The Portrait Of Loneliness

   permanecia com o sorriso estampado em seu rosto, cumprimentando todos os visitantes que vieram na exposição com um aperto de mão e palavras de agradecimento. Elogios não faltavam durante o meio e o final da visitação e por mais que estivesse extremamente cansado, o rapaz estava feliz e muito realizado por finalmente poder fazer a sua primeira exposição e ter ótimos resultados.

  Apesar de ser mais sério e contido normalmente, ele sentia que não precisava fingir ser simpático com os seus possíveis clientes e isso lhe causava uma boa sensação, visto que nunca foi tão fã de socializar de forma rasa, ainda mais com pessoas que levariam uma parte de seu trabalho para casa.

   fez do seu hobbie a sua carreira, algo que não é nem um pouco fácil; depois de ter participado de um dos concursos mais famosos de fotografia e ter ficado em segundo lugar, o rapaz foi ganhando mais notoriedade e, consequentemente, seus seguidores nas redes sociais cresceram. Ele se lembra como se fosse hoje o susto que teve ao ver a quantidade de notificações na manhã seguinte do concurso e, por um momento, pensou que as pessoas o tivessem confundido com outro participante. No entanto, ao ler os diversos comentários, reparou que o seu mais novo público gostou bastante da sua arte, além de acharem que o rapaz que deveria ter ganhado a competição.

  Agora, dois anos depois, prosseguia com o seu último dia de exposição – que durou três dias – em uma das galerias mais famosas da cidade. O apoio de seus admiradores foi um dos pilares para conseguir começar a montar a exposição e como já vendia suas fotografias e pinturas há tempos, ele recebeu algumas propostas de patrocinadores, que o ajudou com o financiamento para a sua “tour” por algumas cidades.

  Felizmente, ser fotógrafo em tempo integral e pintor – nas horas vagas, já que a fotografia ocupava boa parte da sua vida – era o que mais amava, só que sentia um certo vazio no final de cada exposição. Não é nada tão sentimental ou algo do tipo, contudo, às vezes achava que ninguém compreendia algumas de suas pinturas e fotos, porém, não dava a devida atenção a esse fator por defender que todos possuem as suas interpretações e não há nada de errado nisso. Inclusive, adorava ver os debates que seus admiradores criavam em relação as novas artes e fotografias.

  Se permitindo descansar por cinco minutos, postou alguns stories mostrando um pouco de como foi o seu último dia da tour, recebendo várias reações de seus seguidores quase que instantaneamente. Ele sorriu com as respostas positivas, contudo, sua atenção logo foi tomada por uma silhueta no final do salão, que encarava uma das suas fotografias mais antigas. O rapaz foi em sua direção e parou ao seu lado, a cumprimentando sem delongas:

  — Seja bem-vinda! Agradeço pela sua presença, mas infelizmente tenho que informá-la que fecharemos em breve. — Apesar da notícia não ser a das melhores, pôs o sorriso no rosto mais uma vez.

  — Oh, eu sei. — A mulher continuou a observar a foto, sem se importar em olhar para o outro. — Eu vim todos os dias na sua exposição, no entanto, não é como se você fosse se lembrar.

   se sentiu um tanto mal. Uma de suas características que mais adorava era o simples fato de conseguir lembrar a feição das pessoas e seus nomes, não importa a quantidade de vezes que teve contato com elas. Mas, dessa moça em específico, não se lembrava e isso o chateou um pouquinho.

  — Também não falei isso para fazê-lo se sentir mal — ele a viu sorrir pequeno —, eu não me apresentei propositalmente. A verdade é que eu queria chegar em uma conclusão sobre essa fotografia sem interferências de terceiros. Ou do próprio autor.

  A foto em questão estava emoldurada no tamanho A3, tirada em uma de suas primeiras câmeras; a qualidade não se comparava com as da atualidade, contudo, o cenário era um dos mais belos que pôde presenciar: o pôr do sol alaranjado ao fundo, as ondas fracas que quebravam na morna areia e três pessoas sentadas no chão, e uma outra na beirada da água com um sorriso. Esse era um dos retratos mais famosos do rapaz e todas as opiniões eram as mesmas: a foto trazia uma sensação de felicidade e tranquilidade.

  — E qual é a sua conclusão? — Independente do seu achismo, ele estava verdadeiramente interessado em saber o que a moça achava.

  — É um cenário belo, traz uma certa familiaridade com quem frequenta a praia durante o pôr do sol — o seu sorriso se desfez ao virar para , o olhando pela primeira vez —, mas não me dá a tranquilidade que todos comentam, tampouco felicidade. Parece que o sorriso da pessoa na água carrega nada mais que uma solidão.

  O homem ficou impressionado por finalmente alguém ter sentido o mesmo que sentiu ao tirar essa foto; o fato de ser um cenário tecnicamente alegre não anulava o fato de que no exato momento que tirou a fotografia ele teve a sensação de que a solidão que o acompanhava por longos anos estava presente nos demais indivíduos, e o rapaz se via em cada um deles, mas em principal, na pessoa que estava na beirada. Ele se lembra perfeitamente em como o sorriso deu lugar a lágrimas e quando percebeu, chorava junto da pessoa que nunca conheceu antes, apenas calhou de esbarrar nela em um dia aleatório.

  Naquele instante, se permitiu a sentir a solidão por completo que há tanto tempo vinha ignorando, e por mais que tentasse continuar a ignorando, ela era uma consequência do que escolheu para o seu futuro. Ter que lidar com a saudade de casa, dos seus amigos, da família e de tudo o que construiu para seguir os seus sonhos teve o seu preço, mas, ainda assim, não se arrependia da sua escolha.

  Apenas precisava lidar com a sua solidão sozinho.

  — É uma bela foto. — A moça colocou a mão no queixo, ponderando. — Essa praia é a que fica a uma hora daqui, né?

  — Sim, já foi nela? — foi tirado completamente de seus pensamentos melancólicos.

  — Não, mas agora estou pensando em ir. Com todo o respeito a você — ela se virou para ele, cruzando os braços —, mas agora esse retrato está me irritando.

  — Como? — O rapaz foi pego de surpresa pela segunda vez. Dentro de todas as opiniões, ninguém falou para si que a sua “visão” causava uma irritação.

  — É uma autocrítica. — A mulher deu de ombros. — A do passado achava que tudo bem lidar com a solidão sozinha e, depois de tanto sofrer, a do futuro, vulgo eu, percebe como fui boba em ter tido esse pensamento. Por isso a irritação. — Sorriu marotamente. — Agora eu quero ir nessa praia e ter uma visão diferente da que tive. E se não se importar em acompanhar essa pessoa estranha, o convite se estende a você também, além da do passado.

  A moça riu e se sentiu cativado por sua risada, rindo junto com ela. Pela primeira vez, ele aceitou um convite um tanto inusitado de uma pessoa que não conhecia muito bem, no entanto, o homem sentia uma sensação de familiaridade vindo dela. Depois de terminar de arrumar a sua bolsa, o rapaz colocou sua câmera no pescoço e desejou uma boa noite para os funcionários da galeria, encontrando a moça na calçada a sua espera.

  Talvez a familiaridade fosse pelo fato dos dois terem tido o mesmo pensamento em algum momento da vida, todavia, pela primeira vez, cogitou em se livrar do seu achismo sobre si e a solidão e, segurando a mão de , deu início ao trajeto que o levaria para uma nova fotografia.