Spring Day

   balançava a perna por debaixo da mesa, inquieto com a neve que ainda caía na cidade. Seu café não estava mais quente e sua vontade de continuar bebendo o líquido foi embora, ignorando o fato que havia gastado uma quantia por aquele copo. Ele assistia as pessoas andando pelas ruas, felizes com mais um dia de inverno e sem se importarem com a primavera que viria na manhã seguinte, e com uma risada sem humor algum, o homem se levantou de seu lugar e decidiu caminhar também.

  Talvez assim entendesse o que tinha de tão bom em um amontoado de neve.

  Todo o período da estação era a mesma melancolia, tristeza e irritação, o que deixava ainda mais chateado com o seu “eu” de cinco anos atrás. Hoje completava mais um aniversário, e o que era para ser uma data feliz, se tornou uma dor. Dor a qual ele sabia que poderia ter sido evitada se os dois não fossem tão teimosos em serem verdadeiros com os seus sentimentos e abrissem o jogo, falando tudo o que pensavam ao invés de se esconderem em suas próprias sombras.

  Mas, mais do que ninguém, sabia que ele e a sua melhor amiga eram a cópia um do outro.

   foi a responsável por tirá-lo do seu mundo azul e cinza, e quem o perturbou pelo restante dos meses após esse encontro. Depois de se conhecerem, em uma maneira peculiar, ambos descobriram que moravam um tanto longe – mais precisamente, uma distância de 17,594km. Ou pouco mais de um dia dentro de um avião. Por alguma razão desconhecida, os seus estranhos encontros durante os sonhos pararam quando conseguiram trocar seus nomes em uma rede social, e a primeira coisa que ambos fizeram quando acordaram foi procurar um pelo outro na internet. Às vezes eles comentavam que se sentiam no filme Your Name – favorito deles –, no entanto, era mais na essência do que no enredo em si. O par tinha noção de que o que aconteceu com eles era quase que um milagre, contudo, não questionariam as razões do universo, afinal, sempre acreditaram que foram abençoados com essa amizade.

  De um sonho para realidade, os planos de se encontrarem pessoalmente foram interrompidos com a briga. Antes das minidiscussões iniciarem, os dois ficaram ocupados por conta de seus trabalhos e rotinas corridas, porém, nunca deixavam de conversar nem que fosse por dez minutos. Faltava um mês para comemorarem o primeiro ano da amizade dos dois quando percebeu que estava distante. O grude que desenvolveram em dez meses era o suficiente para ele conhecer cada pequeno detalhe de sua melhor amiga, e a ansiedade do rapaz apareceu conforme a mulher ia sumindo. , por sua vez, não queria se distanciar do seu melhor amigo. O seu desejo era poder entrar em um avião, ir encontrá-lo o mais rápido possível e se jogar em seus braços. Ela amava mais do que tudo, e ao perceber que voltaria ao mundo azul e cinza cedo ou tarde, a garota decidiu que não o levaria junto – no seu julgamento e antecipação do futuro.

  Vários acontecimentos ruins e a obrigação de ser compreensiva com qualquer merda que fizessem com ela a fazia entrar na defensiva, se sentindo nem um pouco o “bastante” para permitir que alguém a ajudasse. Na sua cabeça, se afundaria consigo, e nunca passou por seu pensamento que ele poderia auxiliá-la a sair de tal situação. Não por ele não ser capaz, mas por ela estar acostumada a não ver a luz no fim do túnel. era como o seu raio de sol, com um sorriso radiante e uma aura acolhedora, e o protegeria a qualquer custo. Mesmo que bem lá no fundo soubesse que não deveria agir assim, a mulher tinha dificuldade de sair desse looping, e todas as vezes que via o seu amigo por chamada de vídeo, o seu coração apertava.

  Percebendo que todas as cores da garota haviam se dissipado, a questionou com uma certa dor, porque ele tinha plena noção de que estava voltando ao mundo azul e cinza, e não podia fazer mais por ela através de uma tela. A partir daí as minidiscussões se iniciaram, e por mais que a maioria tivesse jeito, a última, infelizmente, não teve.

  Um, dois, três meses se passaram e qualquer contato que tentasse era em vão; sonhos, ligações ou mensagens para conhecidos não adiantava, e independente da “vantagem” que a turnê mundial lhe deu para achá-la, não adiantava. Havia momentos em que sonhava com a outra, entretanto, a sua silhueta estava tão longe que sua voz nunca a alcançava. E isso partia o coração de como nunca antes.

  Sabendo que não daria certo, o rapaz lhe mandava mensagem em todo aniversário, dizendo que esperava que estivesse bem e o local e horário de onde estaria, de modo que talvez a ideia de ver em sua frente por conta das informações enviadas o confortasse. Ele possuía essa pequena porcentagem de esperança que ela o encontraria se soubesse onde o homem iria, já que, em sua percepção, era a vez dela de ir até ele.

   soltou o ar, vendo a fumaça se formando e prosseguiu com seus passos sem rumo, observando sem muita vontade o cenário à sua volta. Até um tempo atrás ele achava que se fosse como a neve, poderia chegar até , porém, seu lado racional só o fez ter mais raiva ainda do inverno. Provavelmente era verão no lugar onde ela morava, pensou.

