1. One Time
Stratford / Canadá – ano de 2004
Eu havia acabado de completar 10 anos e tinha mudado de cidade, não seria fácil me adaptar à nova realidade, mas não poderia fazer nada, afinal, o divórcio dos meus pais não estava em minhas mãos. Muita novidade para a cabeça de uma criança, mas, segundo minha mãe, uma psicóloga maravilhosa, eu teria muito apoio e conseguiria superar aquilo, mas no fundo eu sabia que ela era a pessoa que estava sofrendo mais com toda aquela mudança.
O lado negativo de mudar era a escola, não teria amigos e estávamos na metade do ano escolar; eu tentei não demonstrar tanto minha frustração para minha mãe e, respirando fundo, fui encarar meu primeiro dia de aula na
Downey Public School. Segundo minha mãe, era a melhor de Stratford e, querendo ou não, eu teria que me acostumar, pois não tinha mais volta e não atravessaríamos o país novamente só para retornar para Vancouver.
Assim que cheguei em frente à escola, peguei minha mochila e saí do carro da minha mãe, ela não estava animada, mas forçava um sorriso no rosto, para ela, poderia ser um incentivo para mim.
— Quer que eu te busque na volta?! — gritou ela.
— Não. — Olhei para trás por um momento. — Eu consigo achar o caminho de volta.
Ela assentiu e deu a partida, seguindo com o carro. Me voltei para a fachada da escola e fiquei alguns minutos parada, olhando, os alunos já estavam espalhados pela grama, alguns sentados na grama conversando, outros, correndo. Os grupos eram fáceis de se identificar, principalmente os jogadores do time da escola e as líderes de torcida. Ajeitei a mochila nas costas e tentei caminhar da forma mais rápida e menos chamativa.
Assim que entrei no prédio fui diretamente para a secretaria, mas me perdi no caminho descendo as escadas erradas, até que parei em um corredor aparentemente vazio. Comecei a escutar um barulho ao longe que foi se transformando em melodia de música a cada passo que eu dava mais perto. Quando parei na frente da sala, a porta estava aberta e tinha um garoto tocando o piano que tinha no lugar, estava de costas para a porta. As notas estavam saindo de forma suave e ele parecia tocar com tanta precisão que eu poderia até dizer que fazia há muito tempo. Eu dei alguns passos para dentro da sala, estava curiosa para ver seu rosto, mas no caminho tinha uma lixeira que me fez tropeçar.
— Ai — disse colocando a mão na boca.
— Hum?! — O garoto parou de tocar e olhou para trás, estava mais confuso do que eu. — Está tudo bem?
— Sim. Não. Talvez. — Eu abaixei e olhei se estava tudo bem com minha perna.
— Tem certeza? — O garoto se levantou e deu alguns passos até mim. — Se quiser posso te levar até a enfermaria.
— Não — disse olhando para ele, dando um sorriso disfarçado. — Eu estou bem, não é a primeira vez que tropeço em algo.
— Você está perdida? — perguntou ele desviando seu olhar para minha lista de horários que estava na minha mão.
— É tão óbvio assim?
— Bem, a menos que seja do time da escola ou líder de torcida. — Ele riu. — Geralmente esta parte fica vazia antes das aulas, aqui no subsolo só tem salas especiais para os clubes da escola.
— E esse é o clube de música? — perguntei.
— Sim, mas as reuniões são quarta e sexta — respondeu ele.
— E o que você está fazendo aqui? É segunda.
— Estava praticando, um piano é muito caro para se ter em casa — explicou ele.
— Bem, você sabe onde é a diretoria? — perguntei.
— Claro, fica perto da biblioteca. — Ele se virou e pegou alguns papeis que estavam em cima do piano e se voltou para mim. — Se quiser, posso te levar lá.
— Agradeço, estou com medo de me perder novamente e acabar encontrando alguma sala de tortura — disse brincando, ele riu um pouco.
— Hum, à propósito, meu nome é Justin Bieber, mas pode me chamar só de Justin.
— Ok, o meu é Moree, mas pode me chamar de .
Como prometido, ele me levou até a diretoria, eu entreguei os documentos que faltavam e finalmente minha transferência estava completa. Quando saí da diretoria, Justin ainda estava do lado de fora, foi muito legal da parte dele me esperar e, sem que eu precisasse pedir, ele me levou a todos os lugares da escola. Não foi difícil perceber que ele também não tinha muitos amigos, acho que tudo se devia ao fato de estar sempre na sala de músicas praticando, ele tinha um talento incomum. Checamos nossos horários de aula e descobrimos que em cinco matérias estávamos na mesma sala, seria divertido ter alguém conhecido em uma mesma sala que eu.
Ao longo dos meses nossa amizade foi se construindo de uma forma sólida e se estendendo, tanto que até nossas mães se conheceram e se tornaram mais próximas; a proximidade foi tanta que fomos convidadas para passar o dia de Ação de Graças com eles. Para minha surpresa ele tinha um padrasto chamado Bruce, Justin nunca tinha falado sobre isso comigo, acho que eu nunca tinha perguntado também.
— Toc, toc… — disse batendo na porta do seu quarto.
— Chegaram — disse ele vindo me abraçar. — Pensei que demoraria mais.
— Você sabe como minha mãe é pontual. — Eu ri retribuindo o abraço. — O que estava fazendo?
— Compondo — respondeu ele com naturalidade se sentando na cama novamente.
— Nossa, diz assim como se fosse algo normal. — Eu me sentei ao seu lado. — Tipo, nossa, hoje vou acordar e compor quatro músicas e cinco melodias.
— Isso é um desafio? — Ele riu.
— Seu bobo. — Bati de leve no seu ombro. — O que está compondo?
— Nada muito completo ainda — respondeu ele. — Não consigo fazer muita coisa além de algumas frases ou estrofes soltas.
— Deixe-me ver. — Peguei um papel cheio de linhas, que ele insistia em me dizer que era partitura e comecei a ler. —
Se eu acredito no amor e você acredita no amor, então podemos estar apaixonados, de alguma forma. — Eu o olhei. — O que você quer dizer com isso?
— Ainda não sei, escrevi pensando em você. — Ele sorriu de forma tímida e desviou seu olhar para o violão.
— Hum. — Eu desviei meu olhar para a janela, meio com vergonha. — Quem sabe um dia você descobre.
— Bem, eu não estou conseguindo encaixar todas essas frases que escrevo, é como se cada uma pertencesse a uma melodia diferente.
— Hum, então apenas trabalhe nelas de forma separada — dei uma sugestão sem saber se conseguiria ajudar, não sabia nada de música. — Já que elas não se encaixam, talvez cada uma seja a parte de uma própria história.
— Até que não é uma má ideia. — Ele pegou seu violão e começou a dedilhar. — É assim que você faz quando está no laboratório de ciências?
— Acredite ou não, é muito mais complicado dissecar um sapo, montar e desmontar ele, do que compor música — brinquei.
— Cada um com sua dificuldade. — Ele riu. — Mas estou feliz que tenho uma amiga que me ajude em biologia.
— Sim, biologia, química, física. — Eu ri junto.
— Mas eu te ajudo em literatura — retrucou ele.
— Não se pode ser perfeito em tudo — concordei. — Hum, quando vai compor uma música para sua amiga?
— Quando minha amiga vai se tornar minha namorada? — Ele foi direto com um sorriso fofo, uma pergunta que eu queria levar como uma brincadeira.
— Quem sabe um dia. — Eu sorri de leve para ele.
“Seu mundo é meu mundo,
E minha luta é sua luta,
Minha respiração é sua respiração,
E seu coração,
(Agora eu tenho pra mim).”
– One Time / Justin Bieber
Não sei como começou, desde quando ele começou a me ver mais do que como amiga. Já tinha mais de seis meses que eu o conhecia; além das aulas juntos, eu sempre ficava na sala de música o acompanhando, ele tocando e eu lendo meus livros sobre medicina moderna; acho que éramos o quase casal mais esquisito da escola, porém nossa amizade era forte e ao mesmo tempo divertida.
Justin fixou seu olhar em mim e começou a dedilhar seu violão formando uma melodia, no início eu não estava reconhecendo, mas era mais uma música de um dos seus artistas preferido.
Like I Love You do
Justin Timberlake, ele sempre cantava música assim como uma indireta para mim, e eu sempre fingia que não entendia nada. Quando ele terminou, seu olhar, que estava fixo em mim, foi direto para a porta. Era sua mãe nos chamando para comer, ele não queria, mas como sempre eu retirei o violão do seu colo e coloquei ao lado da cama; aquela era uma característica de Justin: quando começava a tocar não queria parar mais.
Dois anos se passaram, e mesmo tendo algumas mudanças no nosso currículo acadêmico, mudando de escola, eu e Justin estávamos mais próximos ainda, curiosamente já tínhamos decidido nosso futuro, eu iria cursar medicina e ele queria ser um cantor, mas ainda não tinha contado para sua mãe. Essa sua decisão me fez lembrar de um anúncio que tinha visto no mural da escola: um concurso de música que rolaria na cidade. Seria o início para ele talvez.
Por mais que Justin não fosse acostumado a cantar em público e não tivesse participado de nenhum festival da escola ainda, eu consegui convencer ele a participar do
Stratford Idol, assim ele poderia ter a experiência de cantar para um grande público e saber se realmente era isso que ele queria para sua vida. Acho que apoiar ele nesse concurso foi uma forma de agradecer a ele por ter me ajudado a entender que eu realmente queria ser médica quando crescesse, mesmo que talvez passasse mais de dez anos estudando para isso.
