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Temporada #010
Ideia #005

Polaroid
Jonas Blue, ft. Liam Payne and Lennon Stella

Esta história não possui capas prévias (:

Sem curiosidades para essa história no momento!

The Swing Polaroid

Let me tell you how it happened
I wasn’t looking for someone that night
No, I was never a believer
But you could fall in love at the first sight

  — Você vai mesmo fazer isso? — Maybeline me perguntou torcendo o nariz. — É higiênico?
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  — Um anel de noivado não foi a coisa mais esquisita que já me pediram para colocar num drink. — dei de ombros e encaixei a aliança num dos morangos da bebida mais importante da vida de alguém.
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  — Brega. — Dahlia decretou, revirando os olhos. — Não existe nada mais cafona do que pedido de casamento com o anel no champanhe. Se eu fosse ela, eu diria não.
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  Empurrei Dahlia de leve, repreendendo-a. Ela resmungou e roubou alguns morangos que sobraram antes de se afastar para o seu lugar na bancada e entregar o drink ao maître. Dahlia, Maybeline e eu trabalhávamos no Love Shot como bartenders há pouco mais de um ano e acompanhamos o sucesso da empreitada nova na cidade bem de perto: o conceito era um gastrobar refinado e cheio de requinte, mas com uma proposta romântica e um ambiente discreto que atraiu os amantes milionários do Upper East Side. Fomos contratadas numa abordagem calorosa e receptiva pelo próprio dono do estabelecimento, o charmoso , que justificava sua presença constante no bar com o velho ditado “o olho do dono é que engorda o negócio”. Mas tanto eu quanto Dahlia sabíamos que o olho do dono estava também num negócio que começava com “May” e terminava com “beline”.
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  É claro que não foi o interesse do patrão em uma de nós que nos garantiu aquelas vagas. Para mim, preparar bebidas não era meramente um trabalho. Por mais clichê que fosse, eu sempre quis criar experiências, propiciar momentos inesquecíveis na vida das pessoas, harmonizar as conquistas e as comemorações delas com o gole perfeito. Queria participar, ainda que indiretamente, dos acontecimentos marcantes, e ser bartender me permitia o doce sabor de ver a vida dos outros se movendo e se desenrolando.
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  Limpei meus utensílios e chequei o próximo pedido. Felizmente, não havia nenhum, e o baixo movimento daquela noite me permitiu acompanhar a repercussão do champanhe com a aliança de noivado dentro. A princípio, a moça não notou nada de diferente na taça. O rapaz, no entanto, estava rígido e tenso, perdendo a cor a cada pouquinho que a mulher tomava até ela, enfim, chegar ao morango premiado. Quatro ou cinco clientes curiosos repararam quando o estranho ajoelhou para fazer a pergunta de milhões e criou-se uma torcida silenciosa, genuína, pelo tão esperado sim daquele casal de desconhecidos.
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  Continuei observando a cena, até que uma silhueta bem ao fundo do salão se sobressaiu. E o que eu estava vendo ali, sentado sozinho numa mesa intimista, com uma camisa de gola alta e um óculos preto, parecia muito mais atrativo para os meus olhos que o noivado em andamento.
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  A meia-luz me enganou por um momento, mas o que havia por trás das lentes era um belo par de olhos amendoados num semblante fechado. Com o cenho franzido e uma sobrancelha erguida, o rosto que me chamou a atenção acompanhava o evento do champanhe — a moça aceitou, mas o noivo ainda estava tendo dificuldades em limpar a aliança escorregadia para colocar no dedo dela — e ele aplaudiu educamente junto com os poucos presentes, sem esboçar nenhum sorriso ou reação mais enérgica. Era de fato uma figura misteriosa que se confundia com a penumbra quente do lugar e, quando ele puxou a manga da camisa, revelando um pulso nu e uma mão grande e venosa, eu deixei um suspiro involuntário escapar.
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  — Óbvio que ela disse sim. — Dahlia reportou com tédio e eu voltei a mim. — Ele deve ser rico.
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  — Se ele trouxe ela aqui, com certeza ele é. — Maybeline completou. — A clientela do é de platinum card pra cima. — ela corou quando disse o nome.
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  — Ou vai ver, num plot twist inesperado, eles se amam, né? — sugeri e recebi um pedido de outra bebida.
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  — Claro, . Porque no seu mundinho açucarado tudo tem que ter um final feliz e todo mundo tem o amor perfeito.
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  — De amarga basta a vida, Dahlia. — repeti a frase de sempre para a minha amiga. — E essa cachaça coreana que acabaram de me pedir.
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  — Com certeza foi o enjoadinho lá atrás. — Maybeline observou, apontando o cara de gola alta que eu estava admirando há pouco. — Qual é a dele com essa cara de quem comeu e não gostou?
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  — Ele tomou um bolo. — sentenciei, pegando a garrafa de soju.
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  — Quem disse? — Maybeline agravou a expressão.
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  — O ambiente, amiga. — continuei. — A mesa é para duas pessoas, ele ainda não pediu nada para comer, não para de olhar o relógio e o celular…
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  — Coitado. — Dahlia balançou a cabeça. — Por que será que ela desistiu?
