The Kids Don’t Wanna Come Home
“But the kids don’t wanna come home again”
Alisha observava a rua deserta enquanto aguardava os seus amigos terminarem de colar os cartazes informativos sobre a atual situação de sua cidade. Seus olhos seguiam o curso das folhas que caíam das árvores por conta do vento, porém sua mente navegava por qualquer local, menos no que acontecia no momento. Sua respiração estava acelerada, suas mãos tremiam um tanto com a friagem que fazia e seu pé batia no chão incessantemente. Tinha noção de que sua ansiedade estava aparecendo, mas no transe que se encontrava, seria difícil se acalmar sozinha. Mal percebera quando Bobby a chamou, só sentiu seu corpo sendo envolvido em um abraço, quase que reconfortante. Ele anunciou que o trabalho havia terminado, além de reclamar o quão sujas suas mãos estavam por terem usado bastante cola desde cedo. O grupo começou a caminhar lentamente, de um jeito que demonstrava que nenhum deles queria ir para seus destinos.
O pesar em cada ombro, as preocupações e responsabilidades que possuíam e o nervosismo os acompanhavam dez vezes mais do que o de costume, afinal, no final de semana teriam um protesto e precisavam de aliados que se escondiam por trás das portas de madeiras.
A cidade pequena onde residiam era repleta de cidadãos preconceituosos que não mediam esforços para mostrar o que eles realmente defendiam, e os mesmos eram os responsáveis pelos jovens que lutavam contra toda a hipocrisia.
“But hey there kids with guns your neighbours complain
But they don’t know where they come from”
Os vizinhos fofocavam uns para os outros sobre os movimentos que surgiam, independente de não saberem de onde vieram, talvez nem tivessem a mínima ideia de que eram seus próprios filhos que criavam os projetos. Enchiam o peito para os colegas alegando que a nova geração estava perdida, tentando se isentar do fato de que em diversas situações eles eram os verdadeiros culpados.
Os jovens, por outro lado, foram consumidos por ideias vazias e desrespeitosas que só provocavam uma ansiedade crescente dentro de casa.
Um exemplo disso era Alisha: com seus recentes dezoito anos se via em um beco sem saída na maioria das vezes. Quando criança, pensava em como seria ser mais velha no mundo moderno. Sonhava em atingir a maioridade, imaginava uma sociedade utópica que foi destruída assim que atingiu a adolescência. Ao ligar a TV, dia após dia, tudo o que era noticiado envolvia caos e tristeza, chegando às chamadas sensacionalistas e desrespeitosas de alguns canais.
“Teaching them how to aim no
Sadness and no sorrow
Well hey there mother mine
Your kids are sick but they’re gonna be just fine”
“Isso não é direcionado a você, então, para que se preocupar com essa besteira?” Uma das frases mais ouvidas vindo de seus pais e que a causava irritação. Sua criação foi baseada nessas palavras, além dela e seus amigos que foram ensinados a não mostrarem seus lados vulneráveis, crescendo em um ambiente punitivo e que seus parentes julgavam ser o melhor.
“I guess I could start a war
I guess I could sleep on it”
Ver o tanto de informações e o modo que seus responsáveis agiam a fazia se sentir incapaz, todavia, tinha noção de que havia duas opções cabíveis: iniciar uma guerra ou ignorar o problema.
Como não se preocupar com algo que afeta outras pessoas?
Como ser egoísta ao ponto de não se importar com a vida de um colega?
Como não se incomodar com as inúmeras mortes de inocentes por causa de um sistema falho?
Como viver em uma sociedade sem se atentar para o que há de errado nela?
Todas as suas indagações e sentimentos foram o pontapé para se decidir em relação ao que acontecia ao seu redor, e com a ajuda de seus amigos, a propagação dos movimentos tomava uma proporção maior, trazendo pessoas de cidades vizinhas. As noites eram preenchidas de planejamentos, idas às ruas e distribuição de cartazes. Aos poucos era notável que o barulho que provocavam atingia o problema e as mudanças começavam a surgir, deixando os envolvidos felizes e com um gás maior para prosseguirem. Mantinham o pensamento de que o que estivesse em seu alcance seria feito, e não teriam arrependimentos de terem escolhido iniciar uma guerra.
Definitivamente, as crianças não queriam ir para casa.
Fim
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