Vislumbre
Se você pudesse ver o futuro, tomaria as mesmas decisões que pretende tomar no presente? não imaginava que ao se colocar no lugar do pai para pagar uma dívida, ela também teria a oportunidade de viver um amor subjetivamente proibido.
Alguns meses à frente…
— Nunca desejei tanto uma mulher como a desejo agora — disse ao segurá-la pela mão, seu olhar transmitia sinceridade e transparência.
— Senhor Tenebrae — ela se manteve afastada dele, com o olhar temeroso. — Não podemos.
— Já lhe disse para não me chamar assim — ele se aproximou mais dela. — Apenas para você, e sei que também me quer como a quero.
— Senhor… … — Ela o olhou.
Aquele olhar ingênuo que tanto despertava curiosidade e atração.
— Eu sinto isso em você… Seus lábios me chamando, sua pele suplicando pelo meu toque, seu coração acelerado a cada vez que me aproximo — ele se inclinou mais para sussurrar em seu ouvido. — Até mesmo suas artérias estão em desespero por um beijo meu… E eu a desejo com a mesma intensidade.
— Eu não posso… — Sussurrou ela, em recusa por todas as coisas que já o presenciara fazer.
— Eu posso por nós dois — assegurou ele.
, ao tocar sua cintura, iniciou um beijo apaixonado e intenso, transmitindo todos os seus sentimentos mais profundos por .
Atualmente…
Outono de 2015
Berlim, Alemanha
— Eu realmente lamento por isso, o considerava muito, senhor Ortiz — manteve o tom suave e, fechando o punho direito, socou a cara do homem. — Entretanto, não posso aceitar mais esta situação.
A cadeira em que este estava amarrado se desequilibrou, porém um funcionário de Tenebrae segurou, colocando-a de volta no lugar.
— Clemência, senhor Tenebrae — pediu o homem ao sentir o gosto de sangue em sua boca, que já escorria pela lateral. — Eu juro que não queria.
— Não queria me roubar? — Ele soltou uma gargalhada. — Como pode um homem não querer me roubar, e mesmo assim o fazer?
— Tive um grande motivo. Estava desesperado e já lhe devo muito para que me emprestasse mais dinheiro — explicou o homem em lágrimas.
Ortiz não estava preocupado com o que aconteceria com ele. Velho e cansado de sua vida miserável, a morte seria um favor mais do que certo. Mas seu medo estava em suas filhas, e no quanto seus atos desesperados poderiam afetá-las. Em sua única ação como um pai de verdade, o fez para salvar a vida de sua filha primogênita, que estava doente.
— Interessante. E qual o motivo forte que lhe fez ser tão ousado? — chegou mais perto, olhando para o rosto machucado do homem em plena serenidade.
— Pai! — Um grito preso soou da porta.
O olhar de seguiu na direção. Vendo uma jovem mulher se agarrando a uma criança, lhe tapando os olhos. O medo era nítido em seu olhar.
— Minha querida, saia daqui — sussurrou Ortiz, forçando a voz com o pouco de força que ainda restava.
Assim que a jovem deu um passo para trás, dois seguranças de apareceram atrás dela, segurando-a e sua irmã.
— Me solte, por favor — pediu a jovem.
— Curioso. Acho que agora estou entendendo — Tenebrae voltou o olhar para o homem.
— Senhor Tenebrae, deixe minhas filhas irem, eu suplico — pediu Ortiz, em lágrimas e agonia. — Faça o que quiser comigo, mas não toque nelas.
— Então… Eu as deixo ir, apenas se me disser para qual das duas roubou o dinheiro — disse , certo de suas desconfianças.
Ortiz permaneceu em silêncio. Tinha medo de que o castigo recaísse sobre suas filhas.
— Bem, não vai dizer… — Tenebrae socou novamente o homem, desta vez derrubando-o no chão.
— Pai — a filha mais velha se moveu no impulso da preocupação para acudir seu pai, se soltando do segurança que a prendia pelo pulso. — Por favor, senhor, não machuque mais meu pai.
O olhar dela se voltou para ele, deixando-o estático.
— Foi por minha causa — respondeu ela no lugar do pai, tomando a responsabilidade para si, a fim de proteger a irmã mais nova.
— , minha filha, não diga nada — seu pai tossiu, virando o rosto para o chão, sentindo dores.
— Não o castigue mais, por favor — o olhar dela se encheu de lágrimas. — Ele só queria salvar a vida de uma filha doente, fez o que um pai desesperado faria em sua situação.
Sim. Há um ano, antes de Tenebrae finalmente descobrir quem o havia roubado. Ortiz se via em pleno desespero por sua filha mais velha estar doente. Ele não conseguia se imaginar sozinho, cuidando da pequena Margareth, e desejava que a filha tivesse uma saúde plena e longos anos para viver livremente.
— Se há alguém que o deve, sou eu — ela se levantou, mantendo o olhar firme no homem a sua frente.
— Curioso — disse , ao sentir certa inquietude pela coragem e ousadia da jovem. — E como pretende me pagar?
voltou seu olhar para o chão, meio paralisada pela pergunta dele, sem resposta para lhe dar. Um sorriso nebuloso surgiu em sua face, o que criou mais medo ainda no pai da jovem.
— Senhor Tenebrae, por favor, deixe minhas filhas em paz. Sou eu quem o roubou, eu que mereço pagar — disse novamente Ortiz em tom de desespero.
O velho senhor temia pelo que o “dono” de Berlim pudesse fazer com sua filha mais velha. Ortiz já tinha ouvido falar sobre homens de máfia que exploravam mulheres e coisas piores. Seu coração sentiu-se apertado e completamente impotente naquela hora.
