Natashia Kitamura
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The Sunrise

Prólogo

  Eu podia sentir a dor da tortura em ver o amor de sua vida morrer. Podia entender todas as emoções que passavam por entre seu corpo como pequenos choques que corriam de segundo em segundo, não o deixando esquecer de que ele estava vivo. Também sabia que tudo isso era em vão. A vontade de morrer era maior. É o que sentimos quando estamos de frente com a morte, mas ela não escolhe nos levar, e sim aquela que sempre dissemos dar a vida por.
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  O que eu poderia dizer? O que poderia fazer? Nada. Essa era a resposta.
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  Porque eu sabia como ele estava, o que ele queria. Ele queria ser consolado, ao mesmo tempo queria ser deixado em paz. Queria sua garota de volta. Mas não se pode reviver os mortos.
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  A chuva caía torrencialmente, indicando a tristeza de Deus. As gotas eram suas lágrimas, o vento seus suspiros de pesar e o céu escuro seu mundo. Até Deus era contra a morte dela. Desnecessária.
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  Meus pés estavam parados na lama que se tornava mais pastosa cada vez que a água do céu lhe tocava. Eu o assistia chorar e se lamentar. Prometer vingança.
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  - Temos que ir. – digo em tom suficiente para que ele pudesse me ouvir.
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  - Vá você. – ouço em resposta.
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  - Não posso, você irá fazer alguma besteira se eu for.
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  Ele sabia que eu estava certa. Sabia que sua sanidade não estava cem por cento e que tentaria se matar.
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  Aos poucos e lentamente ele foi se levantando, limpando o nariz com a manga do casaco que vestia. Me aproximo com o guarda-chuva que segurava e impeço as gotas de continuarem o molhando. Sem dizer mais nada, deixamos o corpo dela deitado, como se estivesse dormindo, o sangue lavado pela chuva.
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  O grupo que acompanhávamos havia nos deixado para trás. Mas isso não nos apavorava mais do que a ideia de que estávamos sozinhos no mundo.
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  - Como você conseguiu? – me perguntou no dia seguinte, enquanto comia a lata de feijão que eu havia lhe dado. A comida estava ficando escassa. Tínhamos de pensar em algo para sobreviver, mas isso estava por minha conta. Ele ainda estava fragilizado demais.
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  Levanto meu olhar e ele, com a boca cheia, explica:
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  - Sobreviver, sabendo que a sua vida se foi para sempre.
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  Desvio o olhar para o desenho que eu fazia no chão. Um sol. Eu amava o sol. Seus raios, sua claridade, seu brilho, seu calor, a felicidade que trazia às pessoas, sua função em mostrá-las da maneira que elas são. Eu sempre admirei essa estrela maior. Sempre tive o sonho de um dia acordar em uma bela casa, ao lado de Liam, e me deparar com o sol brilhando em nossa janela. Abro um pequeno sorriso.
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  - Minha vida se foi, mas não é por isso que devo matar a dele, que sou eu.
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Capítulo 1

  Liam e eu nos conhecemos há anos. Ambos tínhamos a mesma necessidade. Dinheiro.
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  Ser órfão significa que você tem de aprender a se virar desde jovem, seja roubando, se prostituindo ou se escravizando. Tenho meu orgulho próprio, então a melhor solução dentre as três apresentadas era a terceira.
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  Conheci senhor Bacharel no mercado, quando um de seus seguranças perguntou se eu gostaria de trabalhar num navio, onde eu ganharia bem. Não hesitei em concordar, mesmo não sabendo o que era um navio. Mais tarde, descobri que passaria metade da minha vida em uma casa em alto mar.
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  Liam era marinheiro e, como eu, entrara lá com o propósito de ganhar dinheiro. Havia chego pouco mais de um ano antes de mim. Fizemos amizade durante o jantar dos marinheiros, quando nós, cozinheiras, tínhamos de servi-los e então limpar todo o refeitório. Ele havia sido o último a chegar e comia sempre lentamente. As cozinheiras costumavam reclamar da demora dos marinheiros que badernavam durante a refeição, mas nunca nenhuma delas ousou falar algo de ruim de Liam. Assistíamos sua mandíbula se movimentar lentamente e, na maioria das vezes, ao terminar de engolir, sorria para nós e elogiava o alimento. Deixava a todas nós encantadas. As compromissadas eram orgulhosas e chamavam-no de cantador barato.
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  Sempre que ele ficava por último, as cozinheiras discutiam entre si por detrás da porta da enorme cabine do freezer quem iria ficar para limpar, uma vez que teria de receber os cumprimentos e agradecimentos dele. Toda vez ele se desculpava pelo horário que as faria ficar no refeitório limpando e sempre se oferecia para ajudar a limpar, às vezes sendo aceitas pelas mulheres, às vezes não. Independente da resposta, ele sempre ficava.
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  - Não quero parecer ingrato. – ele dizia para Ailee, que havia ganho a discussão dentre todas. As outras se mantinham escondidas, curiosas demais para se conterem. No final das contas, elas se esqueciam de lavar e guardar a louça que ele usava.
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  - De maneira alguma! – ouvimos a voz dela bem mais graciosa do que como ela nos dirigia a palavra. – Sinta-se à vontade, senhor Yale.
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  E ele puxava conversa com ela. Assim que terminava, ele a acompanhava até a porta da cozinha, onde ela fechava e então se despedia dele com um beijo em sua bochecha.
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  Certamente a última pessoa a sair da cozinha era eu. Da mesma maneira que a primeira a chegar também era eu. Com o supervisor fora a partir das dez e meia, as cozinheiras se davam o luxo de sair assim que quisessem, deixando para aquela que sobrava, todo o trabalho. Não me importava de trabalhar um pouco mais do que elas. Não gostava de ficar deitada em minha cama, imaginando uma vida que não me pertencia. Era o problema de ser tão sonhadora. Ao fechar meus olhos, eu entrava em um outro mundo, onde os pássaros cantavam para mim, e não para outras pessoas. Onde o sol dourava meu corpo, e não os dos convidados do senhor Bacharel. Onde o mar era apenas uma vista, e não uma casa.
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  - Você não se sente cansada em dormir tão pouco? – ouço uma voz atrás de mim e quase derrubo o prato que enxugava. – Me desculpe! Não sabia que estava concentrada.
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  - Não, não, está tudo bem. – sorrio sem graça e deposito o prato no topo de uma das diversas pilhas que estavam num canto da cozinha.
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  - Não há algum dia que outra pessoa fique no seu lugar? – Liam se senta na bancada onde costumamos deixar os pratos prontos para os garçons levarem para os convidados.
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  - Como? – o encaro confusa. O vejo levantar os ombros e olhar para a minúscula janela onde era metade água e metade céu. A cozinha se encontrava no convés.
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  - Todo dia espero a senhorita sair. Sei que há alguém que limpa os pratos que sujei.
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  - A-ah… – gaguejo sem graça.
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  - Sabe algo interessante?
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  Aguardo sua resposta.
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  - Você prefere ficar num lugar fechado e escuro, do que vivenciar um belo lugar dentro de seus sonhos.
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  - Você acha que não sonho?
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  - Não o suficiente.
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  - Pois saiba que eu sonho, sim.
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  - Pode compartilhá-lo comigo?
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  O encaro um tanto desconfiada, mas eu sabia que não havia o que temer. Não havia encontrado ainda alguém que fosse de mau caráter e trabalhasse naquele navio. Os que demonstravam mal comportamento eram punidos. Punições que nós que ainda estávamos lá dentro não sabíamos quais eram. Provavelmente ruim o suficiente para não voltarem mais lá.
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  - Gosto de sonhar com uma bela casa de veraneio. Uma pequena, com os pés na areia. O sol iluminando toda a casa, o vento balançando as cortinas brancas e transparentes… Os risos de crianças e as brincadeiras de adolescentes. Um lugar onde o tempo nunca estaria ruim.
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  Assim que eu terminei, o encarei e para minha surpresa, o vi com um sorriso estampado no rosto.
