The Sollarium: Mulan
Foi assim que Rumple deu início a primeira e maior agência de investigação do mundo, segundo alguns da Continuum, a Solarium. Fazendo acordos e recrutando primogênitos para desenvolver habilidades específicas.
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Xangai, primavera de 1932
Tudo começou quando meu pai adoeceu.
Nossa família estava à beira da falência e era preciso muita coragem para tomar alguma atitude. Os abutres que um dia se julgaram sócios do meu pai, só queriam se deleitar nos restos da nossa empresa que ainda resistia de pé. O mundo seguia resistindo à crise americana que afetava todas as nações. E minha família resistindo às pressões econômicas do país. Estar a frente de uma indústria alimentícia já não era fácil em épocas prósperas… Nem mesmo a colheita anual de arroz tinha sido satisfatória. Não segundo os relatórios mal digitados que enviavam periodicamente ao meu pai.
— . — Disse minha mãe ao entrar em meu quarto, indo até a janela abrindo as cortinas com toda empolgação. — Hora de levantar.
— Mãe. — Resmunguei virando para o canto, cobrindo mais o rosto.
— Não, mocinha, pode ir se levantando. — Ela se aproximou da minha cama e puxou minhas cobertas.
— Mãe!? — reclamei mais.
— Nada de mãe, temos muitas coisas para resolver sobre seu enxoval de casamento. — Enfatizou ela, com um olhar empolgado.
Ah sim. O casamento.
Eu já havia me esquecido do acordo financeiro para salvar a empresa da nossa família. Acordo esse que resultou no meu casamento com o herdeiro da família Bei, . Eu nunca tinha visto tal homem na minha vida. Somente sabia que ele havia se formado na melhor universidade da Inglaterra e morava em Londres até o momento. Seu pai, um amigo de infância do meu, se mostrou muito solícito ao saber de nossa situação financeira. Tanto, que fez tal proposta de nos ajudar a salvar a empresa em troca desse arranjo matrimonial.
— Tudo bem. — Ergui meu corpo emburrada e olhei para ela.
— Não me olhe assim, mocinha, sabe que o que está fazendo é para honrar a nossa família. — Ela me repreendeu.
— Sim, eu sei. — Assenti ainda inconformada, porém, me levantei da cama e, me espreguiçando, olhei para o vestido de cetim já preparado para aquele dia.
Passei as horas seguindo minha mãe pelas ruas do comércio. Não tinha muitas pessoas circulando, com a crise financeira, todos desejavam poupar seu dinheiro e não perder o que ainda tinham. Desviei toda a minha atenção para meus pensamentos sobre os relatórios da empresa. Havia alguns números que não batiam com as informações passadas. Se havia uma coisa que as pessoas não deixavam de comprar, era comida. E se tínhamos vendido bem no ano anterior com uma safra ruim, como este ano a colheita havia sido menor ainda? Ainda mais sabendo o alto investimento efetuado na modernização das máquinas.
— Preciso descobrir o que acontece nesta empresa. — Sussurrei para mim mesma, ao olhar para a vitrine da loja de calçados.
Era um fato que a voz feminina não tinha reconhecimento em nossa sociedade. Muito menos em minha casa. Quando questionei meu pai sobre a lealdade de seus diretores, a única coisa que soube dizer foi: Eu conheço o meu lugar, está na hora de se preocupar com o seu, a começar pelo casamento. Aquilo me deixou mais do que revoltada. Não iria discutir mais com ele sobre isso por respeito ao seu estado de saúde, entretanto, não deixaria de investigar sobre minhas desconfianças. Mesmo que isso custasse ir contra as normas da sociedade.
— E você tem alguma experiência? — perguntou a mulher que fazia entrevista comigo.
— Para limpar banheiros deve-se ter experiência? — perguntei engrossando mais a voz.
Era loucura de minha parte? Sim. Muita loucura. Mas não tinha outra escolha, sendo a filha do dono eu jamais conseguiria entrar na empresa sem que meu pai soubesse. Minha única solução: me disfarçar de homem para conseguir um trabalho de faxineiro. Não tinha cargo melhor para espionagem que esse. Entrar e sair de salas, escutar conversas e apenas fingir que está trabalhando. A desculpa perfeita.
