Scent of Spring

  Encarei o pedaço de papel pela quinquagésima vez. Poderia dizer que havia a decorado do topo até o fim, entretanto, de jeito algum poderia me recordar se me pegassem de surpresa. Fazia duas semanas que aquele pedaço de papel significava o mundo para mim. Nele, contém tudo o que preciso e devo fazer para esta sexta.

  Sexta. Três dias para sexta.

  Suspiro e passo a mão pelos meus cabelos, surpreendentemente arrumando-os, ao invés de desarrumá-los. Olhei janela afora e vi grande parte de Seoul sendo cobertas pelas nuvens. Em seguida, ousei olhar em meu relógio, ato que não passou despercebido pelos presentes e muito menos aprovado pelo empresário. Vi seu olhar feio em minha direção.

  - Com pressa, ?

  - Não, não – rapidamente respondi.

  - Estamos falando sobre assuntos importantes para o grupo. – apontou para a mesa, onde haviam vários papéis, tablets e a presença de meus outros seis colegas de grupo.

  - Sim, claro, me desculpe – falei, me curvando e demonstrando meu arrependimento de ter dado uma simples olhada em meu relógio. Deveria parar de usá-lo durante as reuniões. Principalmente nessa semana, cujo tempo parece ter desacelerado.

  - , você não para de olhar para o relógio. – diz com a tonalidade sempre mais calma. Eu não sei quantas vezes olhei no relógio desde nossa saída da empresa até o meio do caminho, para ele, que não costuma dizer nada, fazer um comentário.

  - É. Desse jeito o pulso irá cair – , como sempre, solta a piada, não perdendo a oportunidade de dar risada de minha cara com , responsável por dirigir o carro que nos levava de volta para o complexo onde moramos juntos. – Se a ver você assim, irá culpar .

  - Ai dele se eu a ouvir reclamar para mim – o mencionado diz com a voz aborrecida. – Da última vez, nossa mãe não parou de me ligar porque disse que ela reclamou que eu não o estava tratando bem – soltei uma risada assim que o ouvi começar a imitar a voz de sua mãe no telefone. – , você está sendo um bom irmão para ? Sua irmã está bastante preocupada, pois parece que você não está cuidando dele. Seja um bom oppa para sua irmã… Blábláblá. Você! – pelo retrovisor, o vi apontar para mim. – Faça o favor de não dramatizar!

  - Tudo bem, tudo bem… Fiz somente uma vez – fiz o número 1 com o dedo, enquanto via revirar os olhos. – Não irá mais acontecer. – falei entre risos.

   é a irmã mais nova de . É somente um ano mais nova que ele. Nos conhecemos um ano depois de debutarmos com o Bangtan Boys. , depois de tornado nosso líder, falava muito mais sobre sua família, ansiando o momento em que todos nós apresentaríamos as nossas para ele. Não tardou para chegar em uma das nossas pequenas apresentações acompanhado da mãe e da irmã. Quando vi pela primeira vez, sabia que ela não era uma garota qualquer. Sabia que ela deveria ser a minha garota.

  Durante o restante do ano que nos conhecemos, me esforçava em acompanhar em suas viagens de volta à sua cidade natal. Poucas eram as vezes que eu me encontrava com , já que seu grupo de amigos era composto por somente uma garota e vários garotos. Além disso, ele não gostava de trazer para os encontros, porque dizia querer separar a vida pessoal, da profissional. Isso não me auxiliou em absolutamente nada. Algumas vezes, quando somente eu ia para a cidade deles, fingia estar indo visitar ou um amigo imaginário, dando a desculpa que não sabia se ele havia voltado ou não, apenas para me encontrar com .

  Foi no festival de final de ano da empresa que o esforço finalmente valeu a pena. , a conselho de , veio falar comigo sobre meus sentimentos por . Naquele dia, achei que seria massacrado por ele, já que sempre se mostrou possessivo por sua irmã mais nova e casos amorosos. Contudo, ao contrário do que imaginei quando o ouvi me chamar para conversar, ele se mostrou uma pessoa muito compreensível. Disse que sabia quando eu ia à sua casa para visitar sua irmã ao invés dele e todas as vezes que fiz coisas absurdas apenas porque ele pediu, somente para conseguir ver . Depois de meses me testando, se convenceu de que eu não desistiria tão fácil, e que era melhor sua irmã namorar um amigo do que um estranho.