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  - É realmente um belo sonho.
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  Sorrio.
  - É sim.
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  - E você espera um dia realizá-lo?
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  Diminuo meu sorriso e desvio-lhe o olhar. Pude sentir que ele também diminuíra o sorriso dele.
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  - Disse algo errado?
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  - Não, não, é só que… Kath me disse que uma vez que entramos aqui, não podemos sair até que o senhor Bacharel decida que nós temos que sair.
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  Levanto o olhar para ver uma séria expressão no rosto de Liam.
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  - Você acredita nisso?
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  - Bom, miss Marchall está aqui há cinqüenta e sete anos.
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  - E você já perguntou à miss Marchall se ela já quis sair daqui?
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  Balanço minha cabeça em negação.
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  - Você tem um sonho. Um lindo sonho. – ele se aproxima. – Que não vale a pena ser desperdiçado.
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  Meus olhos estavam um pouco mais arregalados que o normal e minha boca entreaberta. Seus olhos mel demonstravam ternura e carinho. Sinto minhas bochechas aquecerem. Dou um sorriso sem graça e concordo, desviando o olhar antes que minhas pernas pudessem falhar, resultando em um tombo.
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  Eu havia então decidido que tentaria realizar meu sonho. Eu falaria com senhor Bacharel para sair do navio. Eu já tinha um bom dinheiro guardado, uma vez que todo final de ano, ele nos dava um envelope branco com dinheiro dentro. Senhor William havia dito que era bastante dinheiro e que era possível com ele, comprar uma enorme casa numa alta colina. Casas na colina devem ser mais caras que casas na praia. No dia seguinte, no meio da tarde, quando as assistentes de cozinha tinham uma hora livre para descansarem, corri escondida até o convés à procura de Liam. Não demorei a encontrar. Senhoritas sorriam maliciosamente para ele, puxando conversa e ele, pacientemente, respondia-as com a mesma educação que tinha para com as cozinheiras. Ao me ver escondida, deu uma desculpa que não pude ouvir qual era e veio em minha direção.
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  - Está perdida?
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  - Não. Vim lhe falar.
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  Fora inevitável sua surpresa. Poucos segundos depois de suas sobrancelhas terem erguido e sua boca aberta, ele a fechara num sorriso que emanava calma.
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  - Pois sim.
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  - Gostaria de saber se há alguma maneira de falar com o senhor Bacharel.
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  Seu rosto se tornara sério e então ele olhara para os dois lados, pegando em meu antebraço e me arrastando para um lugar ainda mais isolado.
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  - Você não pode falar com ele.
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  - Mas…
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  - . – arregalei meus olhos surpresa com o conhecimento dele sobre mim. – Você não deve procurar o senhor Bacharel.
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  - Mas… O senhor disse sobre meu sonho—
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  - Eu sei o que eu disse, mas nunca lhe disse que deveria falar com o senhor Bacharel.
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  - Não vejo uma outra solução para—
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  - Apenas me prometa que não irá procurar por ele, sim? Me prometa e lhe prometo que pensarei numa maneira de lhe ajudar a realizar seu sonho.
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  Me mantive calada até soltar as palavras:
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  - Por que está me ajudando e me incentivando?
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  Demorou um tempo até ele responder:
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  - Porque foi a única que conheci que diz sonhar.
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  Abri a boca surpresa e o vi voltar a seu semblante amigo:
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  - Eu sei quem é, . Sei que está aqui há três anos. Sei que passa todo o seu tempo na cozinha. Sei que é a primeira a chegar e a última a sair.
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  - Mas—
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  - Quando nos apaixonamos com os olhos, o coração corresponde com o pensamento, tomando o corpo todo. – sinto-o acariciar minha bochecha com as costas de seu dedo indicador. Estremeço com seu toque. – Não é de propósito que chego atrasado no jantar. Esperei durante três anos que você, ao menos uma vez, fosse aquela que ficaria até mais tarde e então eu poderia conversar e saber mais sobre você. Demorei três anos para juntar minha coragem e enfim ir lhe dirigir a palavra.
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  Naquele dia eu descobri que tinha um novo sonho. Um sonho de realizar meu sonho junto com Liam.
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Capítulo 2

  Cinco anos se passaram e Liam não havia cumprido sua promessa de realizar o meu sonho, que mais tarde se tornara o dele também. Passou a dividir a cama comigo, que apesar de ser pequena e para uma pessoa apenas, me trazia muito mais conforto do que quando deitava nela sozinha.
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  A situação parecia um pouco pior para todos os empregados do navio. Senhor Bacharel havia falecido e seu filho estava tomando conta de tudo. Porém, ele não era o mesmo que o pai fora. Era completamente o oposto, se posso arriscar dizer.
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  Às sextas e aos sábados agora, ele mandava os superiores dos marinheiros escolherem algumas mulheres que trabalhavam lá para participarem de algumas festas que Liam citou para mim que nunca deixaria que eu fosse. Durante a escolha das garotas, ele sempre se punha em minha frente, ou pedia pra eu pegar algo em baixo da cama, para que eu ficasse de modo escondida dos supervisores.
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  Agora já não tínhamos mais um horário fixo e trabalhávamos apenas para senhor Bacharel Jr. Eu tinha muito mais tempo livre do que antes, mas ganhava menos também. Liam, ao contrário, trabalhava mais por ser marinheiro, mas continuava ganhando a mesma quantia de sempre.
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  Desde que fora tomada a nova posse do navio, empregados estavam desaparecendo e sendo punidos com mais facilidade. Tudo se tornou um caos.
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  - No que está pensando? – ele sussurra tão baixo, que duvido que alguém pudesse sequer desconfiar que ele sussurrara alguma coisa. Como estávamos deitados de frente para o outro na cama, eu podia muito bem ouvir o que ele dizia sem precisar me esforçar.
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  - Brigida Jones disse que o senhor Bacharel Jr. está matando os empregados que os desobedecem. – digo preocupada. – Foi o que aconteceu com Linus, sabe? O namorado dela. Ela disse que eles o mataram e então o jogaram para os tubarões. – mexo minhas mãos nervosa. Percebi que Liam se mantinha sério e calado. Parecia até que ele já sabia de tudo o que lhe contava. – Você vai fazer tudo certo, não é? Não vai cometer erros. Não quero ficar sozinha aqui.
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  - Você não vai. – ele rapidamente me responde. – Não há com o que se preocupar, querida. Vou ficar com você pra sempre, se lembra? Tenho uma promessa a cumprir. – eu via seu sorriso tentando me passar tranqüilidade, e por mais que eu conseguisse sentir a calma que ele exalava, a imagem de me ver sem ele ainda era mais forte. Encosto minha cabeça em seu peito, fazendo que ele entendesse que era para me abraçar. Assim o fez. Imediatamente me senti melhor. Ter seus braços ao meu redor me fazia sentir melhor. Protegida e amada.
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  - Você aí. Você mesma, mocinha. Hoje é seu dia de sorte. – eu ouvia um dos comandantes dizer para Josie Archer, minha vizinha de cama. Olho para o lado e a vejo estremecer, gemendo e se levantando. – Quem dorme do seu lado, docinho?
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  Arregalo os olhos. Eu podia sentir Liam se mexer na cama perturbado.
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  - Vamos lá, você não quer ser punida, não é?
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  A vejo virar seu olhar para Liam e eu levantar minha cabeça, virando-a para o comandante.
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  - Mas olha só, você estava escondida?
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  - Não senhor. – respondo.
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  - Tem certeza? Porque era o que parecia.
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  - Tenho sim.
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  - Sim senhor. – ele me corrige e eu o repito. O ouço dar uma risada. – Bom, se esta é sua primeira vez, talvez o seu chefe queira ele mesmo sua companhia. Vamos, vamos. – ele acena uma de suas enormes mãos para mim. Lentamente me levanto, deixando o livro que tentava ler em cima da cama. Senti algo segurar meu pulso e ao olhar para trás, Liam me encarava sério.
