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Tokyo

Cherry Blossom

Primavera de 2017

  A cidade fica linda essa época do ano. Os perfumes das flores na primavera de Tokyo deixava tudo mais alegre e sutil. Minha época favorita do ano sem dúvidas. E eu estava curtindo tudo aquilo juntamente com a esplêndida vista que o apartamento do meu irmão proporciona para o parque Shinjuku, meu favorito de Tokyo. Charles, por sorte da vida, trabalha na sede da Google na cidade, seus esforços para ser um especialista em TI lhe deu a oportunidade de estágio na empresa quando estudava na federal de Minas. Indicação de um professor na época. Oportunidades a parte, ao se formar na faculdade, veio a vaga para ser transferido para o Japão, ele não pensou duas vezes e aceitou. 
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  Sorte a minha que, com isso, arrumei as malas e fui junto para “ajudá-lo a se adaptar”. Só que não. Eu sempre fui fascinada pela cultura japonesa, uma otaku convicta, claro que não deixaria meu irmão ir e me deixar de fora do rolê. Nossos pais que não gostaram muito da ideia dos dois únicos filhos morando do outro lado do mundo sem a supervisão deles, mas eu já estava mais do que ansiosa para estudar em um colégio japonês e usar aqueles uniformes maravilhosos, como os dos j-dramas e animes. 
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  Agora, após cinco anos morando no Japão, no frescor da primavera, aos 18 anos, eu iniciava meu curso de moda na prestigiada e concorrida Tokyo University. Estava tão empolgada que nem mesmo consegui esperar Michimiya na estação para pegar o metrô comigo. Quando cheguei no campus, meus olhos brilharam com todo aquele fluxo de calouros e veteranos. Barracas dos diversos clubes enfileiradas na via principal. Me aproximei do clube de mangás e fiquei observando um dos meninos desenhando, meu sonho era aprender a arte de ser um mangaká, mas Deus tinha me dado habilidades somente para desenhar croquis de moda. Cada um com seu talento.
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  — Senpai! — gritou Michimiya ao me ver de longe.
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  — Michi. — Voltei minha atenção para ela e sorri meio sem graça por tê-la deixado para trás.
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  — Senpai, você não me esperou. — Ela cruzou os braços emburrada.
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  — Desculpe Mi, mas eu estava tão ansiosa que não consegui, o metrô apareceu e eu entrei. — Lancei um olhar de desculpa.
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  — Tudo bem. — Ela sorriu de leve. — Vai entrar para o clube de mangás?
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  — Não sei, talvez. — Voltei meu olhar para o menino desenhista. — E você? Vai entrar no de dança?
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  — Vou, nele e no de produção de moda. — Ela se empolgou mais. — Você vai entrar comigo, né?
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  — Claro, moda é meu futuro! — Assegurei a ela. — Onde está o estande?
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  — Não montaram aqui, eles fixaram uma pequena passarela no prédio de humanas para expor alguns modelos feitos pelos veteranos. — Respondeu ela já me pegando pelo braço e me arrastando pelo campus.
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  Minha kouhai estava ainda mais empolgada que eu ali. De tudo, já sentia que a universidade no Japão seria melhor que o ensino médio, e eu teria muitas aventuras para viver naquele campus cheios de senpais bonitos. Passeamos por todo o lugar após nos inscrever nos clubes de nossa preferência. Depois disso, Michimiya mandou uma mensagem para nosso grupo de amigos e nos encontramos em uma cafeteria próxima ao campus do Hongo. Ao final da tarde, mandei uma mensagem ao meu irmão dizendo que me atrasaria para o jantar, pois minha vida universitária merecia um primeiro dia de sucesso com uma esticada a um pub muito frequentado pelos veteranos.
