Starlight in Busan

  %Mia% andou porta a fora, sua raiva conseguia ser sentida e notada a quilômetros de distância. Não se permitia chorar, menos ainda lacrimejar. Será que era assim se sentir sufocada? Pela primeira vez as palavras de %Minho% se tornaram reais para ela. Todos os seres celestiais podiam sentir o efeito sendo causado em seu coração. Assim como também os inimigos do céu. Eles não deixariam passar a oportunidade, sabiam que %Mia% estava perto de render-se e cumprir a missão pela qual nasceu.

  %Minho% continuou no apartamento, não entendia o porquê dissera aquilo de uma forma tão direta, rude e bruta. Seria seu lado guerreiro revoltado pela ignorância humana de %Mia%? Seus punhos ainda se mantinham em contato com a parede, logo seus dedos sentiram o frio das ferragens da estrutura da mesma. Lentamente ele abriu seus olhos e viu o buraco que fizera logo após a saída brusca dela. Respirando fundo, afastou-se um pouco, retirando sua mão e abaixando. Ele se sentia parcialmente culpado naquele momento, arrependido e preocupado pelo que poderia acontecer a seguir.

  %Mia% ainda caminhava pela rua sem direção certa. Em sua mente, as palavras de %Minho% se mantinham martelando, forçando-a a refletir o assunto mesmo contra a sua vontade. Logo todo o céu fechou escurecendo, barulhos de trovões soaram forte, tudo indicava que as coisas iriam piorar. Ela nada ouvia, mas para %Minho% significava uma coisa: a jovem médica deveria receber toda a proteção que ele estava incumbido a lhe oferecer. Isso era uma realidade, pois naquele minucioso momento uma morte estava sendo tramada. A distração dela era primordial para seus inimigos, pois sua atenção estava voltada a se distanciar cada vez mais do homem que havia deixado em seu apartamento.

  Vagando pela cidade no modo automático, sem rumo e um desejo de ir a lugar nenhum. Tudo indicava sua solidão e fraqueza, estando desprotegida e indefesa. Será? No fogo e pelo fogo. Este seria seu fim, o fim de uma vida destinada a salvar vidas. Era isso que o outro lado da balança queria. O equilíbrio não era mais o que importava, afinal, o dom que %Mia% recebera quando criança tinha se tornado mais valioso que isso, e consequentemente não haveria uma outra oportunidade melhor do que aquela para ceifar a vida da jovem.

  Hwang acompanhava de longe cada um dos aleatórios passos de %Mia%, esperando pelo momento em que ela passasse pelo caminho desejado. Os sussurros dele eram contínuos no ouvido dela para que seguisse para aquela direção. Passando em frente a um simples posto de gasolina, silenciosa e distraída, %Mia% sentiu um vento frio tocar sua pele como um cobertor, fazendo-a tremer, não pelo frio, mas pela sensação de medo.

  O que seria isso?, pensou consigo mesma.

  De forma automática, abraçou seu corpo, tentando se aquecer. Tudo meticulosamente calculado contra sua vida. Em um piscar de olhos, um carro desgovernado veio em sua direção e, se desviando dela, bateu em uma bomba de gasolina do posto. %Mia% acompanhava toda a cena, estática, sentindo os membros de seu corpo totalmente paralisados.

  Houve de imediato uma explosão, resultado do impacto do carro com a bomba. Uma bola de fogo subiu e suas labaredas se espalharam pelo local. Ainda sem conseguir reagir a todos os acontecimentos, parada, seus olhos brilharam com a claridade do fogo que vinha em sua direção em alta velocidade. Sua pele já sentia o calor que espalhara pelo lugar. Algo dentro de si a fez despertar da paralisia e tentando se locomover, ela caiu de bunda no chão, em um impulso para se proteger, seu corpo se encolheu assim como seus olhos se fecharam.

  Alívio!

  A sensação de alívio tomou conta dela. Um arrepio reconfortante causado pelo toque de estar sendo abraçada, e sim, ela estava. Ao abrir seus olhos novamente, a face de %Minho% estava próxima à sua, embriagada por um brilho incomum que lhe transmitia uma paz inexplicável. Em segundos, olhando para o rosto dele, sua visão começou a ficar turva, porém, em um breve reflexo, conseguiu ver o que tinha em suas costas. Um par de asas brancas com alguns pontos de penas prateadas. Seria isso possível? Asas em %Minho%? Era sim. Lindas e sublimes asas que cintilavam mais e mais devido às faíscas do fogo que as tocavam.

  O fogo.

  Até mesmo a explosão lhe fugiu da mente no momento em que olhou para as asas. %Minho% havia formado um escudo de proteção em volta de ambos com suas asas, mantendo-a segura em seus braços cheio de conforto. Sons estranhos foram ouvidos ao longe. Mesmo estando encantada e se sentindo protegida, havia coisas acontecendo fora daquele círculo protetor criado por ele. O corpo de %Mia% se sentiu pesado e sua mente, desgastada, o que a fez perder a consciência logo depois que identificar os sons estranhos sendo o bater de asas de mais duas pessoas. Eram Song e Jun, outros dois anjos enviados para ajudar %Minho% em sua missão protetora.

  O fogo diminuiu com a ajuda dos céus, através das gotas de chuva que iniciaram de forma branda até se intensificarem. %Minho% voltou seu olhar para %Mia% que permanecia desmaiada em seus braços, o rosto da jovem médica se mostrava sereno mesmo diante de todo o ocorrido.

  — Leve-a, cuidaremos do resto — disse Song já imaginando o que seu amigo pensava.

  — Agradeço a ajuda. — %Minho% permaneceu sério abrindo suas asas.

  — Não há de que — sussurrou Jun lançando seu olhar para Song de forma preocupada.

  Logo o anjo levantou voo e flutuou em direção ao apartamento da moça.

  %Minho% sabia que agora que %Mia% tinha conhecimento de toda a verdade sobre seu dom de curar pessoas, o quanto isso a deixava em perigo.

  Contudo, ele estaria ao seu lado para protegê-la independente do que pudesse acontecer, enquanto o Criador permitisse.