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Capa por Julia N.

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School 2018

1. Annyeonghaseyo

  Entrei no quarto batendo a porta, não acreditava no que estava acontecendo, a partir daquele momento seria obrigada a morar do outro lado do mundo com um pai, que se vi três vezes na vida foi muito. Certamente nem ele deveria se lembrar de tinha uma filha até então.
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  — Que droga. — sussurrei deixando meu corpo cair sobre a cama.
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  Tinha que admitir que não era a sobrinha perfeita, pelo contrário, já tinha dado alguns trabalhos para a tia Mary, principalmente pelo meu comportamento. O fato é que ninguém entendia o quão difícil para mim foi aceitar a morte prematura da minha mãe. Se ela estivesse aqui tudo seria tão mais fácil.
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– x –

  — Gostaria que não me olhasse desta forma. — disse minha tia ao chegarmos ao aeroporto.
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  — E como quer que eu te olhe? Está me abandonando com um estranho. — resmunguei.
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  — E ainda pergunta o motivo… — ela bufou. — Primeiro, ele não é um estranho, é seu pai. Segundo, eu te disse que seria sua última chance, não sei quando começou a agir assim tão rebelde, sempre foi uma boa garota. — tia Mary virou o olhar para a vidraça. — Tenho certeza que longe das más companhias você voltará a ser a mesma de antes.
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  — Mesma de antes? Tipo um robô onde você manda e eu só obedeço? — cruzei meus braços. — Esqueça.
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  — Então esqueça a ideia de voltar.
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  — Não me importo, daqui um ano faço maioridade, depois disso vou desaparecer totalmente, pode apostar.
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  Eu dei de ombros e ajeitando a mochila nas minhas costas, segui em direção à plataforma de embarque. Morar em Seoul era a pior decisão que minha tia poderia tomar para minha vida, mas não tinha outra escolha, encararia 24 horas de viagem e mais um ano em um país inteiramente desconhecido.
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  Como imaginado, meu pai nem teve preocupação de me buscar no aeroporto, seu assistente pessoal Chang que fez todo o trabalho sujo de me levar para o apartamento onde moraria, no bairro nobre de Gangnam. Acho que só agora a ficha havia caído e entendi o motivo pelo qual minha tia não desistiu de me pagar aulas particulares de coreano, ela já estava com tudo planejado para me jogar sob a guarda definitiva do meu pai.
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  Assim que chegamos ao nada modesto apartamento, Chang me explicou o óbvio, eu moraria naquele imenso lugar sozinha, pois a minha aparente madrasta se recusava ter a presença de uma bastarda em sua casa. Um prédio luxuoso de sete andares e dois apartamento por andar, o meu, para minha surpresa, era na cobertura, onde eu seria agraciada com um agradável terraço que proporcionava uma linda vista para o rio Han.
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  A decoração era clean e de poucos móveis, aparentemente confortável a primeira vista, tão amplo que eu poderia me perder ali dentro, e somente eu moraria naquele lugar.
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  — Como eu mencionei, o apartamento conta com dois quartos, o principal é seu e o outro de hóspedes, caso sua tia venha te visitar. — explicou Chang.
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  — Isso é meio duvidoso. — sussurrei.
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  — Suas aulas começam amanhã. — disse ele retirando um papel da pasta em sua mão e esticando para mim. — O uniforme e os materiais já estão no seu quarto, o carro virá te buscar às sete em ponto.
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  — O quê? — o olhei meio confusa — Escola, carro…
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  — O senhor Choi Young-do preferiria que tivesse um professor particular, mas a pedido de sua tia, você será enviada a uma escola. — explicou ele.
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  — Não sei o que me indigna mais, o pedido de minha tia, ou o senhor Choi querer me esconder da sociedade. — comentei comigo mesma indo em direção a sacada da varanda. — Bela família eu tenho.
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  Chang disse mais algumas recomendações sobre o apartamento, funcionários da limpeza e onde eu poderia comer, algo que me deixou desinteressada até que ele mencionou sobre uma tal tutora que me faria companhia. Assim que Chang foi embora, deixando uma lista de telefones de emergência e diversos sobre a bancada de refeições, joguei minha mochila ao lado do sofá e voltei meu olhar para as duas malas que tinham ido comigo.
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  — Que pesadelo. — sussurrei para mim mesma — Mamãe, por que teve que ir tão cedo?
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  Dei mais alguns passos subindo as escadas para o quarto principal que ficava no terraço, seu tamanho equivalia a duas quitinetes onde eu morava. Era louco imaginar que passei parte da minha vida vivendo de forma humilde e passando algumas necessidades, quando tinha um pai do outro lado do mundo cheio de dinheiro. Talvez por orgulho da minha tia que odeia depender das pessoas, ou por um pedido da minha mãe antes de morrer, não me importava o motivo, a realidade é que eu não existia para meu pai e agora para minha tia.
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  Estava sozinha no mundo!
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  Me espreguicei de leve ao adentrar aquele quarto, que era de deixar os olhos de qualquer pessoa brilhando, observando cada detalhe a decoração que seguia a mesma linha em toda a casa. Me aproximei da cama que estava sendo coberta por uma colcha púrpura, então reparei que os todos os pontos de cor daquele quarto eram os mesmos, será que ele sabia que era minha cor favorita?
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  — Não… Pare de pensar nisso , se tem alguma coisa que mister Choi não se importa, é com você. — respirei fundo voltando meu olhar para um porta retrato que estava ao lado da cabeceira.
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  De imediato reconheci a foto da minha mãe com um bebê em seu colo e ele ao lado, ambos com um sorriso que parecia sincero e feliz, certamente aquela foto representava o curto espaço de tempo em que eles ficaram juntos, até que a família Choi interferiu e minha mãe teve que fingir para ele que nós duas não existíamos, a parte da história que me fazia odiar estar na Coreia. Adentrei um pouco mais até chegar no closet, que estava cheio de roupas, coincidentemente o meu número, o que me levou a reconhecer um vestido meu desaparecido a um tempo, o único vestido que eu tinha por ter sido feito pela minha mãe antes de morrer.
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  — Então você não sumiu… — disse pegando o vestido e vagamente me lembrando de como minha mãe o bordava de forma dedicada. — Só foi extraviado… Mister Choi, o que acha que pode fazer com tantas referências de casa nesse lugar?
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  Meu afeto ele nunca teria, isso era um fato!
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  Voltei para a sala e fiz todo o processo levando minhas duas malas e a mochila para o quarto, peguei algumas das roupas que estavam nos cabides e prateleiras e joguei no chão ao canto perto da porta. Mais a frente estava o impecável uniforme da tradicional Jeguk High School, o mister Choi havia estudado lá quando mais jovem, eis aí mais uma curiosidade, não sabia muito sobre sua vida atual, mas quando minha mãe estava ao meu lado, ela adorava falar sobre ele e sua características de rebelde.
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  Até a tia Mary já havia mencionado tal semelhança minha com ele, principalmente por sermos inteligentes e não usar isso para as coisas positivas. Mas não me importava o quão parecida eu era com ele, meu foco era somente sobreviver um ano ali, para depois fazer da minha vida o que eu quisesse.
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– x –

  Oito horas da manhã, acho que o cronograma do assistente Chang havia ido pelo ralo, me espreguicei naquela imensa cama e abri os olhos com dificuldade, então ergui meu corpo ainda querendo ficar na cama, fui dormir tarde vendo alguns seriados na Netflix. Me levantei e, rastejando, caminhei até o banheiro, nem precisava me esforçar para demorar em me arrumar, estava com tanto sono que acabei dormindo na banheira de espumas.
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  Despertei novamente e já estava marcando onze da manhã, pensei um pouco se havia cumprido meu propósito diário, então estava tranquila para dar algumas voltas pela cidade, iria aproveitar o dinheiro no envelope escondido que achei dentro da gaveta da escrivaninha. Estava escrito que era para emergência, sair daquele apartamento era uma emergência, então peguei parte dele e joguei na mochila, coloquei uma roupa mais fresca em respeito ao dia ensolarado e parti para minha caminhada.
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  Continuei naquele mesmo procedimento durante mais alguns dias, não era minha intenção ir à escola, menos ainda seguir aquelas regras, até que chegou o dia em que na minha volta da diversão diária, uma visita indesejada me aguardava em casa.
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  — Então é isso que você faz todos os dias? — ele estava parado bem no meio da sala. — Caminha pela cidade o dia todo gastando meu dinheiro com comida?
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  — Melhor com comida do que com drogas. — disse de forma direta e sem pudor.
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  — Olhe o tom como fala comigo. — sua voz ficou mais alta, mas com a mesma firmeza.
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  — Sério? Você vai mesmo cobrar algo de mim? Durante anos da minha vida passei sem a sua presença e estou sendo obrigada a ficar aqui, nem mesmo me recebeu no aeroporto e ainda achou que poderia esconder a bastarda para não te causar problemas. — cruzei meus braços o olhando séria. — Acha mesmo que merece algo de mim?
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  Ele respirou fundo desviando seu olhar para o chão, parecia meditar em minhas palavras.
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  — Não quero que sua permanência aqui seja desconfortável para você, mas também estou pensando no seu futuro, ainda que não queira. — explicou ele. — Podemos fazer um acordo?
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  — Depende da proposta. — retruquei.
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  Ele sorriu de canto discretamente.
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  — Você vai à escola e seguirá o cronograma proposto pelo assistente Chang. — iniciou ele apontando para o cronograma em cima da mesa de centro. — Eu prometo não te cobrar nada e nem deixar que as coisas te faltem.
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  — Engraçado, só agora está preocupado com meu bem estar? — retruquei.
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  — Eu sempre me preocupei com você, deixei algo em cima da sua cama, vai entender. — ele retirou a mão do bolso e se voltou para a porta. — O carro estará aqui amanhã para te buscar.
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  — Vai me pedir para bater continência também?
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  Ele riu baixo.
  — Pode não querer, mas somos mais parecidos do que imagina. — ele se aproximou um pouco de mim.
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  Ele saiu fechando a porta de forma tranquila, e seguro de que eu iria cumprir com o acordo. Olhei novamente para o cronograma em cima da mesa e suspirei fraco, então subi as escadas até meu quarto, curiosa para saber o que ele havia deixado em cima da cama, era um livro do Nickolas Sparks em coreano, o favorito da minha mãe.
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  — Um amor para recordar. — sussurrei ao ler o nome. — Não acredito nisso.
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  Assim que o peguei, uma folha solta caiu no chão, ao pegar, percebi que estava dobrada no formato de uma carta e tinha a letra da minha mãe, soltei o livro na cama e abrindo o papel comecei a ler.
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  “Annyeonghaseyo Young-do…
  A quanto tempo não nos falamos, como imaginava, continuo sentindo sua falta, mas meu coração segue conformado com a nossa distância, sei que nunca irá nos esquecer mesmo com essas circunstâncias. Assim como jamais deixarei que nossa filha se esqueça do seu sorriso, até que ela possa estar com a idade de poder finalmente ser sua filha e enfrentar sua família, como você tentou por nós.
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  Agradeço pelo dinheiro que regularmente vem depositando na conta, mas sabe que só pegarei o necessário para o básico e deixarei o restante para que ela mesma saiba administrar, sei o quanto você quer nos proteger e nos dá todo o conforto para compensar sua ausência, tenho certeza que assim como o pai, nossa será muito inteligente e criativa.
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  Sigo ainda desejando que no futuro nos encontraremos…
  Saranghaeyo, Penny.”

