Stardust
Amor Estelar
Noruega
Inverno de 2017
Foi há dois invernos que eu a conheci.
Não acreditava em contos de fantasias ou histórias do tipo, até que vivi a mais insana da minha vida. Com um prazo apertado para entregar os primeiros capítulos do meu novo livro para a editora, seguia em pleno bloqueio criativo que me deixava à beira do precipício. Um noivado desfeito por saber que eu não seria o marido ideal para a mulher que um dia imaginei sendo a mãe dos meus filhos. O motivo? Não tinha um cartão de crédito de cinquenta mil euros de limite. E quando se está no fundo do poço emocional, a única maneira de sair é olhar para cima e rezar para ver a luz.
O que aconteceu comigo.
Literalmente.
Uma fria madrugada em que a neve havia dado trégua e o céu se mostrou com pontinhos salpicados pelas estrelas, sendo iluminado pela beleza da aurora boreal. Curiosamente, o mundo estava comemorando o Natal e quanto a mim, seguia isolado de todos na cabana de um amigo situada no alto da colina. A insônia havia tomado conta, e mesmo embrulhado nas cobertas, não conseguia me concentrar no sono.
— O que foi isso? — sussurrei ao ouvir um barulho do lado de fora.
Hesitei em me levantar da cama a princípio, mesmo sem neve a temperatura externa permanecia ao baixo extremo. Logo vi um clarão surgir ao longe na região da clareira, seguido de um barulho alto como o impacto de algo muito pesado caindo e um pequeno tremor. Seria um terremoto de baixa magnitude? Não, era algo que eu menos esperava.
— Preciso saber o que é. — Levantei da cama e coloquei meu casaco, vestindo com rapidez.
Ao pegar a lanterna, saí da cabana a passos cautelosos em direção à claridade formada no local do impacto. A cada passo, meu coração acelerava de apreensão pelo possível perigo e ansiedade pela curiosidade de querer saber o que ocorria. Quanto mais eu me aproximava, mais o medo persistia em crescer no meu interior.
— Você precisa ser menos curioso, — sussurrei para mim diante de minha pequena aventura da madrugada.
Até que me vi diante da beleza mais rara que imaginei.
Deitada ao solo coberto pela neve com seu corpo iluminado pela lua, brilhando como um diamante, suas roupas ensanguentadas, com cortes pelo corpo e um visível estado de inconsciência, contudo, seu rosto transmitia uma serenidade incomum para alguém que certamente havia sofrido algum tipo de acidente ou agressão. Em instantes de contemplação momentânea, minha mente voltou à realidade e finalmente meu corpo se moveu involuntariamente para socorrê-la.
— Como é possível? — sussurrei ao sentir seu corpo quente.
Mesmo diante do frio congelante, cercada pela neve, sua pele estava como se tivesse saído de um banho quente, me deixando confuso e impressionado.
— Senhorita? — a chamei enquanto verificava seu pulso. — Está bem? Acorde?!
Seu rosto se remexeu, porém, permanecendo desacordada. Tentei mais uma vez sem sucesso, até que ouvi alguns uivos soando ao longe, causando uma breve sensação de frio na espinha. A peguei no colo e, com dificuldades pelo caminho devido a neve, me desloquei de volta para a cabana. A madrugada que começou tediosa devido a insônia se transformou em intensas horas de vigilância a minha hóspede inesperada, enquanto tentava abaixar sua temperatura corporal com compressas de pano umedecido.
— Tire isso de mim — sussurrou ela assim que fiz a terceira troca de toalha.
— Hum?! — A olhei surpreso por finalmente ter alguma reação.
— Não pode abaixar… — continuou, ao levar a mão na toalha e retirá-la.
— O que não pode abaixar? — indaguei, tentando pegar a toalha de sua mão e colocar novamente.
— Minha temperatura — ao dizer, seus olhos se abriram, sendo direcionado diretamente para mim. — Por favor…
— Tudo bem. — Logo peguei a toalha e deixei em cima da mesa de centro.
Afastei o balde com água gelada e segui para o quarto. Se ela precisava manter sua temperatura elevada por algum motivo, então, melhor mantê-la aquecida com cobertores. E foi o que fiz. Arrastei a coberta que estava na cama para a sala, cobrindo-a com zelo e cuidado, já que os curativos que fiz não foram lá grande coisa.
Eu sou um escritor e não um paramédico.
