The Time Lord’ Chronicles – The Girl In The Mirror
O Doutor encarava o espelho com expressão pensativa, já fazia um bom tempo que aquela imagem o incomodava. Não o seu reflexo em si, mas algo mais, algo que o estava deixando louco, mas era um algo invisível… E isso o deixava ainda mais louco.
- Pode parar de olhar seu reflexo por um segundo? – Kaira reclamou pedindo atenção, já era a terceira vez que falava sobre a mesma coisa e o Doutor não a ouvia.
- Desculpe, desculpe. O que dizia? – perguntou, ainda sem tirar os olhos do espelho a sua frente.
- Não, sem chances. Não vou repetir mais uma vez para você me ignorar de novo. – A moça fez bico sentindo-se um pouco chateada pela falta de atenção.
- Ora vamos, Kaira! – o Doutor exclamou finalmente virando-se para encarar sua amiga e companheira de viagens. – Não vou ignorá-la!
O homem viu a garota fazer bico mais uma vez enquanto suspirava e se dava por vencida.
- Dizia que Adele vai ter um troço quando descobrir sobre Arthur.
- Desculpe, o quê? – o Doutor perguntou com sua expressão mais inocente. – É brincadeira! É brincadeira! – apressou-se a dizer ao perceber o olhar mortal que sua colega lhe lançava. – Onde está Arthur? – perguntou querendo mudar de assunto.
- Provavelmente explorando a procura de algo perigoso e explosivo… – Deu de ombros.
Arthur era o irmão gêmeo de Kaira, embarcara de carona nas aventuras da irmã, tudo para fugir do exército e isso há três anos. Fazia três anos que aquele trio viajava no tempo e espaço visitando novos planetas e tempos históricos, às vezes metendo-se em encrencas e perigos; mas estavam com O Doutor, não havia nada que ‘ele’ não pudesse fazer.
- É melhor sairmos correndo! – Os dois ouviram uma voz berrar logo à esquina de onde estavam.
- O quê? O que houve?! – Kaira exclamou encarando perplexa o irmão se aproximar.
- Acho que os nativos não gostam muito de forasteiros! – exclamou parando de correr para tomar fôlego.
- É claro que… – O Doutor ia se pronunciar quando percebeu a multidão verde correndo em direção ao trio gritando coisas nada amigáveis em sua língua nativa.
- CORRAAAAAAM! – Arthur exclamou e os outros dois saíram correndo para acompanhá-lo.
- Ah, Arthur! O que foi que fez desta vez?! – O Doutor indignou-se sem parar de correr.
- Nada! – retrucou se defendendo.
- CONHEÇO O SEU NADA, ARTHUR MORGAN KENNETH! – Kaira berrou dando um safanão no irmão que estava a poucos centímetros de seu alcance.
- Eu juro que não fiz nada!
- Apenas calem a boca e entrem! – o Doutor exclamou já com a porta da TARDIS aberta, apenas esperando que seus dois companheiros entrassem.
- Mas será possível que não teremos paz em nenhum planeta ou tempo? – Kaira perguntou indignada enquanto tentava recuperar o fôlego.
- O que diabos você fez desta vez, Arthur? Os habitantes de Kendrac são completamente pacíficos! – o Doutor exclamou encarando o rapaz a sua frente com o olhar incrédulo.
- Eu só…
- Nem quero saber e você também não devia querer, Doutor. – Kaira interrompeu o irmão. – Conhecendo Arthur, não dever ter sido nada muito agradável.
- HEY! – Arth protestou armando a carranca.
- Sabe que é verdade. – A garota deu de ombros.
- Ok! – O Doutor interrompeu a futura discussão. – Leve-nos a Kendara, minha garota! – disse mexendo nos controles da TARDIS completamente empolgado.
A cabine azul deu um grande solavanco como sempre acontecia quando o Doutor se empolgava e se esquecia de baixar algumas alavancas e apertar alguns botões. Em poucos segundos estavam sendo transportados no espaço-tempo e a “nave” se estabilizou.
O Doutor andava de um lado a outro do centro da nave onde ficavam os comandos da TARDIS. Ora ou outra apertava algum botão ou murmurava alguma coisa completamente absorto em pensamentos. Kaira e Arthur nada diziam, apenas olhavam a tela de navegação à frente onde se apontavam os anos, as horas, os lugares, a latitude e longitude de onde estavam. Cada número se modificava de forma rápida, sendo impossível acompanhar.
Os três estavam ansiosos a ponto de não se aguentarem mais quando a TARDIS deu mais um de seus solavancos abruptos.
- SEGUREM-SE! – O Doutor alertou fazendo com que seus dois companheiros se agarrassem a primeira coisa que viram pela frente, logo o próprio fez o mesmo segurando-se numa barra de ferro por perto.
Houve um momento de sensação de queda, um frio na barriga típico desses momentos, mais um solavanco e então finalmente pararam, indicando que a TARDIS havia pousado de seu modo mais discreto.
- CHEGAMOS! – o Doutor disse empolgado se endireitando.
