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Sips of Serenity

Capítulo 1

  — Você precisa tentar pelo menos um ano querido… é o que diz aí.
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  Bomi, a mãe lhe deu alguns tapinhas nas costas enquanto apontava para as folhas dispostas sobre a mesa na frente de .
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  Ele piscou os olhos diversas vezes, enquanto os presentes no recinto o observavam em silêncio.
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   A hal-abeoji não tinha como ter me deixado de herança algo menos… — Ele pareceu pensar nas palavras — Intenso? Nós nem tínhamos uma convivência diária.
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   Sua avó era uma mulher muito generosa, querido, e ela certamente viu potencial em você para lhe deixar a casa de chás como herança . Você deveria ser grato, essa casa de chá é uma tradição da família e ajudou a sua avó a nos criar, eu e seus tios.
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   olhou para os papéis mais uma vez, sentindo o peso daquela situação. Ele nunca tivera uma relação próxima com sua avó e, para ser honesto, não fazia ideia de como tocar um negócio como uma casa de chá. O nome soava bonito, mas ele sabia que, na prática, não passava de um lugar pequeno, antigo e malcuidado, que mal conseguia manter os poucos clientes regulares.
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  Além disso, o próprio empreendimento em que ele vinha trabalhando há anos já não estava na melhor fase. Os últimos meses tinham sido difíceis para ele e sua equipe, com projetos estagnados, despesas em alta e a constante pressão de reverter os números. Ele mal conseguia se imaginar dedicando tempo e esforço para algo que era tão distante de sua realidade, um negócio tradicional que parecia ter saído de outra época e que, sinceramente, não tinha o menor apelo para ele.
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  “Um ano… como vou manter essa casa de chá de pé por um ano?”, ele se perguntou, o estômago se apertando com a ideia. Não fazia ideia de onde começar ou como atrair mais clientes para um lugar que mal conhecia.
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   suspirou fundo, voltando os olhos para o testamento sobre a mesa. As palavras da avó estavam ali, de forma direta e sem rodeios: ele teria que manter a casa de chá funcionando por pelo menos um ano. Apenas depois disso, caso desejasse, poderia vendê-la. Ele leu a cláusula mais uma vez, como se procurasse uma brecha, algo que pudesse alterar aquele plano e o livrasse do compromisso. Mas não havia escapatória.
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  Em seguida, ele pegou as folhas do contrato de aquisição da casa de chá. O papel já começava a amarelar nas bordas, e as letras finas e firmes da assinatura de sua avó pareciam relembrá-lo de seu olhar determinado. percorreu os olhos pelas cláusulas, detalhando a transferência do imóvel e as condições de manutenção. Sentiu o peso da responsabilidade crescer a cada linha lida.
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  A ideia de abrir mão de seu próprio negócio — que já estava em uma situação delicada — para salvar um outro empreendimento, tradicional e decadente, parecia insana. Mesmo assim, algo o prendia ali. Talvez fosse o olhar de sua mãe, esperançosa de que ele preservasse uma parte da história da família.
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  Ele soltou o ar lentamente, encarando as folhas em suas mãos e perguntando-se se aquele ano realmente traria o fim da casa de chá — ou se, quem sabe, mudaria algo em sua vida também.
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   bufou, largando as folhas sobre a mesa com um certo desdém. Pegou a caneta e girou-a entre os dedos, lançando um olhar frustrado para sua mãe, que apenas lhe respondeu com um sorriso encorajador. Ele soltou mais um suspiro pesado, balançando a cabeça.
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   Tá bom… vamos acabar logo com isso, já que eu não tenho escolhas mesmo — murmurou, mais para si do que para qualquer outra pessoa. — Um ano. Só um ano… — repetiu, tentando se convencer de que seria algo rápido.
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  Ele pressionou a caneta contra o papel, assinando de forma decidida, mas com uma ponta de ressentimento. Feito isso, empurrou as folhas para o lado, cruzando os braços e se recostando na cadeira. Sentia-se exausto só de pensar no que viria pela frente.