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  - Ela não vai, Michael.
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  - Como?
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  - Ela. – ele aponta para mim. – Ela não vai. Vai ficar aqui.
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  - Ora, ora, ora… Então essa é sua namoradinha. Bom, você sabe que não posso desobedecer as ordens do chefe, não é, Yale? Acho melhor você fazer o mesmo. Vou fingir que não ouvi isso para o seu bem, tudo bem?
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  - Você me ouviu bem, Michael. Ela não vai.
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  Olhei assustada para Liam, mas nada dizia. O pavor tomara conta do aposento onde homens e mulheres que já estavam, encaravam-no surpresos com sua ousadia. Ouço o suspiro impaciente do comandante e então ele balançar a cabeça:
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  - Venha, Yale, vou ter que reportar você.
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  Sem dizer nenhuma palavra, Liam se levantou e ao sentir minhas duas mãos segurando em seu pulso, implorando para que ele não fizesse isso, ele se desvencilhou de mim, caminhando duramente o comandante Michael.
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  Liam só voltara na manhã seguinte, enquanto todos estavam fora a trabalho. Eu esperava que ele voltasse, passara a noite em claro rezando para que não tivessem tirado sua vida. Meus olhos estavam pregados e eu sequer conseguia piscar. A porta fora aberta brutamente e seu corpo jogado lá. Arregalei meus olhos e corri até ele, ajoelhando ao seu lado e o vendo completamente judiado.
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  - Seu tolo… – digo chorosa e ele abre os olhos com um sorriso nos lábios.
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  - Eu lhe disse que você nunca iria lá, não disse? Você é só minha, , de mais ninguém.
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  Apesar de seu estado, sorrio e beijo-lhe delicadamente os lábios. O ajudei a se levantar e caminhar até a cama e então correr em busca de um kit de primeiro socorros, que não foi difícil de achar. Quando se trabalha na cozinha, o que mais usamos são produtos para machucados. Queimaduras, cortes, ralos.
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  Cuidei de Liam e ele demorou quatro dias para se sentir completamente bem. Durante os quatro dias, adormecia ajoelhada ao lado da cama, com a cabeça apoiada nas mãos que segurava a mão dele.
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  Quando chegara quarta-feira, Liam me chamara para um local mais isolado. Não entendia porque ele faria aquilo, já que nós sempre tínhamos privacidade o suficiente quando deitados em nossa cama.
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  - Nós vamos fugir daqui. – fora o que ele disse.
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  - Como?
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  - Depois de semana passada, eles te marcaram. Vão te chamar novamente. E se eu me opuser mais uma vez, eles me matam. Não me mataram porque sou um bom marinheiro e eles sabem disso. Foi a primeira vez depois de quase 10 anos aqui que cometi um deslize. Mas senhor Bacharel Jr. não é tão piedoso quanto o pai. Estamos planejando isso há anos. Não tem como dar errado. Vamos amanhã de madrugada.
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  - Quem está planejando com você?
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  - Um grupo de marinheiros. Somos em torno de sete, oito. Mas cada um de nós temos uma dama para nos acompanhar. Então será um grande grupo.
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  - Liam…
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  - , essa é a nossa chance. Se nós ficarmos, eu irei morrer. Eu não vou deixar você ser tocada por aquele cara. – ele diz grosseiramente. Engulo seco. Ele sabia que pegara em meu ponto fraco. Ele era meu ponto fraco. Sem dizer mais nada concordo com a cabeça, encontrando seus lábios junto aos meus.
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Capítulo 3

  A fuga fora desordenada, claro. Os comandantes haviam posse de armas de fogo e nós não havíamos nada a não ser remos. Jordan fora baleado e Susie não conseguiu chegar até a praia. Bill ficara desolado por vários dias, até se matar.
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  - Não tenha medo. – Liam me dizia quando terminaram de enterrar Bill. – Vai dar tudo certo. Sim, tudo vai dar certo enquanto estivermos juntos. – ele sorri para mim e beija minha mão, que ainda tremia devido à emoção de perder um companheiro.
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  Josie e eu conversávamos bastante. Como éramos vizinhas de cama, sentíamos mais liberdade em trocar confidências. Ela estava acompanhada de um marinheiro supremo chamado . De acordo com Liam, fora dele a ideia da fuga e todos os lugares que estávamos passando. Ele realmente tinha um bom senso de direção. Passávamos perto de pomares e isso nos poupava de comer a comida que havíamos trazido do navio.
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  - Nós vamos fugir para sempre? – pergunto para Liam, enquanto estávamos deitados apoiados no troco de uma árvore.
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  - Não, claro que não. – pude sentir pela sua voz que ele estava sorrindo. – Só até estarmos bem longe deles. Vão querer nos caçar, sabe. Têm medo que nós espalhemos tudo o que acontece naquele navio.
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  - Não vamos fazer isso não é?
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  - Não, não somos tolos. – ele me abraçava por trás. – Ele tem dinheiro para comprar quem ele quiser. Vamos apenas viver a nossa vida feliz.
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  Sorrio e levanto meu rosto, o encarando e recebendo seu sorriso e um beijo de boa noite.
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  Demorou um ano para quem conseguíssemos nos estabilizar em algum lugar. Ao contrário do que eu imaginara, o dinheiro que nós recebíamos não dava sequer para pagar metade de uma casa. Juntamos nossos dinheiros e compramos uma para todos nós. Apesar de não ser grande o bastante para nós seis, era confortável o suficiente comparado com o que lidamos no último ano.
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  Eu estava adormecida com Liam. Nós ficamos conversando até tarde da noite sobre quando nós acordarmos, encararmos pela primeira vez o sol em liberdade e com uma nova vida. Ele tinha a mania de me abraçar por trás, quando eu cismava querer dormir de bruços. Depois de anos assim, agora quando ele não o fazia, eu não conseguia ter uma boa noite de sono.
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  A porta se abriu num estrondo quando ainda estava escuro. Liam se levantou num pulo e eu me sentei rapidamente na cama. estava branco na porta do quarto.
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  - Bacharel Jr. está aqui. Vão arrombar a porta, não encontro Josie em lugar algum!
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  Olho horrorizada para Liam, que me olha assustado. Pega minha mão e me faz levantar.
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  - Venha, . – ouço chamar , que se aproxima rapidamente. Pisa forte no assoalho de madeira e então vemos duas tábuas levantarem. – Entrem aí. Vou buscar Josie!
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  - Está louco? Não! – agarro seu braço e o vejo me olhar sério. estava petrificado com a atitude dele.
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  - Eu já volto, só vou buscar Josie! – ele empurra para dentro, o fazendo deitar e então me ajuda a entrar.
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  - Não demore, por favor! – o vejo concordar com a cabeça e beijar meus lábios antes de sair correndo. Não demora muito para voltar com Josie, que estava ainda mais branca que . Ouvíamos alguém bater na porta no andar de baixo. Provavelmente os outros já haviam se escondido. Liam ajudava Josie a entrar e também. Olho para o lado. Não havia mais espaço para Liam. Arregalo os olhos e abro a boca, mas ele me corta:
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  - Vai dar tudo certo. – sorri calmo. – Apenas fique quietinha, tudo bem? – e em seguida olha para , que passava seu braço por trás de meu pescoço, juntando a mim e a Josie para mais perto de si.
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  - Se nos apertarmos mais… – ouvimos um estrondo e pude sentir minha garganta doer e meu coração bater mais rápido. Nego com a cabeça.
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  - Você vai morrer, não faça isso, Liam…
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  - Vai dar tudo certo. – ele repete. – Você tem que cuidar da sua vida agora.
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  - Mas minha vida é você.
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  O vejo hesitar um pouco e  suspirar. E então beija meus lábios.
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  – Eu te amo. – e se afasta. segura meus braços assim que tento ir com ele. O vimos fechar o assoalho e se certificar de que tudo estava intactamente perfeito. Arregalo os olhos ao ouvir a voz do comandante.