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  Claro que eu não abusaria logo no primeiro dia de caloura, pois na manhã seguinte eu já teria aula logo cedo. Assim que saí do pub, recebi uma louca ligação de Charles me pedindo ajuda e para esperá-lo em frente ao nosso prédio. Segui de táxi para casa, achando que pudesse ser algo grave e, claro, paguei a conta com o cartão de crédito de emergência que ele tinha me dado. Não pagaria táxi caro do meu bolso. Esperei por dez minutos, até que ele chegou em um táxi também e de quebra amparando um desconhecido que caía de bêbado. 
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  — O que é isso? — perguntei fazendo uma careta estranha. — Mudou de time e esse é seu namorado?
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  — Não, sua boba. — Ele bufou pela minha pergunta. — Para de perguntas e só me ajuda a levar ele pra dentro.
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  — Ok.
  Segurei o riso e o ajudei a carregar o homem que parecia em coma alcoólico, pois não tinha nenhuma reação. Abrindo a porta do nosso apartamento, ajudei Charles a colocá-lo no sofá e voltei para fechar a entrada. Meu irmão parou por um tempo e se espreguiçou reclamando de dores na coluna.
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  — Ele é tão pesado. — Resmungou.
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  — jura? — Ri dele. — Quem é esse cara?
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  — Como assim quem é? — Meu irmão me olhou como se eu fosse obrigada a saber.
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  — Como assim nada, não sou obrigada a decorar o rosto de todos os seus amigos da Google, Charles. — Eu me afastei dele e segui para a cozinha, pegando uma barra de cereal no armário o olhei de novo. — Ah, não vou limpar o vômito de ninguém como da última vez que o Tanaka pediu para dormir aqui, o amigo é seu, você se vira. E tenho o dito.
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  Saí da sala e segui para meu quarto. Eu já tinha me acostumado com as escapadas dos amigos do meu irmão para o nosso apartamento. Parecia até a casa da mãe Joana, como se não existisse uma garota no lugar. Pelo menos tinha colocado um sistema de senhas na porta do meu quarto, assegurando assim minha privacidade. Peguei minha toalha e pijama, segui para o banheiro, tomei um banho rápido e voltei ao meu quarto. O dia tinha sido movimentado e divertido, mas minhas expectativas estavam concentradas na aula de amanhã. O coração até acelerava de imaginar o que aprenderia sobre história da moda e indumentária, desenho técnico de moda, croqui de moda, produção de moda, tudo que envolvia aquele universo tão luxuoso no qual Chanel fez sua marca.
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  Despertei de um sono pesado pela madrugada. Olhei no visor do celular e o relógio marcava 3 da manhã. Me espreguicei um pouco e virei para o canto cobrindo a cabeça, porém meu estômago deu uma leve reclamada que me fez levantar da cama. Ao passar pela sala, observei o amigo de Charles jogado no sofá, parecia confortável para ele aquela posição despojada. Não me contive ao me aproximar com passos silenciosos e puxar o lençol que arrastava no chão para cobri-lo melhor. Quando dei um passo para me afastar, sua mão segurou em meu pulso atraindo minha atenção novamente.
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  — Quem é você? — sussurrou ele ao abrir os olhos e fixá-los em mim.
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  — Eu que pergunto, a casa é minha. — Me soltei dele e pensei melhor. — Bem, a casa é do meu irmão, mas dá no mesmo. 
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  Ele sorriu de canto de forma espontânea.
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  — Não sabe quem sou eu? — perguntou ele, deixando transparecer um olhar confuso.
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  — Olha, não sou obrigada a saber de todos os amigos do meu irmão. — Cruzei os braços — O intruso aqui é você, não eu. 
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  Me afastei dele e segui para a área da cozinha. Abri a geladeira vendo o que poderia preparar, porém, como não tínhamos feito a compra da semana, a única opção era lámen. Me mantive concentrada na água que pus para esquentar na velha chaleira que tinha trazido do Brasil. Quando senti a aproximação dele.
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  — O que está fazendo? — perguntou ao se colocar do meu lado.
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  — Algo para comer. — Virei minha face em sua direção.
