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Take The Heartland

  A floresta densa escondia seus perigos com eficiência, Gale Hawthorne prestava total atenção a todos os sons ao seu redor, qualquer deslize e tudo estaria acabado.
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  Folhas e galhos sendo esmagados foram ouvidos ao seu lado direito, o rapaz pegou sua faca e se preparou para tudo que pudesse imaginar. Instantes depois ouviu um arquejo e logo depois um xingo de reprovação. Gale virou-se para encarar a direção dos barulhos, e da escuridão densa que as copas unidas das árvores proporcionavam a figura de uma garota esfarrapada e cansada surgiu.
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  Ambos pararam estáticos por um instante, apenas se encarando em análise; por fim, a garota saiu correndo em direção ao rapaz e o abraçou em meio à lágrimas. Gale soltou imediatamente sua faca e envolveu a moça num abraço forte também.
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  - Não acredito que conseguimos nos encontrar… – Murmurou a menina depois de se separarem, ainda com vestígios de lágrimas nos olhos.
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  - Está tudo bem? Está ferida? – perguntou encarando a companheira com atenção.
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  - Estou bem. – Sorriu ela com algumas lágrimas escorrendo pelo rosto.
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  Fora alguns arranhões e hematomas espalhados pelas partes visíveis do corpo, a garota a sua frente parecia estar realmente bem.
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  Os cabelos estavam completamente emaranhados, parte das roupas estavam rasgadas, o rosto estava sujo com algo parecido com lama… Ninguém reconheceria aquela menina se não a conhecessem bem o bastante.
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  - Sabe que está chegando a hora, não é? – murmurou ela parando de sorrir, sua expressão ficando completamente séria.
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  - Não precisamos falar disso agora, … – Gale começou.
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  - Sim, precisamos! – exclamou com firmeza.
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  Gale lembrou-se de quando tudo havia começado.
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  Era dia da colheita nos 12 Distritos que formavam Panem. Todos os jovens de até 18 anos do Distrito 12 estavam reunidos na praça central do lugar, os mais jovens ao fundo e os mais velhos a frente em uma fila organizada.
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  A representante da Capital estava a falar no palco de madeira improvisado, discursou as velhas palavras decoradas de sempre e então voltou-se para o globo transparente com as dezenas de tirinhas de papel com os nomes de cada jovem inscrito.
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  Um instante de suspense depois da mulher pegar um dos papeizinhos. Podia-se ouvir o som de uma mosca voando naquele instante, todos desejando arduamente que não fosse seu nome escrito naquela pequena tira.
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  - Nossa vencedora e representante feminina do Distrito 12 é ! – a mulher exclamou alegremente, porém, não fora acompanhada por ninguém da multidão.
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  A garota que usava um vestido simples num tom amarelo claro separou-se do grupo de jovens moças e se dirigiu ao palco com passos tensos e uma incrível vontade de fugir de seu destino. Segurou-se ao máximo e postou-se a frente de todos os moradores do Distrito 12, tendo a certeza de que sua expressão séria e seu olhar assustado estavam sendo focalizados pelas câmeras que transmitiam o evento ao vivo para todos os outros distritos de Panem, inclusive a Capital.
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  Ela ficou em pé aguardando seu companheiro e representante masculino do distrito ser sorteado. Gale Hawthorne. Gale Hawthorne havia sido o nome tirado do globo transparente do outro lado do palco.
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   viu o rapaz caminhar a passos duros em direção ao palco, podia jurar que ouvira um soluçar seguido de um choro baixo entre a multidão.
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  Os dois se cumprimentaram em meio a tensão do momento apenas com um aperto de mãos leve e inseguro.
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   não sabia o que era pior, estar – com toda a certeza – prestes a morrer, ou ter como rival – e consequentemente ter de matá-lo – alguém com quem costumava conversar durante os dias na escola. Por que tinha de ser Gale Hawthorne o nome tirado no sorteio? Por quê?
