The Sollarium: Aurora
Foi assim que Rumple deu início a primeira e maior agência de investigação do mundo, segundo alguns da Continuum, a Solarium. Fazendo acordos e recrutando primogênitos para desenvolver habilidades específicas.
—
Londres, outono de 1933
— Hummmm!!! — Era só me espreguiçar naquela velha cama, que ouvia seu ranger no piso em meio às dores nas minhas costas. — Não acredito que já amanheceu.
— Nem tente enrolar, , vamos saindo dessa cama que temos muito trabalho por hoje. — A voz de minha madrinha soou pelo pequeno quarto que nos pertencia na pensão onde morávamos.
O lugar que sempre cheirava a mofo e poeira, me fazia espirrar constantemente. Abri os olhos após ela me jogar seu travesseiro e ergui o corpo. Me espreguicei novamente e olhei para ela, que apressadamente se trocava. Voltei o olhar para o relógio na parede vendo que já passava das cinco da manhã.
— Vamos logo, estamos atrasadas. — Disse ela novamente, enquanto procurava pelo seu avental, que reconheci jogado embaixo de sua cama.
— Já estou levantando. — Saí da cama com um suspiro fraco e me troquei com mais rapidez que ela, pegando seu avental no chão e lhe entregando. — Aqui, a senhora sempre o perde.
Ela soltou uma gargalhada boba ao concordar com minha afirmação.
— Prontas?! — perguntou ela.
— Prontas. — Assenti.
Seguimos juntas para a fábrica de tecidos Aurora. Mais um dia de trabalho que garantiria nossa sobrevivência na cidade da realeza. Mesmo com o país se restabelecendo com a crise financeira causada pela América, Londres continuava sendo o centro das atenções e dos grandes artistas. Trabalhar para a indústria têxtil foi a única forma que minha madrinha encontrou para pôr comida na mesa. E quando adquiri certa idade, comecei a segui-la e também enfrentar as 16 horas de trabalho diárias que quase nos matava de exaustão.
Florence era minha única família. Vinha cuidando de mim desde que vim ao mundo, pelo menos fora essa sua história desde que me entendo por gente. Toda vez que eu iniciava alguma pergunta sobre meus pais ou algo assim, ela me olhava torto fechando a cara e desfazia o assunto. Era frustrante querer saber quem era e não poder devido aos segredos alheios. Seu único argumento, era que quanto mais eu soubesse quem eu era, mais em risco eu estaria no futuro. E agora, aos 18 anos, o único vislumbre de futuro, seria passar a vida sendo operária na fábrica de tecidos.
— Olha só quem está lenta hoje. — Comentou a supervisora Petit, responsável por quase todas as equipes do lugar, principalmente as de operárias. — Se continuar assim, será descontado do seu dia a má qualidade deste trabalho.
Por ser mais jovem e com mais força, fui designada para um dos setores mais pesados e exaustivos. Enquanto isso, Florence, por ter alguns problemas de locomoção, seguia em sua função na equipe de faxineiras. Estando longe da proteção de minha madrinha, eu passava meus dias sendo constantemente humilhada pela supervisora.
— Me desculpe, senhora, irei me esforçar mais. — Disse a ela, respirando fundo e mantendo minha atenção no trabalho de minhas mãos.
O tempo foi passando e a melhor hora do dia chegou. Algumas funcionárias diziam que era a hora do almoço, outras que era a hora de ir para casa. Já eu, minha hora favorita era quando o senhor Dominos passeava por entre as grandes máquinas e olhava de perto nossos serviços. Seu olhar era tão bonito quanto profundo, o que fazia meu coração acelerar só de passar próximo a mim e sentir seu doce perfume.
