Sentence, my Sentence
You ain’t gotta worry, it’s an open invitation
I’ll be sittin’ right here, real patient
All day, all night, I’ll be waitin’ standby
(POV )
— Ah, porra! — sacudi a mão queimada pelo café que eu derramei e minimizei a bagunça com algumas folhas de papel-toalha.
— A ainda está com raiva, hein? — , meu melhor amigo e colega de trabalho, surgiu atrás de mim na copa, meio preocupado, meio querendo rir da minha falta de jeito.
Meneei a cabeça em silêncio, o mesmo que eu vinha recebendo de há uma semana. A bandeja espelhada, embaçada pelo café que transbordou da xícara, refletia minha imagem abatida: olheiras, barba por fazer e cara de poucos amigos, resultado da greve de palavras — e de todo o resto — que me foi imposta pela minha namorada. Enganar a abstinência com a cafeína não surtiu muito efeito, até porque a cafeína não era a minha . E a minha , quando queria, sabia me maltratar.
— Eu vou pagar por aqueles dez minutos por toda a minha vida. — murmurei.
— Condenação exagerada. — deu seu parecer de advogado. — Você tinha que dar pelo menos uma passada no aniversário da , ela é filha do chefe! E o cara praticamente te pegou na porta do escritório e te arrastou até lá.
Suspirei lembrando da série de infortúnios que me colocaram no castigo severo em que eu estava atualmente. Sexta-feira, celular completamente descarregado, fim do expediente. Dr. Blake, meu supervisor, surge na porta da minha sala e me convida, cheio de dentes, para o happy hour da firma. Mesmo que eu não conseguisse avisar a , um pequeno atraso de dez minutos não me colocaria em problemas, certo?
Errado. Dez minutos foram mais do que suficientes para eu descobrir que não era um happy hourqualquer e que o bolo de dois andares em cima da mesa reservada para pessoal do escritório tinha o nome da nele, bem embaixo de uma faixa de feliz aniversário. Além disso, o maldito estagiário, fez questão de juntar todo mundo numa foto para os stories do instagram da firma. Não que eu quisesse esconder minha localização da , não era assim que as coisas funcionavam entre nós, mas o fato de ela saber por terceiros que eu estava (contra a minha vontade) no aniversário de uma mulher de quem ela não gostava nem um pouco era motivo bastante para ela querer minha cabeça.
Mas ela não quis. Nem a cabeça, nem o braço, nem o beijo, nem qualquer coisa que viesse de mim. Há doloridos cinco dias, tudo o que eu tinha da eram um semblante fechado e um bico de reprovação, motivados pela cisma com, palavras dela, “a pick me girl que fica acesa demais perto de você”. Por mais que o ciúme, ainda que sem motivo, tivesse um quê de adorável, a saudade estava começando a latejar. No peito e em países mais baixos.
— Por que você tá aqui, ? — reparei no meu relógio de pulso enquanto preparava uma xícara de café substituta para o desastre que foi a primeira. — Seu intervalo é daqui a uma hora.
— Vim te avisar da besteira que você fez antes que chegue no Blake. — bateu uma pasta amarela no meu peito. — Você mandou o relatório errado, mas se você largar esse seu café triste, dá tempo de redigir outro.
— Me desculpa. — aceitei a pasta com uma mão e esfreguei a testa com a outra. — Minha cabeça está um caos.
— Quanto tempo de castigo? — torceu os lábios e eu desejei não conhecê-lo tão bem a ponto de saber que ele estava se divertindo às custas do meu sofrimento. Exatamente como eu faria se estivesse no lugar dele.
— Cinco dias e contando. — desisti do café e tomei o caminho da minha sala. — Conhece algum bom advogado para reduzir a minha pena?
— Não posso te ajudar, amigo. — me acompanhou. — Isso me configuraria como cúmplice e eu não tô afim de receber a mesma sentença que você.
— Nesse caso, eu vou arrumar isso aqui e trabalhar na minha defesa. — olhei exausto para o meu computador.
— Boa sorte. — ele encostou a porta atrás de si. — Ah! — girou nos calcanhares e abriu a porta novamente. — Dá um jeito nessa sua cara, . Não pega bem um advogado com esse projeto aí de barba.
— A é quem faz pra mim. — passei a mão pelo próprio rosto, áspero, e baixei a cabeça na mesa, derrotado.
