The Story Of Another Us

  – Tem certeza que não quer conhecê-la?

  – Tenho – respondi, entendiado –, você sabe que não quero conhecer ninguém agora. Tenho tanto trabalho e uma namorada só iria exigir mais de mim.

   me olhou com uma careta. Ele sabia que era uma desculpa. Eu estava dando uma desculpa porque estava com preguiça. Havia passado as últimas 52 horas em um set de filmagem; as 3 últimas horas, especificamente, minha mente estava focada em imaginar quão perfeito seria meu corpo deitado no sofá de casa e uma comida fast food que eu pediria no caminho de volta.

  Mas , meu melhor amigo, me ligou porque sabia que eu teria o dia seguinte de folga, e simplesmente não consegue admitir que uma pessoa solteira pode ser feliz sozinha.

  – Ela é a amiga de infância da Liz, com quem estou saindo. Eu a conheci na semana passada; estava fora do país trabalhando pela empresa e voltou recentemente para ficar. Então pensei…

  – Por que não? – respondi, mas em um tom completamente diferente do dele. – Você sempre pensa por que não, …

  – Ora, deixe de ser ingrato! Só não vi nada demais apresentar você para uma das melhores amigas da minha namorada e podermos, de vez em quando, sair em casal.

  – Você só quer juntar o útil ao agradável e não ter que dividir sua agenda entre eu e Liz – respondo, mordendo um pedaço do nacho sem interesse nenhum em continuar com aquela discussão. tossiu por ter sido pego no flagra e quando se recuperou, apenas disse:

  – Bem, eu só quero poder passar mais tempo com vocês dois, minhas pessoas favoritas do mundo!

  Abri um pequeno sorriso com sua ingenuidade.

  Eu poderia fazer o que meu melhor amigo pedisse, se não fosse o caso do meu corpo estar moído por ter tido péssimas noites de sono e pouco descanso.

  Limpei a mão e terminei o copo de cerveja, e então fiz questão de me levantar.

  – Vá encontrar com sua querida Liz, .

   abriu um pequeno sorriso e olhou para o lado.

  – Bem… sobre isso…

  – Oi, !

  Arregalei os olhos para meu amigo, que se levantava para cumprimentar a namorada, que chegava combinando com a mesma energia dele. Enviei-lhe uma careta antes dele sorrir sem graça.

  – disse que convenceria você a conhecer a . – Liz disse enquanto me cumprimentava. – Disse que pagaria para ver, mas, honestamente, você está fazendo uma boa escolha. Minha amiga é demais.

  Apertei os lábios enquanto sorria para a namorada do meu amigo, que acabou sendo minha amiga por tabela. Não é difícil gostar de pessoas simpáticas e carismáticas como os dois.

  – Hum… Liz… – começou a falar, mas a namorada já tinha se virado para abraçar outra mulher. Olhei para meu amigo com os olhos arregalados, exigindo que ele desse um jeito nessa situação e ele só piscou os olhos lentamente e fez uma expressão de quem resolveria.

  Suspirei e olhei para a amiga de Liz.

  Foi como se o tempo parasse.

  Seu sorriso era tímido e doce.

  Uma das mãos levou o cabelo para trás da orelha, enquanto ela respondia algo que Liz dizia com tanta energia. Riu após uma brincadeira, uma risada que me fez sorrir. Quando ela olhou para , não se mostrou desconfortável por ele ser do tipo de pessoa que não se liga para a zona de conforto, o que me mostrou que sua personalidade batia com a minha. Nós somos o tipo de pessoa que precisa, às vezes, que outros invadam nossos espaços e nos façam viver novas aventuras.

  – Hum, Liz, veja só… – sorriu sem graça para as duas. – disse que…

  – Que espero que você goste de tequila! – disse rapidamente, tirando um olhar surpreso do meu amigo e de . – Prazer, sou o .

   deu uma risadinha sem graça e então apertou minha mão. Uma mão tão pequena que eu poderia cobri-la inteira com a minha. Imaginei nós dois caminhando de mãos dadas e um calor percorreu meu corpo, o estremecendo.

  Nosso relacionamento não começou tão rápido.

  Eu não esperava ter de esperar por uma resposta dela por mais do que uma semana. Fiz de tudo ao meu alcance para mostrar a ela meu interesse. Passei boa parte do meu dia e todas as noites respondendo suas mensagens. Assim como eu, é uma pessoa mais sociável cada vez que você a conhece mais.

  E então, um dia, pedi para levá-la até o set do meu filme. Ela me acompanhou e, enquanto mostrava para ela como seria a próxima cena que gravaríamos no dia seguinte, decidi que era agora ou nunca.

  – Ele conversará com ela como nós estamos conversando agora – com as mãos nos bolsos, fui andando de forma a guiá-la até uma parede viva com flores nas mais diversas cores –, e então, de repente, ele irá colocá-la contra a parede e dizer o quanto gosta dela. E como não consegue parar de pensar nela, nem mesmo durante o sono.

   me olhou surpresa com minha iniciativa, mas ouviu-me com atenção. Quando terminei de falar, disse:

  – Os dois estão no meio de um apocalipse.

  Dei uma pequena risada e baixei a cabeça. Havia sido pego no flagra.

  – Bem, uma situação apocalíptica nos faz pensar no que poderíamos ter feito se tivéssemos mais tempo, não é? Mas não quero estar diante de um apocalipse para dizer meus sentimentos.

   continuou me olhando com um sorriso no rosto e então, como resposta, fechou os olhos para me deixar dar o próximo passo.

