson piscou de forma marota. — Se ele não for um dos bebês misteriosos que não querem se mostrar.
Eu fiz um pequeno bico, um pouco frustrada e ansiosa, e a doutora Pearson riu.
— Eu estou tão feliz por você, Keira! — disse me olhando de forma terna, como uma mãe faria.
Sophia sabia o quanto eu queria aquilo para mim, o quanto eu sentia
necessidade em ser mãe, e acompanhou todos os meus picos de depressão quando eu pensava que nunca poderia ser.
— Ah, claro, estou
muito feliz por
vocês dois. — Sorriu me entregando alguns papeis-toalha para me secar.
Eu sorri agradecendo e já me levantando para sair quando percebi um Julian completamente abestado parado ao meu lado ainda encarando a imagem congelada de meu ultrassom.
— Lian? — chamei o cutucando.
— Ah, claro, vocês podem ficar com a imagem do pequenino. — Sophia sorriu apertando um botão e quase que imediatamente um papel saiu da máquina de exames. — Aqui. — Ela o entregou para Lian que ficou encarando a imagem completamente fascinado.
Estávamos na recepção quando Lian voltou a encarar a imagem que segurava.
— Me dá a chave do carro — eu disse estendendo a mão em sua direção.
— O quê? — perguntou absorto.
— A chave do carro! — exclamei autoritária.
— Eu já disse que você não vai diri…
— Cale a boca, Julian, você é capaz de provocar um acidente de tão hipnotizado que está com essa imagem — retruquei começando a procurar as chaves em seus bolsos da calça jeans.
— Essa
imagem é o meu filho! — disse um tanto contrariado.
— Tudo bem,
nosso filho — ele disse me entregando finalmente as chaves que estavam dentro do bolso do casaco que ele usava.
— Ok, isso soou estranho. Vamos dizer
meu filho e
seu filho, assim, separadamente. Nada de
nosso — disse já caminhando em direção à saída da clínica.
— Você sabe que tecnicamente a frase sugere a mesma coisa, não é? — Ele correu para me acompanhar.
—
Quem diabos coloca as chaves do carro no bolso do casaco? — eu perguntei mudando de assunto.
Continua
Nota: Chegueeei! E a verdade é que eu já tinha feito as pesquisas dos detalhes antes – provavelmente mais de duas vezes kkkk -, mas sou dessas que não confia em si mesma sobre coisas que pesquisa, então tive que pesquisar de novo novamente.
Veja bem, eu nunca fiquei grávida e também nunca acompanhei de perto a gravidez de alguém, então algumas coisas provavelmente não são da forma como imagino, mas é kkk
Por mais que Keira e Lian tenham seus 30 anos e tal e se espere que pessoas dessa idade sejam mais… adultas(?), muito das características deles tem um quê de Lelen, então sim, esses dois serão pais que de vez em quando agirão como adolescentes HAHAHAHHA
A próxima att vem com surpresa, mas talvez uma delas seja boa? Depende do ponto de vista HAHAHAHHA
Capítulo 12
Por mais que Mathias estivesse completamente fora de si, Julian estava
louco para compartilhar aquela pequena imagem do primeiro ultrassom do futuro filho ou filha deles. Ele tinha até mesmo mostrado o ultrassom para algumas das atendentes da clínica que ficaram lhe perguntando sobre como ele estava tendo um filho. Julian fugia das perguntas dizendo que eram coisas estritamente íntimas e que não queria envolver isso com o trabalho. Não
aquela parte pelo menos.
Depois de voltar do restante do expediente na clínica pediátrica, o homem emoldurou a imagem e a deixou em cima da estante da sala. Ele esperou por Math que na realidade costumava chegar mais cedo do que Lian do trabalho. Ele estava doido para contar que o bebê deles estava saudável e que com mais ou menos cinco meses poderiam descobrir o sexo da criança. Queria que o noivo pudesse sentir a mesma empolgação que ele estava sentindo, talvez aquela imagem ajudasse.
Julian preparou um jantar básico já que era chegado o horário e quem costumava cozinhar era Mathias, que não havia chegado, nem ligado e nem retornado suas ligações. Toda a alegria
começava a se dissipar com aqueles pequenos detalhes, mas ele ainda tinha esperanças de que tudo daria certo no final. Seriam uma família nada convencional, mas feliz.
Às oito e pouco, Math chegou suspirando de cansaço. Lian foi até o noivo sem poder esperar mais um segundo sequer.
— Nosso bebê está
perfeito! — exclamou sorrindo e caminhando em direção a um beijo, mas Mathias desviou o rosto. Julian fingiu não se importar e foi pegar a imagem do ultrassom para que o companheiro pudesse ver.
Math pegou o porta-retratos das mãos de Lian e encarou-o por alguns segundos.
— Que
diabos é isso? — perguntou devolvendo a imagem e indo se sentar no sofá enquanto afrouxava a gravata e ligava a TV.