— Jin, eu ainda acho que você deveria contar para sua mãe — disse o chamando pelo apelido que tinha criado para ele —, assim ela estaria mais preparada — continuei, encostando na janela do seu quarto, olhando para a rua.
— Se eu contar agora, talvez ela fique com medo e não me deixe ir, melhor falar no dia, assim não teria chance de não acontecer.
— Sua mãe não gosta mesmo de você cantando por aí? — perguntei.
— Não sei, ela até concordou que eu tocasse na igreja, mas ela acha que cantar vai me expor muito.
— Se é isso que você quer fazer, talvez possa conversar com ela sobre. — Eu desviei meu olhar da rua para ele. — Conselho de uma filha de psicóloga.
— Eu vou, depois do concurso. — Assentiu ele, tinha uma certa segurança no olhar.
— Sabe que sempre vai ter meu apoio — confirmei, sorrindo para ela.
— Obrigado, você é a melhor amiga do mundo.
Eu tentava ser a melhor amiga do mundo, só queria que ele conseguisse seguir seu sonho assim como eu estava tentando seguir o meu.
Como presumiu, a senhora Pattie não tinha ficado muito confortável com a participação dele no concurso, mas consentiu, já que faltava um dia para acontecer. E foi neste concurso que ela conseguiu de fato ver que aquele era realmente o talento de Justin e que ele tinha nascido para ser cantor. Depois disso não foi difícil convencer ela a me ajudar a divulga-lo, inicialmente eu disse que colocar os vídeos dele no youtube seria uma forma de seus familiares verem como ele tinha talento para música, mas meu plano original era compartilhar os vídeos o máximo que eu pudesse para que ele fosse visto por algum produtor ou algum cantor norte-americano.
Felizmente meu plano havia dado certo e, de alguma forma, um dos vídeos de Justin tinha chegado até
Scooter Braun, um executivo do ramo musical que vasculhou a internet até encontrar a senhora Pattie e Justin. Mas a parte chata de tudo isso é que Jin teria que se mudar para dar início à sua carreira musical, uma notícia que havia me tirado o sono e trazido vários pensamentos impróprios.
— Nossa, Jin, como você é bagunceiro — brinquei ao aparecer na porta do seu quarto, olhando as roupas espalhadas pelos cantos e na cama.
— O que você veio fazer aqui, !? — perguntou ele ao olhar para mim.
— Eu vim te ajudar a fazer as malas — respondi, entrando e indo até ele. — Que bom que cheguei a tempo porque parece que você não leva jeito para isso.
— Boa amiga você. — Ele riu, brincando. — Veio me ajudar com as malas pra eu ir embora mais rápido?!
— Acredite, sentirei sua falta também. — Sorri de leve, pegando uma blusa de moletom dele, começando a dobrar. — Você é a única pessoa que passa quatro horas na biblioteca comigo e, além do mais, é meu único amigo.
— Tenho que concordar, você também é minha única amiga. — Ele me olhou. — Pensando bem, acho que nossa amizade é cheia de troca de favores.
— Verdade — concordei rindo junto com ele, coloquei a blusa dobrada em sua mala. — Mas você já sabe que escola vai estudar em Atlanta?
— Ainda não e não estou muito preocupado com isso. — Ele se sentou na cama, olhando para a mala. — Para ser sincero, estou ansioso com tudo que está acontecendo.
— De qualquer forma, não tem como voltar atrás, vocês já assinaram um contrato com o senhor Braun.
— Sim, mas eu não quero mesmo voltar atrás. — Ele se levantou da cama e me abraçou de surpresa. — Eu só queria poder te levar junto.
— Bem — eu fiquei um pouco estática, mas retribuí o abraço —, eu também queria ir, mas eu só iria atrapalhar.
— Eu não acho, você é minha inspiração — brincou ele, se afastando de mim.
— Hum. — Eu sorri de leve. — Quero que você me escreva contando sobre tudo.
— Por quê?
— Porque quando você tiver muitas fãs eu vou contar pra elas muitas coisas sobre você — expliquei, rindo. — E serei conhecida como a amiga médica do Justin Bieber.
— Ah, quer ficar famosa às minhas custas? — Ele se fez de ofendido.
— Não — neguei, balançando a cabeça. — Mas se eu ficar conhecida, prometo não cobrar consultas de você.
— Mercenária — brincou ele.
— Não sou. — Eu ri, pegando uma calça e jogando nele.
Nós mais brincamos do que realmente arrumamos as malas dele, eu só tinha um dia para me despedir dele e o ver partir para longe. Eu não sabia o que seria de nossas vidas depois do sucesso dele nem que ele realmente se lembraria de mim, afinal, nossa amizade só tinha quatro anos de existência e uma longa distância para enfrentar. Justin teve uma inusitada ideia de me levar até a sala de música da escola, ele já tinha combinado de encontrar a sua mãe em frente à igreja. Quando chegamos na sala, tinha uma caixa em cima do piano, caminhei até lá e peguei a caixa, abrindo: eram algumas de suas partituras com as estrofes que ele compunha.
— Por que está me dando isso? — Eu me virei e o olhei. — É você que está indo embora, eu que deveria te dar algum presente.
— Quero que fique pra que nunca se esqueça de mim caso eu não consiga ser famoso — explicou ele.
— É mais fácil você se esquecer de mim quando ficar famoso — retruquei, fechando a caixa. — Mas vou guardar com muito carinho, quem sabe no futuro eu venda para algum colecionador fã seu.
— Depois não quer que eu te chame de mercenária — disse ele, demonstrando um pouco de frustração. — É meu coração que está nessa caixa.
— E você acha mesmo que eu venderia seu coração? — O olhei de forma séria. — Hum, eu não trouxe nada para te dar.
— Só tem uma coisa que eu quero.
— O quê? — perguntei.
— Isso. — Justin se aproximou de mim, e, sem que eu pudesse reagir, me beijou.
Eu não sabia muito bem o que fazer, já que era nosso primeiro beijo, mas me lembrava daqueles movimentos dele de algum filme que vimos. Senti meu coração acelerar tanto quanto o dele, seus braços em volta da minha cintura, posicionados de uma forma estranha, acho que ele estava com medo de tocar em outro lugar que não fosse minhas costas. Contudo, tirando toda a nossa inexperiência, aquele beijo tinha um gosto doce e amargo ao mesmo tempo, era o primeiro e poderia representar o último.
Mas, no fundo, nos fazia ter esperança para um futuro reencontro.
“E eu serei seu único garoto,
Você será minha garota número um,
Sempre arrumarei tempo para você.”
– One Time / Justin Bieber
2. One Less Lonely Girl
Dez anos depois – Atualmente
A vida de uma universitária não era fácil e o terror dobrava quando se cursava medicina, era um milagre estar no terceiro ano do curso de medicina da instituição mais conceituada do Canadá, a
McGill University Faculty of Medicine, com alguns tropeços pelo caminho e muitas lágrimas na minha graduação de três anos em ciências biológicas na Toronto University, para finalmente chegar ao curso que eu amava e odiava ao mesmo tempo.
Ser a melhor da turma não era uma obrigação, mas, para mim e meu futuro profissional, meu currículo acadêmico teria que ser impecável, o que me custava muito social e mentalmente. Eu não tinha amigos, uma não novidade, e a única pessoa que eu conversava às vezes era minha colega de quarto coreana; meu tempo livre era para estudar e me dedicar a trabalhos extracurriculares que prestava para os professores mais influentes da universidade. Me afundava em leituras, relatórios, pesquisas e horas no laboratório, isso quando não estava na enfermaria sendo repreendida por não cuidar da minha própria saúde e deixar de comer regularmente. Acho que foi por isso que comecei a ser proibida de tomar café, o que foi um martírio para mim e minhas noites em claro de estudos, mas ninguém disse que seria fácil e que a universidade que eu escolhi não era exigente.
— !? — disse Yoona ao entrar no quarto. — Ainda acordada?
— Sim — respondi bocejando. — Eu tenho prova sobre medula óssea e sua composição amanhã cedo.
— Ou seja, hoje. — Ela abriu o armário retirando seu pijama. — Você não deveria estar dormindo? Assim acordaria mais relaxada para prova.
— Acredite, já tentei dormir e não consegui; na minha cabeça só consigo pensar em como a vitamina D reage no corpo quando entra em contato com as células que são responsáveis por formar os ossos e como isso tem relação com o banho de sol de uma criança.
— O quê? — Ela me olhou confusa. — Às vezes não consigo entender as coisas que você fala.
— Às vezes nem eu, mas o que importa é eu conseguir fazer a prova com perfeição. — Fechei meu livro de oncologia molecular que tinha ganhado de presente do reitor por ter ganhado um concurso de medicina básica contra outra universidade. — Mas acho que vou dormir mesmo, minhas vistas estão embaçando.
— É o melhor que você faz. — Ela saiu do quarto com suas roupas na mão.
Eu guardei todos os livros que estavam espalhados em minha cama, joguei meu bloco de anotações dentro da bolsa e me espreguicei um pouco. Foi quando o celular começou a tocar uma música um pouco conhecida, olhei para o meu que estava em cima da escrivaninha, mas não era, então direcionei minha atenção para o celular de Yoona, que estava tocando
Bang Bang Bang do Big Bang.