— Céus, homem. Reage, ou esse amor vai te matar. — incentivou, risonho.
— Eu morreria feliz. — sorri fraco.
— Então antes de morrer, faz a barba. Você é bem grandinho, sabe fazer sozinho.
Saber, eu sabia. Mas o “homem grandinho” que eu era se derretia todo com os carinhos que esse meu ritual me fazia ganhar da . Era uma coisa simples, mas era um momento nosso, um momento íntimo, gostoso, e até sensual — embora, àquela altura da seca, até mesmo o respirar da parecesse sensual.
Minha namorada era irresistível. E eu era um viciado.
Resolvida a crise do relatório, o caminho para casa foi tedioso e cansativo. Pelo relógio no painel do carro eu soube que deveria estar chegando também, junto com a sua greve de palavras contra mim. Estacionei de mau jeito na vaga do nosso apartamento, subi as escadas e abri a porta desgostoso ao me deparar com a sala vazia, sem sinal da bolsa, dos sapatos ou do sutiã, primeira coisa da qual ela se livrava.
Suspirei, desabotoando a camisa social e me conformando com a ideia de tomar um banho sozinho. O espelho foi cruel mais uma vez e eu me assustei com a minha própria cara, que precisava desesperadamente de um trato. Molhei o rosto, impaciente, e procurei a espuma de barbear entre os produtos do armário. Espalhei o conteúdo pelo lado direito da face e arrisquei o primeiro passar da navalha, mais rápida e mais afiada que o barbeador comum, obtendo algum sucesso. Mas a segunda passada foi traiçoeira e me arrancou sangue da pele da bochecha num corte fino e ardido.
— Porra. — joguei a navalha na bancada e procurei um pedaço de algodão para estancar a ferida, encontrando o pote vazio.
— O papel é melhor. — foi a voz da que me avisou, surgindo à porta e adentrando o banheiro para pegar rapidamente alguns lenços de papel, dobrando-os e apertando-os contra o meu rosto. — Pressiona assim, tá? Eu vou buscar um cubo de gelo, ajuda a parar o sangramento.
O sangramento era só um filete superficial, mas eu aceitei e obedeci. voltou no mesmo passo que foi e me limpou o corte com cuidado, massageando ao redor com a pedra de gelo e me causando um alívio instantâneo ao adormecer a área machucada. O toque dela era mais calmante que o cubo gelado, os dedos finos e tatuados começaram a passear pelo meu maxilar junto com o gelo e, em dado momento, a pedra se desfez nas mãos dela e escorreu pelo meu peito e pela minha barriga.
Rolei os olhos. O choque da temperatura era uma delícia.
— Quer que eu termine pra você? — sugeriu, observando o caminho que a água fez pelo meu tronco.
— Não sei se é uma boa ideia colocar uma navalha na sua mão quando você está com raiva de mim… — enxuguei o abdômen enquanto ela assistia.
— Não vou retalhar a sua cara. Você mesmo fez isso. — ela desviou o olhar e deu uma rápida analisada no ambiente, julgando a minha falta de preparo. — Você usou o hidratante?
— Não.
— A toalha quente? — ela cruzou os braços.
— Não. — cocei a nuca, flexionando de propósito o braço nu. — Na verdade eu só passei a lâmina e torci pra dar certo.
meneou a cabeça e fez um bico de reprovação. Um bico lindo que eu queria beijar.
— Pega a cadeira da minha penteadeira e coloca aqui. — ela se rendeu, separando uma toalha de rosto e ligando a água quente. — Eu faço pra você.
— Jura? — perguntei, empolgado com a iminência de contato.
— Tá com medo de eu cortar a sua garganta? — desdenhou.
— Tá com medo de não conseguir ficar longe de mim? — devolvi.
Sem responder, apenas testou a temperatura da água, colocando o pulso embaixo da torneira antes de encharcar a toalha, e eu deixei ela acreditar que eu não vi o discreto sorriso que ela quase falhou em segurar. Me enchi de esperança: minha namorada finalmente estava amolecendo, sensibilizada pelo meu pequeno acidente. Peguei a cadeira antes que ela mudasse de ideia e coloquei na frente da pia, sentando de costas para a cuba, onde preparava os produtos de que precisaria, já com o cabelo preso num rabo de cavalo alto.