— Como assim, Math? — Lian questionou fingindo não ter detectado o tom ofensivo do parceiro. — É
o nosso bebê — disse indo se sentar ao seu lado.
Mathias desligou o televisor, respirou fundo e encarou o noivo seriamente.
— Não é o
nosso bebê, Julian. É
seu e de
Keira, não meu — retrucou.
— É
claro que também é seu, Mathias! — Lian exclamou como se fosse óbvio, ele vinha tentando fazer o outro ver as coisas sob a sua perspectiva, mas nada realmente funcionava.
— Não, Julian! — Mathias se exaltou. — Essa criança
nunca vai ser minha,
você é o pai e Keira a mãe, ela não precisa de outro pai.
— Math, isso é como se fôssemos adotar nossa Eva, mas agora sabemos de onde ela veio e que é
parte nossa. Eu já disse que Keira não vai se…
— Julian, eu estou com outro. — Math jogou aquela frase para cima de Deasey sem a menor consideração.
— Estou com outro, estou te traindo, pulei a cerca. O que mais quer que eu fale?
— Que está
mentindo, talvez? — Julian perguntou um tanto boquiaberto.
— Bem, mas não é mentira. Eu estou
mesmo saindo com outra pessoa — Mathias disse sério se levantando do sofá.
— Escuta, eu achei que tivéssemos uma coisa diferente, que pudéssemos fazer dar certo, ter uma família… — Wurfel murmurou. —
Mas eu não posso competir com Keira.
— Competir com Keira? — o outro perguntou surpreso e indignado. — Você não tem que competir com Keira, Math! Eu já lhe disse milhões de vezes que o que sentimos um pelo outro é somente amizade.
— Amigos que têm filhos juntos? — retrucou.
— Math, nós
sequer transamos! — Deasey exclamou. — Foi uma alternativa para realizar um sonho. Tudo bem, eu errei em não levar em consideração o seu ponto de vista, mas…
— Não tem mais o que ser discutido, Julian. Acabou — disse, pegando sua aliança de compromisso e jogando no ar, Lian pegou-a por impulso. — Adeus.
— O quê? Como assim, adeus? — Ele foi na direção de Mathias, indignado. — Nós estamos noivos, vamos nos casar no final do ano, vamos ter um bebê em alguns meses,
como assim, adeus? — Adeus, Lian. Só… Adeus — o outro respondeu indo em direção à porta. — Vou pedir para um amigo vir buscar minhas coisas outro dia — disse já na porta. — Boa sorte com seu
bebê. — Mathias praticamente resmungou a última parte e fechou a porta.
A mente de Julian dizia para ele sair daquele apartamento e correr atrás do (ex?) noivo. As coisas não eram daquela forma. E
como assim ele tinha outro? Mas seu corpo simplesmente ficou ali, inerte no meio da sala.
Quando a ficha finalmente caiu, Julian tentou ligar para Mathias para que pudessem conversar melhor, mas ele não o respondia antes, não o responderia naquele instante. Ele encarou a adega de vinhos deles e decidiu beber um pouco. Enquanto bebia ele continuava tentando ligar para Math, depois de duas horas tentando, finalmente desistiu e só continuou com o vinho. Depois as lágrimas vieram. Julian achava que Math e ele haviam construído uma história com uma estrutura sólida baseada na confiança e na conversa, mas aparentemente ele estava
muito equivocado. Durante
anos Lian havia vivido um sonho, um sonho lindo que se despedaçou à sua frente sem que ele pudesse fazer qualquer coisa.
Julian sentiu que estava um pouco alto, mas mesmo assim decidiu ir para a casa de Keira. Ele precisava de alguém que o ouvisse e que o entendesse.
Key abriu a porta com pijamas e pantufas e fez cara de surpresa quando viu o melhor amigo, talvez ele estivesse com uma aparência horrível.
— Lian, o que houve? É quase meia-noite.
— Será que podemos fingir que temos dezessete anos outra vez e só… conversar? — perguntou sorrindo amarelo.
— Ah… Claro? — Key pareceu confusa, mas abriu espaço para que o amigo entrasse. — O que está acontecendo, Lian? Você bebeu demais? Mathias vai te matar quando perceber que…
— Mathias me deixou — murmurou sem esboçar nenhuma emoção. — E ele tem outro. — Deu de ombros.
Keira encarou o homem à sua frente com aquela expressão que geralmente usa quando espera que uma afirmação seja dita como uma brincadeira, mas logo percebeu que o amigo estava falando sério, então se aproximou sem dizer nada e o abraçou com força. Ele quase chorou novamente nos braços da melhor amiga, mas ele só havia feito aquilo uma vez, quando seus pais não quiseram deixá-lo dormir na casa de Keira, aos onze anos. Julian solto uma risada.
— O que foi? — Keira perguntou confusa, empurrando o homem para que ambos sentassem no sofá.