Aquela simples música me fez ter o pensamento mais surpreendente do dia, me fez lembrar de uma pessoa do meu passado. Eu achava uma coincidência do destino que Yoona fosse coreana e minha colega de quarto, mas a maior das ironias é que ela era fã de um grupo de k-pop chamado
Big Bang, até neste estágio estava tudo tranquilo, era um grupo coreano normal, porém, quando ela me mostrou uma foto do líder desse grupo, chamado
G-Dragon, com Justin Bieber no Instagram, primeiro eu fiquei paralisada e depois comecei a tossir. Se era mesmo o destino não me deixando esquecer o Jin eu não sabia, mas depois daquele dia sempre que eu ouvia a música desse grupo, eu sempre me lembrava dele.
— Ok, Big Bang, tinha mesmo que tocar agora? — reclamei, pegando o celular dela e desligando. — Não poderia deixar para depois da prova?
Sim, Justin era a única coisa neste mundo que me tirava a concentração e eu lutava muito para não pensar nele ou me lembrar dele em dias de prova na universidade. Tenho que admitir que fiquei meses sem ouvir música quando ele estava namorando uma cantora famosa que me recuso a dizer o nome. Como eu imaginava, sempre foi provável que ele me esqueceria primeiro e eu não, mas seguia minha vida; assim como Jin tinha realizado seu sonho, eu também estava no caminho de realizar o meu e ser a melhor médica do Canadá.
Troquei de roupa no quarto mesmo e me deitei um pouco, mesmo com minha mente fervendo de informações e meus pensamentos insistindo em manter Justin em foco, eu precisava dormir.
Fechei os olhos, respirei fundo e me concentrei o máximo que pude para deixar meu corpo relaxado, tinha aprendido uma técnica infalível com Yoona para limpar a mente de informações desnecessárias na hora de dormir e conseguir me concentrar no sono.
As horas se passaram e às seis em ponto eu já estava acordando, acho que tinha dormido apenas quatro horas de sono. Peguei minha toalha e a roupas confortáveis para vestir, fui até o banheiro da república, tomei meu banho quente e relaxante, vesti minhas roupas e desci para o café da manhã. Sobre minha prescrição médica de não deixar de me alimentar bem, demorei um pouco saboreando algumas frutas da estação que estavam disponíveis na mesa.
Assim que cheguei na sala que seria aplicada a prova, estranhei ter sido a primeira, minutos depois que me sentei no canto direito da sala, os outros alunos foram chegando e se acomodando. A prova foi aplicada pontualmente às sete da manhã com quarenta minutos de duração, o que eu achei um absurdo, pois tive que marcar minhas folhas de respostas nos dois minutos finais. Não estava muito difícil, mas as questões abertas exigiam respostas mais que complexas e completas, o que nos fazia demorar muito escrevendo. Entretanto, eu estava confiante que minha nota seria a maior novamente, afinal, ninguém estudava tanto quanto eu naquele curso e não era motivo para me orgulhar se esse era meu objetivo e sonho de infância. Segundo minha mãe, eu só estava fazendo minha obrigação para comigo mesma.
— Uah, você chegou — disse Yoona assim que entrei no quarto.
— O que foi? Novidade sobre sua pesquisa de intercâmbio?
— Não, a novidade é pra sua vida. — Ela riu um pouco. — JB está vindo fazer um show na cidade.
— JB? — perguntei não entendendo a princípio, mas depois de passar alguns segundo olhando para a cara dela, minha ficha tinha caído. — O que? Sério?
— Sim. — Ela esticou seu celular para que eu visse a publicação na página de eventos da universidade.
— Não acredito — sussurrei um pouco alto.
— Pois acredite.
“Quantas promessas?
Seja honesta, garota
Quantas lágrimas você deixou cair no chão?”
– One Less Lonely Girl / Justin Bieber
Eu não conseguia acreditar, mas ao mesmo tempo acreditava e me sentia ansiosa por aquilo, era a primeira vez que eu teria a oportunidade de ver Jin novamente. Em dez anos eu o veria novamente, mas corria o risco de ele não me ver, o que seria triste para nós dois. A notícia do show do Jin estava me tirando ainda mais o sono, minha sorte era que a semana de provas tinha passado e eu estava um pouco mais tranquila sem muitas coisas para estudar. Acho que não conseguiria me concentrar enquanto esse show não passasse, o pior era ter que esperar até o dia e estava ficando ansiosa demais por isso, tinha que controlar minhas emoções.
No dia seguinte liguei para minha mãe, queria saber se ela tinha algo para dizer sobre a novidade do show, a segunda surpresa da semana foi que a mãe de Justin, senhora Pattie, estava na cidade de Stratford visitando os velhos amigos. Acho que era também uma oportunidade por causa do show que estava movimentando ainda mais a rotina de todos, não só em Montreal, como também em todo o distrito de Stratford. Esse era o assunto principal em todas as lojas, ruas e redes sociais. O astro do pop, JB, voltando às raízes no Canadá em um show único na cidade de Montreal. Por mais que quisesse, minha mãe não deixaria seus pacientes para ver o show. Porém, ela estava satisfeita e contente com a visita da senhora Pattie, algo que rendeu muitas conversas sobre o passado e fofocas relacionadas a vida amorosa de Justin.
Inicialmente, não estava interessada em saber que Jin tinha namorada ou algo do tipo, e por mais que não tivesse esquecido meu melhor amigo, era complicado não admitir que tinha ciúmes dele. Segundo as palavras da senhora Pattie para minha mãe, ele estava solteiro e não queria entrar em nenhum relacionamento tão cedo, acho que ele estava tentando achar um equilíbrio para sua vida sentimental, já que não tinha dado certo com a cantora; eu concordava com a decisão dele, melhor sozinho do que sofrendo. Mas tinha algo que me deixou estática, foi quando minha mãe me disse que ele ainda se lembrava da sua amiga de infância, e que ele tinha uma foto minha guardada na carteira.
Eu não sabia se acreditava, se surtava ou se tentava agir naturalmente, tinham acontecido tantas coisas nas nossas vidas em dez anos que comecei a pensar quando foi que perdemos contato. Acho que foi após ele lançar
One Less Lonely Girl, ele me dizia que aquela música era para mim, no início de 2010, foi nessa mesma época que eu estava começando a me preparar para entrar na Universidade de Toronto. Mesmo com dezesseis anos, eu tinha que me focar nos estudos, assim como ele estava no início da sua carreira e tinha que se manter focado em seu sonho. Aos poucos fomos nos afastando ainda mais, até que a única coisa que tinha restado eram apenas lembrança, mas agora, sabendo que ele nunca tinha me esquecido, eu estava ainda mais confusa e ansiosa.
— Então, como eu estou? — perguntei para Yoona me olhando no espelho.
— Básico para um show — respondeu ela, tranquilamente. — Você está você.
— Ajudou muito, vou ver meu melhor amigo após dez anos e não sei o que vestir.
— Você nem sabe se vai conseguir entrar no camarim — disse ela num tom desanimador.
— É claro que vou. — Retirei o cartão do bolso. — Tenho passe livre, presente da mãe dele.
— Como conseguiu isso?
— A senhora Pattie deixou com a minha mãe antes de ir para Vancouver visitar alguns parentes.
— Com direito a acompanhante? — perguntou ela com um sorriso malicioso.
— O que você está planejando?
— Não se preocupe, meu alvo não é o JB, eu quero que ele me passe o número do G-Dragon. — Ela sorriu com malícia. — Tenho que me aproveitar da situação, você é minha amiga, vocês dois são amigos e ele é amigo do GD.
— Sua mercenária. — A olhei boquiaberta.
— Não fale assim de mim. — Ela fez uma careta. — Assim como você gosta do JB, eu gosto do GD.
— Acontece que no meu caso eu o conhecia muito antes da fama, o Jin sabe quem eu sou. — Eu ri. — Já no seu…
— Mesmo assim, não custa nada você me ajudar, estou farta do meu oppa sofrer por garotas que não merecem ele.
— Ok, eu te ajudo. — Eu ri de leve, pegando minha bolsa. — Vamos antes que nos atrasemos.
Yoona assentiu, rindo com um sorriso largo, pegando sua bolsa, me seguiu. Quando chegamos no estádio da cidade, o lugar já estava tomado de pessoas. Estava difícil até mesmo para andar, minha sorte é que os ingressos que tinha ganhado da mãe de Justin eram para a área vip. Por um momento eu me senti uma intrusa naquele setor que tinha muitas fãs dedicadas, Yoona acabou reconhecendo uma garota que também era fã do Big Bang e se afastou um pouco de mim.
O show, como sempre, foi maravilhoso, não estava surpresa com toda a desenvoltura que Justin tinha no palco, eu já tinha presenciado seu talento bem de perto várias vezes. Meus olhos estavam, sim, brilhando ao olhar para ele, cada parte do show era como se fosse direcionado somente para mim.
Mesmo eu pedindo, será que sua mãe tinha contado que eu estaria no show?Eu estava conseguindo aguentar, mas quando ele começou a cantar
One Less Lonely Girl, não aguentei segurar minhas emoções, ele já tinha cantado essa música para outra garota, e eu sempre achei que fosse para mim. Desta vez ele não tinha chamado ninguém no palco, segundo ele todas as fãs seriam sua garota naquela noite.