Olhando vagamente, eu era somente mais uma operária do setor dos teares. Porém, distante dos olhares de todos, surpreendentemente eu e ele nos conhecíamos. Surreal para alguém como eu? Com certeza. Tudo se deve a um pequeno acidente que aconteceu comigo, enquanto ele passava por perto. O ocorrido de dois anos atrás o deixou tão preocupado que me levou pessoalmente ao hospital para se certificar que não tinha sido nada grave. Após isso, encontros casuais e discretos no terraço da fábrica aconteciam entre o horário do almoço e minutos depois do final do meu expediente. Talvez por ele permanecer mais tempo próximo a mim, observando-me trabalhar, que Petit tivesse tanta raiva e vontade de me jogar para fora daquele lugar.
— Como estão os fios hoje? — perguntou para mim, parando ao meu lado e observando-me.
— A safra de algodão deste semestre está melhor que a do ano passado, senhor. — Respondi a ele.
Trabalhando desde os 12 anos naquele lugar, estava mais do que familiarizava com todos os processos da fabricação de um tecido. Conhecia muito bem a qualidade final que um teria, pela qualidade da safra de algodão comprada. E secretamente já tinha dado alguns conselhos para o chefe Dominos trocar seus fornecedores de algodão. Agora que ele ambicionava expandir a fábrica de se especializar em fios de seda, precisava consolidar sua fábrica recém adquirida numa aposta ganha, como a melhor na indústria têxtil.
— Muito bem, continue o bom trabalho. — Disse ele, num tom suave.
Logo o senti colocar no bolso do meu avental um pedaço pequeno de papel, certamente seu bilhete do dia.
— Senhor Dominos. — Petit o chamou, interrompendo nosso momento secreto. — O senhor está sendo solicitado no espaço do showroom da fábrica.
— Vamos, os novos compradores de tecido devem ter chegado. — Disse ele a acompanhando até a porta de saída do galpão.
Rolavam alguns boatos que Petit tinha certos interesses pelo senhor Dominos. Por isso, se esforçava ao máximo para ser a funcionária do mês e chamar a atenção dele. Esperei até a pausa de cinco minutos para o café e retirei do bolso o bilhete. O pouco de insistência que tinha na vida me levou a aprender a ler escondido de minha madrinha. Quando Florence descobriu, já era tarde demais e não podia mais arrancar aquele conhecimento de mim.
— Gostaria de levar-te a um lugar, te espero no portão sul, após todos partirem. — Sussurrei ao ler e escondi na meia de meu sapato.
E agora? Como eu iria me livrar da madrinha para o encontrar? E que lugar seria esse que queria me mostrar? Soltei um suspiro cansado ao ouvir o barulho do sino tocando para que voltássemos ao trabalho. Meus ombros já tensos demonstravam o cansaço que sempre carregava comigo. Os pequenos momentos de vislumbre de felicidade, era quando realmente estava por perto.
— O chefe tem vindo muito aqui. — Comentou Nancy, ao se aproximar de mim.
— Acho que ele ainda tem medo que eu me machuque em sua fábrica. — Disse como uma desculpa, para seus olhares desconfiados.
— Sei… Seria mesmo somente por isso? — insinuou ela. — Acho que homens como ele não se importam com a seguranças de simples operárias como nós.
— E com o que homens como eles se importam? — me peguei curiosa por seus argumentos.
— Você é tão inocente, . — Ela soltou uma risada baixa. — Nunca teve um namorado e nem sabe sobre os homens.
— E você sabe? — A olhei.
— Tenho aprendido com algumas amigas que trabalham no bar Lounge Ross. — Respondeu ela.
— Desde quando você conhece as depravadas de lá? — A senhora Constance se intrometeu na conversa. — Acaso está pensando em se desvirtuar?
— Não, não tenho a aptidão que elas possuem para encantar um homem. — Respondeu Nancy. — Além do mais, minhas mãos são tão grossas que parecem as de um homem, além das queimaduras no meu corpo, enfim, não sou tão atraente quanto elas.
— Você não respondeu, como as conhece? — Constance colocou a mão na cintura.
Ela parecia preocupada com nossa colega de trabalho.
— Algumas moram na mesma pensão que eu, ouço muitos relatos quando elas voltam na madrugada. — Nancy soltou uma risada maldosa. — Vocês não sabem quantos segredos a elite da cidade possui.