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***

   caminhava ao lado da mãe pelas movimentadas ruas de Seul, o paletó dobrado sobre o braço, tentando se acostumar com a ideia que acabara de aceitar. A cidade estava viva como sempre, cheia de ruídos e pressa, mas seu pensamento estava longe, preso na casa de chá que em breve veria com outros olhos — agora como seu novo e incômodo fardo.
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  Bomi caminhava a seu lado com um sorriso discreto, aproveitando aquele raro momento em que ele parecia mais próximo do que o usual. Quando as ruas largas deram lugar a uma viela mais estreita e tranquila, as construções modernas ficaram para trás, e pequenas casas e comércios tradicionais surgiram, trazendo um ar acolhedor e nostálgico.
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  Depois de alguns minutos, eles pararam em frente a um prédio antigo, com telhados tradicionais e uma pequena placa desgastada que dizia “Casa de Chá Seonghwa.” observou o local em silêncio, notando os detalhes envelhecidos da fachada e as marcas do tempo. Não era nada grandioso, mas havia um certo charme na simplicidade do lugar.
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   Aqui estamos — disse Bomi, interrompendo seus pensamentos. Ela puxou um chaveiro do bolso e estendeu a chave para ele, sorrindo. — A partir de hoje, é sua responsabilidade, .
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  Ele pegou a chave com uma expressão indefinida, encarando o metal frio em sua mão. Esse simples objeto agora simbolizava o peso de uma tradição que ele mal conhecia. Com um suspiro resignado, ele olhou para a mãe, que lhe deu um aceno incentivador, antes de se virar para a entrada da casa de chá. Era o começo de um caminho que ele jamais esperou trilhar.
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   enfiou a chave na fechadura, hesitando por um momento antes de girá-la. A fechadura rangeu e a porta se abriu lentamente, revelando o interior da casa de chá. Ele entrou no local, seguido de perto por sua mãe, e procurou o interruptor. Ao acender as luzes, uma claridade suave iluminou o espaço.
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  Ele deu alguns passos à frente, deixando o olhar vagar pelo salão silencioso e nostálgico. As mesas baixas de madeira escura, as almofadas simples, as luminárias de papel, tudo parecia como uma pintura que havia parado no tempo. Havia prateleiras decoradas com pequenos potes de chá e chaleiras tradicionais, uma coleção de xícaras artesanais e alguns objetos que provavelmente pertenciam à sua avó.
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  O ar carregava um leve aroma de ervas e madeira, uma fragrância que parecia ter impregnado o lugar ao longo dos anos. não sabia exatamente o que sentia; era um misto de desconforto e fascínio, uma sensação de estar em território desconhecido, mas que de algum modo o atraía.
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  Ele suspirou, enfiando as mãos nos bolsos enquanto observava o ambiente. Tentava imaginar o que sua avó havia visto ali, o que a fizera dedicar a vida àquele lugar. O silêncio parecia esperar por ele, como se o local aguardasse sua decisão de fazer algo novo ou simplesmente deixá-lo definhar.
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  Ele caminhou lentamente, passando os olhos pelos detalhes da decoração. Uma estante de madeira desgastada estava repleta de potes de cerâmica, cada um etiquetado com nomes de ervas e misturas que ele mal reconhecia. Suas mãos instintivamente tocaram a borda de uma chaleira de ferro, o metal frio e pesado em contraste com o ambiente delicado ao redor.
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  Ao lado, pequenas xícaras de cerâmica pintadas à mão estavam dispostas cuidadosamente, como se aguardassem silenciosamente o próximo chá a ser servido. Ele passou o dedo pela borda de uma delas, sentindo a suavidade da superfície. Observou as luminárias de papel penduradas no teto, cujas luzes difusas lançavam sombras suaves, criando uma atmosfera quase etérea.
