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School 2019

  O sol estava radiante assim que acordei. E olha que era somente o primeiro dia das férias de verão. Me espreguicei um pouco e levantei da cama sentindo a brisa da manhã entrar pela janela. Tinha deixado meio aberta por causa na noite calorenta. As últimas semanas não estavam sendo fáceis por causa do incêndio no Liberdad Café, principalmente para meu pai. Ele não queria mexer no dinheiro da minha faculdade para a reforma, nosso apartamento ainda tinha prestações da hipoteca. Era tudo muito complicado e já tirava o sono dele. Foi essa situação que me fez quase desistir de passar as férias de verão na casa dos meus avós em Oregon.
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  — Nunca dormi tão bem — sussurrei ao me levantar da cama.
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  Sim. Depois dos estudos para a semana de provas e passar horas em atividades extracurriculares visando o melhor para meu futuro acadêmico. Enfim, a melhor época do ano tinha chegado.
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  Caminhei até o guarda-roupa e retirei do fundo uma grande mala, tinha deixado para organizar tudo pela manhã, eu só queria dormir na noite anterior. Abri a mala e comecei a escolher as roupas que levaria, não tinha muitas, mas o necessário. Pelo que me lembrava, a última vez que visitei a casa dos meus avós eu ainda era uma criança. Não tinha lembranças boas, graças ao meu primo Simon.
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  — Espero que aquele chato não vá esse ano — sussurrei ao me lembrar de quando ele me jogou no lago.
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  Simon era o pior primo que alguém poderia ter, e vivia fazendo piadas sem graça. O pior é que eu estudava na mesma escola que ele, felizmente nunca na mesma sala.
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  Terminei de arrumar a mala e coloquei ao lado da cama, então peguei minha mochila e coloquei minha trilogia favorita de Jane Austen dentro, presente da tia Nalla. Troquei de roupa e segui para a sala. Para minha surpresa, encontrei papai conversando com o arquiteto que ele conheceu. Acho que seu nome era Sebastian, e estava rolando alguns boatos de ele estar namorando a tia Nalla.
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  — Bom dia — disse a eles.
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  — Bom dia, querida. — Meu pai me olhou com um sorriso esperançoso no rosto.
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  — Bom dia — disse o outro homem para mim, depois olhou para meu pai. — Eu preciso ir agora, nos vemos amanhã então.
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  — Claro, Sebastian. — Meu pai se levantou do sofá sendo acompanhado pelo arquiteto. — Mais uma vez agradeço por tudo.
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  — Só peço que mantenha sigilo sobre esse assunto — reforçou ele mantendo seu olhar inexpressivo.
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  — Quanto a isso não tem problema, ela jamais saberá por mim — garantiu meu pai.
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  Eu fiquei em silêncio esperando eles se despedirem, pensando quem poderia ser a pessoa que não poderia saber sobre a conversa deles. Assim que Sebastian saiu, papai me olhou ainda com animação e soltou um suspiro forte.
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  — A que se deve a visita daquele homem? — perguntei.
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  — Estávamos conversando sobre as obras do Liberdad — respondeu meu pai, ao se afastar da porta. — Então? Suas malas estão prontas?
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  — Só vou levar uma, papai — respondi prontamente. — Vou passar quinze dias lá, não preciso de muita roupa.
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  — Você tem três meses de férias e só vai ficar quinze dias? Não seja boba e aproveite, ano que vem tem vestibular e você terá que focar mais nos estudos.
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  — Eu sei, vou aproveitar bastante. — Sorri para ele e me voltei para a cozinha. — O café está pronto?
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  — Sim, eu fiz torradas — respondeu.
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  — Hum…
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  — Não gosta mais das torradas do papai? — Ele colocou a mão na cintura com olhar indignado.
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  — Eu gosto, mas me acostumei com as panquecas da tia Nalla. — Ri baixo.
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  — Traidora — disse papai me lançando um olhar atravessado.
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   Soltei uma gargalhada alta e caminhei até a geladeira, abri e retirei o galão de suco de laranja. A fome era imensa naquela manhã e eu me esbaldaria com as torradas do papai, recheadas de geleia de morango. Minhas horas de viagem de ônibus seriam cansativas, então teria que tomar um café da manhã reforçado.
