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Quiz #005
// O Tema
Encanto tem a finalidade de proporcionar um bem, enquanto a maldição pode estar associada à magia negra para causar uma punição. Qual das duas situações seu personagem estará vinculado?
// O Resultado
Maldição


https://www.tryinteract.com/share/quiz/62d715568adb280018325fff

Esta história não possui capas prévias (:

The Tale Of The Narcissus, The Beast And The Two Faces

CAPÍTULO 1 – Snuff – O narciso e a fera

  O som da goteira era o único barulho audível na minha casa, o qual eu não me preocupei em parar desde que percebi que estava sozinho. O quarto escuro estava gelado e solitário, mas a vontade de abrir as cortinas é tão escassa quanto o meu desejo de enxergar a claridade invadindo a minha visão, trazendo o tão esquecido calor. Para muitos, a vida pode ser como em um conto de fadas, um encanto; para outros, é apenas um ciclo amaldiçoado que aprendemos a sobreviver para que possamos existir. E para mim, como podem reparar, o significado da vida é a segunda opção.
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  O reino de Lorenzo é como qualquer um, porém, há um pequeno detalhe que o diferencia dos demais: as maldições. Surgidas em algum século, as pessoas bradam suas palavras e amaldiçoam as outras, resultando nos amaldiçoados que tentavam descobrir um jeito de se livrar dessa sua característica. Caso estejam se perguntando qual é a minha, eu explico. Não existe um nome certo, tem quem nos chame de “narcisos”; outros, de “fera”. Em algum momento do passado, um antecessor achou que seria incrível agir no impulso, na ganância, na luxúria e sem se importar com os próximos, resultando em um ex amante com coração partido e sede de vingança a amaldiçoá-lo – tendo a maldição sendo passada de geração para geração. Os narcisos, fixados em sua beleza e egocentrismo, perderam a chance de terem suas vidas calmas no momento em que a maldição diz que instantaneamente quem nos olhar, se apaixonará por nós. Basicamente, pessoas normais que não são portadoras de maldições – já que amaldiçoados não são afetados por quem é amaldiçoado – se apaixonariam apenas por nossa aparência, ignorando tudo ao seu redor. Seria como ter um mar de indivíduos atrás de você por puro interesse físico, o que é um saco. Tiveram os que tentaram se libertar, mas nunca deu certo; a condição para quebrar a maldição é que precisamos amar e ser amado verdadeiramente, ao mesmo tempo. Para muitos, pode parecer que é bobeira, contudo, esse assunto é algo delicado para alguns narcisos. É difícil encontrar alguém que goste de você por quem você é, quanto mais alguém que te ame. No entanto, tiveram os narcisos que abraçaram a sua maldição e optaram por viver no meio de falsas promessas, mesmo que isso significasse que o vazio que sentiam permaneceria até que morressem. Somos também chamados de “feras”, não só por conta de rumores que quando não éramos amados, nos tornaríamos uma; porém, por causa do que o vazio causava na gente. O sentimento de estar oco por dentro levava muitos a perderem suas cabeças e o sentido de suas vidas, agindo de formas agressivas. É daí que vem o nosso outro nome.
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  Eu não posso julgar os meus antepassados pela nossa fama, porque, no momento, o vazio é a única coisa habitando em mim.