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  — Porque ela deve ser cega ou doida. — entreguei a dose de soju ao garçom. — Ele é uma delícia! — arrisquei mais uma olhada. — Queria embalar ele no papel alumínio e levar pra comer em casa…
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  — Já tem um tempão que ele tá de molho aí, deu pra entender que ela não vai aparecer, não é? — Dahlia espiou.
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  — Ele vai esperar. — decretei convicta.
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  — Você é fora da casinha. — Maybeline me provocou. — Aposto que ele vai embora em cinco minutos.
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  — Eu aposto que ele espera uma hora. — ponderei mais um pouco. — E meia.
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  — 50 pratas? — as duas disseram em coro, erguendo as sobrancelhas para mim.
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  — Feito.
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  A dose chegou ao seu destino, foi recebida com uma reverência e entornada de uma só vez, obrigando o belo moço a arquear o pescoço comprido e alvo, que ficaria ainda melhor com a marca do meu batom vermelho nele. Ao bater o copo na mesa e estalar a língua, o rapaz fez um gesto, pedindo mais uma e orientando ao garçom que deixasse a garrafa dessa vez. Sozinho com um vidro esverdeado e um rótulo em coreano, ele aguardou algum tempo, levantando os olhos castanhos para a entrada e para o bar, sem esperança. Esfregou as coxas, puxando a calça social, pagou pelo soju do qual restava menos de um terço e preparou-se para ir embora, já esquadrinhando a chapelaria em busca do seu casaco.
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  Maybeline e Dahlia me olharam de soslaio, vitoriosas, e eu conferi no relógio de parede que ainda restavam longos quarenta minutos para que eu ganhasse a aposta.
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  — Inferno! — resmunguei entre dentes. — Lá se vão meus cem dólares.
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  Os passos dele foram aumentando e, quanto mais ele se aproximava, mais eu precisava olhar para cima. Ele era alto. Absurdamente alto. Com aquela quilometragem de perna, logo ele apanharia o agasalho e se mandaria do Love Shot me deixando 100 dólares mais pobre e 100% mais triste por sequer saber o seu nome. E esse segundo cenário foi o que mais me incomodou e me impeliu a descolar do balcão de granito preto contornado por leds vermelhos.
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  — Boa noite! — me meti na frente dele, que se freou bruscamente a centímetros de mim. Era perto o suficiente para eu ver a textura da malha grudada no peito, pequenos padrões de losangos e linhas, e para sentir um cheiro marcante que eu não soube decifrar. — Sou a . Lewis. Eu trabalho aqui. Como estava o seu soju?
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  Os lábios finos dele permaneceram contraídos, evidenciando um nariz que, por algum motivo, eu tive vontade de apertar e morder na hora. As sobrancelhas uniram-se mais um pouco numa reação de estranhamento à minha abordagem repentina e ele me respondeu com uma voz grave que me fez tremer na base.
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  — Ahn… Boa noite. — ele deu um discreto passo para trás e enfiou as mãos nos bolsos, recuperando-se da minha intromissão. — Estava excelente. — outra reverência tímida. — Muito obrigado.
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  Ouvi o rangido dos armários na chapelaria, deduzindo que a recepcionista (que se achava melhor do que nós por trabalhar de salto e ter preenchimento labial) já tinha identificado o casaco do bonitão de saída. Me ocorreu uma ideia maluca para fazê-lo ficar e eu adoraria dizer que a minha cara de pau foi motivada pelo dinheiro, mas, na verdade, ela foi movida por um único e forte pensamento:
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  O nome, porra! Não deixa ele ir embora sem pelo menos dizer o nome!
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  — Me desculpe o mau jeito, é que… — me coloquei diante dele, obedecendo a ordem impulsiva do meu cérebro e detendo-o outra vez. — Eu acabei de ser contratada e eu queria muito praticar algumas bebidas que eu aprendi. — menti. — Você se importaria em me servir de cobaia para alguns drinks por conta da casa? — dei meu sorriso mais profissional. — Prometo não ofender o seu paladar nem tomar muito do seu tempo.
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  A boca pequena e rosada abriu um círculo, procurando o que dizer. De fato, a proposta soava um tanto esquisita, mas ele era educado demais para se recusar a ajudar. Ele olhou por cima do meu ombro e ergueu a mão, sinalizando para a recepcionista que não mais precisaria do casaco, e um sorriso de satisfação formou-se no meu rosto quando ele prontamente me seguiu até o bar, meio desconfiado.
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  — Vamos continuar com o soju, mas vamos variar, certo? Vou misturar um com cerveja e um com soda e você me diz qual ficou melhor. — expliquei, assumindo meu posto na bancada enquanto ele tentava caber na banqueta. — Mas, primeiro, precisamos forrar o seu estômago. Eu estive observando e percebi que você ainda não comeu.
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  — É. O bolo que eu tomei não era comestível. — ele sorriu contido, sem mostrar os dentes.
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  — Sinto muito. — quis confortá-lo tocando a mão dele e desisti.
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  — Obrigado, mas não precisa. Eu nem a conhecia, só vim porque um amigo arranjou e insistiu muito…
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  — Então você deveria pedir algo para comer e colocar na conta do seu amigo.
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  — Ótima ideia. — ele falou com naturalidade, tirando a carteira e as chaves do carro bolso. — O dakgangjeong daqui é muito bom.