— Soltem o homem — ordenou Tenebrae, já convicto de sua decisão. — Ao amanhecer, meus homens virão te buscar.
Ela está me deixando louco,
Por que o meu coração está acelerado?
Monster – EXO
Realidade
Outono de 2015
Berlim, Alemanha
Foram suas únicas palavras, antes de deixar o lugar. Assim que um dos seguranças desamarrou Ortiz e se retirou com os outros, soltou um suspiro de alívio e correu para perto do pai.
— O senhor está bem? — Perguntou preocupada, sentindo o coração apertado pelo sangue escorrendo no rosto dele.
— Minha querida, o que você fez? — Ele a olhou com tristeza, e se sentindo culpado por aquilo. — O que eu te fiz fazer.
— Não fique assim, pai, o que importa é que eles foram embora — disse , tentando manter a tranquilidade assim que sua irmã mais nova se aproximou dele.
— Mas eles vão voltar amanhã e vão levar você — Margareth a olhou com tristeza, lacrimejando. — O que eles vão fazer com você?
— Marg, não vamos pensar nisso agora — abriu um singelo sorriso para ela e ergueu o dedo mindinho para a irmã. — Vai ficar tudo bem, eu prometo.
— Vou acreditar em você — Margareth cruzou seu dedinho com o da irmã, mas no fundo triste e em agonia do que poderia acontecer.
— Eu amo vocês, minhas filhas — disse Ortiz.
As meninas sorriram com doçura para o pai e o abraçaram. Ortiz sentiu uma leve dor pela surra que tinha levado, mas aguentou firme, apenas para receber o carinho das filhas.
— Margareth, ajude o papai a se sentar no sofá. Vou pegar a caixa de primeiros socorros no banheiro — disse , se levantando.
A caçula assentiu e ajudou o seu pai após o afastamento da irmã. A pequena família morava na parte mais pobre da cidade, situada no bairro Neukölln. Ortiz trabalhava como zelador no prédio de uma grande empresa de advocacia, em que Tenebrae era o dono e CEO. E dos inúmeros serviços jurídicos que o lugar prestava, seu maior cliente era a
Continuum.
Fora um golpe de sorte o velho pai de família ter ouvido, escondido no vestiário dos funcionários da terceira classe, que um carregamento estava para ser entregue na empresa. Inicialmente ele pensou que seria algo relacionado a documentos ou mobiliário do escritório, até que descobriu que tinha algumas maletas de dinheiro dentro das caixas suspeitas. A declarada “bonificação” para o escritório Tenebrae era devido a um processo bem sucedido em que o melhor advogado da cidade não precisou de muito esforço e nem suborno para jogar um vereador corrupto na prisão. Claro que por questões de interesse pessoal, já que misteriosamente o escritório de advocacia havia sido alvo deste mesmo político em sua campanha.
— Aqui — disse , trazendo a caixa em sua mão e se sentando ao lado do pai.
A cada algodão umedecido que passava no rosto dele, arrancava algumas caretas do pai, o que era motivo de risos espontâneos de Margareth, que mesmo com seus dez anos de muita esperteza, ainda se mantinha esperançosa por uma realidade melhor em sua vida.
— Isso dói — reclamou Ortiz.
— Não posso deixar infeccionar, pai — explicou ao colocar o último curativo. — Pronto, agora tome um banho e descanse um pouco, vou fazer algo para se alimentar.
— Minha querida, não precisa se preocupar com seu velho pai — disse ele — Eu não mereço…
— Nem adianta vir com esse discurso — interrompeu ela, segura em suas palavras. — Eu sempre vou me manter preocupada com o senhor.
sorriu de leve para o pai e seguiu para a cozinha. Não levou muito tempo no preparo de uma sopa improvisada com os legumes que encontrou na geladeira. Não era novidade a escassez que viviam. Por não poder fazer tanto esforço físico, pois ainda estava no término do seu tratamento, os medicamentos caros davam pouco espaço para comprar os mantimentos. E agora, com o pai desempregado, tudo piorava.
Sendo honesta, a jovem primogênita não estava preocupada consigo mesma e com o que lhe aconteceria no dia seguinte. Contudo, sua atenção estava em como sua família iria seguir sem ela. Mesmo não podendo, ela trabalhava normalmente, ajudando na manutenção da biblioteca comunitária do bairro, para ajudar o pai com as despesas.
As horas se passaram. Em alta madrugada, a inquieta Margareth se remexia na cama em que dividia com a irmã, o que acabou chamando a atenção da jovem que também perdera o sono.
— Não precisa fingir que está dormindo — disse num tom baixo. — Pois sei que não está.
— Como sabe? — Margareth abriu os olhos, ergueu o corpo e se voltou para a irmã.
— Você fica imóvel quando realmente está em sono profundo — explicou ela, rindo baixo. — O que aconteceu?
— Não consigo dormir — respondeu.
— Isso eu já percebi, Marg — manteve o olhar sereno para a irmã.
— Estou com medo — sussurrou ela.
— De nunca mais vê-la — confessou a pequena.
— Margareth, eu não te prometi que tudo vai ficar bem? — Disse ela.
— Mas aquele homem malvado bateu no nosso pai, imagina o que ele pode fazer com você — retrucou.
— Bem, eu fiz um acordo com ele, de pagar o que devemos — começou a procurar pelas palavras certas na construção daquele argumento. — Ele não vai me matar, eu te asseguro, e nem me cortar em pedacinho. O máximo que pode acontecer é ele vender meus órgãos para salvar a dívida.
ficou esperando a irmã processar a informação e, vendo o olho assustado da pequena, começou a rir dela.