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  Cassandra Lewis me conheceu há cinco meses, e começamos a namorar semanas após nosso primeiro encontro. Ela era como uma brisa em uma tarde ensolarada, vindo de modo calmo e terno, me acolhendo sem hesitar. A mulher não se importava em andar de mãos dadas mesmo que eu estivesse usando roupas femininas – como parte de evitar um dos efeitos da minha maldição –, e nunca me questionou o motivo de eu usá-las. Soube que gostava de viajar pelos reinos em busca de conhecimento, além de adorar as músicas típicas e de cantar em bares. Seu trabalho atual era como garçonete, e eu sempre ia buscá-la quando seus turnos terminavam tarde; aproveitávamos os momentos juntos para ir a encontros, sempre confiando segredos um ao outro. No dia que eu a contei sobre a minha maldição, Cassandra segurou minhas mãos e sorriu, dizendo que gostava de mim independente da condição que assombrava a minha família. Nossas semanas não podiam ser melhores, até que um certo dia, ela disse que me amava. Depois de algumas doses de vinho, estávamos esperando a comida ficar pronta e Cassandra expôs os seus sentimentos assim, como se estivesse acostumada a falar deles. Eu a beijei, emocionado por ser correspondido, já que eu a amava verdadeiramente há um tempo. Todavia, nem tudo é um conto de fadas.
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  Cassandra não me amava, e nunca me amou. Demorou para eu perceber esse grande detalhe que sempre esteve claro, e eu apenas não o enxerguei. O tão grandioso sentimento não passava de uma ilusão, e eu fui o único a ser deixado a deriva dessa sensação que me atormentava por dentro. Todos aqueles segredos e momentos gravados na minha pele e mente foram embora, me pondo em um lugar onde repensar os meus pecados era inevitável. O ar em volta de mim ainda parece ser uma cela, que cada vez mais vai diminuindo e diminuindo, até esmagar todas as emoções que eu carregava na bagagem. “Se você realmente me ama, me deixe ir!”, eu dizia em todos os sonhos que eu tinha com ela, os quais repetiam as mesmas cenas diversas vezes. Descobri que Cassandra amava apenas a minha aparência; em uma de suas cartas – que eu ainda pressionava nos meus lábios, na falha tentativa de fingir que o sentimento estava ali –, a mulher revelou que a primeira vez que tinha me visto não tinha sido a do nosso encontro, mas sim em um dia que eu trocava de roupa, ou seja, a mulher se apaixonou pelo narciso, e não pelo . É admirável o quanto ela manteve toda a sua narrativa e esteve comigo, e ainda me pergunto o porquê de não ter ido embora mais cedo – não é como se Cassandra não tivesse outras pessoas interessadas em si. Às vezes gostaria que Lewis não tivesse sido minha amiga, para que assim eu pudesse magoá-la da forma como me machucou no final, no entanto, não consigo me levar a culpá-la totalmente. Essa é uma condição que eu tenho que conviver desde que nasci, então, espero que se a mulher ainda se importe comigo, nunca me deixe saber. Prefiro permanecer na ignorância do que ser mantido na ilusão agridoce de que o vazio se tornaria inexistente.
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  Não sei a hora exata que adormeci, mas a noite caía lá fora juntamente da chuva; observei pela janela uma silhueta de alguém, que cantarolava uma melodia tão conhecida por mim. Cocei os olhos, tentando enxergar melhor quem era, e ao me aproximar, ela se limitou a sorrir brevemente, perguntando em seguida:
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  - Até quando ficará solitário, moonchild?
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CAPÍTULO 2 – O narciso, a fera e a duas caras.

  Pisquei os olhos várias vezes, pensando se eu estava alucinando por conta do cansaço. Para chegar na janela do meu quarto, é necessário subir pelas escadas, mas, aparentemente, essa pessoa escalou dois andares pelo lado de fora; a analisei ainda sem acreditar em tamanha loucura, me esquecendo da rápida irritação por ter sido incomodado. Suspirei pesadamente, andando em sua direção e oferecendo a mão para ajudá-la a descer – não que ela precisasse, sinceramente –, e a garota aceitou, agradecendo após pousar no chão em segurança.
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  – Vamos lá: quem é você e por qual razão invadiu a minha propriedade? – questionei sem delongas, a oferecendo um copo de água.
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  – Pelos deuses, você não me reconheceu? – a encarei em dúvida – Moonchild, você é mais desligado do que eu imaginava. Meu nome é , sua colega de trabalho – escutei um risinho abafado vindo dela – E eu não invadi, apenas aguardei ser convidada enquanto uma certa pessoa ficava chorando pelos cantos.