  — Omma… — sussurrei. — O que mais não me contou?
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  Mesmo não querendo, estava um pouco mal por julgá-lo, porém, a referência sempre tinha vinha da tia Mary, que o julgava mal por ter abandonado minha mãe, mas agora, lendo isso, estava ainda mais curiosa para conhecer a tal família Choi.
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“Eu era muito jovem
Não sabia naquela época que eu iria te machucar
Agora eu sei
Mas é tarde demais.”

– I’m Saying / Lee HongKi

2. Jeguk High School

  Manhã de quinta-feira… Eu não sabia se podia considerar aquilo manhã ou madrugada, estava acordando antes das seis da manhã para ir à escola. Confesso que no Brasil era bem mais cômodo para mim morar na rua de trás da escola, agora aqui eu nem imaginava onde ficava o tal colégio. Quem em sã consciência começa seus estudos numa quinta-feira? Era tentador faltar o resto da semana e quem sabe começar na segunda, foi em meio a estes pensamentos que a campainha da porta principal tocou.
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  Me espreguicei na cama e levantei quase arrastando para fora do quarto, ao olhar na câmera ao lado da fechadura super tecnológica da porta, era o senhor Chang, minha escolta já estava ali.
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  — Ah, bom dia, senhorita Choi. — ele sorriu gentilmente.
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  Segurei o riso, ao imaginar que ele poderia perder o emprego se eu não aparecesse naquela escola hoje.
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  — Bom dia, Chang. — abri um pouco mais a porta e me afastei seguindo novamente para a escada. — Preciso de dez minutos e pode me chamar de , odeio formalidades.
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  — Como desejar. — ele se curvou de leve e se posicionou ao centro da sala.
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  Tentei não me importar com aquele gesto de funcionário do ano e voltei para meu quarto. Fiquei uns cinco minutos olhando para aquele uniforme de princesinha europeia fazendo uma diversidade de caretas, após um sorriso maldoso de minha parte, coloquei uma calça jeans com rasgos na região da coxa e uma regata preta, acompanhada do all star surrado e da camisa xadrez preta e vermelha que ganhei do Luís antes de partir.
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  Assim que desci as escadas e Chang me viu, quase enfartou. Segurei o riso novamente, estava engraçada sua cara de desespero.
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  — Podemos ir.
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  — Na… Na… Na… — ele parecia tentar falar meu nome.
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  — O que foi? — ajeitei a mochila nas costas.
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  — Você não pode ir à escola assim. — disse ele. — Seu pai me mata.
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  — Então prepare seu caixão. — sorri de leve e peguei meu skate que tinha deixado ao lado do sofá. — Agora vamos, que não quero chegar atrasada, já que você insistiu em vir me buscar às 6, sendo que a aula é às 7.
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  Me afastei dele e saí pela porta. Ninguém disse nada que eu deveria ir com o uniforme, não estava no acordo. Ao chegarmos na rua, Chang abriu a porta de trás para que eu entrasse, se ele não era o funcionário do ano, não sabia quem poderia ser. Passei todo o caminho com meus fones de ouvido, não me importando com a paisagem ou qualquer outra coisa, mantive meus olhos fechados e minha atenção nas músicas. 
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  Assim que o carro parou, abri os olhos e vi o grande portão, alguns alunos já chegavam na escola de bicicleta, outros de carro também, e uma rara parcela a pé, porém todos com seus olhares para o nosso carro. Quando saí, os olhares permaneceram ainda mais notáveis, juntamente com comentários e cochichos. Que ridículo! Tinha mesmo que passar por isso? Acho que não. Chang me acompanhou até a diretoria Cha Eun-sang, segurei minhas piadas internas ao máximo, principalmente pelo fato de poder colocar um acento no chá… Me mantive séria e desinteressada enquanto eles conversavam sobre mim, com os fones de ouvido e o olhar para fora da janela.
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  — Choi ? — ouvi de leve ela me chamar.
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  — Hum? — a olhei retirando os fones do meu ouvido.
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  — Seja bem-vinda a nossa escola. — ela deu um sorriso caloroso e gentil, fazendo lembrar o da minha mãe.
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  — Obrigada. — respondi de forma seca.
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  — Chang, todos os horários dela já estão com a secretária, se precisarem de mais alguma coisa, não hesite em me procurar. — ela voltou seu olhar para mim. — Eu e seu pai somos grandes amigos, é um prazer te conhecer.
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  Mantive-me em silêncio, pensando no que eu poderia estar fazendo no Brasil a essa hora, certamente dormindo ou indo para casa de uma amiga e matando aula. A diretora Chá Matte fez questão de me levar por um tour mostrando a escola, enquanto contava algumas histórias de sua época como aluna. Algo que parecia até essas fanfics da bolsista que se apaixonou pelo filho do dono da escola, e agora é rica e poderosa.
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  Me afastei deles em um momento de distração que um professor veio nos cumprimentar, então entrei no primeiro corredor que apareceu, subi dois lances de escada e continuei a observar e avaliar o lugar ao meu redor. Bonito, arrumado e limpo são palavras boas de classificar, em um dado momento maluco me entreti com uma pintura de uma árvore de cerejeira que estava na parede e dando alguns passos de costas, acabei trombando em alguém. 
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  — Ei! Não olha por onde anda? — reclamei assim que me senti sendo amparada pela pessoa, me afastei e olhei.
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  — Se não percebeu, eu estava aqui antes mesmo de você chegar. — o garoto deu uma risada debochada. — E não estava andando de costas.
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  — Se me viu, deveria ter saído do caminho. — retruquei. — Não importa também.
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  Me afastei dele e voltei minha atenção para a pintura, flor de cerejeira era a favorita da minha mãe, por fazê-la se lembrar do mister Choi. Mesmo em meio ao silêncio percebi que o garoto continuava ali com seu olhar em mim.
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  — Não tem mais nada para fazer, não? — perguntei me sentindo incomodada pelo seu olhar.
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  — Como disse, cheguei primeiro. — ele sorriu.
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  — Ridículo. — bufei de leve e coloquei um dos fone do ouvido, mexendo na tela do celular com a outra mão.
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  — Anda de skate? — perguntou puxando assunto.
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  — Não está vendo esse pendurado na minha mochila? — mantive meu olhar no celular.
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  — O fato de ter, não quer dizer nada. — ele desencostou da parede e passou por mim. — Muitas pessoas têm educação e não a usam.
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  Eu virei minha face para ele automaticamente, que já se afastava de mim. Ok, por essa eu não esperava, aquele intrometido me chamando de sem educação. 
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  — Ah, . — Chang me chamou da outra ponta do corredor. — Estava a sua procura.
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  — Estou aqui, ainda. — comentei desinteressada.
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  — Peguei sua quadro de aulas e lista de atividades extracurriculares. — disse ele com entusiasmo.
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  — Extra o quê?
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  — Extracurriculares. — repetiu. — Existem alguns clubes na escola que ajudam a compor esta lista, você pode entrar para o clube de leitura, líderes de torcida, esportes, xadrez, estudos, tem um clube de ciências que é maravilhoso, eu já participei nos meus tempos.
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  Ele parecia mesmo empolgado com o ambiente escolar, certamente tudo aquilo deveria lhe trazer boas lembranças.
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  — Eu posso escolher não participar? — perguntei.
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  — Não. Saiba que estar um clube conta méritos para o seu currículo acadêmico. — explicou ele. — É muito importante.
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  — Eu não pretendo ficar aqui por muito tempo, quem liga para currículo acadêmico? — cruzei os braços.
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  — Todo mundo aqui, e a senhorita deveria. — ele esticou o papel para mim. — Se um dia desejar enfrentar a megera e a malévola.
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  — De quem está falando?
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  Ele se calou e olhou para trás de mim, como se estivesse vendo um fantasma. Me virei para saber qual a visão que o fazia tremer de cima para baixo. Uma mulher até elegante e muito bem vestida estava vindo em nossa direção, cada passo parecia estar caminhando por um tapete vermelho cheio de ostentação.
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  — Então você é a bastarda. — disse ela de forma rude.
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  — E você é?
  — Esta é a senhora Choi Sora, a esposa do mister Choi. — respondeu Chang.
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  Agora estava explicado sua reação. 
  — Chang, poderia nos deixar a sós? — disse ela em um tom de ordenança.
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  — Claro, senhora Choi.
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  Ele deixou o papel comigo e antes de se retirar, disse que voltaria para me buscar. Ela permaneceu com seu olhar superior, me analisando como aquele olhar de… Certamente ela era a megera. 
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  — O que quer comigo? — perguntei.
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  — Só queria saber como é a filha da brasileira. — ela tentou manter sua pose, mas conseguia ver em seus olhos que tinha um certo ciúmes da minha mãe.
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  Loucura, pois já tinha anos que ela havia falecido.
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  — Agora que já me viu, eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui. — me afastei dela.
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  — Espera. — ela segurou firme em meu braço.
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  — Me solta. — me remexi para me soltar dela.
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  — Só quero te avisar que sua presença não mudará em nada, você sempre será a bastarda que ninguém quer aqui. — sua voz aveludada tinha aquele traço de mulher vingativa.
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  — Acredite. — eu me soltei dela à força — Eu também não quero estar aqui.