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  — Filha. — Meu pai deu dois toques na porta do meu quarto.
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  — Sim?! — Eu o olhei ajeitando a mochila nas costas.
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  — Posso te pedir uma coisa?
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  — Claro, pai. — Permaneci com minha atenção nele.
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  — Não conte aos seus avós sobre… — Ele olhou para o lado, sabia que ainda sentia frustrado pelo ocorrido. — Não quero preocupá-los.
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  — Não vou contar — assegurei.
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  — Já me basta sua tia ter mencionado sobre o incêndio. — Ele pegou a minha mala. — Sua avó ligou desesperada para saber se eu precisava de dinheiro.
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  — Bem… No fundo a gente precisa — brinquei meio séria. — Mas sei o que pensa sobre pedir dinheiro a eles.
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  — Nós conseguimos nos manter, sempre foi eu e você, nós dois contra o mundo. — Ele sorriu confiante para mim.
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  — Sim, nós dois contra o mundo. — Sorri de volta para meu pai.
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   Eu não tinha lembrança nenhuma da minha mãe. Às vezes sentia falta de conhecê-la, saber como ela era, seus gostos e talvez até os defeitos. Mas então, a realidade me acordava: saber que ela não queria nossa família e havia nos deixado. Saímos do quarto e seguimos para a porta. Papai me levou até a rodoviária, estava pronta para curtir minhas férias.
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– x –

  — Vovô! — disse animada ao descer do ônibus e vê-lo me esperando.
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  — Querida. — Ele veio ao meu encontro e me abraçou.
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  — Que saudade — comentei.
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  — Sim, a última vez que te vi, você ainda era uma mocinha tão pequena que não passava disso. — Ele fez a medida de uma altura baixa e riu.
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  — Sua neta cresceu bem, vovô. — Ri junto.
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  Seguimos até o carro e o vovô me ajudou a colocar a mala no banco de trás. Fiquei admirando a paisagem noturna, o céu estrelado, a brisa e o luar. O ar poluído da cidade grande não era nada comparado ao puro do campo. O silencioso balançar das árvores, substituindo o barulho dos carros. Aos poucos, algumas memórias da infância foram invadindo meus pensamentos ao som das músicas que tocavam no velho rádio da clássica caminhonete do vovô. Assim que estacionou em frente à casa, vi as luzes todas acesas. Parecia estar movimentado lá dentro. Será que a família tinha se reunido naquelas férias?
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  Assim que entramos, minha empolgação foi para o espaço ao dar de cara com Simon e seu sorriso sarcástico. Por quê?
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  — Priminha — ele manteve o sorriso no rosto —, você também veio, agora as férias estão ficando interessantes.
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  — Fale por você. Te ver aqui é… — Bufei frustrada, dei um passo para seguir para a escada e peguei minha mala. — Onde está a vovó? Posso ficar no quarto do papai?
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  — Claro, querida, sua avó deve estar na cozinha — disse meu avô entrando com as caixas que estavam no porta-malas. — Me ajude aqui, Simon, que está pesado. — Meu primo foi ajudá-lo. Eu ri das caretas de Simon ao pegar as caixas pesadas.
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   — Vou levar minha mala antes de ver a vovó — avisei indo para a escada.
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  Eu não tinha me dado conta de como a mala estava pesada até arrastá-la pela escada. Quando cheguei no último degrau, pisei em falso e quase deixei a mala descer rolando, porém fui amparada por uma mão repentina.
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  — Obrigada — disse assim que me recompus e levantei o olhar. — ? — Senti meu coração acelerar um pouco. Por essa eu não esperava.
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  Eu sabia que era melhor amigo do chato do Simon. Sabia também do fato de ele ser filho da tia Nalla, mas nunca tinha me aproximado dele. Não por ser a tímida nerd com medo do garoto popular, afinal, era praticamente o melhor aluno da escola, difícil concorrer com ele, que sempre se destacava nas aulas de tecnologia e nas de ciências. Mas eu não queria me aproximar de nenhum amigo do meu primo, certamente todos eram farinha do mesmo saco. Mas o , seu olhar misterioso e seu lado atencioso com todos, me deixava confusa e amolecida.
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  — Opa, você quase caiu! — Ele sorriu espontaneamente e voltou seu olhar para minha mala. — Isso parece estar pesado.