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  Só agora, com ele de pé com a postura ereta e perfeita, que me dei conta de como era alto e claramente bonito. Sua pele negra tinha um brilho especial de lhe dava mais charme ainda. Voltei de imediato meu olhar para a chaleira, assim não ficaria o encarando por muito tempo.
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  — Está com fome? — perguntei.
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  — Não, mas minha cabeça dói. — Respondeu mantendo o tom baixo.
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  — O máximo que posso fazer é te preparar um chá. — Avisei. — Como cortesia por não ter vomitado na sala.
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  Arranquei alguns risos dele.
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  — Obrigado pela gentileza. — Disse.
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  — Hum. — Dei de ombros e peguei a xícara, colocando o saquinho de chá dentro. 
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  A água que havia esquentado deu para dividir com o chá dele. Deixei que entrasse em fusão e lhe entreguei. 
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  — Obrigado. — Disse ele ao pegar a xícara de minha mão.
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  — Posso te fazer uma pergunta? — disse.
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  — Sim.
  — Qual o seu nome?
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  — Meu nome?! — Ele voltou a fazer aquele olhar confuso.
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  — Sim, seu nome, meu irmão não quis falar. E nada de dizer: “nossa como assim você não sabe meu nome”, porque realmente não sou obrigada. — Avisei a ele.
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  Essa era eu, sendo eu com um dos muitos amigos do meu irmão. Tentava ser o mais educada possível, mas odiava quando era obrigada a decorar quem era quem. Charles era o funcionário mais popular da Google do Japão, trabalhava com pessoas de diversos países, eu jamais me lembraria de todos que um dia ele apresentou.
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  — Lewis Hamilton. — Respondeu ele segurando o riso. — Pode me chamar de Lewis, somente.
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  — Prazer, Lewis. — Eu estiquei a mão em cumprimento. — Sou , a irmã caçula do Charles.
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  — Prazer. — Ele deu um sorriso simpático e manteve seu olhar em mim.
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  Virei meu rosto e peguei minha tigela de lámen. Nos sentamos no sofá e fizemos companhia um para o outro em silêncio. Depois de me alimentar, voltei para o quarto e me forcei a dormir novamente. Logo pela manhã, tive dificuldades para acordar. Ao som do terceiro despertador dei um pulo da cama de susto e a passos ainda lentos, troquei de roupa. Passei correndo pela sala enquanto jogava minha carteira dentro da mochila, mal pude notar se o amigo do meu irmão ainda estava dormindo no sofá. Segui de ônibus para a universidade, logo na primeira aula não poderia chegar atrasada, Michimiya já tinha dito que a professora era rigorosa com atrasos.
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  — Ufa. — Disse ao me sentar na cadeira ao lado de minha amiga. — Consegui chegar a tempo. 
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  — Sim, amiga, que sorte que ela ainda não chegou, a senhora François é muito pontual. — Cochichou ela comigo.
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  — Hum. — Olhei o visor do celular e já batia o horário da aula. — Estou vendo.
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  Mal fechei a boca e a professora entrou na sala com suas vestes de Minerva Mcgonagall de Harry Potter, com uma bolsa preta da Prada na mão direita e uma pasta de notebook na esquerda. Uma veterana e monitora entrou junto para auxiliá-la a ligar todos os cabos no computador dela. Assim começou meu primeiro dia de aula com a disciplina de história da arte e da indumentária. Senti lá no fundo que seria tediosa e sonolenta. 
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  No final da aula, eu e Michimiya fomos almoçar na cantina do prédio principal de Hongo, depois ela se desviou para a primeira reunião do clube de dança, enquanto eu liguei minha câmera e comecei a gravar meu tour pelo campus. Claro que morando cinco anos no Japão eu iria aproveitar a deixa e ser uma mini youtuber nas horas vagas. Já tinha gravado algumas coisas no dia anterior e faria o mesmo neste dia. Desse jeito meu especial Tokyo University seria maravilhoso e cheio de curiosidades. Assim que terminei a gravação, segui para a biblioteca, precisava pegar alguns livros indicados pela professora para o primeiro trabalho. O tema? Roupas inspiradas nas indumentárias do período clássico de Roma/Grécia. Meu estilo era mais vitoriano, porém, tinha que me dedicar ao máximo.