Assim que ele começou a cantar, senti as lágrimas se formarem no canto dos meus olhos, eu não aguentaria ficar ali até o final, pensei em chamar Yoona para ir embora comigo, mas não tinha o direito de atrapalhar sua noite. Me virei e saí correndo da área vip, foi mais uma luta para sair do estádio, todas aquelas pessoas se espremendo para chegar mais perto, e eu lutando para me afastar. Quando finalmente cheguei na rua, respirei fundo, parte de mim queria voltar e a outra parte queria apagar o que tinha acontecido. Comecei a caminhar pela rua sem destino algum, não sabia que direção ir, só queria estar o mais longe possível daquele estádio, e foi exatamente o que fiz. Andei, andei e andei um pouco mais, já não tinha nem mesmo a noção de tempo e espaço, só conseguia pensar na face dele naquele palco.
Desde a última vez que estivemos juntos na sala de música, Jin tinha mudado muito, não só fisicamente como também nas suas atitudes, fiquei me perguntando se se afastar de mim era uma das causas. Acho que tinha se passado mais de duas horas comigo andando pelas ruas desertas, afinal, toda a cidade estava no estádio. Foi quando ouvi ao longe um barulho de moto, estranhei um pouco, mas o barulho foi aumentando e aumentando, quando me dei conta a moto estava vindo em minha direção. A inteligente, vulgo eu, sem perceber, estava no meio da rua e o homem da moto estava em alta velocidade. Eu fiquei paralisada com a situação e em um curto espaço de tempo, ou piscar de olhos, o homem da moto desviou de mim e perdeu o controle, batendo em um carro que estava estacionado.
Eu fiquei estática por instantes, até que voltei à realidade e corri até a pessoa, ele estava deitado no chão com o capacete, seu corpo tremia um pouco e parecia sentir dor. Eu respirei fundo e retirei o capacete dele com cuidado, me veio a segunda paralisação: era ele. Meu coração acelerou e quase parou assim que meus olhos encontraram os de Justin.
— Jin? — sussurrei. — O que está fazendo aqui?
— … — sussurrou ele. — Te encontrei.
— Ok, primeiro, não se mexe, não sabemos se você fraturou algum osso, eu vou ligar para a emergência.
— Não, já me envolvi em muitos problemas — disse ele. — Eu estava em alta velocidade, se souberem novamente que eu me envolvi em algum acidente não será bom, por favor, não ligue.
— Eu não posso te deixar aqui caído no chão — retruquei procurando meu celular na bolsa.
— , por favor. — Com dificuldade ele estendeu sua mão tocando na minha. — Não ligue, me ajude, mas não assim.
— Tudo bem, mas de qualquer forma, preciso te tirar daqui.
Peguei meu celular e liguei para o irmão de Yoona, ele era um paramédico do
Hospital Geral Stratford, se tinha uma pessoa que poderia me ajudar e guardar segredo era realmente ele.
Liguei e tentei explicar a urgência do meu pedido e o quão sigiloso era, em menos de cinco minutos ele já estava apontando na esquina com o carro dos paramédicos. Para minha sorte, Suho estava de plantão e parado em uma lanchonete bem próximo a onde estávamos, ele me ajudou a fazer os primeiros socorros e colocar Justin devidamente posicionado na maca dentro da van. Mais uma vez fiz Suho jurar que não falaria nada para ninguém e seguimos para a universidade, era o único lugar onde teria aparelhos que eu pudesse fazer os exames sem chamar muita atenção.
Mas é claro que eu envolveria mais uma pessoa naquela missão maluca, meu professor especialista em ortopedia, o senhor Steve, que estava trabalhando no laboratório de química naquela noite; ele estava concentrado em sua segunda tese do segundo doutorado. Ele era um especialista em sistema ósseo e sua estrutura rígida, ou seja, a melhor pessoa para me ajudar naquele momento.
— Entre mortos e feridos, se salvaram todos — brinquei, entrando no escritório do meu professor onde tínhamos deixado Justin.
— Obrigado — disse ele com um sorriso fraco.
— Você vai ficar bem, aparentemente só fraturou duas costelas e torceu o tornozelo, acho que vai se recuperar rápido, poderia ter sido pior — disse a ele, me aproximando.
— Existe alguma palavra mais profunda para agradecer além de obrigado? — Ele me olhou com suavidade.
— Não, mas obrigado já está bom. — Eu sorri de volta.
— Que sorte eu tenho pela minha melhor amiga ser médica — brincou ele.
— Eu ainda não sou médica. — Cruzei os braços, tentando ficar séria. — Mas o que você estava fazendo em cima de uma moto em alta velocidade? Participando de um racha?
— Desta vez não, foi por uma causa nobre.
— Por qual motivo então?
— Você — disse ele olhando fixamente em meus olhos. — Eu estava te procurando.
“Oh, não preciso daqueles outros rostos bonitos
Eu preciso de você
E quando você for minha
No mundo
Vai haver uma garota solitária a menos.”
– One Less Lonely Girl / Justin Bieber
3. Never Say Never
Justin tinha me contado que do palco ele conseguiu me ver na área vip, o que tinha me deixado chocada e surpresa, ele confessou que queria ter feito isso há muito tempo, vir atrás de mim no Canadá, mas que sempre achou que eu tinha esquecido ele. Jin também confirmou a história da minha foto na sua carteira, ele me mostrou, era uma foto que tínhamos tirado juntos no primeiro dia de Ação de Graças que tivemos.
Fora da fama ele era o mesmo Justin que eu tinha me despedido há dez anos, era como se nada tivesse mudado entre nós, era como se aquela essência dele ainda estivesse lá, dentro daquele homem que ele havia se tornado.
Nós ficamos alguns minutos conversando ainda, esperando seus seguranças buscarem ele. Ele me contou algumas coisas de sua vida, eu contei algumas sobre a minha. Falei sobre a universidade e o curso de medicina, não perdi a chance de falar sobre a Yoona e perguntar sobre sua amizade com o tal cantor coreano G-Dragon, ele foi respondendo sobre esses assuntos com tranquilidade sempre brincando um pouco com minha cara. Acho que eu estava sentindo falta de nossas conversas.
— Enfim, diga a sua amiga que se ela quiser o número dele, eu acho que posso passar.
— Uah, muito gentil da sua parte! — Eu sorri de leve.
— O que eu não faço para a minha melhor amiga.
— Eu ainda sou sua melhor amiga? — perguntei um pouco séria e meio confusa.
— Claro que é, a menos que você finalmente se renda e se torne minha namorada — brincou ele.
— Pelo que eu andei sabendo, você queria um tempo de relacionamentos para buscar seu equilíbrio.
— E o que você acha que estou fazendo aqui? — Ele me olhou de forma séria. — Estou olhando para o meu equilíbrio.
— Pare com essas brincadeiras. — Eu bati de leve no meu ombro. — Era engraçado quando mais novos, mas agora somos adultos.
— Tenho cara de quem está brincando? — Seu olhar estava ainda mais sério e fixo em mim.
— Assim está me deixando sem graça. — Desviei meu olhar para a janela. — Bem, acho que seus seguranças chegaram.
— Posso te fazer uma pergunta?
— O quê? — Eu o olhei. — Que pergunta?
— Você gosta de mais alguém além de mim?
— Jin, que tipo de pergunta é essa? — Eu descruzei os braços, me afastando um pouco. — Por acaso quer saber se tenho namorado?
— Não, do mundo onde eu faço parte ficamos com pessoas mesmo não sentindo nada por elas — disse ele. — Por isso quero saber se gosta de outra pessoa.
— Posso ficar em silêncio? — perguntei fugindo da resposta.
— Claro que pode. — Ele sorriu de canto. — Quem cala consente. — Eu disfarcei um riso, mesmo gostando dele, ou mesmo sentindo ciúmes dele, era complicado para mim ver meu melhor amigo com outro sentimento além da amizade.
Os seguranças estavam acompanhados pelo senhor Braun, Justin foi na cadeira de rodas até o carro, antes de partir ele disse que queria me ver novamente. Minha agenda até que estava um pouco vazia após a provas e talvez eu pudesse ver ele antes de voltar para os Estados Unidos. Achei um pouco estranho quando se passaram três dias e ele não tinha voltado para os Estados Unidos e nem tinha me ligado, foi quando sua mãe apareceu pessoalmente no meio do corredor do segundo andar do prédio de cardiologia. Ela parecia um pouco aflita e queria muito falar comigo. Fomos até uma cafeteria que tinha perto, assim poderíamos conversar à vontade.
— Eu estou surpresa com a visita da senhora, minha mãe me disse que estava em Vancouver.
— Sim, eu estava, mas tive que voltar correndo — explicou ela.
— O que aconteceu? Como está o Jin?
— Nós pensamos que estava tudo bem, mas há dois dias ele vem sentindo dores fortes na perna direita, foi então que ele me contou sobre o acidente que teve com você — iniciou ela.
— Bem, ele estava de moto em alta velocidade e desviou de mim, mas bateu em um carro, mas aparentemente ele estava bem, só fraturou duas costelas do lado esquerdo e torceu o tornozelo direito, no raio x não deu mais nada.
— Naquela hora não, mas ele fez outros exames, ele já tinha tido um acidente antes num racha que tinha participado, eu não sei o quanto prejudicou, mas segundo o médico houve um rompimento no ligamento cruzado.
— Oh, meu Deus. — Eu respirei fundo pensando no que poderia ter sido de fato seu caso. — Provavelmente eles farão uma cirurgia e ele terá que colocar pinos para reconstruir o ligamento.