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  — Um pouco. — Assenti.
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  — Eu te ajudo. — Ele pegou a mala com aparente facilidade. — Já sabe onde vai ficar?
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  — No quarto que era do meu pai — respondi.
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  — Hum. Do lado do meu então — disse .
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  — Como sabe? — Olhei estática pela informação.
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  — O Simon me contou. — Ele seguiu na frente. — E também me disse que você viria.
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  — Como ele sabia? — Apressei meu passo para acompanhá-lo.
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  — Sua avó contou a ele. — Continuou respondendo tranquilamente, senti que segurava o riso. — Aqui estamos. — Ele parou em frente à porta. — O quarto é seu, acho que deveria abrir — disse ele.
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  — Sim — concordei indo abrir a porta, então entrei primeiro e acendi a luz.
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  Era estranho para mim essa aproximação com um amigo do Simon. Não só isso. Todas as garotas babavam pelo . Segundo o jornal da escola, ele era o número 1 na preferência das meninas, e eleito o garoto mais bonito também. Tá que ele tinha seu charme, mas não era isso tudo que falavam.
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  — Aqui está — disse ele ao entrar atrás de mim e deixar a mala ao lado da cama.
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  — Obrigada. — Mantive minha atenção na janela.
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  — Você vai ficar até o final das férias? — perguntou .
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  — Não sei. Por que a pergunta? — Voltei meu olhar para ele.
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  — Vai ser legal ter mais alguém para conversar. — Sorriu de canto mantendo o olhar fixo em mim. — Gosta de jogar?
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  — Não muito. — Eu sabia que ele era louco por games, tanto quanto meu primo. — Gosto mais de ler um bom livro.
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  — Hum. — Ele fez uma careta engraçada. — Passo a vez.
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  — Cada um com sua diversão — disse eu.
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  — Tem razão. — Ele voltou seu olhar para a porta.
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  Meu primo estava gritando seu nome.
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  — Hora do jogo. — Seu olhar ficou mais vibrante, senti uma empolgação na sua voz.
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  — O que a energia elétrica não faz — sussurrei segurando o riso.
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   Deixei minhas coisas no quarto e desci atrás de . Corri para a cozinha e dei um abraço apertado em vovó, matei minha saudade de vê-la cozinhando para mim, pois ela estava preparando o jantar ainda.
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  — E como está seu pai? Por que ele não veio? — perguntou vovó.
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  — Como o Liberdad está em reformas, ele quis ficar para acompanhar — respondi me sentando na banqueta e a observando mexer nas panelas. — Papai está muito empolgado para deixar seu bebê sozinho — brinquei.
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  — Eu sempre fui contra seu pai montar aquela cafeteria, ao invés de arrumar um emprego com um salário fixo, ter o próprio negócio pode ser lucrativo, mas também traz prejuízos — confessou ela ao desligar as trempes do fogão.
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  — O papai sempre me disse que esse era seu sonho de criança — expliquei.
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  — O sonho do seu pai sempre foi ter seu próprio negócio, ser um empresário — corrigiu ela.
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  — Bem, ele ainda pode ser. — Eu ri.
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  — Vocês estão bem? — Ela me olhou séria. — Estão precisando de dinheiro? — Logo me lembrei da promessa feita a papai.
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  — Sim, vovó, está tudo sob controle — assegurei.
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  — Seu pai não tocou no dinheiro da sua faculdade, né? — Ela cruzou os braços.
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  — Não. — Eu me levantei e fui até ela, então dei um beijo em seu rosto. — Eu te asseguro, estamos bem, e minha faculdade está a salvo.
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  — Hum… Quero ver minha neta em Princeton. — Ela piscou de leve.
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  — Vai sim. — Sorri de leve para ela.
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  Eu a ajudei a colocar as coisas na mesa, então fui até a sala e chamei os gamers para o jantar.
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  — Senhor Deus, obrigado pela refeição… — disse vovô, depois que todos nos acomodamos nas cadeiras. — Pela nossa família e por nossos amigos, amém.
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  — Amém — dissemos todos em coral.
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  — O cheiro está gostoso, vó — disse Simon.
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  — Sim — concordou . — Vamos comer bem.