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  Anotei o pedido do frango ao molho agridoce apimentado e encaminhei o papel para a cozinha (só com o número, o nome original tinha letras demais e eu não sabia direito o lugar delas). Separei a soda de maçã verde e uma cerveja bem forte em seguida, começando a preparar os drinks dele. Imaginei que apenas um ou dois seriam suficientes para embriagá-lo e fazê-lo ficar os quarenta minutos de que eu precisava para ganhar a aposta.
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  Mas se ele quisesse ficar ainda mais, eu não me importaria.
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  — Você já conhece os pratos. — entreguei a primeira dose, feita com a soda. — Então não é sua primeira vez aqui?
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  — Esse amigo me convidou para a inauguração há três anos, e eu vim mais uma vez alguns meses depois, numa confraternização do estúdio. — ele me respondeu depois de virar o shot, apoiando os cotovelos no granito e ficando mais à vontade aos poucos.
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  — Estúdio? — perguntei para me distrair dos dedos dele entrelaçados à altura do queixo, com o indicador desenhando a própria boca. — Você é modelo?
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  — Não… — ele balançou a cabeça. — Você é a observadora, o que acha?
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  — Bom, de primeira, eu achei que você era professor de Literatura. O óculos e a gola alta, sabe? — fiz uma linha em volta do meu pescoço. — Mas agora eu notei que tem um berloque de máquina fotográfica no seu chaveiro, então…
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  — Sim. Fotógrafo. — ele me devolveu o copo e cruzou os braços sobre o peito. — Um com cerveja, por favor.
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  — Parece interessante. — preparei e empurrei a segunda dose na direção dele, tentando fazer o assunto render. — Fotógrafo de gente ou de paisagem?
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  — De gente, de paisagem, de comida… — ele tomou e lambeu os lábios. — Uma vez eu fotografei um catálogo de bebidas para um restaurante.
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  — Você cobra muito caro? — brinquei. — Ia ser legal ter um ensaio das bebidas que eu preparo. Já faz mais de um ano que eu trabalho aqui e nunca consegui tirar uma foto decente…
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  — Mais de um ano? — ele arqueou uma sobrancelha e me encarou com um meio sorriso enigmático. — Você disse que tinha acabado de ser contratada. Não é por isso que está me usando como cobaia?
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  Congelei, apertando os dedos na lata suada da soda. O desespero por ter sido pega em flagrante paralisou meu fluxo de pensamento e eu não conseguia elaborar uma mentira rápida para encobrir a anterior. Sorte a minha, o frango ficou pronto em tempo recorde e eu agradeci em silêncio por aquele milagre culinário que eu esperava que desviasse a atenção dele da minha gafe.
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  — Ah, . — o rapaz manuseou os palitos de metal facilmente, misturando mais os cubos da carne ao molho. — Você estava indo tão bem. Eu nem estava sentindo o tempo passar. — ele olhou o relógio. — Quanto ainda falta?
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  — Falta pra quê? — enchi um copinho de soju puro e tomei. A cachaça me ajudava a raciocinar. E a disfarçar meu nervosismo quando ele falou meu nome.
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  — O amigo de quem eu tanto falo é o . — ele revelou sua relação com meu chefe. — Não tenho tanto tempo para visitar o negócio dele, mas nos vemos frequentemente. Ele me fala muito sobre as bartenders e sobre o quanto vocês, digamos… — ele escolheu um pedaço de frango e mordeu. — …gostam de fazer jogos envolvendo os clientes.
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  — Não acredite nele. — meu espírito retornou ao corpo com a bebida. — Um patrão tende a reclamar dos funcionários, sabia?
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  — Pelo contrário. Ele fala das três com bastante carinho e respeito. E ele acha esse negócio das apostas bem engraçado.
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  — Bom, então só me resta me desculpar e aceitar minha derrota. — preparei mais um shotpara ele, cogitando fazer mais forte para que ele esquecesse aquilo tudo.
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  — Quanto você apostou? — ele quis saber antes de entornar o líquido.
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  — Não tem importância. — murmurei, envergonhada. Ao contrário do que a cara fechada sugeria, o fotógrafo era perfeitamente simpático e agradável. Além de muito bonito, é claro.  
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  — Quanto, ? — insistiu, cantando meu nome novamente.
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  — 100.
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  — Dobre. Eu fico.
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  — O quê? — perguntei, confusa. Qualquer outra pessoa bateria os pés e sairia ofendida.
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  — Eu vou ficar aqui pra você ganhar a aposta.
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  — Por quê?
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  — Porque conversar com você foi a melhor parte da minha noite.  — a declaração, acompanhada de um sorriso ilegível, me causou uma satisfação estranha.
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  — Eu aceitaria o elogio, mas você não conversou com mais ninguém hoje.
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  — Touché. — o rapaz deslizou o copo vazio pelo balcão, pronto para a próxima dose, e o olhar dele, que se demorava em mim, começava a dar sinais de sonolência. — Puro agora, por favor.
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  — Já que você se dispôs a me ajudar, vamos continuar conversando para o tempo passar mais rápido. — atendi o pedido. — Me fale mais sobre você. Se lembra da primeira foto que tirou?
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  — Lembro. — ele bebeu. — A garotinha no balanço.
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  — Garotinha no balanço? — sorri. O álcool estava começando a soltar a língua dele.