— Sim. — Ela segurou as lágrimas. — Foram tantas coisas que aconteceram com ele em um curto espaço de tempo que seu joelho foi se sobrecarregando e sendo fraturado com acidentes.
— Calma, mesmo com os pinos, se ele seguir direito a reabilitação, vai ficar tudo bem.
— E por isso que estou aqui, eu conheço meu filho e sei que ele não vai se cuidar direito, você é uma das poucas pessoas que tem a minha confiança, de quem eu sei que posso contar.
— Quando ele vai fazer essa cirurgia? — perguntei tentando não imaginar o pedido dela.
— Daqui alguns dias, ele precisa começar a se preparar agora, , se não fosse muito importante para mim e para ele, não te pediria isso.
— Ele vai fazer essa cirurgia aqui no Canadá? — perguntei.
— Sim, o médico particular dele está vindo para acompanhar, mas queria que você estivesse perto.
— Mas senhora Pattie, eu não sou médica ainda, estou no meio do meu curso. — Eu a olhei. — Para dizer a verdade, estou no meio de um semestre letivo, eu teria que tentar conciliar meus estudos com isso, ou melhor, teria que abrir mão desse semestre para ficar inteiramente à disposição dele.
— Eu entendo que você- Me desculpe, eu não posso te pedir para parar sua vida. — Ela se levantou e saiu sem dizer mais nada.
Eu não sabia o que fazer, não conseguiria continuar meu semestre do curso tendo um compromisso de estar sempre com Justin e não sei se conseguiria negar ajuda a ele, mesmo que a causa fosse o meu sonho. Eu tirei aquela noite para pensar no que faria e qual decisão tomar. Na manhã seguinte eu fui até o reitor da universidade, fiz um breve pedido para ele e meu professor Steve, eu não queria perder aquele semestre de curso e eles não queriam perder uma aluna como eu. Nesse dia eu percebi que meus esforços valeram a pena, eles concordaram que eu estudaria em casa o restante do semestre e faria alguns relatórios para manter minhas notas ativas no sistema.
Quanto a minha carga curricular de presença, seria convertida nas horas que eu passaria com Justin, no final, a ajuda que eu daria na recuperação dele serviria como um trabalho extracurricular acadêmico e me renderia pontos para o próximo semestre letivo. Assim, após assinarmos aquele acordo e um termo de comprometimento meu, eu fui para o hotel onde Justin estava hospedado, tinha que dar a notícia.
“Eu nunca pensei que eu poderia andar através do fogo,
Eu nunca pensei que eu poderia aguentar a queimadura,
Eu nunca tive a força para ir mais longe,
Até chegar a um ponto sem retorno.”
– Never Say Never / Justin Bieber (feat. Jaden Smith)
— Não acredito, depois de dez anos você continua a mesma mercenária de sempre. — Ele estava sentado no sofá da sua suíte, sem camisa, com uma faixa em volta do tórax, me olhando de braços cruzados. — Vai usar minha condição para ganhar pontos na universidade.
— Agradeça por eu ter conseguido fazer esse acordo com o reitor e meu professor orientador. — Eu cruzei os braços também. — Ingrato, estou aqui de boa vontade para te ajudar a se recuperar.
— A culpa disso é sua, claro que deveria estar aqui — reclamou ele.
— O quê? Você que anda em alta velocidade e a culpa é minha?
— Claro, se você não tivesse saído do show eu não teria ficado desesperado e saído para te procurar.
— Sei. — Eu o olhei. — E quanto ao outro acidente em um racha? A culpa foi minha também?
— Foi. — Ele desviou o olhar. — Se estivesse na minha vida eu não teria feito nada errado.
— Agora vai me culpar por tudo? — Eu o olhei séria.
— Sim, você me deixou sem equilíbrio quando parou de falar comigo, como acha que me senti?
— Muito bem, se até uma namorada cantora você arrumou.
— Acredite, em todas as garotas que fiquei, eu estava procurando algo que nenhuma tinha.
— Me surpreenda, o que você estava procurando?
— Você. Mas nenhuma delas era você. — Ele descruzou os braços ainda me olhando. — Espera, você está com ciúmes de mim?
— Claro que não. — Desviei meu olhar para a porta.
— , olha para mim.
— O quê? — Eu o olhei.
— Você está com ciúmes. — Ele riu. — Por que não admite de uma vez que gosta de mim e que está com ciúmes?
— Não vou admitir nada. — Eu ri, caminhando até ele. — Agora se levante que temos uma série e exercícios para fazer, tenho que preparar seu corpo para a cirurgia, principalmente sua perna esquerda que vai ficar com toda a carga.
— Desde quando é uma profissional em fisioterapia? — perguntou ele, se apoiando em meu ombro, se levantando.
— Desde o último semestre que comecei a fazer algumas pesquisas sobre ossos do corpo. Aquele meu professor é especialista em ortopedia e meu orientador, acredite, eu sei de muita coisa.
— Você sabia que até os ossos do corpo reagem quando estamos beijando alguém? — brincou ele.
— Não seriam os músculos? — Eu ri um pouco, o ajudando a deitar no colchonete com cuidado. — Temos que ter cuidado porque você terá que usar muleta por um tempo e suas costelas ainda estão se recuperando, qualquer movimento brusco seu pulmão pode ser perfurado, além do mais sua perna esquerda vai precisar de muita força para sustentar seu corpo, já que o peso vai ficar com ela por alguns dias.
— Em quanto tempo vou poder me movimentar direito? — perguntou ele.
— Vai depender do seu compromisso e de como seu corpo vai se recuperar e reagir à fisioterapia, a parte dos pinos no joelho é tranquila, mas suas costelas vão estar cem por cento recuperadas em no máximo dois meses, se você cooperar.
— Você se tornou uma especialista? — Ele ergueu de leve a cabeça.
— Eu ainda não sou especialista, agora pare de falar e vamos aos exercícios com sua perna esquerda, depois vou trocar a faixa do seu tórax. — Eu segurei o riso e me concentrei.
— Hum. — Ele sorriu.
— Tire esse sorriso malicioso do rosto.
Era difícil ficar séria com ele me olhando o tempo todo, ainda mais quando ele sorria de canto com um olhar malicioso, acho que aquele seu lado sedutor era novo para mim. Tinha mesmo que me segurar e manter minha postura profissional perto dos seguranças, mas quando estávamos sozinhos, eu ria o tempo todo com suas indiretas.
Os dias se passaram e veio a cirurgia dele, meu professor participou da operação como auxiliar, eu também estava na sala, mas somente para assistir, era a primeira vez que estava em uma sala cirúrgica sem ser da universidade.
Dois dias deitado com gesso sem poder mexer a perna, finalmente Justin estava de alta, ele iria ficar em uma casa luxuosa que tinha comprado na cidade. Agora uma curiosidade, como estava a mídia com todo esse sumiço de Justin, afinal ele não tinha retornado para os Estados Unidos e sua assessoria de imprensa não tinha divulgado muita informação sobre sua agenda para os próximos meses…
A resposta era simples: o senhor Braun tinha lançado uma nota de imprensa explicando que Justin continuava no Canadá e estava descansando na casa de parentes, assegurando que naquele momento estava focado preparando seu novo álbum. Como sempre diziam meus avós, o destino se encarrega de tudo; neste caso estava ajudando, já que Justin tinha encerrado sua tour mundial e estava mesmo pensando no seu próximo álbum.
— Como está nosso cantor, hoje? — perguntei da porta do seu quarto.
— Entediado — disse ele. — Conseguiu o que pedi?
— Sim. — Assenti, entrando. — Mas você não vai poder tocar violão por enquanto por causa das suas costelas, mas consegui que trouxessem um piano para você.
— Pelo menos uma boa notícia, vou poder fazer algo que gosto enquanto estiver preso nessa cama. — Ele bufou um pouco.
— Você não está preso, só não pode mexer muito sua perna e fazer movimentos bruscos com o tórax. Não reclame, poderia ser pior e esse gesso vai sair daí amanhã, ou seja, vamos começar nossa reabilitação.
— Por que tenho que fazer isso?
— Seu corpo tem que se adaptar à nova condição, não é só colocar quatro pinos no joelho e sair andando, sua perna tem que se acostumar com o peso dos pinos e você precisa sentir se vai ficar desconfortável ou não, além do mais você não pode sair se movendo como quer. — Eu o olhei séria. — O corpo humano é uma máquina complexa e delicada.
— Estou vendo. — Ele suspirou um pouco. — Conseguiu terminar seu relatório?
— Por que a pergunta?
— Você passou a noite digitando naquele notebook, fiquei até preocupado — explicou ele.
— Já estou acostumada a passar a noite em claro.
— O corpo humano é uma máquina complexa e delicada — disse ele. — Você não cuida da sua saúde?
— Claro que cuido, eu fui dormir depois que terminei.
— Que horas você terminou?
— Não olhei no relógio, mas também não importa, eu vou dormir mais cedo hoje. Claro, se meu paciente não der nenhum chilique.
— E quem disse que eu dou chiliques? — Ele me olhou sério.
— Hum, estou com fome — disse, mudando de assunto. — Já tomou café hoje?
— Ainda não, estava te esperando para me acompanhar.
— Nossa, que gentleman. — Eu ri. — Vou buscar nosso café então.