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  – Ha! – joguei meu corpo na cadeira – Não tenho direito de lamentar na minha própria casa?
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  – Oh, é claro que tem! – bateu as mãos na mesa – No entanto, por conta desse fator, o chefe não para de me encher para dar um jeito de te fazer voltar ao trabalho, e estou começando a ter pesadelos por conta de todos os pedidos dele! – a garota massageou as têmporas, visivelmente cansada.
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  – Eu o avisei previamente que não voltaria para o bar, não sei o motivo dessa insistência, e ainda incomodar outro empregado…
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  Levei meu dedo a boca, mordendo toda a pele ao redor da unha, exausto só de ter uma simples conversa. Me afastei do trabalho por não conseguir ter ânimo ou vontade de ter contato com indivíduos, além de que eu sei os efeitos que o vazio podia causar em público, então optei por não me arriscar e nem levar problemas para terceiros – afinal, a fama da família já é grande.
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  – Ei – se abaixou para ficar na minha altura e puxou a minha mão gentilmente, a segurando firmemente –, você tem que assumir a responsabilidade, sabia?
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  – Qual?
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  – A de, mesmo que indiretamente, ser a razão dos meus pesadelos.
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  – E você vai assumir a de invadir uma propriedade privada? – perguntei com a sobrancelha arqueada, achando engraçada a sua feição.
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  – Temos um acordo, moonchild – ela sorriu contente. – O que me diz de fecharmos essa noite com um brinde, e amanhã tentarmos te tirar dessa casa?
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  – Você pode tentar, – virei o rosto, tentando esconder a minha fraca risada.
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  – Desafio aceito, .
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  Sua silhueta estava iluminada pelo luar, e pela primeira vez em meses, estar na companhia de alguém não parecia ser um fardo, tampouco, um incômodo.
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  – Levante-se e brilhe, !
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  Cobri os olhos com o braço e bufei, sem raciocinar completamente bem; as imagens de ontem passavam pela minha mente como um filme, e eu estava a um passo de me arrepender de ter iniciado um tipo de “amizade” com . Quando ela saiu pela janela, disse que voltaria cedo para que pudéssemos aproveitar o dia, contudo, não esperava que a garota escalaria a janela às seis e meia da manhã e abrira todas as cortinas, me obrigando a sair da minha tão confortável cama. Senti suas mãos empurrarem o meu corpo para o banheiro, e a última coisa que vi foi a pegando a coberta para arejar. Depois de quinze minutos, desci para o térreo, já que ela não se encontrava mais no meu quarto. O meu olfato captou um cheiro delicioso, o que me fez automaticamente caminhar até a cozinha, dando de cara com uma pequena de avental tentando alcançar um dos potes na prateleira.
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  – Bom dia – a entreguei o pote e encostei a cintura na pia, cruzando os braços na altura do peito.
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  – Ah, bom dia, ! E obrigada – suas bochechas coraram um pouco, provavelmente por causa do calor. – Deve ser ótimo ser alto; eu adoro a minha altura, porém, há vantagens em não precisar subir nas cadeiras para pegar um tempero.
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  - Acredito que sim – bocejei –, entretanto, eu gosto dessa nossa diferença de altura. Parece que você vai se encaixar perfeitamente nos meus braç…
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  Eu tampei a minha boca no momento que percebi o que ia falar, voltando a mim na mesma hora em que a deixou um talher cair. Por céus, , o que você ia falar para sua colega de trabalho e recém-amiga?
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  – , se for brincar com os meus sentimentos desse jeito, terá que assumir mais uma responsabilidade – não me olhou e continuou a mexer os ovos na frigideira –, mas, se quiser, podemos averiguar a veracidade do seu comentário…
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  Quase engasguei com a água ao ouvir suas palavras, sentindo o meu rosto arder um tanto. A acompanhei e distribui os pratos e talheres, não deixando de sorrir de lado com a sua reação ao nossos olhares se cruzarem.