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  - Ora, ora, ora, um ficou para trás. Quanto tempo, Yale. Aonde estão os outros?
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  - Não sei.
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  - Não sabe… Interessante. – o homem caminha pelo quarto. Sinto a mão de em minha boca, já que não conseguia me segurar. Josie estava tão calada que sequer me lembrava que ela estava ali junto. – Encontramos com Jordan na entrada. E Mathew. Onde estão as mulheres?
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  - Não sei.
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  - Ah, não sabe? Onde está aquela sua namoradinha?
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  - Morta.
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  - Como?
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  - Susie. Está morta. – arregalo os olhos. Ele estava trocando meu nome porque sabia que eles não sabiam como me chamava. Tento me mexer, mas era forte demais para mim.
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  - E como ela morreu?
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  - Não é da sua conta.
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  - Wow, wow! Olhe essa grosseria! Sabe Yale, você era um bom marinheiro. Gostava de você. Mas como sempre, os apaixonados são sempre os mais fracos.
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  Silêncio.
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  - Sabe, Bacharel Jr. está muito nervoso lá fora. Esteve nervoso durante esses quase dois anos em que vocês estavam longe. Ele quer ver cabeças rolarem.
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  Eu não queria ouvir aquilo. Não queria saber que Liam ia morrer. Queria gritar, pedir para me matar também. Não queria viver. Fecho meus olhos e nos vejo de frente para o mar, com o sol batendo em nossos rostos. Nós sorrindo felizes, com filhos correndo a nossa volta atrás do filhote de cachorro que acabamos de comprar. Ele beija minha bochecha e diz me amar para sempre. Sorrio e o respondo dizendo que eu o amaria para sempre também.
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  Abro os olhos. Silêncio. estava em pé com Josie chorando baixo ao seu lado. Lentamente me levanto, tentando me preparar para o que iria ver. Mal havia percebido que lágrimas haviam descido de meus olhos e encharcado todo meu rosto e meu pescoço. Ao sair do esconderijo, minha respiração falha. puxa Josie para fora do quarto. Minhas pernas falham, como foi quando Liam me falara sobre meu sonho. Mas desta vez meu coração não batia feliz com uma nova esperança. Ele batia triste com o fim da minha vida.
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  Me arrasto até o corpo de Liam, que ainda se mexia tão lentamente que era impossível perceber de longe. Arregalo os olhos e abro a boca para pedir ajuda, mas ele segura minha mão mais forte. Me olhava com um sorriso. O meu sorriso. O sorriso que ele sempre me dava quando queria me acalmar. Mas daquela vez, só daquela vez, ele não iria funcionar. Nada iria funcionar.
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  - Eu disse que iria dar tudo certo. – ele diz com dificuldade.
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  - Como pode dizer uma coisa dessas? – falo intensamente chorosa. – Estou prestes a te perder, como quer que eu sorria para você? Pare de sorrir para mim!
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  - Não posso. Quero que minha última imagem em sua memória seja de mim sorridente. De um homem feliz que teve seu amor retribuído pela mulher da vida dele.
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  Chorava com mais força. Sinto sua mão tocar meu rosto e acariciar da maneira que conseguia.
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  - Apenas siga em frente e realize o seu sonho, sim? Por mim. Por nós dois.
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  - Você prometeu—
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  - Acho que não irei cumprir, . – ele diz, diminuindo seu sorriso. – Mas vou ficar em paz se souber que você vai realizá-lo. Foi para isso que saí de lá, lembra?
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  - Se você me deixar—
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  - Não há mais jeito, . Eles acabaram comigo. Diga que me ama, anda.
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  - Eu te amo, eu te amo… Não me deixe aqui. Você sabe que não quero ficar sozinha.
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  - Não está sozinha. Josie está aí… E .
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  - Mas é você quem eu quero, é você!
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  - E eu quero você. Mas querer não é poder, . Apenas viva, tudo bem? E tudo vai dar certo.
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  Ficamos calados nos encarando, ele com seu sorriso no rosto e eu com raiva de não fazer nada por causa dele. Deito ao seu lado e o abraço, desta vez era eu quem estava o protegendo. O beijei mais uma vez e então o vi fechar seus olhos com um sorriso e tombar sua cabeça sem vida.
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Capítulo 4

   e Josie tentavam ao máximo me fazerem sentir bem. Acho que eles sentiam que deveriam fazer isso por Liam, uma vez que ele deu sua vida para salvá-los. Mas como eu havia dito anteriormente, quando estamos numa situação como essa, por mais que queiramos que as pessoas se sintam sentidas por nós e que tentem nos fazer sentir melhor, o que realmente queremos é ficar sozinho. Havia sobrado ainda sete pessoas desde que nós saímos do navio há alguns anos. Apenas e Adam eram homens, então os dois se sentiam na responsabilidade de sempre nos proteger e conseguir algo para comermos, uma vez que nós estávamos de volta às ruas e florestas. Ao contrário das outras mulheres, eu não queria me sentir dependente dos dois. Ajudava-os a procurar por alimento mesmo sob os protestos de ambos.
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  Estava me sentindo como quando não conhecia Liam, ou quando ele não era alguém tão importante em minha vida. Eu voltei ao tempo em que me ocupava de diversas maneiras, para me cansar mais rápido e no fim adormecem sem sonhar. Eu não queria fechar meus olhos e ver Liam, para então acordar e perceber que ele já não mais pertencia a este mundo. Sempre que ele aparecia, estava com o mesmo sorriso calmo estampado em seu rosto e então dizia tão calmo quanto sua expressão: “Tudo vai dar certo, você vai ver.” Tudo vai dar certo. Às vezes achava que ele dizia essas palavras para me fazer ter esperança, ou então não perder o pouco que eu tinha dentro de mim. Depois de muito pensar, já que eu tinha todo o tempo do mundo para isso, eu percebi que era mais um incentivo. Se tornássemos a pensar como ele pensava, positivamente, as coisas se tornavam mais claras e diretas para nós. Passei então a pensar como ele, as pessoas do grupo estavam surpresas com minha rápida recuperação. O que eu levei um mês para superar, Syn e Becky demoraram sete. Talvez Jordan e Mathew não fossem tão positivistas como era Liam.
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  Mantinha-me calada, sempre no final do grupo, olhando ao redor e verificando se havia algo de comestível pelo caminho. Eu gostava quando eles decidiam parar para dormir em um lugar onde era aberto. Apesar do perigo, dava para olhar o céu e as estrelas. Uma delas deveria ser Liam. Miss Marshall sempre dizia que as estrelas são boas pessoas que morreram por uma boa causa. Na época, eu achava que ela dizia aquilo porque seu marido havia falecido. Pensando bem, agora gosto de pensar como ela. Ter a sensação de que ele estava por perto me mantinha aquecida. Por dias não conseguia dormir bem por não sentir os braços de Liam envoltos em minha cintura como sempre fazia quando eu estava para adormecer. Então eu encarava as estrelas. E rezava para que ele fosse uma delas e ficasse durante toda a noite me observando dormir.
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  Eu costumava me sentar um pouco longe do grupo. Eles conversavam bastante, mas desde que Liam morreu, eu não tinha muito o que contar. E não era porque não queria, mas sim porque eles achavam que não deveriam falar sobre Liam comigo. Eu não tinha histórias que não tivessem ele no meio, então me afastava para pensar.
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  Naquele dia o céu estava tranquilo. O laranja fundia com o vermelho no horizonte e o vento batia. O sol estava se pondo. Abraço minhas pernas e encosto meu queixo em meu joelho. Era a primeira vez desde que havia saído do navio, que percebi o quão grande era o sol. Fecho meus olhos e lá estava Liam sorridente.
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  - Finalmente estamos observando-o juntos. – ele dizia calmo. Sorrio. – Não quer chorar, quer?
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  - Não.
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  - Eu imaginava. Fico feliz por isso.