Assim que eu saí do quarto, trombei com a senhora Pattie no corredor dos quartos, certamente ela iria dar bom dia para ele. Fui até a cozinha e preparei o café da manhã segundo as recomendações médicas, tanto para ele quanto para mim, já que eu ainda estava proibida de tomar café.
Assim que voltei a senhora Pattie já tinha ido embora, acho que ela tinha outros compromissos. Eu levei a bandeja até a cama e me sentei ao lado de Justin, tomamos nosso café juntos. Quando ia me levantar para levar a bandeja de volta, ele pegou em meu braço me fazendo sentar novamente.
— O que houve? — perguntei, estranhando sua atitude.
— Nada, só quero que fique aqui mais um pouco — respondeu ele, pegando o controle. — Vamos ver tv juntos.
— Hum, ok. — Eu retirei a bandeja da cama e coloquei no chão. — E o que vamos ver?
— Estou escolhendo ainda. — Ele ajeitou as almofadas encostando nela, assim me puxou para ficar ao seu lado.
— O que está fazendo?
— Estou te deixando mais confortável — explicou ele, trocando os canais. — Hum, que tal um filme na Netflix?
— Pode ser. — Não tive escolha e me aninhei nos braços dele mantendo minha atenção na televisão.
Se aquilo era uma estratégia dele para me fazer descansar, funcionou perfeitamente, em menos de cinco minutos de filme eu desmaiei naquela cama confortável. Acho que que nunca tinha dormido tanto em toda a minha vida, tanto que até consegui sonhar. Quando acordei novamente já estava escurecendo, o que me deixou espantada.
— Oh, não acredito. — Ergui meu corpo. — Já está escurecendo.
— O que foi? — perguntou ele ao meu lado.
— Você me deixou dormir?! — Eu o olhei. — Por quê?
— Ao invés de perguntar por que, me agradeça — disse ele num tom sério. — Você mal estava se aguentando em pé, e não é hoje que vamos começar nossas sessões de fisioterapia, então se acalme e deite novamente nos meus braços.
— O quê? — Eu fui me levantar e ele me fez voltar, me puxando para cima dele. — O que está tentando fazer agora?
— Só quero que fique aqui comigo — disse ele, tranquilamente.
— Hum, você é sempre assim com suas médicas?
— Digamos que você é especial. — Ele riu. — E ainda não é médica.
— Palhaço — disse me afastando um pouco.
— É difícil para você acreditar ou admitir? — perguntou ele.
— Está falando sobre o quê?
— Sobre nós.
— Em dez anos muita coisa pode mudar.
— Seu olhar para mim não mudou, tenho certeza que o meu para você também não.
— Você não desiste, não é mesmo? — Eu o olhei sorrindo.
— Assim como você não vai desistir de me fazer seguir com a recuperação, eu não vou desistir de te convencer que podemos ficar juntos.
— Talvez você nunca consiga me convencer — disse a ele.
— Nunca diga nunca.
Ele sorriu de forma maliciosa para mim e, se aproximando, encostou seus lábios nos meus de forma suave, eu fiquei um pouco paralisada, até que o beijo aconteceu intenso e doce, da forma mais ousada que eu poderia imaginar.
“E não se pode voltar atrás
Quando o seu coração está sob ataque
Vou dar tudo o que tenho
É o meu destino
Eu nunca vou dizer nunca (eu lutarei)
Eu vou lutar para sempre.”
– Never Say Never / Justin Bieber (feat. Jaden Smith)
4. Sorry
Aquele beijo ainda insistia em permanecer em meus pensamentos, mas eu fingia que não tinha acontecido nada, apesar de ele continuar jogando suas indiretas para mim.
— Acho que preciso de um copo de água — disse, me afastando dele.
— Vai mesmo fazer isso? — perguntou ele. — Fingir que esse beijo não representa nada?
— Pare de fazer essas perguntas e insinuações, minha preocupação agora é você se recuperar.
— E meu coração não está incluído no pacote?
— Seu coração está batendo muito bem — retruquei, segurando o riso.
— Não é disso que estou falando. — Ele pegou minha mão e encostou no seu tórax, conseguia sentir seu coração pulsando.
— Quando você me olha assim, você sempre foi meu ponto fraco. — Eu desviei meu olhar para a janela. — Mas acho que devemos ir devagar, assim ninguém se machuca.
— Se você diz. — Ele assentiu, não muito satisfeito, mas era melhor que uma resposta negativa.
Os dias se passaram e estávamos completando um mês de pós-operatório, as costelas de Justin estavam se recuperando muito bem, eu já não estava mais deixando seu tórax enfaixado, mas não o deixava fazer esforços físicos ou se curvar muito para tocar violão. Já os pinos no joelho não tinham dado nenhum trabalho, eu fazia alguns exercícios que o médico tinha prescrevido para ele, mas ainda não o deixava forçar muito. Como eu já me lembrava, Justin era um pouco impaciente e hiperativo, ele sempre queria fazer algo e se movimentar, mas seu corpo ainda estava se recuperando e ele não podia abusar muito, o que fazia com que ele me olhasse chateado, eu sempre ria da sua cara, mas não podia fazer nada, estávamos seguindo as regras médicas.
— Bom dia — disse ele, sussurrando no meu ouvido.
— Você me fez dormir aqui mais uma vez — sussurrei, me espreguiçando.
— Você parecia cansada, então nada mais confortável que meus braços. — Ele sorriu de canto, erguendo seu corpo. — Dormiu bem?
— Cretino. — Eu me levantei. — Dormi bem sim.
— Vamos tomar café e começar nossa sessão de exercícios. — Caminhei em direção a porta.
— Você que manda — disse ele, me seguindo.
— Sério? Sou eu que mando mesmo? — Eu ri.
— Não vá abusando. — Ele riu junto.
Nosso café da manhã foi ao ar livre, afinal, um de sol pela manhã ajudaria na recuperação dos seus ossos, uma boa dose de vitamina D só faz bem para sua saúde. Nós caminhamos um pouco pelo jardim, conversando sobre nossos possíveis planos para o futuro.
— Você já escolheu sua especialização? — perguntou ele.
— Ainda não, ando cheia de dúvidas quanto a isso — respondi, ainda pensativa. — Pela minha mãe eu faria psicologia, pelo meu pai eu faria direito, nada do que eu realmente quero.
— Mas você não pensa em se especializar na mesma área daquele seu professor?
— Já pensei em ortopedia sim, ou melhor, penso nisso todo os dias, mas tenho até o final do semestre para escolher isso.
— Bem, se você se especializar em ortopedia eu ficaria mais aliviado, terei minha médica pessoal que não cobra por ser minha melhor amiga.
— Depois eu que sou a mercenária. — O olhei.
— Eu prometo que vou te indicar para meus amigos famoso.
— Cretino. — Desviei meu olhar para frente. — Eu estava pensando agora, sabe aquela caixa que você me deu quando se mudou de Stratford?
— O que tem?
— Eu ainda tenho ela — disse sorrindo de leve. — Sempre que sentia saudade eu abria e ficava lendo suas frases soltas, a maioria se transformaram em músicas que você canta hoje.
— Olha, você realmente não vendeu. — Ele riu.
— É claro que não, era a única coisa que me mantinha próxima a você. — Fui direta desta vez.
— ! — Ele parou de repente.
— O quê? — Eu o olhei.
— Me desculpe — disse ele.
— Pelo quê? — Eu estava um pouco confusa por aquilo.
— Mesmo que tenha se afastado eu deveria ter voltado, de alguma forma.
— Deixa de pensar nisso, é passado — disse, desviando meu olhar para frente. — Pense que tudo que aconteceu nesses dez anos foram para te fazer amadurecer, leve para o lado positivo.
— Você acha?
— Se fosse para voltarmos a nos ver, aconteceria de qualquer forma, como aconteceu agora.
— Então, eu ainda posso ter esperanças? — Ele sorriu.
— Não comece a me cantar novamente. — Eu segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. — Mas estou feliz por estar aqui com você.
— Então eu posso ter esperanças. — Ele sorriu com um pouco de malícia e com muita ousadia me beijou novamente.
Estava virando uma certa rotina Jin me roubar alguns beijos em meio a nossas conversas ou nas sessões de reabilitação, eu ficava um pouco tímida e envergonhada, já ele, sempre saía sorrindo. Tudo estava indo bem e Jin estava se recuperando de forma impressionante, claro que com minha ajuda, já que ele sempre se fazia de desinteressado nos exercícios mais pesados que fazíamos com a perna direita.
“I’m sorry, yeah
Sorry, yeah
Sorry
Yeah, I know that I let you down,
Is it too late to say I’m sorry now?”
– Sorry / Justin Bieber
— Acho que mais alguns dias e você vai estar pronto para andar sem ajuda da bengala — disse, o ajudando a se levantar. — Viu, para quem pensou que duraria uma eternidade, agora até seu violão está podendo tocar.
— Devo te agradecer por isso? — Ele me olhou.
— Claro. — Eu ri. — Mas deve se agradecer pelo esforço que está valendo a pena.
— Hum.
— O senhor Braun ligou, ele disse que você tem uma sessão de fotos para a revista Rolling Stone, uma matéria de rotina para mostrar que você está bem e saudável.
— Claro, eu fiquei tanto tempo escondido aqui que as pessoas devem estar achando que eu morri ou algo do tipo. — Ele pegou sua bengala e caminhou até a janela. — Estou tão entediado com esse lugar.