— E nem quero saber. — Constance voltou-se para seu tear. — E vocês duas deveriam se atentar ao que fazem, antes que a senhora Petit encontre um motivo para descontar do salário de vocês.
Eu assenti voltando ao meu posto de trabalho.
— Eu não te falei… — Nancy começou a sussurrar — Mas homens como o chefe Dominos só se interessam por garotas como nós, apenas por uma noite, e depois que conseguem o que querem, se casam com as donzelas, filhas de banqueiros.
Ela riu com sarcasmo. Mas parecia saber bem o que dizia. Eu não conseguia entender a malícia em suas palavras. Minha madrinha nunca havia conversado comigo sobre homens ou namorados. Para ela, quanto mais isolada do mundo eu fosse, melhor para mim.
Eu não sabia nada sobre Dominos. Apenas que era um comerciante americano, que fez sua fortuna em seu país natal e agora passava uma temporada em Londres investindo em alguns negócios. A maioria ganha em apostas. Algo estranho de se imaginar. Uma pessoa perder a fortuna de sua família para um desconhecido apenas por apostar com ele acerca de algo. Mas o pouco que conhecia, consegui notar seu cavalheirismo e respeito por mim. Nossas conversas sobre todos os assuntos, sempre levava a algum livro que ele me indicava a leitura. O último, era Orgulho e Preconceito da autora Jane Austen, que jamais leria em minha realidade de vida.
— Senhor Dominos?! — o chamei assim que cheguei ao terraço, pelo caminho secreto que ele havia me ensinado.
— Você veio. — Escutei sua voz mais ao fundo e logo avistei um sorriso singelo que se formou em sua face.
— Pensei que não teríamos nossa conversa hoje pelos visitantes da fábrica. — Comentei seguindo em sua direção. — Espero que tenha conseguido realizar o desejo de um bom negócio.
— Sim, foi um sucesso como eu planejei. — Ele manteve o olhar fixo em mim.
— A noite está fria hoje. — Observei ao sentir o vento gelado tocar minha pele, arrepiando-me o corpo.
— O inverno se aproxima. — Ele retirou o paletó e o colocou sobre meus ombros. — Assim estará aquecida.
— Senhor, não posso aceitar. — Disse tentando devolver, porém, sem sucesso.
— Insisto. — Ele voltou o olhar para o pátio da fábrica. — Sua madrinha, como está?
— Não sei, soube que ela passou mal à tarde e foi levada para a pensão. — Respondi já imaginando a causa de seu mal-estar. — Infelizmente ela anda tendo problemas na saúde.
— E eu aqui tomando seu tempo. — Ele pareceu se sentir culpado.
— Se não me chamaram na hora que ela teve o mal-estar, então é porque não era tão grave assim. — Expliquei.
— Olhando pelo lado bom, seria complicado você escapar dela. — Brincou ele.
— Aposto que conseguiria fazer isso, antes de você escapar da senhorita Petit. — Brinquei de volta.
Nós rimos por um tempo daquilo. Seu olhar estava tão intenso para mim que, envergonhada, olhei para o céu estrelado. Ficamos um tempo em silêncio.
— … — Segurou em minha mão, atraindo minha atenção de volta para ele.
— Sim?! — O olhei novamente.
— O negócio de hoje foi… — Ele respirou fundo. — Eu vendi a fábrica e estou indo para Roma na próxima semana.
Ele o quê?!
— Você… Vai… Partir? — Foi difícil respirar depois de ouvir aquilo.
Agora que o conhecia e que meus dias tinham momentos maravilhosos. O que seria de mim naquele lugar tão sufocante sem a amizade do chefe Dominos.
— Não posso mais ficar em Londres, tenho outros planos que preciso… — Ele respirou fundo, parecia encontrar coragem para terminar o que dizia. — Me desculpe por não lhe dizer antes.
— Eu… — Me sentia desnorteada.
— Mas quero lhe dar um presente antes de ir. — Disse ele.