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  — Espero que gostem, fiz a especialidade da família.
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  — E o que seria? — a olhou.
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  — Ensopado de legumes e carne assada. — Os olhos dele se voltaram para mesa e brilharam.
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  — Só vocês dois vieram? — perguntei.
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  — Até agora sim — respondeu Simon. — Mas minha mãe vem amanhã com o Vincent.
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  Hum… Aí sim ficaria legal. Vincent era o primo bonzinho e fofo que sempre me defendia do Simon. O primo que eu nutria uma paixonite platônica até a sétima série. Como se fosse possível um romance desses. Ele tinha ficado noivo no ano passado, mas terminou com a garota não sei por qual motivo. Agora, o charme da família estava solteiro na pista, como sempre, arrancando suspiro das médicas e enfermeiras do hospital onde fazia residência.
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  Assim que terminamos o jantar, me ofereci para lavar os pratos e vovô me ajudou. Os meninos não perderam tempo e correram para o quarto, ficariam jogando a noite toda. Não achava graça naquilo. Viajar nas férias para ficar jogando. Deixei meus avós na sala sentados lado a lado no sofá de frente para a lareira, enquanto um curtia a companhia do outro. Era bonito observar a cumplicidade dos dois. Gostaria de me casar e viver assim, como eles, eternos namorados.
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  Me espreguicei sentido dores nas costas e subi as escadas. A casa dos meus avós não era exatamente um chalé, pois seu tamanho era bem maior que isso. Toda em madeira e muito aconchegante, era nosso refúgio no inverno e nas férias de verão, tinha um lago perto que nos proporcionava momentos divertidos. Ao chegar na porta do meu quarto, ouvi meu primo gritar e fiquei curiosa. Me aproximei do quarto ao lado que era deles e abri um pouco a porta. Simon estava no computador em ritmo frenético e sentado na cama rindo dele.
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  — Yah, eu quase morri aqui, esse cara não sabe jogar não?! — reclamou meu primo.
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  — Você não pode deixar o carro dele encostar no seu — aconselhou.
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  Naquela dupla de gamers esquisitões, era o mais experiente. Bem, no grupo de amigos deles, era sempre o destaque, mesmo sem querer. Como disse, melhor aluno, boas notas, melhor jogador, e agora estava até se destacando no time de basquete. Sendo filho da tia Nalla, tinha mesmo que ter algo especial nele. Mas não me impressiona nem um pouco. Logo virou seu olhar e se deparou com minha presença, eu me afastei e saí rapidamente, fechando a porta. Não demorou muito até que ele saiu e me olhou curioso.
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  — Quer aprender a jogar? — perguntou.
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  — Não, obrigada, como eu disse antes, não sou muito disso. — Segurei na maçaneta da porta para abrir.
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  — Gosta de conversar? — perguntou ele. — Você e minha mãe conversam bastante.
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  Foram raras as vezes que vi na casa da tia Nalla nas poucas vezes que a visitei. Era legal a amizade dela com o papai, ela era minha referência feminina, uma mulher inteligente, bonita e meiga. Se fosse para ter uma mãe, queria que fosse como ela.
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  — Mais ou menos, depende do assunto — respondi.
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  — Hum… Notei que gosta de HQs. — Continuou ele, parecia mesmo empenhado a se comunicar comigo.
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  — Sim, gosto bastante — admiti.
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  — É difícil encontrar garotas que gostam — comentou.
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  — É porque os garotos acham que são os únicos que sabem sobre essas coisas, e quando uma garota diz que conhece algo relacionado, vocês se mostram o PhD no assunto — expliquei. — É tão chato que desistimos de mostrar qualquer interesse — disse no plural, porém, era o que acontecia comigo.
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  — Entendi. — Ele sorriu de canto. — Bem que minha mãe fala que é desafiador o universo feminino, obrigado por me ensinar mais uma lição.
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  — Disponha. — Não me contive e sorri de volta.
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  Por essa eu não esperava. Simon era um garoto tão chato e metido a sabe tudo, que eu detestava conversar com ele sobre assuntos considerados favoritos no universo masculino. Falar sobre a Liga Americana de Basquete então, era suicídio. Mas parecia ser bem diferente do que eu imaginei.