  Não posso dizer que ele é o cunhado perfeito, já que sempre usa a mesma desculpa para abusar de mim. Por ser bastante sem vergonha e muito criativo, ele é sempre bem tratado por todos nós – menos -, e pela mídia, mas por ser, especificamente, o irmão mais velho de , diz que se eu quiser entrar em sua família, deverá entender que ela possui um irmão mais velho que ama e quer o bem. Infelizmente, pude sentir na pele a razão dele quando dizia isso para mim no início de meu relacionamento. Uma vez que eu não fiz algo que ele queria depois de ser ameaçado por , recebi uma ligação de dizendo que se eu não tratasse seu irmão bem, então era melhor que nós dois não ficássemos juntos, pois ela não suportava ver as pessoas tratando seu irmão mal. Nunca mais pude fazer brincadeiras e sair ganhando ou exigir músicas em nosso setlist que não gostasse; por outro lado, acredita muito mais em mim do que em seu irmão quando discutimos.

  - Podemos parar na floricultura no caminho? – perguntei, ouvindo imediatamente todos começarem a caçoar de mim. Soltei uma risada, vendo-os entender a razão de eu querer passar em uma floricultura.

  - Hey – disse, no banco passageiro. Vi seu olhar em mim pelo retrovisor. – Não se esqueça que meus pais virão para Seoul recebe-la também. Estaremos entre família e amigos – ressaltou, deixando claro para todos nós que eu não teria um momento sozinho com minha namorada.

  - Bem, ela chegará de manhã, por isso, perguntei à sua mãe qual seria a programação e ela disse que não se importaria de ceder o jantar de para que eu pudesse leva-la a um restaurante – recebi dois tapinhas de ao meu lado, um positivo de à frente e uma expressão orgulhosa de , todos aprovando minha esperteza em combinar direto com minha sogra, que era sempre a responsável por aprovar ou reprovar nosso relacionamento. – Eles passarão o final de semana aqui de qualquer maneira e seu pai gostaria de visitar alguns amigos, por isso, sua mãe já marcou um jantar com todos eles para que não se sinta obrigada a ter de se unir aos dois e você.

   não pareceu nem um pouco satisfeito com meus planos, mas ele estava sendo bastante ingênuo em pensar que eu não prepararia algo de especial para minha namorada depois de ficar tanto tempo sem vê-la.

   ficou nove meses fora do país. Foi fazer um intercâmbio de moda em Milão. Durante esse tempo, pudemos nos ver algumas vezes que eu conseguir ir visita-la, mas nunca fiquei mais que alguns poucos dias, não sendo o suficiente para matar toda a saudade que sentia. Além do mais, o fato de o grupo estar gravando novas músicas, estar em turnê mundial e termos de nos deslocar sempre entre a Coréia e o resto do mundo – principalmente os Estados Unidos –, o tempo disponível para vê-la era muito menor.

  Ao ponto em que estou, a saudade é inevitável e eu estou disposto a fazer com que abuse de mim com suas manias esquisitas apenas para tê-la durante uma noite inteira somente para mim.

  A verdade era que se mudaria para Seoul em breve. Antes de viajar, abriu uma loja de roupas com mais duas amigas, mas por uma experiência mais avançada, foi estudar moda fora do país, em um lugar onde, de acordo com ela, o senso fashion seja muito mais refinado. Sua decisão no início afetou nosso relacionamento. Mesmo não termos completado um ano juntos, meu trabalho já trazia obstáculos o suficiente para nós dois. Foi somente depois de uma semana inteira sem falar com que pude perceber que estava sendo egoísta. Depois de sempre me apoiar e entender que nosso grupo atualmente tinha uma fanbase forte nos Estados Unidos, nos fazendo ficar grande parte de nosso tempo lá, o mínimo que eu poderia fazer era apoiá-la em seu sonho de crescer profissionalmente, assim como ela fazia comigo. Minha sogra disse que fui ainda mais cabeça dura que o pai de e .