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  Acordo com meus ombros sendo chacoalhados por Josie. Ao abrir os olhos vejo a mesma expressão pálida de quando Liam morreu. Fecho o sorriso que ele me fez abrir e pude logo perceber que havia algo errado. Ela fez sinal para que eu não dissesse nada e me puxou para um lugar mais escuro, já era noite, mas o campo que estávamos era aberto e vasto. Olho para todos os lados a procura do comandante e vejo ao fundo algumas lanternas zanzarem à procura de alguém. Josie engatinhava rapidamente à minha frente, era até difícil em acompanhá-la. Mais à frente avisto Adam com Becky. ajudava Syn a se subir em uma árvore.
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  Josie então se desviou do grupo, olhou para mim em alarme de que era para eu continuar seguindo-a. Olhei para o grupo que tentava subir a imensa árvore e fechei os olhos em pesar, seguindo Josie. Nos afastamos o suficiente por entre arbustos e lá ficamos.
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  - nos disse para vir para cá.
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  - Mas e os outros?
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  - Não cabia todos aqui. – ela disse. – Achou justo virmos nós duas.
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  - Mas e ele? – tento enxergá-los por entre a escuridão. Em vão.
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  - Ele irá ficar bem. – ela diz segura e então viro meu rosto para encará-la. Ela estava tão ansiosa quanto eu, mas conseguia disfarçar bem. Deitei na grama e fechei meus olhos. Ouvimos gritos e tiros. Josie rapidamente levantou a cabeça e então saiu correndo em disparada em direção ao grupo. Hesitei entre ir e ficar ali salva, mas eu não podia deixá-los. Eles estavam salvando minha vida. Assim que me levantei e corri alguns metros, uma mão me segura e me puxa, olho assustada para o lado e vejo com sangue escorrendo por seu rosto:
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  - Onde ela está? – ele pergunta sério e eu olho para a direção que ela havia corrido. – Merda.
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  Soltou meu braço e então correu, mancando, até onde os tiros foram disparados há pouco. Becky estava jogada no chão sem vida. E mais à frente pudemos ver os cabelos cor de fogo de Josie. correu até ela e a pegou no colo. A chuva começara a cair, diferente de quanto Liam havia morrido. Me fez pensar em injustiça, mas eu não tinha este direito. Me afastei para lhes dar a privacidade que me deram quando meu Liam se foi.
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  Passado alguns minutos, voltei a me aproximar do casal, onde Josie já estava com seus olhos fechados sobre o colo de , que chorava com a perda. Trocamos algumas palavras e me aproximei, com o guarda-chuva aberto em mãos. Ele então se levantara e arrumara Josie e Becky. Caminhamos para longe.
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Capítulo 5

  O grupo havia nos deixado para trás. Eu e caminhávamos sem rumo. Conversávamos às vezes, na maioria delas ele me pedia ajuda para superar Josie. Eu não podia fazer isso com ela. Escolhia palavras amenas, que o fizesse decidir as coisas por si só. Foram três meses até chegarmos a uma cidade. Caminhamos ao redor. Estava por minha conta. ainda não estava cem por cento bom, mesmo dizendo estar. Passo pelas lojas à procura de alguma placa de emprego, mas não encontrava muito. À noite, quando já estava adormecido, me pegava olhando para o céu à procura de algum sinal do que eu deveria fazer. Eu já sabia, apenas queria uma confirmação. Eu iria arranjar um emprego e tentar alugar algum lugar para eu e ficarmos. Não tardei a encontrar trabalho em uma lanchonete. Eles me deram um uniforme, onde eu tentava o máximo mantê-la limpa, já que não tinha condições de lavá-la sempre. Meu primeiro salário serviu para comprar roupas novas para mim e para . Fora tempo o suficiente para ele voltar a ser o que era e resolver arranjar algo para fazer também. O bom dele é que ele tinha escolaridade completa, então conseguia alguns bicos melhores do que os meus. Depois de dois meses, conseguimos juntar dinheiro para alugar um quarto para nós em uma pensão, comprar nossos alimentos e juntar o resto em uma conta no banco. Não era muito, mas era o suficiente para nós sobrevivermos.
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  - Sobre o que vocês costumavam falar quando se pegavam em silêncio? – ele pergunta na cama ao lado, com as mãos apoiadas sobre a barriga. Ambos encarávamos o teto manchado.
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  - Achei que não quisesse falar sobre ele e Josie.
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  - Descobri a pouco que falar sobre eles me faz bem. Me faz querer viver.
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  - É mesmo?
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  - Eles me deram a vida deles, tenho que vivê-las da maneira que eles gostariam de viver.
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  Viro meu rosto para ele boquiaberta. Eu nunca havia pensado por esse lado. Por um momento me senti mal, mas então abri meu sorriso. O sorriso que eu treinava em frente ao espelho todos os dias para trabalhar bem. O sorriso que Liam dava. Era a primeira vez que a abria sem forçá-la.
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  Encaro o teto manchado e uma parte dela escura. Apesar de ter me acostumado com o céu estrelado ou as folhas das árvores balançando enquanto a chuva caía e o vento batia, eu me sentia bem em ver que tinha algo para nos proteger do frio, da chuva, do sol escaldante e de comandante.
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  - Ele sempre me perguntava o que se passava em minha cabeça. Achava que quando eu me mantinha calada por muito tempo, queria dizer que eu estava pensando em uma maneira de deixá-lo. Ele nunca soube que eu sempre estava calada enquanto ele falava.
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  - Ele sempre foi uma pessoa mais ativa. – eu podia sentir o sorriso de . – Sempre puxava conversa, admirava isso nele. Qualquer história que lhe contasse, seja ela nova ou velha, boa ou ruim, ele sempre se interessava e fazia perguntas que apenas quem prestava atenção conseguiria formulá-las.
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  Sorrio. Isso era verdade. Liam me fazia contar histórias que nunca achei que um dia contaria para alguém.
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  - Ele gostava do fato de eu sonhar. Dizia que não conseguia fazer isso, por isso acreditava nos sonhos dos outros e passava a botar fé neles. Fugimos por causa disso. – sinto minha garganta se fechar e meu estômago querer sair. O fato de eu ter começado toda esta situação por causa de um sonho estúpido acabava comigo.
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  - Acredite, ele fez por ele também. Não era apenas você quem tinha esse sonho. – o ouço dizer. – Quero dizer, obviamente cada um tem um sonho diferente, porém, é claro que todos eles só poderiam ser realizados fora daquele navio.
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  - Qual é o seu?
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  Não o ouço responder. Suspiro:
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  - Quer que eu diga primeiro? – mais uma vez fico sem resposta. Levanto os ombros: – Tudo bem. Meu sonho é um dia acordar em uma boa cama, num lindo quarto e numa bela casa que eu possa chamar de lar. E ao me levantar, conseguir por meus pés na areia, sentir a brisa da liberdade e observar as crianças se divertirem no mar.
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  Ele não comentou nada sobre o que eu havia acabado de falar, e demorou mais um tempo para ele finalmente abrir a boca para dizer:
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  - Sonho em ser músico. Quero dizer, quando mais novo, sempre me disseram que sou bom compositor. A partir de então sempre coloquei em minha cabeça que profissão certa para mim requer o uso da música.
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  - E você tem alguma pronta?
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  - Tenho parte de uma.
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  - Pode cantá-la para mim?
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  - Não sei se irá gostar.
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  - Eu posso ouvir e então lhe dizer.
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  O sinto hesitar e então ouço seu suspiro:
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  - We could spraw across our floor, staying up until it’s 4, make your eyes my entertainment for the night… Tem certeza?
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  - Você está indo bem. – murmuro fechando meus olhos. Ele então hesita mais um pouco até voltar a cantar baixo:
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  - Make a home to call our own, I know it’s nothing yet, but we can make it great, cause we would never be alone, alone, alone.
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  Abro os olhos. Eu havia me identificado com a música, era impossível disso não acontecer.
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  - Let’s learn to put the past, behind us. Let love push through the door, and find us. Just keep your eyes wide open so I can fix what’s broken, stay around maybe I can be a better me.