— Estou lembrando de quando chorei pela primeira vez na sua frente — murmurou. — Foi ridículo.
— Pois é, o
motivo foi ridículo, mas você chorar, não. Homens também choram — ela disse acariciando os cabelos de Julian.
— E gays também — murmurou tentando fazer uma piadinha, mas nenhum dos dois riu.
Ficaram em silêncio por longos minutos aconchegados no abraço um do outro.
— Mathias é um grande puto! — Keira exclamou de repente.
— Não fale assim, Keikey…
— Não, já se esqueceu de como funciona, Lian? Em situações assim você tem que
concordar — a mulher disse encarando o amigo de forma séria.
— Do que porras você está falando? — ele perguntou já um pouco grogue de sono.
— Das obrigações do melhor amigo, oras.
Julian encarou Keira como se ela fosse alguma lunática, mas então ele se lembrou de quando a mulher conheceu um de seus primeiros paqueras e ele fora completamente estúpido com ela. Então ela foi choramingando até Lian e ele disse que os dois deviam xingar o babaca até que ela se sentisse melhor.
— Nossa… Isso é velho — finalmente ele murmurou.
— Então. Mathias é um puto. — Ela repetiu.
— Completamente. — Concordou entrando na brincadeira, mas se sentindo um lixo por dentro.
— Ele perdeu o melhor homem do mundo.
— E que, segundo a sua médica, tem muito bons “espécimes” para dividir — Lian rindo da cara de nojo que Key fizera.
— E ele perdeu a oportunidade de fazer parte de uma família-nada-convencional e feliz.
Julian deitou a cabeça no ombro da mulher e ficou encarando a barriga da melhor amiga que tinha uma pequena protuberância.
— Isso é incrível… — murmurou meio sonolento.
—
Você é incrível. — Continuou, agora encarando-a diretamente.
— Lian, por mais que você esteja bêbado e carente,
eu não vou transar com você — Keira disse séria e o amigo gargalhou.
— Você é incrível por estar gerando uma vida dentro de você — explicou voltando a encostar a cabeça no ombro da mulher.
— Então
nós dois somos incríveis, porque um bebê não se faz sozinho.
— Talvez devamos incluir a doutora Pearson nessa lista também… — Lian murmurou com o sono o pegando de jeito.
Julian Deasey se acomodou ali mesmo, no sofá do apartamento da melhor amiga, e apagou.
Nota: Supresa 1 – a que ninguém ficou surpreso em saber HAISHAO
No começo da história, quando eu estava escrevendo, pensei muito se devia ou não fazer isso com nosso lindo Lian, mas na hora de escrever, as coisas simplesmente aconteceram e é isso que aconteceu kkkkkkkrying. Mas calma que Julian vai ser feliz, prometo.
Capítulo 13
Por Keira
Havia três dias que Lian estava depressivo com o fato de que Mathias não havia voltado e estava na fase da negação. Custava a acreditar que o parceiro de cinco anos havia
mesmo arranjado outro. Ficava se perguntando quem era, se seria algum conhecido. Eu tentava fazê-lo pensar no bebê e no quão feliz ele estava, mas tudo o que eu conseguia arrancar dele era um sorrisinho meio tristonho que não me agradava em nada.
Nesses três dias nós meio que invertemos os papéis, já que
eu ia toda hora ver se ele estava bem – não, ele não estava, aliás, sequer estava indo trabalhar – e para alimentá-lo, já que ele conseguia ser uma desgraça na cozinha, principalmente morando sozinho. O máximo que ele fazia era macarrão instantâneo. Ao menos Mathias havia feito
algo de bom nesses últimos anos, Julian se sentia motivado a cozinhar para agradar o parceiro…
Aquele era o quarto dia e, como sempre, lá fui eu subir para o apartamento do meu melhor amigo para verificar se ele ainda estava vivo e alimentado. Saquei minha cópia da chave – que por motivos óbvios eu não usava quando ele começou a dividir o lugar com Mathias – e fui abrir a porta, logo percebendo que a mesma estava destrancada. Achei
muito estranho, por mais que Lian estivesse descuidado,
eu fazia o possível para mantê-lo seguro e trancava a porta todas as vezes em que ia visitá-lo – o que incluía café da manhã, almoço e jantar – então eu tinha
certeza de que no dia anterior eu havia fechado o apartamento. Adentrei o lugar com muito cuidado, tentando não fazer barulho e quase trombei com um cara de camisa social que segurava algumas caixas.
Mas que diabos? Me endireitei e tentei entender o que estava acontecendo, olhei para o número na porta apenas para confirmar se estava no apartamento certo. Estava. Então
quem era aquele homem? Foi então que vi Mathias logo atrás dele com mais algumas caixas. Encarei os dois e os dois me encararam. Decidi iniciar a conversa.