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  — É uma história de amor antiga…
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  A voz dele saiu arrastada, mas ainda numa cadência que era, de algum modo, sensual. Ele estreitou mais a vista, me estudando ou tentando vencer a ardência do sono. Era difícil saber. Os olhos dele, como tudo que o compunha, levantavam mais perguntas do que respostas. E eu já estava ficando mais do que envolvida.
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  — Eu gosto de histórias de amor antigas. — me debrucei mais um pouco, esfregando a bancada com um pano de copa como faziam nos filmes. — Vamos lá, abra o livro.
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  — Quando eu era criança… — ele soluçou fofo por causa do soju no meio da frase. — …eu ganhei minha primeira máquina fotográfica. Só tinha 12 poses no filme, eu não usei todas até hoje, acredita? Meu pai me disse que eu tinha que escolher bem as fotos que eu ia tirar, já que eram tão poucas. Que eu tinha que tirar fotos das coisas mais bonitas que eu visse na vida.
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  — Então você foi lá e fotografou a garotinha do balanço. — enchi o copo outra vez.
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  — Ela usava um vestido de estrelinhas. — o rosto dele se iluminou e ele bebeu. — E ela estava no balanço. Eu já disse isso?
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  — Algumas vezes.
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  — É que o balanço estava sempre lotado… Eu nunca conseguia brincar. — ele fez um beicinho triste que eu tenho certeza que saiu sem querer. — Então eu tirava fotos. E aí eu tirei uma foto dela. A câmera era instantânea, aquelas fotos que precisam agitar pra revelar, sabe? Po… po…
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  — Polaroid?
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  — Isso! Eu esqueci o nome… Quantos desses você me deu?
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  — Só dois. — menti e abasteci o copo.  Ele estava quase pegando no sono.
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  — Me dá mais um, então. — ele tomou antes que eu terminasse de servir, já levemente descoordenado. — Você é linda, sabia, ? Você quer cair somigo? — ele balançou a cabeça, atrapalhado, e riu pela primeira vez. Foi lindo. Os olhos quase sumiram e o nariz franziu. — Eu troquei as letras. — ele gargalhou. — Eu quis dizer se você quer sair comigo.
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  — Eu quero, mas preciso saber o seu nome. — segurei a risada e virei para pegar uma garrafa de água para o bêbado.
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  — . — outro soluço. — .
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  “ ”, repeti, achando bonito. Ia perguntar mais coisas, mas, quando me voltei para ele, encontrei um homem enorme deitado sem jeito e sem conforto algum na minha bancada. O rosto amassadinho descansava no antebraço, as pernas cruzadas ficaram para fora do assento e, indiferente ao descômodo, ele dormiu derrotado pelo soju.
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  — Você apagou o cara? — Dahlia aproximou-se, cochichando. — O que tinha nesses drinks, sonífero?
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  — Não vale, ! — Maybeline juntou-se a nós. — Você enfiou uns 15 shots na fuça dele, de estômago praticamente vazio, ainda por cima.
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  — Tomou porque quis. Olha só pra ele, é bem grandinho, sabe se cuidar. — me defendi.
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  — Você é quem pensa.
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  A fala veio de , num tom de repreensão muito mais brincalhão do que qualquer outra coisa. O patrão, na sua jaqueta de couro legítimo e calças apertadas, tinha um tratamento descontraído e amigável com todos ali. Para algumas pessoas, no entanto, aquela simpatia toda não era apenas uma cortesia da sua boa educação e, quando ele lançou seu sorriso galante revelando uma covinha, Maybeline derreteu no lugar dela.
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  — Eu não posso deixar esse bebezão sozinho nem mesmo num encontro… — suspirou, batendo de leve nas costas do amigo, que permaneceu adormecido. — Cadê a garota?
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  — Não apareceu. — dei de ombros, brincando com a caneta.
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  — Quantas ele tomou?
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  — Perdi as contas. — observei as garrafas vazias. — Eu continuei servindo shots no automático enquanto conversávamos, achei que quando ele não quisesse mais, ele ia me dizer.
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  — só tem tamanho e cara de mau, . — riu, coçando a pontinha da orelha. — Ele aceitaria até pedra se você oferecesse. E ficaria até amanhã tentando comer.
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  — Bom saber. Na próxima vez que ele vier, eu vou apostar bem mais alto.
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   acertou delicadamente a minha mão, fazendo a caneta que estava nela ir parar na sua, e rabiscou um endereço num guardanapo:
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  — Coloca ele num táxi pra mim? — me pediu com olhos que eu julgava inocentes até saber o que ele fazia com a Maybeline na adega. — Eu queria deixá-lo em casa, mas eu tô de moto.
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  — Põe ele na garupa, ué. — cruzei os braços.
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  — Eu tenho um compromisso… — ele mirou Maybeline rapidamente.
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  — É muito importante esse seu compromisso? — sondei, aproveitando a oportunidade. — Quanto, mais ou menos?
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  — Mercenária. — ele murmurou, vencido, e mexeu no bolso de trás para tirar a carteira.
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  — Sobrevivente. — corrigi e enfiei as notas que ele me deu no sutiã. — E vem comigo até lá fora, eu não posso com ele. O seu compromisso vai ficar te esperando aqui, não é, May?