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  Cada canto do lugar parecia carregado de memórias, como se sua avó ainda estivesse ali, guiando cada detalhe. sentiu um leve aperto no peito ao perceber o cuidado que ela tivera com tudo aquilo. Ele se perguntou se, algum dia, seria capaz de entender o valor desse lugar da forma que ela parecia entender. Por ora, só o que enxergava era um peso e uma incerteza que ele ainda não sabia como carregar.
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   suspirou e deu uma última olhada ao redor. Passou as mãos pelos bolsos, como se ainda procurasse algo ali dentro que pudesse magicamente resolver a situação. Sabendo que não era o caso, apagou as luzes e fechou a porta atrás de si, girando a chave com um leve rangido que ecoou pela viela silenciosa. Quando se virou, encontrou a mãe parada do lado de fora, esperando pacientemente. O sorriso suave em seu rosto contrastava com a expressão carregada de .
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   É um pouco… opressor, não é? — ele murmurou, enfiando as mãos nos bolsos, sem saber exatamente como descrever o que sentia.
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  Bomi assentiu com compreensão, dando-lhe um leve aperto no ombro.
   Eu sei que parece muita coisa agora, mas tudo bem, . Você não precisa fazer tudo de uma vez. — Ela afagou seu braço, num gesto reconfortante. — Sua avó também começou sem saber muita coisa, sabia? Ela aprendeu devagar, com o tempo… e eu sei que você é capaz de fazer o mesmo.
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   soltou um riso sem humor, balançando a cabeça.
   Acho que hal-abeoji tinha uma ideia exagerada de quem eu sou. Não faço ideia de como tocar um lugar desses, mãe. Já tenho problemas o suficiente no meu próprio negócio…
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  Bomi o olhou com ternura e se aproximou mais, segurando suas mãos com delicadeza.
   Ela te conhecia mais do que você pensa, . E, mesmo que não seja fácil, talvez isso te faça ver as coisas de outra forma… Talvez te faça descobrir algo novo, quem sabe? — disse ela, sorrindo com uma confiança tranquila que parecia acalmá-lo, ao menos um pouco.
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  Ele soltou um suspiro longo, encarando a fachada da casa de chá por um momento antes de olhar novamente para a mãe.
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   Bom, acho que só me resta tentar.
   ajeitou o paletó no braço e suspirou, lançando um último olhar para a casa de chá antes de se virar para a mãe.
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   Vou te deixar em casa — disse ele, tentando soar firme, como se aquilo fosse apenas mais uma tarefa a ser feita.
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  Bomi assentiu com um sorriso leve, e os dois começaram a caminhar. O trajeto foi silencioso, ambos envolvidos em seus próprios pensamentos. sentia o peso da responsabilidade pulsando a cada passo, enquanto sua mãe o acompanhava com uma presença tranquila e reconfortante.
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  Quando finalmente chegaram à porta do apartamento dela, Bomi parou e se virou para ele, os olhos brilhando de um jeito suave.
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   Entra, meu filho… — convidou ela, a voz baixa e calorosa, mas com uma nota de preocupação que ele não pôde ignorar.
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   hesitou, olhando para o chão e mexendo nos punhos da camisa. Não queria mostrar fraqueza, nem admitir que precisava de ajuda. Mas antes que ele pudesse encontrar uma desculpa para recusar, a mãe deu um passo à frente e segurou sua mão com carinho.
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  — Acho que temos muita coisa para conversar, querido — disse ela, os olhos cheios de compreensão e afeto. — Ficaria muito feliz se você me deixasse tentar consertar as coisas, juntos.
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   a encarou por um momento, sentindo o peso daquela oferta sincera. Um nó em sua garganta o impedia de responder, mas, de algum modo, a presença dela ali o fazia sentir que talvez, só talvez, ele pudesse encontrar uma saída. Com um aceno silencioso, ele aceitou o convite e entrou na casa dela, abrindo caminho para uma conversa que poderia mudar o rumo das coisas.