— Não tem graça — Margareth a empurrou forte, fazendo-a cair da cama, o que a fez soltar uma gargalhada ainda mais alta. — Eu estou mesmo com medo — disse Marg.
— Não tenha, eu já disse que vai ficar tudo bem — se levantou e deitou novamente. — Vamos ficar todos bem.
— Papai sempre diz que você é confiante como a mamãe. Queria ser assim também — resmungou a pequena.
— Tenha fé, essa sempre será a nossa confiança — piscou de leve para a irmã e sorriu.
Ao amanhecer, como prometido, lá estava a Mercedes preta em frente ao desgastado prédio onde moravam. se despediu de seu pai e da irmã com um abraço caloroso e um sorriso sutil. Não a permitiram levar nenhuma bagagem, apenas seus documentos e o velho celular que comprara de segunda mão em uma bolsa.
Seu destino?
Charlottenburg. Um dos bairros mais ricos de Berlim e o mais tradicional também. Ver as lindas construções do século XIX pela janela do carro a fizeram, por um momento, esquecer o motivo pelo qual estava ali dentro. Uma parte da cidade que ela jamais imaginou conhecer e ao menos chegar perto. Assim que chegou diante de casa do Tenebrae, desceu do carro acompanhada pelos três seguranças que a escoltaram.
— Senhorita Ortiz, seja bem vinda — disse a governanta da casa.
Seus cabelos grisalhos foram uma surpresa para .
A jovem aprendiz de bibliotecária não poupou discrição em olhar para todos os cantos da casa pelos espaços em que passavam com a mulher. Seu coração estava um pouco acelerado, o que a fez ter certo medo do que pudesse acontecer a seguir. Em poucos minutos, a governanta a deixou esperando na sala de estar. Os olhares dela percorreram o lugar muito bem decorado e luxuoso. A arquitetura tradicional da casa parecia ter recebido uma restauração, pois se mantinha muito bem conservada.
— Senhorita Ortiz — a voz firme e grossa de Tenebrae quase fez o coração dela parar por um instante, fazendo-a olhá-lo de imediato.
— Bem vinda a minha casa — disse ele, mantendo um olhar intenso e curioso nela. — Está certa de que…
— Não voltarei atrás da minha palavra — ela o interrompeu, demonstrando firmeza. — Pagarei a dívida, apenas não sei como.
Ele sorriu de canto pela ousadia da moça, que o deixava ainda mais inquieto internamente.
— Quanto a isso, eu já me decidi — ele sorriu de canto ao desviar seu olhar dela para alguém que adentrava a sala correndo.
Logo a figura de uma pequena garotinha surgiu no campo de visão de . A menina, que aparentava ter seus cinco anos, com um vestido rosa e laço branco amarrando o cabelo em um rabo de cavalo, passou por ela e pulou nos braços dele. Um sorriso singelo saiu de seu rosto, seguido de um beijo no rosto dele.
— Bom dia, papai — disse ela.
— Bom dia, minha princesa — ele sorriu para a criança e voltou seu olhar para , que se mantinha estática à cena. — Quero que conheça sua nova babá.
sentiu um frio passar por seu corpo, seguido de alívio. Babá. A palavra se repetiu em sua mente mais algumas vezes até que finalmente conseguiu absorver o que acontecia ali.
— Diga oi para a senhorita Ortiz — pediu ele, mantendo seu tom de voz baixo, mas com a firmeza de sempre.
— Oi, senhorita Ortiz — disse a pequena criança.
— Oi — forçou a voz, que não queria sair e soou como um sussurro.
— Carmen, leve a Nina para tomar café no jardim — disse ele, colocando a filha no chão novamente. — Seja obediente e coma tudo.
Ele sorriu para a criança, que assentiu com a cabeça. Assim que a governanta se retirou levando a pequena com ela, o olhar fixo de se voltou novamente para , deixando-a um pouco constrangida.
— Sendo um homem em minha posição, preciso ter cautela com as pessoas que se aproximam da minha filha — iniciou ele. — Por isso, a deixarei na sua responsabilidade, se provar que é capaz… Talvez, posso considerar como uma forma de pagamento.
— Por quanto tempo cuidarei da sua filha? — Perguntou ela.
— O tempo que eu quiser — respondeu ele, com serenidade.
abaixou o olhar. Poderia ser pior do que ela imaginava e, no fim, passou longe da sua brincadeira com a irmã.
Os dias foram passando e rapidamente conquistou a confiança da pequena Nina. Quanto mais ela pegava carinho pela criança, mais indiretamente despertava o interesse no pai da mesma.
— Hm… Onde será que essa mocinha está? — Disse ao adentrar a sala e passar o olho pelo lugar.
Logo ela ouviu um barulho de risos e avistou os pés de Nina sendo parcialmente escondidos pela cortina da janela principal.
— Será que ela está debaixo do sofá? — fingiu estar procurando em outros lugares da sala, ouvindo mais risadas dela.
Assim que parou em frente à cortina, abriu-a de repente e olhou a pequena criança com um brilho acolhedor no olhar.
— Te achei — a jovem sorriu para ela e se abaixou, ficando em sua altura. — Já brincamos demais de esconde-esconde, tem certeza de que não está cansada?
— Não — a criança estava mesmo motivada a brincar mais.
Essa empolgação toda fazia se lembrar da irmã. Um grande sentimento de saudade tomou conta dela naquele momento, fazendo-a ficar um pouco emotiva.
— O que foi? — Perguntou Nina, percebendo o olhar de ficar triste.
— Nada, minha querida, está tudo bem — a jovem babá sorriu para ela e se levantou. — Quem conta agora?