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  – Não vá se acostumando, e pode se sentir privilegiado por ser o único garoto para quem eu já cozinhei! – empinou o nariz, se mostrando convencida.
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  – Um pouco contraditória, não acha? – impliquei – Me sinto honrado em desfrutar desse maravilhoso café da manhã, senhorita. É sério, está muito bom, – a assegurei que eu estava sendo verdadeiro, pois recebi o seu olhar suspeito. – Se estiver tudo bem por você, farei o nosso almoço na última sexta-feira do mês.
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  – O que tem de especial na sexta?
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  – É o dia que folgamos, não?
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  – Vai voltar ao trabalho? – ela indagou desacreditada.
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  – Tenho uma responsabilidade a ser assumida, e sou uma pessoa de palavra – saboreei o mexido, bebericando o café quente. – Não quero que você tenha pesadelos comigo, ou com o chefe.
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  Meu desejo foi sincero; se fosse para me encontrar em seus sonhos, que pelo menos eles sejam bons e sem reclamações do nosso chefe.
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  O restante do mês correu sem mais problemas, e a sexta-feira havia chegado sem delongas. Eu estava organizando os ingredientes para o almoço, e arrumava a mesa, alegando que me ajudaria assim que terminasse. Desde que Cassandra foi embora, os meus dias eram extremamente monótonos e repetitivos, basicamente monocromáticos. – como comecei a chamá-la –, pouco a pouco, ia colorindo o vazio, me fazendo esquecer de sua existência mesmo que fosse por um tempo curto. Poder distrair a mente e ter a companhia de alguém que é realista o suficiente para vocês dois são coisas que eu não sabia que precisava até começar a andar com a garota, que nas vezes que eu me perdia em memórias dolorosas, me trazia para a vida real com um sorriso. Em uma semana descobri o quão sincera e desajeitada era, mas ela dava o seu melhor no trabalho, sendo a funcionária mais elogiada pelo chefe – e por ter feito com que eu voltasse a ir para o local. Caleb ficou extremamente contente quando me viu, logo me enchendo de afazeres com a desculpa de que deixei o trabalho acumular. Apenas o ignorei e retomei as funções designadas, e para a minha surpresa, não caí como par de ; a minha dupla, por outro lado, era um rapaz que suspirava quando vinha falar comigo, e me pergunto se a garota tinha ciência desse amor platônico do nosso colega.
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  – Oh, o cheiro está tão bom quanto a cara desse ensopado! Acho que não como um desses há anos…
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  – Seus pais não fizeram para você?
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  – Não sei quem eles são – deu de ombros –, e nunca tive alguém que ficasse por muito tempo pra me cozinhar algo desse tipo, de qualquer maneira.
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  – Sinto muito, .
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  – Não precisa, . – ela sorriu fraco, ponderando o que falar – Eu cresci em um orfanato, e a única moça que cuidava com carinho das crianças faleceu devido a uma doença. Era ela quem fazia os ensopados no final do mês, sendo o dia que todos mais ansiavam. Eu devia ter onze anos quando fui amaldiçoada.
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  Observei a garota em silêncio, esperando que continuasse caso sentisse vontade de compartilhar a sua condição. A vi respirar fundo, batendo os dedos levemente no braço, demonstrando com sua feição uma indiferença.