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Capítulo 2

   entrou na casa da mãe, e assim que cruzou a porta, foi tomado por uma sensação estranha. O espaço que se estendia à sua frente parecia totalmente diferente do que ele lembrava. As paredes, que antes carregavam uma pintura desbotada e marcas do tempo, agora estavam impecáveis, cobertas por uma tonalidade neutra e elegante. O piso, que um dia rangia sob seus pés, fora substituído por madeira clara e bem polida, refletindo a luz aconchegante de luminárias modernas.
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  Ele deu alguns passos, olhando ao redor. O ambiente era decorado de forma minimalista, com móveis novos e cuidadosamente escolhidos. Não havia mais sinais da estante abarrotada de livros velhos que costumava ocupar um canto da sala, nem do sofá gasto que era o ponto de reunião da família. No lugar deles, uma prateleira elegante exibia alguns livros e vasos decorativos, enquanto um sofá de couro parecia quase intocado.
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   franziu a testa, passando a mão pelo encosto de uma das cadeiras da sala de jantar, tentando se acostumar com a nova atmosfera. Nada naquele lugar parecia carregar as memórias da sua infância. Era como se ele estivesse em uma casa completamente diferente, de alguém que ele mal conhecia.
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  — Reformei tudo há uns dois anos — disse Bomi, percebendo a expressão no rosto do filho. Ela fechou a porta atrás deles e sorriu suavemente. — Achei que estava na hora de mudar algumas coisas… começar de novo.
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  Ele assentiu levemente, sem conseguir esconder o desconforto.
  — É… ficou bonito. Só… estranho, eu acho. Não parece o lugar em que cresci.
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  Bomi suspirou e se aproximou, pousando a mão no ombro dele.
  — Eu sei, querido. Mas às vezes, mudar o ambiente ao nosso redor nos ajuda a mudar por dentro também. — Ela fez uma pausa, os olhos carregados de um misto de carinho e preocupação. — Mas, se isso faz você se sentir distante, podemos resgatar algo daqui. Talvez um quadro, uma peça que traga boas lembranças…
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   deu de ombros, ainda absorvendo as mudanças. Era muita coisa para processar, mas ele sabia que aquele não era o momento de se apegar às diferenças.
  — Não se preocupe, mãe. É só questão de me acostumar. — Ele sorriu de leve, um gesto mais para tranquilizá-la do que por convicção própria. — Vamos sentar? Acho que temos muito o que conversar.
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  Bomi sorriu diante do esforço de em parecer confortável e o guiou para a varanda.
  — Vamos para a varanda, então. É o meu lugar favorito agora — disse ela, abrindo uma porta lateral que dava para um pequeno espaço externo.
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  A varanda era acolhedora, com um toque simples e elegante. Havia uma pequena mesa redonda com cadeiras confortáveis, rodeada por vasos com flores e ervas. O cheiro fresco de lavanda e hortelã pairava no ar, trazendo uma sensação de calma que parecia quase contrastar com o turbilhão de pensamentos na mente de .
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  — Sente-se aqui, querido. — Ela indicou uma das cadeiras e desapareceu por um instante, voltando com um prato contendo fatias de bolo caseiro. — Fiz esse bolo ontem. Espero que ainda esteja bom. — Ela colocou o prato sobre a mesa e sorriu. — Vou preparar um café para acompanhar. Espere só um momento.
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   assentiu, observando enquanto a mãe desaparecia para dentro da casa novamente. Ele pegou o garfo e cortou um pedaço pequeno do bolo, levando-o à boca. O sabor suave do doce trouxe um flash de nostalgia, um eco distante das tardes em que sua avó fazia algo parecido para ele.
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  Ele respirou fundo, olhando para o horizonte da varanda. Talvez essa pausa, esse momento simples, fosse exatamente o que ele precisava para organizar seus pensamentos antes de enfrentar os desafios que o aguardavam.