  - Achei que você só comprasse flores para ela quando quisesse se desculpar – disse chegando perto da floricultura onde sempre comprava as flores de . Aquilo era uma verdade. Sempre que eu fazia alguma coisa que a fazia ficar nervosa comigo, enviava-lhe flores como um pedido de desculpas. Foi bastante difícil encontrar uma floricultura em Milão que fizesse entregas com pedidos online.

  - Flores são usadas para qualquer tipo de sentimento. Minha avó disse que é uma grande demonstração de amor – falei, sério. Um silêncio estagnou dentro do carro até começar a gargalhar com exageradamente, enquanto começa a gritar palhaçadas e , a imitar um beijo nojento em sua mão. Olho para o lado e vejo e se esforçando para não rirem junto com os dois na frente. Revirei meus olhos e voltei a olhar para a paisagem que passava rapidamente, de acordo com a velocidade do carro.

  Suspirei, olhando mais uma vez para o relógio e então resolvi ler minha lista mais uma vez. Sexta-feira era um dia muito especial para mim. A volta de significava que nossa vida conjugal estava retornando e só eu sei como sentia falta de alguém para fazer carinho em mim nos dias ruins.

  - Quando muda para cá? – , a fim de mudar o assunto da piada que os demais faziam comigo, perguntou.

  - Se mudar para cá? Para quê a pressa? – disse, voltando a ficar sério, enquanto estacionava. – Achei que as amigas dela estivessem dando conta da loja.

  - É normal que uma pessoa queira começar a trabalhar logo, uma vez que volta de um lugar que foi justamente para aperfeiçoar seu currículo – disse. – Além do mais, chegaria a ser estranho ela querer ficar no interior, quando o irmão dela está aqui, o trabalho dela está aqui, as amigas delas estão aqui e o namorado dela está aqui – aponto para enquanto saímos do carro, mostrando que concordo com os pontos destacados por ele.

  - Ela ainda tem de ver um lugar para ficar, não pode morar conosco – senti uma pontada de indireta ao ouvir olhar para mim sério enquanto trancava o carro e passava a me acompanhar até a floricultura.

  - Não fazemos o que você acha que fazemos – rapidamente digo, vendo-o abrir um pequeno sorriso. Imediatamente entendi que falei exatamente o que ele queria que eu dissesse.

  - E o que você acha que eu acho que fazem? – olhei para e , mas eles caminharam à frente propositalmente para me deixarem na mão. cantarolou um “burro…” assim que passou por mim, e apenas deu dois tapinhas de pesar em meu ombro, enquanto eu olhava com esperança para , que pegou o celular e não desgrudou os olhos da tela bloqueada. Eu odiava como ele odiava não se intrometer nas provocações de , quando eu mais precisava, sendo que ele sempre era o primeiro a meter o nariz em todos os tipos de conversa. Acabei por escolher suspirar e balançar a cabeça. – Se eu souber que você e minha irmãzinha…

  - ! – exclamei. – Sou um cara de família! – disse, nervoso. – Não faço essas coisas só porque quero! – me olhou desconfiado, me fazendo suspirar. – Respeito você como o irmão mais velho e os pais dela. Mas ainda mais respeito ela. Você sabe o quanto eu esperei para conseguir ter um encontro com ela?

  - O pior é que eu sei – respondeu, me acompanhando na curta caminhada até a floricultura. – Sei que você é uma boa pessoa, confio em você. Só me esqueço que é você quando o assunto é minha irmã. Até um tempo atrás, ela corria atrás de mim para falar sobre mim. Agora o tempo inteiro que fala comigo, é para me perguntar sobre você – abri um pequeno sorriso, mais orgulhoso de saber que pergunta de mim, do que culpado por tirar a atenção de irmão mais velho de . – Você me deve algumas flores. – apontou para a loja à nossa frente e soltou uma risada.

  A floricultura que compro as flores para é a melhor da região de Gangnam, uma das áreas mais ricas de Seoul. Não é uma loja barata, mas não sou uma pessoa humilde quando se trata de presentear as pessoas que amo. Por causa das gentilezas que recebemos de nossa gravadora e patrocinadores, nunca precisamos gastar muito dinheiro com moradia, comida e vestimentas, por isso, podemos juntar um bom dinheiro. Desde quando conheci , grande parte do dinheiro que eu gasto é com ela. Mesmo que não seja muito, comparado com o que gastava antes, é um valor modesto.