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  No final da tarde, sentada no chão da biblioteca em meio aos livros e leituras, recebi uma mensagem inusitada no whatsapp. Era o estranho amigo de Charles da noite anterior, agradecendo pelo chá e me pedindo para aceitar seu convite de retribuição. Fiquei alguns minutos olhando para a tela pensando se aceitaria ou não, então comecei a digitar a mensagem com o endereço de uma cafeteria pouco distante da universidade, mas frequentada por artistas de rua. Sua decoração era linda e me inspirava a desenvolver várias ideias de padronagens para estampas. 
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  — Te fiz esperar muito?
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  Perguntei ao me aproximar dele, que se mantinha próximo a porta de entrada com a cabeça baixa, moletom de capuz e um boné na cabeça. Estranhei aquela vestimenta.
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  — Você está bem? — O olhei com estranheza. — Com essa blusa?
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  — Sim, estou. — Disse num tom baixo.
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  Mesmo vestido daquela forma, ele tinha um estilo incomum. Talvez gerado por sua postura, ou forma de falar, ou somente por ser bonito. 
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  — Ok. — Segurei o riso. — Vamos entrar?
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  — Sim. 
  Eu toquei na porta de entrada e abri, assim que nos acomodamos em uma mesa aos fundos, pedimos a especialidade da casa. Chá gelado de lótus com mel e chantilly, acompanhado de macarons.
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  — Esse lugar é muito bonito, como descobriu? — perguntou ele ao olhar para o grafite feito na parede ao lado. — Já vim muitas vezes a Tokyo, mas não descubro lugares legais como esse.
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  — É preciso se perder para encontrar lugares que nem todos merecem descobrir. — Disse filosofando um pouco, arrancando risos dele. — Foi em um dia chuvoso que me atrasei para a escola e peguei o ônibus errado, acabei encontrando essa cafeteria e me apaixonando pela arte.
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  Expliquei olhando para o mesmo grafite que ele.
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  — Esse foi feito há duas semanas, estava aqui quando o artista pintou. — Continuei, controlando a empolgação. — O dono daqui faz esculturas em aço córtex e gosta muito de arte, a cada seis meses ele tira fotos do lugar, pinta de branco e convida novos artistas para fazer artes mais lindas ainda. 
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  — Vejo que você ama falar sobre o assunto. — Ele voltou seu olhar profundo para mim. — Consigo sentir sua empolgação.
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  — Confesso que eu amo história da arte, mas não como profissão, e sim para conhecimento. — Disse dando um sorriso bobo.
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  — Interessante. — Ele manteve o olhar fixo em mim. — E o que você gosta como profissão?
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  — Moda. — Respondi prontamente. — Amo moda, culpa de madame Chanel. — Brinquei rindo, fazendo-o rir junto.
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  — Seu irmão me disse que foi seu primeiro dia na faculdade. — Comentou ele. — Você passou correndo pela sala, estava atrasada?
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  — Você ainda estava lá? — Choquei.
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  — Seu irmão disse que eu podia ficar o tempo que quisesse. — Ele sorriu de canto.
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  Senti uma certa malícia nisso.
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  — Hum… E nem me perguntou se podia. — Resmunguei baixo.
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  — Se quiser, posso ir embora. — Disse ele.
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  — Não, não precisa, meu irmão é tão aberto, não seria o primeiro a se hospedar lá. — Fiz uma careta engraçada, arrancando risos do rapaz.