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***

  Bomi voltou à varanda carregando um pequeno bule de café fumegante e duas xícaras de porcelana, equilibrando tudo com habilidade. O aroma rico do café recém-passado preencheu o ar, misturando-se ao frescor das plantas ao redor. Ela colocou o bule e as xícaras na mesa com cuidado, lançando um sorriso caloroso para .
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  — Aqui está. Nada como um bom café para acompanhar uma conversa séria, não é? — disse ela enquanto começava a servir, enchendo primeiro a xícara dele e depois a sua.
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   observou em silêncio, o olhar vagando entre os movimentos cuidadosos da mãe e o vapor que subia do café. Aquilo era tão diferente do que ele estava acostumado na rotina acelerada de sua vida. Era simples, mas carregava uma intimidade que ele não sabia que estava perdendo.
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  — Obrigado, mãe — murmurou, pegando a xícara e envolvendo-a com as mãos. O calor se espalhou pelos seus dedos, quase como um lembrete de que, apesar de tudo, ele ainda tinha algo sólido a que se agarrar.
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  Bomi se sentou à sua frente e apoiou os cotovelos na mesa, segurando a própria xícara com um sorriso sereno.
  — Agora me diga, … o que mais está te preocupando? — perguntou ela, olhando-o com aquele jeito compreensivo que só uma mãe parecia ter. — Porque eu sei que não é só sobre a casa de chá.
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   coçou a nuca, um gesto que denotava a sua hesitação. Ele olhou para a xícara em suas mãos, os olhos focados nela como se ela fosse a resposta a todas as suas perguntas. O calor do café parecia reconfortante, mas a ideia de falar sobre seus verdadeiros sentimentos com a mãe o deixava incomodado. Depois de tanto tempo afastado, e com tantos percalços não resolvidos entre os dois, desabafar nunca foi uma opção fácil.
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  Bomi, que estava observando-o atentamente, notou o desconforto do filho, o jeito como ele parecia pesar as palavras antes de pronunciá-las. Ela suspirou baixinho, colocando a xícara sobre a mesa com um pequeno tilintar e inclinando-se levemente para frente.
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  — … — ela disse suavemente, com um olhar cuidadoso. — Sei que tem algo te incomodando além da casa de chá. Você sempre foi bom em esconder o que sente, mas não precisa fazer isso comigo, querido. — Sua voz estava cheia de empatia, mas também trazia um toque de preocupação genuína.
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  Ele levantou os olhos, tentando disfarçar o nervosismo que o invadia. A mãe parecia perceber mais do que ele queria mostrar, e isso o deixou vulnerável de um jeito que ele não estava pronto para lidar.
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  — Não sei se vale a pena falar sobre… — ele murmurou, desviando o olhar, desconfortável com a possibilidade de reviver antigas tensões. As palavras ficaram presas em sua garganta. — Acho que você tem razão, mãe, não sou muito bom em compartilhar as coisas.
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  Bomi suspirou novamente, com uma expressão suave, mas firme.
  — Eu entendo, querido. Mas às vezes, as coisas se tornam mais fáceis quando as compartilhamos. Nós passamos por muitas coisas, é verdade, e nem sempre foi fácil entre nós. Mas eu sou sua mãe, e estou aqui para você, mesmo que você sinta que não está pronto para falar. — Ela pausou, e o olhou com carinho. — Só saiba que estou disposta a ouvir, quando você se sentir à vontade.
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   ficou em silêncio por um momento, o peso das palavras dela pairando no ar. Ele não sabia se estava pronto para abrir aquele capítulo da sua vida, mas algo no olhar dela fazia com que fosse difícil ignorar a sinceridade que emanava de cada palavra.
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  — Porque eu sempre senti que você não me amava?
  Bomi ficou visivelmente surpresa com a pergunta. A xícara de café que segurava parou a caminho de seus lábios, e por um momento, ela apenas encarou , como se tentasse processar o que acabara de ouvir.