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  Eu me afastei finalmente e segui até chegar ao fundo. Quando virei para a escadaria, lá estava o garoto intrometido de antes.
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  — Está tudo bem? — perguntou ele.
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  — Não te interessa. — continuei minha direção e desci as escadas.
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  Passei os horários sem me preocupar em assistir às aulas, fiquei caminhando pelos corredores até o horário do intervalo. Ao chegar no refeitório, estava já movimentado com seus grupinhos de alunos reunidos pelas mesas, soltei um suspiro cansado, de quem não queria enfrentar essa fase Gossip Girls da vida. Passei por todos e me sentei em uma mesa vazia ao fundo, coloquei meus fones e fiquei mexendo no celular. Sim, queria aparentar ser o mais antissocial possível para todos.
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  — Oi. — disse uma garota ao se aproximar.
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  — Hum? — a olhei retirando um dos fones — O que foi?
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  — Posso me sentar aqui? Com você?
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  — Não tem outro lugar? — perguntei.
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  Ela ficou em silêncio me olhando com uma carinha de gato de rua com fome, aqueles olhinhos puxados e rostinho de boneca de porcelana, estava tentando imaginar o motivo dela querer se sentar ali.
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  — Tudo bem. — suspirei voltando meu olhar para meu celular.
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  — É seu primeiro dia aqui? — perguntou ela.
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  — Sim.
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  — Você é a filha do…
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  — Choi Young-do? Sim, sou eu, por quê? — a olhei.
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  — Então você é a garota que estão comentando há três semanas. — ela me olhou surpresa.
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  — Não era óbvio? — agora estava admirada.
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  — Desculpa, é que atualmente tem sido normal alunos de intercâmbio na escola. — ela se encolheu um pouco. — Eu achei que você fosse alguém comum como eu, mas sentada aqui.
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  — Comum? Não entendi.
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  — É que aqui no colégio temos nossa pirâmide hierárquica, e eu estou na base da cadeia alimentar. — explicou ela.
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  — Entendi, você é bolsista. — constatei.
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  — Sim, me desculpe por me sentar aqui, mas… 
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  — Não precisa explicar, já entendi. — voltei a mexer no meu celular.
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  — Hania, eu estava te procurando. — disse um garoto baixinho ao se aproximar. — Como conseguiu um lugar para… Uau, a bastarda.
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  — Jinho? Cala a boca. — disse a tal Hania em repreensão.
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  — Aish, me desculpa, eu não deveria dizer assim.
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  — Não precisa repreendê-lo, ele só disse a verdade. — eu ri enquanto digitava.
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  — Está explicado o motivo de ter conseguido sentar nessa mesa.
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  — O que tem a mesa?
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  — Ela pertence aos membros da sua família. — Hania respondeu. — Como eu disse, a hierarquia da elite é bem forte aqui.
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  — Espera, quer dizer que ninguém senta nessa mesa porque ela pertence à família Choi?! 
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  — Sim. — o garoto se sentou ao lado da menina me olhando de forma curiosa. — Você não sabia?
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  — Não, acabei de chegar, só vi a mesa vazia e me sentei. 
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  — O sangue sempre fala mais alto, só pode ser. — ele bufou um pouco. — Queria ter tido essa sorte na vida.
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  — E acha que eu tenho sorte? — voltei meu olhar para ele.
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  — Você é oficialmente a segunda aluna mais rica da escola. — explicou Hania.
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  — E quem seria o primeiro? — fiquei curiosa.
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  — Kim . — respondeu ele, apontando disfarçadamente para o garoto que adentrava o lugar, atraindo os olhares de todas as meninas.
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  Coincidentemente, era o intrometido do corredor de mais cedo.
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  — Só pode ser brincadeira. — balancei a cabeça negativamente. — Deixa eu adivinhar, é o filho da diretora?
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  — Sim. — Hania me olhou. — Ele é realeza como você.
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  — Eu sou uma bastarda, Hania. — expliquei minha condição.
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  — Ainda assim é realeza, e pelo que sei, a única herdeira do grupo Zeus. — confirmou ela.
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  — Única herdeira? — por essa eu não esperava. — Tipo, filha única?
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  — Sim. — disseram ambos em coral.
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  Não sabia nenhum tipo de informação sobre a família Choi, mas aquele detalhe era mais do que suficiente para me fazer entender o motivo da megera e suas palavras ásperas comigo.
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  — O que a plebe está fazendo na minha mesa? — uma voz fina, aguda e levemente irritante soou ao centro do refeitório. 
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  Voltando a atenção de todos para mim, Hania e Jinho. Não entendi o motivo, mas meu olhar se voltou para por instantes, que mantinha sua atenção em mim também.
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  — Essa não é a sua mesa mais. — disse Jinho a desafiando.
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  O barulho de cochichos foram tomando conta do lugar.
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  — Esta mesa pertence à verdadeira herdeira da família Choi. — Jinho continuou.
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  — Como ousa, plebeu, você está na base, nem deveria falar comigo. — retrucou a garota, seu olhar superior me lembrava alguém.
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  O garoto nem era meu amigo e já estava comprando brigas em meu nome, estava chocada, mas gostando, se isso irritava alguém tão arrogante, tinha meu aval.
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  — Jinho, pare de comprar briga com ela. — Hania agarrou seu braço o fazendo recuar. — Me desculpe, Tiffany, ele não está no seu estado normal.
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  — Saiam da minha mesa. — gritou a menina. — Agora!
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  — Eu não vou sair. — disse tranquilamente. — E não estou vendo seu nome escrito aqui.
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  O olhar da garota veio em minha direção, até o momento talvez ela não tinha prestado a atenção que eu estava presente. Ela engoliu seco, como se não esperasse me ver e como se me conhecesse.
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  — Tiff, ela não é a… — disse a garota que estava atrás dela.
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  — Fique calada, Mina. — a tal Tiffany manteve seu olhar, agora de raiva para mim. — Vamos embora desse lugar nojento.
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  Ela se virou e saiu pelo menos caminho que entrou, com todos comentando ao redor. Jinho que segurava seu coração na mão, por ter afrontado a garota.
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  — Aish, pensei que ela fosse me jogar na guilhotina. — ele se sentou na cadeira.
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  Eu comecei a rir de sua cara de medo e covardia.
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  — Nossa, onde está aquela coragem toda? — perguntei ainda rindo.
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  — Depois daquele olhar de fúria, acho que se escondeu no banheiro. — ele estava ainda mais branco do que já era.
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  — Você foi um louco de enfrentar a Tiffany, ela é super vingativa. — Hania o repreendeu novamente.
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  — Agora estou curiosa para saber quem é a garota vingativa.
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  — Você deveria, ela é a sua irmã. — respondeu Jinho.
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  — O quê? — o olhei confusa — Eu não sou filha única?
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  — Biologicamente, sim. — a voz de me fez voltar o olhar para ele.
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  — Olha o intruso. — me levantei da mesa. — Você realmente gosta de ouvir as conversas alheias?
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  — Você é sempre assim? — ele sorriu de canto.
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  Peguei minha mochila e retirei o skate que estava pregado nela.
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  — Esse lugar já deu pra mim. — sussurrei.
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  — Você vai embora? — Jinho me olhou temeroso.
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  — Não se preocupe, baixinho, se a megera filha implicar com você, me chama, vou adorar lembrar ela que sou a bastarda herdeira legítima.
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  Saí de perto deles rindo. Ainda falta algumas horas de aula, mas não me importava com isso, segui em direção ao jardim do grande pátio e caminhei até o muro da lateral, joguei minha mochila e o skate do outro lado.
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  — Vai mesmo fugir assim? — perguntou aquela voz atrás de mim.
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  — Que garoto chato, você realmente tirou o dia para me seguir? — o olhei intrigada.
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  — Não estou te seguindo, ou melhor, não das outras vezes. — ele riu. — Mas confesso que estou curioso para saber onde a garota rebelde vai de skate.
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  — Quantas vezes terei que te dizer que minha vida não te interessa. — tomei impulso e subi no muro. — Volte pra sua vida garoto certinho e me deixe em paz.
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  Pulei para o outro lado sem o menor remorso. Passaria o resto do dia em minha aventura andando de skate pelas ruas da cidade.
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Não ligo se é veneno, tomo tranquilamente
  Nenhuma tentação pode ser mais doce ou forte que você. 
  – Last Romeo / Infinite

