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Sight, My Sight

Prólogo

  — Com licença! — berrei ao sair pela porta da sala de aula assim que a professora se despediu, apressada em iniciar a corrida pela minha vida.
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  Ou eu chegava antes de Tori na biblioteca ou ela iria bancar a panaca comigo, como sempre, renovando o máximo que pudesse o empréstimo do único exemplar que poderia me ajudar na pesquisa sobre estudos de reabilitação para neurobiologia da psicopatia — do qual eu já sabia ter somente uma unidade disponível. Confesso que parecia uma louca, mas isso não importava naquele momento, eu me recusava a esperar por ela para ter o livro em minhas mãos, assim como jamais insistiria em ler on-line; odeiem ou não, mas não, eu ainda gostava muito da moda antiga, segurar um montinho cheiroso na mão e folhear as páginas. Também era muito interessante usar o meu post it transparente para fazer marcações em meus estudos. Além de que eu sabia muito bem como a senhorita Maxwell gostava de receber suas pesquisas solicitadas com fontes literárias antigas, de base.
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  Então, sim, para agradar minha professora favorita e odiada por muitos, eu alimentaria minha competição com Victoria Evans para ser a melhor, mesmo que isso me rendesse correr pelos corredores do prédio como se minha vida dependesse disso. Estar chegando nos últimos períodos da faculdade me rendeu uma coisa chamada “tô nem aí para o que vão pensar”, é inevitável, uma hora ou outra a vida universitária te presenteia com esse adorável método de autoproteção.
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  Era mais importante garantir minha nota máxima do que me preocupar com o que iriam pensar — até porque ficava uma coisa muito gostosa no ar todas as vezes que Tori esperneava dizendo meu nome com sua voz irritada, por eu ter, outra vez, chegado antes dela em alguma coisa; poderia ser sim um grande trauma de infância, já que estudávamos juntas desde novinhas, e tive o desprazer de ela também optar por fazer psicologia na mesma universidade, ainda assim era bem satisfatório ganhar dela em tudo.
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  Assim que desci o último lance de escada, a vi sair do elevador. Nossos olhares se cruzaram e semicerramos os olhos uma para a outra, nos encarando, com o desafio lançado. Pronta como já estava desde que Patricia Maxwell, em toda sua elegância, anotou no quadro o pedido de uma tese sobre a perspectiva do neurodesenvolvimento da psicopatia, eu tinha minha vantagem. Sabia que Tori optaria pelo elevador, achando ser mais rápido, mas a partir do momento que as aulas terminavam, o cubículo automatizado se enchia de forma surreal, e como eu estava mais perto da porta, conseguiria sair mais rápido.
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  E foi o que aconteceu.
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  Ela precisou se esquivar de muitas pessoas, enquanto eu corri para o final do corredor térreo, entrando na biblioteca com toda a minha felicidade de ser vitoriosa mais uma vez. Ser competitiva era um porre, mas eu bem gostava quando ganhava.
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  — Bee, já está aqui dentro, não precisa mais correr… — fui recebida pela bibliotecária, Antonia, uma senhora de meia-idade muito adorável. — Aceita uma água? — ofereceu, acredito ter sido educação por conta de me ver ofegante.
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  Me curvei brevemente, flexionando os joelhos, e logo me recompus, ajustando a mochila em minhas costas e o meu rabo de cavalo. Pensando melhor, ter escolhido algo mais esportivo para aquele dia, diferente da bolsa transversal pequena, levando o fichário na mão, foi uma decisão bem astuta.
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  — Depois eu pego, Tonia… Primeiro eu preciso colocar as mãos naquele livro que eu sou louca pra ler! — fiz uma careta para ela, agindo como se fosse o Smigol falando sobre seu precioso anel.
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  — Não brinca? Finalmente Maxwell deu o tema? — Antonia uniu as mãos na altura do peito, causando um barulho de palma e logo se autorrepreendendo devido à exigência de silêncio no ambiente.
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  — Sim, deu! Eu tô tão feliz, você sabe o quanto esperei para poder falar sobre isso, Tonia!
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  — Sim, eu sei… — ela moveu os olhos para a porta e sua feição mudou. Eu acompanhei e logo vi Tori parada do lado de fora, com o vidro nos separando. Ela abria a porta, quando Tonia disse: — Desculpe, Victoria, a biblioteca já está com a capacidade total… Precisa esperar alguém sair, querida.
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  Segurei meu riso e ajustei a postura, ainda parada no mesmo lugar.
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  — Mas só estou vendo Bee e os dois ali na mesa, a capacidade é para quatro pessoas, Antonia. — Victoria rebateu, ainda parada do lado de fora, mas entre o vão aberto da porta de abertura lateral.
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  — Tem outro rapaz do curso de direito por aí… — Tonia gesticulou.
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  — Mas ele tem a própria biblioteca, o que está fazendo aqui? — a outra reclamou ao vento, fechando a porta e dando as costas, furiosa.
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  Meus olhos encontraram os de Antonia e eu me aproximei, inclinada por cima da mesa dela, que nos separava, para fazer um toque de mão. Ela era uma das maiores testemunhas de como eu e Evans éramos uma com a outra, sempre presenciando nossas brigas entre as prateleiras por causa de livros, notas e tudo o que envolvia nossa competição antiga.
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  — Eu vou lá procurar. — disse ao me afastar, peguei o necessário e entreguei a mochila para ela colocar no guarda-volumes, como exigência.
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  — Vê se não se perde no horário hoje, hein! Quero fechar cedo e você precisa se alimentar e viver a vida lá fora, Bee! Está quase terminando os estudos, precisa agora estudar outro campo… De preferência que envolva anatomia.
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  — Antonia! — senti minhas bochechas arderem, entendo o que ela quis dizer, e controlei o volume da voz para não atrapalhar os alunos que já estavam ali. — Eu tô muito bem sozinha. Quando conseguir me tornar doutora e puder contribuir no veredito lá no tribunal, eu penso nisso. Minha regra, lembra?
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  — Besteira. — revirou os olhos, pegando seu chá. — Para toda regra existe uma exceção, querida… E eu duvido que algum dia alguém irá conseguir tirar seu foco, por mais que tire os seus pés do chão, mocinha.
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  Respirei fundo e entrei no meu modo entediado, assentindo somente por respeito a ela. Não respondi e apenas segui meu rumo entre as prateleiras.
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  A universidade dispunha de prédios abarrotados de salas de aulas, divididos de acordo com a área estudada (apenas a de ciências sociais aplicadas era dividida em dois, pela lotação máxima) e cada um tinha em média de duas a três mini bibliotecas com ambientes para estudos, além do grandíssimo prédio da biblioteca principal — um dos motivos de eu ter escolhido a dedo onde me formar. A maior parte do meu tempo era gasto estudando ali desde que iniciei os estudos, por isso tanta intimidade com Antonia, então eu já conhecia o lugar como a palma da minha mão.
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  Deixei meu caderno e estojo em cima da primeira mesa que encontrei mais no fundo e peguei meu celular, usando o aplicativo para ver no catálogo em qual prateleira eu encontraria o exemplar. Assim que me informei, varri o ambiente com o olhar e logo a encontrei, vendo-a fechada — a parte mais interessante, para mim, era que para o lugar ser compactado, as prateleiras abriam e fechavam, tendo uma alavanca em cada extremo para serem giradas, levando a enorme estante de um lado para o outro.
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  Pelo número de série, imaginei que estaria na última divisão, porém lá em cima. Respirei fundo e prendi meu cabelo mais firme, como um ato repetitivo de nervosismo, e olhei rapidamente para Antonia, desistindo de pedir que ela me ajudasse assim que a vi concentrada em digitar algo no computador. Há um tempo que ela estava tentando escrever o próprio livro e eu achava adorável a forma como ela encarava as letras na tela e, depois de ler seus inúmeros rascunhos, eu com certeza me tornei uma fã e ansiava por finalmente poder saber que caralhos Henry havia deixado na carta para Monalisa antes de partir para o exército. Não quis atrapalhá-la.
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  Então fui sozinha.
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  — Vamos lá, Bee, você só precisa segurar o corpo e girar a alavanca. — repeti para mim mesma em um sussurro, parando à lateral da estante. Das outras vezes que eu tentei fazer isso, sempre levou horas para que eu sequer conseguisse dar a primeira volta e mover centímetros do móvel.
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  Mas agora eu fazia academia. Isso ajudaria, não é? Pelo menos eu esperava que sim, ou então vinha sendo um dinheiro gasto sem necessidade — sim, um dos motivos de eu acordar às quatro da manhã e fazer exercícios diários às cinco todos os dias, incluindo os finais de semana, era para conseguir mover os brutamontes chamados de estantes, cheias de livros; era necessária certa vantagem contra Evans e o condicionamento físico seria um bom ponto, o campus era enorme.
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  Me esforcei, não movendo nada, porém não desisti logo de primeira. Demorou até o êxito vir e, quando veio, eu fui pegando o jeito da coisa, levando tudo para o lado direito. Até ouvir um berro.
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  — Tem gente! Tem gente! Ei!
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  Parei imediatamente de girar e curvei meu corpo para o lado, deixando só minha cabeça aparecer entre o vão das duas estantes quase coladas. Levei um susto ao ver que tinha realmente alguém ali, preso no espaço e quase todo torto.
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  Minha matemática não era boa, passava longe disso. Para não ser boa precisava ser ruim, o que não era o caso, ela era ridiculamente péssima. Tomei um certo tempo por esse delay para calcular: se os outros dois alunos lá na mesa da frente, no espaço de estudos com computadores, somados, era igual a dois e tinha eu, dava um resultado ímpar; a biblioteca tinha sua capacidade para quatro pessoas. O quarto ser, que permitiu que Evans não entrasse, por ser um intruso do curso de direito, estava ali então, sendo espremido por mim. Na verdade, pela estante que eu estava empurrando.
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  — Oh, céus! — me desesperei e recolhi a cabeça, tentando voltar tudo, sem conseguir, o que me deixou mais nervosa ainda. — Eu não consigo girar de volta… Droga! — reclamei manhosa e me afastei, passando a mão na testa para tirar o suor antes de me colocar entre o vão e o encarar ali, naquela posição delicada. Antonia estava tão concentrada, que eu não quis atrapalhá-la, haja visto que nem mesmo o berro do rapaz ela ouviu.
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  Ele arregalou os olhos rasgados para mim e eu torci os lábios, completamente envergonhada.
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  Já podia ouvir a voz de se eu contasse isso a ela e ainda lhe salientasse o quão bonito ele era.
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  “Você está vendo que os deuses literários colocaram este ser aleatoriamente bonito para você espremer entre as prateleiras no lugar que passa quase todas as horas do seu dia?”, tenho certeza de que ela diria algo assim, tentando contornar a sua opinião controversa de que jamais iria existir a chance de eu encontrar um, segundo suas palavras, “grande amor” na biblioteca.
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  Engoli a seco e pensei rápido.
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  — Você consegue vir? — estendi minha mão para ele, sugerindo. — Eu te ajudo.
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  Pelo tamanho dele e o meu, isso com certeza não daria certo. Academia nenhuma iria me dar condicionamento físico para sustentar um corpo que poderia claramente sumir com o meu se estivesse em minha frente ou por cima de mim.
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  Ele pareceu confuso e medroso, mas tão derrotado quanto, então estendeu seu braço e tocou minha mão. Imediatamente um choque elétrico gostosinho me percorreu por todos os cantos, mas eu ignorei junto com o pensamento anterior sobre tê-lo em cima do meu corpo, segurando-o firme e me forçando a ir para trás, puxando ele.
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  Por pouco ele não caiu em cima de mim quando eu me desequilibrei para trás; o acidente foi impedido por suas mãos ágeis que me seguraram pelos ombros, porém o choque entre nossos corpos foi um pouco forte e isso fez com que o óculos dele caísse no chão. Eu, como uma boa e velha desastrada, rapidamente me afastei para pegar, mas não pude evitar meu nervosismo atrapalhando meus sentidos e acabei pisando sem querer.
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  Ouvi ele “gemer” em dor.
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  — Ooops… — disse baixo, arrependida desde o início, mas ainda peguei o acessório e coloquei entre nós, à vista. — Se não tinha como ficar pior… — vi ele se esforçar para focar a visão no objeto torto em meus dedos. — Digo, a situação… O seu óculos não, ele é lindo… Ou pelo menos era… — desembestei a falar sem saber o que dizer realmente. Desta vez fui eu quem gemeu sôfrego. Eu jamais conseguiria fazer qualquer coisa em minha vida sem incluir destruição.
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  — Tudo bem, não tem problema… — Ele respondeu com a voz murcha e um sotaque entoado como uma flecha carregada.
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  Ótimo, ele era estrangeiro, e eu amo sotaques. Provavelmente era aluno do programa de intercâmbio da universidade que trazia alunos de todo o mundo com bolsa integral para uma formação acadêmica.
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   iria me alugar por horas e me convencer de que eu definitivamente me tornaria a tia dos gatos, mesmo não tendo irmãos para ter sobrinhos. Tia dos filhos dela, talvez. Porque não tinha a menor chance de algum dia eu conseguir ficar com alguém sem causar algum estrago. Não contar a ela sobre esse ocorrido foi o primeiro alerta em minha cabeça.
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  — Claro que tem sim! — Não me contive, sentindo o remorso ao analisar a feição dele. — Você está bem? Me desculpa, eu estava muito ansiosa e não notei que tinha… que você estava ali! Deve estar todo machucado. — tateei seu ombro, ainda maltratando seu óculos em minha mão, enquanto ele tentava pegar e eu, com toda minha afobação, esqueci do detalhe.
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  Na minha cabeça não tinha nada organizado, piorando a bagunça quando toquei nele.
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  — Eu tô bem, de verdade… — tentou me convencer e estendeu o braço para pegar o óculos da minha mão. Tentei captar de onde poderia vir sua calmaria, porque eu estava ali, quase colapsando, e ele mantendo um fluxo tranquilo, como se nada estivesse acontecendo.
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  Como se uma louca não tivesse feito ele ficar preso entre duas estantes.
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  Em segundos, eu me organizei pelo mínimo, como colocar a sujeira embaixo do tapete, deixando a situação menos caótica, ainda que estivesse começando a notar coisas demais ali. O principal fato, eu ter prensado o cara entre duas prateleiras e quebrado seu óculos, que parecia muito novo, começou a ficar quase em segundo plano e eu tive um leve alerta sobre a possibilidade de estar reparando demais em seus traços.
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  — Ah, claro… — estendi e ele pegou. Enquanto analisava o estrago no meio da haste, eu o observei.
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  — Posso pagar pelo estrago… Ou melhor, compramos outro! Ele parece ser novo…
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  — Era sim. — respondeu triste. — Mas, tudo bem, essas coisas acontecem. Talvez seja um sinal divino para eu aceitar usar lentes. — ergueu seu rosto, sorrindo para tentar me convencer, com o sorriso mais específico que vi em toda minha vida.
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  Além do detalhe de seus olhos rasgados, delineados como um felino, irem se fechando, era uma coisa surpreendente ver sua boca se tornar maior, mais larga, enquanto o lábio inferior se formava em uma linha, mostrando os dentes alinhados. Uma harmonia que trazia até um som de harpa, melodicamente encaminhando meus sentidos para uma calmaria. Ninguém diria que aquela boca pequena, sempre em bico quando falava, poderia se tornar tão hipnotizante assim.
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  Sorte de quem assistia a isso todos os dias, porque realmente era um sorriso muito bonito. Muito mesmo. O tipo que faria qualquer um não conseguir desviar o olhar e se prender, assim como eu.
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  Notando meu estado petrificado, limpei a garganta.
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  Precisava me organizar de verdade urgentemente, estava lidando com muita coisa ao mesmo tempo.
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  — Ou seja um sinal para eu parar de competir com a Victoria Evans… — murmurei, lembrando de me dizer que aquilo entre nós duas já ia longe demais, até pela nossa idade. Ele me encarou confuso e eu varri a aleatoriedade para longe. — Por favor, me deixa pagar o conserto ou por outro óculos… É o mínimo que posso fazer.
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  — Não se preocupe… Está tudo bem. — Ele insistiu, tentando colocar o óculos torto.
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  Ficou adoravelmente engraçado e eu ri fraco, com meu tique de sempre: franzir o nariz. Isso me dava muita vergonha, porque eu só conseguia lembrar do meu pai agindo como se eu ainda tivesse cinco anos de idade quando eu sorria para ele assim, genuína.
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  — Ficou fofo. — saiu sem que eu pudesse conter, e para não tocar na ponta de seu nariz, levei as mãos para trás do corpo. — Um novo estilo, talvez até eu possa aderir.
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  — Vai ser interessante fazer apresentações de seminários assim. — ele tirou e guardou no bolso frontal de seu moletom.
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  Então o silêncio caiu entre nós. Eu só ouvia o barulho dos meus pensamentos misturados e em briga para ver qual iria se sobressair. Fiquei com medo de abrir a boca e falar alguma coisa no idioma do Tazmania dos Looney Tunes.
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  — Bem, eu vou indo então… — ele foi o provedor da quebra do silêncio, colocando as mãos nos bolsos da calça.
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  — Você está mesmo bem? — perguntei para assegurar.
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  — Estou. De verdade. — sorriu para mim com os lábios fechados e, de alguma forma, eu fiquei decepcionada porque criei a expectativa do sorrisão 10/10. — Fica tranquila, mas só… vê se não esquece de garantir antes que não tem outra pessoa entre as estantes. — alertou, rindo fraco.
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  Fiz um gesto como continência e ele riu outra vez.
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  — Pode deixar! — ri junto e, ao desviar o olhar brevemente, sem nem saber porquê, olhei a estante, no alto dela, e me lembrei do exemplar. Eu não ia conseguir pegar sozinha. — Será que eu poderia te pedir um favor? — perguntei hesitante. A vergonha estava me consumindo.
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  — Pode, claro.
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  — Antes de ir, você não pode… É… — fiz careta. — Pegar pra mim algo na última prateleira? — apontei. — Está na divisão sete, mas eu não alcanço e Tonia está muito concentrada… Não quero pegar a escada, tenho medo de altura. — sussurrei a última parte.
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  Ele se virou e assentiu simples.
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  — Eu pego. Qual é o número de série dele?
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  — 1897-P. — a resposta estava na ponta da língua e ele pareceu surpreso.
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  Sem dizer mais nada, ele fez o que eu pedi e logo colocou em minhas mãos o livro que eu tanto estava ansiando pegar. Meu sorriso falou por si só e, como se estivesse sozinha, logo o levei para minhas narinas, sentindo o cheirinho.
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  Ao erguer o rosto para encará-lo, sendo necessário por conta da nossa diferença de altura, o peguei me analisando. Mantinha os olhos apertados, com certeza estava se esforçando para enxergar alguma coisa sem suas lentes de fundo de garrafa.
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  — Obrigada… — agradeci educadamente. — E me desculpa outra vez. Vou ficar mais atenta.
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  — Está tudo bem. — sorriu ainda de lábios fechados outra vez. — Então eu vou nessa. — apontou, parecendo meio sem jeito.
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  — OK… Bom… É… — Olá, hoje vamos aprender o idioma do Tazmania!
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  — A gente se… É… Tchau. — ele se esquivou rapidamente, saindo.
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  — Tchau. — meu próprio instinto se despediu baixinho.
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  Permaneci virada de costas para a saída dele por alguns segundos, abraçada ao livro, abarrotada da desorganização interna. Quando notei que o cheiro do perfume dele ainda estava forte, ficando como um rastro, percebi que seu rosto não era nada familiar. Eu vivia naquele lugar e nunca tinha o visto por ali, e eu conhecia todo mundo do prédio, principalmente quem frequentava a biblioteca.
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  De onde ele tinha saído?
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  E qual era seu nome? Eu não perguntei!
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  Me virei e meus ombros murcharam ao enfrentar o vazio de sua presença. Ele já tinha sumido. E ao longe, na entrada, Antonia sorria sugestiva para mim. Encarei o livro em minhas mãos e peguei minhas coisas, regressando até ela.
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  — Sem nenhuma palavra sobre isso, por favor. — pedi envergonhada, colocando o camalhaço em cima de sua mesa.
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  — Pegou o nome dele pelo menos? — ela já foi direto ao assunto.
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  — Por que me interessaria?
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  Antonia bipou a etiqueta do livro, me encarando com insistência.
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  — Ah, tá bom! — desisti de bater de frente com ela. — Qual é o nome dele? De qualquer forma isso não vai me interessar mesmo.
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  — Jeon . Está indo para o último período do curso de direito. — ela começou. — Ele iniciou uma tese de alguma coisa criminal envolvendo neuropsicologia. — seu sorriso parecia empolgado demais. — É parte daquele grupo de alunos que são do intercâmbio da Coreia do Sul, no programa. Tem boa-
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  — Qual o prazo? — cortei, pegando o livro de sua mão e esperando minha mochila.
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  — Está no seu e-mail com todas as instruções.
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  — Obrigada, Antonia. Bom final de semana. — me despedi, já pronta para ir embora.
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  — Não vai ficar para estudar? Você nunca vai embora a essa hora… — Antonia perguntou, genuinamente confusa.
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  Não respondi, eu precisava organizar minha situação primeiro. 
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Capítulo 1: Segundas-feiras