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  – A vida no orfanato depois que a senhora Leslie faleceu não foi fácil, mas era suportável ao ter o apoio das outras crianças que adoravam o fato de eu ler histórias para elas. Ler e escrever não foi um problema para mim; eu sempre aprendi muito rápido, então, sem o conhecimento dos outros responsáveis pelo lugar, Leslie me ensinava. Não demorou para eu me tornar uma pessoa com certa relevância no lugar, sabe? – pausou – Por mais que não fosse fácil, os responsáveis não nos agrediam, porém, também não nos tratavam com carinho ou afeto. Era uma relação mecânica, no entanto, não reclamávamos pelo fato das crianças terem umas as outras. Em uma das visitações, uma família se mostrou interessada em mim, e antes que pudessem assinar a papelada, uma das funcionárias do orfanato começou a inventar várias mentiras sobre mim. “Ela já dormiu com homens mais velhos”, “essa menina sempre responde os empregados, abusa das crianças”, e coisas assim. As crianças, por outro lado, se juntaram para me defender, contudo, já era tarde: a família desistiu de me adotar. Mais tarde, na hora de deitarmos, a mulher voltou e gritou conosco, e eu entrei na sua frente, defendendo as crianças que ela queria agredir. Foi nesse momento que a mulher me amaldiçoou, queimando a metade do meu rosto e bradando que ninguém me amaria por conta disso. Descobri mais tarde que ela sentia um ciúmes doentio de quem ganhava destaque lá dentro, e eu não fui a sua primeira vítima. – virou o rosto na minha direção – O nome da maldição é “Duas caras“, e para quebrá-la, é preciso que a pessoa que eu ame verdadeiramente corresponda na mesma intensidade, o que, obviamente, não aconteceu.
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  Tentei digerir todas as informações, sentindo como se o meu corpo estivesse queimando de raiva; puxei para os meus braços, a abraçando sem pensar em mais nada. A garota retribuiu, apertando o meu tronco e eu afaguei os seus cabelos, em forma de conforto.
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  – Eu sinto muito, .
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  – Não precisa, . Eu me acostumei com isso durante esses sete anos, e não é como se eu não tivesse aceitado a realidade. Uma hora ou outra a maldição terminará. – a sua fala causou uma sensação estranha em mim, entretanto, optei ignorar por agora.
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  – A sua condição se parece com a minha. Na verdade, é a mesma – ri sem humor. – Você já deve ter escutado sobre os narcisos ou feras – ela assentiu –, e para quebrarmos a maldição, precisamos estar em um relacionamento 100% recíproco. E, como pode adivinhar, em todas as gerações da minha família, não teve um sequer que conseguiu se livrar dela. Eu achei que comigo seria diferente, até descobrir que a minha ex não me amava de verdade. Patético, não é? Achar que alguém vai me amar independente da minha aparência.
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  - Não vejo nada de errado em querer amar e ser amado, é algo que muitos sonham. Eu meio que sigo a maré: se um dia acontecer, ótimo. Se não, não tem muito o que eu possa fazer. Eu não sinto o vazio que vocês sentem, talvez seja por isso que sou tão realista… E acabei ficando ansiosa em te ver mal. Não foi somente por conta do chefe que eu vim te ver, mas também pelo meu egoísmo e achismo de que pessoas amaldiçoadas precisam seguir suas vidas, mesmo que tudo esteja uma grande merda.
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  A sua sinceridade não me pegou desprevenido, e eu achei uma graça a forma como ela pôs tudo para fora.
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  – Por que não ajudamos um ao outro?
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  – Hum?
  – Vamos tentar encontrar alguém e chutar essas maldições de nossas vidas, moonchild!
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  – Tem certeza disso?
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  – É uma das coisas realistas que podemos fazer. E não é como se nós dois nunca tivéssemos namorado antes – pontuou.
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  – Muitas pessoas não querem continuar saindo comigo ao descobrirem que sou homem – suspirei, nem um pouco incomodado com isso.
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  – Eu gosto de você de qualquer forma – deu de ombros mais uma vez –, e aposto que teremos mais sorte com outros amaldiçoados, já que as maldições não afetam a eles.
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  – E eu gosto da sua máscara – a respondi, reparando na máscara que cobria a metade do seu rosto. – Faça como quiser.
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  – Combinado, então! – ela estendeu a mão, animada.
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   – Ah, e ? – a chamei – Você se encaixa perfeitamente nos meus braços.
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  A garota jogou um pano em mim, gargalhando com a situação. Almoçamos com calma, conversando sobre vários assuntos e quando anoiteceu, decidimos dar início a sua ideia.