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  Nenhum dos dois conseguia acreditar ou aceitar o fato de que em alguns dias, teriam de se enfrentar numa arena sangrenta e mortal, e que apenas um poderia sair vivo dela. Era um infortúnio tão grande!
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  No mesmo dia em que seus nomes foram sorteados, ambos foram levados para um dos vagões mais luxuosos do trem que os levariam para a Capital, onde se daria início aos Jogos Vorazes; Gale e mantinham-se calados durante todo o tempo, não tinham coragem de se encararem, tampouco palavras para se expressarem; mas nenhum dos dois negava a presença e companhia um do outro. Não com o fim daquela calmaria tão próximo.
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  Em um instante, quando já estavam próximos à Capital, finalmente tomara coragem para falar com Gale.
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  Naqueles minutos restantes de paz, a garota fez com que Hawthorne lhe prometesse algo, algo que ele sabia que talvez não fosse capaz de cumprir… Mas mesmo assim prometeu, apenas para poder ver um pequeno e tímido sorriso brotar nos lábios de . Não um sorriso feliz e radiante como costumavam ser, mas um agradecido com poucas esperanças. Aquele foi um dos últimos momentos em que ficaram juntos sem a pressão dos jogos para que fossem inimigos…
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  E agora lá estavam os dois novamente, juntos.
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  Havia restado apenas mais um tributo na arena além deles, o garoto do Distrito 5. Era a primeira vez que dois tributos do Distrito 12 conseguiam manter-se vivos por tanto tempo nos Jogos.
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  Gale e se encararam por um instante, os sorrisos a mostra nos lábios de ambos. Estavam aliviados por terem se encontrado vivos.
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  - Você prometeu. – Murmurou ela fazendo com que o sorriso no rosto do rapaz se apagasse imediatamente.
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  - , por favor… – gemeu Gale querendo se esquivar da conversa.
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  - Você prometeu. – Repetiu ela ficando séria. – E está chegando a hora de cumprir a promessa.
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  - Não. – Falou ele em tom nervoso. – Não vamos ter de fazer isso, . Eu não terei de fazer isso! – exclamou gesticulando, perdendo um pouco da calma com o assunto.
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  - Não há como nós dois sobrevivermos, Gale… – A garota sorriu triste.
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  O rapaz ia começar seus argumentos contra a afirmação da amiga, mas no mesmo instante ambos ouviram o balançar das folhas nas árvores, o barulho aumentando cada vez mais, indicando que algo ou alguém se aproximava de onde estavam.
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  O garoto do Distrito 5! Ele era bom em fazer com que seus passos fossem o menos notáveis possíveis, mas com o silêncio que os dois amigos faziam, era praticamente impossível não ouvir o sacolejar leve das folhas das árvores.
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  Gale e se prepararam para o ataque.
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  Os galhos e folhas pararam de balançar; um leve barulho de pés esmagando com grosseria as folhas secas espalhadas pelo chão fez-se ouvir, e então o garoto do Distrito 5 apareceu a frente dos dois companheiros.
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  Seu olhar era colérico, era o que os jogos faziam, davam um jeito de esvair toda a sanidade da mente de seus participantes. Quanto mais longe, menos são.
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  Hawthorne sacou sua faca de volta postando-se mais ou menos a frente de , a fim de protegê-la.
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  O garoto do Distrito 5 – que os dois mal se deram ao trabalho de saber o nome – grunhiu como um animal feroz antes de atacar, e então a passos largos e duros começou a caminhar na direção dos tributos do Distrito 12; numa fração de segundos a cena toda mudara, o garoto adversário que antes ia em direção aos dois amigos, agora estava pendurado pelo tornozelo em uma arapuca resistente que Gale havia montado em posições estratégicas ao redor da clareira na qual passara a noite.
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  Ouviram o rapaz preso soltar um grunhido ainda mais irado e animalesco, o mesmo passou a se sacudir tentando livrar-se da armadilha, mas era em vão, tudo o que conseguira foi derrubar tudo o que tinha nos bolsos e também a mochila; estava indefeso agora.