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   soltou um ronco alto e eu recebi uma careta de como resposta. Chamei a recepcionista enjoada e pedi que ela adiantasse o táxi enquanto fazia o trabalho pesado de levantar o conjunto de músculos que o amigo era, passando um dos braços malhados dele pelo seu pescoço e indicando que eu fizesse o mesmo do outro lado. Caminhamos com alguma dificuldade até a calçada fria, onde um carro já nos aguardava, e resmungava coisas sem sentido apoiado em nós dois, se deixando guiar.
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  — Se eu vim até aqui com você, por que eu tô te pagando? — reclamou quando o motorista do táxi abriu a porta traseira e ele sentou o amigo, afivelando o cinto nele.
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  — Porque carregar clientes embriagados daqui pra fora não está na minha descrição de cargo. — arrumei as pernas de dentro do veículo.
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  — … — analisou dormindo profundamente com a boca pequenininha formando um bico adorável. — Vai com ele.
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  — Por que eu faria isso, chefinho? — me apoiei na porta ainda aberta.
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  — Porque aqui tem mais uma nota de 50, por isso. — ele bufou divertido antes de alcançar a carteira outra vez. — Sorte a sua que eu gosto de você.
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  — E da minha amiga. — arrematei. — Vou buscar minha bolsa e o casaco e venho escoltar o seu bebê.
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  — Use a digital do polegar direito dele para abrir a fechadura eletrônica. — me orientou. — E cuidado com o , é  o cachorro do . Mas ele só vai pular em você e te lamber.
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  — Alguma chance de o dono dele fazer isso também? — pisquei.
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  — ! — deu risada.
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  — Fica tranquilo, eu não vou avançar no bonitão. — comecei o caminho de volta para o Love Shot para apanhar minhas coisas. — No pior dos cenários, eu pego a carteira e esse puta relógio dele e deixo ele largado em alguma sarjeta.
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   rolou os olhos e eu entrei rapidamente, me despedindo de Dahlia e Maybeline e aproveitando que a recepcionista estava de costas para mostrar a língua para ela. Voltei para o táxi, calculando mentalmente como eu faria para carregar os quase dois metros de casa adentro sem a ajuda do meu patrão, e fui recebida com os braços dele cruzados e uma cara de reprovação.
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  — Você não ia pegar a bolsa e o casaco, Lewis? — ele balançou a cabeça.
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  — Era, mas eu esqueci o casaco. — respondi sem ter tempo de outra ação, porque livrou-se da jaqueta de couro e a colocou sobre meus ombros.
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  — Cuida bem do meu amigo, tá?
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  — Cuido. Não como você vai cuidar da minha amiga, mas cuido. — entrei no carro e o taxista partiu.
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   morava numa boa casa, condizente com a sua condição profissional, mas bem bonita e ampla, num bairro residencial fofo. O motorista, um poço de amabilidade com quem eu tagarelei a viagem toda, me ajudou a descer o belo adormecido que, com muito esforço, conseguiu ficar em pé sozinho, totalmente aéreo àquela movimentação de estranhos bem na porta dele.
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  — Você tá encrencado, rapaz… — o gentil taxista advertiu. — Que coisa feia sair com a namorada e encher a cara desse jeito!
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  Eu desmentiria o namoro, mas seria complicado demais explicar porque eu tinha passe-livre para entrar na casa de um solteiro inconsciente sem causar suspeitas que eu não tinha tempo de esclarecer. Aceitei o grato papel que me foi designado e abracei pela cintura, que era fina demais em comparação ao trapézio largo e o peito alto.
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  — Vem, amor. — apoiei os passos dele como uma criança aprendendo a andar. — Eu vou te colocar na cama.
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  Paga a corrida, agradeci ao bom senhor e cambaleei com meu “namorado” até a porta, fazendo conforme me avisou. Assim que o trinco destravou e liberou nossa entrada, o segundo aviso do meu chefe veio correndo em nossa direção e pulou no dono dele primeiro.
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  — ! Que saudade! — soltou-se de mim e abaixou-se para cheirar o cachorrinho.
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  O homem que tinha a altura de um poste de luz, os músculos de um ator da Marvel e o semblante mais impenetrável e intimidador que eu já tinha visto na vida era, simplesmente, dono de um bichon frisé — embora parecesse mais que o bichon frisé fosse o dono dele. , o verdadeiro proprietário da casa, deixou de lado para me farejar com o focinho úmido, um pouco confuso pelo cheiro de em mim e pela jaqueta do melhor amigo dele no meu corpo. Fui aprovada na inspeção canina com uma lambida generosa e enfim entendeu seu paradeiro.
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  — Como eu cheguei em casa? — ele perguntou mais para do que para mim. — Cadê o ?
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  — Tá vindo. — abracei o tonto alto outra vez. — Por que você não espera ele deitadinho lá no seu quarto, hein? Vem, , me mostra onde eu estaciono o gostosão.
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  O cachorro estava em melhores condições de me compreender do que e eu segui pelo corredor, que acendia as luzes por um sensor de movimento. Chegamos ao quarto dele e eu vi uma cama king size de lençóis brancos bem arrumados com algumas fotos espalhadas, que pareciam importantes demais para serem amassadas. Encostei numa das paredes e recolhi a pequena bagunça para que ele deitasse, mas quando terminei, ele não estava mais onde eu tinha deixado.
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  — Eu fiquei preso. — surgiu atrás de mim rindo com a voz abafada pelo tecido grosso da gola alta, que enganchou no rosto e nos óculos dele.