Nina não sabia contar muito bem, apenas havia conseguido memorizar os números até o dez, o que era mais que suficiente para se esconder pela casa. A jovem começou a andar pelos corredores, pensando em um lugar estratégico. Após passar uma tarde inteira brincando com a criança, já estava sem ideia de onde se esconder. Então, ela passou pela porta do que teoricamente seria o jardim de inverno da lateral leste da casa. Não era um lugar proibido da casa, mas preferia o jardim dos fundos.
Entretanto, ao ouvir um barulho, deu alguns passos, abriu a porta e entrou. ficou um estática no primeiro momento ao se deparar com , trajando roupas mais informal e um avental de jardinagem por cima, em sua mão uma tesoura de poda. Inesperado e surpreendente, já que o quadro de funcionários contava com um profissional em jardinagem.
— Senhorita Ortiz — disse ele, ao perceber sua presença.
— Senhor Tenebrae — ela respirou fundo, ainda sem reação.
— O que faz aqui? — Perguntou ele, colocando a tesoura de poda em cima da bancada de trabalho.
— Me escondendo da Nina — respondeu ela, mantendo o olhar no pequeno vaso de planta em cima da bancada. Se lembrava de tê-la visto na entrada da casa.
— Ela é incansável — comentou ele, rindo de leve.
— O que estava fazendo? — Perguntou ela, se aproximando um pouco.
— Não é sugestivo? — Ele apontou para o avental. — Você acabou de descobrir meu hobby.
— Jardinagem? — Aquilo a surpreendeu ainda mais, afinal, não era tão comum pessoas do estilo frio e calculista de gostarem de algo tão singelo e delicado quanto plantas e jardins. E mais uma vez ela se viu confusa ao tentar entender a complexidade que rodeava tudo relacionado a ele.
— Quer que eu te mostre?! — Perguntou ele, estendendo a mão para ela.
— Bem… — não sabia o que responder, mas acabou se aproximando mais.
Tenebrae voltou sua atenção para um vaso de rosas brancas e, pegando a tesoura novamente, começou a podar alguns galhos. se manteve em silêncio, observando-o fazer aquela atividade de forma tão suave e atenciosa. Por um breve momento, ela percebeu um brilho no olhar dele que a deixou fascinada. Um sorriso sutil apareceu no rosto dela, algo que ele percebeu com facilidade.
— E esta… — Ele cortou uma rosa que estava aberta e virou para ela. — É para você.
— Pra mim? — Ela se assustou de leve com o impulso que ele tomou e, pisando em falso ao tentar se afastar, se desequilibrou.
a segurou pela cintura ao perceber que corria o risco de cair. De forma involuntária ou não, ele manteve seu corpo próximo ao dela. Ambos se olhando fixo, com toda intensidade partindo dele. Ortiz sentiu seu coração acelerar um pouco. Coberto por todo aquele lado escuro e gélido de Tenebrae, aos poucos ela estava descobrindo um outro lado que jamais imaginava existir.
— Senhor… — Ela sussurrou ao sentir que ele se impulsionou para se aproximar mais e tocou de leve em seu tórax, para mantê-lo o mais distante possível.
— Sim? — Ele manteve a serenidade e intensidade no olhar, sentindo todo o seu corpo querer tomar o controle do momento e beijá-la.
Um minuto de silêncio pairou entre eles.
— Achei você — a voz de Nina soou de forma fofa, movendo a atenção de ambos para ela.
se afastou de imediato dele, se sentindo envergonhada pela cena em que a criança havia presenciado. Enquanto isso, Nina mantinha um sorriso no rosto e um brilho de esperança no olhar.
— Sim, você me achou — disse , tentando manter a sanidade intacta.
— Vem… — Nina correu até ela e, pegando sua mão, a puxou com entusiasmo para saírem do lugar. — Está começando a nevar.
— E eu não posso ir? — Perguntou , se sentindo abandonado pela filha.
— Claro, papai — Nina riu e continuou a puxar sua babá favorita.
O inverno batia à porta, assim como o olhar admirado da pequena para a neve que caía do lado de fora. Mesmo sendo uma época fria, internamente o coração do Tenebrae misteriosamente se aquecia sempre que olhava para a jovem destemida que assumiu a dívida do pai.
No final da noite de uma sexta-feira, após colocar a menina na cama, contar uma história aleatória de alguma princesa Disney e lhe desejar bons sonhos, desceu as escadas e seguiu para a cozinha. Os outros empregados estavam próximos à bancada de refeições, entre cochichos e fofocas.
A jovem se fez desinteressada e preferiu não se envolver na conversa. Ela já recebia muitos olhares curiosos de todos sempre que a pedia para sentar-se à mesa e acompanhar ele e a filha em suas refeições – a única empregada que até então obteve este privilégio, despertando também insatisfação e inveja nas criadas que se encarregavam da limpeza da casa.
— Vocês viram o corpo daquele homem sendo carregado? — Comentou a criada Annabeth, disfarçando o olhar observador para a babá.
— Mais um? — Josh, o jardineiro, se mostrou surpreso. — É o sexto em menos de uma semana.
se manteve em silêncio ao pegar um copo de leite e sentou-se na porta da cozinha para o jardim dos fundos. Seu olhar se manteve no céu. No fundo, sentia saudade de sua família.
— Quando fui ao mercado com a Carmen, ouvi boatos pelas ruas que atacaram a família Webe da construtora — comentou Lauren, a outra criada. — E pediram para o senhor Tenebrae descobrir quem foi.