  Segundas-feiras são os dias mais chatos de pegar trânsito e me locomover de uma ponta de Manhattan à outra. Mesmo que eu me programe direitinho para seguir a rotina matinal de exercícios às quatro e meia com o personal, banho às cinco e quarenta para começar a me arrumar às seis e terminar às dez para sete, não atrasando meu café para sair de casa no máximo sete e vinte, eu ainda pegava o trânsito deplorável gerado pela preguiça coletiva do dia que dava o pontapé inicial de mais uma sequência de dias úteis na semana. Dificilmente eu chegava adiantada de segunda-feira, sempre acabava “atrasando” meu cronograma, e não tinha nada mais capaz de tirar uma Bee do seu estado de espírito tranquilo do que atrasos.
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  Felizmente, minha vaga no estacionamento já era taxada com propriedade e ninguém ousava estacionar nela, o ponto decepcionantemente triste era que ao lado do meu carro ficava Evans e seu conversível. Ela tinha a sorte de morar a poucos quarteirões da universidade, então sempre que eu chegava, Victoria já estava em algum canto dentro do prédio, planejando como faria o meu período letivo mais tortuoso. De qualquer forma, mesmo não chegando com os vinte minutos de antecedência que eu gostava e chegava nos outros dias, ainda conseguia chegar antes do horário da primeira aula.
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  Estacionei o carro sem muitas preocupações e juntei minha bolsa e o fichário pesado que estavam no banco do passageiro, descendo do Jeep com certa dificuldade pelo peso em meus braços. Bati a porta usando o perfil do meu corpo e acionei o alarme, levando um susto ao me virar para a traseira e ver parado ali, inesperadamente, apoiado na lataria com uma pose nada séria, tendo seu olhar sugestivo para mim. Ele parecia uma musa, mas sem os pom-poms e todo o requinte chique.
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  — Ai, que susto! — reclamei, estranhando.
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  — Bom dia pra você também, nerd da neuro. — sorriu com uma ponta dos lábios mais erguida que o normal. — Quer ajuda?
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  Franzi meu cenho, sabia que alguma coisa não parecia estar tão certa assim. nunca foi tão educado logo pela manhã com ninguém, até mesmo comigo, nem mesmo quando queria informações sobre para publicar no — como ele chamava — noticiário da faculdade, um periódico produzido pelos alunos de jornalismo em parceria com os de comunicação no geral para gerar pontos extras. tomava conta da parte de entretenimento e para ele isso se referia a fofocas generalizadas, portanto, ele sabia sobre tudo e todos daquele campus, nem mesmo o corpo docente passava ileso.
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  Com certeza ele queria alguma coisa de mim, eu conseguia ver em seus olhos espremidos e sua pose. Embora fôssemos amigos desde que eu entrei na universidade e ele me deu as boas-vindas, depois de pregar uma brincadeira do trote de recepção aos calouros por ele ser veterano, ainda conseguia me surpreender às vezes.
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  — OK, essa feição é nova. — guardei a chave do carro de qualquer forma dentro da bolsa e dei os primeiros passos. — O que você quer? Eu não sei sobre , não passamos o final de semana juntas. — caminhei adiante, notando que ele começou a me seguir.
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   pegou o fichário dos meus braços assim que me alcançou.
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  — Valha-me, pra que tudo isso? — raclamou baixo, provavelmente se referindo ao peso por conta das inúmeras folhas de anotações e o livro de neuropsicologia no meio, mas eu não falaria para ele sobre o camalhaço. — Não estou aqui para falar da . — se recompôs em sequência.
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  — Como não? Eu não sou popular, não sei da vida dos outros.
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  — Você conhece todo mundo, Bee.
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  — De vista. — rebati, olhando-o e medindo sua feição.
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  — Dá no mesmo. As pessoas sabem quem é a nerd que trocou de lugar com as traças da biblioteca. Aliás, muita gente torce por você, sabia? A Evans é um pouco antipática demais para ter o povo do lado dela.
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  O caminho da minha vaga para a entrada do meu prédio não era muito longo, quando já estávamos na ponta inicial da escada, eu parei de andar, me virando para ele e pegando meu fichário de volta.
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  — Fala logo, o que você quer? Já aviso que não vou fazer seu trabalho de conclusão. Você deveria ter vergonha, está no último semestre, ! Pare de me procurar quando quer saber da vida dos outros. — disse, vendo-o revirar os olhos. — Principalmente da vida da !
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  — E o que eu digo para quem me procura querendo saber da sua?
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  Sua resposta me fez congelar no lugar.
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  Quem gostaria de saber sobre a minha vida?
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  Essa era nova, muito nova.
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  — M-M-Mas o quê? — gaguejei, sabendo que uma careta se formava em minha face. — Do que você está falando?
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  — Não sei, Bee… Talvez eu publique no periódico de hoje, posso usar isso como o Gossip Anônimo do Dia. O que você acha? Posso aproveitar que o dia dos namorados está chegando e fazer disso uma espécie de correio do amor. O cupido!
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  Revirei os olhos para seu cinismo.
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  — Deixa de besteira. Você está inventando. — suspirei. — Quer inventar algo para estrear essa sua ideia de série de TV adolescente? Tudo bem. Só não use meu nome.
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  — Não é isso, garota. — esticou o braço, olhando para o lado e tocando meu rosto, seu indicador fez uma parceria com o polegar para segurar em meu queixo. — Só pense bem, tem alguém muito interessado em você.
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  — Essa é fácil. O . — respondi, lembrando dele. — Desde o início ele se diz apaixonado por mim, mas eu sei bem que paixão é essa…
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  — É, ele é meio perigoso. Mas não é ele, meu bem. — recolheu sua mão, olhando para o lado, para algum ponto distante no jardim que separava o meu prédio do vizinho. — Bem, talvez hoje eu fique de olho no pessoal das ciências sociais aplicadas.
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  Tentei seguir seu olhar, mas não encontrei nada incomum ou facilmente reconhecível. Na verdade, estava me deixando confusa.
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  — Você não vai mesmo me dizer? Se for ideia de um novo especial para o periódico, só me deixa de fora… Por favor. — choraminguei. — Pretendo finalizar minha graduação sem muito holofote.
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  Ele se aproximou, me deixando um beijinho na bochecha e rindo fraco.
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  — Ah, Bee, quando eu for embora vou sentir falta de você… — se afastou. — Boa aula, te vejo no almoço.
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   começou a caminhar para longe, em direção ao seu prédio, e eu fiquei ali, parada como uma estátua. Ele simplesmente havia enfiado um conjunto inteiro de pulgas atrás da minha orelha.
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  De duas, uma: ou ia mesmo iniciar mais uma de suas peripécias e montar uma coluna de fofocas anônimas ou ele estava falando a verdade. Mas se não era uma mentira, quem é que poderia estar indo atrás do maior fofoqueiro de toda a universidade, que não fazia nada de graça pelos outros, para saber sobre mim? Justo eu, a nerd da psicologia, fissurada em livros, neuropsicologia e metódica demais.
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   estudava comigo, ele podia perguntar de mim quando quisesse, e já fazia isso diariamente desde que ingressamos na faculdade. Ele nunca escondeu o seu interesse em mim, mas eu sempre me esquivei porque sabia de seu histórico e, não só isso, meu foco realmente era estudar e deixar para me preocupar com relacionamentos depois do diploma e com minha carreira em mãos.
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  Não seria possível que simplesmente tivesse alugado uma mansão dos Hamptons na minha cabeça com aquela informação pela metade logo cedo. Logo numa segunda-feira em que eu estava exausta já às oito da manhã por causa do trânsito da cidade.
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Capítulo 2: Seguro de vida

   bateu a porta do meu armário muito forte e isso me assustou, fazendo com que eu pulasse no lugar, olhando ao redor em desespero pela vergonha da cena dela. Pedi desculpas às demais universitárias que também se assustaram e esperei que elas tivessem recebido o pedido mentalmente.
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  — Que isso? Pra que essa violência? — a encarei com uma feição de horror.
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  — Você vai embora. Agora. — apontou para mim, soando mandona como sempre fazia ao se tratar da minha forma de me dedicar à universidade e às atividades que envolviam minha vida acadêmica.
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  — Tá louca? Tenho atletismo agora. É meu primeiro dia e-
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  — Bee, você não precisa disso! — me cortou, falando mais alto, e também dando um tapa não tão leve na estrutura de aço ao nosso lado. Outra vez me assustei, tomando um passo para trás e abraçando minha própria cintura. — Céus! Quando você vai viver fora desse campus?
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  — Quando eu me formar… — falei baixinho e ela revirou os olhos. — É sério, . — choraminguei.
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  — Eu duvido, você vai acabar fazendo mestrado e doutorado para se tornar uma Maxwell e nunca mais sair daqui. E nossos planos de Vegas? Ibiza? Você não pode ser crente para o resto da vida, Bee!
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  — Não quero ser a Maxwell, estou estudando para ser Bee, ter minha própria carreira… Neuropsicologia na área jurídica, lembra? — abaixei a cabeça, olhando para os meus pés, sentindo minhas bochechas consumidas pela temperatura alta devido ao meu estado vergonhoso. Odiava ter olhares demais sobre mim e foi exatamente isso que adquiriu ao chegar daquela forma e continuar berrando.
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  — Que seja. Você precisa descansar, sair desse lugar. Aproveitar o tempo livre que tem… — enumerou, diminuindo sua intensidade. — Bee, você precisa conhecer pessoas, um… um… grande amor não vai estar no meio dos milhares de livros nos quais você se enfia na biblioteca.
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  Precisei segurar o máximo das minhas reações corporais para evitar o sorriso em meus lábios. Ainda não tinha comentado com sobre o ocorrido na biblioteca. Não é como se eu pudesse relacionar o tal do como um “grande amor” em potencial, do jeito que ela citou, mas eu poderia refutar a afirmação dela.
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  Nas bibliotecas da universidade o que mais tinha eram pessoas.
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  Relaxei meu corpo, tentando não parecer alucinada demais. A verdade era que eu não conseguia parar de pensar em desde o ocorrido na semana passada, até mesmo pelo fato de nunca tê-lo visto pelos corredores ou pelo campus todo, ainda mais sendo um aluno do tão tradicional programa de intercâmbio asiático. Infelizmente não tive tempo de encontrar novamente o grande porta-voz, o jornalista em formação que poderia tirar o emprego de grandes fofoqueiros da mídia, , mas ainda iria procurá-lo pelo meio dos alunos da comunicação para saber mais sobre . Minha consciência estava pesando e o mínimo que eu deveria fazer era dar um novo óculos a ele, ou pelo menos a armação. Ou pedir desculpas decentemente.
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  — Olha, eu prometo que hoje vou daqui direto para casa. É a última sexta-feira do mês, dia de jantar com meu pai e ele chega hoje à tarde de Dubai. Então não vou ficar aqui. — voltei a abrir meu armário, tirando meu moletom de dentro e um elástico de cabelo.
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  — Bee, você pode faltar hoje, isso não vai ser o fim do mundo! É uma atividade extra e você já tem pontos suficientes para cinco turmas completas de preguiçosos. — insistiu. — Vem comigo, eu troco meus planos para irmos ao cinema como fazíamos antes… Vou até na igreja se você quiser!
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  — Não! — encarei ela com horror. — Evans já tem uma falta, se eu faltar vamos ficar empatadas e não quero comparações.
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  — Céus! — sussurrou. — Você tem mesmo 21 anos? Nem quando teve conjuntivite você faltou, Bee… Você precisa de alguém pra te-
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  — Não termine! — apontei o dedo, enfim perdendo minha paciência. — Eu não vou faltar. Começar o atletismo foi uma ideia para me desestressar com todos os hormônios que a atividade física emite. Então eu não preciso de homem nenhum, não tenho tempo.
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  — Se você tiver alguém, não vai precisar de atletismo pra desestressar. Pode fazer outro tipo de atividade física. E você já tem um personal que te arranca da cama com as galinhas para treinar! Sua desculpa não me convence.
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  — Sua depravada. A resposta continua sendo não. — fechei a porta do meu armário e vesti meu moletom. — Bom passeio para você e tome cuidado, não confio nesse lado que você vai no Queens.
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  — Você não confia na sua própria sombra, Bee…
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  Fiz uma careta, amarrando meu cabelo. sempre insistia, mas eu não mudaria de ideia: não precisava de alguém para me trazer felicidade.
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  Deixei ela para trás e segui adiante, saindo do vestiário para ir até o campo de atletismo. Achei estranho ver toda uma galera espalhada pela grama, todos bem-vestidos e com aqueles livros enormes que o mesmo povo dos primeiros semestres de direito exibiam embaixo dos braços por aí pelo campus. Logo pude ver que só faltava a minha presença na roda com o treinador da corrida e então me apressei, parando ao lado dele.
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  — Desculpe o atraso, senhor Humphrey. — pedi baixo, tentando ignorar o máximo da presença de Evans e suas Bratz.
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  — Não se preocupe, senhorita Bee, você chegou no momento exato. — ele ergueu o punho, apertando algo em seu relógio, e então relaxou os braços, levando a prancheta para baixo. — Olá, meninas! Eu sou Peter Humphrey e serei o treinador de vocês. Para começarmos aquecendo, vamos iniciar com 30 metros depois do alongamento. A ideia desse projeto é que vocês consigam conciliar a vida acadêmica com muita saúde, principalmente a psíquica, então… Sem competições, apenas aproveitem.
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  Quando ele mencionou “competições”, pude ouvir o riso nasalado de Evans e a encarei com escárnio, logo mudando a atenção para o senhor Humphrey, repetindo os movimentos dele para o alongamento. Depois de dez minutos alongando, ele nos guiou para a pista, sempre pedindo para ignorarmos os alunos de outra turma que estavam espalhados em grupos por ali pelo campo, pois era uma atividade externa que um professor do curso deles havia aplicado. E o curso era o de direito.
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  No fundo, bem fundo, eu fiquei esperançosa em ver algum rosto familiar ali no meio e precisei lutar friamente para me concentrar em minha atividade e no propósito dela: relaxar minha mente.
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  Fechei os olhos e respirei fundo, me preparando na pose de largada. Quando abri as pálpebras, encarei Evans de soslaio, notando que ela estava concentrada à espera do apito que nos daria a liberação. Podia sentir em minhas veias a adrenalina começar a correr, como se o objetivo de fazê-la comer poeira fosse uma corrente elétrica percorrendo todo o meu corpo, agindo feito um combustível para que tudo funcionasse.
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  Então o estridente apito soou e eu corri. Meus pés se moviam de forma extremamente rápida e eu mirei toda a direção da linha reta, antes da curva fechada que fazia a volta no campo, forçando meus olhos a demarcarem todo o trajeto com o resultado da vitória. Pelo menos me mantive focada até que as vozes de Evans e sua amiga, Ashley, ecoassem próximas demais.
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  — Eu ouvi falar que o tal nerd do penúltimo período de direito é bom com as mãos. Ele joga bastante e é bem vitorioso, mas não mostra o rosto, os meninos e a Amber disseram que ele não dá as caras nunca. Qual deles ali é ele, hein? Tasty17… Queria saber a razão do usuário.
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  — Interessante esse ponto sobre a agilidade com as mãos…
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  O problema não foi ouvir a voz de Evans, toda sugestiva, também não teve nada a ver com a resposta de Ashley e muito menos ter as duas conseguindo conversar durante uma corrida daquelas. Não.
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  Na verdade, eu não sei bem qual foi o problema. Só me vi girando o corpo numa única passada, correndo de costas e pouco me lembrando da curva que estava bem próxima, encarando as duas com a feição séria. Por diminuir o ritmo, ficamos próximas.
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  — Vocês não têm outras coisas pra falar, não? — soltei sem sequer filtrar. — Só se importam com isso?
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  — Ah, claro, você vai sugerir que a gente fale sobre psicopatia ou o culto de ontem à noite? — Victoria revirou os olhos.
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  — Isso é um centro universitário, Bee. E temos uma bela vista hoje para contemplar durante nossa maratona. — Ashley completou.
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  — Você deveria aproveitar. Olhar não arranca pedaço e não faz ninguém pecador… Se soubesse das coisas que ouvimos falar sobre esse tal Tasty17, entenderia nossa curiosidade.
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  — Não sou como você, Evans. Meu foco é outro, eu olho para outra direção. — mirei a risca do chão, rapidamente, desviando do olhar penetrante dela, e notei que era a hora da curva.
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  Ao encará-la de novo, vi um sorrisinho escapar por seus lábios. Ashley trocou um olhar rápido com ela e apontou para minha direção, dizendo:
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  — Você deveria olhar melhor, então…
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  Não tive muito tempo para entender, logo senti um impacto forte e me embolei nos meus próprios pés, sentindo o meu corpo vacilar e ir caindo (rápido, certamente, mas senti como se tudo estivesse em câmera lenta, como o planeta de Interestelar). Eu teria caído de costas, mas fui virada pelos ombros e acabei caindo toda torta, meio de frente, meio de lado, mas com o corpo encaixado em cima de alguém.
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  Ao focar minha vista, meu coração parou e eu esqueci de respirar, deixando meu cérebro sem oxigenação e causando um desespero interno. Os olhos de estavam tão pertos que, naquele momento, pareciam grandes demais — ou apenas estavam arregalados, não saberia diferenciar —, mas independente de tamanho, eu sabia que eram dele. Não tinha esquecido as orbes tão calmas e densas que habitavam aquele rosto de traços tão sutis, ainda que fossem controversamente marcantes — ou talvez essa segunda parte ficasse por minha conta mesmo. E mesmo que os olhos não fossem o ponto de reconhecimento, ainda tinha, mais abaixo, a boca de lábios finos que, se eu bem me lembrava, quando se abriam em sorriso, poderiam me abocanhar e engolir por inteira de tão grande e aconchegante que era.
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  Maior do que a mansão alugada por na minha mente e sua brincadeira sobre alguém querer saber de mim, o sorriso de habitava uma moradia sem metragem definida e tampouco tinha um contrato com data de saída marcada. Era doloroso confessar, mas eu poderia fazer isso sem muita culpa, não tínhamos contato, sequer havíamos nos encontrado durante os anos de curso; inclusive, seria a segunda vez apenas, em duas semanas, claro, porém comparado ao tempo que dividimos o mesmo campus, isso era pouco.
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  Devagar fui sentindo meu corpo de volta em meio ao meu afogamento naqueles detalhes tão próximos dele, e pude começar a sentir um desconforto na região da cintura. Isso serviu para me fazer acordar definitivamente do transe, notando que não tinha em seu rosto as lentes grossas na armação redonda. Olhei dos olhos dele para sua boca e voltei algumas vezes durante aqueles segundos na inércia, me sentindo envergonhada quando dei por mim de toda a situação, e quando vi o óculos de um pouco acima de sua cabeça, no chão, e partido justamente na parte da “perna” da armação que se grudava à lente, me senti culpada. Mais um remendo seria feito.
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  — Ah, céus! — reclamei, arregalando meus olhos. — Eu acho que dessa vez não tem conserto…
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  — Isso não importa agora… — ele respondeu um pouco abafado e com dificuldade. — Eu acho que… — pressionou os olhos, soltando um arrastado e curto gemido. — Você… Você está bem?
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  — Sim, sim! Eu tô bem… Talvez você tenha amortecido a queda. — ri nervosa e ele sorriu simples, de lábios fechados, assentindo.
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  — Então… Se importa de levantar? Eu acho que você está apertando alguma coisa e eu tô ficando sem ar.
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  Brevemente olhei para baixo, vendo que eu tinha um joelho entre suas pernas, com meu quadril “torcido” para o lado e o meu tronco de frente para o seu. Certamente o incômodo que eu estava sentindo era por estar me forçando contra suas partes baixas e a boca do estômago.
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  Trágico, confuso, desconcertante. Para não dizer o contrário.
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  — Ah, me desculpe! — resmunguei, saindo de cima dele, mas não sem antes acabar o “chutando” com o joelho pela forma desengonçada que lhe dei liberdade. Ouvi seu grito de dor e me contorci por dentro. — Me desculpe mais uma vez…
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  Mais um pouco eu o mataria. Tenho certeza.
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  E eu não fui a única a pensar sobre isso.
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  — Cara, você está bem? — olhei para a direção da voz e vi um homem alto parar na frente dele, estendendo sua mão. — Eu só fui pegar uma água e você resolveu se matar?
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   se virou quase totalmente de bruços, parecendo ter dificuldade para se levantar. Eu permaneci sentada no gramado, coberta pela vergonha do acidente e querendo cavar um buraco para enfiar minha cabeça e nunca mais tirar. Aceitando a mão do outro, ele se levantou, um tanto desnorteado.
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  — Você está bem mesmo? — virou-se para mim imediatamente, batendo na própria roupa para tentar arrumar alguma coisa desalinhada (ou seja, nada). Consegui apenas assentir, inerte demais para formular qualquer resposta concisa, e ficamos nos encarando; eu tive uma breve certeza de que ele pouco conseguia enxergar de mim, pela forma como parecia tentar focar sua vista. O som de alguém raspando a garganta nos tirou de tal conexão visual. — Ahn… Bee, esse é , meu amigo. , essa é a Bee.
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  Acompanhei o seu passo dado para o lado, permitindo que eu pudesse ver nitidamente o cara tão alto, agora dono de um nome. Entretanto, um detalhe me chamou a atenção, mesmo que inconscientemente.
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  Como ele sabia meu nome?
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  — Ah, a famosa nerd da neuro… — murmurou e alguma parte neurológica minha prestou atenção, embora eu ainda estivesse bem confusa para fixar qualquer informação posterior. Vi de relance o cotovelo de bater na cintura do amigo, com seus olhos abrindo-se um pouco mais em conjunto com as narinas. Em seguida, estendeu a mão para mim. — Muito prazer, falam muito de você no campus.
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  Falam?
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  Aceitei a mão, notando a força que ele colocou no aperto para me puxar para cima. Antes de me levantar por inteira, estiquei o outro braço de maneira a pegar o óculos quebrado.
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  — Obrigada… — agradeci, ajeitando meu blusão. — Eu… Bem, espero que tenha ouvido coisas boas.
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  — Ah, ouço sim… Acredite, muitas coisas interessan- Ai! — outra vez tentou cutucar a costela de com o cotovelo e eu desviei o olhar.
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  Para não deixar a situação mais constrangedora, me virei para diretamente:
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  — Agora você não tem saída a não ser me deixar pagar por isso.
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  — Eu também acho. Primeiro você esmagou, agora atropelou… Os neurônios queimaram?
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  Eu e encaramos em sincronia e ele deu um passo para trás, fazendo um bico e passando um “zíper imaginário”.
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  — Não precisa pagar, fica tranquila. — respondeu docilmente, levando o indicador até a ponte de seu nariz, frustrando o costume de ajustar a armação do óculos. No meu estômago, as faíscas responderam em um uníssono, achando gracioso. Principalmente porque ele parecia tímido demais em qualquer coisa que fazia, ainda mais se tivesse que me encarar.
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  — Então me deixa retribuir de alguma forma. Mostrar que eu realmente sinto muito. Primeiro na biblioteca, agora te atropelei como um carro desgovernado… — insisti. — Talvez… Talvez… Talvez não! Você vai me deixar lhe pagar um café! Tem aquela cafeteria aqui perto, com música ao vivo inclusive, é muito gostosa. Bem tranquilo!
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  — Ah, eu não acho que-
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  — Ele vai sim! — deu o passo de volta até nós, passando o braço em volta dos ombros de . — adora ambientes tranquilos, ele é a calmaria em pessoa…
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  Encarei , esperando seu veredito, e em completa ansiedade.
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  — Prometo que depois disso a gente pede uma medida de restrição para eu ficar longe de você, ou um seguro de vida. — tentei usar de humor, sorrindo simples e com culpa.
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  — Não! — ele respondeu apressado e um pouco exasperado. — Não é pra tanto. — riu nervoso, fraquinho, e eu pude ouvir uma sílaba sendo presa por . O olhei de soslaio e o vi desviar o olhar para longe.
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  — Tudo bem, a gente te coloca numa bolha anti- Bee então. Mais simples. — disse, ignorando o amigo.
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  Os ombros dele relaxaram e o sorriso aberto, aquele que havia me engolido por inteira na biblioteca, apareceu de surpresa.
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  Ele tinha achado graça do meu comentário.
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  E eu me desmontei por inteira, tal qual um LEGO sendo pisoteado.
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  — Se a indenização for boa, me coloca no seu seguro também… — quebrou o “clima” novamente, me fazendo colocar os pezinhos de volta no chão. — Ele deve ter tido uma pancada um tanto forte, Bee, por isso não está respondendo com facilidade, mas vai sim. Quando? Amanhã?
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  — Pode ser amanhã, sim. No intervalo do segundo e terceiro período de aula. — me mantive focada em , mesmo que respondesse à voz de , e estendi o óculos para ele. Ou melhor, os restos. — Te vejo amanhã, então? — perguntei, sentindo a ardência em meu rosto, me obrigando a desviar o olhar e encarar qualquer ponto abaixo.
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  — Vê sim. — outra vez respondeu.
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  — Até amanhã. E, mais uma vez, me desculpa… — disse, por fim, antes de me virar de costas para os dois, sentindo meu tornozelo começar a doer pela primeira vez desde que havia tombado em cima de .
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Capítulo 3: Um café