Respirei pesado. Que saudade daquele pescoço…
— Me avisa se estiver quente demais. — ela torceu a toalha para tirar o excesso de água e abriu o tecido no meu rosto.
— Assim está ótimo. — respondi abafado.
— Fica cinco minutos cozinhando aí. — ela sentenciou. — Vai abrir seus poros e a lâmina vai deslizar mais fácil.
(POV )
me obedeceu feito um filhote de beagle, balançando nervosamente os pés descalços. A cena toda seria muito fofa se não fosse o tanquinho cor de caramelo e o peitoral imenso respirando pesado, brilhando com o suor que o vapor da toalha colocou no corpo dele. No corpo maravilhoso dele…
Estava ficando difícil resistir à greve de sexo que eu mesma impus ao meu namorado, mas sempre que eu lembrava da filha do chefe cheia de intenções com o meu , o ciúme subia de novo. Não sabia o que me irritava mais, se era a tal da toda sorrisos ou o sem perceber que estava sendo paquerado. Na verdade, eu não sabia nem porque eu ainda estava com tanta raiva, só sabia que, depois de quase uma semana, a coisa estava se canalizando num ponto muito específico do meu corpo.
E estava ficando impossível ignorar.
Chacoalhei a cabeça, voltando a me concentrar na minha tarefa. Limpei a lâmina e separei a loção de barba e a espuma para terminar o que tinha começado. Encaixei uma perna entre os joelhos dele e isso fez com que ele apertasse a própria coxa, amassando o tecido da calça.
Sorri. Eu tinha esquecido como era divertido provocá-lo.
Removi a toalha, revelando um rosto avermelhado e uma boca carnuda que se abriu minimamente, soltando um ar denso, primeiro sinal da excitação do meu namorado. Inclinei o corpo sobre ele, segurando-o pelo queixo e analisando o resultado da toalha quente, enquanto os olhos pretos desceram sem discrição para o meu decote, deixando a respiração dele ainda mais forte.
— Vou começar, tá? — avisei, abrindo a loção calmante e aplicando no rosto de com os dedos mesmo.
— Tá. — ele respondeu com dificuldade, espalmando as mãos nervosas pelas coxas outra vez.
Espalhei o creme de barbear logo em seguida, tentando ao máximo evitar a parte sensível do corte, mas um pouquinho de produto caiu na área e mordeu o lábio inferior ao mesmo tempo em que cravou as unhas na minha cintura, reclamando da ardência.
— Bebezão. — alfinetei.
— Tá doendo! — ele choramingou.
— Quando acabar eu coloco um curativo no seu dodói, tá bem? — prometi.
— E um beijinho pra sarar? — os olhinhos pretos brilharam.
— Não é porque eu tô te dando esse dia de princesa que eu não estou mais chateada com você. — falei, sem ter certeza se eu ainda estava chateada.
— Amor, eu já disse, eu passei naquela festa obrigado. — colocou a outra mão na minha cintura, fechando-a para fazer um carinho. — Tudo o que eu queria era chegar em casa logo porque eu estava morrendo de vontade de você. — ele arriscou continuar o carinho indo por baixo da minha blusa. — Eu ainda tô…
— Shh, fica quieto. — ordenei, me sentindo quase vencida pelo toque alheio. — Assim você vai acabar com outro corte.
Comecei a passar a navalha lentamente, me encaixando cada vez mais entre as pernas de para facilitar o meu trabalho e dificultar a vida dele. Ele se remexia na cadeira, aflito, e quando eu ainda estava na metade da barba, ele já lutava para acomodar o amigo dentro da calça. Alguns tortuosos minutos depois, já perto de finalizar, ergui o queixo dele, cobrindo o comecinho do pescoço com o creme branco, e analisei a melhor posição para barbear o único ponto que faltava.
A melhor posição, é claro, era sentar nele.
Fiz o movimento sem aviso algum, ouvindo sussurrar um palavrão e assistindo-o cruzar os braços atrás da cabeça ao me receber no colo. Ri sozinha, contornando o maxilar dele, e deixei o excesso da espuma cair pelo tanquinho exposto.
— Não se mexe, eu cuido disso. — ordenei.
sofreu por antecipação, enrijecendo o abdômen e segurando o fôlego nos pulmões. Aproveitei a desculpa e decidi passear pelo peito dele antes de chegar ao meu destino, descendo o indicador pelo torso malhado e marcado de músculos, até parar nos quadradinhos que começavam a aparecer na barriga dele. Limpei o excesso de espuma e, quando fiz menção de tirar a mão dele, segurou meu pulso firmemente.