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  — Simon me prometeu mostrar o lago que tem aqui perto, mas passamos o dia todo jogando. — Ele sorriu de canto.
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  — Não entendo como conseguiram, minha avó detesta tecnologia. — Olhei desacreditada.
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  — Acho que ela é compreensiva com quando tem visitas — comentou ele.
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  — Você quer ir lá agora? — perguntei de forma involuntária e espontânea. — O lago fica mais bonito à noite.
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  — Por sorte, acho que esta noite está mais estrelada. — Ele se afastou da porta e seguiu para a escada. — Acho que vai ser interessante um passeio noturno.
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  — Talvez — concordei não dando muita importância ao interesse dele.
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  Primeiro o segui até a escada. Já do lado de fora da casa, fui na frente mostrando o caminho para ele. Andamos por uma pequena trilha em meio a algumas árvores que levava até o lago. Fiquei parada no final da trilha enquanto ele continuou seguindo até a borda do lago. De onde eu estava, conseguia ver com nitidez o reflexo da lua no lago, o que me fez lembrar de alguns eventos do passado, quando fazíamos uma grande fogueira ali e virávamos horas contando histórias da família. Sinto falta dessa época, mesmo com as implicâncias de Simon comigo.
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  — Você não vem? — perguntou . — A brisa daqui está… Inexplicável.
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  — Bem-vindo à natureza. — Segurei o riso indo em sua direção. — Para vocês que vivem atrás de um joystick.
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  — Ah… Eu já presenciei muitos cenários legais através dos games. Mas tenho que admitir que esta… — Ele parou de falar, eu voltei meu rosto para ele e percebi que estava me olhando.
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  Me peguei meio intimidada com seu olhar fixo em mim. Não sabia se já tinha namorado realmente alguma vez na escola… bem, soube de alguns boatos que nunca foram confirmados.
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  — Esta? — insisti.
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  — Esta paisagem. — Ele voltou seu olhar para frente. — Ver ao vivo é mais interessante.
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  — Bem, depende da companhia também. — Eu segui seu olhar.
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  — Verdade.
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  Virei meu olhar para ele e percebi que mantinha um sorriso disfarçado no rosto. Me segurei para não sorrir também. Ele parecia estar se divertindo de uma forma silenciosa e curiosa. Ficamos ali por um tempo, em silêncio, observando a lua e sentindo a brisa da noite.
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  — Uau, que casa mais silenciosa! — Ouvi a voz de Vincent ao descer as escadas pela manhã.
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  — Vin! — disse ao me aproximar dele e o abraçar. — Há quanto tempo não te vejo.
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  — Olha só a nerd girl. — Ele retribuiu o abraço e esfregou de leve a mão no meu cabelo. — O que aprontou até agora?
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  — Nada. — Eu ri de leve. — Tia Joy!
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  — Oi, querida. — Ela me abraçou, também entre sorrisos. — Onde está seu pai? Ele veio desta vez?
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  — Não. — Eu me afastei dela e voltei minha atenção para Vincent, que olhava seu celular. — Papai está concentrado na reforma do Liberdad.
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  — E como está indo tudo depois do incêndio?
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  — Estamos sobrevivendo — brinquei e ri.
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  — Vamos, vamos todos para a cozinha, pois o café está pronto — disse vovó. — , vá chamar os garotos.
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  — Sim, vovó. — Assenti.
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  — Eles estão como zumbis na frente do computador?
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  — Eu nem sei para que vocês colocaram sinal de internet aqui — comentou tia Joy. — Simon nem sabe socializar, só fica jogando.
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  — Foi o filho que criaste — brincou Vincent.
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  — Não coloque a culpa em mim — protestou tia Joy.
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  — Vá chamá-los, querida — disse o vovô em risos.
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  Assenti em risos também e subi as escadas correndo. Bati na porta deles e abri para ver o que faziam. Ambos estavam desmaiados. Simon em sua cama e no colchão improvisado no chão. Certamente passaram a madrugada jogando, pois quando acordei às 4 para tomar água, ouvi vozes vindo do quarto deles.
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  — Não acho que eles vão acordar agora — disse num tom normal.
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  — Não estou dormindo. — abriu os olhos e ergueu seu corpo. — Bom dia.
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  — Bom dia. — Me encolhi surpresa por ele estar acordado. — Simon também…
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  — Não. — Ele riu se levantando.