—
Ora, Mathias… — murmurei em tom irônico enquanto cruzava os braços e o encarava, bloqueando a passagem. — O que está fazendo aqui? — perguntei séria, medindo o outro homem dos pés à cabeça.
— Vim buscar minhas coisas, Keira — ele retrucou usando um tom nada agradável ao dizer meu nome.
— E esse, é seu novo namoradinho? — perguntei com certo nojo. O homem – que mais tarde eu descobriria se chamar Carlo – fez menção de abrir a boca, mas eu ergui a mão. — Estou falando
com ele — retruquei voltando novamente meu olhar a Mathias que parecia nada feliz em me encontrar.
— Acho que isso não lhe diz respeito,
Key — Math sibilou caminhando em minha direção para tentar passar por mim, mas não permiti.
— Não me diz respeito?
Não me diz respeito? — perguntei um tanto exaltada. — Você traiu o seu
noivo e companheiro de
cinco anos que por um acaso é
meu melhor amigo e você me vem com essa de que
não me diz respeito? — exclamei cerrando os dentes tentando não gritar muito.
— Com licença, senhorita… — o estranho começou a dizer.
— Cala a boca, seu
talarico de meia tigela! — exclamei e me senti uma adolescente do colegial falando daquela maneira. — E você, Mathias? Dizia que amava Julian com o maior orgulho.
— Tudo bem, Carlo — disse para o outro homem. — E eu amava — ele respondeu a contragosto.
—
Amava? Sério?
Amava, no passado? Já, tão cedo? — questionei empurrando-o de volta para dentro do apartamento que ele tentava deixar. — Isso não é amor, Mathias — respondi.
— E quem é você para falar de amor,
Keira? — Ele deixou as caixas que carregava caírem no chão enquanto falava. — Ah, é, a garota esquisita que teve que engravidar do
melhor amigo porque não arranja ninguém.
Eu encarei Mathias desacreditada. Ele tinha
mesmo dito aquilo?
Mal percebi quando a irritação passou para o ódio, só sei que, quando vi, já tinha metido um belo soco no meio da cara daquele traidor de merda. Quem ele pensava que era para falar daquele jeito comigo? Como
ousava falar em amor enquanto iludia meu melhor amigo? Enquanto Lian pensava na felicidade deles – por meios não convencionais e sem sentido – e na possibilidade de realizar um dos maiores sonhos dos dois,
como ele ousava falar sobre amor comigo? — Ai meu Deus, está sangrando! — Ouvi Carlo exclamar um pouco preocupado deixando sua caixa de lado também para ajudar Mathias.
Eu estava bastante irritada para arranjar forças do além e empurrar ambos para fora do apartamento de Julian, os dois tentavam me parar e um cotovelo me acertou na barriga.
—
Como é que ousam agredir uma mulher grávida, seus estúpidos e insignificantes?! — berrei parando de empurrá-los.
— Estou pouco me lixando para esse
feto — Mathias disse da forma mais baixa que uma pessoa podia fazer.
— SAIAM DAQUI, SEUS FILHOS DA PUTA MAL AMADOS. SAIAM! — berrei perdendo
completamente o pouco bom senso que tinha e os expulsando a pontapés e chutes, literalmente.
— Esse apartamento também é meu, minhas coisas estão aí dentro! — Mathias exclamou tentando passar por mim, mas eu o segurei bloqueando-o com a porta.
— Esse apartamento está no nome de Julian — retorqui, pegando uma das caixas mais próximas de mim. — E tome as suas coisas, seu vadio! — exclamei jogando a caixa na direção dos dois que, com a surpresa, se afastaram para não serem atingidos, aproveitando, peguei as outras caixas e fui arremessando uma a uma na direção deles. Uma pena minha mira ser tão ruim.
— Você perdeu completamente o senso! — Mathias exclamou enquanto pegava suas coisas do chão com a ajuda do
outro.
— E você perdeu o melhor homem que poderia encontrar no mundo! — exclamei como se aquilo fosse
realmente um contra-argumento. — ESPERO QUE A FODA DE VOCÊS SEJA A PIOR DO MUNDO, SEUS PUTOS! — gritei antes de fechar a porta com força e trancá-la, além de colocar a corrente no trinco para o caso de Mathias tentar usar a chave extra dele.
Depois de respirar profundamente e me certificar de que aqueles dois tinham ido embora, me permiti ficar mais calma. Fui pegar um copo de água – a cozinha estava uma zona – e depois fui me sentar no sofá. Uma grávida não deveria se exaltar daquela forma, não é? Após alguns minutos resolvi ligar para o celular de Lian.
—
Alô? — Ele atendeu sem o menor ânimo.
—
Por que você não me avisou que ia trabalhar hoje? — resmunguei entredentes.
—
Ah, Keikey, me desculpe, foi uma chamada de emergência, eu tive de sair… — Você podia ter me avisado, teria me poupado de encontros com pessoas indesejadas — disse voltando a ficar um pouco ofegante só de lembrar da raiva que havia passado.