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  Até mesmo sua risada era bonita e charmosa. Será que ele era inglês? Eu tinha sérios problemas em ter quedas por britânicos. Mesmo amando os senpais dos doramas. Matsumoto Jun sabe que meu coração era dele, mas esse Lewis tinha seus encantos. Tomei um gole do chá e desviei o olhar para as pessoas que entravam na cafeteria. Deixamos o silêncio se estabelecer entre nós por alguns minutos.
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  — Posso fazer uma pergunta? — Me pronunciei.
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  — Diga.
  — Qual foi o motivo da bebedeira? — Estava curiosa.
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  Na maioria dos casos, ou foi traído, ou traiu, ou perdeu o emprego, ou foi expulso de casa pelos mais. Ele respirou fundo, parecia escolher as palavras ou refletir internamente sobre o assunto.
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  — Se não quiser dizer, vou entender, é um assunto particular. — Me adiantei em não o deixar desconfortável com minha mania curiosa.
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  — Obrigado por entender. — Ele manteve o tom baixo, sempre mantendo seu rosto escondido das pessoas em volta.
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  Aquilo me intrigava de uma forma. 
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  Os dias seguiram com minha rotina louca de acordar cedo, correr para não perder o ônibus, assistir aulas, interagir nos dois clubes, fazer os trabalhos e ainda ter tempo para diálogos profundos com Lewis sobre diversos assuntos. Uma coisa que descobri, é que seu assunto favorito era carros de corrida tanto quanto o meu era história da arte. Seus olhos brilhavam quando mencionava que Ayrton Senna, um brasileiro, era seu corredor de Fórmula 1 favorito. Interessante, que aquilo era o máximo que eu conhecia do esporte, que um brasileiro tinha se destacado e era muito famoso mundialmente.
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  Sábado ensolarado e eu convidei Lewis para dar uma volta pelo parque Shinjuku. Deixar um pouco de contemplá-lo pela janela do apartamento e ver de perto como era lindo as árvores de flor de cerejeira na primavera. Ele não gostou muito a princípio e se mostrou acanhado. Mas foi logo eu falar que era o parque mais vazio pela entrada ser a mais cara, que já que se disponibilizou a pagar pelos ingressos. Caminhamos um pouco conversando mais sobre filmes e séries em comum, até que ele parou em frente a uma flor de cerejeira e pediu para tirar uma foto minha. 
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  Mordi o lábio inferior discretamente. Senti o olhar interessado dele em mim. Fiquei receosa por aquilo. Primeiro por ele ser amigo do meu irmão, segundo por com certeza ser bem mais velho que eu. Não que eu tivesse preconceito com homens mais velhos, Matsumoto Jun tinha 36 anos e eu casava fácil com ele. Mas, a questão é que já tinha feito um juramento de jamais ter algum envolvimento com um amigo de Charles. Não queria essa fanfic para minha vida. Após um pedido discreto com o olhar, assenti e fiz uma pose, esperando-o me fotografar.
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  Ele sorriu ao ver como ficou minha foto em seu celular e quando me aproximei para ver, ele não deixou. Fiquei indignada e tentei tomar o celular de sua mão, iniciando um pega-pega divertido pelas árvores. Quando finalmente paramos de correr, ele me entregou o celular em risos e ficou me observando avaliar a foto.
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  — Ai, estou tão descabelada. — Resmunguei olhando. — Vou apagar isso.
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  — Não. — Ele tirou o celular de mim — Está perfeita.
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  Eu não tinha visto aquele olhar intenso dele para mim. Mas quando notei, meu coração acelerou um pouco. Foi em um piscar de olhos que Lewis me beijou de leve com suavidade. Minha mente fundiu a princípio, mas aos poucos retribuí o beijo.
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  — Acho melhor não prosseguirmos com isso. — Disse voltando à minha sanidade e me afastando dele. — Você é amigo do Charles e amigos do irmão são território proibido.
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  Disse com segurança.
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  — Me desculpa, não deveria ter feito isso. — Seu olhar ficou envergonhado.
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  — Tudo bem, já passou. — Disse forçando um sorriso sereno.