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  - O que faremos agora? – perguntou observando Gale com expressão assustada.
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  - Ele está desarmado. – O rapaz apontou para as facas e pontas de lanças caídas ao redor de onde o garoto do Distrito 5 estava pendurado.
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  - Sabe que temos de…
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  O murmurar de foi interrompido bruscamente quando ela sentiu algo pontiagudo e afiado atravessar sua carne entre duas costelas.
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  A garota arfou e logo foi ao chão com a dificuldade para respirar iminente.
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  Gale olhou horrorizado para a companheira e então encarou o tributo do Distrito 5 gargalhar em triunfo, uma gargalhada insana, assim como sua aparência. Hawthorne poderia atacar seu adversário no mesmo instante, mas uma certa respiração dificultada lhe impediu; estava morrendo.
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  - Gale… – Ela murmurou tentando esticar o braço na direção do rapaz.
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  - Shh… – Ele agachou-se ao lado da garota apoiando a cabeça dela em seu colo.
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  - Não era assim que eu imaginava… – Ela dizia com dificuldade, lentamente e com longas pausas.
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  - Por favor, … – Gale calou-a pousando levemente o indicador em seus lábios. – Por favor…
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  A menina sorriu segurando a mão que lhe calou, moveu os lábios em uma pequena frase sem som e então a agonia lhe tomou. A sensação do ar lhe faltando cada vez mais; a cada tentativa de reter oxigênio sentia-se mais sufocada, a ferida fazendo com que se afogasse em seu próprio sangue. Logo os espasmos tomaram conta de seu corpo por completo e antes que desse seu último suspiro e sua vida se esvaísse por inteiro, sentiu os lábios quentes de Gale Hawthorne selarem os seus.
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  E então ela havia ido.
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  Gale separou-se da garota, os olhos ardendo. Não ouvia mais nada ao seu redor, apenas uma vozinha dizendo em sua cabeça: “Ela está morta, ela está morta, ela está morta…”; fora isso, tivera a leve impressão de que o tributo do Distrito 5 debochava de sua dor antes de ter uma faca atravessada em seu crânio.
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  E era isso, o jogo chegava ao fim…
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  ”- Hawthorne, promete para mim que se chegarmos à final… Você vai vencer? – murmurou a alguns minutos de chegarem à Capital.
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  Gale encarou a amiga do colégio assustado, mas ela parecia tão calma…
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  - O que quer dizer, ? – perguntou, não sabia se havia entendido bem o pedido dela.
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  - Se chegarmos à final, você tem que vencer. – Ela repetiu séria.
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  O rapaz estava perplexo com o pedido. Se ambos chegassem à final, para ele vencer aos jogos, ela teria de morrer…
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  - Mas
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  - Por favor, Hawthorne. – Pediu mais uma vez. – … E você ainda me deve meu pedido de aniversário. – Concluiu rindo da careta do amigo.
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  - Não é justo, ! – retrucou. – Eu te daria qualquer outra coisa que quisesse! – exclamou.
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  - Mas não quero qualquer outra coisa, só quero que ganhe aos jogos. – Sorriu ao terminar a frase…”
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  E Gale Hawthorne havia vencido.
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  Seria aclamado por seu Distrito, seria o orgulho de seu povo. Tornaria-se, quem sabe, uma lenda entre as próximas gerações, seria o raro caso em que um membro do Distrito 12 vencia aos Jogos Vorazes… Ele ganharia tudo o que quisesse, levaria a honra ao seu distrito…
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  Levaria várias vantagens por ter vencido…
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  Ele deveria estar feliz? Se deveria, simplesmente não estava. Sentia um vazio no peito, poderia ter sobrevivido aos jogos sem nenhum ferimento grave, mas uma parte importante de si havia sido deixada para trás na arena, junto ao corpo e espírito de sua .
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Fim

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