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   estava sem camisa, o que me surpreendeu ainda mais. Eu já o tinha visto uma vez assim depois do treino de basquete, mas naquele dia estava tão concentrada na prova de álgebra. Porém, lembro perfeitamente as gotas de suor escorrendo pelo seu abdômen e as meninas do grupo de líderes de torcida suspirando. Desviei o olhar para o chão discretamente.
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  — O café está pronto. — Me movi para fechar a porta. — Acho melhor colocar uma camisa antes de descer. — Disfarcei o riso e fechei a porta.
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  O café da manhã foi divertido com Vincent contando suas histórias do hospital. Trabalhar como residente no Seattle Hollis Medical não era fácil, mas muito produtivo.
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  — E agora como está tudo lá no hospital? — perguntou vovó.
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  — Depois de toda essa mudança na diretoria, nós, que estamos na base da cadeia, sobrevivemos — brincou Vincent. — Já é um começo.
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  — Ah, fico feliz que tenha conseguido uma bolsa de estudos lá. — Vovó Somália deu um largo sorriso, seu olhar orgulhoso estava ali. — E você, mocinha? Já está se preparando para o vestibular?
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  — Ah, vó, não pressione nossa nerd girl, vestibular para ela é só ano que vem. — Vincent me defendeu e ao olhar para mim, piscou de leve.
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  — Você deveria puxar a orelha do Simon, isso sim — reclamou tia Joy. — Está com a ideia de ganhar dinheiro jogando esses games malucos.
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  Ela bem que tentou, mas tia Joy lançou um olhar atravessado para .
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  — E você, meu jovem? — Vovô John olhou para . — Também pensa em ganhar dinheiro jogando?
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  — Inicialmente sim, existem muitos gamers profissionais que ganham mais de 120 mil por ano — respondeu ele. — Mas também quero ir para a universidade.
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  — Pelo menos um tem juízo — disse titia.
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  — Não recrimine o garoto, Joy. — Meu avô soltou uma risada. — Os jovens de hoje não são como de antigamente que trabalhavam numa empresa até morrer, eles querem liberdade financeira até mesmo para escolher como vão ganhar seu dinheiro.
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  — Vovô entende de vida moderna — Vincent brincou nos fazendo rir.
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  — Conheci muitos jovens enquanto trabalhava na oficina — explicou ele.
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  — Que curso pretende fazer? — perguntei curiosa a .
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  — Ciência da Computação em Kyung Hee University — respondeu ele.
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  — Kyung? Que lugar é esse? — perguntou vovó.
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  — Universidade coreana — respondeu Vincent. — Ah, você é esperto, quer ir para o polo dos games.
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  — Sim — admitiu .
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  — Uau, você quer estudar do outro lado do mundo? A tia Nalla aceitou numa boa?
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  — Sim, ela me apoia em tudo — respondeu .
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  — Nalla? — Senti um sarcasmo vindo da voz da minha tia, seguido de uma risada debochada.
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  O olhar de ficou estranho. Ele parecia querer retrucar, porém permaneceu calado. Eu tinha certeza que tia Joy estava se referindo ao fato da tia Nalla namorar um homem mais novo que ela. Tia Joy era uma mulher tradicional e ao mesmo tempo amarga por um casamento de fachada, não sabia como tinha tido filhos com personalidade e pensamentos totalmente diferentes dela e do marido.
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  — Você conhece de universidades coreanas? — perguntei desviando meu olhar para Vincent.
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  — Conheci alguns intercambistas de lá — respondeu.
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  — Hum… Eu achei legal você querer ir para lá — disse a . — Se eu pudesse, faria moda em Paris ou design em Milão.
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  — A universidade de Yonsei tem tudo isso. — sorriu discretamente.
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  — Você sabe muito sobre as universidades de lá — comentou Vincent com um olhar desconfiado, como se analisasse ele.
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  — Comecei a gostar da cultura e pesquisar sobre depois que participei de um campeonato de League of Legends — respondeu com tranquilidade.
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  — Esse mundo de vocês tem tantos jogos. — Vovô riu. — O máximo que aprendi foi jogar FIFA. — Nós rimos dele.
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  — Esse até eu — soltei a informação sem perceber.