— Ah, ele é mesmo o consigliere da família Webe, né? — Disse Robert, o motorista da família. — Eu ainda fico impressionado; além de ser de uma família poderosa da reservada Continuum, o senhor Tenebrae ainda é conselheiro da máfia alemã.
Ele sentiu seu corpo arrepiar, por medo do chefe.
— Ah, eu só sei dizer que foi tão difícil limpar os vestígios de sangue da adega desta vez… — Continuou Annabeth, soltando um suspiro.
— Eu não me importo com o quão mal ele pareça, mas o senhor Tenebrae é um sonho de homem. Se eu tivesse a oportunidade… — Lauren suspirou.
— Sim — Annabeth concordou, mantendo o olhar em .
Minutos depois, se recolheu em seu quarto no alojamento dos empregados. No meio da noite, ela acordou assustada por ter tido um pesadelo. Aproveitou a deixa para ir até o quarto de Nina e se certificar que a criança dormia bem. sorriu de leve ao olhar o rosto tranquilo de suave da garota em seu sono.
Ao passar pela porta do quarto de , percebeu que desta vez estava um pouco aberta. Será que ele havia perdido o sono também? ergueu a mão para tocar quando sentiu uma presença atrás dela. Assim que virou, seus olhos encontraram o rosto ensanguentado do Tenebrae.
— Ah! — deu um passo para trás no susto e colocou a mão na boca para não gritar.
Ele manteve-se sério e com o olhar fixo nela. Foi então que a determinada babá percebeu que o sangue em seu rosto não era dele, o que a fez lembrar-se das conversas que ouvira na cozinha. Seu coração acelerou de forma angustiante, lembrando-se também do dia em que o conheceu, e do que fez com seu pai. Toda aquela imagem de homem cruel e perverso voltou a ela, anulando os momentos em que presenciara seus atos de carinho e ternura com a filha, assim como seus lados totalmente inusitados de uma pessoa comum.
Quem era aquele homem que para alguns era um monstro e, para a doce Nina, um pai amoroso que ama plantas?
— O que faz aqui?! — Perguntou ele, mantendo a tranquilidade na voz, como se nada tivesse acontecido e nem mesmo sua mão direita ainda estivesse segurando uma arma.
— Eu… — Ela desviou o olhar para baixo, tentando manter-se em equilíbrio, mas avistando a arma, seu interior ficou um pouco mais apavorado. — Eu apenas…
— Minha filha está bem — disse ele, já entendendo o que ela queria falar.
Ela assentiu com a face.
— Está com medo? — Perguntou ele, propositalmente.
— Defina o que é medo — ela levantou seu olhar novamente, o encarando.
Sim, ela estava com medo, mas não iria admitir. Seu pensamento voltou para seu pai e sua irmã. Se estava ali por eles, deveria ser forte.
— Por que você me intriga tanto? — disse ele, dando um passo para mais perto dela. — Me fazendo ficar ainda mais atraído por você.
— O quê? — se sentiu um pouco desnorteada por suas palavras tão diretas.
Ela tentou se afastar dele, dando um passo para trás, porém sentiu suas costas tocarem a parede. Ele se aproximou mais, mantendo o olhar mais intenso. Estava curioso para saber os pensamentos que sua babá tinha a seu respeito. Se seu rosto estava tão suave, por que seus olhos continuavam mostrando estar com medo?
— Ninguém morreu esta noite, se é isso que está se perguntando — disse ele.
— Não estava pensando sobre isso — desmentiu ela.
— Tem certeza? — Insistiu ele.
— Por que sempre quer saber meus pensamentos? — Retrucou ela. — Minha opinião sobre o senhor mudará seu estilo de vida ou seu caráter?
ficou pensativo por alguns instantes.
— Não acha que tenho um bom carácter? — Perguntou ele.
— Acho que é um bom pai, apesar das circunstâncias — disse ela.
— Não foi isso que eu perguntei — ele sorriu de canto, de forma presunçosa. — Ainda tem medo de mim.
— Novamente a mesma indagação? Se eu disser que tenho medo, o que o senhor fará? — Retrucou ela.
— … — Pela primeira vez, ele a tratou informalmente.
— Acho que precisa de um banho, seu rosto ainda está… — Ela ponderou suas palavras, o interrompendo, e voltou o olhar para o lado. — Sei que não é da minha conta, mas não acho que a forma em que está seja a imagem que Nina tem do senhor.
Ele voltou a sorrir enquanto a olhava admirado.
— Agradeço por se preocupar com minha filha — ele sorriu de canto e tocou na maçaneta de sua porta. — Você conseguiu…
— O quê, Senhor Tenebrae? — Perguntou ela, olhando-o novamente, confusa.
— Ter a minha confiança — respondeu ele, dando um passo para trás e abrindo a porta. — Talvez, até mais do que isso.
O mundo tem medo de mim, sou o homem intocável
Mas, no final, você não pode me rejeitar,
Você vai se esconder e roubar olhares meus.
Monster – EXO
Aceitação
Verão de 2016
Berlim, Alemanha
O inverno nunca havia passado tão rápido na vida de , até que uma certa jovem atravessou seu caminho e despertou um lado adormecido de seu coração, e até os perfumes da primavera colaboraram para que seus sentimentos continuassem a se voltar para ela. Agora, todos os seus pensamentos se resumiam à babá de sua filha. E não era mais a dívida do pai que a mantinha naquela casa, mas a vontade de um homem apaixonado que lutava contra seus sentimentos ao mesmo tempo que desejava se declarar.
Mas será que após todas as singelas demonstrações de crueldade e frieza, seria o impedimento para chegar ao coração dela?
Manhã de domingo, estava caminhando pelo jardim. Nina tomava seu café tranquilamente no pergolado adiante, acompanhada de seu pai. Assim que a babá se aproximou deles, a criança a olhou curiosa.