  Assim que adentrei à loja, pude sentir o cheiro do campo onde eu e amamos ir quando vou visita-la no interior. Por ser uma cidade um pouco afastada de Seoul, podemos ver mais da vida campestre. Prefiro ficar na praia ao campo, mas sempre foi apaixonada por flores. Peguei a folha com minha lista, que se encontrava dobrada cuidadosamente dentro do bolso direito do meu casaco e a desdobrei, vendo a quantidade de todas as flores que havia dito até o momento como suas favoritas.

  - Sete vasos de orquídeas… Brancas. Um buquê de rosas vermelhas. Preciso de pétalas soltas também. Cerca de dois sacos – dizia rapidamente para a vendedora, que marcava tudo em seu bloco. Enquanto isso, os seis que me acompanhavam; ao invés de passearem pela loja e verem se havia algo de interessante, preferiam ficar atrás de mim ouvindo todos meus pedidos.

  - Vai montar uma casa de flores? – perguntou.

  - Onde irá caber isso em casa? – tentava ver o tamanho da lista atrás de mim.

  - Se você pensa que iremos sair para você ter um encontro com a minha irmã, você está enganado – cruzou os braços.

   – Não são para ir para casa – olhei para a vendedora, que nos encarava um tanto mais carinhosa do que as vendedoras normais. Talvez ela fosse uma fã do BTS. – Você poderia entrega-las no Banyan Tree? – perguntei, vendo-a arregalar os olhos e com um simples aceno de cabeça, concordar. – Perfeito, pode marcar o número do quarto?

  - Espere, espere, espere – entrou em minha frente, entre eu e a vendedora. – Desculpe, eu poderia falar com meu amigo aqui? – perguntou para ela, vendo-a sorrir desconcertada e se afastar.

  - Eu não terminei os pedidos – disse, vendo minha folha ainda aberta em mãos e a lista não finalizada de ser passada para a vendedora.

  - . . O que você e minha querida e inocente irmã mais nova irão fazer no resort à noite? – o vi cruzar seus braços. , e se colocaram cada um de cada lado de nós dois, prestando atenção na conversa, enquanto e , que não costumavam se importar com nossas discussões amorosas, se afastaram para olhar o resto da loja.

  - Planejei um jantar com ela à beira da piscina externa. Eles também possuem uma programação noturna no SPA; acredito que depois de um voo estressante, ela poderia relaxar com as massagens que o lugar oferece – disse, vendo-o entrefechar os olhos, desconfiado.

  - Qual o quarto que alugou? – perguntou. Abri um pequeno sorriso e olhei para os lados, pegando um lírio branco e entregando para ele. – O quê? O que é isso? Está me pedindo desculpas por quê?

  - Vocês… – olhei para , e , e apontei para .

  - O quê? Por que está pedindo para eles me segurarem? Que quarto você pegou? Ei! Responde!

  - Deluxe – respondi baixo, mas alto o suficiente para vê-lo querer vir para cima de mim me bater, como havia previsto.

  - Você… !!! – estava descontrolado, querendo me bater desesperadamente. Olhei para os lados e agradeci aos três, que reclamaram por me ver sair de fininho de perto dos quatro e deixar nosso bravo integrante a cuidado dos dois. A caminho da vendedora que me atendia antes, pedi um esforço extra para e , só por precaução, porque precisava terminar o pedido das flores logo e ter com suas mãos em meu pescoço só iria atrapalhar tudo. Em seguida, a única coisa que faltaria seria decidir a roupa que usar e alugar o carro para ir e voltar do resort, já que depois do ataque de , ele não me deixaria nenhum membro emprestar o carro deles.

  Logo no caminho de casa, liguei para a locadora, que disse ter disponível um bom carro para mim na sexta-feira a partir das sete da manhã. Horário perfeito. Eu acordaria às sete, chegaria na locadora perto de casa às sete e meia, compraria o café da manhã para os pais de e , levaria para casa a tempo de ter todos acordando. Buscaria com os pais dele na estação de trem, retornaríamos para casa para o café da manhã e então partiríamos para o aeroporto antes das onze e meia, horário previsto para o voo de pousar em Seoul. Ela já disse que demoraria um tempo no Duty Free, então nós poderíamos chegar ao meio-dia. O restaurante favorito do senhor já estava com uma sala privada reservada por mim e a sala de karaokê que a senhora disse querer ir também. Tudo perfeito. Tudo dentro do esquema.