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  — Gosta de jogos de futebol? — me olhou impressionado.
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  — De esportes em geral, mas só jogo futebol com o vovô — deixei claro.
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  — Isso é porque o vovô sempre perde — brincou Vincent. Eu olhei indignada para meu primo, que soltou uma gargalhada maldosa, sendo acompanhado por nosso avô.
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  Continuamos o café. No final, eu ajudei minha avó a retirar a mesa e voltei para o quarto, arrumei a cama e peguei meu novo livro passatempo para ler: O Duque e Eu. Me sentei na cadeira de balanço da varanda e iniciei minha leitura silenciosa. Tive que parar por causa do almoço, mas depois retornei ao meu novo cantinho da leitura. Não senti o tempo passar, quando dei por mim, voltei meu olhar para frente e vi sentado no chão, encostado no guarda corpo me olhando.
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  — O que faz aí? — perguntei colocando o marcador na página e fechando o livro.
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  — Estava meio entediado de jogar e pensei que pudesse me divertir fazendo outra coisa — explicou com naturalidade.
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  — E parou do nada para me observar?
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  — Digamos que descobri que é divertido ver você lendo um livro, suas expressões faciais e reações… difícil explicar. — Ele sorriu de forma fofa, que me constrangeu.
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  — Assim me deixa envergonhada. — Elevei a mão no pescoço e mexi de leve em meu cabelo. — Então o gamer se entediou ao jogar?
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  — Hum… Sim — confessou.
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  — Isso é novidade.
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  — Bem, jogar não é meu único passatempo. — Ele sorriu novamente. — Gosto de fazer outras coisas.
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  — Como?
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  — Andar de skate — respondeu. Parecia algo aleatório, mas conseguia ver sinceridade no seu olhar. — Gosto de ser modelo vivo para a Molly quando ela não está dançando — brincou me fazendo rir. — Gosto de cozinhar para minha mãe, assim consigo ver um sorriso sincero e feliz em seu rosto.
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  Senti sua voz falhar um pouco ao mencionar tia Nalla. Não deveria ser fácil para ele lidar com o divórcio dos pais, ainda mais nas circunstâncias de traição. Eu tinha ouvido algumas conversas dela com meu pai sobre o assunto. Só pelo seu olhar eu conseguia ver que era um bom filho, e mesmo sofrendo com tudo, se esforçava pela felicidade da mãe.
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  — Se queria me impressionar, conseguiu — admiti ao sorrir.
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  — Que bom, porque queria mesmo.
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  Nossa troca de olhares rendeu um pouco, até Simon aparecer e atrapalhar tudo. seguiu com ele e Vincent até a cidade. Meus primos tinham a missão de apresentar a região para ele. Eu permaneci ali na varanda, absorvendo todo aquele momento maluco que tinha acontecido.
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  Duas semanas se passaram. E decidi que estenderia minha visita e ficaria até o final do mês. Sendo assim, vovô promoveu uma pequena festa no lago para comemorar a visita dos netos, com direito a presença dos amigos das casas vizinhas, já que Vincent voltaria de suas férias prêmio. Foi fácil me enturmar com o grupo de jovens presentes, mas não consegui me concentrar nem um pouco com as investidas de uma garota para . Ok. Eu não tinha nenhuma ligação com ele. Talvez pudesse dizer que uma amizade poderia nascer após esses dias de convivência. Nossas idas ao lago no meio da noite, sendo observada por ele enquanto lia na varanda. Compartilhamos muitos momentos juntos em duas semanas de férias. Talvez seja isso que esteja me deixando incomodada.
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  Me afastei de todos com minha inquietação e fui para casa, com a desculpa que a bateria do meu celular estava fraca. Assim que entrei no quarto, fechei a porta e me sentei na cama. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Eu era uma garota inteligente demais para me deixar ficar com ciúmes de um garoto como o . Bem, tinha que admitir que ele não era assim o babaca que eu pensava que era, e nada parecido com Simon, mas será que eu estava me apaixonando por aquele olhar fofo e cheio de mistério? Desde quando isso estava acontecendo?
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  — ? — disse ao entrar sem bater.
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  — ? — Me levantei da cama no susto. — O que faz aqui?
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  — Notei sua ausência. — Ele deu dois passos para dentro e fechou a porta. — E não foi pela bateria do celular.