Na loucura de minha preocupação com a donzela desconhecida, estiquei o colchão em frente ao sofá em que a coloquei deitada e, trazendo outra coberta, me deitei ao chão e fechei os olhos. Naquele momento, meu corpo cansado pela adrenalina vivida rendeu-se ao sono completamente. Pela manhã, acordei lentamente me remexendo entre a coberta, estranhei a dureza do colchão a primeiro momento até que me lembrei do ocorrido na madrugada e abri os olhos no susto. Ergui meu corpo e ela não estava mais no sofá, eu estava sozinho mais uma vez.
— Não foi um sonho — disse a mim mesmo, levantando do chão.
O som de um uivo surgiu próximo, despertando minha atenção para a janela.
A passos lentos, me aproximei e comecei a observar o que acontecia. Era ela, a donzela em perigo, andando de um lado para o outro, descalça na neve, como se fosse algo mais normal do mundo. E o mais insano? Conversando com um lobo como se ambos pudessem entender um ao outro. Fiquei tão hipnotizado com a cena, que quando dei por mim, já estava do lado de fora da cabana com a porta aberta e ambos me olhando com atenção.
— Vejo que está melhor — disse assim que ela dispensou o lobo e se aproximou de mim, parando em minha frente.
— Agradeço pelos cuidados e sua ajuda, mas… — Ela respirou fundo, parecia escolher as palavras com cuidado. — Não deveria ter se envolvido.
— O quê? — Ri de nervoso. — Está me dizendo que eu não deveria ter salvado sua vida?
— Não quero parecer rude nem ingrata, mas não estava morrendo, nem em perigo para ser salva — retrucou ela.
— Você estava… Ensanguentada — enfatizei a situação na qual a encontrei.
— O sangue não era meu — esclareceu ela.
— Tudo bem, então. — Dei um passo para entrar novamente. — Está livre para ir, e me desculpe a intromissão de minha parte.
Mais um passo me afastando.
— Espere. — Ela segurou em minha mão.
— O que foi agora? O que mais eu fiz de errado? — Internamente eu já estava tão chateado, frustrado e irritado, que não me contive na rispidez do tom da minha voz.
Queria descontar tudo nela, a desconhecida que dizia não precisar da minha ajuda.
— Me desculpe. — Seu olhar, mais suave, demonstrou um toque incomum de sutileza, o que enfatizou ainda mais sua beleza aos meus olhos. — Preciso te proteger agora.
— Me proteger?! — indaguei confuso, então ri novamente. — Você que estava jogada ao chão e eu é que estou em perigo?
— Sim… — Assentiu, abaixando o olhar. — Do lugar de onde eu venho, humanos como você são dilacerados por tocar em alguém como eu.
— Humanos… — Inicialmente levei sua forma de falar como uma brincadeira de mau gosto, até que a sinceridade do seu olhar me constrangeu. — Se eu sou o humano… Em que você se classificaria?
Ela permaneceu em silêncio, respirou fundo e prendendo seu cabelo em um coque, virou-se de costas para que eu visse a marca em sua nuca. Já tinha ouvido as famosas lendas urbanas da região de Olden sobre um clã que muitos temiam dizendo que descendem dos lobos. Uma história para crianças travessas que matavam aula para brincarem na clareira. Esse clã carregava uma cicatriz, em forma de lua, na altura da nuca.
— Não… Só pode estar brincando. — Eu ri novamente, agora de desespero. — Eu sou escritor, já lancei alguns livros de fantasia, mas tudo tem limites.
— Quer que eu lhe mostre a realidade? — perguntou ela, certa de sua história.
Eu assenti, persistente internamente que tudo aquilo não passava de uma loucura de sua cabeça, o mesmo delírio que a fez pedir para continuar com febre pela madrugada afora. Abri um pouco mais a porta, fazendo um gesto para que entrasse, assim que passou por mim, fechei a porta.
Ela se posicionou ao centro da sala, com o olhar firme, porém, sereno.
Em um piscar de olhos, a mulher diante de mim foi pouco a pouco se transformando em um belo e encantador lobo de pelagem branca. Logo, no vislumbre de sanidade de minha parte, suas palavras de preocupação por eu tê-la “salvado”, invadiu minha mente.
Se ela ficaria ali para me proteger…
De quem ela me protegeria?
Um Lindo Natal escrito num copo de papelão
Do lado de fora, eu espero você vir me buscar
– Stardust / ZAYN
Desafio: “O que não causa sua morte, te deixa mais forte.” – Pâms
Ok, ela é uma loba. E ele precisa ser protegido por quê? E o que aconteceu com ela?
EU QUERO CONTINUAÇÃO SOPDMPOASFAJSEMKSNFDOPASDMNASDN