  Chegamos em casa e troquei de roupa para iniciar a limpeza. Por ser um apartamento de sete homens, não somos a limpeza em pessoa. é o mais organizado de nós, por isso, disse que lhe compraria seus doces favoritos para passar a madrugada assistindo os animes, se me ajudasse a arrumar o apartamento para recebermos e seus pais. rapidamente fugiu de ajudar na limpeza, mas foi acordado por , que disse que ele deveria colaborar se quisesse comer de graça na sexta-feira. Era óbvio que ele estava dizendo isso por ser, atualmente, a estrela da casa e não querer fazer toda a limpeza sozinho; quem estava pagando tudo era eu.

  Terminado a limpeza, pedimos comida. Alguns de nós sabíamos cozinhar um pouco, mas sempre que tentávamos ao mesmo tempo, fazíamos uma imensa bagunça, o que estava fora de questão, depois de um dia de limpeza. Combinamos que durante os três dias até sexta-feira, nos esforçaríamos em manter a casa limpa. Os pais de eram os mais exigentes com a limpeza, por isso, nenhum de nós queremos ter nossas orelhas puxadas por eles quando entrarem para tomar o café da manhã.

  - Tem um tempo? – ouço a voz de na porta junto a duas leves batidas. Desviei minha atenção do violão e olhei para trás, vendo-o não esperar por minha resposta e vir até mim, sentando-se na cama. – Queria falar com você.

  - Estou vendo – balancei a cabeça em sua direção. – Já sei sobre o que se trata – o vi levantar a mão com uma sacola de plástico. Arregalei os olhos ao ver o conteúdo que ele se preocupou em comprar às onze da noite. – Você não…

  - Além de irmão mais velho, também sou seu amigo – ele disse. – Não vou proibir vocês de fazer algo que eventualmente sei que irão fazer. Para ser honesto, achei que vocês dois já… Bem. Você sabe.

  - Obrigado – levantei a sacola com os preservativos. – Na verdade, eu já havia comprado – apontei para minha carteira em cima da mesa e o vi fechar a cara. – Não que eu saiba que definitivamente iremos fazer – rapidamente disse, antes de ser morto sem ao menos ver . – É claro que está dentro dos meus planos, mas não é a coisa mais importante. Só quero ficar com ela. Se acontecer… Bem. Estou preparado. Não vou fazer nada que ela não queira. Se ela achar que está preparada… Então tudo bem.

  - Você está se esforçando – diz, observando o cartaz com a mesma lista que estava na folha de papel que carrego comigo o dia inteiro. – Aromatizante floral? Sério? – olhou para mim com um meio sorriso.

  - É importante – digo. O aromatizante foi a primeira coisa que me lembrei quando decidi criar a lista. – Não está sentindo? O cheiro do meu quarto é muito melhor que do de vocês.

  - Claro, porque o meu quarto cheira a homem – ri.

  - Exato. Se vier morar em casa, irá querer dormir no meu quarto – abri um sorriso vitorioso, principalmente depois de vê-lo pegar o frasco com o aromatizante de cima de minha mesa e começar a espalhá-lo pela casa inteira, tendo e reclamando de seus quartos.

  E então sexta-feira chegou. Como programado, acordei às sete horas, arrumei meu quarto e coloquei o aromatizante na mochila. A essência floral deveria estar em todos os lugares do dia de . Meu plano é fazê-la se lembrar de mim todas as vezes que ver flores ou sentir o cheiro delas.

  Peguei um taxi até a locadora de automóveis, onde vi meu carro pronto para ser retirado. Paguei metade do valor integral e parti para a padaria que havia ali perto. Comprei tudo o que estava na lista de compras e voltei para casa. Diferente dos meus planos, nenhum dos seis estavam acordados, de modo que fui obrigado a derrubá-los da cama à força, atitude reprovada por todos nós, mas necessária no dia de hoje. Recebi uma mensagem de minha sogra, dizendo que estavam a quinze minutos da estação. Olhei no relógio assustado, eles estavam quinze minutos adiantados.