— Um bom argumento! — Ela sorriu com certa malícia, cruzando as pernas.
Era estranho pensar sobre isso, mas… Será que a secretária do diretor Kim estava tentando me seduzir? Tenho que admitir que meu disfarce estava tão perfeito que nem eu me reconheci quando olhei no espelho. As velhas roupas que peguei emprestado do motorista sem que ele soubesse, me couberam bem. Parecia até homem de verdade.
— Então. O emprego é meu? — insisti.
— Claro, senhor…
— Ping. — Disse a ela.
— Bem-vindo às Indústrias Fa, senhor Ping, pode iniciar suas atividades amanhã mesmo. — Ela manteve o olhar interessado em mim. — E gostaria que este andar fosse o primeiro de sua rota de limpeza.
— Ah… Sim. — Eu sorri, meio sem graça. — Agradeço pela confiança, senhorita Nyu.
Me curvei de leve para ela e mais que depressa assinei o contrato de trabalho e saí correndo da sala, antes que a mulher se jogasse em cima de mim. Agora, eu não tinha como voltar atrás, tinha que seguir em frente e descobrir o que estavam fazendo com a empresa do meu pai.
Nos dias que seguiram, eu tive muita dificuldade para despistar minha mãe, e às escondidas, disfarçada de Ping, ir trabalhar na empresa. Sempre que me via sozinha em uma das salas, aproveitava o momento para procurar documentos ou provas que pudessem explicar algum tipo de desvio de dinheiro. Eu não confiava nem um pouco nos diretores, principalmente por insistirem com a ideia de venderem nossa empresa e as terras de plantações para um empresário dos Estados Unidos chamado Charlie Dominos. Era mesmo louco. Pessoas perdendo suas fortunas e tinha alguém querendo comprar plantações de arroz em Xangai.
—
Atrasada para mais um dia de trabalho na empresa, e seguia correndo para o vestiário. Sempre me pegava confusa ao deparar com as placas indicativas de feminino e masculino. Sendo uma mulher disfarçada de cavalheiro, era surreal para mim quando entrava no banheiro masculino e me deparava com algum homem usando a privada vertical. Uma mistura de náusea e ânsia de vômito sempre. Vesti o uniforme no reservado do vestiário masculino, joguei minhas coisas no armário e segui para minha rotina. É interessante as coisas que se ouve numa empresa ao fingir-se de múmia enquanto limpa o chão de uma sala de reuniões.
— Ainda aí?! — perguntou Rumple ao aparecer na porta e me ver limpando o ventilador de teto.
Aquilo era uma novidade entre os escritórios que demonstrava o progresso europeu invadindo nosso país.
— Já terminou suas tarefas? — Continuei minha atenção na limpeza, tentando me equilibrar naquela escada velha.
— Claro, sou o funcionário do ano. — Brincou ele, entrando mais.
— Só faltou ganhar a altura. — Ri dele.
— Isso é.
Em pouco tempo que conhecia Rumple, logo fizemos amizade. Ele me olhava estranho e desconfiado em alguns momentos, entretanto, me ajudava bastante com minhas tarefas e principalmente com as investidas da senhorita Nyu. Me dava medo de como ela olhava para mim. Pobre moça, se soubesse da verdade.
— Aqui está horrivelmente empoeirado. — Comentei.
— Imagino. — Disse ele. — Vai demorar ainda? O pessoal está combinando de ir naquele bar que abriu na esquina, dizem que é bem frequentado.
— Eu já disse que não… — em um piscar de olhos, senti a poeira entrando em minhas narinas e soltei um espirro inesperado.
Consequência disso, a escada cambaleou comigo e no desequilíbrio, eu caí em cima de Rumple. Minha boina que sempre usava caiu, revelando meus longos cabelos. Os olhos arregalados dele demonstravam confirmação de algo e não uma surpresa.
— Então você é mesmo uma garota. — Sussurrou ele, certo do que dizia.