3. Good boy

  Dois meses e eu já não aguentava mais aquela rotina diária. Era óbvio que minha fuga logo no primeiro dia de aula não sairia de graça e minha detenção foi ajudar a bibliotecária a organizar todos os livros daquela imensa biblioteca, ou seja, trabalho tedioso após o final da aula por algumas semanas, além de uma breve conversa com meu pai repetindo que tínhamos um acordo que eu estava quebrando.
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  Então, se eu não podia me divertir durante o dia, comecei a cogitar a ideia de me divertir à noite.
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  — Bom dia, plebeus. — brinquei ao me aproximar da carteira onde meus dois novos fãs sentavam e me sentei na mesa de Jinho. — Adivinha quem finalmente concluiu sua detenção da biblioteca?
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  — Uau…. — Hania me olhou admirada. — Pensei que não terminaria nunca.
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  — Aquela biblioteca parecia infinita. — comentei. — Mas entre mortos e feridos, salvaram-se todos. — brinquei. — Terminei este sábado.
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  — Você é minha heroína. — Jinho me olhou com os olhos brilhando.
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  — E qual será a próxima travessura? — Hania riu baixo. — Além de não vir de uniforme.
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  — Eu juro que não é proposital, mas aquele uniforme insiste de se jogar na privada. — segurei um riso maldoso e eles me acompanharam. — Além do mais, não gosto de saias.
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  — Se eu fizer isso, meu pai me mata. — disse Hania. — Ele se mata todos os dias pra me manter aqui.
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  — Você sempre menciona seu pai, mas nunca fala sobre sua mãe. — comentei curiosa.
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  Não sabia ao certo se eu havia me aproximado de Hania e JInho ou se eles haviam se aproximado de mim. Talvez por duas razões em comum: um, eles precisavam de alguém da realeza para defendê-los; dois, eles eram divertidos e me tratavam com naturalidade como se eu fosse uma aluna “comum”, mesmo se privilegiando em sentar na mesa da minha família. Como eu estava totalmente longe dos meus amigos do Brasil, estava sendo interessante me socializar com eles, afinal, sabiam tudo sobre todo mundo da escola. Ou seja: fofoca garantida.
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  — Minha mãe morreu quando eu nasci. — disse ela num tom baixo e com traços de tristeza em sua voz. — Não a conheci, mas meu pai fala bastante dela.
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  — Eu lamento. — disse, sabia em partes como ela se sentia. — Também perdi minha mãe há um tempo, pelo menos você tem seu pai.
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  — Você também tem o seu. — retrucou a voz conhecida de uma pessoa intrusa.
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  — Kim . — voltei meu olhar para o lado.
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  Ele estava debruçado sobre a mesa, parecia que estava dormindo ali. Aquilo era novidade, o aluno modelo dormindo em sala e a aula nem tinha começado.
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  — Antes que diga alguma coisa. — ele levantou a cabeça, seus olhos estavam nítidos o cansaço. — Desta vez eu cheguei primeiro.
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  Ele sorriu de forma debochada.
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  — Somos da mesma sala, infelizmente. — me levantei da mesa e me sentei na cadeira ao seu lado.
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  Não sabia se foi proposital o professor Han me colocar ali, mas era mais uma forma do aluno modelo se intrometer na minha vida.
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  — Parabéns pelo trabalho na biblioteca. — ele sorriu espontaneamente. — Minha mãe ficou admirada.
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  — Não diga. — mantive meu olhar de desinteresse para ele.
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  Ele mantinha seu olhar profundo em mim, como se estivesse tentando ler meus pensamentos. Era estranho e ao mesmo tempo curioso, sempre estava em quase todos os lugares que eu ia naquela escola, e não economizava em suas perguntas sobre o que eu iria fazer ou onde iria. Será que o garoto certinho ainda não percebeu que eu gosto de ser a menina rebelde?
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  — Ah… Ainda estou indignada por este colégio aceitar qualquer pessoa. — Tiffany fez questão de dizer em voz alta ao se sentar em sua cadeira, acompanhada da amiga.
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  — Pelo menos você está a salvo em casa. — comentou Mina.
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  Se aquilo era para ferir meu orgulho, eu não me importava se meu pai ainda queria esconder a bastarda. Para ser honesta, estava mais do que feliz por poder morar em um lugar bem longe da megera.
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  — Que tédio. — sussurrei colocando meus fones de ouvido.
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  Era assim que eu passava praticamente todas as aulas. O acordo era ir para a escola e não fugir mais, porém, não havia nenhuma exigência para ser a aluna perfeita. Debrucei sobre a mesa e fechei meus olhos, minhas últimas noites haviam sido recheadas de maratonas na Netflix. As horas se passaram e após o final da aula, convidei meus novos amigos para irem ao meu apartamento em comemoração ao final da minha detenção.
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  — Uau…. — Hania deu um giro 360 olhando a sala de estar. — Aqui é lindo.
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  — Lindo mesmo é essa vista. — gritou Jinho da varanda. — Uahhh… Então é assim que vivem dos herdeiros?
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  — Não sei como vivem os outros, mas esta é a humilde cobertura onde eu moro agora. — retruquei. — E você ainda nem viu o terraço, a vista para o rio Han é bem melhor de lá.
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  — Seu pai não quer me adotar, não? — Jinho adentrou na sala com uma cara de cachorro sem dono. — Sou um bom aluno.
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  — Eu soube que mister Choi não era assim tão bom também. — comentei. — Então você não faz o estilo dele.
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  Nós rimos.
  — Mas acho que já disse que nem sempre é tão bom ser filha dele. — tomei impulso e me sentei na bancada da cozinha planejada.
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  Eu já estava me habituando ao conceito aberto daquele lugar. Impecáveis móveis sob medida, cores neutras, alta tecnologia, era o apartamento dos sonhos para qualquer jovem independente. Mas eu não era independente, e isso estava me me preocupando um pouco; se eu queria ir embora assim que fizesse 18 anos, eu precisava ter dinheiro para isso e não seria do mister Choi.
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  — Está pensando do quê? — perguntou Hania ao sentar na banqueta de frente para mim.
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  — Nada. Somente pensamentos aleatórios. — respondi, rindo de Jinho.
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  Meu amigo estava mais do que confortável em meu sofá, despojado e já com o controle em sua mão ligando a televisão.
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  — Aish. Esse garoto é mesmo um folgado. — Hania o olhou boquiaberta.
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  — Deixa ele. Não é todo dia que pode desfrutar do luxo de ser um herdeiro. — eu ri.
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  — Unnie. — ela me olhou.
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  — Hum? O quê?
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  — Como foi a conversa com a diretora? Sobre seu uniforme? — perguntou curiosa.
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  — Ela me pediu pra tentar usar pelo menos uma vez. — respondi. — A diretora Cha até que é uma pessoa legal, mas não tenho vontade de vestir.
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  — E quanto ao seu pai? — perguntou Jinho. — Ele disse alguma coisa?
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  — Não, mas todos os dias de manhã tem um uniforme novo me esperando no cabide. — suspirei. — Eu só quero que o tempo passe para que eu volte para o Brasil.
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  — Vai mesmo voltar? — Hania me olhou triste.
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  — Sim… Eu gosto de vocês, mas não sinto que aqui seja meu lugar. — assenti tranquilamente.
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  Nem mesmo sentia Young-do como meu pai, apesar de ter lido algumas cartas da minha mãe. Deixando o momento nostalgia de lado, propus uma maratona de filmes. Liguei para o serviço de entrega de comida e pedi pizza, foram longas horas nos divertindo e rindo dos comentários aleatórios que Jinho fazia a cada personagem importante que apareciam. Ao final da noite, o pai de Hania veio buscar eles e eu fui para o banheiro tomar banho.
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  Senti uma leve dor de cabeça, provavelmente por ter ficado muito tempo olhar para a tela da televisão. Não somente por isso, eu não estava dormindo direito a noite por causa das minhas maratonas e também não comia direito por não gostar das diversas comidas apimentadas do serviço de entregas. Se minha mãe me visse assim, eu ficaria um mês de castigo sem meu skate.
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  — Não acredito. — eu ri dando algumas gargalhadas. — Não acredito que estou com saudades dos seus castigos mãe.
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  Parei no meio do banheiro e olhei meu reflexo no espelho. Ainda estava muito confusa com essa nova realidade, eu tinha certa raiva por meu pai ter nos deixado e queria puni-lo de alguma forma. Porém, a cada carta que eu lia da minha mãe, meus sentimentos ficavam ainda mais confusos. Se ele realmente gostava de nós, por que continua me tratando assim?
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  — Não acho que ele queira ser meu pai. — disse ao meu reflexo.
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  Dois meses na Coréia e eu estava me sentindo ainda mais sozinha que na época que minha mãe morreu. Tinha a companhia de Hania e Jinho na escola, mas quando voltava para casa, a única coisa que conseguia fazer era ver filmes e séries, assim me sentia um pouco melhor.
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  Nos dias que seguiram, eu comecei a passar mal, achei que era um breve resfriado, já que imprudentemente havia dormido de cabelo molhado. Foi então que depois de tempos, faltei às aulas por três dias seguidos. Eu sabia que mister Choi não viria me repreender, ele estava em uma viagem ao Japão e seu assistente estava junto. Significava que eu estava definitivamente sem supervisão. A diretora Cha tentou me visitar para saber o que acontecia, mas como não tinha autorização do meu responsável, não pode subir ao meu apartamento.
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  Meus amigos me mandavam mensagens com frequência, mas eu sempre dizia estar bem, não queria preocupá-los. No meu quarto dia em casa, o inesperado aconteceu quando eu liguei para o serviço de entregas pedindo pizza. Autorizei sua subida como de costume e assim que o entregador entrou e mostrou seu rosto escondido pelo boné…
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  — ? — fiquei estática.