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  — Do que está falando? — desconversei e fui até a escrivaninha pegar meu carregador. — É claro que… Com quem andou falando? — O olhei confusa.
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  — O nome da garota é Sarah, tem a nossa idade e gosta de séries teen — disse ele aleatoriamente. — Percebi que não gostou dela.
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  — Eu realmente não sei do que está falando. — Desviei meu olhar para a janela.
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  — Você fez o mesmo olhar de quando me contou sobre uma personagem que atrapalhava seu casal favorito do livro de ontem — continuou ele, senti sua movimentação. — Eu falo ou você assume?
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  — Assumir o quê?! — Virei meu rosto e me deparei com ele diante de mim. Paralisei de imediato, mas respirei tranquilamente e mantive a sanidade mental. — O que acha que devo assumir? — Coloquei a mão na cintura.
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  — Que está com ciúmes — respondeu.
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  — Não. — Ri dele. — Jamais estaria com ciúmes de você.
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  — Tudo bem então. — Ele se virou para sair.
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  — Aonde vai?! — perguntei segurando em seu braço.
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  — Voltar para a festa, Sarah disse que queria me mostrar uma cachoeira que tinha aqui perto — explicou ele.
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  — A essa hora? No meio da festa? — Era demais para mim.
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  — E o que tem? Apesar de eu saber as reais intenções dela, acho que vale a pena fingir que estou interessado para conhecer o lugar. — Ele me olhou. — Apesar de já saber que a paisagem não será tão boa assim.
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  Senti uma indireta. Logo me lembrei da nossa primeira noite em que o levei ao lago.
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  — Hum… — Eu soltei seu braço, mas senti que meu olhar triste poderia me condenar.
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  — Agora fiquei indeciso. — Ele suspirou. — Um ou dois?
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  — O quê? — Me peguei confusa de novo.
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  — Escolhe, um ou dois.
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  — Dois — disse no ímpeto. Ele se afastou e sentou no chão, encostando em minha cama. — O que está fazendo? — Segurei o riso.
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  — Um eu ficaria com a Sarah, dois ficaria aqui. — Seu olhar sereno me deixava em choque.
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  — Você não existe, . — Tentei não sorrir, porém saiu espontaneamente. Peguei o livro que estava lendo e me sentei ao seu lado. — Prometo não te deixar entediado, já que não quero voltar para a festa. — Abri o livro e tentei me concentrar nas palavras.
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  — Com você eu jamais fico entediado — confessou ele. Não me contive em voltar meu olhar para ele. Aqueles olhos fixos em mim com um sorriso escondido. — Um ou dois?! — perguntou novamente.
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  — Não vou cair de novo nessa. — Voltei meu olhar para o livro. — Sem resposta.
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  — Um ou dois?! — insistiu ele.
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  — ?! — O olhei novamente.
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  — Um eu te beijo, dois você me beija — explicou ele.
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  Minha mente nem teve tempo para absorver, pois meu corpo já tinha tomado impulso e o beijado de forma espontânea e suave. Aquele não foi meu primeiro beijo, mas poderia deixar valendo como, pois a doçura em que transmitia, compensa qualquer outra experiência desastrosa. E sim, ele era totalmente diferente do que tinha imaginado todo aquele tempo.
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  — Dois — sussurrou ele, dando um sorriso malicioso. — Eu gosto do número dois.
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  — Um ou dois? — brinquei com ele.
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  — Esse jogo é meu — retrucou.
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  — Responda.
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  — Dois. — Ele me olhou curioso por meus movimentos.
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  Então o beijei novamente deixando de vez qualquer insegurança de lado, somente me permitindo sentir algo pelo melhor amigo do meu primo babaca.
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Quero ser como seu diário, para saber os segredos do seu coração,
Quero ser como seu gato por apenas um dia,
Você me alimenta com leite quente e o abraça ternamente.
– Hug / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)

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Lelen
Admin
5 meses atrás

Ok, esse Joseph ficou um charminho 🥰🥰
E essa reunião familiar me lembra muito a minha infância, delicinha demais <3
Agora eu preciso ir ler Moonlight pra entender onde essas histórias se cruzam e pra saber quem é o Sebastian aqui :B


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