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  Mantive meus olhos encarando o teto. Parei de mexer os dedos de minhas mãos. A saudade de Liam que estava adormecida de repente voltou, mas já não havia mais lágrimas para derramar por ele. Eu estava seca. Nenhum de nós dois dissemos mais nada depois da música. Sorrio e finalmente fecho meus olhos adormecendo.
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Capítulo 6

  O dia seguinte fora um tanto conturbado. viu o comandante aos redores do lugar onde ele trabalhava e disse que ele provavelmente iria até o lugar onde eu estaria trabalhando. A partir disso, decidimos que estava na hora de nos mudarmos novamente. Mais para o sul, mais para perto da fronteira. Assim que saí de uma conversa com meu chefe, que fora extremamente compreensível e me dera uma adiantada legal do dinheiro, porque via que eu precisaria. Através da vidraça da lanchonete, pude ver comandante e seus empregados rondando o local. Agachei para me esconder e vi meu chefe me olhar e então olhar para os homens que entravam, entendendo que eram os tais de quem estava fugindo. Balançou a cabeça para a porta da cozinha, mandando eu sair pelos fundos. Corri o mais rápido que eu pude e logo fui abordada por , que estava com seu rosto branco.
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  - Eles passaram na pensão. – disse ainda travado. – Fora uma imensa sorte eu ter saído há alguns segundos antes. Trouxe nossas coisas. – balançou a sacola com uma mão. – Passei no banco e retirei todas as nossas economias.
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  Concordei com a cabeça e falei que meu chefe havia dado um dinheiro a mais e que comandante estava agora lá dentro.
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  - Arrisquei em dizer o lugar exato que vamos e foi exatamente da maneira que eu pensei. Eles pensam que mentimos o lugar para a dona da pensão e vão na direção oposta.
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  - Boa. – sorri enquanto andávamos com pressa em direção ao ponto de ônibus, e passamos a correr quando vimos que era para a rodoviária. Uma hora depois, estávamos entrando no ônibus para o Arizona. disse ser o lugar de onde veio, vi em seus olhos a vontade de passar em sua casa e rever sua infância, mas ambos sabíamos que comandante estaria com alguns de seus empregados lá para vigiar o local. Seguimos reto para mais o sul do Estado. Ele parecia conhecer muito bem os arredores. Sabia até como ir para o México legalmente.
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  - Daqui para o México é um pulo. O bom é que as economias que temos irão duplicar devido ao valor da moeda. – ele dizia dentro do ônibus. Eu apertava minhas mãos nervosa. Sempre ouvi falar que atravessar fronteira sem o visto da polícia era perigoso, mas parecia estar bastante tranquilo. Olho ao redor do ônibus e vejo pessoas normais, não com cara de que estavam fugindo de algo. – É um ônibus de turismo, . – ele explica baixo. – Alguns têm permissão de transitar na fronteira e os passageiros que estão dentro dele conseguem passar sem problemas.
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  - Eles não pedem identidade?
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  - Pedem na hora da compra da passagem, por isso a polícia não para o veículo.
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  - E como conseguiu comprar as nossas?
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  Ele olha para o lado e então se aproxima mais de meu ouvido:
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  - As furtei.
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  O olho espantada.
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  - Você roubou?
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  - Foi necessário, afinal, estamos mais necessitados do que eles de sair do país.
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  Não disse mais nada. Não aprovava atitudes assim, mas ele tinha razão. Nós precisávamos com urgência de sair do país. Eu não conseguia dormir. Meu nervosismo ainda estava a flor da pele, principalmente quando atravessamos a fronteira. Fora exatamente como disse que seria, os policiais mandaram alguns sinais de boa viagem e o ônibus apenas teve que diminuir a velocidade. Fingi estar dormindo, mas pude ver lanternas passarem pelo meu rosto. Havia uma parede de arame gigante e uma paisagem de areia sem fim. Eu podia sentir o novo ar e um certo alívio em sair. Na época que Liam ainda estava vivo, ele dissera que a melhor maneira de viver bem era fora do país. Eu nunca entendi direito, achei que ele odiasse os Estados Unidos. Mais tarde veio a me explicar que quando se está em outro país, a política de um outro país não pode interferir, e que mesmo que nós tenhamos feito algo errado nos Estados Unidos, se estivéssemos em outro país e eles nos aceitasse como cidadãos, não havia nada que comandante pudesse fazer conosco.
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  E comandante deveria estar na Austrália agora.
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  Sem perceber, eu havia adormecido, pois acordei com o carinho de em minha cabeça. Abri os olhos lentamente, fazendo-os se acostumar com a claridade. Ao abrir os olhos por completo, vi a nova paisagem de um lugar menos moderno, com pessoas de etnia diferente da que eu estava acostumada.
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  - Chegamos. – ele diz e sorri, arrumando meu cabelo e levantando, o acompanhando.
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  O que nós não esperávamos, era que alguns dos empregados de comandante estivessem na rodoviária. Assim que saímos do ônibus, demos de cara com alguns deles, mas estavam de costas para nós, então dera tempo de sairmos correndo.
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  - O que eles fazem aqui? – pergunto espantada. parecia estar pensando em alguma coisa. – Eles não—
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  - Não diga nada. – ele me corta e então me calo. – Venha. – ele diz alguns minutos depois, me puxando pela mão. Paramos em alguns postos, eu não sabia que entendia castelhano. Muito menos falar. Passaram-se alguns minutos e nós saíamos da rodoviária, sempre olhando para trás e para os lados, tentando não parecer que estávamos fugindo de alguém. Ao chegarmos da porta de saída, pudemos ver os policiais locais parando pessoas que se pareciam conosco – até que não pareciam – e fazendo algumas perguntas. Eles estavam nos procurando. O pavor em meu coração começou a palpitar mais alto, e parecia não saber o que fazer. Fez nós dois nos infiltramos em um grupo de japoneses e caminharmos por entre eles, o que, com dificuldade, saímos sem chamar a atenção. Sequer olhamos para trás, fingimos estar conversando com os japoneses. Alguns metros depois, havia um ponto de ônibus e ele falou mais algumas coisas. Esperamos dez minutos atrás de uma imensa pilastra, com sempre olhando para os lados. E então, quando um ônibus se aproximou, ele me puxou rapidamente para dentro.
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  Ficamos calados sentados no banco, agora respirando aliviados. Enquanto o ônibus estava partindo, pudemos ouvir gritaria e tiros, olhamos para trás e um casal saía correndo do portão principal da rodoviária com alguns homens correndo atrás deles. Eu e assistimos tudo e o automóvel que estávamos tratou de sair rapidamente dali, na segurança de seus passageiros. Pudemos ver os tiros atravessarem as costas do casal e ambos caírem no chão sem vida. Me virei rapidamente e senti os braços de ao redor de mim. Encolhi e fechei meus olhos, voltando a rezar. Eu estava morrendo de medo.
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Capítulo 7

  Ele disse que nós não iríamos ficar no México. Depois disso eu sabia que demoraria um pouco mais para conseguirmos a paz que nós tanto desejávamos. Passamos noites em claro fugindo cada vez mais para o sul do país. Haviam muitos policiais que procuravam casais como nós. Em um dos dias, furtou um jornal, leu e não quis me explicar seu conteúdo. Mas eu podia chutar que não era coisa boa, porque sua expressão não era das melhores.
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  Fora apenas uma semana depois que ele conseguiu arranjar uma maneira de pegarmos a estrada para a América Central. Durante um dos bicos que fazíamos em lugares diferentes, ele conheceu um cara que era expert em ir para a América do Sul. Disse que demorava muito, talvez meses, mas nós estávamos dispostos a correr esse risco.