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  Passou nada. Internamente eu estava com o coração em ritmo de Firework da Katy Perry. Respirei fundo e dei um passo para seguir em frente. 
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  — Vamos continuar? Tem um lago aqui que é maravilhoso. — Perguntei.
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  — Claro.
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  Ele deu um sorriso fechado e me seguiu. 
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  Tudo estava razoavelmente tranquilo. Até que na manhã seguinte ligaram para Lewis, causando sua partida repentina. Eu havia ficado intrigada e chateada, pois tinha reservado aquele domingo para fazer strogonoff de frango com batata palha caseira, receita de família. A razão de sua partida veio com uma mensagem no whatsapp de Michimiya com uma foto minha beijando ele no parque, sendo postada em vários sites e páginas do facebook.
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  — O que? — gritei com Charles no meio da sala quando ele me contou quem realmente era Lewis Hamilton. — Como você pode trazer um piloto famosos de fórmula 1 para cá e não me dizer nada?
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  Estava mais do que indignada com ele.
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  — Eu te perguntei como você não reconheceu ele, lembra? — retrucou.
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  — Não sou obrigada a decorar a cara de cada famoso que existe, se você conhece, me fala, oras. — Coloquei a mão na cintura raivosa.
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  — Eu tentei falar, uai.
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  — Uai nada. — Mantive meu olhar sério.
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  — Como você não reconheceu ele, achei melhor não falar e ele também, assim poderia ficar mais à vontade. — Se defendeu.
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  — E como o conheceu?
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  — No GP do Japão há dois anos, eu fiz um trabalho pela Google em um dos sistemas de corrida da Mercedes. — Explicou. — Viramos amigos, ele tava meio mal naquela época por ter terminado com a menina do Pussycat Dolls, depois da corrida que inacreditavelmente ele ganhou, o levei a alguns bares para se divertir.
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  — E me escondeu isso todo esse tempo? — Cruzei os braços. — Que decepção.
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  — Desculpa, mana, mas era segredo, não podia falar e você nem liga pra F1, então não importava. — Ele deu de ombros.
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  — Mas é claro que importava, agora eu não estava estampada em todos os cantos. — Murmurei.
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  — Não mandei você beijar um amigo meu. E aquela regra que criou? — Ele me olhou desconfiado.
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  — Foi ele quem me beijou e eu me afastei.
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  Seu olhar de desconfiança continuou ali.
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  — Agora não podemos fazer mais nada. — Charles se sentou no sofá e pegou o controle da TV. — Ele voltou para resolver isso.
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  — Foi por isso que foi embora?
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  — E por que mais seria? — Meu irmão me lançou um olhar de: “não é óbvio”.
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  Bufei um pouco e fui para meu quarto.
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  Troquei algumas mensagens com Michimiya sobre o ocorrido, que tentou me consolar ao dizer que também não conhecia o piloto Lewis Hamilton. Desativei minhas redes sociais que já tinham sido descobertas por alguns fãs, coloquei meu canal do Youtube fora do ar e desliguei o celular até segunda ordem. Pelo menos o resto do domingo seria tranquilo, porque sabia que o dia seguinte iria cair em cima de mim. 
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  Conforme o esperado. Segunda-feira foi comigo me esquivando das pessoas que direcionaram seus olhares para mim por onde passava. Com a ajuda de Michimiya despistei paparazzi incômodos que me seguiram pelo campus. Até as aulas foram desconfortáveis com os cochichos e indiretas de todos. Passei a ser denominada “a caloura que quer se destacar usando o namorado famoso”. Que estresse, ele nem era meu namorado. Pior foram os comentários de julgamento dizendo que ele era 15 anos mais velho e eu queria dar o golpe do baú. Se ele tivesse 80 anos eu até concordaria.
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  — Estou cansada disso. — Gritei ao entrar em casa fechando a porta bruscamente. — Não aguento mais esse povo falando de mim o dia todo, me olhando como se eu fosse uma golpista ou coisa pior.