— Que garoto mais reclamão. — Eu ri. — Fique feliz por seus fãs estarem sentindo sua falta, além do mais, pense nisso como umas férias forçadas.
— Se estivéssemos no Havaí eu até poderia pensar assim — retrucou ele. — Mas pelo menos você está aqui, um ponto positivo.
— Verdade. — Eu ri de leve enquanto juntava o colchonete. — Quando vou poder ver suas novas composições?
— Quando ficarem prontas — respondeu ele, encostando na parede.
— Continua tendo dificuldades em escrever? — perguntei.
— Às vezes. Como diz o Braun, até Shakespeare tinha bloqueios criativos — respondeu ele, suspirando um pouco.
— Nossa, você precisa de uma inspiração então, assim fica imune a bloqueios.
— Eu até tenho, mas ela sempre me dá um fora.
— Hum. — Eu segurei o riso. — Ok e se ela te der um presente por bom comportamento, você faria uma música para ela?
— Eu já fiz. — Ele sorriu com um pouco de malícia.
— Sério? — Eu estava surpresa.
— Sim e não é essa música que está pensando.
— O que você acha que estou pensando? — O olhei curiosa.
— Eu te conheço. — Ele riu de leve e olhou para o céu. — Acho que vai chover hoje.
— Nossa que aleatório, nem para me responder. — Olhei para o céu também. — Mas realmente parece que vai chover.
Sim, choveu naquela noite, mas o verdadeiro dilúvio estava acontecendo nas redes sociais, muitas especulações estavam sendo feitas após algumas fotos de Justin caminhando comigo pelo jardim terem sido jogadas em um site de fofocas. Pior ainda foi o vazamento do pequeno acidente que ele teve no dia do show. Todos estávamos sem reação e não entendendo quem tinha contado sobre isso. Eu sabia que meu professor e o irmão da Yoona jamais falariam sobre isso, mas Justin não estava convencido da inocência deles. Sua desconfiança estava me deixando um pouco irritada, pior, parecia que todas as bombas contra ele estavam explodindo ao mesmo tempo.
— O que faz achar que foi um deles, existem pessoas que têm princípios, sabia? — disse pela sexta vez, tentando não me chatear ainda mais.
— Eu não confio neles. — Ele se levantou da poltrona da sala e caminhou até a lareira.
— Mas eu confio, eles te ajudaram, deveria ser um pouco mais agradecido — disse, desviando meu olhar para a janela.
— Eu sou, com quem merece.
— O quê? Eu realmente não acredito no que você está falando. — Eu caminhei até o sofá e peguei a minha bolsa.
— Onde você vai? — perguntou ele.
— Te poupar o trabalho de conviver com alguém que não confia. — Eu fui até a porta, abrindo-a.
— Eu confio em você, só não confio neles! — gritou ele.
— Isso não é confiança. — Eu saí.
Ouvi do lado de fora ele gritando meu nome, mas eu estava certa, ele não confiava em mim verdadeiramente, talvez pelo tempo que passamos afastados ou por ele ter confiado demais em pessoas erradas. Mas eu não iria crucificar as pessoas que sempre estiveram me ajudando porque ele não confiava nelas, o que eu tinha decidido estava decidido, eu voltaria para a república da universidade.
Os dias se passaram e a mídia estava atacando ainda mais Justin; mesmo longe dele eu me preocupava com sua vida. A senhora Pattie tinha me ligado algumas vezes para dizer que ele estava seguindo direito com os exercícios e sua recuperação estava quase 100%. Era um alívio para mim, que já estava escrevendo meu famoso relatório para o reitor da universidade.
— Você não cansa mesmo de estudar — disse Yoona ao acordar.
— Você não cansa mesmo de dormir. — Eu ri um pouco. — Estou terminando meu relatório finalmente. Depois daqui tenho que escrever um artigo científico sobre avanços tecnológicos na medicina e sua contribuição em transplantes de medula óssea.
— Mais um artigo para seu professor?
— Desta vez é para a professora de estudos de oncologia básica. — Me espreguicei um pouco. — Minha cabeça está tão cheia de coisas que acabei esquecendo de fazer esse artigo e tenho que entregar daqui duas semanas.
— Você não tinha feito aquele acordo com o reitor? — perguntou ela.
— Mas este artigo não faz parte do acordo, além do mais eu já tinha aceitado o trabalho da minha professora, acho que ela quer apresentar ele em um congresso de oncologia na Argentina, como trabalho de alunos.
— Então você não é a única que está fazendo?
— Não, ela pediu um outro aluno da minha turma para fazer um artigo sobre os avanços da tecnologia na área de transfusão de sangue e a busca por transfusões de sangue sintético ou algo do tipo.
— Não sei qual dos dois é pior. — Ela riu.
— Acredite, nem eu. — Eu ri junto, mantendo minha atenção no notebook, estava terminando de formatar o texto do relatório que tinha feito.
— Eu vou tentar encontrar algum lugar para comprar comida, sábado é o pior dia para se fazer compras. — Ela se levantou da cama. — Você quer alguma coisa?
— Não, obrigada. — Me espreguicei novamente. — Já fui na cafeteria aqui perto e acabei comprando dois pedaços de torta de maçã, deixei um para mais tarde.
— Hum, espero que não tenha comprado café.
— Olha, ninguém falou nada sobre eu não tomar cappuccino, então comprei um de chocolate, acho que farei um chá mais tarde.
— Só não deixe de comer — alertou ela, trocando de roupa. — Teve notícias dele?
— A mãe dele disse que estava tudo bem e que logo voltaria para New York.
— Só isso?
— Eu só preciso saber disso — expliquei, mantendo minha atenção no relatório.
Yoona demorou mais alguns minutos até que eu ouvi ela abrindo a porta, um breve silêncio pairou no quarto até que ela se pronunciou.
— , acho que você tem uma visita.
— O quê? — Eu me virei para a porta. — Jin?!
— Oi — disse ele num tom baixo.
— O que está fazendo aqui? — Eu me levantei da cadeira, mantendo meu olhar nele.
— Podemos conversar? — perguntou ele.
— Hum. — Eu olhei para Yoona.
— Eu já estava mesmo de saída. — Ela esperou ele entrar e saiu fechando a porta.
— Fala. — Eu encostei de leve na mesa, desviando meu olhar para o chão. — Mas se veio para me atacar ou acusar meus amigos…
— Não — disse ele me interrompendo. — Estou aqui para te pedir desculpas mais uma vez.
“Eu sei que você sabe que eu cometi aqueles erros, talvez uma ou duas vezes,
Quando digo uma ou duas, quero dizer talvez umas cem vezes,
Então me deixe, oh, me deixe me redimir, oh, redimir, oh, esta noite,
Porque eu só preciso de mais uma chance de ter uma segunda chance.”
– Sorry / Justin Bieber
5. Trust
Além do pedido de desculpas, Justin me contou que a pessoa que tinha tirado as fotos era um hater que o perseguia há muito tempo e que foi ele também que gravou de longe o acidente dele e jogou o vídeo no youtube. Como imaginei, demorou dois dias para ele engolir seu orgulho e admitir que estava errado, ele sempre odiou isso.
Eu fiquei ouvindo seus argumentos de como estava transtornado e sem saber como reagir, mais ainda de como estava com receio de ser preso novamente ou algo pior, como perder o amor de suas fãs. Ele já tinha feito tantas besteiras antes e estava se esforçando para limpar sua imagem na mídia e mostrar que ainda era aquele garoto gentil de antes.
— Errar é humano — disse o olhando. — Por isso eu te desculpo, mas confiança tem que ser conquistada.
— Eu confio em você e se você confiar em alguém, essa pessoa terá minha confiança — afirmou ele com segurança.
— Sabe que não é tão fácil assim. — Eu o olhei com carinho. — Mas acredito na sua sinceridade.
— Prometo que vou me esforçar. — Ele sorriu de canto. — E para mostrar que quero mesmo ser um homem comportado, eu pedi desculpas para as pessoas envolvidas.
— Sério? — Por essa eu não esperava.
— E agradeci por terem me ajudado.
— Olha, e eu não ganho nada em agradecimento?
— No que está pensando?
— Sei lá, que tal um autógrafo em uma partitura que eu possa vender depois?
— Sua mercenária. — Ele me olhou abismado.
— Você adora me chamar assim. — Eu ri.
— Te darei outra coisa.
Ele foi se aproximando lentamente de mim, mantendo seus olhos fixos nos meus, eu encostei de leve minha mão na mesa, Jin às vezes conseguia me deixar tonta só com seu olhar. Segundos depois ele encostou seus lábios nos meus, e, lentamente, foi intensificando o beijo, acho que ele não conhecia a palavra fôlego, pois eu já tinha perdido o meu. Eu encostei de leve minha mão no seu tórax, o afastando um pouco de mim, o olhei sorrindo por um tempo, ele tentou se aproximar novamente para me beijar, mas eu não deixei desta vez. Por ironia da vida, meu lado aluna exemplar estava no comando, eu tinha que enviar o relatório para o reitor e não podia demorar nem um minuto a mais.
— Sério?! — reclamou ele, se jogando na minha cama.
— Vai mais devagar, suas costelas ainda não estão totalmente recuperadas. — Eu segurei o riso. — E sim, é sério, preciso terminar isso aqui.
— Isso que dá ser apaixonado por uma médica — disse ele.
— Eu ainda não sou médica. — Digitei mais algumas coisas no corpo do email e finalmente anexei o arquivo do relatório. — E você nunca reclamou dos meus estudos.