  Assim que passei com o carro pelo portão principal, notei o quão adiantada eu estava. Mirei o relógio no painel digital e soltei um gemido sôfrego pela minha falta de tato. Se qualquer pessoa passasse a analisar minha situação, ficaria muito na cara que eu estava desesperada. Sete e vinte da manhã e eu já estava estacionando na minha vaga de sempre, num horário que, normalmente, eu saía de casa.
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  E era segunda-feira, vale mencionar.
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  Permaneci algum tempo ali dentro do carro, encarando meu reflexo várias vezes para garantir que eu não estava com nada fora do lugar — exceto pelo estômago vazio, causando um buraco em minhas costas. E então, depois de quase quinze minutos parada, saí correndo para a entrada principal. Se eu tivesse muita sorte, passaria por ali àquela hora.
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  Desci, fechando a porta do carro com cuidado, tentando ser calma e não me atropelar nas próprias atividades. Do banco de trás, apanhei o fichário em meus braços e a bolsa, colocando-a pela alça em meu ombro, então segui adiante, não esquecendo o alarme. Minha sequência de todos os dias, certamente. Cruzei todo o gramado e parei na escadaria do prédio que tinha o curso de direito, sentando-me no pequeno muro para esperar ver o rosto que eu tanto queria ver. Rezando, claro, bem baixinho, para que a divindade fosse boazinha comigo e não colocasse ali àquela hora; como agora não precisaria dele para descobrir o que quisesse sobre , eu não tinha o preparo para encontrá-lo e explicar que raios estaria fazendo àquela hora da manhã no campus, parada em frente a um prédio que eu não tinha acesso normalmente.
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  Aproveitei o tempo de espera para continuar umas anotações de rascunhos de algumas coisas que estavam em minha memória para complementar os estudos do próximo final de semana e, logo que vi o movimento das pessoas começar a aumentar, devido o relógio continuar correndo, comecei a me sentir mais ansiosa, sem saber direito se deveria ficar com o rosto erguido ou não para que ele pudesse me ver se passasse por ali — não podia deixar parecer também o tamanho da minha ansiedade, não é?
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  Mas o relógio estava quase batendo na hora da minha primeira aula. Ainda tinha minutos para eu esperar mais um pouco e correr para o prédio certo, sem ter o risco de chegar um minuto sequer atrasada, chegando, como eu sempre gostava, na hora exata, entretanto, minha ansiedade não enxergava assim.
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  Quando decidi desistir, decepcionada, me levantei e juntei minhas coisas, porém, ao me virar para descer e dar a volta para o outro prédio, pude ver algo que amaciou minha decepção. Ou melhor, alguém. Eu vi no meio de um monte de gente, agradecendo sua altura quilométrica por me permitir vê-lo e não gerar aqueles tipos de mal entendidos de tempo, por eu estar indo exatamente na hora que ele chegava e perder de encontrar quem eu queria. E não foi exatamente o fato de vê-lo que me deixou feliz, foi ver ao seu lado, um pouco — coisa mínima — mais baixo, o rosto de queixo quadrado, nariz pontudo e olhos espremidos por forçar a vista.
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   tinha uma careta de quem estava muito sério, parecendo estar forçando mais e mais o olhar para enxergar algo ao longe, e meu estômago vazio, sendo oficina perfeita para borboletas inquietas, consumidas por muito açúcar, enviou a mensagem certa para meu cérebro: que ele estava tentando me enxergar. Que eu era o algo ao longe.
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  Olhei para trás e vi que não tinha ninguém, e quando retornei para frente, e estavam muito perto, como dois postes me cobrindo.
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  — E ela não esqueceu mesmo… — disse melódico, sem parar seus passos. — Bom dia, Bee. — me cumprimentou e eu vi que o encarava feio. — Até mais, Bee. — despediu-se de mim e dele com um aceno, dizendo algo em outro idioma para , mantendo sua caminhada para subir os degraus.
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  Varri os pensamentos, deixando de ser uma mosca morta, e sorri abertamente para , olhando-o de volta.
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  — Ei! — disse alto. — Que legal te encontrar aqui… Estava passando atrás de um amigo e… Esse é o seu prédio?
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  Ele pareceu levar um tempo para compreender. É óbvio que não tinha caído na minha mentira.
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  Acho que se eu fosse me ouvir, iria ter a mesma reação.
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  — Erm… Oi. — respondeu tímido. — É… É sim…
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  — E o que você foi fazer na minha biblioteca, hein? — brinquei, dando um soquinho meio desajeitado em seu ombro por meus braços estarem ocupados.
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  — Ah… Eu fui… — pausou, respirando fundo. — Eu fui atrás disso aqui. — ergueu um livro pequeno e meus olhos reconheceram de imediato. — Neuropsicologia. Precisava entender algumas coisas para um seminário importante. Mas acabei tendo que comprar em um bazar no Queens, pegaram quando retornei lá… — ao fim de sua justificativa, levou a ponta do dedo da mão vazia para a ponte de seu nariz, empurrando o nada.
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  O livro em sua mão era o que eu tinha saído apressada a alguns dias atrás para conseguir antes de Evans. O livro que ele mesmo pegou para mim. Por um momento, pensei no ponto que sequer tinha passado pela minha cabeça: eu poderia ter comprado um exemplar, isso não seria problema. Entretanto, ignorei, porque meu cérebro estava focado em outra coisa.
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  Ele tinha tique. Ele tinha o costume de erguer a armação do óculos.
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  E sua reação ao perceber o que fez me derreteu em peso na consciência.
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  De novo, não é? Porque eu já tinha notado isso quando terminei de destruir seu óculos no dia anterior.
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  Droga.
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  Era muita coisa para eu me concentrar de uma vez só. O tique, a voz rouca de quem tinha acabado de acordar, o rosto meio inchado — certamente porque ele tinha acordado àquela hora mesmo e simplesmente se trocado e ido do dormitório para o campus letivo — e tinha os lábios, que quando ele falava se fechavam em um bico, mas que quando se abriam para sorrir ou dizer palavras que exigiam uma abertura maior, se tornavam gigantes, mais do que prontos para me engolir. Não tinha como me concentrar exatamente em uma única coisa. Ele era inteiramente sobre detalhes e eu queria descobrir todos.
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  Descobrir por descobrir, claro. Estava sendo interessante, inclusive, analisar essa atração repentina da minha mente por alguém que eu não conhecia; a carência poderia estar vindo de uma forma diferente.
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  — Neuropsicologia é minha maior paixão! — disse empolgada, focando no que ele disse. — Se desse para casar com uma matéria, com certeza eu pediria a neuro em casamento, talvez no Empire State.
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  Ele foi abrindo um sorriso lento, mas de lábios fechados.
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  E novamente eu me peguei na expectativa de ver aquela boca aberta, sorrindo por inteira.
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  — Me avise se precisar de alguma ajuda com os preparativos. — brincou, olhando no relógio em seguida. — Eu… Você me desculpa? Tenho uma prova agora no primeiro período e…
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  — Não, claro que não! Desculpe tomar seu tempo. — respondi desesperada. — Estava passando por aqui e-
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  — Se você quiser, como tenho essa prova, podemos tomar aquele café no intervalo da manhã.
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  Meu queixo só não foi ao chão porque, por cima dos ombros de , eu vi a figura pálida e sorridente de , erguendo um celular para a nossa direção. Fechei os olhos para contar até três e quando os abri, vi o olhar perdido dele em minha frente, provavelmente decepcionado pela minha falta de resposta.
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  Preocupada demais com qualquer besteira que eu pudesse falar, tirei do meio do meu fichário a minha caneta preta de grifar meus próprios livros, não me lembrando que ela tinha uma durabilidade até que considerável na pele, e puxei a mão dele, virando a palma para cima.
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  — Me encontre aqui às… — anotei com calma e soltei. — Dez e vinte. Tudo bem? — ele assentiu, olhando para a própria pele marcada. — Anotei para você não esquecer. — tomei coragem de dizer.
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  — Não tem como. Toda vez que eu me olho no espelho agora, me lembro de você. Ou então quando tenho que me sentar na primeira fileira para enxergar e ouvir bem as explicações.
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  Ri nervosa, fazendo uma careta.
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  — Me desculpa…
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  — Fica tranquila. Uma hora eu tinha que aprender a usar lentes. — ele sorriu fraco para me consolar e olhou para o relógio novamente, fazendo uma careta: — Preciso mesmo…
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  — Tudo bem! Te vejo mais tarde, então.
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  — Sim. Até mais, Bee… — se despediu, subindo a escada.
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  Evitei o máximo que pude, mas não aguentei e me virei para a direção, vendo ele sumir pelo meio das pessoas e me colocando completamente perdida na figura dele.
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  — Não acredito que Bee vai chegar atrasada hoje porque estava conversando com o nerd do intercâmbio! — a voz de me fez fechar os olhos, prendendo o surto por me lembrar do horário. Ao me virar para ele, prestes a explodir, me segurou pelos ombros. — Fica tranquila, acabou de sair uma notificação que devido ao trânsito, alguns professores estão atrasados, então a sua aula do primeiro período está suspensa.
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  Soltei a respiração lentamente, mas logo me arrependendo, porque o sorriso dele já me dizia tudo sobre sua curiosidade.
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  — Não! Não vou falar sobre isso. — disse apressada.
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  — Bee… Você precisa saber que-
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  — Não! — o cortei rapidamente, fazendo o movimento de zíper imaginário. — Vou aproveitar esse atraso pra comer alguma coisa. Tchau, . Bom dia!
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  Me virei rápido, quase tropeçando em meus próprios pés ao correr para longe dele, dali, bloqueando qualquer pensamento sobre o que eu tinha tido a coragem de fazer naquela manhã.
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  — Bom… — iniciei assim que a garçonete se afastou. — Eu adoro vir nesse lugar. Embora e meu pai acreditem que eu passe mais tempo na biblioteca do que até mesmo em casa, tenho os dias em que prefiro ficar aqui, rodeada dessa calmaria… Esse garoto… — olhei para a direção do pequeno espaço da música. — Não sei o nome dele, mas ele é bom. A voz dele é agradável para o ambiente. Você devia vir mais vezes! O café deles é incrível, o barista faz cada desenho… Às vezes me pego com vontade de vir aqui só para ver os desenhos dele.
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  Por um momento, pausei, notando como estava falando apressada e tirando todo o sentido do que queria de fato dizer. Encarei , vendo que ele estava com os olhos espremidos e a cabeça levemente tombada para a direita, parecendo se forçar a me entender.
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  — Está tudo bem? — perguntei, confusa. Vi que ele nem tocou na caneca cheia de café.
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  — Oi? — respondeu voltando sua atenção em um estalo. As suas orelhas ficaram vermelhas, assim como todo seu rosto, e ele, outra vez, levou o dedo até a ponte do nariz, pelo costume de subir a armação do óculos. Armação esta que eu tinha destruído. — Me desculpe, eu acho que… — suspirou. — Acho que devo parar de julgar a professora de penal por dizer que não escuta quando está sem óculos… Isso é mais sério do que eu pensava. — riu fraquinho, tímido.
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  Algo se remexeu no meu estômago. Algo bem leve e gostoso, que vinha tomando uma certa frequência quando eu estava na companhia dele.
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  Franzi o nariz, fazendo uma careta.
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  — Me desculpa… — foi o que consegui dizer.
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  — Tudo bem, de verdade. Não se preocupe. — sorriu com os lábios fechados, numa tentativa de me convencer. Mas não tinha como. — Então… o café…
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  — Você não gosta, não é? — segui o rumo do assunto, constatando, para me desviar a atenção de tentar mais uma vez convencê-lo de deixar lhe dar um óculos novo.
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  Desta vez a careta foi dele.
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  — Está muito na cara?
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  — A gente finge que não, pode ser? — perguntei, fingindo seriedade. — Só para não ser você a quebrar meu coração igual eu quebrei seu óculos.
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   pareceu ter recebido um tapa na cara e eu, somente depois de alguns segundos, compreendi o que disse. Qual era o meu problema afinal?
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  Porém a resposta dele me deixou sem rumo.
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  — Você é quem tem cara de que quebraria meu coração. — puxou os lábios em um sorriso divertido, daquele modo que era perfeito para me engolir, enquanto levou a caneca de café para bebericar o líquido. Nem mesmo a careta repetitiva de quem achou ruim foi capaz de me tirar o foco.
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  Somente o som estridente do meu celular tocando em cima da mesa pôde me devolver a atenção, ainda mais quando movi o olhar e vi o contato. Ler o “Pai” com um coração em cima da foto que tiramos durante uma das nossas trilhas mais perigosas na América do Sul foi como ter os letreiros da Times Square em época de natal bem à minha frente.
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  Rapidamente peguei o aparelho e levei ao ouvido.
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  — Licença. — disse rápido para , me virando, ou agachando, para quase me esconder embaixo da mesa. — Alô? — atendi a chamada.
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  — Bee! Que bom que você finalmente pôde atender seu pai… — do outro lado, o senhor Bee era irônico do jeito que só ele conseguia. Revirei os olhos, voltando a ficar sentada corretamente à mesa. encarava atentamente o garoto tocando algumas notas de uma música tranquila da Taylor Swit no violão, me dando certa privacidade.
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  — Desculpa, papai, eu estive ocupada. — mordi o lábio, me sentindo culpada por um momento. Deveria dar mais valor ao meu redor do que aos livros, mas isso era muito difícil, ainda mais quando meu pai viajava dia sim e o outro também, se fosse possível. E sempre era. — O senhor está bem?
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  — Já falamos sobre os livros, Bee… — ele suspirou. Sempre o mesmo discurso de que eu deveria colocar minha energia em outras coisas. O apelido de “traça de livros” já tinha chegado em minha residência, inclusive. — Sim, estou bem, e você? Está com a agora? Ela conseguiu te levar num lugar com música? Agitado? — completou logo em seguida, curioso demais.
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  — Não, estou com… — arregalei os olhos e, no mesmo instante, virou o rosto para mim rapidamente, voltando para o lado quando nossos olhares se cruzaram. — Estou naquele café do campus. Sozinha.
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  — Sei… Não tem nem como duvidar… — suspirou. — De qualquer forma, eu preciso que você faça uma coisa. Alfred está me ligando sem pausas, ele precisa de um segurança para a e quer que eu mesmo escolha, mas não posso! Ainda estou em Dubai.
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  Já pude imaginar o que iria sobrar para mim. E eu até teria rebatido sua fala sobre Dubai com desgosto, haja visto que nosso jantar mensal, que sempre ocorria na penúltima sexta-feira do mês como uma promessa, havia sido adiado porque ele não tinha terminado seus negócios nos Emirados Árabes. Passei por cima disso, não merecia ouvir uma estranha discutindo relações com o pai solteiro no telefone.
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  — É, eu sei… — respondi com desânimo, sem saber exatamente sobre o que eu desanimei, a ausência dele ou o pedido do vovô Alfred. — Mas espera aí! O senhor Chevalier quer um segurança para ela? — notei me olhando de soslaio, assim que eu elevei a voz, finalmente centralizando minha mente. — A não vai gostar disso.
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  — Não é problema nosso. Ele cuida dela, ele sabe o que é melhor para ela, assim como eu sei o que é melhor para você.
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  — Papai… Não somos mais crianças! — ralhei, fechando os olhos.
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  — Não me importa. Para mim, você vai ser para sempre a minha Baby Bee. Resolva isso e assim que voltar de Dubai nós podemos ir no show da Taylor que você quer muito.
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  — Embora isso seja chantagem, eu aceito. Vou ver o que posso fazer pelo senhor. — ajeitei minha postura. — Agora preciso desligar, era só isso?
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  — Você está com alguém, Bee? — meu pai perguntou de uma forma que eu sabia ser o seu tom sugestivo.
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  Tinha inúmeras opções do porquê da insistência dele. Geralmente, quando eu dizia que estava sozinha, a primeira resposta já valia. Ele nunca tinha insistido mais de uma vez.
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  Olhei ao redor, procurando por algum possível segurança por perto. Tínhamos um acordo de que seguiríamos à risca o que vovó falava sobre a “casa de ferreiro ter o espeto de pau”, e ele, como dono de uma das maiores redes de segurança privada do país (agora expandindo para a Europa e o Oriente), não botaria um brutamontes à minha volta. Mas pensar sobre isso me fez lembrar que não tinha uma outra especificação: para ser segurança ou qualquer outro cargo que se enquadre na segurança privada de um civil, não precisava ser um monte de músculos.
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  — C-claro que não! — gaguejei, mais nervosa por ter alguém me seguindo e vigiando do que outra coisa. — Era só isso?
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  — Sim…
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  — Então tá bom. Eu vou arrumar um segurança corajoso para a . O avô dela não vai sequer ter preocupações… — sorri mais como um ato em reflexo pela minha convicção. — Tchau, papai, não esquece a minha caneta de ouro…
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  — Jamais. Logo, logo vou estar com você, filha.
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  — Tá bom. — encerrei, colocando o celular em cima da mesa e passando a mão no rosto. — Me perdoa por isso, tem uns dias que estou ignorando as chamadas dele porque esqueço o celular no silencioso. — menti um pouco, ele não tinha que saber que também ignorei meu pai por dias porque estava chateada com ele e seu atraso no retorno. — Ainda não estou rica o suficiente para ser tirada do testamento. — brinquei.
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  — Não se preocupe… — ele sorriu cordial, mas logo emendou: — Você precisa de um segurança?
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  Analisei seu rosto, notando como ele parecia mesmo interessado.
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  De repente, entrei em pânico. Não, sem chance, de forma alguma! não tinha porte para ser segurança de , e não é físico, no caso. Ela era um problema grande demais para ele aguentar. precisava de alguém que fosse tão… radical? É isso! Ela precisa de alguém que seja tão radical quanto ela e é doce demais para isso.
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  Antes que eu pudesse responder, ele completou:
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  — Não é pra mim. — seus olhos se arregalaram, gesticulando. — Eu tenho um amigo que pode servir para o papel.
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  — Jura? — respondi aliviada e empolgada por isso. Não sei por que. — Digo… Você pode falar com ele? Eu te passo o endereço, telefone e tudo, ele só precisa ir até a sede da Bee e lá eles encaminham…
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  — Claro! Eu posso falar com ele… Você tem um telefone para ele contatar?
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  — Tenho. — puxei o meu rapidamente, sem entender de imediato que ele estava falando de um cartão. Quando pensei sobre isso, minha empolgação e expectativa já estavam altas, tanto que seu contato já tinha um nome digitado. — Fala o seu, eu te passo tudo direitinho e você encaminha pra ele. — continuei no mesmo tom para não parecer que estava em uma luta interna com meus pensamentos. Ao invés de esperar que ele dissesse, dei o telefone para que digitasse. — Melhor você digitar.
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  — Pronto! — me devolveu e eu vi o nome alterado, sem o “Saint Peter” do lado, com um emoji de óculos no lugar. — Me passa as informações e eu falo com o .
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  ? Bom saber. Era o cara alto e forte que se apresentou como amigo dele no último acidente. Ele parecia ser tão radical quanto .
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  E eu poderia agradecer a ele, pois, graças ao conjunto todo — incluindo meu pai —, agora eu tinha o número de salvo. Era um curto passo para eu conseguir dar para ele o óculos novo que minha consciência insistia em gritar como dever.
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Capítulo 4: Investigar um cara

  — Bom dia, senhorita Bee. No que posso ajudá-la?
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  O sorriso de Lindsay era sempre o mesmo em minha direção e eu já vinha há um bom tempo tentando decifrar se ela era simpática comigo porque sua posição na empresa exigia isso ou se era mesmo verdade o que Angeline dizia sobre a recepcionista mais antiga da matriz: que ela tinha um interesse profundo no meu pai, coisa de paixão avassaladora mesmo. Eu bem a ajudaria se ela quisesse, mas desvendar sorrisos ainda não era o meu papel, e mesmo que eu estivesse a pouco de me formar, precisaria passar por outro processo longo de estudos, uma próxima fase, para enfim poder fazer a análise comportamental e definir perfis psicopatas, sociopatas etc — não dava para eu me intrometer por ora, meu pai que se virasse.
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  Por mais que eu fosse a dita herdeira de toda a Bee’ Safe Private Security & Investigations, meu pai sempre deixou explícito que minhas andanças por ali não eram liberadas 100%, até porque não fazia sentido. Era um local sério, de trabalho. Então eu usei meu máximo de simpatia, sorrindo de volta para Lindsay, como se não fosse apenas sete da manhã, a fim de usar de seus serviços e que ela não mencionasse a minha presença ali.
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  — Eu preciso falar com , ela já chegou? — perguntei.
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  Lindsay se esforçou, mas não conseguiu não murchar o sorriso.
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  — Se é que ela foi embora… — suspirou. — Pode ir, sabe onde encontrá-la, não sabe?
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  Apenas assenti e me virei para as catracas de liberação, vendo ficar verde a que ela liberou para que eu pudesse passar. Segui até o elevador e assim que a porta se abriu, digitei o número do andar onde uma das funcionárias favoritas do meu pai trabalhava. Não só dele, também era um anjo sobre a Terra para mim, e se ela não fosse tão nova, eu, com muita certeza e afinco, já teria feito dela a minha madrasta.
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  Ri sozinha com meu pensamento, ouvindo um “segura aí” bem alto quando a porta começou a se fechar e, instintivamente, coloquei meu braço no vão, não deixando isso acontecer. Logo vi um rapaz de boné, roupa meio social e mochila nas costas entrar, um tanto ofegante. O logo de sua bagagem era o da universidade e eu o analisei por completo, tentando reconhecer seu rosto, mas sem sucesso. Tinha alguma coisa estranha, eu nunca vi tanta gente desconhecida naquele campus nos últimos anos como vinha acontecendo ultimamente.
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  Ou talvez eu só estivesse reparando mais e isso acontecia desde um fato em específico.
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  — Pode apertar o doze pra mim, por favor? — ele pediu, seu rosto quase se contorcendo por ter que falar comigo.
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  — Ah, sim… Claro.
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  Apertei o número e a porta demorou a fechar, ficando aquele silêncio constrangedor. Limpei a garganta, tomando coragem para perguntar:
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  — Você estuda na Saint Peter?
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  Sua feição não mudou em nada ao me encarar, tirando a atenção do crachá que estava sendo bem posicionado na altura do peito, preso à camisa.
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  — Sim. Você também? — respondeu.
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  — Estudo. — sorri educadamente, estendendo a mão. — Bee, sétimo semestre de Psicologia.
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  Por uma fração de segundos, vi uma hesitação, mas ele logo estendeu seu braço, me dando sua mão para apertar.
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  — . — disse simples. — Faço Administração. — e como se estivesse entendendo algo, maneou a cabeça para o lado e tentou perguntar: — Você é a filha do-
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  — Sim. — cortei ele, fazendo uma careta.
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  — Ah, legal. É muito interessante esse programa de estágio filiado à universidade. Você vai herdar uma empresa com missão e valores intuitivos.
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  — Obrigada. Mas pode guardar isso para o quadro de elogios da Lindsay ou dizer nas reuniões anuais. Eu não tenho muito a ver com a Bee’s.
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  — Bom, falar abertamente em público não é muito o meu forte. — agora foi ele quem fez uma careta, parecendo aliviado de certa forma.
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  A porta se abriu no andar dele e suspirou, não de cansaço ou algo do tipo, parecia mais um ponto final para a conversa. Um tanto elegante, diga-se de passagem.
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  — Eu vou indo nessa, senhorita Bee… Foi um prazer. — passou para o lado de fora.
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  — , pode me chamar só de . Se me ver por aí, claro. — ri, rolando os olhos. — E não esqueça: no coquetel anual eu vou te cobrar pra ir lá no palanque pra dar algumas palavrinhas.
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   assentiu, acenando por fim e sumindo, conforme a porta se fechava.
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  Virei para o espelho atrás de mim e emiti uma sílaba baixa, satisfeita com a minha simpatia. Não era tão comum que todos os funcionários da empresa tivessem sequer a liberdade de tocar minha mão em cumprimento e muito disso vinha de mim mesmo, da minha limitação por contato, conversas etc.
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  Tinha realmente alguma coisa acontecendo. A fase adulta finalmente se instalando?
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  O barulho do elevador e a voz robótica falando sobre meu destino me tiraram da autoanálise e eu saí rápido, indo afobada até a sala de , no final do corredor. Não precisei bater na porta, ela logo abriu, me recebendo com um olhar desconfiado.
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  — Não vou investigar a Lindsay pra você.
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  — Poxa, todo mundo aqui já sabe sobre ela… Menos o meu pai? — respondi de imediato. — Bom dia, ! Não foi pra casa mais uma vez?
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  — Estou ocupada com uma coisa importante… — me deu passagem e eu entrei. — Do que você precisa?
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  — Direta como sempre. — virei para ela, parada no meio da sala. — Preciso investigar uma pessoa e você é a melhor que eu conheço para isso… Se eu for até a equipe de investigações, meu pai vai ficar sabendo e eu não quero prestar essa conta em específico com ele.
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  — , eu não posso. — ela logo se prontificou a negar e eu sabia o que vinha em seguida, somente pela sua feição de compaixão. — Seu pai deu ordem a todo mundo daqui para não aceitar esse pedido.
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  — Que pedido? — fingi surpresa. — De investigar a minha mãe? — emiti um som anasalado, colocando as mãos na cintura. me analisava como se pudesse me ler de alguma forma. — Não se preocupe, eu não tenho o mínimo interesse em saber dela, . — me aproximei, colocando as mãos em seus ombros. — Eu preciso que você investigue um cara para mim. — senti as bochechas arderem, ainda mais quando ela arregalou os olhos mudando sua feição para surpresa.
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  — O quê? Um cara? Por quê? Ele fez alguma coisa para você?
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  Fez, e eu ainda tô tentando descobrir, quando souber, te conto.
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  — Na verdade, fui eu quem fez para ele. — suspirei, me afastando outra vez. — Prendi ele entre as prateleiras da biblioteca e depois caí em cima dele em outra ocasião, causou um estrago no óculos que ele usava e eu queria recompensar, dar um novo. Mas ele se recusa, ! Então eu quero só chegar e “toma aqui, bota isso e agora eu juro que saio do seu pé”.
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  — Por que parece, para mim, que você não quer sair do pé dele? — prendeu os lábios entre os dentes, me olhando com os olhos cerrados.
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  Não soube o que responder e ela não insistiu.
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  — Certo, você quer que eu-
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  Neste exato momento, saindo da segunda sala que tinha ali dentro, abriu a porta, me encarando com os olhos arregalados.
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  — Nós vamos. — ele disse alto, apontando para .
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  — Mas o quê? Você… Ele… — encarei de um para outro. — Ele estava aí ouvindo esse tempo todo?
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  — chegou mais cedo hoje. Essa semana ele está comigo. — revirou os olhos. — Não me olhe assim, foi ideia sua de deixar ele andar livremente por esse prédio. E ele é seu amigo, qual o problema?
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  — Ele é um fofoqueiro — encarei . — Sem uma palavra sobre isso no seu bloquinho, tá me ouvindo? — apontei o dedo, dizendo firme, e ele ergueu os braços. Murchei os ombros em seguida, sabendo que não teria volta. — O nome dele é… Jeon .
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  — Sabia! — berrou, atraindo nossa atenção. — Vocês dois estão totalmente um na do outro! Foi ele quem veio perguntar sobre você pra mim… O papo de “quero saber se ela está bem depois do acidente” daquele nerd não me convenceu.
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  — Ele o quê? — meu coração acelerou com o que disse, mas ele não me deu justificativas, apenas veio até , passando um braço pelo ombro dela, e ela desvencilhou, claro. Ele me ignorou propositalmente, eu sabia.
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  — Nós vamos resolver isso pra você, Bee. Confia em mim! — disse, erguendo o braço em “força”, como sempre fazia. — Nem que seja a última coisa que eu vá fazer para o bem daquela universidade.
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  Encarei , esperando a resposta dela.
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  — Argh!
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  — Eu te empresto meu carro por um mês! — disse, juntando as mãos em frente ao peito.
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  — Aquele negócio branco cheio de rosa pra tudo quanto é lado? Não, obrigada. Prefiro dinheiro.
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  — Tudo bem. — saquei meu celular do bolso, eufórica, fazendo uma transferência rápida para ela. Assim que o seu celular apitou, tirou do bolso e , outra vez, berrou.
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  — Tudo isso? — me encarou. — E eu não ganho nada?
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  — Você é fofoqueiro, , vai usar dessa história para alguma coisa que gere views pro seu blog. Considere como pagamento o meu aceite.
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Capítulo 5: Sem pagar dívidas