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  — E quem te mandou tirar a roupa? — censurei, mesmo sabendo que não adiantaria. — A gente nem saiu pra jantar e você já quer ficar pelado?
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  Ajudei a se livrar da peça, tentando administrar todos os maravilhosos detalhes daquele tronco nu, alvo, marcado e dividido em músculos demais. Passei a gola apertada cuidadosamente pelo rosto dele, mais bonito ainda de pertinho e sem as lentes, e ele ficou me encarando enquanto eu tentava convencer meu coração a bater no ritmo certo e minha barriga a não borboletear com a proximidade daquela pele morna e cheirosa. Toquei os braços fortes, escorregando pelas curvas das veias aparentes e o tomei pela mão, conduzindo-o até a cama, onde ele se deitou sem me dar muito trabalho. Tirei os sapatos dele e o cobri, fazendo um carinho em , que achou também o seu lugar no colchão macio.
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  — É. Eu teria feito isso de graça. — contemplei descansando. — Mas o já me pagou, não é, ?
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  — … — chamou o amigo num espasmo de sono. — Não me deixa beber demais, tá? Eu vou sair com a amanhã.
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📷🍷

  — Como eu estou? — perguntei para a tela do meu tablet dividida em três frames.
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  — Gata! — Dahlia respondeu e May fez um joinha.
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  O espelho e minhas duas melhores amigas não estavam mentindo, no entanto, por mais bonita que eu estivesse, não conseguia evitar o nervosismo. Por que eu estava tão nervosa, afinal? Por que ele tinha um semblante indecifrável que me confundia e me incitava, mas, ao mesmo tempo, era um bebezão? Por que eu queria descobrir se ele beijava tão macio quanto me tocava? Porque eu estava doida para saber se os rumores sobre caras com nariz grande eram verdadeiros?
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  Sim. Para todas as perguntas. Qualquer coisa relacionada a era um sim fácil para mim.
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  Encerrei a chamada com as meninas e apliquei mais um pouco de rímel, ouvindo em seguida uma batida ritmada na minha porta. Apertei o couro da bolsa e meu salto marcou meus passos na madeira do piso até abrir e dar de cara com um arranjo de copos-de-leite ambulante.
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  — Pra você. — estendeu o buquê branco na minha direção.
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  — Obrigada. Se ao menos eu pudesse ver quem fez esse gesto tão romântico que tapou toda a minha visão… — suspirei para o maço gigante.
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  — Boa noite, Lewis. — ele baixou as flores e me cumprimentou com um braço apoiado na soleira da porta.
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  — Boa noite, . Você quer entrar? Ou beber alguma coisa antes de ir? — sorri involuntariamente quando vi a camisa social. Preta. E com dois botões a menos, graças a Deus.
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  — Na última vez que você me deu alguma coisa para beber, eu acordei na minha cama nu da cintura pra cima.
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  — E desde quando isso é uma coisa ruim? — soltei os braços, mais relaxada com a risada que ele deu, e coloquei os copos-de-leite sobre a mesa.
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  — Desde que eu acordei com o lambendo a minha cara.
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  Outra risada. Acontecia bastante quando ele estava comigo, o que deveria ser um bom sinal. parecia meio rígido e retraído, mas também parecia que ele gostava de mim. E do meu decote, a julgar pela posição dos olhos. Não podia nem dizer que estava surpresa, porque o detalhe foi cirurgicamente pensado para ele: nada muito revelador, apenas convidativo o suficiente.
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  — Para onde vamos? — perguntei, fechando a porta atrás de mim.
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  — Você conhece um lugar chamado Love Shot? — ele me estendeu o braço com a manga dobrada e eu fiz uma cara de tédio. — É brincadeira.
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  — Só pra você saber, Dahlia tem minha localização em tempo real. — aceitei a escolta e começamos a caminhar. — Então se isso for uma armadilha pra tirar fotos sensuais minhas e vender na internet, ela tem ordens de chamar a polícia.
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  — Eu adoraria fotografar você, devidamente vestida. — descemos as escadas. — Ainda tenho uma polaroid sobrando da minha primeira câmera, você seria perfeita.
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  — Está dizendo que eu sou uma das coisas mais bonitas que você já viu?
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  — Não uma coisa. Uma mulher. A mulher mais bonita que eu já vi.
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  Ele abriu o sorriso que diminuía os olhos, encolhia o nariz e me quebrava. Chegamos ao carro dele e, como eu esperava, abriu a porta para mim e deu a volta, assumindo seu lugar ao volante revestido. Sem aviso, ele avançou sobre mim e passou a mão ao lado da minha cabeça, me arrancando um suspiro tão forte que embaçou o vidro por alguns instantes.
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  — Não se preocupe, . — ele puxou o cinto de segurança sobre meu tronco e me afivelou, explicando a aproximação repentina. — Eu vou esperar até o final da noite para te beijar. — sussurrou.
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  — Quer apostar? — provoquei baixinho.
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  — Eu tenho certeza de que vou perder. — ele disse, ainda a poucos centímetros de mim.
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  E eu também queria muito que ele perdesse.
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   umedeceu os lábios, me esquadrinhando, e deu a partida. Usava apenas a mão direita para dirigir, a esquerda servia de apoio quando ele engatava a marcha, e eu estremecia a cada encostar acidental das nossas mãos quando mexíamos no som ou no ar-condicionado no painel.