— Um presente?! — Por essa eu não esperava.
— Sim. — Assentiu mantendo sua mão segurada a minha.
Dominos me levou até seu carro. Juntos no automóvel seguimos até uma velha loja de quinquilharias. Um lugar sujo e cheio de objetos entulhados um em cima do outro, alguns até em estado de decomposição corroídos pela umidade do lugar. Assim que chegamos em frente ao homem que parecia ser o dono, o mesmo olhou curioso para mim.
— Rumpelstiltskin. — Disse . — Viemos buscar nossa encomenda.
— Hum… Achei que não voltaria, foi difícil conseguir. — Comentou o homem estranho, dando uma risada esquisita. — E a bela dama em sua companhia?!
— Uma amiga. — Respondeu o chefe Dominos.
O homem de cabelos emaranhados nos levou até os fundos e lá estava uma roca de fiar de madeira. Meus olhos brilharam um pouco ao ver o objeto que propositalmente estava sendo iluminado pela luz da lua que entrava por uma fresta no telhado. Me aproximei com suavidade e comecei a deslizar meus dedos pela roca.
— A ponta está bem afiada. — Comentou o senhor dono da loja.
— É linda. — Sussurrei.
— É sua.
Estava tão emocionada que me descuidei por um instante e acabei espetando meu dedo por acidente.
— Ai! — disse encolhendo minha mão.
— Se machucou? — perguntou meio preocupado, se aproximando de mim e olhando para meu dedo indicador que escorria uma gota de sangue.
— Dizem que dá sorte, apesar da Bela Adormecida ter dormido. — Ele soltou uma gargalhada maldosa que me deu medo.
O chefe Dominos retirou um lenço do bolso e enrolou em meu dedo. Ele pediu que eu recitasse meu endereço para que o senhor Rumple pudesse entregar a roca. Assim que me deixou de carro na esquina da rua da pensão, descemos do carro. Ele sorriu de canto para mim, com um olhar sereno e terno.
— Provavelmente, esta é a última vez que vamos nos ver. — Iniciou ele. — Eu te dei esta roca porque acredito no seu potencial, a sociedade diz que as mulheres não têm o direito de serem mais que somente senhoras de uma família, mas tenho certeza que você conseguirá ir além.
— O que farei com uma roca de fiar, senhor Dominos? — perguntei a ele, ainda confusa.
— Vai construir seu futuro. — Respondeu ele. — Com sorte, espero que seja a próxima dona daquela fábrica um dia.
Eu o observei partir, mantendo-me agarrada ao seu lenço em meu dedo. Eu não sabia o motivo, mas meu coração sempre acelerava com a presença de Dominos. Agora que não o veria mais, senti um aperto lá no fundo que me deixou angustiada e triste. Assim que entrei na pensão, minha madrinha estava na sala à minha espera, seu olhar de preocupação deu lugar a repreensão.
— Quem era aquele homem? Por que a trouxe em casa? Onde esteve esse tempo todo? Não deveria andar na companhia de estranhos. — Eram tantas as perguntas, indagações e cobranças que não sabia de qual me defender primeiro.
— Ele não era uma má pessoa se é isso que te preocupe, era somente um amigo que não verei mais. — Assegurei a ela, irritando-me um pouco.
— Um amigo? Desde quando tem amigos? — retrucou.
— Graças à senhora nunca pude ter amigos. — Disse chateada. — Mas sim, tenho um amigo que… Não importa mais.
Me afastei para ir para nosso quarto.
— Volte aqui, não terminamos, . — Ela elevou um pouco seu tom de voz.
— O que mais quer de mim? — a olhei com chateação. — Não tenho um passado, não tenho uma vida e nem mesmo um futuro digno, não sei quem são meus pais e tenho que sobreviver todos os dias naquela fábrica… Você não tem mais o que tirar de mim.