  “Te encontro em 10 minutos.”
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  Li e reli a mensagem inúmeras vezes, me sentindo idiota e emocionada. Igual aquelas pessoas carentes que, infelizmente, não conseguem diferenciar o que é para ser e o que não é. Fazia 20 minutos que tinha me respondido depois de eu dizer que estava na biblioteca e sequer duvidei de toda a sua solicitude ao dizer que viria até mim, continuando a esperar por ele como uma boba, não conseguindo mais me concentrar em minha estruturação de um trabalho superimportante sobre psicopatia infantil. Eu precisava criar uma dinâmica para avaliar uma criança com esses traços, mas tudo o que conseguia pensar era que poderia estar sendo grudenta demais com alguém que devia não ter o interesse — este, no caso, que nem eu mesma sabia qual era por minha parte, além de saber que só queria conversar com ele, ter sua companhia de alguma forma.
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  Só tinha ideia de que era gostoso falar com e as trocas de mensagens não tinham sido tão poucas desde o café, quando ele teve o cuidado de salvar seu número como “Jeon W + emoji de óculos”, mas também não durava a cada minuto do dia, até porque tínhamos rotinas de estudos muito pesadas e cheias. A questão era que eu estava me acostumando, e se ele me disse que em 10 minutos viria até mim, certamente eu iria esperar pelo menos uma mensagem sobre o atraso. E também não seria eu a cobrar isso.
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  Então eu gastei tempo vendo a conversa e esperando por ele ficar on-line e me mandar alguma coisa, mas nada veio, só tinha a caixinha dentro da minha bolsa berrando que eu estava ficando louca de vez e que pulei de cabeça numa piscina muito rasa. Como um estalo sozinha, voltei a concentrar no meu afazer, me sentindo vazia por não ter ideia do que montar, já que minha cabeça estava consumida por outra coisa em paralelo. Esse era o meu maior medo: perder o foco por pouco. Não é como se eu estivesse desvalorizando alguém, porém eu tinha nadado um mar inteiro e estava quase chegando na costa para morrer afogada, reprovar em uma matéria no sétimo semestre seria um caso sério.
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  — A mãe natureza deve te odiar agora pelo tanto de folha que você já jogou nessa lata. — ergui meu rosto ao ouvir a voz dele, vendo-o se sentar em minha frente, do outro lado. — Me desculpa, fiquei sem bateria e tive que falar com minha mãe pelo telefone do . — fez uma careta. — Ela geralmente me liga mais tarde, mas hoje estava com os Kim e… Bem, é um monte de senhora querendo saber como é a vida na América.
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  Ele havia comentado por mensagem sobre seus pais ainda viverem na Coreia do Sul, de onde ele tinha vindo, por isso me senti “familiarizada” em sua justificativa. Assenti levemente, tentando ajeitar a carranca em minha face que eu sabia existir. Um dos meus maiores problemas: ser expressiva. E pelo tom de suas desculpas, imaginei que deveria estar se sentindo culpado pela forma como eu o encarava.
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  — Eu vim o mais rápido que consegui. — reforçou.
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  Me ajeitei na cadeira, relaxando o corpo.
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  — Tudo bem. — sorri amena. — De verdade. Meu problema tem outro nome. — resmunguei, apoiando o rosto entre as duas mãos com os cotovelos apoiados na superfície.
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  — Então acho que cheguei para te resgatar…  — colocou sua mochila na cadeira ao lado e repetiu o mesmo que eu, ficando extremamente adorável com suas bochechas apertadas e os olhos minúsculos. — E qual é o nome dele? Vamos lá, futura neuropsicóloga, hoje serei seu terapeuta.
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  — O nome dele é “Ponto Extra”.
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  — Hum, nome composto. Não gosto, estes são os mais difíceis. — assentiu, recostando-se na cadeira. — Talvez você devesse pedir ajuda para a tal da nerd do extra. Já ouviu falar sobre ela?
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  Outro apelido, claro.
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  Neguei com a cabeça, mesmo sabendo que era sobre mim que ele estava falando.
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  — Dizem por aí que tem uma aluna de Ciências Humanas que é bem aplicada em tudo, além de nunca ter tirado menos que a nota máxima, completou o quadro de atividades extras ainda no primeiro semestre e agora faz isso por hobby.
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  — Sério? E o que você acha disso? — fingi ignorância, me mantendo na mesma postura. — Ela deve ser daquelas pessoas insuportáveis que só pensam em estudar.
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  — Eu acho o contrário.
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  — É? — minha voz mudou, saindo um pouco falhada, e eu me ajeitei, ficando ereta e atenta.
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  — Sim. Ela deve ser muito inteligente e é admirável para qualquer universitário ter tantas condecorações assim. — disse tranquilamente, ainda do mesmo jeito. — Você é muito inteligente, Bee, e deve merecer todos os resultados por seus esforços. Mas deveria começar a descansar, se extrair demais, uma hora não terá mais nada.
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  Senti que meus olhos se arregalaram e o sorriso dele foi acompanhando, aumentando conforme minhas pálpebras se abriam mais.
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  Levei um tempo até lembrar que confessou ter sido a perguntar para ele sobre mim, e quando me dei conta, fiquei preocupada com o tipo de coisas que devem ter sido ditas.
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  Ajeitei minha postura, notavelmente desconcertada, e engoli a vergonha, com as bochechas queimando, para dizer:
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  — Tenho medo do que deve ter te contado sobre mim.
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  A reação dele foi engraçada, como se tivesse sido pego cometendo um ato proibido.
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  — Agora eu estou com medo do que ele disse a você. — ajeitou-se, ficando numa posição alarmada.
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  — Fica tranquilo, o máximo que ele vai fazer é colocar no periódico. — dei de ombros, tranquila, mas em tom de brincadeira. — Dentre todos os fofoqueiros nesta universidade, você foi atrás do rei deles.
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  — Vou pagar caro por ter tentado descobrir o nome da garota que quase me esmagou entre livros. — ele franziu o nariz, cruzando os braços. — Tudo porque me preocupei por você ter ficado preocupada demais só por causa de um óculos.
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  Tentei não derreter com a feição dele se contorcendo em timidez pelo o que disse, assim como lutei comigo mesma para não colapsar com sua confissão. Respirei fundo, mas nem tanto para não aparecer, e me alinhei.
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  Organização primeiro, surtos depois, respostas mais tarde ainda.
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  — Além de tudo, você ainda teve o azar de ir justamente no meu melhor amigo. — ri, sendo acompanhada por ele.
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  — Você acabou de falar que ele é um grande fofoqueiro…
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  — Mas ele é! Melhores amigos também tem defeitos… — ri fraco, me inclinando um pouco para completar: — Só não conta pra ele essa parte de “melhor” antes de “amigo”, OK? Ou então o ego vai lá em cima e ele versus é algo um pouco insuportável de aguentar. É segredo.
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   me lançou uma piscadela em confirmação.
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  — Então eu te deixei preocupado? — engatei logo em seguida, aproveitando o fio da coragem. E se eu fosse pensar bem, não tinha muito o que ligar para o fato de eu estar mais falante, interessada, menos introvertida ao se tratar dele. Tinha algo diferente, um impulso ainda não identificado.
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  Contudo, era uma sensação boa e poderia ser isso o que instigava a continuidade.
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  — Na verdade, — ele raspou a garganta — eu… Eu queria saber mesmo quem você era, principalmente.
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  — Ah…
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  — E quando descobri que quase fui esmagado pela celebridade de toda Saint Peter, me senti lisonjeado. — completou e eu pude identificar seu tom de humor, velando a sua timidez em confessar algo que parecia ser difícil.
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  — Não sou uma celebridade. Para ser bem honesta, odeio holofotes e ser… vista. — murchei os ombros, voltando a apoiar os cotovelos na mesa e a colocar o rosto entre as palmas das mãos. — Me propus a ser uma profissional de excelência, fazer o meu nome. Para alcançar isso, eu preciso estudar. É só isso que faço. — dei de ombros.
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  — E faz muito bem. — sorriu e piscou para mim de uma forma diferente, menos tímido, também menos recluso. Como se uma camada de gelo estivesse sendo quebrada.
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  — Obrigada. — respondi por fim.
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  Para salientar o clima de silêncio que se instalou entre nós dois, enquanto nos encaramos em uma conversa muda, apenas de olhares, meu celular começou a vibrar em cima da mesa. Desta vez não era meu pai, a tela de bloqueio recebia inúmeras notificações, uma seguida da outra, com “ + um emoji de uma Lua pela metade” (porque ela tinha o meu salvo com a outra parte, claro) brilhando.
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  Suas perguntas só se resumiam a e disse que não iria me atrapalhar, mas que queria saber tudo. Eu li por cima, tentando não desviar totalmente dele. No café, eu atendi a ligação porque era meu pai, não que não fosse importante também, mas agora eu não podia dar atenção a ela.
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  Eu sequer sabia onde estava o meu foco no momento.
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  “Deu vida a algum personagem do Nicholas Sparks?”
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  “Quem é o gatinho?”
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  E tudo o que conseguia pensar, olhando para as notificações e para ele, era que eu provavelmente estaria bem perdida, afinal, a caixinha dentro da minha bolsa também podia provar isso.
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  — Eu tenho uma coisa pra você! — aleatoriamente, estalei a lembrança, virando o telefone com a tela para a superfície e pegando dentro da minha bolsa a embalagem. — Sei que você falou que não precisava, mas eu não acho… Então… Se não for o seu grau correto, tem um papelzinho aí que garante a troca! — tagarelei, somente notando a atenção dele quando estendi a caixinha.
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  — Bee… — disse melódico.
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  — , pode me chamar só de .
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  Ele me olhou nem um pouco convencido e tomou a caixinha em mãos, demorando a abrir o retângulo preto com laço dourado e ver ali dentro uma embalagem para óculos, que também demorou a ser aberta.
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   sorriu simples, mas nada muito aberto.
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  — Eu não posso aceitar. — estendeu de volta para mim, fechando a caixa, e eu neguei, tocando sua mão para que voltasse para a direção dele. O choque me percorreu por inteira, era a primeira vez que o tocava de forma consciente, sem envolver qualquer acidente ou minha afobação.
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  — Por favor. Se não for usar, leva pra casa, só para eu me sentir menos culpada. Com uma dívida paga. — insisti.
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  — Bee… Digo, . — olhou para o acessório e depois para mim novamente, desistindo de refutar. Provavelmente o meu lance com expressão fez ele desistir, porque eu bem estava decidida a convencê-lo.
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  — Por favor… — repeti, agora mais baixo e unindo as mãos em pedido.
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  — Se eu aceitar e você pagar essa — fez aspas com os dedos — “dívida”, como farei para ver você outra vez?
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  Engoli a surpresa que travou minha garganta, me desmontando por completo. me encarava sem qualquer sombra de hesitação ou vergonha, ele parecia bem decidido à forma que me rebateu com aquela pergunta.
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  Abri e fechei a boca algumas vezes, tomando tempo para entender o que minha cabeça estava matutando sobre e como deveria responder, até, por fim, encontrar a resposta bem ali, deitada no lugar onde estava o tempo todo: a coragem que ainda não poderia ser chamada de coragem; que, inclusive, eu deveria arrumar um jeito de descobrir logo o que era, de fato, pois se tratava de uma coisa menos abrangente, era mais específico, só dele para mim e vice-versa.
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  Desviei o olhar algumas vezes, até focar o que estava rabiscado na folha em minha frente, no meio do fichário aberto. Mordi o lábio, incerta, desconfiada, insegura, dentre outras mil coisas negativas no momento, e, antes que eu desistisse e recuasse, respondi:
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  — Você pode me ajudar com essa dinâmica. Envolve criar todo um cenário de tribunal, é um caso que eu montei e agora preciso entregar a dinâmica completa para o doutor Davies.
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  — Pois considere feito. Esse é o professor que mais me amou durante o curso, fui o melhor em prática jurídica com ele. — não tardou. Aliás, ele logo estendeu o braço por cima da mesa, me oferecendo sua mão em um aperto. — Pode me mandar tudo, vou analisar e o que precisar, te ajudarei.
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  Encaixei minha mão na sua, sentindo a maciez e reparando o quão pequena fiquei naquele cumprimento.
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  Para ser real, eu ficava e me sentia pequena por inteira perto dele, mas não por inferioridade ou pelo tamanho do corpo, mas porque parecia que ele tinha o tipo exato para me oferecer o que eu sempre achei impossível. Era uma exceção para as exceções de alguém que poderia me fazer acreditar que um grande amor seria encontrado numa biblioteca.
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  E não tinha lugar melhor para isso ter acontecido justamente comigo e toda minha negação.
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Capítulo 6: Amansar a fera

  Parei o carro e desci tropeçando em meus próprios pés. Fui até o porta-malas, tirando dali de dentro a enorme mochila que eu usava para as escaladas com meu pai e quase tive um pequeno acidente em cima dos meus dedos, por estar tão pesada e quase cair em cima dele com força. Bati a porta e saí arrastando ela com dificuldade, entrando ali pelos fundos da mansão, até avistar a sempre simpática governanta dos Chevalier.
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  — Bee! — ela me cumprimentou de longe ao me ver pela entrada de serviços. — Por que está vindo por aqui?
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  — Bom dia, Dorota.  — sorri, ainda arrastando a mochila. — Parei o carro lá atrás. Já sou de casa, não se preocupe. — beijei sua bochecha ao me aproximar por completo. — E , já chegou?
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  — Há pouco tempo. — olhou para trás, apontando para minha mochila ao ter seu olhar cruzado com o homem alto que vinha atrás dela. Um segurança. E ele logo se atentou, tirando a alça da mochila das minhas mãos, com educação.
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  — Pode levar para o quarto de . — sugeri.
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  Ele nos deu as costas, levando aquele peso com a maior tranquilidade.
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  — Bee, desta vez o recrutamento da empresa de seu pai surpreendeu… — Dorota disse empolgada, indo para a cozinha, o que me fez seguir seus passos. Curiosa como era, claro que não deixaria esse comentário morrer, e eu precisava buscar algo comestível e delicioso para que tivesse onde se concentrar ao ver minha pessoa entrando em seu quarto.
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  — Por quê? — levei as mãos à cintura, um pouco assustada.
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  — O rapaz que mandaram para cuidar de .
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  Ah, sim… O , tamanho de um poste, com a língua sem trava, bronzeado, até que simpático e… melhor amigo de Jeon . A dupla nerd do penúltimo período de direito.
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  Suspirei e recebi um olhar cerrado de Dorota, mas deixei isso de lado.
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  — Ela já comeu? — perguntei.
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  — Sim, chegou e beliscou algumas coisas. — ela me encarava curiosa.
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  — Hum, então receio que vou precisar de um outro artifício para amansar a fera. — olhei ao redor.
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  — Vai me dizer que você está interessada no segurança dela, Bee! — sua fala saiu com ultraje e eu fiz uma careta.
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  — Quê? Claro que não, Dorota! — respondi atropelando as palavras, sentindo meu rosto esquentar. Abri e fechei a boca algumas vezes, não conseguindo me defender melhor. Também não foi preciso.
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  — Não é no meu segurança, Dorota, é no amigo dele… — surgiu, vestindo seu robe de cetim e as pantufas de mesmo conjunto. Ela logo se aproximou de nós duas na ilha da cozinha, passando o braço em volta dos ombros de Dorota e me julgando com o olhar.
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  — Bee interessada em alguém? — a governanta arregalou os olhos. — Eu estava brincando. — sussurrou para , mas eu pude ouvir.
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  — E qual o problema? — devolvi rápido.
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  — Nenhum. Só é… um pouco inusitado?
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  — E sabe o melhor, Dorota? — senti o tom afetado de em sua fala, sendo irônica, sarcástica, chateada… Tudo. — A minha melhor amiga me usou para conseguir o número de telefone de um macho.
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  — Bee…
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  Respirei fundo, rolando os olhos para e semicerrando as pálpebras.
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  — Dá pra você parar de falar isso em voz alta? — pedi, sentindo o peso nos ombros. Ela continuou me olhando por um tempo, antes de se afastar de Dorota e, com um sorriso nos lábios, pedir: — Você pode pedir aquela salada de frutas para nós?
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  — Pode deixar. — e Dorota respondeu com um sorriso nos lábios, me encarando em seguida, o olhar meio fechado. — Tenha juízo, hein, dona Bee. Juízo.
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  Assenti para ela, deixando um beijo em sua bochecha e acompanhei , andando rápido para lhe alcançar. Logo que alcançamos o segundo andar, pude ver minha mochila na porta de seu quarto. Ela entrou primeiro e eu arrastei o peso para dentro, ouvindo-a bater a madeira e, ao me virar no meio do ambiente, em cima do tapete redondo, a vi de braços cruzados à altura do peito.
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  Eu e nos conhecemos desde sempre, acho que em nenhum momento da minha vida existe algo que tenha acontecido sem que ela saiba ou tenha participado indireta ou diretamente. Tudo sempre foi conectado. Inclusive brincávamos, ainda mais novas, que se houvesse de fato um outro universo — em que eu tivesse o desejo de casamento e família, e todos os blá, blá, blás —, até filhos teríamos na mesma época, de tão coladas que éramos. Então, vendo aquele olhar dela, eu sabia muito bem o peso da sua indignação. Não tinha muito a ver com eu ter usado uma desculpa com seu nome para conseguir o número de e não perder o contato com ele ou então pelo segurança, que ela facilmente poderia usar a seu favor.
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  — Você me arrumou uma babá, Bee? — ela iniciou, me fulminando com o olhar.
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  — Seu avô pediu para o meu pai, eu tive que intervir. — OK, não foi muito bem assim, mas eu não ia dizer em voz alta sobre meu plano todo articulado. Eu sentia bem lá no fundo que isso tudo poderia render no futuro, e meu sexto sentido nunca falhou. — Era isso ou um dos brutamontes da empresa de segurança dele. Ele e o são amigos de infância, sabia? — tentei esboçar um sorriso para amenizar tudo, embora tenha sido automático ao dizer o nome dele.
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  Droga. O que estava acontecendo comigo?
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  — O pobre coitado que você quase esmagou e cegou?
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  — Foi um acidente, tá? — me defendi, erguendo um dedo e olhando para meus próprios pés em seguida. — E estou ajudando ele a conseguir outro óculos. — tentei não me expressar ao dizer isso e lembrar de e sua ajuda e o acessório já entregue.
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  — Eu sei bem o que você queria conseguir… — foi sugestiva, caminhando para sua cama.
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  Respirei fundo, virando de frente para ela.
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  — Tá bom, tá bom. Eu queria pegar o telefone do e usei a situação como desculpa. — confessei. — Você não ficou chateada comigo, não é?
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  — Por você me usar descaradamente para se aproximar desse míope que te deixou toda balançada? — esperei a sua resposta da retórica. — Não. Por você ter me acordado para pedir opinião na roupa que vai usar para almoçar com ele? — esperei novamente. — Sim.
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  Era sobre isso. Eu já imaginava.
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  Sorri, me jogando na sua cama de barriga para cima.
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  — Não quero ir muito simples. — pausei, me virando rapidamente para ficar de bruços. — Mas não quero ir too much, sabe? — ela não respondeu, então a encarei. — O que você vai fazer sobre o ?
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   sorriu sacana, eu conhecia bem aquele sorriso.
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  — Vou levá-lo para fazer compras comigo e ser bem insuportável. Eu faço esse nerd desistir de mim em dois tempos.
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  — Só espera eu tirar uma lasquinha do melhor amigo dele primeiro… — sussurrei e ela fechou a cara para mim, puxando o travesseiro para me acertar.
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Capítulo 7: Já ouviu a palavra “passear”?