— Não vai mesmo tomar café com a gente? — Perguntou Nina.
— Não, estou sem fome. Mas vejo que você acordou faminta — comentou ela, sorrindo de leve.
— Sim — assentiu a criança, mostrando a taça de salada de frutas já nas últimas colheradas.
— Está tudo bem? — Perguntou , num tom mais sério.
— Sim — assentiu.
O olhar do homem ficou mais sério ao perceber que o rosto da babá estava pálido. sentiu-se estranha de repente e seu corpo ficou um pouco trêmulo. Tenebrae se levantou da cadeira e amparou a jovem assim que percebeu suas pernas falhando e a mesma se apoiando na estrutura do pergolado.
— , você está bem? — Perguntou ele, mais preocupado.
— Sim, não deve ser nada demais — sussurrou ela, sentindo sua respiração ficar um pouco pesada e cansada.
Assim que as pernas de falharam novamente, a pegou no colo com firmeza e gritou para que o motorista retirasse o carro. Em seguida, deu ordens expressas para Carmen cuidar de Nina, e se aproximou do veículo. Assim, colocou a babá no banco do carona, quase desacordada, e ajeitou o cinto de segurança nela. Entrou do outro lado e deu a partida em direção ao Berlim Sollary Hospital.
Chegando ao lugar, Tenebrae, sendo reconhecido por todos, logo foi atendido pela residente chefe que encaminhou para o quarto de atendimento vip para família da Continuum.
— Quais os sintomas? — Perguntou Victor Sollary ao entrar no quarto e se aproximar para fazer o atendimento mais avaliativo.
— Ela ficou pálida de repente e teve um mal estar, desmaiou no caminho — respondeu , com o olhar temeroso.
— Vejamos — Victor pegou sua lanterninha e avaliou as pupilas dela, depois checou o pulso e leu o prontuário inicial. — Daisy, vamos fazer alguns exames para uma avaliação completa.
— O que ela tem? — Perguntou , controlando seu nervosismo interno.
— Eu estou bem — disse , em sussurro, sentindo mais cansaço ainda.
— Senhorita? — O médico se voltou para o Tenebrae. — A paciente tem um nome?
— Ortiz — disse . — Você poderia me responder?
— Peço que se acalme, Tenebrae. Neste hospital quem manda sou eu, e quando eu tiver um diagnóstico completo e preciso, lhe direi — Victor manteve o tom cordial, mas soando autoridade, e olhou para a jovem acamada. — Senhorita Ortiz, possui algum problema de saúde?
— Mais ou menos — respondeu ela. — Eu estou bem.
— Pare de dizer que está bem e responda o médico corretamente — Tenebrae se mostrou impaciente. — O pai dela uma vez disse que ela teve uma doença.
se lembrou vagamente do dia em que a conheceu, da explicação que Petruz Ortiz lhe deu pelo roubo.
— Que doença a senhorita teve? — Victor olhou novamente para ela.
respondeu ao doutor, porém sua voz não saiu. Como um bom leitor labial, Victor conseguiu entender muito bem o que disse. O médico pediu para que a residente continuasse com os procedimentos para a bateria de exames e se retirou do quarto, sendo acompanhado por Tenebrae.
— Então? — Perguntou impaciente o homem.
— A senhorita Ortiz tem uma rara doença que, se não tratada adequadamente, causa anemia por doença crônica — explicou Victor. — Vamos primeiro tratar o quadro da anemia, enquanto descubro mais sobre a doença dela e como estava sendo o tratamento.
— Posso ajudar em algo além de pagar a conta do hospital? — Ele tentou ponderar o teor irônico de sua voz.
— Me ajudaria trazendo alguém da família que possa me dar melhores informações — disse Sollary, se afastando dele e seguindo pelo corredor.
Se esse era o pedido dele, não pouparia esforços para atender. Bastou apenas uma ligação, ordenando que seus homens buscassem o pai de sua funcionária. Algumas horas se passaram, com Tenebrae sentado em uma cadeira observando dormindo após sua bateria de exames, com sua respiração já restabelecida e recebendo soro intravenoso por onde também administraram os devidos medicamentos.
— Papai — a voz de Nina soou da porta.
Automaticamente o olhar dele se voltou para a sua direção. A pequena estava acompanhada de Carmen.
— O que fazem aqui? — Perguntou ele, voltando o olhar para a governanta.
— Perdoe-me, senhor, mas a pequena estava inquieta e não parava de perguntar pela senhorita Ortiz — explicou a mulher.
— Está tudo bem — ele sorriu para a filha. — Venha querida.
— Ela está dormindo? — Perguntou a criança, se aproximando dele.
— Sim — a pegou, sentando-a em seu colo.
— Vou aguardar lá fora, senhor — disse Carmen.
— Obrigado — assentiu ele.
A pequena Nina esticou sua mão e tocou na mão de . Em instantes a babá abriu os olhos. Ao vê-la, um sorriso se fez em sua face.
— Querida — disse , mantendo o tom baixo. — O que faz aqui?
— Queria ver você — respondeu ela com timidez, mas o olhar feliz.
voltou seu olhar para , que a observava com serenidade. Um silêncio pairou entre eles, até que Nina se remexeu no colo do pai.
— Você vai voltar pra casa com a gente? — Perguntou a criança.
manteve o olhar em Tenebrae, pois ele era o único que poderia responder àquela pergunta.
— Claro que ela vai — respondeu ele, mantendo o olhar intenso na jovem.