— Por favor, não conte a ninguém. — Disse me levantando mais que depressa, pegando a boina do chão e ajeitando na cabeça.
— Eu sabia que tinha algo estranho em você. — Afirmou ele. — Delicada demais para ser um homem que passou a vida limpando privadas.
— Rumple?! — A voz do nosso supervisor soou do corredor.
— Por favor, não me delate, por favor! — Eu me mostrei desesperada, o que de fato eu estava.
— Ajeite a boina e recolha a escada. — Disse ele seguindo até a porta. — Mas vai ficar me devendo essa.
— Fechado. — Assenti.
E foi assim que fiz meu primeiro e único acordo da vida. Eu nem o conhecia direito, mas estava tão aflita com a ideia de ser pega, que não me importei de ler as letras miúdas do contrato. Rumple, diminutivo de Rumpelstiltskin, era dito como o funcionário dos segredos. Parecia saber sobre a vida de todos ali, e eu era mais uma que lhe devia um favor. E sabe lá o que isso realmente me custaria no final.
Duas semanas antes do meu casamento…
Já estava com meus pensamentos a mil, devido a alguns documentos de acordos financeiros que achei em nome do diretor Li. O retorno do meu noivo ao país era o único assunto que minha família respirava. A esperança que meu pai tinha dele assumir nossa empresa depois de me desposar, me deixava ainda mais irritada. Sentia um peso sobre mim que não me deixava nem mesmo respirar direito.
— É um prazer conhecer-te, . — Mantive meu olhar abaixado, como mandam as tradições.
— É uma honra para mim conhecê-la, Fa . — Disse ele, ao segurar em minha mão e beijá-la. — Confesso que me impressiona a vossa beleza.
— Agradeço pelo elogio, meu senhor. — Me curvei de leve em reverência e agradecimento.
— Estou feliz que vossos pais tenham lhe permitido vir ao meu convite. — Disse ele, esticando a mão para que me sentasse na almofada, diante da mesa de chá. — Sei que em nossas circunstâncias, um casamento arranjado, os noivos só se conhecem no dia do matrimônio.
— Talvez pelo senhor ser filho de um amigo. — Expliquei a ele.
— Por favor, me chame de . — Pediu ele. — Não deves ser tão formal assim com seu noivo.
— Não quero soar desrespeitosa. — Retruquei, mantendo a formalidade.
— Permita-me então, dar-lhe espaço para ser mais íntima e menos formal. — Seu olhar tinha algo incomum, transmitia a mistura de suavidade e curiosidade. — Meus pais sempre me relataram sobre a filha do senhor Fa nas cartas que me escreviam.
— Seus pais falavam sobre mim? — Por isso eu não esperava.
— Sim. — Confirmou. — Acho que isso me fez estar ainda mais ansioso para conhecê-la.
— Gostaria de dizer o mesmo senhor… — fiz uma breve pausa. — .
— O que gosta de fazer? Em horários livres? — perguntou ele, mantendo um olhar discreto para mim.
— Gosto de treinar arco e flecha. — Comentei. — Apesar de ter sido algo contrário à vontade da minha mãe, meu pai me ensinou a manusear.
— Interessante. — Ele pareceu surpreso. — Também sei usar arco e flecha, apesar de gostar mais da lâmina de uma espada.
— Soube pelo meu pai que esteve por um tempo no exército chinês. — Comentei.
— Sim, inicialmente queria seguir a carreira militar, porém, por um pedido de minha mãe, troquei a farda pelos estudos em Londres. — Explicou ele.
— Estou curiosa para vê-lo de farda agora. — Ri baixo.
— Talvez após nosso casamento, posso lhe dar o prazer de ver. — ele sorriu de canto.
Casamento. Quanto mais se aproximava do dia… Mais eu me sentia nervosa por não ter descoberto nada. Não que eu tivesse esperanças de anular o casamento caso descobrisse que realmente houve desvios. Mas o fato de pensar que não poderia continuar minha investigação após a troca das alianças me deixava ainda mais apreensiva.
— E agora? O que faremos? — perguntou Rumple.
— Eu não sei, mas sinto que preciso abrir aquele cofre. — Disse a ele.