- Onde exatamente, Doutor? – Kaira questionou sentindo sua coluna doer ao se endireitar.
- Kendara, um paraíso de…
- Espelhos? – Arthur interrompeu a apresentação ao abrir a porta da TARDIS.
- O quê? – o Doutor questionou erguendo a sobrancelha, indo em direção à porta. – Mas que diabos…? – indagou saindo pela porta da cabine azul da polícia da Inglaterra, observando ao seu redor, sendo acompanhado por seus dois amigos.
O lugar onde estavam não era muito maior que uma sala, ao menos era o que aparentava já que aquele lugar deixaria qualquer um confuso a primeira vista, era um labirinto de espelhos que refletiam uns aos outros.
- Que lugar mais estranho e inútil… – Kaira reclamou voltando-se para a entrada da TARDIS, preparando-se para entrar de volta.
- Não diga uma coisa dessas, Kay. – O Doutor murmurou observando seu reflexo acompanhar seus movimentos. – Todo planeta tem algo a oferecer. – Continuou sem tirar os olhos do espelho, mais uma vez algo o incomodava no reflexo.
- Claro, claro. – A garota revirou os olhos e voltou-se para encarar um dos espelhos a sua frente. Encarou por alguns segundos e então algo a intrigou, parecia que seu reflexo havia se mexido um pouco sem estar acompanhando-a. Kaira chegou um pouco mais perto e então se curvou para a frente analisando melhor seu próprio reflexo, estava se convencendo de que havia imaginado coisas quando seu eu no espelho fez uma careta engraçada, fazendo-a pular de susto sem ser acompanhada pela garota refletida a sua frente.
- AHÁ! – o Doutor exclamou empolgado apontando para o reflexo que gargalhava sem fazer som. – Viu? – O homem sorriu para a garota idêntica à Kaira do outro lado do espelho, a mesma acenou retribuindo o sorriso.
- Mas o que diabos foi isso? – Kay resmungou tentando assimilar as coisas e ao mesmo tempo tentando se recuperar da surpresa.
- Estamos em Glasrow, o mundo dos reflexos! – o Doutor exclamou ainda mais empolgado esfregando uma mão na outra.
- Maneiro! – Ouviram Arthur dizer se divertindo com seu reflexo que agora tinha vontade própria.
- Isso é estranho… – Kaira murmurou aproximando-se um pouco mais do espelho, um pouco desconfiada tocou a superfície do mesmo percebendo ser sólida.
- Você se acostuma. – O Doutor deu de ombros afastando-se um pouco para mirar melhor seu próprio reflexo.
O reflexo dos dois amigos mexiam-se livre e animadamente, mas não o seu. Seu reflexo permanecia imóvel quando devia, não fazia nada que não devesse fazer normalmente. Isso intrigava o Doutor. Ele aproximou-se do espelho oval de corpo inteiro a sua frente e passou a analisá-lo detalhadamente. Foi então que percebeu um segundo reflexo sobreposto ao seu. Era algo leve e quase imperceptível a silhueta misturada a sua. Pôde ver um pequeno sorriso se sobrepor nos lábios de seu reflexo, mas não era o Doutor quem sorria, havia o reflexo de mais alguém ali tentando tomar o lugar de sua imagem refletida.
Aos poucos a fraca silhueta foi ficando cada vez mais nítida. Logo o Doutor do espelho é que se tornou a sobreposição da imagem de uma garota ruiva e miúda que encarava o espectador a sua frente com seus grandes olhos verdes e curiosos. Os lábios da imagem se mexeram tentando dizer alguma coisa, mas nenhum som se fez ouvir.
- Hmm… Doutor? – Arthur murmurou percebendo que algo estranho acontecia com o espelho do Doutor.
- Shhhh! – O homem pediu silêncio concentrado no que a imagem da garota queria dizer.
Arth aproximou-se curioso, assim como Kaira que deixou de lado as brincadeiras de seu reflexo para poder ver melhor o que se passava.
- Eu não consigo entender! – Arthur reclamou depois da terceira vez que a garota ruiva mexeu os lábios numa frase.
O Doutor continuava encarando a ruiva tentando decifrar a mensagem, até que a viu fazer uma careta pensativa e então esticar o braço até onde parecia ser o limite de seu lado do espelho. Usou o dedo indicador para fazer alguns contornos e então depois de concluir o que fazia, soprou o espelho fazendo com que sua aparente respiração embaçasse o vidro deixando a mostra sua mensagem.
- “etnerf ad maias“? – Arth leu sem entender.
- Não, está ao contrário! – Kaira revirou os olhos para o irmão. – Diz “Saiam da frente”… – “Traduziu” a frase, parando abruptamente ao filtrar o significado do que estava escrito, olhou para o irmão e ambos só tiveram tempo de dar um passo para trás antes de uma explosão de luz os cegar completamente.
Quando a imensa claridade finalmente diminuiu, os gêmeos olharam ao redor parando o olhar sobre uma garota ruiva estirada sobre um Doutor atordoado.
Os rostos dos dois estavam bastante próximos quando a ruiva sorriu.
- Olá, sou o Doutor!
Fim
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