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CAPÍTULO 3 – O narciso, a fera e a duas caras em seu final feliz?

  Sete meses se passaram e hoje completava um ano que eu havia conhecido a Cassandra, e é engraçado pensar que o meu eu do ano anterior estava a mercê do vazio. Agora, ao pensar na minha ex, nada além de indiferença surgia dentro de mim, e isso é graças a uma pessoa que se tornou uma forma de luz na minha vida. e eu viramos melhores amigos em trinta dias, e durante o restante do ano, seguimos mais grudados do que nunca. Aos poucos, eu ia me recuperando do antigo amor, dando espaço a experimentar outros prazeres que as nossas existências nos permitia. Com a sua ideia, fomos a diversos encontros, conhecemos muitas pessoas, e criamos mais amizades e memórias para guardarmos na nossa bagagem. Nos últimos dois meses, com as festividades de final de ano e o aumento na demanda do trabalho, paramos de sair com possíveis pretendentes, e os que mantínhamos contato, não vingaram. Cansados dos afazeres e de tentarmos um amor, optamos por deixar de lado isso, e focamos apenas em estarmos juntos. Entre almoços em conjunto e idas ao parque, percebemos que só não morávamos juntos pelo fato de que sempre estávamos alternando em qual casa dormir, ao invés de virarmos oficialmente colegas de quarto. é uma parte do meu dia que eu não abriria mão por nada, e eu gostava de cada minuto que eu tinha com a garota; ela é o meu tesouro mais especial, e sem a sua presença, eu tenho a sensação de que nada faria sentido. Eu adorava o seu sorriso, e a forma como se envergonhava toda vez que eu dizia que ela se encaixava perfeitamente nos meus braços. É claro que não deixava barato, e tinha a sua resposta atrevida na ponta da língua, entretanto, no final, a gente acabava se abraçando e perdia a noção do tempo nessa posição. Eu podia passar o dia inteiro listando tudo o que eu gostava nela, porém, na vida de um amaldiçoado, nada é um conto de fadas. Cerca de duas semanas que a percebi um tanto estranha, e ao questioná-la, desconversava e garantia que estava bem. A observei de perto, no entanto, a sensação de que a garota tentava se distanciar crescia em mim, e eu não compreendia o motivo.
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  Até que, ao acordar, eu li a sua carta.
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  Suas palavras carregavam uma dor que eu era capaz de sentir ao lê-las, e o conteúdo era o que eu imaginava: uma despedida. As lágrimas rolavam pelo meu rosto, e eu amassei o papel em minha mão, correndo porta a fora. Meus pés me levavam ao único lugar que eu sabia que ela iria antes de partir, e não sei por quantos minutos eu corri, só sei que gritei o seu nome o mais alto que pude ao achá-la.
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  – ? – suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos inchados – Como que você me encontrou?
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  – Isso é importante no momento, ?
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  – Para mim, é. – a garota tentou sorrir.
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  – Tudo bem – suspirei –, assim que você me contar a razão dessa carta, eu explico a minha.
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  Mesmo chorando, sua feição demonstrava que não gostava de perder a briga, contudo, vendo que não havia como obter o que queria sem as explicações, ela começou:
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  – No dia que te falei sobre a minha maldição, eu sei que você se sentiu meio estranho, como se eu escondesse algo. E eu escondi. A minha maior característica é ser realista, e eu não queria te arrastar para o meu barco, que tinha os dias contados para afundar. Eu pensei que antes do naufrágio, eu queria ajudar alguém, e você apareceu, . Nós fomos colegas de trabalho por cinco meses, e eu o vi indo do céu ao inferno em uma só tacada – se afastou. – Quando parou de ir para a loja, tentei arranjar alguma forma de ter algum contato com você, e o Caleb começou a me pedir incansavelmente para te procurar. Eu não queria ser inconveniente, então, demorou alguns dias para eu reunir coragem e subir os dois andares da sua casa. Acabou que no final, eu fui, e por isso, peço desculpas. Mas, você simplesmente estendeu a sua mão para me ajudar a descer da janela, mesmo que eu fosse um incômodo na hora, e eu o enxerguei em uma nova luz. Prometi para mim que eu o faria feliz, independente de ser o meu último desejo.