— Não conseguimos ter acesso à sala, quem dirá o cofre. — Ele soltou uma risada fraca. — Sei que estamos juntos nessa, minha amiga, mas estou com medo de sermos pegos.
— Deixe de ser maricas, não seremos pegos. — O repreendi.
— Tudo bem, vamos supor que não sejamos pegos, quando acha que poderemos entrar nessa sala e vasculhar tudo?
— No dia do meu casamento. — Disse convicta. — Tenho certeza que toda a atenção das pessoas vai estar nesse evento, então será nossa chance.
— E como você vai estar em dois lugares ao mesmo tempo? — Ele apagou o seu cigarro e me olhou curioso.
— Ainda estou trabalhando nisso. — Assegurei a ele. — Mas vamos entrar naquela sala.
Estava mais do que confiante. Tudo milimetricamente calculado, eu demoraria um pouco para chegar na igreja. Atrairia a atenção de todos para mim, enquanto Rumple abriria o cofre. Porém, imprevistos acontecem e em meio ao jantar de noivado na noite anterior à cerimônia, recebi um bilhete do meu amigo, dizendo ter ouvido conversas interessantes enquanto fazia a limpeza do banheiro masculino dos diretores. Uma oportunidade de invadir a sala naquela noite tinha se aberto. E como eu me livraria do meu noivo e seus pais que degustavam do jantar tão caprichosamente preparado pela minha mãe.
— Está tudo bem? — perguntou ao se aproximar de mim, após nossos pais seguirem para o escritório.
Certamente tomariam um genuíno vinho que ganhou de um estrangeiro.
— Sim, estou bem sim. — Eu não tinha escolha e a única forma de me livrar de mais horas naquele jantar era aquela.
Fiz minhas pernas fraquejarem e fingi um desmaio. Logo senti os braços de me amparar com cuidado e sua voz chamando meus pais. Assim que me colocaram na cama, tudo ficou escuro e silencioso. Abri os olhos e me levantei depressa. Coloquei minhas roupas de disfarce e descendo pela janela da lateral com lençóis amarrados, segui com a bicicleta do jardineiro para a empresa.
— Rumple?! — gritei pelo meu cúmplice, não sendo respondida.
Segui para a lateral do prédio, e passei pela entrada dos funcionários. Seguindo pela escada, comecei a ouvir algumas vozes alteradas. Parando no andar da diretoria, abri uma fresta da porta e avistei Rumple sendo segurado por um homem robusto e forte. Seu rosto com hematomas e a boca com vestígios de sangue. Me senti culpada por aquilo ser por ele tentar me ajudar. Quando o diretor Li apareceu no meu campo de visão, com uma arma na mão engatilhando, minha mente parou e não consegui mais raciocinar o que poderia fazer.
— Já teve sua chance de dizer a verdade, senhor Rumple, agora terei que silenciá-lo para sempre. — Ele apontou para meu amigo, que fora empurrado para o chão.
— Não! — gritei da porta, chamando a atenção deles.
Nem mesmo consegui dizer outras coisas e o homem pareceu me reconhecer.
— Peguem ela. — Ordenou o diretor Li.
Dei um passo para trás e saí correndo pela escadaria.
Cheguei ao estacionamento subterrâneo recém construído e comecei a procurar por um lugar para me esconder. Além do robusto, que pareceu ficar segurando Rumple, dois homens seguiram atrás de mim. Meu coração acelerado e minha mente em surto, não consegui ver claramente o que poderia fazer para sair daquela situação e salvar meu amigo. Me coloquei atrás de uma pilastra e fiquei observando um deles se aproximar. Fiquei aflita por não avistar o outro de camisa cinza.
— Peguei você. — Disse o homem ao me segurar pelos cabelos e me arrastar para longe da pilastra.
— Me solta! — gritei me debatendo para me livrar dele, porém, sem sucesso.
— Achou mesmo que podia enganar o chefe com essa roupa. — O baixinho riu de mim, pude notar seus dentes defeituosos.
— Você sabe quem eu sou? — perguntei inocente.