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  — … — começou ela, a voz levemente trêmula. Ela pousou a xícara na mesa, suas mãos agora entrelaçadas enquanto lutava para encontrar as palavras certas. — Por que você diria uma coisa dessas?
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  Ele desviou o olhar, sentindo o peso de sua própria confissão. Não era fácil dizer aquilo, mas era algo que ele carregava consigo desde a adolescência, algo que nunca teve coragem de falar em voz alta.
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  — Porque você sempre pareceu tão… distante — disse ele, finalmente. — Sempre ocupada, sempre cuidando de tudo e de todos, mas nunca… de mim. — Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas cada palavra carregava uma carga emocional evidente. — Eu achava que não era importante, que talvez eu fosse apenas… um peso para você.
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  Bomi respirou fundo, suas mãos agora apertando uma à outra com força.
  — Meu filho… — ela começou, a voz carregada de emoção. — Se eu falhei em mostrar o quanto você é importante para mim, isso é uma falha minha, e não sua. Mas eu preciso que você saiba… nunca houve um único momento em que eu não te amasse. Nem um só.
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   continuava olhando para a mesa, mas as palavras da mãe começaram a penetrar a barreira de frieza que ele erguera ao longo dos anos.
  — Eu me afastei, sim — admitiu ela, a voz cheia de culpa. — Eu me deixei consumir pelas responsabilidades, pelas dificuldades, pelo medo de não ser o suficiente para cuidar de você. Mas isso nunca foi por falta de amor. Era exatamente o contrário. Tudo o que eu fazia… era por você.
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  Ele finalmente levantou os olhos, encontrando o olhar dela. O rosto de Bomi estava marcado por uma mistura de dor e arrependimento, mas também por uma honestidade que ele não podia ignorar.
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  — Eu sei que não posso mudar o passado, . Mas se você me der a chance, eu quero que a gente comece de novo. Quero que você saiba o quanto eu te amo e o quanto você significa para mim.
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  As palavras dela ficaram no ar, cheias de uma vulnerabilidade que ele nunca havia visto antes. sentiu um nó se formar em sua garganta, mas desta vez, não tentou escondê-lo. A conversa que ele sempre evitou agora parecia ser exatamente o que precisava para começar a quebrar a distância entre eles.
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   respirou fundo, lutando para manter o controle das emoções que ameaçavam transbordar. As palavras da mãe pesavam em sua mente, trazendo à tona memórias que ele tinha tentado enterrar. Ele olhou para ela, ainda inseguro sobre como responder.
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  — É difícil… — começou ele, a voz rouca. — É difícil ouvir isso agora, depois de tanto tempo sentindo que não era assim.
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  Bomi assentiu devagar, compreendendo a hesitação do filho.
  — Eu sei, querido. Não espero que você confie em mim de uma hora para outra. Essas coisas levam tempo. — Ela se inclinou levemente para a frente, os olhos fixos nele. — Mas eu estou disposta a esperar e a fazer o que for preciso para reconstruir o que deixamos para trás.
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   desviou o olhar para o jardim, observando as plantas balançarem suavemente com o vento. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregado de significados. Ele sabia que tinha feridas que precisavam ser cicatrizadas, mas também sabia que não poderia ignorar o esforço dela.
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  — Não vai ser fácil — murmurou ele, finalmente voltando o olhar para ela.
  Bomi sorriu com ternura, uma expressão que ele raramente havia visto nela.
  — Nada que vale a pena é fácil, meu filho.
  Ele soltou um suspiro pesado, sentindo o peso da conversa começar a diminuir, mesmo que ligeiramente. Talvez fosse o início de algo novo, ou pelo menos uma tentativa de consertar o que estava quebrado.
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  — Vamos tentar, mãe — disse ele, com uma sinceridade tímida. — Mas devagar, ok?
  Bomi assentiu, seus olhos brilhando com um misto de alívio e emoção.
  — O tempo que você precisar, . Só o fato de você estar disposto já significa o mundo para mim.