  - , corra, seus pais já estão na estação!

  - Eles sabem o que é banco de espera! – recebi uma resposta mau humorada. Ele é o típico de pessoa que só fica bem humorado depois de uma hora acordado. Nunca deixamos ele dormir antes de uma apresentação ou show.

  Olhei em meu relógio mais uma vez ao ver que devia estar na estação em oito minutos. Dirigi o mais rápido que podia, mas por ser sexta-feira e horário de início de expediente, o trânsito estava péssimo. A consequência foi ver meu sogro e sogra sentados no banco em frente à estação aguardando.

  - Desculpe! – curvei meu corpo assim que os vi se levantarem ao nos verem. – Calculei o horário errado, achei que chegariam em dez minutos. – olhei no relógio.

  - Não se preocupe, – senhor disse, dando dois tapinhas em meu ombro. – Sei como é meticuloso com suas responsabilidades. Tenho certeza que o atraso foi devido a outra pessoa. – ele olhou para e me senti aliviado e agradecido por me conhecerem tão bem. Logo, recebi um forte abraço de senhora , que me deu elogios carinhosos e então uma sacola com uma lembrança de agradecimento.

  Como o check-in do hotel que eles ficariam apenas se iniciaria às duas da tarde, suas bagagens ficariam em casa e então os levaria para o hotel depois do almoço, enquanto eu me encarregaria das bagagens de . Chegando ao apartamento, e fizeram exatamente da maneira que eu havia pedido. A casa estava cheirando a flores e o café da manhã na mesa, graças a .

  - Isso é uma apresentação digna de – senhor soltou uma risada ao entrar em casa. – Parece até que é ela quem mora aqui ao invés de sete garotos.

  - Alguém se esforçou durante a semana inteira para deixar o lugar a cara de – disse, apoiando seu braço em mim.

  - Está vendo, ? Aprenda com seu amigo e trate sua namorada bem como sua irmã é tratada – senhora disse, sorrindo para mim orgulhosa.

  - Obrigada, mãe – me curvei em agradecimento.

  Tomamos nosso café da manhã conversando, até meu celular tocar. O alarme apontava que estava na hora de sairmos para o aeroporto. , e ficariam em casa arrumando o apartamento, enquanto e se encarregariam de cuidar do almoço deles, já que o almoço com seria mais familiar.

  Olhei em meu relógio mais uma vez. O voo estava atrasado quarenta minutos. Quarenta minutos era muito tempo. O cronograma da programação seria arruinado e meu psicológico ainda mais. As flores que parei na floricultura para pegar estavam perdendo o brilho da água borrifada pela vendedora antes de me entregar. O odor de flores dentro do carro poderia estar perdendo o efeito. Suspirei, vendo a tela de voos alterar suas informações, mostrando que o avião de já estava no pátio. Olhei em meu relógio a fim de calcular o tempo que ela levaria até sair; provavelmente uma hora e meia.

  - Talvez seja melhor você ligar para o restaurante e o karokê – diz, assim que trouxe uma garrafa de água para cada um de seus pais. Meus ombros caem ao ouvi-lo dizer o que eu não queria colocar em prática. – Você tem horas sobrando entre o karaokê e o jantar, não se preocupe.

  - Você pode segurar o buquê? Vou lá fora, aqui dentro está barulhento – digo, derrotado. Vendo-o pegar de qualquer jeito o arranjo e se afastar. Fora da área de desembarque, liguei para os dois lugares, que confirmaram o atraso de uma hora e meia, mas eu teria de pagar o tempo extra. Aproveitei o tempo extra e corri até o carro, vendo que minha precisão estava correta e o cheiro já não estava mais tão forte. Borrifei exageradamente para que durasse até o desembarque de e voltei para o setor onde e seus pais estavam aguardando pacientemente.

  Quando as pessoas começaram a sair, não pude evitar ficar em pé. De acordo com a regra, eu seria o último a cumprimentar . Desde a última vez que a vi, fazem cinco meses e meio, não consigo me lembrar de várias coisas que amava, como o cheiro de seus cabelos ou o perfume que usa no dorso de seu pescoço. Suspiro e espio mais uma vez em meu relógio. Fui até a floricultura que havia dentro do aeroporto e pedi para que borrifassem mais água no meu buquê. Voltei para onde a família estava e ainda não havia desembarcado, mas havia um enorme grupo de fãs e fotógrafos nos rodeando. Desde quando chegamos, eles têm nos perseguido e tentado falar conosco. Me esforcei em sorrir e mostrar que estava tranquilo, quando tudo o que menos sinto é tranquilidade.