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  — Não acredito! — ele freou bruscamente no meio do caminho, na frente de um parquinho recém-reformado. — Não tem ninguém no balanço! Vamos descer!
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  — Você não pode estar falando sério. — duvidei, enquanto ele removeu o cinto de segurança e desligou o carro.
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  — Vem! — ele desceu e abriu a porta para mim outra vez, estendendo a mão. — Eu te empurro se você me empurrar.
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  — ! — ralhei, mas desci. — Eu tô de salto! E no meu vestido caro com abertura nas costas!
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  — Por favor! É finalmente a minha vez no balanço!
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  Eu não estava nem um pouco inclinada a ceder, mas sempre que eu estava na companhia de , eu cedia. Aqueles olhos de amêndoa me faziam perder a compostura, o controle da situação, o ritmo do meu próprio fôlego. Ele mexia comigo de um jeito inexplicável, talvez por eu nunca saber o que ele faria a seguir. Mas eu gostava daquilo. Me mantinha interessada.
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  — Espera, eu preciso pegar uma coisa. — ele abriu o porta-malas do carro, cheio de tripés e equipamentos de fotografia, e tirou de lá uma câmera antiga, guardada numa case de couro, junto com um marcador próprio para fotos.
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  — É essa a sua famosa primeira máquina fotográfica? — reconheci.
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  — Sim. — ele sorriu mais uma vez, prendendo-a no pescoço com uma alça e guardando a caneta no bolso. — Ainda funciona direitinho… Se importa de posar para mim?
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  — Sua garotinha no balanço original não vai ficar com ciúmes? — segurei a mão dele e andamos até o brinquedo.
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  — Eu não a vejo desde o dia da foto. — os dedos longos dele se entrelaçaram nos meus conforme caminhamos.
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  — Você nem sabe o nome dela? — nos soltamos quando eu me apoiei nas correntes geladinhas do balanço e me ajudou a sentar.
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  — Não. — ele soprou uma risada fraca e se certificou de que eu estava segura antes de dar o primeiro empurrão, devagarinho. — Eu deveria ter pedido para ela assinar na polaroid. Aliás, falando nisso…
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  O balanço foi perdendo a velocidade, que já era pouca, e uma leve brisa noturna correu pelo parque, agitando as folhas das árvores e levantando um frescor agradável de outono. parou na minha frente, posicionando a câmera rente ao rosto e eu, tímida diante das lentes do profissional, baixei a cabeça.
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  — Ei. — ele me chamou, brando, e levantou meu queixo. — Olha pra mim.
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  Não sei ao certo o que senti, era uma mistura de febre e borboletas no estômago, algo que me deixou enfraquecida. Minha pele já estava entendendo qualquer movimento dele como um carinho e, mais do que entendendo, gostando e querendo mais. Havia algo ali, nas mãos quentes e compridas, que fazia eu me perder em pensamentos…
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  E ainda bem que pensamentos não saíam em fotos.
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  O barulho do obturador foi o que me despertou. Sorri envergonhada ao perceber que ele tinha me fotografado no exato momento em que eu pensei em como seria colocá-lo na cama outra vez.
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  Mas em outro contexto…
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  — E agora esperamos. — ele tirou a foto da máquina, colocando-a cuidadosamente no balanço vago ao lado junto com a câmera. — Sua vez de me empurrar.
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  Trocamos de lugar no brinquedo, mas mal cabia na cadeirinha: as pernas compridas demais atrapalhavam o balançado, não importava o quanto ele as encolhesse. Demos juntos uma risada cúmplice da brincadeira frustrada e, derrotado, se pôs de pé, meneando a cabeça.
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  — Como candidato ao balanço, eu dou um ótimo fotógrafo. — ele recolheu a câmera e a polaroid, analisando-a com um semblante satisfeito. E lindo.
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  — Como ficou? — perguntei, me aproximando, e se colocou atrás de mim para mostrar o resultado.
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  O tronco dele encostou nas minhas costas nuas quando ele segurou a polaroid, passando os braços por entre os meus e me prendendo numa espécie de abraço por trás que nos encaixou perfeitamente. A ausência de tecido ali tornou o atrito com os botões da camisa dele ainda mais perigoso, a respiração dele se adensou perto do meu ouvido e ele modulou a voz para me explicar para o que eu estava olhando.
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  — Ficou perfeita. — ele concluiu, e um arrepio me avisou que ele estava aproveitando a ocasião para sentir o meu perfume. — Valeu a pena esperar todo esse tempo para usar minha última polaroid.
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  — Você quer que eu escreva meu nome? — quis saber. — Assim você não vai me perder.
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  — Eu é que já estou perdido em você, . — ele respirou no meu pescoço mais uma vez. 
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  Me virei, puxando a caneta do bolso frontal da camisa dele. Assinei meu nome numa letra trêmula, porque tudo em mim estava estremecido e borrado, tomado por um sentimento de calor e solidez. Estar tão perto dele era um misto de sensações inesquecíveis, e a mais intensa no momento era a minha pele ardendo, pedindo por mais contato. Os toques tímidos de cavalheirismo já não eram mais suficientes, eu queria que ele me agitasse e me revelasse feito uma polaroid antiga.