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  Passamos mais alguns dias trabalhando em alguns lugares e soube que o preço de um carro lá não era tão caro. Não de um carro pequeno. Verificamos nossas economias e vimos que faltava pouco para podermos comprar um e ainda viver bem com a alimentação, se a fizéssemos uma vez ao dia. Trabalhamos por mais duas semanas, sempre em lugares diferentes e fugindo de qualquer oficial que aparecia. No final, conseguimos mais dinheiro do que havíamos planejado, porque uma mulher estava disposta a querer para ela, então o alugava sempre para acompanhá-la em diversos lugares. O pagava bem para segurar suas sacolas e segui-la o dia inteiro no mercado. Eu sabia que ele furtava algumas jóias dela sem a mulher perceber, de acordo com ele, ela nunca iria, já que possuía em abundância. Os vendeu e pudemos ter ainda mais dinheiro conosco. Enfim compramos o carro e seguimos em direção à estrada que o homem conhecido de explicou e riscou um mapa com uma caneta vermelha.
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  - Para onde quer ir? – ele começa a conversa depois que havíamos acabado de abastecer. – Colômbia, Argentina, Venezuela, Brasil?
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  - Não sei… – digo, avoada. – Não sei de nada sobre estes países. Vivi minha vida no navio.
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  - Talvez, então, Argentina. A moeda lá é mais barata e poderemos nos virar melhor. – ele diz, apenas concordei com a cabeça e senti meus olhos pesarem. Sem conseguir perguntar se ele se importava se eu desse uma cochilada, adormeci.
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  Quando abri os olhos já era de noite. ainda estava dirigindo. Perguntei se ele não queria parar para descansar um pouco e ele dissera que já havia feito isso há uma hora.
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  - Você tem um bom sono. – ele ri e dou uma risada sem graça. – Dormi umas três horas.
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  - Só? Não está cansado?
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  - Na verdade, estou muito bem. – ele sorri para mim e volta a encarar a estrada.
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  Eu podia entendê-lo. Também estava muito animada em estar segura na estrada. Longe dos oficiais. Demorou nove dias de estrada para que nós pudéssemos atravessar a fronteira mais uma vez. O tempo estava passando rápido e quando vi a data em um painel na cidade em que estávamos, fiquei surpresa em saber que já faria quase um ano que Liam fora embora. Meu estômago embrulha e finjo dormir no banco de trás, mas meus olhos estavam completamente umedecidos. Eu queria estar vivendo isso com ele. Queria me sentir não só aliviada, mas como feliz também. Ansiosa em realizar meu sonho com ele ao meu lado. Respiro fundo e me viro para o banco da frente, vendo dirigindo atentamente. Ele era uma pessoa muito responsável.
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  Tinha dias que eu deixava de comer, para que ele pudesse se alimentar melhor, ou que o dinheiro fosse guardado para um outro dia. A fome não me vinha tanto. De vez em quando nós dávamos sorte de ouvir uma conversa ou outra sobre procura de alguém que quebrasse um galho, não era muito dinheiro, mas era algo.
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  - Você deveria comer mais, emagreceu e não está com uma aparência saudável. – diz trazendo uma sacola de comida do posto em que estávamos. Sorrio:
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  - Obrigada, mas eu não estou com fome.
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  - Estando ou não, é melhor você comer isso, o seu corpo precisa de nutrientes, anda.
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  Sem escolha, peguei o pacote de viagem da lanchonete e vi que tinha um prato industrial que cheirava muito bom.
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  - Parece gostoso.
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  - É bem mais gostoso que aquele que comemos algumas semanas atrás, lembra? – ele ri e o acompanho. Não demoramos muito a parar e ele dá a volta no carro, se sentando no lado motorista, mas afastando o banco para que suas pernas se esticassem. – Você está pensando nele, não é?
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  Desvio minha atenção da comida e o encaro surpresa.
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  - Como…
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  - Você fica calada e encara muito o céu quando pensa nele. – ele me olha e então volta a encarar o teto do carro. – E deixa de comer.
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  Engulo a comida e paro de mexer nela. Suspiro.
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  - Não quero falar sobre ele.
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  Ele fica sem responder, até que volta a falar depois de me ver voltando a colocar o alimento na boca:
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  - Eu me sinto mal, porque sinto que já superei Josie.
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  Fora inevitável não olha-lo com surpresa. Eu nunca achei que ele fosse superar Josie. Como se ele estivesse em meus pensamentos, o vi continuar a falar:
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  - De um tempo para cá eu ando pensando em muitas coisas e ela nunca está no meio, até que eu percebo que não estou pensando nela. E que ela não faz mais parte dos meus planos.
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  - Não é algo ruim. – digo depois de um tempo. O vejo levantar os ombros. – Eu queria esquecer Liam.
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  Ele me encarar ainda mais surpreso do que eu o fiz quando ele falou sobre Josie.
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  - Chegou a um ponto que dói pensar nele.
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  - Sei…
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   não gostava de falar sobre Liam comigo porque achava que eu era sensível demais para me lembrar da morte dele. Era diferente com nós dois. Ele não vira Josie morrendo de fato. Eu ouvi tudo. Josie não morreu porque quis. Liam sim. Ele sabia disso e não gostava de lembrar. Eu não entendia por que Liam agora era uma parte amarga do meu coração, se tudo o que ele fez foi dar sua vida para mim.
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  Olho para e o vi travar uma batalha consigo mesmo. Pego em sua mão e sua atenção é desviada para minha ação. Sorrio e foi tudo o que pude fazer, mas suficiente para sua expressão suavizar. E o suficiente para eu ver que mudanças estavam acontecendo.
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  Mudanças para melhor.
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Capítulo 8

  Demorou mais um mês e algumas semanas para nós enfim chegarmos na Argentina. conheceu alguns caras que eram fugitivos de outros lugares e criaram esta identidade falsa que o país não questionava sobre.
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  - Você pode escolher seu próprio nome, se quiser. – ele sorri. Retribuo.
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  - Eu gosto do meu.
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  - Foi o que eu pensei. – ele suspirou e então retirou dois envelopes de baixo do casaco. Vi ali todos os documentos necessários para um cidadão normal. Meu nome continuava o mesmo, apenas o sobrenome mudara, coisa que para mim, não importava tanto quanto aquele nome que todos me chamavam. também optou por continuar com seu nome e tivemos o mesmo sobrenome.
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  Nos dirigimos para uma cidade bem pequena, muito no interior da Argentina, onde os tais fugitivos disseram terem ouvido falar, mas estavam preocupados demais fugindo para isso. Mas eu e já não estávamos mais preocupados em fugir. Aqui as leis eram outras e aqui as coisas eram diferentes. Fora que eles não sabiam que nós estávamos aqui.
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  Arranjamos emprego cada um em um lugar. , no banco, como assistente de caixa, um cargo bem inferior, mas como ele tinha boa lábia, conseguia sempre manter um bom relacionamento com os clientes, o que era muito bom para o banco, que estava com uma péssima fama de seus funcionários não tratarem bem. Um mês depois ele foi transferido para o setor de recursos humanos, onde dava treinamento aos funcionários novos em como tratar os clientes do banco. Ganhava bem mais do que como assistente de caixa e ainda trabalhava até os sábados para que pudesse ganhar algum bônus futuramente e o banco visse que não poderia ficar sem a eficiência dele.
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  Já eu, para variar, não tinha um trabalho muito bom. Era faxineira e funcionária em um supermercado, onde ficava até tarde para empilhar todos os produtos em suas devidas prateleiras. sempre vinha me buscar, pois no primeiro dia eu havia me perdido na volta para casa. O cansaço era tão grande que eu mal sabia para onde caminhava. Enquanto eu trabalhava das seis da manhã até às onze da noite, ia para o banco das nove às seis da tarde. E recebia mais.
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  Quatro meses depois, nós finalmente decidimos parar de usar o carro como moradia e o vendemos – para o ferro velho, claro – já que a cidade era pequena o suficiente para nós podermos utilizar os transportes públicos ou andar a pé.
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   havia dito que já havia achado uma pequenina casa para nós dois. O que para mim era ótimo, mesmo que não houvesse móveis. Mas havia.