Alguns minutos depois, a atenção deles se voltou para os dois toques que deram do outro lado da porta. Logo uma residente entrou para medir a pressão de e checar seus sinais vitais. O pai e a irmã de entraram acompanhando-a, o que deixou a jovem surpresa. Não se conteve em olhar novamente para Tenebrae, que manteve um sorriso discreto no rosto.
— Senhor Tenebrae — o pai dela se encolheu um pouco, ainda tinha pesadelos com aquele dia.
— — Margareth não se importou com a presença do homem e correu para perto da irmã, chamando-a pelo apelido. — Estava morrendo de saudade.
— Eu também, pimentinha — disse, mantendo um sorriso leve na face ao apelidar a irmã. — Espero que não esteja aprontando muito.
— Não, eu juro que tenho me comportado, e serei uma boa aluna na escola nova — garantiu ela.
— Escola nova? — ficou intrigada.
— Sim, nós mudamos de casa e o senhor Tenebrae me colocou em uma escola particular — contou sua irmã, como se fosse a notícia mais simples e natural do mundo.
desviou seu olhar para a residente. Não sabia como reagir a espontaneidade de Margareth.
— Vou deixá-los à sós — disse ele, com a filha no colo, ao seguir para a porta.
Tudo ficou silencioso novamente até que a residente se retirou do quarto. Então voltou seu olhar para o pai, séria e inexpressiva.
— Poderia me contar a história toda? — Pediu ela.
— Não há o que contar, querida. Nós pensamos que já soubesse — respondeu ele, e continuou: — Dois dias depois que você foi levada, um advogado da empresa veio nos visitar e nos levou para um apartamento em
Wedding. No final, me deram meu emprego de volta como zelador.
— Se estamos devendo ele, por que fez isso? — Perguntou a jovem, confusa.
Ela já não sabia mais o que pensar sobre Tenebrae. Ao mesmo tempo que o via como uma homem sem coração, gestos como aquele pareciam mais do que contraditórios. Dentro dela havia um misto de medo e curiosidade que a faziam sentir-se atraída pelo homem, o que a deixava ainda mais desnorteada e, em partes, culpada, pois ele havia sido o homem que quase matou o seu pai.
ficou mais alguns dias no hospital até que finalmente recebeu alta. Seu retorno para a casa do Tenebrae seria feito pela escolta do mesmo. Após o doutor Victor assinar a papelada de liberação, ambos seguiram para o estacionamento privativo do hospital. se sentiu incomodado ao percorrer o caminho, como se estivesse sendo observado e seguido. Assim que chegaram próximo ao carro dele, ela parou e olhou para a sacola de remédios em sua mão.
— Algum problema? — Perguntou ele.
— Não, só estava conferindo se está tudo aqui — assegurou ela.
Em um piscar de olhos, ele avistou o vulto de uma pessoa. Logo um homem apareceu em seu campo de visão com uma arma apontada para ele. O barulho de um tiro soou e a fração de tempo que tinha o fez segurar pela cintura e girar seus corpos para que a bala atingisse suas costas e não ela.
— Senhor Tenebrae — sussurrou ela, ao sentir o impacto do corpo dele sobre o dela.
Tenebrae sentiu um frio passar por seu corpo e segurou a dor que sentiu pelo projétil que se alojou em seu ombro. Ele rapidamente retirou a arma que estava presa em seu cinto nas costas e, se afastando um pouco, olhou-a nos olhos.
— Olhe somente para mim, tudo bem? — Pediu ele, tendo o balançar da cabeça dela em confirmação.
girou de leve seus corpos, mantendo-a segura junto dele e, erguendo a mão, voltou o olhar para o lado e atirou no homem que seguia na direção deles. Foram poucos os segundos do ocorrido, mas que deixaram em desespero interno.
— Fique aqui — Tenebrae soltou-a e seguiu em direção ao homem.
Sua mira era excelente e havia acertado com precisão. Olhando mais de perto, reconheceu aquele rosto como sendo de um dos sliters do seu irmão gêmeo, Andrei Tenebrae.
— Senhor Tenebrae! — gritou, chamando a atenção dele para outro homem que se aproximava, também armado.
mirou no homem, iniciando uma troca de tiros. Ele correu para perto de e a puxou para trás do carro, mantendo sua segurança. Mais trocas de tiros ocorreram quando os seguranças do hospital apareceram. Ao final, acompanhando o primeiro, havia mais quatro homens que também foram exumados.
— Está tudo bem agora — disse ele ao abraçar , sentindo seu medo. — Não deixarei que ninguém a machuque.
Ela encostou de leve a mão no tórax dele e sentiu o sangue em sua camisa. Só então se lembrou que havia sido atingido. Ele foi socorrido rapidamente pelos funcionários do hospital. Ignorando as recomendações de internação do doutor Sollary, que também se manteve irritado por tal atentado em seu hospital, Tenebrae finalmente seguiu de carro para casa.
Os dias se passaram após a recuperação do susto pelo atentado. A notícia havia se espalhado por toda a sociedade Continuum, chamando a atenção da família mais interessada no assunto.
— Meu irmão tentou me matar, Sebastian. Acredite, não sou seu inimigo. Minha ambição nunca foi a Continuum. Possuo ligações com as famílias, mas tenho meus próprios negócios, sou reconhecido e respeitado na Alemanha inteira não somente como o melhor em Direito, mas o maior consigliere que existe aqui — suas palavras saiam com sinceridade ao falar ao telefone com o chefe da família Dominos. — Acha mesmo que vou perder meu tempo lutando por uma herança que nem é minha? Tenho o sobrenome Tenebrae por consideração de Godric, mas não tenho o sangue deles, nem Andrei.