  Parei o carro na mesma vaga de sempre do campus e, embora fosse um sábado, eu não era a única ali. Desta vez, porém, desci somente com a minha pequena bolsa de passeio, passando-a pelo corpo transversalmente, com tamanho perfeito para caber meu celular e a chave do carro, e acionei o alarme, saindo apressada e com liberdade por não ter o conversível irritante de Evans ao meu lado. Ao me virar para a direção do gramado que cortava como caminho do estacionamento para o grande conglomerado de edifícios, vi, ao fundo, uma figura esguia.
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  Minha vista não tinha nenhuma deficiência de grau, felizmente, então eu conseguia ver perfeitamente ele e seus detalhes. A cada passo que fui dando, meu coração acelerava ainda mais com as lembranças do nosso histórico de conversa.
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  Na última semana, desde o dia em que nos encontramos na biblioteca, eu lhe dei o óculos e ele prometeu me ajudar com a atividade prática para o senhor Davies, não pudemos nos ver, mas seguimos aumentando a rotina de conversar por mensagens (até tentamos um almoço num sábado, em que acabei me empolgando demais para vê-lo, mas meu pai chegou de surpresa e eu tive que fazer minha escolha). Claro que fizemos isso dentro do que era possível por conta das aulas e dos estudos, mas com o final do semestre chegando, não tinha como ser por mais tempo. Não tinha como eu passar quase 24 horas falando com ele, mesmo que eu quisesse. E eu queria muito.
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  Porém manteve sua promessa e eu fui me sentindo menos maluca, ainda que tivesse a dificuldade de entender e aceitar que não estava sendo invasiva demais com ele e que, sim, era possível ele também estar dividindo a mesma frequência e nutrindo o crescimento da nossa amizade. Tanto que ele mesmo havia sugerido que nos encontrássemos no sábado para falar sobre a atividade, com a condição de que eu não levasse nada, pois não iríamos precisar de mais papel. Eu apenas aceitei seus termos, concluindo posteriormente que fiz de forma consciente só pela vontade de vê-lo de novo pessoalmente. O trabalho extra com o senhor Davies era somente para maio, o final do meu oitavo semestre, mas eu coloquei urgência nele justamente para ter a companhia dele.
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  — Ei, ! — me cumprimentou com um sorriso normal ao me ver aproximar por completo e eu senti uma leve pontada desanimada porque não usava o óculos que eu havia lhe dado.
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  Mas deixei isso passar.
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  — Bom dia! — sorri em resposta, incerta de como deveria cumprimentá-lo, enquanto minha mente voltava na lembrança das pesquisas que fiz sobre como era a personalidade coreana. Me assustei um pouco com o que descobri, devo ressaltar. Porém, se eu fosse analisar mais a fundo, não teria muito problema, eu também não era uma pessoa calorosa e que gostava de toques (embora pudesse parecer estranho a sensação que eu sentia ao pensar que não receberia seu toque).
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  — Então… Preparada? — notei seu olhar me medir por inteira e eu fiquei um pouco constrangida, porque não foi nem um tanto sutil.
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  — Que foi? Tem algo errado? — perguntei, também me olhando, preocupada.
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  — Não, não! — se desesperou, negando e gesticulando. — É que… — suspirou de forma tímida. — Eu acho que você vai passar frio.
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  — Não vou, tem ar quente nos prédios de toda essa universidade e a biblioteca principal é quentinha. E depois eu vou direto para casa, de carro, então tá tudo bem.
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  — . — ele iniciou e deu uma pausa, cortando a minha tagarelice sem vírgulas.
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  — Sim?
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  — Nós não vamos ficar aqui no campus.
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  — Ah… Não? — respondi melódica, completamente confusa. deu um passo à frente, um tanto hesitante ao esticar o braço para arrumar a gola da minha camiseta polo que saltava por cima do suéter fino que eu usava.
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  — Não, mocinha. — disse.
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  — E onde vamos ficar? — tentei não gaguejar, mas minha voz automaticamente já diminuiu o volume, saindo bem baixa e hipnotizada por todo o movimento dele enquanto me ajustava e eu o olhava de baixo, literalmente, por conta da nossa diferença de altura.
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  — É aí onde mora a novidade. Não vamos ficar. — ele se afastou e eu fiquei mais confusa ainda. — Nós vamos passear, Bee, já ouviu essa palavra antes?
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  Fechei a cara imediatamente, cruzando os braços. Parecia que era na minha frente falando aquilo, ou podia ser meu pai.
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  — Você já foi corrompido pelo meu pai e pela , é? — senti o vinco se formando em meu cenho.
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  Ele riu brevemente, gerando um som gostoso para minha audição.
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  — Não. Nunca nem vi os dois, juro. — ergueu o mindinho para mim.
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  — Então de onde vem essa ideia maluca?
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  — Daqui. — apontou sua cabeça.
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  — Você é maluco de pensar que eu vou fazer outra coisa a não ser o meu trabalho, Jeon! — rebati, já me decepcionando com a quebra do meu planejamento e me prontificando a girar os pés e andar para a biblioteca. Mas ele me impediu antes mesmo que eu movesse qualquer músculo.
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  — Prometo que você não vai se arrepender, e se isso acontecer, nunca mais te encho o saco.
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  “Não, você pode continuar enchendo o saco o quanto quiser”, algum lugar dentro da minha cabeça berrou.
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  — O que você tem em mente? — perguntei desconfiada.
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  — Um pássaro fofoqueiro me contou que você mora aqui mesmo em Manhattan… Então eu fiquei pensando quando foi a última vez que você saiu dessa ilha ou até mesmo chegou a ir em algum lugar dentro dela que não seja esse terreno.
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  — Para começo de conversa, o não é uma fonte confiável, você deveria parar de perguntar as coisas para ele e perguntar para mim. — ergui meu queixo, numa tentativa inconsciente de parecer mais imponente, mas com a altura maior dele isso ficava impossível. Principalmente com ele me olhando daquela forma toda atenciosa. — E eu já andei bastante por Nova York sim, OK?
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  — Ah… É mesmo? Onde? Quando foi a última vez? — ele rebateu, parecendo não me dar credibilidade alguma.
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  Fiquei quieta, porque era uma coisa que eu realmente não sabia.
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  A última vez que fiz algo fora da universidade foi quando fui para o Alasca com meu pai e isso deve ter mais do que alguns contáveis meses. E me lembrar disso bateu em um lugar bem fundo, até porque, por mais que ele viaje muito a negócios, sempre deixou espaço em sua vida para mim, sempre me colocou em prioridade. O que aconteceu é que eu comecei a colocar meus estudos cada vez mais à frente em tudo e de todos na minha vida, deixando ele e para trás.
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  Papai vivia reclamando, assim como ela, mas saber que eu acabei abandonando ele, nessa breve lembrança, me fez sentir o estômago revirar. ainda tinha , Dorota ou até mesmo as outras pessoas das quais ela se cercava, como , por exemplo, que ainda vivia preso ao pescoço dela mesmo depois do tempo que ficaram sem se ver depois do colégio. Mas papai não tinha. Ele não encontrou alguém porque decidiu ser o meu pai e um homem dono de uma empresa de sucesso ao mesmo tempo, então precisou batalhar muito, fazer escolhas, se colocando por último, afinal, não tinha saído de berço de ouro, não tinha fortuna herdada, ele precisou correr atrás de tudo o que adquiriu, e agora também corria atrás de mim. Uma péssima e ingrata filha.
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  — ? Eu disse algo errado? — ouvi a voz de me acordar e voltei a respirar e piscar normalmente, deixando completamente exposto para ele que eu estava em modo de falha.
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  — Não. Não disse. — tentei sorrir para convencê-lo. — Eu só…
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  — Olha, me desculpa se eu estiver sendo invasivo e se foi uma péssima ideia te pegar de surpresa assim. Achei que pudesse ser legal você se divertir, e eu tô há um bom tempo querendo sair um pouco daqui… Morar e estudar no mesmo lugar é cansativo.
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  — Faz mais tempo do que eu posso imaginar. — o cortei desta vez, respondendo tardiamente. Seus olhos me encararam em expectativa. — A sua ideia é muito boa.
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  — Prometo que vamos focar no seu trabalho. Talvez esse descanso para o seu cérebro de gênio possa surtir algum efeito.
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  Assenti lentamente, comprimindo os lábios. Ficamos em um silêncio breve.
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  — Então… Como vai ser a partir de agora? — observei seu sobretudo fechado, esperando de verdade que o frio que ele estava aguardando não fosse chegar ainda naquele dia. Era final de novembro, o mês estava acabando, levando junto o outono e trazendo a contagem regressiva para o inverno, então eu deveria mesmo estar um pouco louca de sair de casa achando que minhas vestes seriam o suficiente. Porém como iria saber? Para mim, ficaríamos dentro de um lugar fechado e quentinho, o que não fugia do meu costume.
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  — Nós vamos caminhar até o metrô e ir até a Times Square. Como é sua primeira vez, para não assustar, vamos ficar em Manhattan mesmo.
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  — Você está falando como se eu fosse uma turista! — brinquei, fazendo uma careta com a constatação.
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  — Mas é realmente o que parece. Tenho até medo de perguntar quando é que você foi na Estátua da Liberdade. — olhei para os meus pés, mordendo o lábio inferior, e ele arregalou os olhos. — Bee! — protestou e eu ri.
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  — Não é porque eu sou nova iorquina que é obrigatório conhecer pontos turísticos. Estrangeiros e até mesmo nativos de outras localidades do país vêm todos os dias para garantir a receita de tais lugares. — analisei, erguendo o queixo. — Ou vai me dizer que todo carioca tem que ir ao Cristo Redentor… Coreano à Torre de Namsan… Até mesmo o pessoal do-
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  — Você não é real… — murmurou baixo, me cortando, e eu senti meu rosto arder. — Bem, vamos… — estendeu o braço para mim em um ato cavalheiro e eu aceitei, logo começando a acompanhar seus passos.
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  — Se o frio que você está aguardando de fato chegar, vou ter que comprar uma roupa. — comentei.
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  — Você realmente é uma turista. Não conhece o clima do próprio país? Da própria cidade?
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  — Ei! Eu conheço muitas coisas de onde moro, OK? — rebati, automaticamente soando competitiva em minha autodefesa, parando de andar e o soltando.
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  — Ah, é? Então me fala, senhorita, você ao menos já usou o transporte público? — assenti, mentindo. — E para que lado ele fica? — cruzou os braços, me olhando desafiador.
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  Fiquei quieta, mordendo as bochechas por dentro, até mentir outra vez:
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  — Pra lá. — apontei o lado direito, em um chute errado, já me movimentando para andar.
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  — Vem cá, maluca. — senti sua mão pegar a minha e me puxar, virando-me para sua direção, e eu fiquei bem perto do corpo dele. — É pro outro lado, . — sua boca formou um bico por sua diversão e então entrelaçou nossos braços de novo. — Não solta de mim, OK? É sábado, as ruas vão estar cheias e podem querer vender coisas demais pra você e essa sua cara de turista.
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  Não respondi nada, apenas fiquei com a cara de bocó, sendo guiada por ele e seu cheiro de pêssego amadeirado.
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  Se alguém me dissesse que Jeon é extrovertido, eu jamais iria acreditar, não antes de ver ele me guiar pela estação de metrô até o nosso primeiro destino.
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  Quando entramos na estação, ele garantiu que eu não me distanciasse por um segundo sequer, e eu logo pude entender, porque a movimentação era realmente intensa. Nossa caminhada, inclusive, não demorou mais do que cinco minutos e eu simplesmente achei o máximo saber que aquele acesso era do ladinho do portão principal de pedestres da Saint Peter. Andando pelo meio da multidão, se concentrava em encontrar a nossa rota certa e eu apenas o deixei me levar, agarrada em seu braço para não me perder. Ver o tanto de gente ao nosso redor acabou por me deixar um pouco tonta, não estava acostumada com essa movimentação específica.
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  O ponto mais interessante e protagonista da nossa viagem não foi a movimentação excessiva em si. Talvez eu tivesse ficado presa no fato de ter que ir em pé pelo tanto de gente sentada e ter que me equilibrar e abraçar pela cintura para não cair, já que eu não tinha nenhuma experiência com esse transporte, mas quando eu ouvi o nome da estação em que deveríamos descer para ir à Times e ele não deu nenhum resquício de se movimentar, assustei — afinal, a estação tinha um nome específico com o ponto, então não dava para confundir. 
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  — Não é aqui que deveríamos descer? — disse um pouco abafado, inclinando o rosto para enxergá-lo “lá em cima”. abaixou o dele e a ponta do seu nariz só não tocava o meu porque eu realmente tinha pouco mais de um metro e meio.
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  — Depois. Primeiro vamos a outro lugar, vai demorar mais um pouquinho, mas estamos na metade do caminho.
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  — Ah… — murmurei, voltando a ficar com o rosto à nível dos botões de seu sobretudo, que deveria ser na altura do peitoral, bem onde o cheiro de pêssego era mais forte.
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  Não disse mais nada, continuei quieta, acompanhando com o olhar a cabine se esvaziar e encher a cada parada, enfim chegando no que eu pensei ser o ponto final, pois se movimentou cuidadosamente para sairmos de dentro.
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  — Pronto, nossa primeira parada. — ele me olhou empolgado, oferecendo o braço novamente para eu entrelaçar e assim o fiz, outra vez seguindo sua direção.
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  Do que eu tinha lido sobre a forma cultural como os coreanos se relacionam, estava me surpreendendo, e deve ser por isso que eu tinha engolido minha própria língua e só sabia observar, ao invés de falar. Ainda não tinha conseguido computar verdadeiramente como foi que acabamos do jeito que fomos a viagem toda: ele segurando no apoio e eu abraçada em seu corpo, como se fosse um coala com medo de cair da árvore. Só sei que foi por conta da fila de gente que não parava de diminuir e foi entrando, me impedindo de encontrar um lugar pela minha lerdeza e falta de costume.
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  “Vem aqui” e “Fica aqui” foram as duas coisas que ele disse na sequência, após me segurar pelo cotovelo e me colocar em sua frente, ajeitando meu braço para envolver sua cintura. “Pronto, só não soltar”, por fim, foi a última coisa que eu entendi de tão inebriada que fiquei pelo contexto todo em somatória ao cheiro delicioso de pêssego que ele exalava. E era isso que ainda rodava em minha mente quando finalizamos os degraus da saída e eu recebi o Sol em meu rosto, não sendo tão forte quanto a brisa do outono.
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  — Espera… — disse pela primeira vez assim que vi uma placa indicando o local de saída das balsas. — Você tinha dito que não iríamos sair da ilha!
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  — Mudei de ideia. — ele respondeu, me olhando com o nariz franzido. Com isso, a feição dele, eu não consegui refutar. — Qual é… Solta esse controle um pouco.
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  Suspirei, mirando seus olhos. Senti uma certa saudade dele usando a armação.
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  Antes que esse pensamento pudesse tomar uma proporção maior, chacoalhei a cabeça, voltando ao momento.
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  — Certo, você venceu. — falei um pouco mais leve. — Vamos ver uma estátua parada, enorme, gigante e velha.
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  — Credo, quem foi que te deixou tão séria assim?
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  O deixei sem resposta, não seria legal mentir e eu não conseguiria falar o que havia me feito se tornar tão reclusa. Também estragaria o clima, claro.
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  Me desvencilhei de , apontando para frente:
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  — Olha, se não formos logo, vamos perder a balsa.
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  Sei que ele me seguiu e eu fui à frente, desviando das pessoas como se precisasse buscar por ar.
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   não me fazia sentir sufocada ou nada equivalente, mas ele me tirava o fôlego a cada momento, fosse pessoalmente ou pelas mensagens que trocávamos. E eu me sentia cada vez mais imersa, como se estivesse cavando um túnel sem profundidade específica.
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  Entramos na balsa depois de todo processo de pagamento, fila e coletes salva-vidas. estava empolgado ao meu lado o tempo todo e parecia que tudo o que eu sabia fazer era ficar mais presa em todos os detalhes sobre ele, em todos os seus trejeitos e ações. Podia até ouvir o que dizia, mas não estava prestando muita atenção, e não tinha nada a ver com o tamanho exuberante da estátua, só fiquei hipnotizada mesmo com ele, enquanto discursava o quão incrível achava a história do presente da França para os Estados Unidos.
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  Já estávamos de volta ao metrô, novamente em pé e eu ainda sem saber como me equilibrar sozinha, quando um grupo de asiáticos entrou em uma estação e ele riu de algo que ouviu. Foi um riso melódico, e eu teria me fixado no som se não fosse pelo empurrão que ele recebeu, forçando-o contra mim porque alguém atrás dele estava ocupando muito espaço. Eu já estava perto demais, a propósito, abraçando a cintura dele; quando isso aconteceu, quase me fundi com o rosto em seu peito. fechou a cara, mas me olhou com cuidado e eu apenas neguei em silêncio. Estava tudo bem, podia ficar colada nele daquele jeito sem me importar.
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  Me importei mais quando tivemos que nos afastar e ele saiu me puxando por estarmos na estação correta. Agora, parecia mais apressado.
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  — O que foi? Estamos fugindo daquelas pessoas? — questionei quando ele trocou a forma como me segurava, pegando em minha mão.
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  — Não. — respondeu apertando mais o passo, evitando esbarrar nas pessoas. — Mas eu não cronometrei certo, não achei que ficaríamos tanto tempo na Ilha da Liberdade e se demorarmos mais, vamos perder o musical.
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  — Musical? Que musical?
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  — Era pra ser surpresa. — ele riu, não me dando mais nenhuma resposta em alguns segundos. — Hoje tem O Fantasma da Ópera na Broadway.
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  — Mas mesmo que a gente chegue a tempo — comecei a ofegar pela correria, mal podendo me acostumar direito com a diferença de iluminação ao sair do subsolo do metrô para as ruas iluminadas pelo Sol da uma da tarde na rua. —, é quase impossível comprar ingressos assim, em cima da hora. A fila da TKTS Nova York é enorme.
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  — Eu sei disso, meu bem
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   continuou me puxando, até enfim estarmos em uma parte menos movimentada, indo agora à frente com o fluxo certo das pessoas. Seu modo de me chamar fez com que eu ficasse muda por todo esse tempo.
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  Outra vez.
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  Até minha curiosidade falar mais alto.
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  — Como você espera conseguir ver a peça, então? — perguntei assim que vi a fachada de um dos lugares mais famosos da Times Square. Senti sua mão apertar a minha, que ele ainda segurava, e com a outra livre, surgiu com dois papéis bem detalhados sobre o musical. Fiquei sem reação imediata.
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  — Eu ia levar comigo, mas ele está trabalhando e pareceu muito mais legal trazer você. — justificou e eu tive a certeza de ver suas bochechas ficarem vermelhas.
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  — Eu… Eu… — tentei dizer, mas nada saiu. Tínhamos chegado e então ele parou bruscamente, um pouco confuso.
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  Na verdade, ele não deveria estar mais confuso do que eu. Uma das coisas que a Bee desde a infância mais quis fazer em toda a vida era ir a algum espetáculo na tão famosa Broadway, mas meu pai jamais se deixou ser convencido. Descobri uma certa vez que isso tinha a ver com minha mãe, pois foi exatamente nesse lugar que ele, segundo minha falecida avó, “notou que estava verdadeira e assustadoramente apaixonado por ela”. Então ele tinha um certo trauma com o lugar, era até compreensível; se eu tivesse sido abandonada assim, como ele foi, com uma filha de duas semanas de vida e sem sequer saber o que fazer, também negaria esses tipos de passeios que pudessem servir como lembrança.
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  Como eu sempre ia com ele ou para todo canto, não tive opção a não ser por deixar isso cair no esquecimento. Até me colocar diante da fachada exuberante e elegante do prédio, deixando-me sem fôlego, assim como parecia se tornar uma nova realidade em minha vida.
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  — Talvez eu devesse ter te perguntado se você queria.
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  — Não! — rebati rápido, até mais do que eu queria. — Digo… Estou sem saber como reagir porque vai ser a primeira vez que eu venho à Broadway e isso me deixou um pouco… Pensativa. Sempre tentei convencer meu pai a me trazer, mas ele nunca quis.
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  — Ah… Se é algo que você quer fazer com ele, podemos ir para outro lugar se você quiser! Não tem problema, eu ganhei isso aqui de um professor, então…
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  — Eu quero ir. — interrompi. — Com você. — completei menos intensa.
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  Talvez entrar ali com fosse tirar da minha cabeça uma memória que não era minha, que eu tinha criado dos meus pais sem ter qualquer noção do real fato.
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  Ver o sorriso que ele abriu, nitidamente feliz, me deixou encantada e tive muita certeza sobre a minha escolha.
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  — Aqui o seu. — peguei da mão de o cachorro quente que me foi estendido por ele e esperei sua companhia para nossa caminhada.
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  Depois da peça, saímos tranquilos para caminhar pela calçada, até notarmos que, em algum momento, o Sol começou a se despedir sem a nossa percepção. Comemos um pouco de tudo o que vimos desde que passamos pelas portas da Broadway até chegarmos no ponto entre a bifurcação mais famosa do mundo com o grande telão, ponto do New Year’s Eve de Nova York. Com isso eu mal conseguia tirar uma mísera mordida do cachorro quente em minha mão, mas me esforcei pelo esforço de em não me manter faminta desde a primeira reclamação de fome que fiz na Estátua da Liberdade.
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  Ali, parados, tínhamos muitas pessoas ao nosso redor e o vento estava ficando mais forte pela temperatura cada vez mais baixa de acordo com o passar das horas. O interessante da Times Square era que, por mais cheia que estivesse, cada pessoa ou grupo vivia sua própria realidade, sem intrometer-se uns aos outros. Era divertido também, porque ali se fazia possível ver de tudo e todo tipo de gente. Exatamente onde estávamos, pude ver mais à frente um rosto conhecido e, assim que engoli o último pedaço, apontei empolgada.
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  — O garoto do café! — disse, fazendo virar seu rosto para a direção que eu apontava.
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  — Ah, . — ele limpou a boca antes de me responder, também finalizando seu cachorro quente. — Ele é do programa da Saint Peter.
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  — Você já sabia o nome dele naquele dia no café e não me falou? Gosto de ver ele cantar e tocar, é relaxante.
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  — Você não perguntou. — deu de ombros e eu semicerrei meu olhar. — Você fica brava muito fácil, Bee. — brincou comigo e eu não tive tempo de pensar em responder, ele logo esticou a mão para pegar a embalagem amassada presa entre meus dedos e se virou para a lixeira atrás de si; ao retornar de frente para mim, tirava seu sobretudo, vestindo-o em meus ombros.
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  Eu só soube ficar parada, olhando, gravando cada movimento em minha mente.
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  Novamente ele estava pertinho de mim, me cobrindo por inteira com seu tamanho e me passando aquela sensação de miniatura que eu tinha quando estávamos tão perto. Notei que isso teve um peso diferente depois de ter ido agarrada em seu corpo dentro do metrô. E realmente não era de inferioridade, tinha um quê de segurança.
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  — Pronto, agora você não vai ficar com frio. — disse, tendo minha atenção novamente, e se afastou minimamente. estava bem perto e por mais alto que fosse, eu conseguia enxergar seus olhos e poderia facilmente me esforçar para ficar na ponta dos pés e fazer nossos narizes se esbarrarem de verdade. Ele me prendia em momentos assim com muita facilidade.
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  Se me dissessem que eu estava louca, até que seria compreensível, mas tive a impressão de que começamos a nos aproximar mais, bem lentamente. Eu já estava com meu rosto inclinado para trás e ele para baixo, sua mão direita estava em meu cotovelo e eu dobrei o braço alcançando seu peito, tocando-o de forma casta. Nossos olhos se travaram em uma conexão inquebrável e eu não consegui ficar com a boca fechada por muito tempo, estava começando a ficar sem fôlego.
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  Alguém passou por trás de mim, rindo em empolgação por alguma coisa alheia dali, e acabou esbarrando, o que me fez colar o corpo contra o de em definitivo, espalmando a outra mão também em seu peito. Meu rosto ficou reto por alguns segundos e, devido à aproximação, eu podia enxergar perfeitamente a costura de seu suéter grosso, em uma lã muito bem tricotada; instintivamente eu dedilhei o formato dos desenhos ali naquele local, enquanto senti seus braços me envolverem em proteção, por conta do empurrão, da mesma maneira que havia feito no metrô. Poderia ter sido rápido, acontecido normalmente, mas eu sentia tudo em câmera lenta.
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  Meu coração parecia querer sair pela boca ou abrir um buraco no peito para escapar, porém eu continuava vidrada nos detalhes da sua roupa justamente por estar próxima demais, de uma forma que eu nunca estive com alguém. E de uma maneira que eu não esperava que fosse acontecer com , não assim, no meio de uma praça cheia de gente e não só gente da imensa Nova York, mas do mundo inteiro. Afinal, em sua cultura, esse tipo de contato, essa intensidade, não era demonstrada em público tão assim, explicitamente.
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  E dizer que eu estava louca até poderia ter algum sentido, mas falar que não era uma coisa intensa acontecendo, me levaria a refutar até o fim.
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  Ouvi seu suspiro e notei pelo peito subindo e descendo que ia dizer alguma coisa, mas fomos interrompidos, porque o tal estava mais perto, pude perceber pela sua voz mais alta e o som do violão que segurava quando começou a cantar.
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  — It’s the most beautiful time of the year…
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  Ergui o rosto para , o vendo sorrir timidamente, e olhei para os lados rapidinho, vendo uma galera começando a dançar (em casais) ao som de Mistletoe, enquanto outras pessoas fechavam o espaço em uma roda, cantando junto.
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  — Senhorita? — ele me perguntou, sugestivo e sem me soltar.
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  — Sim. — respondi baixo, seguindo o movimento ritmado com a música.
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  Dançar nunca foi meu forte. Quando meu pai fez minha festa de aniversário de 16 anos, igual todo mundo falava para ele fazer, eu bati o pé até conseguir tirar de sua cabeça que teríamos uma valsa. Mas não deu certo e o resultado foi ele com dores nos dedos por dias após a dança.
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  Mas, ali grudada em , eu não precisei fazer muita coisa. Ele estava me guiando sem sairmos muito do lugar e conseguia sentir o sobretudo enorme em mim balançar de acordo, ainda com os botões abertos. O cheiro dele estava se fixando no meu olfato, a gola erguida teve a capacidade de me inebriar muito mais do que antes e eu fechei os olhos, sentindo o cheiro de pêssego ficar marcado na minha mente, desejando poder senti-lo mais vezes, desde que fosse nele mesmo, porque em nenhuma outra pessoa o cheiro de pêssego seria gostoso.
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  Devagar, seguimos aumentando os movimentos, até eu ser rodopiada, me soltando mais por me sentir à vontade. Eu ria, respirava melhor, ia e voltava para ele, ouvindo sua risada do timbre grosso e aveludado. E a melhor parte ficava para a cada vez que nossos olhares se encontravam. Quando a música terminou e nós estávamos um de frente para o outro do mesmo jeito de antes, no momento que fui empurrada, reparei que ficar olhando em seus olhos delineados estava se tornando minha nova zona de conforto, porque eu não queria sair dali.
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  — Espera! Está faltando um visco! — alguém disse, não sendo suficiente para nos afastar daquele instante de conexão. — Aqui! — pela risada, eu supus que fosse a mesma maluca que passou eufórica por mim e me empurrou.
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  Primeiro ela me empurra, depois vem falar sobre o visco. E é aquela coisa que dizem: se estiver embaixo do visco, devem se beijar — ou talvez não fosse bem assim, mas era algo do tipo. A música que já tinha tocado era bem singular.
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  Então estávamos embaixo de alguma coisa que a maluca de sotaque californiano segurava, meus olhos não queriam se desgrudar dos de para conferir se era mesmo um visco, porém eu confiava na época natalina. Não seria nada anormal alguém ter alguma coisa que representasse tal época enquanto andava pelas ruas de Nova York.
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  Talvez eu devesse agradecer a ela depois e eu teria feito se não tivesse tirado de mim aquele momento, virando o rosto para o lado ao se esquivar, me deixando completamente confusa e preocupada sobre até que ponto eu tinha mergulhado naquela analogia da piscina. Porque enquanto estávamos naquele momento, presos, eu estava quase confessando para mim mesma que aceitaria qualquer sentimento que pudesse estar crescendo.
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  Vê-lo se afastar foi como um banho de água fria, e eu só acordei de vez quando o vi ter uma crise de espirro.
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  — Vem, é melhor a gente ir, o vento está ficando mais forte. — disse, sendo mais racional e ignorando as outras pessoas.
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  Voltei em silêncio e sentada dentro do vagão, agora bem menos movimentado. Pelo horário, as pessoas estavam mais nas ruas do que se locomovendo para chegar de um lugar a outro, não era mais um horário comercial e ninguém estaria indo na direção contrária aos pontos turísticos da ilha. Estava cansada, mas não falei ou me movi, apenas fiquei prestando atenção no caminho e refletindo o dia que me propus a ter quando aceitei a surpresa de .
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  Estava surpresa com a iniciativa dele. Dizer que esperava por isso era mentira. Eu não esperava e fui surpreendida, e mesmo que tivesse criado todo um clima em minha cabeça e esperado por mais em algumas ocasiões, tinha sido perfeito da forma como foi.
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  Ele tinha razão, afinal, descansar minha mente foi uma escolha sábia.
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  Estávamos caminhando para o campus, sem nenhuma pressa, e dessa vez um pouco mais afastados, e eu me perguntava como ele poderia não estar com frio, porque o vento me cortava e a sensação do ar úmido parecia me cobrir com gelo. Tive pressa em meus passos para chegarmos logo e eu poder devolver seu sobretudo e lhe aquecer, mas quando notei que ele seguiu para a direção do estacionamento, perguntei:
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  — Para onde estamos indo?
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  — Vou te deixar no seu carro. — ele me olhou rapidamente, com uma linha reta em seus lábios fechados. — Te levaria para casa, mas não sei onde você mora.
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  — Estávamos perto dela em nossa primeira parada. — comentei casualmente.
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  — Sério? Você vem do outro lado para cá todos os dias? — me encarou surpreso.
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  Caminhávamos lado a lado pelo gramado e eu apertei a alça da minha bolsa atravessada em meu peito.
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  — Venho. Tenho um primo que se formou aqui e mora na mesma rua que a nossa. Derek diz que, pelo tempo que passo no campus, eu deveria fazer como ele e alugar um quarto no dormitório.
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  — Não seria de todo ruim. Seríamos vizinhos. — ele respondeu com um riso fraco.
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  — Não sou uma boa vizinha. — fiz uma careta e continuei olhando para frente, mesmo sabendo que ele me olhava.
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  — E o que define uma boa vizinha?
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  — Ah… Esse é o X da questão. Eu não sei. Não fico em casa o tempo suficiente para saber como conviver numa vizinhança.
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  — Faz sentido. — houve uma pausa de quase um minuto em nossa conversa e eu já podia ver Veronica estacionada. , porém, logo tornou a falar: — Você não sente falta de passar mais tempo em casa?
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  Nunca parei para pensar nisso.
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  Talvez eu sentisse, mas precisaria pensar com a cabeça da Bee menos nerd. A Bee que não era chamada de “Nerd do Extra” ou “Traça de Livros” ou “Beexwell”, dentre os outros inúmeros apelidos. Essa Bee, no caso, MB, eu não sabia mais onde estava.
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  — É uma pergunta para a outra Bee. — confessei depois de um tempo.
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  — E onde encontramos ela?
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  — Não sei. — parei quando vi meu carro a poucos metros. — Bem, Veronica continua aqui… Ainda posso confiar na segurança desse lugar. — mudei o foco.
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   parou também, levando os braços para trás do corpo e olhando para o único carro parado ali. O Jeep branco parecia enorme até mesmo para ele.
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  — Quem é Veronica? O Jeep? — perguntou.
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  — Sim. — franzi o nariz ao encarar seu rosto com um riso preso. — Qual é? É um bom nome, vai…
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  — É sim. Ela é muito grande pra você, não acha não? Como você não some lá dentro?
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  Arqueei a sobrancelha, vendo-o erguer a mão e mensurar os tamanhos usando o indicador e o polegar.
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  Não evitei e ri, tirando a chave da bolsa e destravando o alarme.
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  — Vou te mostrar. — respondi, saindo na frente.
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  Abri a porta do carro e me sentei no banco, fechando logo em seguida e o deixando para fora. se aproximou por fim e eu abri a janela por completo. Tínhamos alguns postes de luz cuidando da iluminação, mas a Lua estava mais forte, então ele conseguia ver o interior com detalhes rosados por dentro — contrário do que dizia, Veronica não era toda rosa, ela tinha algumas coisas estampadas na cor e a costura dos bancos de couro; minha Grand Cherokee tinha personalidade e era toda organizada.
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  — Não consigo te ver aí dentro, cadê você, Bee?
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  Soltei uma gargalhada irrecusável quando brincou e ele me acompanhou, apoiando-se na porta do carro.
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  — Eu te levaria para casa, mas já estamos nela. — comentei, surgindo com um assunto.
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  — Sim. — ele começou a fazer aquilo de novo de me olhar, chamando a nossa troca de olhares. Eu tentei desviar a atenção para não me prender a algo liso novamente, sendo aleatória:
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  — Seu sobretudo! Vou tir-
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  — Não precisa. Você me devolve depois. — me impediu de tirar sua peça, sendo rápido demais ao me interromper.
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  — Tem certeza? — garanti e ele assentiu. — Então tudo bem. Obrigada por hoje… Você tinha razão. — suspirei, sorrindo genuína.
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  — Disponha, senhorita. Quando quiser, sabe onde me encontrar… Não estou falando das prateleiras, OK?
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  — Vou anotar o lembrete.
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  Então ficamos de novo presos na mesma atmosfera e eu precisei lutar o máximo possível para sair, sendo novamente a responsável por trazer outro diálogo.
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  Olhei para a direção dos dormitórios e perguntei:
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  — Qual é o seu?
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  — Está vendo aquela estrela? É naquela direção que fica meu quarto.
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  A forma como ele falou, ficando de perfil para mim, fez eu me perder no delineado de seu rosto. O nariz afilado, os lábios de tamanho enganoso, o pescoço que tinha cheiro de pêssego…
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  Não, eu estava vendo outra coisa, visualizando outras imagens tão infinitas quanto o céu, .
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  — Uhum. — menti. — Aquela? — apontei, recebendo sua reação rápida em abaixar minha mão. Uma corrente elétrica passou por mim, vagando meu corpo inteiro, e com esse toque ele se virou para me encarar ao mesmo tempo que eu o fiz.
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  — Não é educado apontar para estrelas. — disse tímido, mas ainda sem me soltar, e seu tom baixinho, como sempre, me fez sentir as bochechas quentes.
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  Vai, Bee! É a sua hora.
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  O frio na minha barriga foi o combustível para eu não colapsar e desta vez não recuar.
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  — Sabe o que não é educado? — ele franziu o cenho suavemente, me encarando com o olhar confuso. — Você me soltar todas as vezes que me toca, que está tão perto… Embora eu esteja torcendo demais por dentro que não seja só o seu problema com a vista de não me enxergar direito te fazendo chegar tão perto assim, isso é um pouco frustrante e-
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  Não pude terminar de falar, ou melhor, tagarelar sem vírgulas pelo nervosismo.
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  Seus lábios se chocaram contra os meus.
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  O frio na minha barriga foi se tornando quente, aconchegante, e quando eu abri a boca para lhe dar mais intimidade e deixar que a sua língua se encontrasse com a minha, meu corpo todo amoleceu como uma gelatina sendo derretida em segundos. Jamais tive uma sensação tão boa e revigorante assim, e mesmo que eu não tivesse uma lista vasta de ex-namorados ou interesses, diria com propriedade que os lábios dele me marcariam para o resto da vida. Era ali que eu queria desbravar muita coisa.
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  Dali poderia sair a MB.
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Capítulo 8: Passado, presente e futuro