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  O som das ondas quebrando nas pedras era o único barulho que impedia o silêncio de tomar conta de nossas emoções, molhando nossos pés firmes na areia. Nós dois ficamos parados, e o nó que se formava na minha garganta é quase sufocante.
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  – As pessoas com quem me relacionei iam todas pelo mesmo final, sempre se assustando quando eu mostrava o meu rosto por debaixo da máscara, além de se irritarem por eu não correspondê-las, alegando que eu era duas “s” distintas. Depois de muito pesquisar, decidi que ser realista era a única forma de viver do modo que eu gostaria. A maldição “duas caras” tem uma condição especial, levando os que a possuem a loucura: nós temos um prazo de exatos sete anos para acharmos o nosso amor, caso contrário, iremos desaparecer com o vento. E hoje, , é o meu último dia.
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  – P-por que não me contou? – perguntei com a voz baixa, tentando entender tudo o que me foi dito. Suas palavras se repetiam na minha mente, e eu não podia aceitar que ela estava indo embora.
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  – Eu amo você, – a encarei perplexo. – Eu tenho te amado há meses. E por puro egoísmo meu, eu quis que você só vivenciasse a felicidade… Por falta de coragem, não consegui confessar os meus sentimentos mais cedo, não queria me tornar um peso para você. Não queria ser um empecilho na sua vida, tampouco te privar de conhecer alguém especial e que teria a maior sorte do mundo de ser amada por você. Eu não podia te levar comigo no meu barco, por mais que eu não quisesse soltar da sua mão. Você trouxe o mais lindo dos sentimentos para a minha vida, e eu quero que você continue vivendo uma boa experiência. Me desculpa por ser egoísta até o final, moonchild.
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  – Acho que somos dois idiotas… Sabe a razão pela qual eu te encontrei? – ela negou, um tanto confusa – é a pessoa que eu conheço de todas as maneiras possíveis, que não poderia ter escolhido um lugar mais óbvio para fugir – soltei um risinho abafado –, e que é tão desajeitada que deixou seus pertences espalhados por toda a areia. Não há um dia sequer que eu não pense o quanto eu sou a pessoa mais sortuda de todo o reino em ter a honra de compartilhar os meus dias com quem trouxe diversas cores para a minha realidade, que segurou a minha mão e não teve medo de correr comigo. – entrelacei meus dedos nos seus, encostando nossas testas –, eu amo você. E tenho te amado há meses. Eu não ligo de entrar no seu barco e te ajudar a voltar ao porto, se você me permitir. Eu quero estar ao seu lado para sempre, então, por favor, não vá embora.
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  Senti os seus lábios encostarem nos meus, trazendo um gosto de felicidade e um tanto salgado. Nosso beijo só foi quebrado por precisarmos recuperar o fôlego, e ao nos separarmos, as lágrimas continuavam a rolar. Segurei seu rosto e o beijei por inteiro, até que a garota retirou a máscara, mostrando a sua queimadura.
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  – Posso? – concordou, e eu passei o dedo por toda a extensão delicadamente, depositando mais beijos na região.
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  Não demorou para que, ao invés de , a queimadura começasse a desaparecer, apenas restando uma pequena cicatriz em sua bochecha. A mantive em meu abraço, e ela não fez menção de sair da posição; definitivamente, se encaixava perfeitamente nos meus braços, e eu faria questão de lembrá-la todos os dias que a vida de um amaldiçoado poderia se tornar um encanto.
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Fim


  N/A: Espero que gostem dessa fic curtinha!
  Eu adorei escrevê-la, e adorei os personagens <3
  Beijos e bom halloween!

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