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  — Finalmente consegui. — ele deu um sorriso singelo de satisfação, parecia feliz em me ver. — Você está viva.
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  — E por que eu não estaria? — perguntei pegando a caixa da pizza dele e indo até a cozinha. — De onde você tirou a ideia de vir aqui como entregador?
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  — Era a única forma de subir. — ele riu. — Engraçado, eles não deixam a minha mãe subir, mas deixam o serviço de entregas.
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  — Para você ver que até os ricos são barrados um dia. — brinquei rindo. — Mas o que faz aqui?
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  — Queria saber se estava bem. — respondeu prontamente.
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  — Eu estou, mandei mensagens para a Hania. — deixei a pizza na bancada e o olhei confusa. — Não precisava se disfarçar e vir aqui só para isso.
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  — Tem certeza que está bem? Seus olhos estão…
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  — Eu estou bem, sim. — ignorei sua preocupação comigo. — Não tem nada em meus olhos.
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  Me dirigi à porta.
  — Não precisa se preocupar comigo, não somos próximos e tenho certeza que sua namorada não iria gostar de saber que está aqui na minha casa.
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  — Quem disse que a Tiffany é minha namorada? — perguntou ele.
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  — Não estou falando da filhote de megera.
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  — E fala de quem?
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  — Acho que o nome dela é Dara. — disse tentando puxar na memória.
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  Entre muitas conversas aleatórias sobre a elite do Jeguk High School, Jinho havia soltado uma fofoca sobre ter uma namorada com esse nome e que estava em um intercâmbio na França.
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  — Deixa eu pensar… Foi o Jinho quem disse isso?
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  — E importa? Acho melhor você ir. — eu girei a maçaneta da porta para abrir, porém senti algo estranho comigo.
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  — ? — ele se aproximou de mim, pareceu perceber algo. — Está mesmo tudo bem?
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  — Já disse que estou…. — minhas pernas fraquejaram e não senti mais movimento de nada.
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  Tudo ficou escuro e vazio ao meu redor. O que estava acontecendo comigo? Minha mente se desligou de tudo e lá no fundo comecei a ouvir um barulho estranho e repetitivo. Remexi minhas pálpebras sentindo-as pesadas demais para abrir, porém, continuei forçando até que a claridade entrou em meus olhos e notei minhas vistas embaçadas. Aos poucos, os movimentos do meu corpo foram voltando, começando pelo dedo indicador da mão esquerda.
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  — ? — a voz de soou próximo.
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  Será que eu tinha desmaiado e ele me levou para o quarto? Mas, se eu estou em casa, como é que me sinto desconfortável? Meu braço direito doía como se algo estivesse cravado nele. O que o aluno modelo havia feito comigo?
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  — ? Ela está acordando. — agora a voz do meu… mister Choi…
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  — Hum? — agora que eu não entendia mais nada.
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  — Sinais vitais, ok…. — uma voz feminina surgiu e logo senti uma mão abrir meu olho direito jogando uma luz forte nele. — Pupilas, ok, batimentos, ok. Me parece que, depois de dois dias, seu quadro está ficando estável.
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  Estável? Pensei comigo. Como assim, estável?
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  — Hum? — abri os olhos novamente. — Onde estou?
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  Minha visão embaçada começou a ganhar forma. Logo o rosto do mister Choi ficou claro, percebi seu olhar preocupado para mim, porém aliviado.
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  — Minha filha. — ele segurou em minha mão se sentando ao meu lado. — Está tudo bem agora.
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  Ele sorriu de forma singela, parecia mesmo feliz em me ver acordada. O que me fazia pensar sobre sua presença ali. Eu estava em um hospital, era agora um fato inegável, certamente fui levada por , que se mantinha em silêncio me olhando mais atrás. Mas como mister Choi havia chegado lá? Pelo que me lembrava, Chang havia dito que sua viagem era importante para a empresa e ele demoraria para retornar. Ele havia voltado antes por minha causa.
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  — Eu… O que aconteceu comigo? — perguntei.
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  — Seu corpo reagiu de uma forma intensa aos cuidados que vem tendo com ele. — respondeu a médica com um olhar sério. — Diagnóstico? Você está com um resfriado, intoxicação alimentar, anemia leve e seu desmaio foi causado por exaustão, não física, mas o que tudo indica é que poder ser mental, o que me faz pensar em noites mal dormidas. Estou certa?
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  — Hum…. — não tive coragem para discordar.
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  — Irei passar uma receita com alguns remédios e algumas sugestões para melhorar sua alimentação. — disse ela ainda olhando meu prontuário médico. — Senhor Choi, sua filha terá alta hospitalar amanhã, temos mais alguns exames a fazer agora que ela acordou.
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  — Não a deixarei sozinha. — mister Choi me olhou sério. — Irá morar em minha casa, assim que sair daqui.
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  — Não. — protestei.
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  — Deixei que fizesse conforme sua vontade e quase perdi você. — sua voz estava triste e ao mesmo tempo frustrada. — Já perdi a sua mãe…
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  Ele se calou por um tempo.
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  — Não me faça morar em sua casa… Por favor. — pedi.
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  Eu não queria morar lá, principalmente pelas pessoas que certamente teria que aturar em sua casa, mas entendia sua preocupação comigo. Pela primeira vez eu conseguia sentir que ele realmente poderia estar sendo sincero quando dizia que não queria nos abandonar.
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  — Eu posso cuidar dela. — interviu . — Se o senhor deixar.
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  — O quê? — o olhei desacreditada.
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  O que aquele garoto tinha na cabeça?
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  — . — mister Choi se levantou e o olhou. — Eu agradeço por sua ajuda e por ter socorrido minha filha, mas…
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  — Eu aceito. — disse o interrompendo. — Deixei ele cuidar de mim… Pai.
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  Eu não acreditava que havia saído aquela palavra de mim. Eu chamando o mister Choi de pai, o caso era sério. E lidar com o garoto modelo seria mais fácil que com a megera e sua aprendiz. Mister Choi sorri de canto, ele sabia que chamá-lo de pai seria uma estratégia para que aceitasse.
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  — Tudo bem. — seu olhar tinha um toque de carinho. — Desde que continue me chamando de pai.
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  Aish. Sério? Criei um monstro.
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  — Hum… Acho que posso fazer isso. — disse em quase sussurro para ele.
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  Meu olhar se voltou para por um breve momento, seu sorriso discreto estava lá. O tempo foi passando, após exames, soros e descanso, finalmente recebi alta no dia seguinte. Mister Choi fez questão de me buscar pessoalmente no hospital e me levar para o apartamento, onde já me aguardava com a companhia de Chang.
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  — Bela recepção. — disse num tom irônico, ao passar por .
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  — Foi você quem me quis aqui. — ele abriu um largo sorriso para mim e piscou de leve. — Ainda tem a segunda opção.
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  Respirei fundo.
  — Estou cansada. — disse num tom mais algo. — Minha cabeça ainda está estranha, preciso dormir.
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  — Sim, querida. — mister Choi assentiu se aproximando de mim, então beijou de leve minha testa. — Descanse bem.
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  Me vi sem reação por um momento após seu gesto de afeto por mim, principalmente na presença de outras pessoas. Subi para meu quarto e finalmente pude deitar em minha cama, assim que fechei os olhos, desliguei totalmente e caí no sono, acho que meu corpo ainda precisava descarregar o restante de estresse acumulado. Acordei horas depois, meu corpo já se sentia mais relaxado e energizado, era noite e curiosamente não estava lá.
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  — Nossa, será que ele desistiu? — ri um pouco.
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  Me espreguicei um pouco e peguei meu celular dentro da minha mochila. Tinha uma mensagem de um número desconhecido com um endereço, dizendo para ir neste lugar caso me sentisse entediada.
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  — Hum… Será que é contra indicado eu sair após a alta médica? — perguntei olhando o endereço.
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  Era uma rua localizada em um bairro chamado Hongdae. Jinho e Hania já tinham mencionado sobre ele e de como era movimentado à noite, por jovens de todos os tipos e gostos que queria aproveitar as noites da capital do país. Demorei um pouco até finalmente decidir sair de casa, seria arriscado após passar tanto tempo no hospital, mas já que minha nova babá não estava em casa, era minha única chance de poder curtir a liberdade. Troquei de roupa, peguei minha mochila, pendurei o skate nela e saí de casa rumo à diversão.
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  Nesta altura da vida, já estava mais do que acostumada com o transporte público de Seoul, em vários dias andando pela cidades sem rumo, descobri muitos atalhos para chegar aos lugares. Me impressionei ao chegar em uma rua famosa de Hongdae e reconhecer alguns rostos da escola, comecei a me deslocar pelo lugar, sem medo de me perder ou passar mal.
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  — O quê? — parei de repente ao ver uma pista de skate.
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  Meus olhos seguiram as manobras da pessoa que se apresentava, era bastante talentosa. Me aproximei mais um pouco e mais uma vez, fui pega de surpresa. Lá estava o aluno do ano, garoto modelo com um skate sendo segurado por seu pé direito e recebendo elogios de algumas pessoas.
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  — Tá brincando. — sussurrei mantendo meu olhar nele.
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  Em instantes, seu olhar seguiu para minha direção, e, ao me ver, um sorriso se formou em seu rosto. Algo que fez meu corpo sentir uma leve brisa passar por ele.
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Quero ser como seu diário, para saber os segredos do seu coração,
Quero ser como seu gato por apenas um dia,
Você me alimenta com leite quente e o abraça ternamente.