  O tempo é relativo, dizia Einstein. E ele nunca esteve errado.
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  Essa história de passado, presente e futuro é balela. Não existe isso. As coisas acontecem e a gente não tem como mensurar tempo. Elas simplesmente acontecem ao mesmo instante, o passado está junto com o presente e o futuro acontece no mesmo momento. Não tem como separar.
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  Se tornou uma incógnita na minha cabeça que em um momento eu estava dançando um clichê de Justin Bieber na Times Square com e de repente já veio o feriado de ações de graça, que me levou para a Califórnia em um passeio tradicional com meu pai para visitar vovô Bee, e logo em sequência mal tivemos tempo, porque as provas finais aconteceram e depois já tínhamos o final do semestre porque o natal e ano novo batiam na porta. Além dos meus planos tradicionais, tinha os dele com passagem comprada há meses para cruzar o planeta e passar os feriados com seus pais.
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  Não tinha erro nisso tudo, eu não podia esperar que do dia para a noite o nosso tempo fosse resumido apenas em continuarmos o que estava desenrolando. Querer ele só para mim seria muito egoísta, porque eu o tinha durante vários meses do ano — a partir de agora, claro — e sua mãe não, ela tinha que esperar pelo período das festas de final de ano, e ainda durava menos do que quinze dias.
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  Por mais que eu quisesse não ser egoísta, o vazio que senti por tudo ter passado tão rápido e levado ele para longe ainda era grande. Mas eu tinha que me esforçar e compreender o contexto, afinal, era uma novidade na minha vida.
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  Festas de final de ano são as minhas favoritas, então a espera seria menos dolorosa, porque eu estaria com a mente ocupada — ou pelo menos foi o que pensei.
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  — Por que não para de olhar para esse celular, hein? — entrou de novo em meu quarto, carregando duas taças com a medida ética de vinho. Colocou em minha mesinha de cabeceira e se sentou na cama. Olhei tudo pelo reflexo do espelho do closet, que ficava na direção da porta, me dando uma visão ampla de quem perambulava pelo meu quarto.
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  — Depois que voltamos da Califórnia, meu pai quer que eu monitore o vovô. — suspirei, não era mentira, mas não era exatamente o que eu estava fazendo quando ela entrou e me fez a pergunta. Na verdade, estava lendo a última mensagem de , a qual ele dizia que esperaria a meia-noite americana para me desejar feliz natal.
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  — Vovô Bee ainda está relutante em vir para cá? — olhei pelo reflexo e vi interessada.
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  Nos conhecíamos desde a quarta série, quando tivemos que fazer um trabalho de ciências juntas. já era a menina popular naquela época, sempre simpática, aberta para amizades e querida por todos; era completamente o oposto de mim. Mas ela foi capaz de conseguir ficar. Muito disso teve o dedo do meu pai, que quando a viu entrar em casa pela primeira vez, porque íamos fazer o trabalho lá, não a deixou mais ir embora.
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  Alfred, avô de , já era um conhecido do meu pai, então isso apenas contribuiu mais. Em algum momento, nesse corte maluco da relatividade do tempo, dormia mais do que três vezes na semana em casa, meu motorista da época sempre passava buscá-la quando isso não acontecia, e na escola não desgrudamos uma da outra por mais nenhum momento.
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  Mesmo que ela ainda tivesse amizade com as meninas populares que odiavam o meu cabelo, minha fissura por rosa e organização ou até mesmo o meu cérebro sempre metódico; mesmo que me julgassem por eu não me interessar em primeiro beijo, bailes, namoros ou sair para ir ao cinema, ela nunca soltou minha mão. Mesmo que tivesse se tornado mais interessante andar com os líderes de torcida e os jogadores do time de futebol, ainda almoçava comigo, ainda dormia na minha casa e fazíamos regularmente a nossa noite de filmes e rodas para falar sobre boybands — essa, na verdade, era mais ela me ouvindo chorar por One Direction do que qualquer outra coisa. Mesmo que eu ainda fosse a única da sexta série a não ter dado o primeiro beijo na casa da árvore que tinha na casa de Evans, me defendia; inclusive quando descobriram minha fascinação por Louis Tomlinson e colocaram lá dentro o Patrick Gordon com uma máscara com o rosto dele para brincar comigo, foi a primeira a me defender.
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  Enquanto todo mundo me julgava estranha e fazia brincadeiras com o meu jeito, me pegou pela mão, fazendo de mim um livro interessante para ler. Ela leu tudo e, como um exemplar pequeno, guardou num lugar bem protegido em uma estante. Ela era a única a saber cada vírgula da minha vida sem ser meu pai, tal qual uma irmã.
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  Foi assim que crescemos e fomos responsáveis por unir os Bee e Chevalier. Sempre passando férias juntas, indo para Los Angeles passar dias com a vovó e o vovô Bee, escalar e fazer trilha com meu pai. Absolutamente tudo. Eu sofri mais com a distância dela durante seu ano sabático pós-ensino médio, do que quando vovó descansou — afinal, minha avó já estava bem velhinha e doente, foi algo muito natural.
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  Antes de eu encontrar esse conforto em , eu só tinha nela, e pareceu muito errado vê-la ali, em minha cama, inteirada dos assuntos da minha família e preocupada com vovô Bee, enquanto eu escondia algo muito importante. Mas era mais do que , claro, então eu não queria simplesmente jogar em cima dela que estava malucamente envolvida com alguém antes de ter certeza. Nem mesmo quando dei meu primeiro beijo, já adulta com vinte anos, eu lhe contei imediatamente. só descobriu sobre o fatídico momento com quando conseguiu me tirar de casa para sairmos beber e durante uma brincadeira de “eu nunca” eu bebi uma dose (o que foi a única vez em todas as rodadas) de tequila depois de dizer “eu nunca beijei alguém dessa roda”. estava junto, então ela só precisou juntar um mais um.
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  — Está. — respondi, por fim, saindo da frente do espelho e me aproximando dela dentro do quarto. — Ele não quer deixar a casa porque foi lá que viveu toda sua vida boa com ela. — peguei a taça, bebericando um pouco do vinho. — Espero um dia conseguir viver um amor tão lindo quanto o deles foi…
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   me encarou de cima a baixo, arqueando a sobrancelha.
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  — Isso nunca passou pela sua cabeça antes, o que tá acontecendo? É o nerd, não é?
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  — Para de chamar ele de nerd. — retruquei falando contra o vidro em meus lábios. — E não, eu só… Tive um choque de realidade nesse último feriado.
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  — Hum. Devo dizer “finalmente”? — ela continuou sentada, me olhando desconfiada. — Porque eu pensei que você jamais cairia na real. Daqui a pouco vou ser obrigada a escolher ajudar ou . — dizer o último nome fez ela revirar os olhos.
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  Ri fraco, levando a taça de volta para minha mesinha e mantendo o celular na outra mão, segurando-o como se isso fosse dependência para minha vida.
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  — Não sei se devo confiar no seu dedo para escolher meu futuro marido. — fiz uma careta. — pode até ser bonito e ter aquele aparato todo, mas não me convence.
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  — Ainda bem, não é? Porque não é a você que ele deve convencer. — se levantou. — E vamos deixar fora disso, tudo bem? Sem falar de macho por hoje. — apontou para a porta. — Eu vim te buscar, o jantar está quase pronto.
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  — Nossa — comecei a caminhar para fora. —, você não quer falar sobre homem? O que houve? Está tendo tempo de sobra pra isso com a sua amiga ?
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   riu sarcástica, andando ao meu lado no corredor não tão curto e puxou o celular da minha mão. Porém, eu fui rápida, não deixando ela tomar ele de mim.
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  — !
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  — !
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  Estávamos numa parte que já era possível ser vista pela parte de baixo da casa e tanto meu pai quanto Dorota nos chamaram ao mesmo tempo. Ainda mantendo o celular em minha mão e com ela segurando com a outra mão que não tinha a taça, viramos o olhar para baixo.
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  — O jantar está pronto, meninas.
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  — Estamos indo. — respondemos juntas e, assim que eles saíram, voltamos a nos encarar.
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  — Eu sei que você está escondendo alguma coisa de mim. — ela estreitou o olhar. — E se não estivesse preocupada demais com o que quer que seja em seu celular, veria que eu tenho te mandado inúmeras mensagens como sempre.
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  — Vi todas. — mantive meu rosto impassível, puxando o celular e a mão, me livrando dela. — E agradeço o convite, inclusive, não quero ir numa festa com tema brasileiro. Ainda mais com a . — fiz careta, usando isso para mudar o foco, e continuei a andar.
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  — Não sei o porquê dessa sua implicância com ela.
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  — Não é implicância, só temos noções diferentes das coisas.
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  — Sim, igual eu e você. — usou tom de obviedade, estávamos no meio da escada e eu parei, olhando para ela, que fez o mesmo.
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  — É diferente. Nós duas crescemos juntas e eu consegui me acostumar com seu jeito. Inclusive, se não fosse a Abott, jamais teria acontecido.
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  — Não responsabilize a Abott, foi o papel, não ela. — ela revirou os olhos. — Mas isso não muda o fato de você ter ciúmes da . — cruzou os braços, inflando o peito.
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  — Igual você tem do . — devolvi, agora eu estreitei o olhar, vendo ela murchar. — E me diz uma coisa, seu segurança vai deixar você ir para uma festa dessas?
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  — Desde quando eu preciso pedir para sair, Bee?
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  — Ah, não sei… Essa coisa de segurança particular… Nem eu tenho, . — ri um pouco.
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  — Claro. Você não sai de casa, ! É parte da mobília. — sorriu cínica. — E tem outra, o bonitinho está de férias, tenho certeza que o amigo dele te contou aí nesse telefone — apontou com o indicador — que foram juntos pra Coreia.
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  — Mais um motivo para eu não ir. Não vai ter segurança.
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  — Olha — ela respirou impaciente, descendo dois degraus. —, eu fiz o convite. Se você não consegue mais me colocar na sua agenda pra pelo menos fazer o mínimo, tudo bem, mas não fica me cobrando sobre com quem eu ando ou não. Isso é chato. E a é incrível… — seu olhar recaiu em minhas mãos abaixadas e ela moveu o rosto e a sobrancelha para mencionar: — O está te ligando.
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   me deu as costas e eu a acompanhei com o olhar, deixando em segundo plano o celular que tocava no silencioso em minha mão. Respirei fundo e desbloqueei a tela, tirando uma foto e mandando para ele com um aviso de que estava um pouco ocupada e depois retornaria.
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  Sendo bem honesta, eu não retornaria ainda naquela noite. Iria dar um tempo na minha afobação e enxergar o que estava bem em minha frente: a minha recente ausência.
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  Desci rapidamente e logo me coloquei ao lado de à mesa, como sempre demarcada com os nomes e lugares certos de cada um. Eu me sentava à direita do meu pai e ela à minha.
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  — Eu tenho uma condição. — disse baixo em seu ouvido, enquanto os demais membros dos Chevalier e Bee se ajeitavam. Ela não respondeu com palavras, apenas o olhar me mirando de soslaio. — Você vai dormir em casa comigo.
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  — Não pode ser na minha?
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  — , não dormi na sua casa nos últimos doze anos uma única vez, acha que agora vai ser diferente? — ri, me afastando e colocando o tecido em meu colo.
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  — Argh! Odeio fazer suas vontades pra você fazer as minhas. — ela ralhou.
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  — Eu sei que você faz por amor. — deitei minha cabeça em seu ombro, no mesmo instante que meu pai se levantou para discursar.
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  — Saiba que o seu presente é o menor da árvore, OK? — seu tom bravo não me convencia, mas eu fingi que sim.
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  — Mal posso esperar para ver a tão tradicional Tiffany. — me ajeitei, ficando ereta para prestar atenção em meu pai.
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  Nosso natal era sempre assim: as famílias juntas para um jantar na véspera, em casa, todo mundo dormia e no dia seguinte abríamos os presentes depois do café da manhã. Geralmente eu passava a noite maratonando Esqueceram de Mim com e os primos na sala de filmes, e desta vez não seria diferente.
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  A não ser pelo desejo que eu tinha de dividir esse momento com também. Era gostosa a única vez no ano que eu deixava ser melosa, ficando abraçada com ela e dividindo o mesmo pote de pipoca, mas eu não conseguia parar de pensar que poderia ser o corpo dele ali para eu abraçar.
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  Abbie me puxava pela mão com energia suficiente para animar todo mundo da casa, mas eu não estava muito animada. Não tinha como culpá-la de ser a única criança no meio de tanto adulto, mas a minha prima às vezes conseguia ser mais enérgica que eu. E se tratando de abrir os presentes… Ela com certeza estava animada.
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  Todo mundo se ajeitou no meio da enorme sala principal da casa, empolgados com a árvore tão grande quanto o ambiente necessitava, e um a um os presentes foram sendo distribuídos. Do meu pai eu ganhei outra viagem para o Alasca, com direito a acompanhante — uma de suas esperanças era que não fosse — e eu lhe dei uma nova mochila para suas escaladas, que agora não eram regularmente feitas apenas comigo. Ganhei muitas outras coisas, incluindo um livro em alemão do meu tio, sobre psicopatas; tio Andrew sempre me dava esses presentes em outros idiomas, dos quais eu pudesse entender, porque ainda achava que meu pai era contra a minha escolha de profissão, e isso acontecia desde que eu era adolescente e comecei a demonstrar esse interesse para ele, um juíz.
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  Ao trocar meu presente com , ela me pediu para que eu abrisse e lesse a carta, desta vez, apenas quando estivesse sozinha. Então assim o fiz. Para ela eu dei mais um berloque Pandora, para que ela pudesse completar com pingentes de locais visitados ou coisas que lhe faziam sentido. Recebi de suas mãos uma caixinha da Cartier e outra da Tiffany & Co, duas das minhas marcas de joias favoritas. Depois de toda a euforia, todo mundo se ajeitando para conversas afiadas e os jogos divertidos e interativos com Abbie por toda a manhã, eu saí para a área externa da cobertura, apenas com meu celular e o papel de .
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  Mesmo que eu dissesse e afirmasse com convicção, ainda aos meus quase vinte e dois anos de idade era um pouco difícil não conseguir deixar de lado a lembrança de que em algum lugar do mundo minha mãe poderia estar perambulando. Me perguntava se ela ainda lembrava de mim, se algum tinha tinha me desejado — meu pai dizia que sim, mas eu duvidava que ele dissesse isso apenas para que eu não me sentisse mal —, se em algum momento ela foi verdadeira com ele e realmente o amou como ele merecia. E além de pensar sobre mim, eu também pensava sobre e a ausência de seus pais que tinham falecido em um trágico e famoso acidente quando ela ainda era muito nova.
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  Nós duas tínhamos coisas a matutar nessa época do ano e não iria importar quantos anos passassem, sempre precisaríamos do nosso espaço para isso, por isso não fui interrompida por ninguém, e principalmente por ela, quando saí para o terraço.
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  Me sentei perto da fonte que tinha próximo à área de lazer, no espaço redondo e de arquitetura tão comum da antiga Nova York. Coloquei o celular no bolso e abri o papel. Era uma marca registrada de sempre colocar uma cartinha para mim no presente, ela conseguia escrever mais do que cinco linhas, enquanto eu sempre lhe dizia coisas genéricas. Mas desta vez, porém, notei que o papel estava mais cheio.
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  ,

  é dezembro outra vez e nós não somos mais as mesmas pessoas. As minhas tatuagens aumentaram, você mudou o cabelo e nós não roubamos mais a massa de biscoitos da Dorota pra comer tudo escondido e ficar com dor de estômago depois. Muitas coisas mudaram. A vida é assim.
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  Acho que nós padecemos de tanta dor que, quando os ventos mudam e qualquer sinal de novidade aparece, a gente ainda assusta como se fôssemos aquelas duas garotinhas da classe da senhora Abott. Eu me encho de barulho, de festas, de gente… Você se fecha em si mesma, se mergulha. Sempre abraçamos nossos medos de formas opostas, mas também achamos um jeito de abraçar uma à outra. E eu entendo que o céu está mudando pra você e você teme o que os ventos vão te trazer dessa vez. Mas eu espero que você se permita sentir essa brisa.
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  Eu espero que você tome a melhor xícara de café da sua vida.
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  Eu espero que você dê um beijo que te arrebate e te deixe sem rumo.
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  Eu espero que você ache aquele livro de neuropsicologia que você procura há séculos.
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  Eu espero que toquem a sua música favorita nos shows que você for com o seu pai.
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  Eu espero que você dance.
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  E abrace, e toque, e ame, Bee.
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  Eu espero que você se deixe ser lida (mesmo que algumas pessoas precisem de um par de óculos redondos pra isso!).
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  Eu espero que, quando tudo isso acontecer, eu possa estar bem pertinho.
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  Me deixa ficar, OK?
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  Eu sinto sua falta, crente. Feliz Natal!
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  ‘You and me got a whole lot of history,
  So don’t let it go, we can make some more.’