—
Como assim encontros com pessoas indesejadas? — Lian perguntou um pouco confuso.
— Acredita que Mathias esteve aqui?
No seu apartamento? —
O quê? Ele está aí agora? Me deixe… — Quê? É
claro que ele não está mais aqui, Julian! — exclamei começando a me irritar com o fato de meu melhor amigo não aceitar o fato de que tudo entre eles havia acabado.
—
O que você fez, Keira? — ele perguntou
como se eu fosse a culpada! — O que
eu fiz? — retorqui. — Ele teve a cara de pau de aparecer aqui com o puto do
outro.
Depois dessa informação, Julian ficou mudo na linha. Fiquei um pouco preocupada, talvez ele tivesse tido um ataque cardíaco, apesar de ele ter uma saúde física de dar inveja.
— Lian? — chamei e ele pigarreou para mostrar que ainda estava na linha. — Volta pra casa logo. Sua melhor amiga grávida precisa de você.
—
O que foi? Está sentindo alguma coisa? — Ele logo ficou alerta.
— Estou. Sentindo uma raiva terrível e não posso beber para esquecer, então meu único remédio é você.
Ouvi Julian rir baixinho e então ele avisou que já estava saindo da clínica para me ajudar.
Demorou mais de meia hora para que ele finalmente chegasse e se sentasse comigo no sofá.
— E como foi com
ele? — Lian perguntou sem querer mencionar o nome de seu ex.
— Só confirmei minhas suspeitas de que ele é um babaca — respondi e de repente meu ódio começou a me deixar sensível e minhas próximas frases acabaram saindo embargadas. — E ele teve a coragem de dizer que pouco se lixava para o seu e o meu bebê… — murmurei quase chorando. Merda de hormônios! — E ainda o chamou de
feto!
— Ah, meu amor… — Julian me puxou para mais perto e me abraçou com força para me confortar, então logo me senti melhor para continuar a contar minha história.
— Eu dei um soco na
fuça dele — informei me afastando e limpando as poucas lágrimas remanescentes.
—
Fuça, Keira? — Ele me repreendeu pelo palavreado e não por ter metido um soco na cara de seu ex. Isso devia ser um progresso, certo?
— Um
animal tem
fuça — expliquei meu ponto de vista e vi Julian revirar os olhos. — E além disso um deles ainda me deu uma cotovelada na barriga — retruquei deixando de fora a parte que
provavelmente havia sido um acidente.
—
O quê? — Lian me encarou sério e acho que ele mesmo daria um soco em Mathias naquele instante se pudesse.
— Mas eu revidei a pontapés e chutes — informei calmamente. — E desejei no final que os dois tivessem a pior foda do mundo.
Julian ficou me encarando incrédulo por vários segundos, acho que estava um pouco assustado com meu palavreado já que eu não costumava falar palavrões desde o final de minha adolescência.
— Você não devia ter feito essas coisas, Key — ele disse por fim.
— Lian, meu querido — eu me voltei em sua direção segurando seu rosto entre minhas mãos —,
alguém precisava dar pití por aqui e já que não foi você…
Julian gargalhou de uma forma que fazia tempo que eu não ouvia e aquilo me fez sorrir. Era tão bom ouvir aquele som.
Meu Lian estava voltando.
— Às vezes me pergunto quem é o homem e a mulher da nossa relação — ele disse ainda rindo.
— Obviamente nesta situação eu fiz o papel dos dois
ao mesmo tempo. — Me vangloriei. — Dei um pití lindo e ainda dei um soco bem dado na carinha fofa daquele infeliz. — Sorri. — Foi um dos melhores dias da minha vida.
Julian me encarou novamente e eu tinha certeza de que ele se perguntava de onde havia tirado uma melhor amiga como eu. Eu era rara demais e era muita sorte
ele ter me encontrado. Eu sei.
Nota: Eu achei que a surpresa 2 ia estar nesse capítulo, mas na verdade é no próximo kkkkk
Aqui fiquemos com a Keira defendendo seu melhor amigo com garra – e dramaticamente – do ex frustrado e frustrante. Farewell, Mathias.
PS: Próximo capítulo temos a volta de Tricia, então sabemos que algo pode acontecer kkkkk
Capítulo 14
Por Keira
Quinze dias passaram e
finalmente Julian mostrou alguma melhora. Digo, ao menos ele estava indo trabalhar e eu não precisava mais ir conferir
todo dia se ele estava bem. Ele voltou a
me visitar todos os dias e agora ficava em casa até muito mais tarde já que não tinha mais um noivo babaca e puto para quem voltar. Eu particularmente não estava mais me importando com isso, até apreciava ter alguém com quem conversar e desabafar, e ouvir desabafos e… Simplesmente jogar conversa fora. Lian havia voltado a ficar empolgado com nosso bebê, o que me fazia ficar mais feliz e animada.