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   soprou o local assinado, sem se descolar de mim, e guardou a foto no bolso junto com o marcador. Ele afastou o cabelo dos meus ombros, afundando os dedos nas mechas para que meu pescoço ficasse à mostra e, naquele momento, até meus olhos pesaram. Me permiti fechá-los, queria me privar de qualquer outra exigência sensorial e me concentrar apenas nos dedos afáveis dele me massageando sutilmente a orelha, abaixo do lóbulo. apertou o cerco em volta da minha cintura e encaixou-se na curva do meu pescoço, provando mais uma vez o meu cheiro, e eu, sensível, relaxei nos braços dele enquanto ele me inebriava.
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  — Você tem cheiro da primeira chuva do dia, . É doce. — ele sussurrou como um segredo ao deslizar o nariz pelo meu pescoço. Um calafrio delicioso quando ele agarrou mais do meu cabelo, me livrando a nuca e aumentando a pele exposta. — Eu me pergunto se beijar você é doce também.
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  O toque brando percorreu timidamente a minha tez. Minha agitação interna diminuiu de repente, eu só sentia o rosto dele encostando no meu numa aproximação forte e, ao mesmo tempo, suave. Brincou um pouco ali, deixando os lábios rasparem pelos meus numa provocação gostosa, e finalmente me tomou com a boca aveludada. beijava da mesma forma como falava, devagar e firme, e ele me revestiu a língua gentilmente a ponto de quase me fazer implorar por ele ali mesmo no meio do parquinho. Percorri os braços fortes dele, passeando pelos ombros e pelo trapézio, e apoiei minhas mãos no peito morno, cortesia da camisa entreaberta. prolongou o beijo mordendo meu lábio inferior e aquilo me lançou num estado vertiginoso do qual eu não queria sair.
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  — Você apostou que esperaria até o final da noite para me beijar. — respirei o mesmo ar que , tão perto a boca dele estava da minha. — Você perdeu.
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  — Ah, não, . Eu ganhei.— os lábios dele roçaram nos meus. — Eu ganhei muito.
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📷🍷

  Alguns meses se passaram desde que eu recebi novamente a oferta de colocar na cama, com a condição, acordada por ambos, de que agora eu estivesse nela. Depois do primeiro encontro e do primeiro beijo trocado antes mesmo do jantar, o meu destino aos finais de semana passou a ser a casa do meu, quem diria, namorado.
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  Deitado ao meu lado, puxava o ar manhoso e dormia plenamente com o carinho que eu fazia pelas costas largas, desenhando linhas sem sentido com a ponta das unhas e fazendo-o suspirar no meio do sono de vez em quando. Fora do quarto, a tempestade que o jornal previu se agravou e os primeiros clarões dos relâmpagos anunciaram que os trovões iam começar. Escorreguei pelas cobertas tentando não acordar o meu fotógrafo e saí da cama procurando por com a luz do meu celular, temendo que o barulho de chuva pesada o assustasse.
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  Encontrei o grande amor da vida agitado no seu almofadão, quando ele percebeu minha presença e, meio bambo, correu para o meu colo, esbarrando numa estante e derrubando um dos livros nela. Agachei para abraçar contra o peito, alisando a pelagem branca até acalmá-lo, e sentei no piso frio com ele ainda aninhado em mim.
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  — Você tem que ter mais cuidado, . Que bom que você não se machucou. — falei, coçando a cabeça dele e olhando o objeto caído e aberto no chão. — O livro abarrotou todo, mas antes ele do que você, certo?
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  Peguei a capa dura pelo miolo e algo soltou-se das páginas amassadas. Era uma polaroid de um parque bonito e ensolarado, com uma menininha no balanço, usando um vestido de estrelinhas. Uma estampa que me era estranhamente familiar.
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  — Amor? — surgiu, metido na calça de moletom e mais nada. — Ouvi um barulho e acordei sem você. — ele reclamou, dengoso. — Tudo bem por aqui?
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  — Vim checar o . — avisei e ele sentou-se ao nosso lado, afagando as orelhas do cachorro e meu joelho em seguida. — O barulho foi o desastrado derrubando isso aqui. — apontei o livro e mostrei a foto. — Essa é a sua garotinha do balanço?
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  — Sim. — ele riu. — Meu primeiro amor.
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  — … — procurei pelo meu celular esquecido embaixo de e acessei rapidamente meu arquivo de fotos escaneadas, abrindo uma foto minha aos 7 anos de idade, sentada num balanço e usando exatamente aquele vestido estrelado. — Essa sou eu eu quando era criança! Esse era o balanço em que eu brincava! Eu nunca mais voltei lá porque, no dia seguinte, nós nos mudamos!
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   piscou várias vezes, observando minuciosamente a tela. Ele sorriu nostálgico, como se todas as lembranças daquele tempo estivessem voltando devagarinho e se materializando ali na frente dele. Nossa sonora risada preencheu a sala e se sobrepôs à chuva, que agora caía praticamente como uma ironia, fazendo graça de nós.
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  — Você não sabe quanto tempo eu esperei por você, !  — ele me apertou contra si e me embalou num beijo apaixonado.
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Fim

  Nota da Autora: Oi, meu amor! Obrigada por chegar até aqui! Espero que esse clichê açucarado tenha esquentado seu coração!

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