— Sabemos que você poderá valer muito se pedirmos um resgate. — O baixinho me analisou. — Eu me lembro do seu rosto.
Aquilo me desesperou ainda mais. Tinha esperança de descobrir a verdade, com Rumple entre a vida e a morte, e agora sequestrada. Em um piscar de olhos, o homem baixinho foi puxado para trás e socado logo em seguida. O de camisa cinza me jogou contra a pilastra e fechando os punhos se lançou contra a terceira pessoa que apareceu do nada. Minha cabeça ficou meio zonza pela pancada que se deu com o impacto do meu corpo com a pilastra. Caída no chão tentei me levantar sem sucesso e com a vista embaçada, somente consegui ver os vultos de três pessoas lutando. Foram alguns minutos até que um saiu vitorioso.
— Rumple?! — perguntei ainda com a visão embaçada, me sentindo cansada.
Meu amigo dos acordos já tinha mencionado sobre um clube de lutas que participava clandestinamente, o que me fazia pensar que ele sabia artes marciais. Mas se ele sabia lutar, por que estava tão machucado quando o vi minutos atrás? Será que era mesmo ele em meu resgate?
— Então este é o nome dele? — A voz de fez meu corpo estremecer, senti seu toque em meu ombro para me amparar. — Este é o homem a quem seu coração pertence?
— . — Fechei meus olhos sentindo pontadas em minha cabeça. — Por favor, ajude-o, Rumple está no andar dos diretores…
Eu não tinha tempo para explicar nada, a vida de Rumple estava por um fio por minha causa. Assim que abri meus olhos, avistei ele se afastando em direção às escadas. Minutos depois ouvi, alguns tiros. Meu coração parou por instantes, com medo que pudesse ter acontecido algo de muito ruim. Me levantei com dificuldade e respirando fundo, voltei às escadas e as subi. Levou muito esforço para finalmente chegar no andar que queria. Abrindo a porta, me deparei com o diretor Li baleado na perna e caído ao chão. O homem robusto, desacordado e amarrado. E de pé, enfaixado o braço de Rumple que tinha sido baleado.
— Rumple! — Corri até eles e olhei para seu braço. — Está tudo bem?
— Sim, graças ao seu noivo, ele é bem rápido, parece ter treinamento militar. — Respondeu ele com um tom debochado de ser, não ligando para os olhares repreensivos e confusos de . — Gostei dele, posso ser o padrinho?
— Muito engraçado. — Voltei meu olhar para que se mostrou triste. — Obrigada, significou muito para mim.
— Eu imagino. — Ele deu um passo para se afastar.
— Espera! — Eu segurei em sua mão.
— Ahh… Eu não queria atrapalhar o momento do casal, mas o que vamos fazer com eles? — Interrompeu Rumple, dando uma risadinha esquisita e medonha. — E com isso?!
Ele ergueu a mão, mostrando a chave do cofre da sala de Li.
— Você conseguiu. — Abri um largo sorriso, senti até meus olhos brilharem na hora.
— Era isso que eu ia te dar quando fui descoberto pelo diretor e surpreendido pelos seus capangas. — Explicou.
— Você é um máximo, sabia. — Brinquei de forma espontânea, sem notar o desconforto gerado em .
Peguei a chave da mão dele e segui até a sala de Li. Assim que abri o cofre, lá estavam os documentos originais que provariam os desvios de dinheiro e fraudes causadas pelos diretores sob a coordenação de Li, além de uma quantidade significativa de dinheiro e jóias. Minha descoberta significava o salvamento de nossa empresa, pois com as provas poderíamos confiscar todos os bens dos diretores e devolver o valor desviado para as contas da empresa.
— Foi por isso que se vestiu assim? — perguntou se mantendo mais afastado de mim.
— Sim. — Assenti fechando o cofre novamente. — Eu precisava descobrir a verdade, com o meu pai doente e seu afastamento da empresa… Mulheres não são bem vistas pela diretoria, principalmente quando fazem muitas perguntas.
— Estou admirado por ter feito isso pelo seu pai. — Ele se manteve sério, com o olhar triste. — Que bom que conseguiu resgatar o que roubaram de sua família, é uma mulher muito corajosa.