Hormônios, fazer o quê?
Lá estávamos nós conversando sobre o quanto gelatina colorida era deliciosa e linda – o que estava me deixando com uma vontade enorme de comer gelatina colorida – quando o interfone tocou nos surpreendendo. Eu não costumava ter visitas e muito menos às sete da noite que não fosse Lian.
— A senhorita Tricia está aqui. — Anunciou o porteiro.
— Oh — murmurei um pouco surpresa, Tris não costumava aparecer sem antes me ligar. — Pode mandar subir.
— Quem é? — Julian perguntou curioso.
Em menos de cinco minutos Tricia batia à minha porta com certa urgência. Fui atender e ela mal me deu oi, adentrando direto meu apartamento usando um vestido curto e grudado ao corpo e um salto alto e fino.
—
AH! Eu
sabia que você estaria aqui! — ela exclamou apontando para Julian colocando uma das mãos na cintura.
— Tris, o que faz aqui? — perguntei indo me sentar e encarar minha melhor amiga impaciente e batendo o pé no chão de madeira.
— Decidi que vamos à uma balada — ela informou.
—
Você decidiu que
nós vamos à uma balada? — perguntei erguendo minha sobrancelha.
— Sim, você, eu e Julian.
Principalmente Julian.
Eu e Lian nos entreolhamos e franzimos o cenho. Vindo de Tricia aquilo não podia ser
muito bom.
— Tris, uma balada não é o lugar para uma mulher grávida — eu disse negando minha ida.
— E desde quando estar grávida é sinônimo de não poder se divertir? — ela perguntou erguendo a sobrancelha e cruzando os braços.
Eu abri a boca para responder, mas Lian soltou uma
pequena risadinha de deboche que fez com que Tris e eu nos virássemos para ele.
— Tris, ela não ia à uma balada nem quando
não estava grávida, acha
mesmo que ela vai aceitar agora? — ele perguntou todo debochado e risonho. Besta.
— Ah, claro… é verdade — Tris respondeu fazendo uma cara pensativa. — Mas vocês dois
precisam ir à essa balada comigo — retorquiu.
— Sinceramente, não estou no clima para isso, Tricia — Julian respondeu se espreguiçando.
— E eu já disse que balada não é lugar para uma grávida. — Repeti fazendo careta.
— Uma vez Keira, sempre Keira. Mesmo grávida. — Tricia revirou os olhos, mas veio em minha direção me fazendo levantar. — Vocês dois vão comigo à essa balada que arranjei.
—
Mais uma balada? — retruquei indignada. Aquela garota arrumava um canto diferente para ir a cada dia!
— Apenas acho que é hora de
alguém sair da fossa. — Ela olhou discretamente em direção a Lian, mas é claro que o discreto de Tricia não era lá essas coisas.
— Ah, não! — Julian exclamou ficando sério. — É
sério, Tricia, eu não preciso de uma balada nesse momento.
De verdade.
— Eu não disse que você precisa pegar alguém por lá, só que
precisamos nos divertir.
Lian ia rebater, mas eu abri a boca antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
— Nós vamos — eu disse e lancei um olhar autoritário ao meu melhor amigo.
—
Quê? — ele perguntou incrédulo.
Fiquei meia hora falando palavras de incentivo a Lian enquanto me trocava e depois Tricia e eu o ajudávamos a escolher uma roupa apropriada. Ele ainda resmungava de uma forma que eu não o via fazendo desde a sétima série, quando entramos no carro de Tris para ir à tal balada. Eu
definitivamente não estava vestida para a ocasião – estava usando uma bata que escondia ligeiramente a barriga que começava a se formar, uma calça jeans escura e um sapatinho sem salto –, mas quem estava ligando? Eu só ficaria de escanteio sentada no banquinho do bar esperando que meu melhor amigo arranjasse alguma
amizade para se animar um pouco. Eu estava perfeita se fosse analisar.
Tricia conhecia o dono do local e nós conseguimos entrar na frente de várias pessoas que ficaram nos olhando um pouco torto.
Eu não fazia
ideia do que fazer lá dentro. A música estava alta e algumas pessoas dançavam no meio da pista de dança enquanto outros grupos praticamente berravam uns com os outros para se comunicarem. Ok, talvez aquela ideia tivesse sido uma grande merda, afinal…
Caminhei acompanhando Tricia e Julian que me levaram para a fila do bar. Ok, o que
diabos eu ia pedir no bar de uma balada que
não tivesse álcool? Água?
— Duas caipirinhas e uma batida sem álcool, Jay! — Tricia exclamou para o barman que fez um positivo para ela e sorriu.
— Caipirinha? — Lian perguntou fazendo careta.
— Batida sem álcool? — perguntei quase ao mesmo tempo, mas surpresa.