– Hug / TVXQ (Dong Bang Shin Ki)

4. Hongdae

  — O que foi? — perguntou ele segurando o riso.
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  — Eu ainda não acredito nisso. — comentei mantendo meu olhar no skate dele. — É surreal sabia?
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  — Por quê? — ele me olhou tranquilamente. — Só porque sou um bom filho, não significa que sou certinho.
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  Ele riu.
  — Bom, para ser honesto, não tem nada de errado eu estar aqui.
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  — Você é o garoto modelo, é difícil de acreditar que tenha um lado rebelde. — cruzei os braços.
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  — Digamos que eu usar a parte chata a meu favor. — explicou ele. — Desde que eu seja um bom filho e um bom aluno, posso fazer o que quiser, contando que não atrapalhe a imagem da empresa da minha família.
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  — Não tem nenhuma graça nisso.
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  — Claro que tem. — ele piscou de leve. — Há vários meios de se divertir sem precisar causar confusão.
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  — Me prove. — o desafiei.
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  Ele sorriu de canto e pegou em minha mão. Eu nem imaginava o que ele poderia me mostrar mas uma certa expectativa surgiu em mim. me levou aos espaços mais legais e divertidos daquele bairro, era impressionante o quanto ele conhecia sobre todo o universo de Hongdae. Uma pontinha de admiração começou a aparecer de leve, mas eu não contaria isso aquele convencido, que ao longo do nosso tour noturno, aproveitou para que dar conselhos.
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  Como se eu precisasse.
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  Mas uma coisa ele tinha razão, eu não deveria continuar agindo como uma menina mimada. Eu poderia ser até uma garota rebelde, mas deveria pensar no meu futuro, se a vida estava me dando uma chance de estudar em uma boa escola, talvez pudesse aproveitar um pouco até voltar para o Brasil.
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  No final da nossa pequena excursão, me levou até em casa. O relógio já marcava duas e meia da madrugada.
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  — Acho que agora eu devo ir. — disse ele assim que eu abri a porta do meu apartamento e entrei.
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  — Hum… Está tarde. — argumentei. — Você pode dormir no sofá.
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  — Sério? — ele me olhou surpreso.
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  — Não me faz oferecer de novo. — abri um pouco mais a porta para. — Além do mais, você ainda está responsável por mim, e eu violei meu período de repouso por sua causa.
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  — Gostei do argumento. — ele entrou rindo. — Está com fome? Não quis comer nada.
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  — Agora que falou. — fechei a porta e passei a mão de leve em minha barriga. — Acho que estou sentindo um fundo aqui dentro de mim.
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  — Vejamos o que tem na geladeira. — disse seguindo em direção à cozinha.
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  — Como se você não tivesse feito compras assim que saí do hospital. — comentei.
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  — Eu não me lembro o que comprei. — brincou e abriu a geladeira.
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  Me sentei no sofá e liguei a televisão. Era surpreendente ver cozinhando em minha atual casa, considerando a forma em que o conheci e que o tratei desde o início, que Hania e Jinho vissem isso, ficariam ainda mais admirados. Fiquei um tempo passando as listas da Netflix sem saber o que poderia assistir, então me levantei do sofá e sentei em cima do balcão, fiquei o observando enquanto preparava nosso lanche.
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  — O garoto modelo sabe cozinhar também. — comentei.
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  — Aprendi com minha avó materna. — ele continuou com sua atenção na panela. — Você não tem costume de sentar na banqueta?
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  — Te deixa nervoso o fato de eu estar sentada em cima da bancada?
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  — Um pouco.
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  — Que garoto mais certinho. — ri dele. — Como sua namorada aguenta isso? Ela sabe que você virou minha babá?
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  — Você realmente acredita que tenho uma namorada? — ele desligou a trempe e me olhou.
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  — Bem, você é o garoto mais popular do colégio, mas meninas se derretem por você, e me disseram que você tem uma namorada chamada Dara. Estou mentindo?
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  — Está certa em quase tudo. — ele sorriu de canto. — E ainda esqueceu que eu sou o melhor aluno e mais bonito também, o filho do ano e a melhor babá que você vai ter na vida.
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  — Convencido. — desviei meu olhar dele por um momento. — E em quê eu estou errada?
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  — Eu não tenho namorada. — seu olhar parecia sincero. — Dara é uma amiga de infância, ela confessou seus sentimentos por mim uma vez, mas nunca a vi com esses olhos.
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  — Você dispensou ela?
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  — Sim.
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  — Que cruel, parece que você não é tão bom garoto assim. — brinquei.
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  — Está pronto.
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  Ele serviu o espaguete que tinha feito em dois pratos e finalmente comemos. Até que cozinhava bem. Ele me contou muitas histórias de quando pequeno, que ele e sua avó faziam algumas travessuras na cozinha, o que me fez lembrar de quando me divertia com a minha mãe também. Após nossa refeição, convenci ele a se juntar a mim para fazer maratona de Descendants of the Sun, uma indicação de Hania, com a promessa que lavaria os pratos depois.
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  Comecei muito bem o episódio 5, no qual tinha parado, até que senti as pálpebras dos meus olhos pesadas, adormeci antes mesmo de pensar em ir para cama. Acordei na manhã seguinte sentindo meu corpo renovado, então percebi que estava em minha cama. Me levantei e desci as escadas, ainda dormia no sofá de forma tão confortável que parecia estar em sua própria casa.
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  — Que loucura. — sussurrei para mim mesma. — Quem imaginaria que o garoto modelo passaria a noite aqui.
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  Um sorriso bobo apareceu em meu rosto, mas logo voltei a realidade e fui para a cozinha. Tentei ao máximo não fazer não fazer barulho, lavei a louça suja e preparei o café da manhã, afinal, ele não era o único que sabia cozinhar.
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  — Olha, eu não sou o único com habilidades na cozinha. — disse ele ao se aproximar de mim.
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  — Não se acostume, este café é só um agradecimento por ter me mostrado aquele bairro maravilhoso. — disse em minha defesa.
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  — Bem, já que agora sou sua babá, acho que posso me acostumar, sim. — brincou ele.
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  Soltei um suspiro e o olhei. O que tinha de convencido, também tinha de bobo. As semanas se passaram com ele se esforçando para “cuidar” de mim, já que havia garantido ao meu pai que não me deixaria mais fazer alguma travessura que colocasse minha saúde em risco. Era estranho estar tão próxima dele, mais do que imaginaria estar de alguém nessa nova realidade da minha vida, porém me sentia confortável em sua companhia, conhecendo um lado descontraído e casual, além do formal e sério garoto modelo.
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– x –