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  — Calma, . — Charles veio até mim e me abraçou. — Não se preocupe, uma hora esse povo esquece de você e te deixa em paz. 
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  — Tomara. — Bufei. — Estou cansada de sair de casa com capuz na cabeça.
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  Estava mesmo, mas não tinha o que fazer.
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  Os meses foram passando e discretamente eu acompanhava os passos de Lewis na Fórmula 1 pela internet. Cheguei até a ver algumas de suas corridas. Aos poucos e inusitadamente, estava gostando do esporte e começando até mesmo a torcer pelos rivais dele só de raiva. Neste tempo, ele deu algumas entrevistas sobre o nosso ocorrido no parque, dizendo que eu era apenas a irmã de um amigo e para os paparazzi me deixarem em paz. Quando questionado o beijo, ele não declarava nada. 
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  Nem mesmo uma mensagem de desculpas ele teve coragem de me mandar. O silêncio entre nós se arrastou por um tempo. Até que eu consegui por indicação da professora François, um estágio na revista Vogue Japan, no departamento de editoriais de moda. Eu era o capacho da redação, mas aproveitaria a oportunidade para mergulhar ainda mais naquele mundo. Foi no ensaio fotográfico do outono que levei um choque ao chegar no parque Shinjuku, onde seria a sessão de fotos, e ver Lewis Hamilton sentado em uma cadeira sendo assessorado pelos staffs. Meu corpo gelou assim que seu olhar veio de encontro ao meu.
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  O que ele fazia ali? Na minha cidade? No meu parque? No meu editorial? Na minha revista? Respirei fundo para não surtar. 
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  — . — Akemi, a editora responsável pelos staffs, se aproximou de mim. — Coloque logo seu uniforme e ajude a organizar o primeiro cenário.
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  — Sim. — Assenti me curvando de leve e seguindo para minha função.
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  Tentei ao máximo me concentrar no que fazia. E mesmo com os olhares nada discretos de todos para mim e para Lewis, não me intimidei. 
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  — Pensei que isso já tivesse sido esquecido. — Sussurrei para mim mesma, ao acomodar as almofadas na chaise de bambu estofada com tecido camurça vermelho que compunha o cenário.
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  — Você já esqueceu? — A voz dele soou atrás de mim, me fazendo estremecer.
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  — Desculpe, senhor, deseja alguma coisa? — perguntei mantendo o personagem de funcionária do mês.
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  Não deixaria nada atrapalhar meu estágio, menos ainda meus sentimentos reprimidos.
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  — Você. — Ele foi direto.
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  Engoli seco.
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  — Desculpe, mas não entendi. — Desconversei.
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  — Entendeu sim. — Ele sorriu de canto.
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  — Se não deseja nada, voltarei aos meus afazeres. — Formal, deveria manter a formalidade.
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  — Me desculpe não ter mandado nenhuma mensagem. — Ele foi mais ao ponto, se explicando. — Fiquei com medo de estar com raiva de mim e me ignorar.
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  — Um “me desculpe” já bastaria para aplacar minha fúria. — Voltei meu olhar para ele e cruzei os braços.
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  — Tem certeza? — indagou ele.
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  — O que me deixou zangada não foi o beijo e nem aqueles fotógrafos abutres, o que me deixou com raiva foi ter escondido quem era para mim. — Joguei em sua cara. — O que achou? Que a irmã boba do seu amigo iria se aproveitar da situação para fazer fama às suas custas?
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  — Não, jamais pensaria isso de você. — Seu olhar, mesmo triste, passava sinceridade. — Só não queria te causar o desconforto que está passando agora.
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  — Mentir ou omitir é o pior caminho. — Dei um passo para trás. — Se me dá licença, esse é meu trabalho e não posso errar aqui.