  .”

  Finalizei a leitura sentindo uma lágrima rolar em meu rosto e o ergui, olhando para o céu. De lá de cima a neve caía e começava a me cobrir. Dentre tudo o que ela tinha me dito ali em sua caligrafia perfeita, a minha interpretação só me levou a pensar sobre o que eu vinha fazendo.
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  Se eu estava sendo ausente com e meu pai, como queria e teria capacidade para agregar mais uma pessoa em minha vida?
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  Como um sinal, do qual eu não entendi, meu telefone tocou. Era . Atendi depois do tempo que tomei para limpar o rosto e sorri ao ver ele do outro lado, na chamada por vídeo.
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  — Achei que não conseguiria te desejar feliz natal ainda no dia vinte e cinco. — ele logo disse, sorrindo gigantemente. Como era possível aquele sorriso se encaixar na tela?
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  — Desculpe — iniciei, fazendo uma feição de culpa. —, por aqui é sempre agitado. Te falei que não temos pausas. — em um estalo, notei um fato. — Ei, não é mais dia vinte e cinco aí… Que droga, me desculpa! Você estava acordado me esperando?
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  Pela minha matemática rápida: era uma da manhã onde estava.
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  — Não se preocupe. Aqui também é movimentado, estávamos jogando algumas coisas e só agora que vamos para a cama. Te liguei contando com a sorte…
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  — Entendi. — fiquei sem muito o que desenvolver, olhando em todos os detalhes que ele me mostrava.
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  — Onde você está? Te colocaram do lado de fora, na neve? — ele arqueou a sobrancelha.
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  — Não, eu estava tomando um tempo sozinha. — dei de ombros.
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  — Eu te atrapalhei?
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  — Jamais! — respondi automaticamente. — Ligou na hora certa.
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  Notei que atrás dele tinha uma silhueta, num vão que parecia ser uma porta. estava sentado e muito provavelmente o seu celular estava em uma mesa. Em suas costas eu podia ver um guarda-roupas e ao lado, até onde dava ângulo, deveria ser a porta.
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  Levei um susto quando a cabeça foi colocada para dentro por completo. Era mesmo uma pessoa. Uma mulher, na verdade. Ela disse alguma coisa para ele no idioma deles, um tanto gritado e forte, e eu logo fui sentindo minhas bochechas queimarem, principalmente quando apareceu atrás dela, abrindo a porta e revelando um outro senhor com ele.
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  — Bee! — entendi quando ele falou meu nome, se aproximando. estava vermelho e me mandou um “desculpa” em mímica. apontava para mim e depois para ele, e novamente a única coisa que eu compreendia era meu nome sendo dito de uma forma menos americanizada.
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   tentava dizer alguma coisa no meio dos dois, até que a mulher se virou para o celular, deixando ele e discutindo. Vi que ela se movimentava para a porta e ao seu lado o outro senhor sorriu para mim.
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  Fiquei vendo tudo sem saber o que fazer, como reagir. Deveria ter desligado?
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  — O-oi… — ela tomou minha atenção, tentando dizer em inglês e o senhor acenava. — Pais do Jeon… — apontou dela para ele.
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  Acenei de volta, me sentindo uma pamonha. Rapidamente o rosto de retornou, ele pegou o celular e agora eu pude vê-lo por baixo, observando seu queixo por ele estar com o celular para baixo. Depois de algumas coisas que foram ditas dele para os pais, tudo se organizou.
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  — Me desculpa pela confusão. Ninguém sabe o que é privacidade nesta casa… — fez uma careta. — acabou comentando com minha mãe que foi você quem quebrou meu óculos e o resto… Eu acho melhor você não saber.
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  Não consegui evitar rir, achando graciosa a vergonha dele.
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  — Tudo bem. Achei bem divertido.
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  — Então… Essa é minha mãe. — mostrou ela, ainda sorridente. Sua mãe lhe disse alguma coisa e insistiu que ele me dissesse. — Ela está dizendo que você é muito bonita e que por isso não vai ficar brava por ter quebrado o óculos que pagou caro.
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  Quis esconder meu rosto embaixo de toda a neve que cobria o chão.
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  — Diga a ela que eu agradeço e sinto muito pelo desastre. Posso recompensar de outra forma. — respondi, ouvindo a risada de .
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   disse algo breve e o outro logo berrou mais coisas por cima. Pela expressão da mãe dele e a risada do seu pai, entendi que ele não tinha traduzido o todo e cuidou disso.
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  Novamente ela insistiu que dissesse mais alguma coisa e antes que ele tivesse tempo de negar, sussurrava alguma coisa no ouvido dela.
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  — Você compensa cuidando bem do meu neném. — ela disse, sorrindo enorme, igualzinha a ele. E ao invés de me engolir com seu sorriso, ela me ofereceu um dos maiores aconchegos que eu já senti. — Meu neném, seu neném.
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  Ele resmungou algo em protesto, olhando feio para , que logo saiu correndo do quarto.
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  — Nosso neném é precioso. — seu pai disse, parado atrás de sua mãe e com as mãos nos ombros dela.
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  Olhei de para os dois e levei um tempo sorrindo boba, vendo ele todo desconcertado, até responder:
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  — Diga para eles que eu vou cuidar sim. Se você deixar.
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  — sorria, mas seu tom era preocupado. Ele já tinha entendido como funcionava comigo, mas não precisava ter medo, não estava sendo nem um pouco difícil dizer aquilo.
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  — Pode deixar, eu falo, Bee! — ouvi o berro de .
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  Os pais de ouviram a tradução dele e se despediram definitivamente. A mãe dele ainda teve tempo de selar sua bochecha com muito gosto. Porém, quando ficamos a sós de novo, meu pai apareceu na porta do quarto berrando meu nome.
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  — Enfim a sós… Me desculpa mesmo. — ele começou, ajeitando os óculos.
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  — Não tem problema. Eu gostei. — sorri genuinamente. — Mas agora preciso ir, meu pai está me chamando.
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  — Ah… Tudo bem. parecia querer dizer alguma coisa, mas eu não instiguei. Meu pai estava se aproximando mais e eu não queria que ele tivesse esse acesso agora. — Quando tiver um tempo, pode me ligar…
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  — OK! Eu tento. — me levantei, batendo na roupa e olhando da tela para frente, antes de encarar sua imagem novamente e me despedir. — Feliz natal.
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  — Pra você também. — Seu sorriso não foi aberto, foi singelo, mas era lindo de qualquer forma. —
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  — Sim?
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  — Estou com saudade de você e-
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  — Eu também. — interrompi. — E minha resposta para os seus pais foi verdadeira, neném… Se cuida. Tchau. — desliguei rápido, erguendo o rosto para meu pai.
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  — Com quem estava falando? — sua pergunta foi estreita, me deixando sem reação. Ele não esperou, inclusive. — Não sei porque ainda pergunto. — estendeu a caixa para mim. — Faltou eu te dar isso. Chegou com seu nome há alguns dias e Dorota não quer me contar de quem veio. Eu fiz uma inspeção de raio x e está tudo certo. Nesse papel estava pedindo para te dar no natal.
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  Peguei de sua mão o pedaço de papel pequeno e analisei a caligrafia, não reconhecendo ela. Meu pai não esperou, me deu as costas assim que tomei a caixa em minhas mãos. Sentei novamente e abri o laço, tirando a tampa em seguida. Ali dentro tinha um globo de neve com uma maquete de Nova York e a caixinha com os óculos que dei para .
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  Ambos estavam em cima de uma carta que tinha uma única frase.
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  “O amor não se vê com os olhos, mas com o coração” — Shakespeare, William.
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  Sorri, apertando o papel comigo. Talvez fosse sobre isso que queria falar e eu não deixei. Mas foi melhor assim, abrir isso sozinha me fez sentir cada uma das palavras.
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Capítulo 9: Minha garota

  Tinha muita gente.
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  Não era um “muita gente” banal, de exagero de ponto de vista, era um “muita gente” de muita gente mesmo. Mas e sua presença VIP nos colocaram dentro da boate em um piscar de olhos, sob reclamações de quem estava na fila esperando há horas.
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  Para minha felicidade, ela tinha um camarote cheio de regalias, fechado somente para nós e , e mais um cara de nome difícil que eu não fiz tanta questão de me enturmar, ele parecia elétrico demais e eu decidi manter distância. Enquanto os outros dois não chegavam, fiquei sentada no sofá, bebericando alguma coisa com gosto de desinfetante e álcool, uma bebida escolhida pelo meu instinto viciado em rosa. Em algum momento, desceu, enturmada como sempre — e eu tinha a certeza de que ela estava se esforçando ao máximo, porque alguma coisa estava errada em seu jeito um tanto apático, totalmente fora do comum.
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  Somente me senti animada quando o meu celular tocou e eu vi a chamada de vídeo de , logo atendendo-o.
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  — Olha só, você está em um lugar cheio de gente! — ele sorriu empolgado, dizendo diretamente quando conectamos a ligação.
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  — Não por escolha própria. Prefiro meu pijama e a minha cama.
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  — Sua cama não te permite diversão, Bee.
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  — Você não diria isso se provasse ela. O colchão é macio, tem esteira de massagem e também esquenta. E eu tenho um cobertor bem gostoso, antialérgico, que é muito mais quente do que essa roupa mais curta do que as minhas pernas. — reclamei, respirando fundo. Ao final, me olhava com as sobrancelhas erguidas e curioso. Eu simplesmente tinha mencionado minha cama para ele daquela forma, sem me dar conta de um possível duplo sentido. Minhas bochechas esquentaram na mesma hora que notei.
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  Mas antes que eu ou ele pudéssemos sair desse momento constrangedor, senti algo pesado em meus ombros, vendo pela imagem no celular erguido à altura do meu rosto a feição sorridente de .
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  Ele estalou um beijo na minha bochecha e então perguntou:
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  — Está falando com seu pai? — olhou para a tela e franziu o cenho ao ver . — Vocês se conhecem?
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  Notei como ficou sem jeito ao vê-lo.
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  — Sim. — respondi. — E vocês dois também, pelo visto. — ri fraco, um pouco nervosa e preocupada pela forma um tanto dada que era comigo e como poderia reagir a isso.
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  — Quem não conhece o melhor jogador de jogos on-line da Saint Peter? — soprou um riso nasalado e arregalou os olhos, ainda mais desconcertado. — Mas é segredo, MB, a identidade dele é desconhecida. — sussurrou, como se fosse um grande segredo que so ele detinha.
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  — Ah… — murmurei, um tanto confusa e em pânico por ele ter me chamado por um apelido tão pouco usado. MB era algo que nem mesmo usava com tanta frequência. Um trocadilho com “My ” que surgiu de e vez ou outra usava (quando ele se dispunha a tentar flertar ou ser carinhoso demais comigo). — Legal.
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  , sendo meloso demais, apertou meus ombros com o seu braço musculoso, me levando mais para perto.
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  — Eu atrapalhei alguma coisa? — perguntou, soando realmente inocente. — Como estão conseguindo conversar com essa música alta? E por que você está aqui em cima e não lá embaixo dançando?
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  — Estávamos-
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  Não pude terminar de falar, apenas fiquei olhando para e sua feição travada.
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  — Cara, me desculpe, mas eu vou ter que roubar a . A minha garota não pode ficar aqui em cima sozinha, é uma festa! — tomou o celular da minha mão.
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  — … Eu… — tentei pegar de volta, mas ele virou a tela para mim.
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  — Diga tchau, MB.
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  — Me desculpa. — disse quase em uma mímica para e ele apenas acenou.
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  Quando finalizou e me devolveu o celular desligado, eu me senti derrotada. Tinha combinado com que desta vez, à meia noite, ele estaria comigo. Não pudemos no natal, mas a chegada de um ano novo seria diferente.
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  Ou era para ser.
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  — Achei você! — vi surgir pela escada, sorrindo abertamente. Ele podia, naturalmente, afetar qualquer pessoa com aquele sorriso perfeito, até mesmo a mim (confesso), mas desta vez eu não senti efeito algum. Queria ser engolida por outros lábios esticados de orelha a orelha. — Ei, ! Está bonita hoje… Que milagre a fez para te tirar de casa? — se aproximou de mim e eu me levantei, vendo que o cara de nome estranho estava logo atrás e continuava olhando para minhas pernas.
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  — Pois é, . Milagres acontecem. — respondi fraco e automaticamente me colocando mais perto de , porque ainda que ele sempre tivesse expressado abertamente o desejo sobre mim, era o rosto conhecido e mais confiável que eu tinha ali (junto de e , claro). E aquele outro cara estava mesmo me deixando nervosa.
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  No fundo, honestamente, queria estar me enfiando contra a proteção de .
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  — Você queria alguma coisa, ? — perguntou, passando o braço por mim, sendo protetor.
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  — Ah… Eu vim ver com você o que vamos pedir. disse que já vai subir.
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  — Hoje vamos pedir o que a minha garota quiser. — ele me olhou sutilmente e sussurrou em meu ouvido: — Fica tranquila, tô aqui.
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  — Então vamos todo mundo tomar água ou coca-cola sem açúcar. — brincou, recebendo um olhar estreito de . — Tô brincando, . Desculpa…
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  — Tudo bem, . — franzi o nariz, me sentindo mais à vontade assim que surgiu com sua falsa empolgação e o outro cara desceu. — Não sendo a bebida rosa com gosto de desinfetante, pode ser qualquer coisa.
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   se juntou a nós e me olhou estranho assim que se afastou deixando outro beijo em mim, desta vez na testa. Ele e desceram para pegar a bebida, sendo, como sempre, galanteador com ela e já marcando o seu território. Mas eu notei que minha amiga não estava tão afim desta vez, tinha algo muito diferente.
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  Nos aproximamos da grade e eu cruzei as pernas para evitar mostrar demais, mesmo que a saia fosse bem colada e estivesse usando um shorts por baixo.
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  — Você decidiu finalmente deixar o feliz? — ela perguntou sem me olhar.
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  — Não… Você sabe que ele sempre foi caloroso assim. — suspirei, vendo-o me lançar um beijo lá de baixo. — Mas eu também aproveitei a situação, aquele cara de nome estranho estava com dificuldades de enxergar meu rosto, ele deve ter confundindo com as minhas pernas.
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  — … — se virou para mim. — Se você quiser ir embora, nós vamos, OK? Me desculpa ter te forçado a vir.
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  Olhei de cima a baixo, franzindo o cenho.
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  — Tudo bem. Eu até gostei e… Temos e aqui, não tem como dar tudo errado. — menti, já tinha dado errado desde que apareceu ao meu lado e eu sabia. — Mas isso não significa que eu vou embora com ele hoje. A razão de eu ainda manter contato com o é porque, mesmo sendo atirado desse jeito, ele sabe do limite e nunca me desrespeitou.
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  — Certo. Porém, já sabe, só me pedir e… — fez um movimento com a mão e eu assenti, entendendo que era sobre ir embora.
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  — Eu tô bem. Você que parece louca para fugir daqui. — brinquei e toquei sua testa. — Está bem? Não está com febre.
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  — Estou. Só… Acho que enjoei desse lugar. — ela voltou olhar para baixo e eu acompanhei. No térreo, e eram as celebridades, mesmo que estivessem apenas interagindo entre si. Qualquer pessoa ali daria tudo para estar na companhia deles e ter qualquer contato com um ou outro, de qualquer forma. — Deve ser a música… ou as pessoas…
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  As pessoas, eu apostaria.
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  Apoiei os cotovelos na grade e suspirei, olhando meu celular e a ausência de mensagens.
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  — É, as pessoas…
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  Estava quase decidida a retornar para , querendo explicar alguma coisa sobre a aparição de , como se eu devesse isso, quando senti uma mão pesada no ombro, seguido do timbre melódico e animado de .
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  — Estou vendo certo? Ou a bebida que me deram tinha algum alucinógeno? “Livros” Bee? Uau! — ela me mediu por inteira. — Ou devo chamar de Chevalier-Bee? Porque essa roupa não saiu do seu closet rosa, tenho certeza.
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  — Não mesmo, porque eu fiz a bonitinha aqui sair comigo em compras! — se pendurou em mim e eu tinha as duas alugando minha cabeça.
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  — Então a gente tem que honrar esse dinheiro gasto em Dior, minha querida, e isso não vai ser aqui.
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   sorriu para e eu me perdi. As duas me pegaram cada uma por um braço e foram me arrastando escada abaixo. Ao terminar o último degrau e passar pelo segurança do camarote, fui recebida por . Ele piscou para e ela praticamente me “empurrou” para ele.
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  Eu poderia ter olhado feio para e começado uma discussão ali mesmo sobre os motivos pelos quais não tínhamos a menor chance de conviver pacificamente, mas não queria levar um chute dela com aqueles coturnos de solas tão grossas. E eu poderia, inclusive, sair correndo de para ligar para , mas não queria me perder àquela hora e ocasião em Nova York. Não sabia onde estava e não era em Manhattan.
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  Fosse lá o que ele estivesse pensando, teria que ficar para depois. E muito depois. De preferência BEM depois de todos os shots de tequila que consumi.
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  Meu corpo estava mole. Minha dignidade se tornou algo desconhecido.
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  Puxei o cobertor para cima e vi que usava apenas o cropped e calcinha. Rapidamente me cobri, assustada e com uma dor de cabeça surreal, exatamente quando ouvi batidas rápidas na porta do quarto. Olhei para a madeira branca totalmente receosa e quando a maçaneta girou e o corpo alto e grande de entrou, eu berrei.
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  Ele se assustou, quase caindo para trás com a bandeja cheia de coisas.
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  — Porra, Bee! Que susto. — ralhou, mas continuou se aproximando. Deixou a bandeja aos meus pés e se ajoelhou do meu lado.
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  — O que você está fazendo aqui? — perguntei imediatamente, me encolhendo mais por dentro do cobertor. Olhei para tudo rapidamente, em desespero. — Você… Eu… A gente…
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  — Não! Claro que não, MB! — pareceu chateado com a suposição. — Vocês três beberam demais e você não me deixou te levar para a casa da . Disse que tinha que dormir com o senhor “Trovão”… Então viemos todos para cá.
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  Não sei dizer o que, de tudo o que ele disse, que me deixou apavorada.
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  “Viemos todos para cá”.
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   estava dormindo na minha casa e eu nunca nem tinha lhe chamado uma única vez para um chá.
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   e no mesmo teto. No meu teto. Numa virada de ano, eles SEMPRE ficavam juntos.
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   sem camisa na minha frente, dentro do meu quarto, com o cabelo úmido.
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  Eu ter falado sobre o senhor Trovão para ele. Isso era, no mínimo, vergonhoso.
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  — O que tanto eu te contei bêbada? — fiz manha, relaxando mais o corpo.
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  — Tudo e nada ao mesmo tempo. Quando você fica bêbada só sabe rir. É muito fofo, mesmo que seja errado. — franziu o cenho. — Mas fica tranquila, não me contou o seu segredo para todas as notas máximas, não vou falar nada para a Evans.
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  Fiz uma careta, respirando fundo.
  — Quem tirou minha roupa?
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  — Você mesma. — ele riu e se sentou no chão ainda ali ao lado. — Quando chegamos, eu tive que te trazer no colo porque você dormiu dentro do carro. E aí, quando te coloquei na cama, você passou mal e eu tive que te colocar no banho.
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  — E eu tirei minha roupa lá? — assentiu. — Depois…
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  — Te coloquei na cama, sequei seu cabelo e você dormiu. Mas antes de apagar me expulsou daqui e falou pra eu dormir no corredor… — ele fez uma pausa, passando a língua pelos lábios. — Você falou que — riu fraco. —, além do senhor Trovão e a , só ia dar espaço na sua cama para o neném.
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  Paralisei, não respirei, me perdi.
  ! Eu precisava falar com ele.
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  — Certo, entendi. Obrigada, . — agradeci, passando a mão no rosto. — Eu preciso me levantar e tomar um banho decentemente. Pode me dar licença?
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  — Claro. — se levantou. — Eu vou ver se o já acordou e chamar ele para irmos embora… Se precisar de alguma coisa, é só chamar.
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  — Chamo sim, pode deixar… — tentei não parecer nervosa demais.
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   deixou um beijo na minha testa e saiu. Assim que ele fechou a porta, eu levantei correndo, indo até o espelho do meu closet e vendo minha situação. Ele, ao menos, cuidou bem de mim e eu não parecia uma louca com tudo fora do lugar.
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  Voltei correndo para o quarto, procurando meu celular. Demorou e isso me gerou muito desespero, mas o encontrei dentro do bolso do sobretudo que usei.
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  Tinha muitas notificações. Abri uma a uma.
  “Onde você está?” — .
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  “ Bee, sai desse banheiro” — .
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  “MB, eu tô preocupado… Cadê você?” — .
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  “Eu não acredito que você saiu para uma boate quando eu estou do outro lado do mundo, Bee!” — .
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  “Você está linda” — .
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  “Vai ser a capa do periódico de férias” — .
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  Fui correndo uma por uma, ansiosa por uma em específico, que ficou por último.
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   tinha me mandado um emoticon preocupado e “estou no aeroporto agora, quando chegar em Nova York te mando mensagem”. Nada mais. Então abri a nossa conversa.
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  — Merda! — berrei, me sentando no chão, largada e decepcionada. — Não… não… não… — fui passando a conversa, vendo os inúmeros áudios que mandei. Abri um.
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  “Quando você voltar eu posso te mostrar a diversão que é minha cama”, eu estava claramente fora de mim, embolando tudo. “Mas não nesse sentido, tá? Shhhhh… Isso é… Como que fala? É… Eu não sei”, senti meu coração acelerar.
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  Que merda eu estava pensando?
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  Abri outro.
  “Olha, eu queria te dizer que… Não que eu tenha que te dar satisfações… Mas… O … Ele… Ele pode ser bonito, todo musculoso e flertar comigo sempre… Ele faz isso desde o primeiro semestre quando nos conhecemos. Só que não passa disso, tá? Eu e ele… Eu e ele não combinamos em nada! Não do jeito que eu e- Bee!”, a voz de surgiu no meio do áudio, berrando e, ao que parecia, batendo na porta. “Sai desse banheiro agora! Você veio para se divertir! Quem está aqui somos nós. Quem não está, tá longe”, ela se embolou e eu cortei o áudio.
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  Tentei abrir mais um, o último que eu tinha mandado, e suspirei.
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  “Me desculpa, eles não sabem o que é privacidade. Mas… Eu prometo que quando você voltar a gente não vai ter nenhuma intromissão. Se você ainda quiser… Fica bem, se cuida” , minha voz já era mais calma, mas eu parecia muito triste.
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  — Que droga… — resmunguei, encostando nos pés da cama. Meu celular não parava de apitar com notificações do instagram e, quando eu abri, me senti uma idiota sem tamanho.
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  Beber não era para mim, definitivamente.
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  A foto postada já acumulava milhares de curtidas e centenas de comentários. Não sei e não me lembro em que momento Snoop Dog apareceu na boate, mas ele estava ali entre mim e , com agachada no chão, atrás dele e do meu outro lado, próximo demais. Não fiz questão de abrir os comentários, apenas passei o carrossel, vendo que tudo piorava. Na última foto, beijava minha bochecha do jeito que ele sempre fazia.
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  A legenda só mostrava como eu não sabia o momento e como me expressar. Como eu esperava que entenderia que o “ninguém é melhor do que você” estava ali propositalmente para dizer que tudo aquilo estava sendo insuficiente sem ele? Por que era isso que eu queria dizer quando escrevi, não era?
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  Fechei os olhos, apertando o celular contra o peito.
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Capítulo 10: Deixa?