  — O que está fazendo aqui? — perguntei ao abrir a porta e ver .
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  Ele estava todo arrumado de social, vestido com um terno azul marinho e all star branco. Confesso que estava ainda mais bonito e charmoso.
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  — Vim buscar você. — respondeu ele.
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  — Como assim me buscar? — estava confusa.
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  — Hoje é o aniversário do Hotel Zeus, seu pai me pediu para te buscar. — explicou.
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  — Eu não vou. — me afastei da porta e caminhei até o centro da sala. — Não estou com vontade.
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  — Você sempre reclamou que ele só te mantinha aqui para te esconder e agora que ele quer que as pessoas te conheçam, você recusa? — ele entrou e fechou a porta. — Não estou entendendo.
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  — Você jamais vai entender mesmo, eu sou a bastarda, lembra? Não ter que aguentar os olhares das pessoas para mim. — retruquei.
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  — Tudo bem então, eu fico aqui te fazendo companhia. — ele caminhou até o sofá e se sentou.
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  — Você não precisa fazer isso, com certeza seus pais vão a essa tal festa. — o olhei séria.
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  — Eu só saio daqui acompanhado por você. — seu olhar confiante me dava certa raiva.
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  Bufei um pouco e voltei marchando para meu quarto. Olhei para a sacola com o vestido que Chang tinha trago no dia anterior, mesmo meu pai sabendo que eu não queria ir. Será que ele pediu para me acompanhar, na esperança dele me convencer? Que esperto da parte do mister Choi. Tomei um banho rápido e ainda relutante coloquei o vestido e a sandália, esquisito para mim, que amava um jeans surrado com All Star.
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  — Uau. — disse ele boquiaberto ao me ver descendo as escadas.
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  — Não vai se acostumando, eu odeio usar vestido. — cruzei meus braços um pouco emburrada.
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  — Que garota rebelde. — ele deu alguns passos até mim com um sorriso no rosto e pegou em minha mão. — Você está mais linda ainda.
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  Disfarcei o sorriso.
  — Vamos?
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  — Vamos, mas com uma condição. — avisei.
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  — Qual?
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  — Quero que me leve naquela pista de skate depois. — propus.
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  — Fechado. — ele piscou de leve e me puxou para porta.
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  Seguimos até o carro que nos esperava na porta do prédio. Ao chegarmos em frente ao hotel, havia muitos repórteres e fotógrafos na porta cobrindo o evento. desceu primeiro e na minha vez, senti certo receio e minhas pernas travaram um pouco, então ele segurou em minha mão e me guiou para fora. Nunca havia enfrentado tantos flashs na minha vida, mas seguimos naquele carpete vermelho de mãos dadas e com ele dizendo que estaria ao meu lado o tempo todo.
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  — Obrigado. — disse assim que paramos no centro do hall do hotel.
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  Eu tentei soltar minha mão, mas ele continuou segurando.
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  — Não precisa mais segurar. — insisti.
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  — É claro que precisa. — ele continuou segurando em minha mão e deu um sorriso fofo. — Vamos, nossos pais nos esperam.
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  Passando pelas portas para o salão de eventos, o outro lado do mundo do mister Choi se revelou para mim, dentre tantos todos desconhecidos, lá estava a diretora Cha e o mister Kim Tan, o pai de , coincidentemente conversando com meu pai e a megera. Tiffany também estava presente com sua fiel escudeira Mina, ambas conversando com outros herdeiros que também tinham sido convidados.
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  — Quanta gente desconhecida. — comentei.
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  — Eu conheço todos eles, posso te apresentar.
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  — Só pelos olhares, eu acho que não será necessário.
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  Nossos pais vieram em nossa direção, pude ver um brilho no olhar do mister Choi assim como um sorriso de alegria por eu estar ali.
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  — Sabia que viria. — disse meu pai.
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  — Acho que você deve uma bonificação à babá do ano. — brinquei.
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  — Fico feliz que vocês dois estejam se tornando amigos. — comentou a diretora.
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  — Tudo começa com uma amizade. — completou o pai dele.
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   riu baixo e logo eu dei um empurrão discreto nele. Meu pai me pediu para acompanhá-lo, queria me apresentar para algumas pessoas, e os primeiros foram meu avô e sua esposa, conhecida também por Chang como a Malévola.
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  — Filha, este é Choi Dong-wook, seu avô e a esposa dele, Choi Aha. — apresentou meu pai.
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  — Prazer. — me curvei de leve em “respeito”.
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  — Estava curioso para conhecê-la, menina, para saber se é tão corajosa como sua mãe. — a voz de Dong-wook era firme e seu olhar sério.
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  Pelo que me lembrava da minha mãe falando sobre ele, não era assim uma pessoa legal e um pai amigável, foi ele quem fez meu pai ter que escolher entre deixar ou não eu e minha mãe.
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  — Estou do outro lado do mundo, convivendo com estranhos que não me querem, morando em um apartamento sozinha a quase um ano, se isso não for coragem, não sei o que é. — retruquei.
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  Meu pai soltou um suspiro, parecia desaprovar meu comentário. Mas era real, minhas palavras, se ele estava feliz por minha presença ali, metade daquelas pessoas não e a outra metade nem fazia ideia de quem eu era.
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  — Ao menos ousadia da mãe ela tem. — comentou a malévola.
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  — Young-do. — a megera se aproximou de nós. — Não havia me dito que sua filha viria.
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  — Por que eu deveria avisar? Ela é minha filha, a única herdeira do hotel Zeus. — papai me olhou com uma ponta de satisfação. — Acho que não precisa anunciar sua presença em eventos assim.
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  Segurei o riso e me mantive séria, a megera podia ter dormido sem essa.
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  — Ah, claro. — ela engoliu seco me lançando um olhar mortal.
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  — , venha algum dia me visitar. — disse Dong-wook. — Já que é minha única neta, quero conhecê-la melhor.
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  — Se você garantir minha integridade física e mental quando eu voltar para casa, posso até te fazer uma visita. — minhas palavras soaram de forma debochada, mas era pura sinceridade.
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  Ele riu de mim acompanhado do meu pai.
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  — Essa tem sangue Choi. — comentou Dong-wook.
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  — Vem filha, preciso te apresentar a mais pessoas. — meu pai segurou em minha mão e me levou para outra parte do salão.
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  Eu não iria gravar o nome de todas as pessoas que estavam ali, mas algumas foram interessante conhecer. Mais ainda, meu pai parecia feliz em poder apresentar sua filha para todos, e orgulhoso por mencionar que eu era a única herdeira dele, o que fazia a megera ficar ainda mais irritada e raivosa.
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  — É visível o olhar de fúria da sua madrasta. — comentou ao se aproximar de mim.
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  — Onde estava? Você prometeu não sair do meu lado. — retruquei.
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  — A culpa não é minha se o mister Choi monopolizou você. — reclamou ele. — Bem que minha vontade era de ter ficado segurando sua mão até agora.
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  — Sei. — cruzei os braços o olhando desconfiada. — O que quer dizer com isso?
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  — Quero dizer que…
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  — Oppa? — uma voz feminino soou atrás de mim.
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  — Dara? — ele desviou o olhar para ela.
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  Eu me virei e olhei para a garota que parecia boneca de porcelana. No mesmo instante comecei a me sentir estranha, não sabia explicar o motivo.
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  — O que faz aqui, Dara? — perguntou ele.
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  — Estou de volta, por um tempo. — disse ela se aproximando dele, agindo como se eu não tivesse lá.
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  Eu me afastei dele e segui para outro lugar, aquela festa já estava ficando chata para mim.
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  — Olha só a bastarda. — Tiffany se aproximou de mim rindo.
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  — O que você quer, aprendiz de megera? — a olhei sem paciência.
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  — Achou mesmo que continuaria se aproximando do tranquilamente? Você jamais estaria no nível dele.
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  — E você sim?
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  — Posso não ser a filha legítima, mas sou a garota dos sonhos de qualquer herdeiro.
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  — Ah, sim, estou vendo.
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  — Porém, eu sei que o não está na minha lista de possibilidades, por isso não me importo com o desprezo dele, mas você…
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  — Acha mesmo que eu me importo também? — cruzei meus braços tentando não me chatear com suas palavras.
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  — Está na sua cara que sim, a bastarda que gosta do garoto mais cobiçado da festa, porém jamais conseguirá competir com a Dara.
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  Eu sabia que a sua intenção era me ferir de alguma forma, mas aquilo era baixo demais.
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  — Quem disse que ela vai ter que competir com alguém? — misteriosamente se colocou em meu lado e segurou em minha mão.
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  — . — Tiffany sussurrou surpresa com o gesto dele. — Vocês estão…?
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  — O que você está fazendo? — eu o olhei.
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  — Eu prometi te levar a um lugar, lembra? — ele sorriu tranquilamente. — Acho que esta festa acabou para nós.
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  Assenti sem questionar. Como prometido, me levou novamente na famosa pista de skate de Hongdae, aquele, sim, tinha se tornado meu lugar favorito da cidade.
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  — A garota rebelde está tão calada. — brincou ele, se sentando no chão ao meu lado. — O que houve?
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  — Nada. — mantive meu olhar no skate a minha frente.
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  — Parece pensativa.
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  — É que… Eu estava errada, pelo menos 50%.
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  — Como assim?
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  — Eu imaginei passar por tantas coisas aqui em Seoul… Mas fui pega de surpresa. — expliquei. — Pensava que meu pai não gostava de mim e não era verdade, tirado a megera e a malévola, até meu avô quer me conhecer… E tem mais uma coisa.
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  — O quê?
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  — Você. — eu o olhei. — Eu não contava que conheceria o garoto modelo mais chato e mais atraente do mundo.
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  — Você disse atraente? — ele arqueou a sobrancelha direita e sorriu.
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  — Não vou dizer de novo.
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  Tomei impulso e deixando de lado toda a insegurança que poderia ter, o beijei de surpresa. Ele ficou estático a primeiro momento, mas depois retribuiu o beijo de forma doce e suave.
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  — O que isso quer dizer?
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  — Não quer dizer nada. — respondi.
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  — É claro que quer dizer algo. — insistiu.
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  — Hum… Ok, digamos que talvez não seja tão ruim assim morar aqui.
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  — Então você vai ficar?
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  — Sou a única herdeira do hotel Zeus. — eu ri. — Brincadeira…
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  — Estou feliz por querer ficar. — ele sorriu novamente. — Minha garota rebelde.
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  Sorri de volta. Estava decidida a entender mais sobre a história dos meus pais, só tinha as cartas da minha mãe, só conhecia o lado dela, já era a hora de conhecer o mister Choi Young-do e sua família. Eu sabia que teria que enfrentar muitos olhares e pessoas que não me queriam ali, mas não estaria sozinha, disso eu tinha certeza.
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Eu não soube logo de início
Como comecei a te amar
Eu ainda não conheço meu coração
Mas mesmo assim, mesmo assim eu te amo.