  E assim foi nosso primeiro beijo. Exatamente como se fosse um filme.

  Nosso primeiro ano passou rápido.

  Enquanto eu trabalhava sem parar nos meus filmes, , que trabalhava na área de RH de uma empresa multinacional, fazia viagens aqui e ali. Às vezes calhava de suas viagens ser para o mesmo lugar que eu precisava ir. Durante suas férias, ela vinha passar o mês onde quer que eu estivesse no mundo; nas minhas, eu passava o tempo inteiro em seu apartamento, acordando junto dela e a pegando em seu trabalho após o horário útil.

  Tínhamos uma vida perfeita.

  Até que ela não se tornou mais perfeita.

  Quando estávamos próximos de completar um ano e 8 meses de namoro, começou a passar por dificuldades em seu trabalho. A mudança na diretoria e a entrada de um chefe intolerante a fazia ter maus momentos e a até sofrer preconceitos.

  Ao mesmo tempo, um acidente fatal aconteceu em meu set de filmagens, fazendo com que a polícia tivesse que interferir para averiguar tudo e eu fosse obrigado a pausar todas as gravações. Cada dia pausado era um bom dinheiro desperdiçado, o que fez com que os investidores começassem a me pressionar.

  Não estávamos preparados para superar um problema sem o apoio do outro; ao mesmo tempo, não tinha como apoiarmos o outro, quando nossos problemas estavam nos consumindo.

  – Por que não terminamos, então? – ela um dia perguntou com raiva.

  Nós dois estávamos na sala de seu apartamento e havíamos acabado de brigar porque eu só queria que ela passasse o próximo final de semana comigo, mas ela insistia em dizer que precisava trabalhar. Minha teimosia gerou uma discussão e ela, impaciente, falou de forma impulsiva:

  – Porque eu te amo.

  Minha resposta a calou. Segundos depois, caiu no choro.

  Fui até ela e a abracei. Tentei lhe transferir todo o meu amor e a mensagem de que superaríamos aquilo tudo juntos, fosse o que fosse.

  Vimos a dificuldade de passarmos pelo pior momento de nossas vidas ao mesmo tempo. Mas também aprendemos que com o amor e a vontade de lutar por nós, nada seria em vão. Que qualquer situação seria melhor, desde que estivéssemos juntos.

  Um ano depois, estava em uma nova empresa e eu entregava meu filme com só 2 meses de atraso, algo aceitável, considerando toda a comoção que aconteceu. Minha equipe transformou o desastre em marketing, e usou da situação, a oportunidade de mudar de área, encontrando um trabalho que lhe fazia muito mais feliz e lhe dava mais tempo para ficar comigo, já que era home-office e a permitia trabalhar de qualquer lugar.

  A pedi em casamento em um lugar isolado da Finlândia, onde eu gravava o filme que me daria meus melhores prêmios. Nos casamos após eu ter ganho o maior prêmio do cinema mundial.

  – Obrigado – disse a ela enquanto a assistia encarar o pôr do sol de nosso primeiro dia no Japão, onde passaríamos toda a nossa lua-de-mel.

   me olhou com um sorriso no rosto. Ela sabia que “obrigado” era uma palavra tão forte quanto “eu te amo”. Porque eu dizia que a amava todos os dias, mas nem todos eu lhe agradecia por me fazer tão feliz, tão… completo.

  Ela encostou sua testa na minha e, com um sorriso, senti que ela me dizia que estaria comigo por um longo tempo. Mas só o que disse foi:

  – Para sempre.

  As palmas soaram assim que as luzes do cinema acenderam. Ao meu redor, todos se levantavam e olhavam em minha direção com orgulho e satisfação estampados em seus rostos.

  Sorri fechado e acenei para todos, agradecendo o carinho por terem vindo prestigiar meu trabalho, algo diferente do que fiz antes. Olhei para o elenco, os parabenizei e agradeci o trabalho árduo nos últimos meses; à toda equipe, que celebrava junto de mim por mais um filme bem feito. Dessa vez não foi tão difícil. Eu quis arriscar fazer um filme água com açúcar, porque sim. E, pelo que todos falavam, era exatamente o que precisavam em uma época tão difícil no mundo.

  E ali, no fundo, uma pessoa permanecia em pé, batendo palmas, mas me olhando totalmente diferente de todas as outras pessoas.

  . Com seu olhar triste e os lábios voltados para baixo.

  Vi em seus olhos que ela sabia. Sabia que aquela era a nossa história. Com todos os altos e baixos, e os sorrisos e promessas sem fim.

  A única diferença era o fim. No filme, nós viveríamos felizes para sempre.

  No filme, eu não lhe respondi que não queria me separar dela porque a amava. Ao invés disso, eu respondi “que seja” e fui embora com a cabeça quente.

  Apertei os lábios enquanto a vi dar-me as costas e descer as escadas, saindo do cinema. Tentei ir atrás dela, mas era impossível. Um anfitrião jamais poderia deixar sua festa.

  E eu sabia que não iria vê-la mais depois de hoje, porque já não morava mais aqui. Alguns meses depois do nosso término, Liz contou a que havia sido convidada pelo chefe anterior a trabalhar para ele na Austrália.

  E ela foi, tirando a oportunidade de podermos nos reatar.

  Entre nós ficaria apenas nossas lembranças e um filme.

  Um filme com a história de um outro nós.