  – ?

  Seu corpo se virou rapidamente, assustado com a voz que o chamara; ele conhecia perfeitamente o timbre, mas não ousou a ir em sua direção por não saber como reagir ou se a pessoa em sua frente era uma miragem. Definitivamente, os seus olhos deviam estar pregando uma peça! Não é possível que depois de cinco fodidos anos ela tinha se materializado ali, na Coreia do Sul, perfeitamente linda e com as bochechas coradas por causa do frio. O seu interior se dividia em sentir uma excitação, ansiedade e tristeza com sua aparição, e foi necessário que se aproximasse para ter a certeza de que sua melhor amiga estava a alguns passos dele.

  – Você sabe o quão arriscado é mandar mensagem com suas informações como se fosse nada?! – Por culpa da distância, aumentou o seu tom, entretanto, estava claramente irritada. – E se eu não tivesse reativado o meu número e um pervertido viesse te encontrar, o que você faria?

   não sabia como responder, apesar de tudo, ainda a achava uma graça mesmo quando ficava chateada. Uma parte de si queria abraçá-la, todavia, a outra gostaria que ela desse o primeiro passo, de forma que se manteve parado em seu local um tanto boquiaberto.

  – Chamaria a polícia? – Sua fala continha uma dose básica de sarcasmo, fazendo rolar os olhos.

  – Eu não vim aqui brigar com você – anunciou –, e sei que também não tenho o direito de me envolver na sua vida. Eu queria pedir desculpas. Não só pela nossa discussão, mas por ter ido embora. – piscou repetidamente, surpreso com o que escutou. O homem não disse nada, a aguardando continuar enquanto digeria a sua frase. – Palavras não apagam a dor causada, contudo, é o mínimo que posso fazer após sumir por cinco anos. Para mim, viver em uma realidade que só o que importava era nós dois era perfeito, até eu notar que eu só usava a nossa relação como desculpa para não encarar o que estava na minha frente. E partia o meu coração te ver tentando dar o seu máximo através de uma tela de notebook e se negligenciando para cuidar de uma estranha que acabara de conhecer. Sabe o quão difícil é dizer que eu sinto a sua falta? – Os seus olhos se encheram de lágrimas, logo descendo pelo seu rosto. – Quando eu digo isso, eu sinto ainda mais a sua falta… o que é engraçado, já que você está na minha frente. Não teve um dia durante esses cinco anos que eu não senti saudades do meu melhor amigo, da pessoa que eu mais amo no mundo. Eu sei que eu precisava de um tempo afastada para pôr minha vida nos trilhos, no entanto, agora vejo que não tinha necessidade de ser tantas estações assim.

  – Eu sempre me perguntei se eu havia mudado. Ou se foi você. – respirou fundo, pondo para fora todas as palavras que guardou. – Acho que acabamos mudando, eu e você… Por mais que eu odeie isso, é assim que as coisas funcionam: os indivíduos mudam. Eu tentei te odiar, ah, se eu tentei. Contudo, apesar de você ter ido embora, não teve um dia sequer que eu não pensasse em você. Falar isso em voz alta é doloroso, todavia, eu dizia e cogitava em te apagar da minha memória, porque isso doeria bem menos do que sentir algo toda vez que eu lembrava de você. Mas é impossível fazer com que o seu sorriso saia da minha mente. – Ele riu sem humor. – A verdade é que nunca consegui deixar o rastro de esperança ir. Eu te esperei por todos esses anos, e continuaria esperando por mais cinco. Você é o meu raio de sol, . E eu sinto muito por não ter sido sincero contigo nas nossas últimas conversas.

  Era como se um peso saísse dos ombros de ambos. O reencontro está repleto de mágoas, saudades e amor, de maneira que eles entendiam os sentimentos um do outro no silêncio da noite; nenhum dos presentes queria quebrá-lo, no entanto, se aproximou mais.

  – Eu posso te abraçar? – A pergunta era arriscada, mas era tudo ou nada.

  – É melhor compensar por esses cinco anos, meu bem. – pulou em seus braços e a segurou firmemente, sentindo o seu nariz gelado na curva de seu pescoço. – Você sempre foi suficiente, . Espero que agora possa enxergar todas as suas cores.

  – Eu sei, e digo o mesmo para você. Não precisamos nos perdoar rapidamente, sabe? – Ela afastou o seu rosto, ficando a míseros centímetros do dele. – Ficarei aqui não só para ver as cerejeiras florescerem.

  – Como assim? – Sua confusão era nítida e a garota soltou um risinho.

  – Eu me mudei para cá. – O sorriso brotou em seus lábios. – Então veremos a primavera chegar juntinhos.

  – Só a primavera? – arqueou uma sobrancelha, todavia, se encontrava bem feliz com a notícia.

  – É óbvio que não. Assistiremos todas as estações pelo resto de nossas vidas, .

  N/A: E a continuação de “Blue & Grey” veio aí!

  A continuação seria com outro enredo e música, mas quando recebi Spring Day, pensei “é, essa será a continuação!!!”. Fiquei feliz com o resultado, no entanto, não sei como reagiria se estivesse no lugar deles KKKKKKKK Enfim, eles são uns fofos e terão bastante tempo para conversarem e se acertarem.