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  Eles se encararam por mais alguns segundos antes que ele desviasse o olhar novamente para o café. A conversa, embora breve, parecia um passo importante na direção certa.
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  — Acho que vou pegar mais um pedaço de bolo — disse ele, tentando aliviar o clima, e isso fez Bomi rir, um som que preencheu o ambiente com uma leveza inesperada.
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  — Eu sabia que você não resistiria — brincou ela, levantando-se para buscar mais.
  Enquanto ela entrava na cozinha, se recostou na cadeira, olhando para o céu que começava a se tingir com as cores suaves do entardecer. Por mais difícil que fosse, ele sabia que talvez estivesse pronto para dar esse passo. E, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que não estava tão sozinho.
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***

   ajustava delicadamente o obi de seu hanbok, certificando-se de que cada dobra estivesse perfeitamente alinhada. Era um ritual que ela fazia com naturalidade, um reflexo de sua dedicação à tradição. A sala de chá em que trabalhava, situada em um canto tranquilo de Seul, era seu santuário. O aroma de folhas de chá frescas preenchia o ar, misturado com o sutil perfume de incenso que ela havia acendido momentos antes.
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  O espaço era pequeno, mas cada detalhe havia sido cuidadosamente pensado. Tatames limpos, paredes de papel de arroz adornadas com caligrafia tradicional, e um tokonoma com uma pintura simples, mas cheia de significado. Para , aquilo não era apenas um lugar de trabalho, mas uma extensão de sua própria alma.
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  Ela passou os dedos pelo conjunto de chá de porcelana, verificando se tudo estava em ordem para a próxima cerimônia. Cada xícara, cada bule, cada colherinha tinha uma história, e ela fazia questão de respeitá-las. Trabalhar com cerimônias do chá não era apenas um emprego para ; era uma filosofia de vida, uma forma de se conectar com as pessoas e com suas raízes.
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  Quando o sino da porta soou suavemente, ela ergueu o olhar e sorriu com serenidade. Uma mulher de meia-idade entrou, seguida por uma jovem tímida. Provavelmente mãe e filha, pensou .
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  — Bem-vindas à Casa do Chá Serenity — disse ela, com uma reverência cortês. — É um prazer recebê-las.
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  A mãe sorriu e se curvou em retribuição.
  — Minha filha está interessada em aprender mais sobre a cerimônia do chá. Eu disse a ela que você é a melhor para ensinar.
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   inclinou a cabeça, agradecida.
  — Será uma honra. A cerimônia do chá é mais do que técnica; é um caminho para a harmonia.
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  Enquanto guiava as duas para seus lugares, começou a explicar os princípios básicos: respeito, harmonia, pureza e tranquilidade. Ela fazia isso com paciência, gesticulando suavemente enquanto demonstrava os movimentos precisos e graciosos necessários para preparar o chá.
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  — É importante lembrar — disse ela, enquanto derramava a água quente no bule — que cada etapa deve ser feita com intenção. O chá reflete o coração de quem o prepara.
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  A jovem parecia encantada, observando atentamente cada gesto de . Quando a cerimônia terminou, a mãe agradeceu com entusiasmo, e a filha parecia profundamente impressionada.
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  Depois que as duas saíram, suspirou, olhando para a xícara em suas mãos. Por mais que amasse seu trabalho, ela às vezes sentia o peso de manter viva uma tradição que muitos pareciam esquecer.
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  Ela se levantou e começou a limpar o espaço com o mesmo cuidado com que realizava as cerimônias. Para , a essência do chá não estava apenas na preparação, mas na forma como ele conectava as pessoas — mesmo que, às vezes, ela mesma desejasse um pouco mais dessa conexão em sua própria vida.
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  Enquanto dobrava o pano de limpeza, uma sensação de inquietação a invadiu. Talvez fosse apenas cansaço, ou talvez fosse algo mais. Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Amanhã seria outro dia, e o chá sempre estaria lá, esperando para ser preparado com dedicação e amor.
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