— Naquele tempo eu não podia te beijar. — Ele me olhou sorrindo.
— E quem disse que hoje em dia você pode? — Eu o olhei. — Só porque voltamos a ter um grau de intimidade já acha que pode.
— Vai me dizer que não gostou?! — Ele ergueu seu corpo de leve.
— Suas perguntas me deixam sem reação. — Virei minha atenção para o notebook e enviei o relatório. — Finalmente, enviei.
— Que bom, isso quer dizer que você está livre para viajar comigo.
— O quê? — Eu o olhei. — Como assim? Viajar?
— Minha sessão de fotos vai ser em Los Angeles e preciso da minha médica comigo.
— Eu ainda não sou médica — repeti. — E não posso simplesmente viajar com você.
— Por que não?
— Porque eu tenho um artigo muito chato para fazer — expliquei.
— E o que te impede de fazer ele na nossa viagem? — retrucou ele.
— Jin, eu tenho uma vida aqui e você tem uma vida fora daqui — expliquei novamente.
— E? — Ele se levantou, pegando em minha mão, me puxou para perto dele me abraçando. — Demorei tempo demais para cruzar nossos mundos novamente e não vou deixar você ir novamente.
— Eu já disse que é mais fácil você me esquecer do que o contrário? — retruquei me aninhando nos seus braços.
— Acredite, eu nunca te esqueci e nunca vou de esquecer — sussurrou ele no meu ouvido.
“Se eu acredito no amor,
E você acredita no amor,
Então podemos estar apaixonados, de alguma forma
Se você quer o melhor para nós,
Como eu quero o melhor para nós,
Então nós temos que aprender a confiar agora mesmo.”
– Trust / Justin Bieber
Eu ainda estava pensando no que iria fazer e como poderia conciliar essa viagem com meus estudos, eu não podia tirar meus pés do chão e achar que seria como nos filmes, um conto de fadas. Tanto eu como ele tínhamos responsabilidades e compromissos, o que fazia nossos caminhos cruzados ficarem meio tortos, e a distância sempre nos acompanhar.
Ele viajou primeiro para Los Angeles, não queríamos chamar mais atenção ainda, e eu não queria fazer ele se explicar para os curiosos da mídia quem era a garota que estava com ele. Aproveitei sua partida para encaixar minhas ideias e bolar um argumento muito grande para me ausentar dos estudos, e novamente eu tive que apelar para meu lado aluna exemplar e ter uma conversa com o reitor da universidade.
Para servir como frequência nas aulas, pontos de atividades em laboratório e me livrar das provas finais, acabei aceitando fazer mais um artigo de, no mínimo, trinta páginas sobre as baixas na doação de órgãos e a relação dos avanços tecnológicos em transplante artificial. Como diz Yoona, só tema “fácil” de se estudar e escrever, mas era o que eu gostava de fazer e estava feliz por não ter que fazer algo mais difícil do que isso.
— Ai, amiga, não acredito que você está indo para LA — disse Yoona me abraçando no aeroporto.
— Acho que vou sentir saudades dos seus comentários e suas músicas do Big Bang.
— Agora que você está com o JB, pode ouvir o Big Bang ao vivo se quiser, só não se esqueça das amigas V.I.P.
— Pode deixar, eu vou te ajudar a conhecer seu oppa. — Nós rimos um pouco.
— Que amiga mais linda que eu tenho. — Ela me abraçou novamente. — Te desejo toda a felicidade do mundo, espero que consiga se divertir mesmo com dois artigos para fazer e traga presentes para mim.
— Prometo tentar. — Eu sorri de leve.
Logo o anúncio soou e já estava na hora de embarcar, após algumas horas de voo, finalmente desembarquei no aeroporto internacional de Los Angeles, já tinha dois seguranças me esperando lá. Seria pedir demais uma parte bem normal na minha, quem sabe futura, relação com Justin? Respirei fundo e os acompanhei até o carro. No meio do trajeto nos deparamos com alguns paparazzi que tinham reconhecido eles e já estavam com suas câmeras na mão.
Acho que aquilo era somente a premissa da parte negativa do mundo de Justin, algo que chamamos como falta de privacidade. Eu mandei uma mensagem para ele avisando que já estava dentro do carro a caminho para a mansão onde estava sendo feito a sessão de fotos dele, naqueles quarenta e cinco minutos de carro até Malibú, tentei aproveitar para apreciar toda aquela vista que o caminho estava me proporcionando. Quando cheguei na mansão com vista para o mar, a casa estava cheia de staff que cuidavam dos detalhes dos ambientes, eles estavam no meio de uma sequência de fotos, eu fique no canto bem ao fundo, olhando. Justin estava com duas modelos fazendo algumas poses alternadas no sofá, eu cruzei meus braços desviando meu olhar para o lado, acho que meu desconforto poderia ser chamado de ciúmes.
— Por que está tão escondida aqui? — perguntou ele ao chegar perto de mim.
— Não queria atrapalhar. — Eu o olhei por um tempo, até que minha atenção se voltou para as pessoas que estavam nos olhando discretamente.
— Está tudo bem? — perguntou ele.
— É que estão todos nos olhando e eu não estou acostumada a ser o centro das atenções — expliquei.
— Você é a melhor aluna da sua universidade.
— É diferente — retruquei.
— É o seu mundo, aqui você está no meu.
— Por isso é diferente. — Eu sorri de leve.
— Ok. — Ele se virou e olhou para o fotógrafo. — Vamos fazer uma pausa.
— Tudo bem, dez minutos? — perguntou o fotógrafo.
— Vinte. — Justin pegou na minha mão e me puxou para fora da sala.
— Jin, eu disse que não queria te incomodar. — Fui seguindo ele pela casa, passando pelas pessoas que estavam pelos cômodos.
— Você deixou sua universidade para ficar aqui comigo, o que são vinte minutos? — disse ele abrindo uma porta que dava para um jardim de inverno que tinha na lateral direita da casa.
— Devo concordar? — brinquei, entrando atrás dele. Eu tentei soltar da sua mão, mas ele segurou um pouco mais forte, entrelaçando nossos dedos.
— Me desculpe por essa parte desconfortável do meu mundo — disse ele me olhando com carinho.
— Acho que posso conviver com isso, já sei que tenho que te dividir com as fãs — brinquei.
— Você já sabia que eu teria muitas.
— Claro, você é como um ímã que atrai pessoas — expliquei. — Ah, antes que eu me esqueça, eu trouxe uma carta da minha amiga Yoona, queria que você entregasse ao G-Dragon.
— Estou começando a achar que ela é mais mercenária que você — brincou ele. — Que espécie de carta é essa?
— Para. — Eu ri junto com ele. — Isso é sério, é uma carta de confissão de amor, algo do tipo, isso é muito sério na Coréia, e como a paixão dela é o GD…
— Então ela pensou que você poderia me dar para entregar a ele! — concluiu.
— Sim, nós sempre vemos várias fotos de vocês juntos, já são amigos declarados, você poderia ajudar.
— O que você não pede sorrindo que eu não faço sorrindo também.
— Seu bobo. — Eu bati de leve no seu ombro. — Como está seu joelho e as costelas? Ainda fica dolorido quando você tosse?
— Não, estou totalmente bem, minha doutora — disse ele envolvendo seus braços em minha cintura.
— Ainda não sou médica — o alertei, me mantendo um pouco distante.
— O que foi? — perguntou ele.
— Os olhares, é desconfortável mesmo.
— Olhe para mim, apenas para mim. — Ele aproximou um pouco nossos corpos. — Já disse que não vou deixar você ir de novo.
— Eu não vou, só preciso me acostumar. — Sorri para ele. — Hum, posso saber uma coisa?
— O quê?
— Qual foi a música que você escreveu para mim?
— Por que essa pergunta agora? — retrucou ele.
— Fiquei curiosa.
— “
Se eu acredito no amor e você acredita no amor, então podemos estar apaixonados, de alguma forma.” — Ele me olhou com suavidade. — Se lembra?
— Sim, essa era a frase que você mais dizia para mim.
— Essa é a nossa música, só nossa — afirmou ele.
Olhamo-nos por um momento e após um breve sorriso meu, ele me beijou com doçura e intensidade, meu coração estava acelerado, minhas pernas meio bambas, naquele momento eu não pensava em mais nada, minha mente estava totalmente voltada para ele. Conseguia sentir o calor do seu corpo, a suavidade do seu perfume e o gosto do seu beijo.
Eu estava pronta para finalmente ter um futuro de verdade com meu melhor amigo, Justin Bieber.
“Dores crescentes vem junto com as mudanças,
Algumas pessoas se aproximam,
Algumas pessoas se separam, yeah,
Não pense que devemos nos separar,
E nós dois nos adoramos,
Você é um sonho que virou realidade,
Devíamos começar novos em folha,
Isso é o que devemos fazer.”
– Trust / Justin Bieber
“Amor: Um dia me disseram que o sorriso é uma forma de mostrarmos o quanto gostamos de alguém. Hoje me perguntaram se eu gostava de você, e eu apenas sorri.” – Pâms
Confesso que não sou fã de Jus10, nunca fui, desde que ele foi lançado na mídia, mas desse aqui eu me permito gostar HAHAHAH
Talvez seja porque teve essa coisa de amizade de infância e amor, mas esse Justin foi fofo o bastante pra me conquistar <3