Segui para o quarto sem me importar com seu discurso de que estava protegendo minha vida. Que vida? Para viver assim, prefiro não viver. Passei a madrugada em claro pensando nas palavras de . Se eu continuasse ao lado da minha madrinha, jamais conseguiria ter uma vida de verdade. Deixei Florence dormindo e saí da pensão muito antes do amanhecer. Meu caminho? A loja do senhor Rumpelstiltskin. Foi estranho a porta se abrir para mim, assim que cheguei em sua frente. Parecia que ele estava à minha espera.
— Bela jovem. — Disse o homem, aparecendo diante de mim. — Por que será que imaginei vê-la novamente.
— Como sabia que eu viria aqui? — perguntei assustada e com receio de entrar.
— Seus olhos transmitem tristeza e desespero pela mudança. — Disse ele com um tom tranquilo. — Em que posso ajudar?
— Preciso pedir um favor. — Disse, respirando fundo. — Não posso levar esta roca para onde moro, certamente… Só não posso.
Ele permaneceu me olhando como se analisasse meu pedido.
— Não sou homem de favores, sou um homem de acordos. — Corrigiu ele.
— Acordo? — Fiquei um pouco confusa.
— Você quer mudar sua vida, e eu preciso de algo que podes me dar. — Sua forma de falar era enigmática e, em certos momentos, assustadora. — Se aceitar, te ajudarei a ser a mulher mais influente em Londres.
— Em troca? — perguntei temerosa pelo que ele poderia pedir.
— No momento certo, saberá. — Respondeu ele.
Assenti, ao apertar sua mão. Senti um breve calafrio, mas percebi que o senhor Tiltskin não me faria nenhum mal. Daquele dia em diante, comecei minha própria confecção de tecidos. Foi loucura de minha parte não trabalhar mais na fábrica? Sim. Fugir de “casa”? Mais ainda. Mas se não fizesse tal coisa, jamais poderia ser a mulher que conquistaria o coração de Dominos. E sim, após conselhos amorosos do senhor dos acordos, descobri que o sentimento que fazia meu coração acelerar pelo meu ex chefe…
Era amor.
—
Dois anos depois…
— ?! — Meu corpo estremeceu ao ouvir uma voz atrás de mim, reconhecendo ser de .
— Dominos? — Me voltei para ele e sorri de leve. — O que faz aqui em Heysel?
Estava surpresa por vê-lo aqui, principalmente na Exposição Universal que acontecia próximo a cidade de Bruxelas. Mais ainda por ele me reconhecer e se lembrar de mim. Já se contavam dois anos depois que ele deixou Londres e segui meu caminho na construção do meu futuro.
— Tenho acompanhado alguns eventos pelo mundo. — Explicou ele. — Contudo, estou mais surpreso ao vê-la aqui. Já faz quanto tempo?
— Dois anos. — Respondi.
— Sim, e continua com o mesmo olhar singelo e meigo de antes. — Comentou ele, mantendo o olhar sereno. — Apesar de serem as únicas coisas mantidas.
— O que quer dizer com isso? — Cruzei os braços intrigada.
— Nunca imaginei que teria dificuldades de dizer a uma mulher o quão bonita ela está. — Confessou ele rindo baixo.
Não me contive em rir junto.
— Agradeço o elogio. — Mantive um sorriso leve no rosto.
— Posso lhe convidar para um café e ter o prazer de saber como está sua vida? — Convidou ele.
— Conheço uma delicatessen aqui perto. — Sugeri.
Ele assentiu e seguimos para o lugar. Sentando à uma mesa próxima à vidraça, fizemos o pedido ao funcionário.
— Estou curioso. — Comentou ele, seu olhar se mantinha fixo e curioso em mim.
— Sobre? — Dei o primeiro gole do cappuccino que me foi servido.
— Como está aqui. O que aconteceu em sua vida. — Iniciou ele.
— Segui seu conselho e utilizei bem a roca que me deu. — Respondi tranquilamente.
— Fico feliz por você. — Ele sorriu de canto. — E isso a trouxe aqui?
— Não somente isso, mas… Tomei coragem e com a ajuda de um amigo, descobri sobre minha família verdadeira. — Contei a ele.