  - Ah, lá está ela! – ouvi senhora dizer, se levantando com o marido e atrás. Virei meu corpo a fim de ver com seu carrinho e as três malas que havia levado praticamente vazias. Pacientemente, esperei ela abraçar seus familiares até olhar ao redor à minha procura. Apareci em seu campo de vista com o buquê de flores e a vi abrir seu enorme sorriso que tanto senti falta, e deixar o carrinho nas mãos de , correndo até mim me dando um enorme abraço.

  - Senti sua falta – disse, assim que retribuí seu abraço. Fechei meus olhos e senti todos os cheiros que já havia me esquecido. O floral de seus cabelos, o floral de seu perfume. Ouvia os flashes ao nosso redor, fãs e paparazzis gravando este momento especial.

  - Para você – entreguei o buquê, vendo-a abrir um sorriso ainda maior.

  - Você se lembrou… – murmurou, olhando para mim, maravilhada. – Obrigada. – colocou-se nas pontas dos pés e me deu um beijo em minha bochecha.

  Com as mãos dadas e acompanhada de seus pais e irmão, caminhamos até o carro alugado, no qual não passou despercebido o cheiro floral. Cada detalhe bem pensado era percebido por ela, o que me deixou, no final, com um orgulho de ter me lembrado de tudo em tão pouco tempo.

  O dia, repleto de flores e odores florais, foi o melhor para . Cuidei para que cada detalhe não desse errado e, no final, chegamos no horário no hotel onde havia programado nosso jantar. A área da piscina, especialmente preparada para nós dois, o serviço especial que contratei para deixar feliz e a sessão de massagem que recebeu assim que foi anunciado me fez satisfeito com a programação. Enquanto ela terminava a massagem, eu ia para o quarto analisar o trabalho do hotel; havia deixado nas mãos deles a decoração romântica do quarto. As pétalas e todas as flores que havia comprado de acordo com o gosto de estavam posicionados perfeitamente. O biquíni que havia comprado para utilizar na piscina do quarto estava colocada em frente à mesma e o último detalhe era o aromatizante que retirei de dentro da mochila e espalhei pelo quarto.

   não poderia estar mais satisfeita e surpresa com toda a decoração. Assim que abri a porta e a vi olhar ao redor, sabia exatamente que o dia havia terminado com cem por cento de sucesso.

  - Você fez tudo sozinho? – perguntou, pasma.

  - Em parte. e perderam no ‘pedra, tesoura e papel’, e cuidaram da louça do café da manhã, e seu irmão levou seus pais para o hotel depois do karaokê – ri com ela.

  - Foi perfeito. Você é perfeito. Eu sabia que aquelas suas fãs tinham bom gosto – ela disse, se referindo aos cartazes que as fãs sempre traziam aos lugares que sabiam que estaríamos, como aconteceu durante a tarde na ida do restaurante para o karaokê. Sorri e passei meus braços por sua cintura.

  - Eu também tenho bom gosto – falei, vendo-a sorrir e passar seus braços por meu pescoço.

  - Não irei negar – fez o comentário que me tirou risos. – Senti muito sua falta.

  - Não tanto quanto eu senti a sua – encostei minha testa na sua, vendo-a fechar os olhos.

  - Quer saber de uma novidade?

  - Hum?

  - Aprendi bastante nessa viagem. Muito sobre moda, ser independente, viver fora de casa… E que não importa aonde eu vá, nunca irei encontrar alguém que eu ame tanto quanto eu amo você.

  Me afastei dela a fim de vê-la melhor. Seus olhos estavam brilhantes e o sorriso estampado em seus lábios. Rodeados pelas flores, posso dizer que o feitiço acabou se virando contra o feiticeiro.

  Aonde eu visse flores, sou eu quem me lembraria dela. De seus olhos me encarando, seus lábios formando um sorriso e as palavras que fez de mim o homem mais feliz do mundo.