— . — ele me chamou com a voz grave. — Não me obriga a ficar sem você. Eu sinto a sua falta.
— Eu percebi. — remexi no colo dele, deixando-o saber que eu estava sentindo o volume que se formava.
— Não é só disso que eu tô falando, mas, sim. Diminui a minha sentença, vai. — ele pediu, dengoso. — Eu e meu amigo estamos com saudades.
— Então você e seu amigo vão ter que se virar sozinhos. — avisei, mas não consegui me levantar.
— Como você tem feito? — sorriu ladino. — Eu sei porque você anda demorando no banho.
— Se você sabe, então limpa o resto da espuma do rosto e sai pra eu poder me divertir.
— Sai você de cima de mim primeiro. — ele passou a língua pelos lábios. — Ou você não consegue?
Ergui uma sobrancelha, fazendo minha cara mais cínica, e apoiei delicadamente as mãos nos ombros dele para me levantar. As pernas tremeram um pouco e meu corpo reclamou da ação no instante em que eu a realizei, mas se havia uma preliminar que eu gostava, aquela era deixar louco. E a julgar pela veia saltada na garganta dele e pela temperatura quente do corpo moreno, eu estava conseguindo.
— Terminamos. — avisei, largando a lâmina. — Eu vou tomar banho agora. — tirei a calcinha por baixo da saia. — Você pode assistir, se quiser.
— Já chega.
Fui prensada contra a parede de azulejos e, de repente, me senti febril. aspirou meu cheiro com força, mergulhando os dedos entre os fios do meu cabelo e enrolando meu rabo de cavalo na mão trêmula do desejo acumulado por dias. Entregue, apenas permiti que ele me arrastasse até a nossa cama onde, sem pudor nenhum, ele me beijou, me mordeu, me apertou, me sugou e me invadiu.
Primeiro com os dedos.
Depois com a língua.
E, por último, consigo mesmo, me fodendo com o prazer de demorar.
Todas as minhas estruturas internas agradeceram, dormentes do orgasmo que fez tudo latejar e a vista escurecer por alguns momentos. gritou meu nome, sôfrego, e aliviou-se derramando-se morno e gostoso dentro de mim. O quarto cheirava a um sexo desesperado e meu corpo ainda se contorcia quando caiu ao meu lado, exausto e satisfeito.
— Eu te amo. — ele confessou com a feição mais ingênua do mundo, como se não tivesse quase me partido ao meio segundos atrás.
— Eu… — acertei a respiração ofegante. — Eu também te amo.
— … — ele rolou para mais perto, enfiando-se entre os meus seios marcados da boca ávida dele. — Eu não sei ficar longe de você. Da próxima vez que você ficar com raiva de mim, vê se me belisca, puxa meu cabelo, sei lá, você pode até me bater. — rimos juntos da última parte. — Mas eu preciso do seu toque.
— Da próxima vez? — repeti. — Está dizendo que você vai me deixar com raiva outra vez, ?
— Não de propósito, eu prometo. — ele me selou, ignorando meu protesto.
— Então eu prometo te dar um tapa na cara em vez de um tratamento de silêncio. — bati no rosto dele de leve, no lado oposto ao corte.
— Eu sei que eu vou gostar muito disso. — ele mordiscou meu lábio. — Agora vem, eu vou te dar aquele banho e depois eu quero você de novo.
— Mas já? — me espreguicei, manhosa. — Você acabou de me ter.
— Não foi o suficiente. — me colocou nos braços sem esforço e me deu um beijo apaixonado. — Eu preciso de mais de você.
— Então quando estiver pronto, venha e pegue.
Fim
NOTA DA AUTORA:
A saudade do meu casalzão de Shadow, my Shadow me fez escrever essa oneshot bem melzinho com pimenta, do jeitinho deles. Espero que você tenha gostado!
Curiosidade: Escrita originalmente com Kim Mingyu do Seventeen, essa fic é um spin off da história principal (Shadow, my Shadow) e nasceu unicamente por causa de um vídeo do bonito fazendo a barba. O vídeo tem menos de um minuto, mas me perturba até hoje!
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