— Vou confiar em suas palavras, , e saiba que terá meu total apoio se ficar ao meu lado contra Lionel — disse Sebastian do outro lado da linha.
— Lamento que tenha sofrido isso do seu próprio irmão. — O poder subiu à cabeça de Andrei. Lionel o fez muitas promessas depois que assumiu o controle da nossa família, o que me manteve afastado aqui em Berlim — revelou ele. — Acabei atrapalhando alguns de seus planos, certamente foi o motivo dele ter mandado esse recado.
— Quanto a sua segurança e a de sua filha, se precisar de algumas ligações minhas… — ofereceu Dominos.
— Não se preocupe, eu mesmo tenho meus contatos. Meu irmão não terá mais nenhuma outra oportunidade como essa — garantiu ele, com confiança.
— Bem, nos vemos em duas semanas, então, para selar nossa aliança — disse o homem.
— Estarei no aguardo — assentiu e encerrou a ligação.
Ele guardou o celular no bolso e voltou sua atenção para o vaso em sua frente. Somente seu hobby de jardinagem para deixá-lo mais tranquilo e relaxado, além do silêncio em que o jardim lateral lhe proporcionava. Continuou por um bom tempo ali.
— Pergunte logo — ergueu seu olhar para frente, ao parar de adubar o vaso na bancada diante dele.
permaneceu por um breve momento em silêncio, parada na porta. Sua intenção não era exatamente chamar a atenção dele, mas apenas observá-lo de longe. Até o momento, ela não havia tocado no assunto do apartamento e emprego do pai, mas permanecia inquieta internamente com todos os seus questionamentos.
— O que quer que eu pergunte? — Retrucou ela, adentrando o lugar.
— A pergunta que lhe vem à mente sempre que me olha — ele deixou a colher de jardinagem na bancada e se aproximou dela.
— Senhor Tenebrae… — Ela abaixou o olhar.
Em partes tinha a coragem e em partes não.
— Pergunte — insistiu ele.
— Por que fez isso? — Finalmente as palavras saíram. — Por que ajudar a minha família se ainda estou em dívida com o senhor?
— Pode achar que sou um monstro, mas tenho alguns princípios — respondeu ele com serenidade, parando diante dela. — As famílias dos meus funcionários diretos possuem alguns benefícios. Você trabalha em minha casa.
A resposta parecia simples e totalmente lógica, mas ela não se contentava com aquilo.
— Pelo que sei, o senhor não paga as prestações do apartamento da senhora Carmen, nem o financiamento do carro do Robert, menos ainda as parcelas da faculdade de Annabeth — ela tinha o argumento na ponta da língua. — Por quê?
— O salário deles cobrem todo o necessário — retrucou ele. — O apartamento de Carmen pertencia a um cliente, eu negociei diretamente e ele fez pela metade do preço de mercado. O carro do Robert era de um advogado da minha empresa, que ficou feliz em poder ajudar facilitando o pagamento do financiamento. E bastou um telefonema meu para Annabeth conseguir bolsa integral; ela apenas paga pelos livros e materiais que utiliza ao longo do curso.
Ele deu mais um passo para frente.
— Qual o próximo questionamento? — Num tom provocativo, ele manteve o olhar fixo nela.
— O que quer de mim? — Perguntou ela, sentindo seu coração acelerar com a aproximação dele. — O senhor sempre age de forma diferente comigo, levou um tiro para me proteger…
Ela se calou ao se lembrar da cena. Seu coração se apertou um pouco. se manteve em silêncio, refletindo se deveria ou não ser honesto com ela.
— Você — respondeu ele. — Eu apenas quero você.
Ela se manteve estática a princípio. Não sabia o que pensar, mas estava certa da confusão de seus sentimentos por ele.
— Nunca desejei tanto uma mulher como a desejo agora — disse ao segurá-la pela mão, seu olhar transmitia sinceridade e transparência.
— Senhor Tenebrae — ela se manteve afastada dele, com o olhar temeroso. — Não podemos.
— Já lhe disse para não me chamar assim — ele se aproximou mais dela. — Apenas para você, e sei que também me quer como a quero.
— Senhor… … — Ela o olhou.
Aquele olhar ingênuo que tanto o despertava curiosidade e atração. não tinha respostas concretas do que realmente sentia, mas sabia que internamente os olhares intensos de lhe desestruturavam. A forma como sorria para ela e o fato de cuidar de sua família, mesmo depois daquele início conturbado e brutal… Ela não queria se apaixonar pelo homem que fizeram aquilo com seu pai, se sentia culpada só por imaginar sentir-se atraída por ele.
Mas o sentimento estava ali, ainda oculto, talvez, mas existia de fato.
— Eu sinto isso em você… Seus lábios me chamando, sua pele suplicando pelo meu toque, seu coração acelerado a cada vez que me aproximo — ele se inclinou mais para sussurrar em seu ouvido. — Até mesmo suas artérias estão em desespero por um beijo meu… E eu a desejo com a mesma intensidade.
— Eu não posso… — Sussurrou ela, em recusa por todas as coisas que já o presenciara fazer.
— Eu posso por nós dois — assegurou ele.
a trouxe para mais perto dele e iniciou um beijo apaixonado e intenso, transmitindo todos os seus sentimentos mais profundos, sendo aceitos e retribuídos por .
Há curiosidade em seus olhos,
Você já está apaixonada por mim
Não tenha medo, o amor é o caminho
Meu amor, eu entendi
Você pode me chamar de monstro.
Monster – EXO
Continuum: Dizem que é através da família que tudo se inicia, assim, quando menos se espera, você está amando a pessoa mais imprevisível.
By: Pâms.
Fim