— Obrigada. — Sorri de leve.
Mantivemos nossos olhares um no outro por alguns instantes. Até que tomei impulso para falar sobre minha amizade com o homem dos acordos.
— Pronto. — Rumple apareceu da porta com um sorriso de satisfação e um olhar de dever cumprido. — Chamei a polícia e liguei para o senhor Fa, estão todos a caminho.
— Obrigada. — Soltei um suspiro fraco e apontei para os trajes masculinos em meu corpo. — Só não sei como vou explicar sobre isso aos meus pais.
Não demorou muito, até que o barulho das sirenes soaram ao redor do prédio. Os policiais prenderam os dois capangas do estacionamento mais o robusto ainda desmaiado. O diretor Li confessou seus crimes diante do meu pai e do capitão Xing. Seu olhar de fúria em minha direção me fez ter medo do que pudesse fazer contra mim e minha família. Mas abraçada à minha mãe, só conseguia me sentir segura e amparada.
— Está tudo resolvido agora. — Disse meu pai ao segurar a chave do cofre na mão, logo tossiu um pouco. — Você se arriscou muito, querida.
— Me desculpe, papai, eu só queria ajudar. — Desviei o olhar para o chão.
— O que importa é que está bem, querida. — Ele me abraçou forte e confortavelmente.
Consegui sentir toda a sua preocupação.
— Agora que possivelmente recuperou seu dinheiro… — o senhor Bei olhou para meu pai. — Devo presumir que nosso acordo será desfeito.
Claro que ele mencionava subjetivamente sobre o casamento.
— Bem… — meu pai olhou para mim, confuso pelas palavras do amigo.
Ele sabia que eu havia concordado com o casamento para honrar o nome da nossa família e salvar nossa empresa com o dinheiro da família Bei, mas agora temos a chance de resgatar a força de nossa empresa com minha descoberta do dinheiro roubado. Talvez para manter a honra de sua palavra, meu pai queira continuar com o planejado para o casamento na manhã seguinte.
— Eu libero o senhor Fa de sua palavra. — se pronunciou, mantendo-se de costas para nós, olhando pela janela.
— Filho. — A senhora Bei o olhou surpresa.
Uma incógnita se formou em minha mente. Não sabia o que fazer, mas sentia que precisava explicar algumas coisas a ele. Principalmente minha amizade repentina com Rumple.
— Eu posso ter uma conversa em particular com Bei , papai? — pedi permissão ao meu pai, depois voltei o olhar para o senhor Bei.
Eles assentiram. Seguimos até a sala do diretor. Antes de entrar, avistei Rumple perto das escadas falando com o capitão Xing. Assim que entramos na sala, manteve a porta entreaberta, por respeito às nossas famílias e a minha honra.
— … — tentei iniciar a conversa, porém fui barrada pelo seu olhar em minha direção.
— Não precisa explicar, vi o seu olhar para aquele homem. — Ele se pronunciou. — Não a manterei forçadamente a um casamento arranjado.
— Você entendeu tudo errado, . — Mantive minha face suave, com um tom sério e firme. — Rumple é um amigo que me ajudou nessa loucura toda. Ele não sabia que eu era uma mulher no início e depois que descobriu, fizemos um acordo dele me ajudar. — Eu ri baixo. — Ele nunca foi um interesse amoroso, somente um amigo.
— Um acordo em troca de quê? — indagou ele.
— Ele ainda não disse o que quer, mas certamente será dinheiro ou um cargo melhor que lavar banheiros.
— Você não possui sentimentos por ele? — O olhar de era um misto de esperança e angústia.
— Não. — Respondi.
— Não muda o fato de não sentir nada por mim. — Ele voltou seu olhar para a porta.
Isso me deixou impressionada. Será que ele sentia algo por mim? Por isso a preocupação de saber meus sentimentos por Rumple?
— Mas também não me impede de sentir algo por você. — Disse de forma suave e firme, mantendo o olhar sereno com um sorriso no canto dos lábios. — Eu ainda desejo pelo casamento.