— Caipirinha, você vai adorar. E batida sem álcool porque grávidas não podem beber, né? — Tris disse olhando para Lian que fez que sim com a cabeça. — O dono desse lugar é brasileiro, trouxe as melhores misturas de caipirinha do mundo para cá! — ela exclamou empolgada.
Nós ficamos esperando alguns minutos na fila quando um rapaz jovem esbarrou em mim e se virou para pedir desculpas. Se eu estivesse bebendo com certeza teria engasgado terrivelmente ao reconhecer aquele rosto.
—
Finlay Taylor? — Me vi perguntando com surpresa.
—
Chefinha! — ele exclamou com alegria. — Como você está? — perguntou me dando um abraço em cumprimento, fiquei tão chocada que mal me importei.
— Eu estou ótima. E faz mais de dois anos que não sou mais sua chefe, Finn — retorqui.
— Força do hábito. — Ele sorriu um pouco sem graça.
— E aí, gente! — Tricia chegou com dois copos na mão entregando um para mim. — Quem é o gatinho? — me perguntou dando cutucadinhas insinuadoras em meu braço.
— Gente — murmurei quando Lian chegou logo depois de Tris —, esse é Finlay Taylor, meu ex-estagiário na empresa que trabalhei — disse. — Finn, esses são Tricia e Julian. — Apresentei e todos se cumprimentaram.
Eu estava bebericando minha batida sem álcool quando Tricia chegou mais perto de mim.
— Ele é bem gostoso, tenho chance? — ela me perguntou sem tirar os olhos de Finn, que havia engatado uma conversa com Lian que parecia estar
começando a se divertir.
— Acho que isso não importa muito, Tris… — murmurei sem dar muita atenção enquanto continuava a bebericar minha bebida.
— Importa se eu tiver chance!
—
Não, não importa — disse me afastando um pouco para me aproximar de Finn e Lian.
— E então, Finlay, continua na Saunders?
— Ah, é, continuo. — Ele sorriu.
— Esse safado roubou meu emprego — eu disse dando um soquinho de leve no braço do meu ex-aprendiz.
— Não roubei nada, se a senhora…
— Taylor, meu nome é
Keira, tenho 30 anos,
não sou casada e
não sou mais sua chefe.
Pare de me chamar de senhora.
— Ok, Keira… Se você não tivesse decidido sair da Saunders Tech eu definitivamente teria sido demitido.
— É
claro que não, aprendiz meu
nunca é demitido. — Me vangloriei, apesar de só ter tido dois em toda a minha vida.
— Foi aprendiz de Keira? — Julian voltou à conversa. — Então teve a melhor instrutora. — Ele sorriu me dando uma cutucada. Por que todo mundo estava me cutucando hoje?
— Ah, com certeza. — Finn sorriu. — Vocês dois são namorados? — ele perguntou curioso.
— O quê? — Tricia surgiu do nada entrando na conversa. — Esses dois não poderiam ser namorados nem se quisessem.
Melhores amigos de infância. Consegue imaginar isso? — perguntou fazendo careta.
— Acho que vocês fariam um belo casal. — Finn admitiu um pouco sem graça.
— Ah, muita gente diz isso — Julian murmurou abanando o ar. — Mas essa não é muito a minha praia… — Lian disse dando de ombros.
— Oh… Claro, claro. Entendi — Finn exclamou um pouco encabulado e eu soltei um risinho.
Lian e Finlay voltaram a conversar sobre sabe-se lá o que e eu fiquei observando de um canto – como eu havia previsto – sentada numa mesa vaga perto dos banheiros.
Eu percebi que os dois se olhavam de uma forma diferente e de repente me lembrei de que Finn era gay. Do estilo de Julian… Aquela saída para uma balada nova poderia gerar bons frutos, talvez? Tirando as cantadas que eu havia recebido – tanto de homens quanto de mulheres – a noite até que havia sido bem
interessante…
Nota: Surpresinha 2, achei necessária e fofa HAHAHAHA
Tris sendo Tris, mas dessa vez foi uma boa causa, acho que talvez Tricia seja sagitariana, inimiga do fim e da tristeza, seja na vida dela ou na dos amigos kkkk
Estamos mais ou menos na metade da história (que tem 27 capítulos) e ainda tem umas coisinhas aí pra acontecer, espero que gostem (oi, Liv kkkk)
Até a próxima att!
EU TO SUPER ANSIOSA PARA SABER MAIS!!!!!
ta certissima
que ódio disso, desse preconceito meu deus. Deixa eles serem felizes, ngm tem nada a ver com isso!!!!!!!!
claro, mas deixa a gata passar pelos estágios, pelo o amor. é o que ela quer!!!!
LELEN, MIMDÁ A CONTINUAÇÃO!!!!!!
eu adoro uma família nada convencional, e quero saber muito como será o desenrolar dessa!!!!!!