– Standy By Me / SHINee (Boys Over Flowers OST)

5. Yonsei

  Eu não iria me tornar a aluna no ano, isso era um fato. E apesar do sistema de ensino coreano ser extremamente exigente e rigoroso, eu tinha um professor particular bastante dedicado. Claro que nas horas de descanso eu aproveitava a oportunidade para curtir um pouco e me divertir com ele.
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  — Obrigado unnie, por nos deixar estudar com vocês. — disse Hania ao se sentar no chão da sala em frente à mesa de centro.
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  — Bem, as provas de vestibular estão chegando e não podia ver você e Jinho desesperados sem ajudar. — expliquei rindo da situação deles. — Mesmo que fosse dividindo meu professor particular.
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   também riu da cozinha.
  — Você ri porque não precisa se preocupar em ganhar uma bolsa de estudos. — Jinho se sentou no sofá com cara de derrotado antes da guerra.
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  — Engano seu, eu não quero depender do dinheiro do meu pai. — retruquei. — Por isso comecei a trabalhar no hotel.
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  — A cada dia que passa, te admiro ainda mais, unnie. — Hania deu um sorriso fofo.
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  — O intervalo acabou, alunos. — se aproximou e sentou no sofá, pegou seu livro cheio de anotações. — Anotaram suas dúvidas?
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  — Tenho tantas que nem sei por onde começar. — Jinho coçou a cabeça.
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  — Podemos retomar naquela questão de história que eu tive dificuldade? — perguntou Hania.
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  — Claro. — olhou para mim e piscou de leve.
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  Óbvio que meu pedido para aumentar sua turma para três alunos havia custado algo, queria me levar ao baile de formatura. Jamais imaginei ir a um evento assim, porém, o que poderia dar errado?
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  Os dias foram passando com minha vida em uma rotina fixa: escola de manhã, trabalho de meio período no hotel Zeus à tarde, pois não queria depender do mister Choi, e mais estudos à noite. Mas o meu professor me conhecia muito bem para saber que eu me entediava fácil, então com frequência quebrava nosso cronograma e me fazia divertir com passeios aleatórios pela cidade. Uma semana antes das provas de vestibular, a diretora Cha me convidou para jantar em sua casa. A causa? tinha contado sobre o nosso namoro.
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  — Vou ser sincera. — disse segurando em sua mão em frente a porta de entrada. — Estou estranhamente insegura.
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  — Você acha que minha mãe pode fazer alguma coisa? — riu de mim.
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  — Eu conheço a diretora Cha, não a senhora Eun-sang, mãe do meu namorado.
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  — Minha mãe em casa não é diferente da diretora no colégio. — ele me olhou com segurança. — Fica tranquila e haja como sempre, ela gosta de você.
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  Sorri meio que espontaneamente ao ouvir aquilo dele e assenti para entrarmos. Sim, a diretora Cha realmente era a mesma em casa, muito gentil e compreensiva, como de costume, me deu alguns conselhos e me contou a história de como conheceu o senhor Kim Tan e de como foi difícil ficarem juntos. Aquilo parecia até esses doramas que eu via na Netfilx de tão dramático. Felizmente, minha vida não era assim tão complicada quanto foi a dela, mas eu tinha meus desafios para vencer.
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  — Viu, não foi tão difícil assim. — ele riu assim que o motorista estacionou o carro em frente o meu prédio.
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  — Isso porque seus pais são legais. — expliquei retirando o cinto de segurança.
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  — Vejo você amanhã? — perguntou ele ao acariciar de leve minha face dando um sorriso.
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  — Já está com saudade? — brinquei.
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  — Sim, estou.
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  — Amanhã não vai rolar. — respondi. — Como sabe, sou lavadora de pratos no hotel e amanhã vai ter uma conferência lá, fui convocada a trabalhar em pleno sábado.
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  — Hum… Então precisa descansar bem nesta noite.
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  — É isso que vou fazer. Boa noite.
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  — Boa noite. — ele me roubou um beijo antes que eu saísse do carro.
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  Dias depois e chegou o grande momento.
  Mister Choi Young-do fez questão de me levar até o local onde faria a prova do vestibular. Eu sabia que assim como o Enem no Brasil, a prova era ainda mais cansativa e difícil, o motivo de eu ter me concentrado mais nos pontos fracos e nas dificuldades que tinha nos estudos. Eu tinha um bom professor particular, faria uma boa prova.
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  — Pensei que iria demorar. — disse me esperando no portão de saída.
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  — Você já terminou a sua prova? — o olhei chocada.
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  — Estava fácil. — brincou.
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  — Fale por você. — cruzei os braços. — Teve uma hora que achei que não conseguiria mais ficar sentada.
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  — Mas conseguiu. — ele segurou em minha mão e sorriu. — Estou orgulhoso de você, e seu pai também.
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  — Fale isso após sair o resultado. — retruquei.
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  — Tenho certeza que você vai passar. — ele me puxou para mais perto. — Então iremos juntos para a Universidade de Yonsei e você poderá dizer a todos que seu namorado é o melhor aluno do curso de arquitetura.
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  — Arquitetura? Seu pai deixou? — estava surpresa.
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  — Sim, ele me apoia agora, disse que eu preciso fazer minhas próprias escolhas como ele, mas que eu devo ter consciência que um dia a empresa vai precisar de mim. — explicou.
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  — E você vai estar lá. — conclui.
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  — Vou.
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  — Vamos para onde agora? — perguntei curiosa.
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  — Não sei. O que deseja fazer?
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  — Depois de todo esse tempo estudando… Acho que me deve muitas maratonas. — sorri com malícia.
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  — E vamos começar vendo o quê?
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  — Que tal Romance is a bonus book?
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  — Já ouvi falar. — ele fez uma cara de dúvida.
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  — Vamos logo.
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  Ainda de mãos dadas eu o puxei para sairmos de lá. Para minha surpresa, ele estava de moto, e eu nem sabia que ele tinha habilitação para dirigir. Chegamos rápido em meu apartamento e após fazer um balde cheio de pipoca, passamos o resto do dia em nossa maratona.
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  — Mister Choi? — disse ao entrar no quarto do hospital onde ele estava.
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  — Você não tinha prometido que me chamaria de pai? — lembrou ele mantendo seus olhos fechados.
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  — Desculpa. — eu ri. — Como está se sentindo? Chang me disse que se sentiu mal no meio de uma reunião importante.
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  — Estou bem melhor agora. — ele abriu os olhos e sorriu. — Minha filha está aqui.
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  — Você deveria cuidar melhor da sua saúde, já está bem velho. — brinquei.
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  — Só foi um mal estar passageiro. — ele riu.
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  — Não deveria brincar com isso. — me aproximei da sua cama. — O médico disse que vai ficar mais alguns dias aqui se recuperando.
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  — Sim, e por isso precisarei de você.
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  — De mim? Eu não sou enfermeira.
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  — Não é para isso. Daqui alguns dias terá um evento importante entre os maiores hotéis do país, quero que você vá me representando.
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  — Eu? Uma colegial?
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  — Você, minha única herdeira. — confirmou. — Seu avô está de acordo comigo e vai te acompanhar.
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  — Você fala tão naturalmente como se as pessoas fossem me levar a sério, eu sou a bastarda, lembra?
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  — Você é minha filha. — ele segurou em minha mão. — Vai dar tudo certo.
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  Assenti ainda relutante. Com isso, minhas tardes na cozinha do hotel seriam interrompidas temporariamente por conversas com o meu avô sobre negócios. Porém, eu tinha um outro compromisso na frente, o tal baile de formatura que queria tanto me levar.
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  — Boa noite, garoto modelo. — disse ao sair do elevador e ver me esperando no hall do prédio.
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  — Boa noite, garota rebelde. — ele sorriu de imediato me olhando discretamente dos pés à cabeça.
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  — Que menino pontual. — comentei me aproximando dele.
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  — Nervosa para amanhã? — seu olhar estava preocupado comigo.
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  — Um pouco, mas ainda tenho que enfrentar esse baile hoje.
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  — Vai ser o melhor baile da nossa vida.
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  Seguimos em direção ao carro. Minutos depois, descemos em frente ao colégio, estava tudo iluminado e muito bem decoração para aquela noite, senti um frio na barriga, e fiquei parada por um tempo olhando ele seguir na frente. Após aquela noite algumas coisas mudariam em nossa vida, a começar pela universidade, afinal, tanto eu, quanto ele tínhamos passado na prova, cursaríamos juntos em Yonsei.
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  — O que foi? — ele parou ao perceber que eu não estava ao seu lado. — A garota rebelde está com medo?
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  — Não.
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  Ele deu alguns passos até chegar em mim.
  — Só estou pensando em tudo que aconteceu comigo durante esse ano. — confessei. — Foram muitas emoções.
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  — Isso é verdade. — seu olhar tinha uma ponta de carinho. — O que você acha que a sua mãe diria?
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  — Que eu evolui bastante e ainda consegui o melhor namorado do mundo. — disse ao morder meus lábios inferiores.
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  — Melhor namorado do mundo?
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  — Não vou falar de novo, garoto modelo. — ri de leve.
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  — Eu gosto de você. — disse ele.
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  — Eu sei.
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  — Você não entendeu. — ele pegou em minha mão e entrelaçou nosso dedo. — Meus sentimentos por você são fortes, eu te amo de verdade e…
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  Não deixei que ele terminasse sua confissão, assim como na primeira vez, tomei a frente e o beijei de surpresa. Senti meu coração acelerar assim que retribuiu o beijo com certa intensidade. Mesmo que eu não tivesse feliz no início por me mudar para Seoul, agora eu estava aproveitando cada momento, e os melhores estava sendo com o garoto modelo.
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Poderei alcançar o melhor da minha vida
Como se eu não vivesse sem arrependimentos
Com a mente que se agitou, e ficou cheias de esperanças.

– S.E.O.U.L / Super Junior & GG

Fim

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