Um homem que, mesmo por motivos tortuosos, me seguiu e seu ato acarretou em meu salvamento. Certamente devo dar-lhe o benefício de mostrar seus afetos mais profundos por mim em matrimônio.
Em segundos, os lábios de tocaram os meus de forma repentina e ousada. Um ato impróprio para nós mesmo tendo um compromisso formal de noivado. Entretanto, não recusei e lhe dei mais liberdade, ao fechar meus olhos e retribuir o beijo com doçura e delicadeza.
— Meus sentimentos por você são os mais sinceros e profundos. — Assegurou ele, com olhar carinhoso e mais esperançoso. — Desejo amar-te, Fa .
Desde o início eu notei de forma bem sutil o interesse de por mim. Só não esperava uma declaração como aquela.
—
— Você está linda, minha querida. — Disse meu pai ao me ver com o vestido de noiva.
Um olhar orgulhoso vinda dele.
— Obrigada, papai. — Sorri de leve.
— E Bei , seja um bom marido para minha filha. — Disse voltando seu olhar para o meu, agora, marido.
— É o que mais desejo, senhor Fa. — Assegurou segurando em minha mão.
Após os cumprimentos dos convidados, avistei próximo à saída para o jardim, um rosto familiar. Meu convidado de honra estava bonito com vestes formais e quase irreconhecível. Me afastei de discretamente e segui até ele.
— Você veio mesmo. — Disse abrindo um largo sorriso.
— Claro que vim, sou o padrinho. — Ele soltou uma gargalhada esquisita, chamando a atenção de alguns convidados próximos. — Estou feliz por você.
— Agradeço, não só por ter vindo, mas por todo o resto.
— Ainda me deve. — Lembrou ele. — Levei um tiro por sua causa.
— Eu sei, me desculpa. — Fiz uma cara inocente. — O que quer de mim agora?
— O que desejo você ainda não tem, mas tenho certeza que em breve terá. — Disse em enigma.
— E o que seria? — perguntei.
— Não seja ansiosa, minha amiga, quando voltarmos a nos ver, será para pagar sua dívida comigo. — Respondeu com tranquilidade.
— Por que você é sempre tão enigmático, Rumple?! — Por essa eu não esperava, e achei que ele realmente fosse dizer o que queria.
— Esse é o meu charme. — Ele soltou uma risada esquisita, desviando o olhar para que se aproximava de nós. — Felicidade aos noivos.
Rumpelstiltskin se afastou seguindo para a saída. Me deixando sem entender o teor de suas palavras.
— O que ele queria? — perguntou .
— Me dizer que um dia irá cobrar minha parte do acordo. — Sussurrei para ele. — Mas isso não importa agora.
Sorri de leve para ele, mantendo o olhar suave. Ainda que houvesse a possibilidade de ver Rumple novamente para cumprir minha parte do acordo. Me dei a liberdade de viver o momento e não me preocupar com o futuro.
Como eu rezo para que esse momento chegue
Eu não posso ser eu mesma e alcançar suas expectativas
Algum dia eu descobrirei uma maneira de ser eu mesma
E de orgulhar minha família.
– Reflection / Mulan
“Continuum: Um destino, várias histórias.” – by: Pâms
MINHA HISTÓRIA FAVORITA DA SÉRIE. Muito tem a ver com o fato de Mulan ser meu desenho/filme favorito da Disney, mas também porque essa história tem uma coisa mais oriental, aí me sinto representada HAHAHAHAH
Eu sei que se passa na China, mas li com um favorito coreano E meu nome japonês HAISHAOPSHAOPS
E eu AMEI a participação do Rampel nessa história, quase me apaixono kkkkkkk
Vou ali reler, já volto.
Comentário originalmente postado em 07 de Novembro de 2021
Mulan também é minha fave de todas da Disney <3<3<3<3<3<3 que linda <3<3<3<3<3 que bom que gostou mais dessa, foi a primeira dessa série que eu escrevi, e a partir dela foi surgindo a ideia das outras. e o Rumpel, uma hora terá sua vez.
Comentário originalmente postado em 11 de Novembro de 2021