  Já fazia mais do que vinte minutos que eu estava andando de um lado para o outro atrás da traseira de Veronica, segurando o celular em minhas mãos — ou melhor, apertando-o contra meu peito, algo que tinha se tornado um costume. Era o dia de retorno às aulas, um novo semestre, claro, e eu tinha chegado mais cedo do que nunca antes, considerando o começo do curso até aqui. Minha ansiedade tinha nome e usava óculos com lentes grossas.
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  Segunda semana de janeiro e já tinha chegado em Nova York há um bom tempo, mas desde então não nos vimos e ele parecia distante, sempre ocupado. Eu sabia que isso poderia acontecer, porque agora ele estava no seu último semestre, prestes a se formar, e isso lhe traria muito mais preocupações. Como a necessidade de já começar a ter escritórios para estagiar. Descobri pelas redes sociais que sua mãe veio junto, então ele passou boa parte do tempo com ela, até que fosse embora no domingo. Dava para compreender e me esforcei o máximo para não ficar atrás dele como uma maluca.
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  Porém, quando cheguei mais cedo, sabendo que o primeiro dia seria dedicado à recepção das admissões de inverno, e o vi entrando direto em seu prédio, senti meu peito ser esmagado, como se ele estivesse claramente me ignorando. Não consegui focar em mais nada, até me ver obrigada a deixar minha caloura com e ir até meu carro, decidida a ir embora. E eu teria ido se não tivesse com um comichão insuportável me dizendo que seria abandonar um problema, que não resolveria a minha situação e isso só alimentaria um trauma. Ser racional e estudar a mente humana poderia ser o meu espeto de pau.
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  Com essa confusão interna, fiquei ali boa parte depois do almoço, atrás de Veronica, igual uma barata tonta, sentindo o bolo da ansiedade em minha garganta.
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   poderia ter entendido tudo errado sobre e eu só queria a chance de explicar. Mesmo que o orgulho estivesse falando mais alto.
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  — Bee? — ouvi uma voz familiar me chamar e ergui o rosto, vendo se aproximar com uma cara estranha. — Você está bem? Parece um pouco nervosa…
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  Engoli a saliva ardida e tentei relaxar o corpo. Como eu poderia confessar para que estava esperando o melhor amigo dele aparecer depois de ter ficado desaparecido o dia todo? Inclusive, era estranho não estar vendo os dois juntos, porque isso sempre acontecia.
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  — Sim… Estou bem. — respondi baixo.
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  — Mesmo? — ele insistiu, tentando olhar em meu rosto, que eu insistia em desviar.
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  — Sim. Está tudo bem, estou esperando . — confessei, mas sem deixá-lo olhar em meus olhos.
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  — Ah, você falou com esse fujão hoje? — elevou um pouco mais a voz.
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  — Fujão?
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  — Sim, você não soube? Ele meteu o pé da Saint Peter e largou o calouro nerd comigo. — ele parecia frustrado e eu fiquei surpresa. — Eu acho que tem algo a ver com a entrevista do estágio, porque ele parecia nervoso quando me disse que ia ver alguma coisa gigante e velha.
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  Imediatamente minha mente vagou para o dia que fomos até a Estátua da Liberdade e meu primeiro instinto foi de entrar em Veronica e querer arrancar dali com muita pressa.
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  — Que horas foi isso? — perguntei, já em alerta.
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  — Bem, ele teve a entrevista às onze e falou a última vez comigo tem uma hora… Considerando a distância de onde estava pra voltar para a ilha, ele não deve nem ter chegado na estação de South Ferry.
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  Olhei no relógio, vendo que o ponteiro marcava exatamente duas da tarde.
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  — Muito bem, obrigada! — dei as costas para ele, ouvindo-0 resmungar confuso. Entrei no carro e logo liguei o motor, dando a ré para sair da vaga. ainda estava parado no mesmo lugar, segurando as duas alças da mochila.
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  — Bem que ele disse, você some aí dentro. — disse, analisando todo carro.
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  — — chamei, ganhando  sua atenção. —, obrigada!
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  Agradeci sem saber exatamente o quê e cantei o pneu para sair do estacionamento, vendo o senhor Saanders, o vigilante que ficava na guarita da entrada, ralhar comigo.
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  Dirigindo o mais rápido e cuidadosamente possível, ajustei o endereço no GPS. Quando vi o tempo até o Battery Park, senti meu coração acelerar mais ainda. Sair de Inwood, onde fica a universidade, para chegar do outro lado, passando do Tribeca, estava dando uma hora e dez minutos de trânsito por conta do horário e de alguma coisa que o computador de bordo me alertou, mas eu ignorei.
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  As balsas para a Ilha da Liberdade iam até às três e meia e as filas sempre eram enormes.
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  Só queria não desencontrar de , mesmo que fosse uma loucura pensar que isso seria possível. Ainda mais com o meu celular quase desligando. Porém eu não desisti.
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  Assim que parei o carro de qualquer forma numa vaga do estacionamento tão lotado, saí correndo, apenas com a chave na mão, voltando no meio do caminho porque sabia que seria necessário pelo menos meu ID e um cartão para acessar a balsa, se precisasse.
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  Na verdade, eu iria precisar.
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  Não sei exatamente o que estava me motivando a isso, me fazendo gastar mais de uma hora para cruzar toda a ilha e avançar sinais vermelhos, mas eu tinha o feito e não parecia querer parar. Não até poder ver em minha frente e berrar que não era nada para mim, e se isso não fosse o motivo para ele ter sumido, eu aproveitaria para mergulhar no mar e me esconder nas profundezas.
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  Como esperado, a fila estava enorme e eu tinha chegado a tempo da última balsa, porém não o suficiente para conseguir subir nela. A capacidade total foi rapidamente completada e eu, como última da linha de espera, fiquei para trás. Entretanto, nem tudo estava perdido, encontrei um banco e ali sentei, ficando a postos para, se caso ele aparecesse, eu pudesse lhe surpreender — ou me surpreender, podia ser que fosse um daqueles casos em que o cara tem uma namorada no país natal, esperando, e desta vez ela tivesse vindo, por isso sua mãe passou uns dias em Nova York também, vai saber.
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  Esperar pelo pior foi uma maneira de me preparar para decepções e não só com ele, para qualquer um. Até hoje eu acredito no mantra de que pode facilmente escolher alguém mais popular e descolada do que eu, tipo a — estilosa, divertida, simpática, amigável, adulta, madura… muito mais interessante do que alguém que ainda tem medo de borboletas.
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  E isso me fez refletir a baboseira que era eu ter cruzado Manhattan e estar ali, esperando, vendo o relógio passar os ponteiros, acreditando em clichês. Eu deveria me acostumar com o abandono. Não tinha muito o que se esperar quando eu já era uma pessoa que foi abandonada por quem me colocou no mundo.
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  Deve ser por esta narrativa real que eu preferia mil vezes os livros científicos aos romances genéricos que sempre se tornavam filmes da Netflix.
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  — Você também não conseguiu chegar a tempo?
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  O timbre. O sotaque. A forma serena de chegar falando.
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  Era ele ou eu estava ouvindo coisas.
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  — Achei que você não gostasse de pontos turísticos.
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   se sentou ao meu lado e eu o encarei.
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  — Ela continua sendo velha e gigante. — respondi.
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  — Não de forma pejorativa, mas devo concordar.
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  Me sentei de forma ereta, olhando para o horizonte à nossa frente. Não sabia o que dizer, como começar e o que exatamente trazer como assunto.
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  — … — me chamou e eu me senti envergonhada demais, um ponto de realidade caindo em minha mente: o que eu tinha feito poderia ser facilmente analisado como patético, ainda mais sendo por um momento de desespero. — me contou.
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  Sim, realmente foi patético da minha parte.
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  — Você sumiu. — deixei sair rápido, ainda sem encará-lo. — Eu apareci e você sumiu. — repeti, sendo um pouco mais lenta. Virei o rosto para ele, vendo-o paralisado no lugar. — Então eu pensei que fosse só a correria da sua nova fase, mas não parece que isso seja o grande X da questão.
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  — Eu tive um dia ruim.
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  — E a semana? — rebati, não sabendo de onde estava vindo tanta “coragem”. Notei que meu tom o fez recuar, então contornei: — Olha, eu sei que não devemos nada um ao outro, mas eu não sei se… — suspirei, tomando um fôlego. — não é nada, OK? Se foi isso que te assustou, não precisa se preocupar. Nós nunca tivemos nada.
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  Percebi o quão repetitiva fui, mas eu precisava que ele entendesse que “nada” realmente significava coisa nenhuma.
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   se virou para frente, curvando o corpo e apoiando os cotovelos em seus joelhos. Ele passou as mãos no rosto e me olhou apenas num virar de rosto.
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  — Você parecia bem com ele… E… Eu não tenho certeza ainda se as coisas darão certo e se vou conseguir ficar, , então fiquei assustado. Os pais dele têm empresa aqui, eles têm condições para mantê-lo pelo tempo que for nos Estados Unidos. Eu não. Eu e temos bolsa. Tudo é custeado pelo programa, diferente de , … Diferente de todos os outros, nós dois e precisamos correr de outra forma para nos mantermos.
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  — Nem tudo se resume a dinheiro… — disse baixinho, me sentindo trêmula pelo tom que a conversa tomou. — Você ainda tem tempo para conseguir e-
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  — Sabe quantos escritórios eu já tentei? — ele me cortou, mantendo a voz no mesmo volume. Era uma retórica, claro. — Três só de dezembro para cá. Voltei mais cedo de Anyang porque tinha esse processo em um escritório no Bronx, mas não consegui. Eles não querem coreanos, eles não gostam de quem não é nativo.
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  — Eu gosto. — soltei sem pensar, num fio de voz. arrumou o óculos em seu rosto e eu senti meu coração, totalmente apertado, chacoalhar e vibrar, como se fosse uma festa lá dentro.
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  — , eu não posso ser para você o que você merece. — seus olhos caíram e ele começou a encarar o chão. — Eu tive dias ruins e não queria que você me visse desmotivado, por isso sumi… Minha mãe veio comigo porque… porque… — suspirou. — Ela não está legal e achamos que seria bom ela sair um pouco de Anyang… São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Então hoje, quando te vi com , e , reparei que não me encaixo e que eu sobro. Mas isso não é responsabilidade sua e antes que a gente prossiga, tenho que ser honesto e ver que talvez eu não seja o melhor pra você.
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  — … — continuei trêmula.
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  — Olha só como você se divertiu no seu ano novo com todos eles. Você estava ótima, ! Feliz. E isso é o que importa. Não tem espaço pra mim e eu não quero tornar tudo ruim se eu tiver que voltar para trás. Não quero ser uma memória ruim, que você irá tentar esquecer.
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  Instintivamente, eu saí do banco, parando em sua frente, ajoelhada. Tomei o rosto de com as minhas mãos, fazendo ele me encarar.
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  — Não fala mais isso! Nunca mais! — disse firme, fixando meu olhar no seu. — Eu não me importo se você é daqui ou de Plutão, eu me importo de te ter do meu lado. Porque é isso o que eu quero. Seja rico ou pobre, empregado ou desempregado. Nada disso importa, porque nenhuma dessas coisas é o motivo real pelo qual você tem me feito tão bem. Se você quiser compartilhar comigo os seus dias ruins, eu vou estar aqui para isso, eu quero estar! Quero que você aprenda a confiar em mim… E se tem um lugar em que você mais tem se encaixado, esse lugar é na minha vida. Então para de ser bobo e me deixa cuidar de você. Eu prometi pra sua mãe. Me deixa cumprir com a minha promessa.
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  Senti meus olhos marejados e vi que tinha os dele um pouco avermelhados, igual à pontinha do seu nariz. Ele parecia estar destruído por dentro, era muito mais sério do que suas palavras ensaiadas me disseram e tudo o que meu coração queria naquele momento era cuidar do machucado que o afligia, fosse grande, pequeno, em pedaços e sem me importar com qualquer motivo. Só queria cuidar dele.
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  Não esperei mais tempo e selei seus lábios, logo sentindo a euforia crescer dentro de mim. O seu beijo tinha me deixado viciada e finalmente pude matar a saudade dele, em um deleite sem pressa, sem precedentes.
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  Quando senti a falta de respirar, nós nos afastamos lentamente. tinha um mínimo sorriso em seus lábios.
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  — Me desculpa ter feito você ficar preocupada. — pediu, colando sua testa à minha. Era uma das melhores sensações que eu já pude viver ter o seu nariz esbarrando contra o meu. — Senti sua falta.
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  — Tudo bem. Só não faz mais isso, hein… — fingi estar brava, beijando o canto de seus lábios. — Vem, vamos. Vou te levar para casa.
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  Me levantei, estendendo a mão para ele.
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   entrelaçou seus dedos aos meus imediatamente e se levantou, me puxando para outro beijo, este, porém, menos calmo. Era um beijo de saudade, que eu acabei descobrindo como classificar por conta da sensação. Outra vez faltando o ar, separamos as bocas e ele continuou a beijar meu rosto, até chegar na testa. Enfim começamos a andar.
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  — Você quer passar o resto da tarde comigo? A minha cama não é de casal nem tem esteira de massagem e aquecedor, mas é divertida e dá pra assistir filme. No bom sentido. — ele disse e eu senti minhas bochechas ruborizadas com a referência.
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  Resmunguei manhosa, virando o rosto contra seu peito e ouvindo-o rir, deixando outro beijo em mim, agora em minha têmpora.
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  — Eu quero sim, mas nós podemos esquecer essa parte? — pedi, logo me lembrando de outro detalhe para mudar o foco. — Temos outra coisa mais interessante para nos lembrar…— ergui o rosto para olhar em seus olhos. — E se chama Shakespeare.
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  O rosto de ficou vermelho, mas ele sorriu desviando o olhar e eu já sabia que isso se tratava da sua timidez.
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  Ele ficou quieto e nós finalmente chegamos na Veronica. Entrei e esperei ele se acomodar, para então dar a partida e arrancar dali, agora sem nenhuma pressa. Em um outro momento, minha mente estaria 100% na empolgação de mostrar as bibliotecas e todas as instalações para o calouro ou a caloura que tinha sido designado a mim, mas desta vez eu confiei inteiramente em , porque minha mente estava começando a repartir espaços, dando um bem aconchegante para , inclusive.
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  Observei o trânsito, sem avançar semáforos vermelhos, e não deixei de olhar para ele sorrindo, principalmente quando, tomada pela saudade de seus toques e do beijo, vez ou outra me inclinei para beijá-lo pelo tempo que dava. E isso foi uma troca, em um dado momento, passado do meio do caminho, pousou sua mão em minha perna e se inclinou para o meu lado, beijando abaixo da minha orelha de forma carinhosa.
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  Reprimi um gemido arrastado pelo prazer que foi ter ele ali comigo, de senti-lo outra vez. Ainda mais matando a saudade do seu perfume.
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  — Eu gosto do seu cheiro de pêssego.
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  Não pude controlar, minha boca se moveu sozinha e o som da minha voz pareceu melódico demais, assim como as batidas do meu coração.
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   se encostou no banco outra vez e eu senti sua mão apertar levemente a minha coxa, onde estava posicionada.
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  — Então eu não vou mudar o perfume. — respondeu, somente com o rosto virado em minha direção.
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  Tal qual a correria de carros do lado de fora, dentro de mim tinha algo que cintilava e precisava se espremer para caber em meu peito, porque todas as vezes que seus olhos encaravam os meus, eu sentia algo vasto de novidades me engolindo. era o meu oceano, a cada momento com ele alguma coisa nova surgia, uma batida diferente no meu coração ecoava dentro de mim. Mas diferente do mar que em seu mais profundo possui a escuridão, ele tinha e me trazia luz. Não existia nenhum porquê para eu ter medo de estar com ele.
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  O semáforo abriu e eu continuei com o carro, ficando em silêncio pelo tempo da minha reflexão, ouvindo a voz de Freddie Mercury iniciar uma música muito propícia para aquele momento. Crazy Little Thing Called Love tinha uma letra muito intuitiva e ouvindo ela, ao lado dele, me fez querer dizer algo que eu somente dividia com meu pai e .
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  Eu senti a necessidade de compartilhar minha vida com ele.
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  — Quando minha mãe foi embora, meu pai jurou que jamais amaria outra pessoa. Não foi para me proteger ou se dedicar a mim. — segurei firme no volante, olhando a rua e prestando atenção aos sinais de trânsito, ainda que meu foco em segundo plano fosse falar o que estava entalado no meu peito, pensando que isso, de alguma forma, pudesse ajudá-lo a continuar encarando o que quer que fosse o acontecido com sua mãe. — Ele fez isso porque desacreditou. E eu não posso julgá-lo… Talvez chegar à conclusão que viajar mundo afora seja sua forma de continuar procurando por ela, tenha, de algum modo, feito com que eu também desacreditasse. Então… Se tornou difícil deixar qualquer pessoa entrar, passar páginas. Não falamos eu te amo um para o outro. Substituímos isso para uma forma menos vaga, porque o amor não deveria ser assim se é algo tão forte e direcionado. Tudo tem uma dimensão, até o infinito se define. Dizer que queremos estar um com o outro é a forma mais honesta de demonstrar qualquer sentimento. — virei meu rosto, encarando-o. — E eu nunca quis tanto estar com alguém, assim como quero estar com você.
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Natashia Kitamura
Natashia Kitamura
5 meses atrás

Quando o Seungkwan falou que tem alguém muito interessado na PP, eu quase dei um berro. 
Nossa, como eu queria esse tipo de drama na minha vida HAHAHAHAHA 
E por que eu vejo tanto ele como o fofoqueiro do grupo? kkkk perfeito 
 
Também estou animadíssima para ver mais dessa Victória que mal chegou e já odeio pacas. Mas é legal mesmo odiar com (mais) razão, né. Se você colocar ela como ponta de triângulo amoroso com o Wonwoo eu vou é berrar (de uma forma diferente da razão acima 😂). 
 
Tomara que ela se jogue muito nas loucuras, porque essa fase da vida é a melhor para ser inconsequente sem ser sério demais como os adultos e imaturos demais como os adolescentes hahahaha quero ela se perdendo com o Wonwoo (e nele). 
 
Que venha os próximos capítulos (bem rapidinho, por favor, ajude essa leitora com memória de galinha)! <3 

Comentário originalmente postado em 09 de Janeiro de 2024

M-Hobi
5 meses atrás

HAHAHA É um choque! Mas eu tenho uma surpresa mais ou menos sobre isso lá na frente hihi  
 
Olha, não vou dizer muito sobre a Evans, mas posso dizer que triângulo amoroso partindo de mim ao se tratar se Jeon Wonwoo ou Min Yoongi jamais será possível. Sou ciumenta demais para conseguir isso até mesmo com histórias sem compromisso. Mas a Evas ainda vai ter seu lugar de destaque! 
 
Sight, My Sight é o POV de uma jovem adulta que divide espaço nas prateleiras da biblioteca com os livros e não conhece muito o mundo fora disso. Vai ser uma aventura.  
 
Obrigada pelo comentário!  

Comentário originalmente postado em 10 de Janeiro de 2024

Natashia Kitamura
Natashia Kitamura
5 meses atrás

Olha quem apareceu na história e já tem uma funçãaaooo! Vem Mingyuuuu <3 Hahahaha 
Adorei o papo dele ser segurança da bestie. Queremos encontros duplos, e que delícia um haters to lovers nesses dois, né (até pq quem é que aceita um segurança de boa vontade, mesmo sendo o mingyu?). Dei mais importância pra esse núcleo do que queria kkkk mas é mais forte que eu. 
 
E vamos ver como que vai se desenrolar essa relação do Wonu com a pp. Ainda não sei o que esperar, mas acho que não vai ser um friends to lovers. Ele é muito caladão para ser um amigo dela (e, aparentemente, ela não é muito sociável tb kkkkkkk laura, salva ela, pelamor. há salvação, ela é jovem) 
 
Posso dizer também que o Seungkwan ta brilhando? Amo esse lado fofoqueiro dele, quero que ele coloque muito fogo no parquinho, hahahaha! To prontíssima para passar pano. 
E cadê o Hoshi. Quero ver esse garoto causando também. Na verdade, to com expectativa com todos os garotos das perguntas que ainda não apareceram kkkkkk vem, atualização! 
 
Adorando! Bjsss 

Comentário originalmente postado em 16 de Janeiro de 2024

M-Hobi
5 meses atrás

E se eu te contar que esse núcleo com o Mingyu tem a própria fic, hein? É um spoiler hahaha  
Sight, My Sight é a primeira fic de uma sequência que vem do mesmo universo. O nosso SVERSO. Uma colaboração de autoras delusionals.  
 
Sobre Wonwoo e a MB, realmente ele é muito introspectivo para ela, que já deu pra perceber ser uma pessoa cheia de conflitos internos. 
 
Ainda temos uma longa estrada pela frente! 
 
Comentário originalmente postado em 21 de Janeiro de 2024

Natashia Kitamura
Natashia Kitamura
5 meses atrás

Eu berrei com a direta que o Wonwoo deu na Bee? Só minha cachorrinha sabe o quanto SAHUIASHISA 
Meu deeeelssss, eu não estava preparada para essa diretaaaaa! Fireeeeeeeeeee! Hahahahaha! 
 
E também não to conseguindo lidar com esse Seungkwan. Ele tinha tudo para ser odiado com a fofoquice e tudo mais, mas eu simplesmente não consigo aguentar o entretenimento que ele entrega, hahahaha! É tudo. O charme dessa fic certamente é ele. Tomara que esse humilhado no amor seja exaltado uma hora <3 

Comentário originalmente postado em 26 de Janeiro de 2024

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás

BERRO

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  Seus lábios se chocaram contra os meus." Read more »

É sobre issooooo

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Eu sei que você está escondendo alguma coisa de mim. — ela estreitou o olhar. — E se não…" Read more »

Besties knows best

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Olha — ela respirou impaciente, descendo dois degraus. —, eu fiz o convite. Se você não consegue mais me…" Read more »

Fala mesmo, todo mundo cansa de ser a única que corre atrás

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  Sendo bem honesta, eu não retornaria ainda naquela noite. Iria dar um tempo na minha afobação e enxergar o que…" Read more »

É diferente quando uma pessoa tem noção, né? Maravilhosa

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Então... Essa é minha mãe. — mostrou ela, ainda sorridente. Sua mãe lhe disse alguma coisa e insistiu que…" Read more »

Kkkk amei a sogra

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Pode deixar, eu falo, Bee! — ouvi o berro de ." Read more »

MELHOR PESSOA (depois do fofoqueiro do Seungkwan kkkkkkk)

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Eu também. — interrompi. — E minha resposta para os seus pais foi verdadeira, neném... Se cuida. Tchau. —…" Read more »

POR QUE CORTAR O AMIGUINHOOOOOOOOOOO?

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  Para minha felicidade, ela tinha um camarote cheio de regalias, fechado somente para nós e , e mais um cara…" Read more »

Foram para a balada com as melhores pessoas kkkkk também quero

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Sua cama não te permite diversão, Bee." Read more »

HAHAHAHA Quem conta que com ele a história é outra?

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Cara, me desculpe, mas eu vou ter que roubar a . A minha garota não pode ficar aqui em…" Read more »

Alguém ressalta esse minha garota, por favor? SAUIHASHIUSI quero um wonu com ciúmes SIM

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Tudo e nada ao mesmo tempo. Quando você fica bêbada só sabe rir. É muito fofo, mesmo que seja…" Read more »

Hahahaha sou igualzinha a ela

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Te coloquei na cama, sequei seu cabelo e você dormiu. Mas antes de apagar me expulsou daqui e falou…" Read more »

BERREI KKKKKKKKK

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  “Eu não acredito que você saiu para uma boate quando eu estou do outro lado do mundo, Bee!” — ." Read more »

HAHAHAHA realmente, faltou ele

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  Fechei os olhos, apertando o celular contra o peito." Read more »

Agora você lembrou por que a biblioteca é melhor do que a balada, né?

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  Segunda semana de janeiro e já tinha chegado em Nova York há um bom tempo, mas desde então não nos…" Read more »

éoke? você precisa conhecer a sogrinha, moça

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
   poderia ter entendido tudo errado sobre e eu só queria a chance de explicar. Mesmo que o orgulho estivesse…" Read more »

hahahaha isso se chama não querer perder o bofe

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Bem que ele disse, você some aí dentro. — disse, analisando todo carro." Read more »

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Bem que ele disse, você some aí dentro. — disse, analisando todo carro." Read more »

ao contrário de você, meu bem, que não caberia nem que quisesse

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Eu gosto. — soltei sem pensar, num fio de voz. arrumou o óculos em seu rosto e eu senti…" Read more »

awwwww, you go, girl

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Quando minha mãe foi embora, meu pai jurou que jamais amaria outra pessoa. Não foi para me proteger ou…" Read more »

<3<3<3<3<3

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás
  — Quando minha mãe foi embora, meu pai jurou que jamais amaria outra pessoa. Não foi para me proteger ou…" Read more »

eu amo um casal

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás

CARAMBA, KIM MINGYU!!!

Natashia Kitamura
Admin
5 meses atrás

hahaha a cara do wonwoo seguir as regras


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