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  Me afastei e segui para o carro dos equipamentos, para avisar ao fotógrafo que o cenário estava pronto. Mantive o máximo de distância possível, focando nas minhas tarefas e não nele, que não conseguia se concentrar com minha presença. Foi até a editora chefe me dispensar da sessão e me dar outra tarefa na redação. Assim Lewis poderia se concentrar mais nas fotos.
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  Após passar a tarde mais entediante na redação, vendo as postagens dos staffs sobre a sessão de fotos. Saindo do prédio da Vogue paralisei ao ver as pessoas todas próximas ao prédio em cochichos e tirando diversas fotos. Meu olhar seguiu mais adiante e Lewis estava encostado em uma Mercedes azul marinho, de braços cruzados como se me esperasse. Como ele chegou ali? Tentei disfarçar, mas os olhares de todos vieram para mim, quando ele se afastou do carro e seguiu em minha direção.
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  — Posso te convidar para um café? — perguntou ele.
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  — Não…
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  — Não recuse, por favor. — Ele segurou em minha mão, me interrompendo. Causando mais fotos e cochichos.
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  — Depende do lugar. — Tentei fazer a difícil.
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  — No Arte de rua. — Disse o nome da minha cafeteria favorita, a primeira que o levei.
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  — É, você me deve mesmo um café. — Dei de ombros e me deixei ser guiada por ele até o carro.
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  Assim que chegamos, descobri que Lewis tinha pedido para o dono fechar o café só pra gente. Com a rotina pesada do trabalho e excesso de trabalhos da universidade, não tinha tido tempo para passar lá e ver as novas artes nas paredes. E bem na nossa mesinha cativa aos fundos, eis que um grafite de nós dois nos beijando em frente a árvore de flor de cerejeira no parque, estava desenhado. Olhar aquilo, fez meu coração aquecer de forma inesperada, me senti até emotiva.
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  — O que? — Nem mesmo conseguia perguntar.
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  — Um amigo de infância meu é artista de rua em Londres, ele veio aqui só para fazer essa arte. — Explicou ele ao segurar em minha mão. —
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  Eu o olhei, segurando meus sentimentos na mão.
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  — Quando te conheci, meu coração estava ferido e pensei que não conseguiria amar novamente. — Confessou ele. — Seu sorriso mudou isso, a forma de agir comigo me fez ficar ainda mais curioso pela garota que não sabia quem eu era.
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  — Lewis… — sussurrei.
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  — O momento dessa imagem foi o melhor da minha vida desde que ganhei minha primeira corrida. — Revelou com os olhos serenos e fixos em mim. — Nunca havia sentido por alguém o que sinto por você, mesmo não querendo me ver ou se distanciar do amigo mais mentiroso do seu irmão.
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  — Pare de dizer essas coisas. — Pedi. — Jamais daria certo, você tinha 15 anos quando eu nasci.
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  Os que argumento mais esfarrapado que eu usei. Nem eu acreditava nisso.
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  — Mesmo que não dê certo, nos deixe tentar? — Seus olhos transpareciam seus sentimentos verdadeiros e profundos. — Me deixe amar você.
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  Eu me segurei? Não. Tentei fazer a difícil comigo mesma. Entretanto, quando me dei conta, meus lábios já estavam encontrando os dele, de forma sublime e doce. 
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  Deixando a intensidade por sua conta.
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Não importa cada noite que esperei
Cada rua ou labirinto que cruzei
Porque o céu tem conspirado a meu favor
E a um segundo de render-me te encontrei. 
– Creo en Ti / Reik

  “Recomeço: Quando achamos que o coração em ruínas, levante-se pois o amor sempre encontra forças para lhe fazer continuar.” – by: Pâms.

Fim

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Lelen
Admin
2 anos atrás

AI, GENTE, TOKYO, NÉ?

Amo, coisa mais linda essa cidade <3

Sei de NADA sobre Fórmula 1, maaaas, esse Lewis ficou tão fofo que eu quero um pra mim e já até me convenci que gosto de F1 sim KKKKKKKKK


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