Aquela realmente foi a transição de uma vida trágica para uma oportunidade única. Não que Florence tenha dito algo, mas no meio de suas coisas consegui encontrar cartas que escondia escritas pelos meus avós para ela. Realmente minha madrinha tinha uma missão de me manter segura e longe dos nossos familiares até que eu completasse 16 anos e pudesse me defender sozinha. Com a morte dos meus pais em um naufrágio, e eu, uma bebê de colo, a única herdeira, meus avós paternos só conseguiram ver minha segurança longe dos tios que tanto ambicionavam meu patrimônio. O pior de tudo, foi saber que ela recebia uma boa quantia mensal para garantir meu conforto e me fez trabalhar e sobreviver por todos aqueles anos naquele quarto minúsculo. Mas o ápice da minha raiva, foi ver que ela não tinha a mínima intenção de me contar quem eu era e continuou a extorquir meus avós.
— Incrível sua história. — Percebi um brilho no seu olhar. — Estou curioso em saber quem seria essa sua madrinha, não me lembro dela quando fui dono daquela fábrica de tecidos.
— Florence Fletcher. — Respondi.
— Fletcher, tenho uma vaga lembrança desse sobrenome. — Comentou ele.
— Mas e o senhor? — indaguei.
— Ah, por favor, me chame apenas de , não sou mais seu chefe. — Pediu.
— Como quiser, . — Sorri de leve. — E como está sua vida?
— Permanece solitária. — Respondeu ele. — Não é fácil ser um Dominos.
— Hum… E essa dificuldade tem a ver com rumores sobre uma sociedade chamada Continuum? — Uma suposição de minha parte.
— Como sabe sobre isso? — Ele franziu a sobrancelha.
— Não existe um empresário em Londres que não saiba sobre isso. — Expliquei. — A sociedade que vem crescendo economicamente e se tornando influentes.
— Somos apenas amigos que querem mudar o mundo com ideias visionárias. — Brincou ele soltando uma risada boba.
— Entendo. — Mantive o sorriso no rosto.
Internamente meu coração acelerava cada vez mais com seu olhar. Sim. Eu ainda tinha sentimentos fortes e profundos por ele. E se a vida tinha me dado a oportunidade de cruzar em seu caminho, não deixaria passar essa vez. Agora que estamos no mesmo nível social, não teria impedimentos. me acompanhou até o hotel em que me hospedei na cidade. Não era um cinco estrelas, mas tinha seu conforto e para minha surpresa, ele também se hospedara ali. Conversamos mais um pouco no jardim do hotel. Com ele me contando sobre suas viagens de negócios e seus amigos da Continuum que desejava me apresentar.
Como eu estava com saudades de nossas conversas sobre assuntos diversos. E desta vez, pude contar-lhe todas as impressões finais de cada livro que me indicou. Evidenciando meu favorito, sendo Razão e Sensibilidade de Jane Austen.
— Espere. — Ele segurou em minha mão, assim que me impulsionei para me retirar.
— Sim?! — O olhei novamente.
— Como é difícil me expressar perto de você. — Confessou ele em sussurro.
— O que desejas expressar? — perguntei ingênua.
Em um piscar de olhos, seus lábios encostaram nos meus de forma singela e doce. Senti suas mãos tocarem em minha cintura, me aproximando para mais perto dele, aninhando-me em seus braços.
O primeiro beijo, de muitos outros de nossas vidas juntos. Assim que voltei para Londres, na companhia de , um pedido formal de casamento foi feito aos meus avós. Foi um dia memorável em que nós dois recebemos a visita inesperável de um velho conhecido chamado Rumpelstiltskin.
— Ora, ora, se não é meu casal adormecido. — Brincou ele, ao se aproximar de nós.
— Rumpelstiltskin. — Disse , segurando em minha mão. — O que faz aqui.
— Vim prestigiá-los, não sabem o quanto torci pelo sucesso desse romance. — Ele soltou uma de suas risadas esquisitas.