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  Era uma casa maravilhosa, de um andar, dois quartos, mas de frente para o mar. O mar. A última vez que eu o vira, fora há mais de um ano e meio, quando fugia do navio. Como ele era diferente ali na Argentina. Parecia mais tranquilo, mais limpo, mais prazeroso.
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  Naquele dia eu não consegui dormir. Estava animada demais em arrumar toda a casa, em ter uma casa que eu pudesse chamar de minha. Eu e aproveitávamos que era sábado e tanto ele quanto eu não trabalhávamos no dia seguinte. Meu chefe disse que eu podia escolher um dia da semana para que eu pudesse ter folga e dei a desculpa de ter de ser domingo, o único dia que meu marido tinha de folga também. O homem não demorou a concordar. Sendo assim, quando voltei do supermercado eram meia-noite e pouco, e fiquei acordada até o dia seguinte passando pano nos móveis e tirando o pó da casa. Sem perceber, o sol estava nascendo. Corri até o lado de fora da casa e pisei na areia fofa, os olhos arregalados, surpresos em ver pela primeira vez, o nascer do sol, da maneira que eu sempre sonhara, com a sensação de estar livre.
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  Fechei meus olhos ao sentir a brisa gelada da manhã passar por mim e tentar levar meus cabelos com ela. Então percebi que meus olhos estavam lacrimejados. Eu sonhara com isso desde sempre, Liam deveria estar ali comigo para vivenciar isso. Mas ele não estava. Ao invés disso, estava ali. quem me buscava no trabalho todo santo dia. quem comprou a casa à beira mar só porque eu sempre sonhei em ter uma casa com o pé na areia. quem se responsabilizou em me manter viva e segura com ele. que se preocupou em juntar o seu dinheiro para gastar também comigo.
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  Mas fora Liam que me deu a vida.
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  Eu estava me sentindo confusa. Tantas coisas que fizera para mim e por mim. Tantas vezes ele se esforçara.
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  Virei meus pés e tornei a entrar dentro de casa onde fui para o quarto de e o vi dormindo serenamente em seu colchão no chão. Suas pernas jogadas para os lados e os braços acima da cabeça, que estava virada para o lado. A boca levemente aberta. Sorrio. Ele parecia tão sensível ali.
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  Fiquei um bom tempo o observando e então arrumei o lençol por cima de suas pernas, já que não estava uma noite fria, tampouco quente, mas boa para se cobrir as pernas somente. Segui para o banho e ao sair, deitei em meu colchão em meu quarto. A luz solar já tomavam conta do ambiente, mas o cansaço de repente apareceu para me acordar, e aposto que ficou surpreso em me ver já acordada, ainda mais por estar prestes a fechar os olhos para dormir.
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  Acordei no dia seguinte com dois braços enlaçando minha cintura. Por um momento, achei que estava em um sonho com Liam, mas ao me virar com um sorriso, logo o desfaço ao ver adormecido. Abruptamente me afasto, de modo que acabei o acordando. Ele coçou os olhos e se espreguiçou. Perguntei o que fazia em meu quarto e ele disse:
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  - Vi você ontem no meu quarto e imaginei que precisasse disso.
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  Não tive uma resposta. Pensando bem, eu não havia exatamente pensado nisso, mas eu sentia que sim, eu precisava daquilo. Vi seus olhos me encararem calmos, como se ele soubesse tanto quanto eu que isso tudo era verdade e aguardava que eu me tocasse. Cruzei os braços em insegurança e cocei meu nariz, como sempre fazia quando estava desconcertada. Olhei para o lado e voltei a encará-lo. Vi que agora ele tinha um sorriso sereno em seus lábios. Se levantou e então caminhou até a porta do meu quarto que dava para a praia, ele havia deixado aquele quarto especialmente para mim.
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  - Quer dar uma volta? – pergunta e eu assinto, caminhando ainda com os ombros encolhidos. Senti seu braço ao redor de meus ombros e dávamos passos lentos.
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  Diversos pensamentos passavam por minha cabeça. Todos muito confusos, embaralhados. A única palavra que se mostrava insistente em aparecer era ‘recomeçar’. Olho para , que encarava o caminho que nós ainda iríamos fazer. Sua expressão era tranquila e, de certo modo, feliz. Volto a encarar o mar que eu tanto aprendera a adorar. O verão era uma boa época na Argentina, principalmente no final da tarde. Sem perceber, eu estava com minha mão ao redor da cintura de , caminhando ainda mais perto dele.
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  Ter mudado de país, ter uma outra perspectiva de vida e uma esperança sobre o futuro mudou completamente minha vida. Sentia que agora sim eu estava livre de fazer o que quisesse, sem o medo de ser repreendida.
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  Abro meu sorriso e olho para a areia em que pisava ao lado de . Suspiro e olho para o céu, onde eu sabia que Liam estaria me observando. Me lembro das últimas palavras que disse antes de me deixar:
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  “… Apenas viva, tudo bem? E tudo vai dar certo.”
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  Viver. Isso não fazia parte do meu dicionário. E agora tudo o que me acontece gira em torno desta palavra. Minha vida havia acabado de começar. Recomeçar. E eu tinha de fazer com que ela valesse a pena. Valesse a pena por Liam.
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Epílogo

  - O que você pensa sobre recomeçar? – pergunto a , que estava sentado ao meu lado na semana seguinte. Ele disse que gostaria de assistir ao nascer do sol comigo, então levamos uma imensa toalha para a praia e nos sentamos lá, esperando os primeiros raios de sol surgirem.
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  Vejo sua cabeça se virar para mim e então voltar a encarar o horizonte:
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  - Penso que é uma maneira de você ter uma nova perspectiva de vida.
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  - E isso é bom?
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  - Isso é a melhor coisa que uma pessoa pode fazer. – ele sorri, sorrio de volta e também olho para frente. – Por quê?
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  - Eu só estava aqui pensando… – não sabia como dizer aquilo. – Na verdade, estou pensando nisso já faz um tempo…
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  - Você sabe que não precisa recear em me dizer o que quiser, não é? – ele diz ao me ver insegura. Sinto sua mão segurar a minha e olho para a ação, em seguida para seus olhos. Ele tinha um sorriso nos lábios e me encarava incentivador. Sorrio sem graça.
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  - Bom… Eu só pensei que, bem, nós estamos nessa juntos, e todos acham que somos casados… Então… Hum… Talvez fosse melhor se… Não sei… Nós dois passássemos a viver a vida que nós escolhemos… – paro de falar. Sinto minhas bochechas queimarem junto com o resto de meu corpo, me arrependendo imediatamente do que havia dito. – Claro que foi apenas um pensamento.
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  - Eu gostei. – ele disse e não consigo evitar em olhar para ele surpresa. – Na verdade, eu estava esperando você tomar esta decisão. – Seu rosto se aproxima do meu lentamente. – Porque eu já estava pensando nisso faz um certo tempo.
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  - Desde… Quando? – encolho ao vê-lo tão perto. A última pessoa que chegara perto de mim assim fora Liam e há muito tempo atrás. As borboletas em meu estômago começaram a passear e as batidas do meu coração se tornaram descompassada com minha linha de raciocínio.
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  - Desde que percebi que eu havia esquecido de Josie. Não esquecido, mas aceitado que ela não vai voltar e que eu preciso seguir em frente da melhor maneira possível. Era isso o que ela gostaria que eu fizesse.
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  Concordo com a cabeça. Ele estava certo. Liam estava certo. Josie estava certa. Eu era a única pessoa errada. Até agora. Fiquei brincando com a areia ao meu lado e não pude ver quando se aproximou para beijar o canto de meus lábios e nem muito menos quando começamos a nos beijar apaixonadamente.
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  Senti como se todo o meu passado estivesse se apagando e se distanciando. Como se nada daquele pesadelo tivesse acontecido. Como se minha vida estivesse começando agora. E o sol nascia, para mostrar que era um novo dia de uma nova vida.
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  Uma vida que Liam me deu e eu escolhi ter ao lado de , aquele que se certificará de que eu serei feliz e realizarei todos os meus próximos sonhos.
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Fim

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