Amo que as atts virão mais rápido!!!!! E tô adorando ver um pouco de cada personagem 🥹
Confesso que to super curiosa para saber como que virá a ideia dos bests terem um baby, inclusive, aceito spoiler u.u masssss, ja to aguardando a próxima att! E é óbvio que lerei até o final, não tem essa de desistir só pq o início eh meio parado 😠
cara, entendo que vc não entende mt bem, mas tu tá sendo chatona, pelo o amor
meu deus do céu, alguém para essa amiga
certissima!!!
CRL TU É MUITO CHATA NEM TENTA ENTENDER A SUA AMIGA POR DEUS
tadinha 🙁 mas que bom que ela se ama do jeito que é e sabe que não tem nada de errado
MULHER, QUE DESGRAÇA O QUE?????? TÁ DOIDA??????
eu to ansiosa para saber como que eles decidiram ter um baby juntos aaaaa
to ansiosa junto com eles
Eu vou bater nela 😠😠😠😠
to torcendo por vcs!!!!!! de um jeito ou de outro, vai dar tudo certo 💜💜💜
eu assim lendo
eu assim 2
um misto de tristeza com felicidade, né ajsjsjsjjsnssn
Já pode mandar o próximo capítulo 😌
e você terá, meu amor!!!
tadinha modeos
DEIXEM OS MEUS PROTEGIDOS SEREM FELIZES!!!!
acabou mesmo não!!!!
mulheeeer, manda mais att! to adorando mt acompanhar esses dois, e quero mt saber como que essa ideia veio hihihi
que bom que o Lian tem paciência, pq eu já teria mandado ir a merda
e tá certissima
isso é bem foda 🙁
mentira que foi a querida (chata) que teve a ideia aaaaaaa
A PERGUNTA DE MILHÕES
contra fatos não há argumentos, né
amoh um casal
Super concordo com a nota da autora hahahaha por mais que eu ache a Tris bem chatinha em alguns momentos e sem noção, felizmente ela tá ali pra ajudar os amigos JASBAHJSAHSA QUERO MAIS CAPÍTULO, AMEI SABER COMO QUE SURGIU A IDEIA
eu adoro os povs da keira JASNAJKSNAJS mt fofa
eu to emocionadaaaaaaaaaa
eu super entendo a keira ao mesmo tempo que to que nem o Lian SKJSHJAKDBJSDHS
e além deles morarem no mesmo prédio, a guarda será compartilhada, então todos ali vão estar na equação, por mais que ela não ache isso no momento HSNAJSAJSBAJS
JÁ QUERO O PRÓXIMO CAPÍTULO, SENHORA. TO ANIMADA DEMAISSSSS
Eu já imaginava que o Lian agiria assim, e entendo, mas pelo o amor! A Key precisa do tempo dela e o Mathias tem os seus sentimentos também!!!!!
Enfim, já quero ler o próximo capítulo, e espero que o Lian sossegue um pouco kkkkkkkkkkk
Por mais que eu também esteja feliz com o baby, super entendo a Key e o Mathias. Espero que todos possam entrar em um consenso em algum momento e lidar com as suas emoções, e espero que o Lian dê a devida atenção ao Mathias, sabe (e espero que eles fiquem juntos e não terminem). Que venha mais capítulos!
Ai, espero que realmente dê tempo, mas… não sei se eles ficarão juntos e já to triste caso eles não fiquem 🥲 Lian vai ter que correr mt atrás pra salvar o relacionamento deles.
Tudo bem, posso esperar o tempo que for pro posso capítulo…….. (por favor, que não demore tanto HAHAHAHAHAHA mas tudo no seu tempo, senhora 🤓)
Você mal atualizou e eu já quero o próximo capítulo 😭
Essa situação com o Mathias, sei não… acho que talvez venha um término por aí, mas quero estar enganada.
E menina, acho que nenhum dos pais de primeira viagem – principalmente – devem agir 100% do tempo com maturidade, e considerando esses dois bffs, óbvio que eles não iriam kkkkkkkkkkkk
MANDA O PRÓXIMO CAPÍTULO, QUERO SABER QUAL EH A SURPRESA 😭
PUTS
é, o que imaginei aconteceu
KKKKKKKKKKKKK EU AMO UMA AMIZADE
Eu já imaginava o que vinha pela frente, agora eh bola pra frente e focar no baby
Não concordo com o jeito que o Mathias agiu, mas, não posso dizer que não o entendo
QUE BOM QUE ELA METEU O SOCO NELE!!!!!!!!
falei que o entendia mas vai tomar no cu, escroto do crl
Eu te amo, Keykey 😭💜😌
Eu amo que a Keykey é toda girlpower!
E assim, foi tarde, Mathias. Que se foda junto com o outro lá.
Confesso que fico levemente preocupada quando a Tricia aparece kkkkkkkkkk mas espero que não seja nada demais
FINALMENTE
ai, adoro gelatinaaaa
keykey socorro JDHJSJFSJHDVSH a casa caiu pra vc, lian