Tinha que confessar que o senhor Tiltskin tinha alguns parafusos a menos na cabeça. Mas o que ele tinha de louco, tinha de inteligente e sagaz.
— Agradecemos pela presença. — Disse, dando um sorriso singelo e amigável.
— Sabe, é impressionante, mas desde o início percebi que um gostava do outro, só me sinto frustrado por ficar em desvantagem. — Continuou ele.
— Desvantagem? — não entendeu.
— Não é o único em dívida comigo, nobre Dominos. — Ele voltou seu olhar para mim.
— Você fez algum acordo com ele? — me olhou preocupado.
Ele parecia saber muito bem o que teria que dar em troca para Rumpelstiltskin.
— Sim, ele me ajudou a descobrir sobre minha família. — Confirmei.
Eu não entendia a apreensão do meu agora marido e fiquei até emocionada ao saber que o pedira para me ajudar. Nosso acordo com Rumpelstiltskin em troca de sua ajuda, resultaria em algo que futuramente teríamos que entregar a ele de forma temporária. Foi intrigante para nós dois não saber exatamente do que ele se referia a nossa entrega. Nessa altura, eu já não sabia mais o que pensar. Entretanto, mesmo com minha mente em plena confusão, a segurança no olhar dele me deixou mais aliviada. Assim que Rumpelstiltskin se retirou de nossa festa de casamento, não demorou muito até que a recepção também terminou.
Finalmente nos encontramos sozinhos em nossa nova casa no centro de Londres. segurou em minha mão e sorriu de leve, confiante, me conduzindo até o jardim dos fundos. Havia um solário lindo cheio de lírios e arbustos de camélias. E ao centro, a roca de fiar que ele havia me presenteado.
— Não acredito que trouxe isso da casa dos meus avós. — Disse ao me aproximar do objeto.
— Tudo começou com isso. — Disse se aproximando de mim.
— Tudo começou quando me levou ao hospital. — Voltei meu olhar para ele. — Nunca ninguém havia se preocupado daquela forma por mim, nem mesmo Florence.
— Eu nunca me preocupei com alguém antes. — Ele sorriu de canto. — Mas, desde a primeira vez que a vi, seu olhar me cativou, nossas conversas me fizeram repensar a vida e sua amizade foi importante para mim.
— Importante? — Me peguei impressionada.
— Depois que parti de Londres, senti uma vontade imensa de voltar na mesma hora. — Ele segurou em minha mão, entrelaçando nossos dedos. — Estar longe de você me fez descobrir que estava apaixonado pela funcionária que ocupava meus pensamentos.
— Meu corpo estremece com suas palavras. — Mantive um sorriso meigo no rosto.
— Me desculpe por meu acordo com Rumpelstiltskin. — Disse, tinha um olhar frustrado.
— Eu também fiz um acordo com ele. — Retruquei o tranquilizando. — Aquele homem não me parece ser um maníaco.
Brinquei rindo de leve.
— Vamos viver o agora. — Sorri de leve para ele. — E nos preocupar com isso, quando o dia chegar.
Ele ergueu sua mão e acariciou minha face.
— O que importa é que… — respirei fundo para dizer as palavras que passei dois anos para dizer. — Eu te amo, Dominos.
— Eu também te amo, Dominos. — Disse ele se inclinando para me beijar.
Mas se eu conheço você
Eu sei o que você vai fazer
Você vai me amar imediatamente
Do jeito que você fez uma vez no sonho.
– A Bela Adormecida – Once Upon a Dream
“Continuum: Um destino, várias histórias.” – by: Pâms
Achei uma gracinha essa interação inicial dos dois <3
E claaaaro que Rumpel é um sujeitinho ardiloso, né? Eu preciso ler logo Continuum, pelamor :O
Comentário originalmente postado em 07 de Novembro de 2021
Rumpel é Rumpel né kkkkkkkkkkkkkkkk cheio das tretas e dos acordos
Obrigada pelos comentários Lelen <3<3<3
Comentário originalmente postado em 07 de Novembro de 2021