Rosas e Violetas
Capítulo 1
Os pés de Phoebe suspiravam aliviados à medida que ela desamarrava o que alguns poderiam considerar objetos de tortura, mas a seus olhos, eram os elementos cruciais que a levariam à realização de seu maior sonho.
Desde que se entendia por gente, a garota de cabelos castanhos se expressava através da dança e toda vez que passava em frente à academia de balé mais renomada da cidade, a pequena aspirante a artista implorava ao seu pai que a matriculasse, contudo, infelizmente, Hank Thunderman não possuía condições, naquele período, de realizar o pedido da filhinha, recém divorciado, o dedicado pai lutava com unhas e dentes trabalhando em uma lanchonete como garçom, a fim de sustentar a casa. Phoebe entendeu, sem problemas, afinal, mesmo sendo apenas uma criança, conseguia perceber as lutas do pai.
Contudo, ela não desistiu de seu sonho. Já adolescente, se inscreveu para um programa especial da academia que ofereceria uma bolsa de estudos. A garota de cabelos castanhos agarrou a chance com unhas e dentes. Todos os dias depois da escola treinava sem parar com uma sapatilha velha comprada com suas economias em um brechó. O esforço da jovem valeu a pena, ela conseguiu a bolsa e agora, aos vinte quatro anos de idade, era uma das alunas da turma especial da senhorita Lily, uma professora renomada, mas muito exigente e mal humorada. Phoebe teve que lutar para conquistar sua admiração, muitas vezes chegava atrasada nas aulas com as mãos cheirando a gordura. Sempre antes da garota conseguir explicar que ela ajudava seu pai na lanchonete própria inaugurada depois de muitos sacrifícios. A senhorita Lily a advertia na frente de todas as outras alunas esnobes, o que obviamente deixava Phoebe constrangida, porém não era o suficiente para fazê-la desistir de seu sonho, muito pelo contrário, a fazia se sentir ainda mais determinada. A falta de recursos ela compensava dando o melhor de si, o atraso, ela compensava ficando todas as vezes depois do horário, a fim de praticar os movimentos.
Dessa forma, com o tempo, a jovem sonhadora conquistou a admiração da rígida instrutora. Agora, a senhorita Lily não se importava mais com os atrasos daquela que considerava uma de suas melhores alunas. Mesmo assim, Phoebe ainda era insegura, pois não podia ajudar a academia financeiramente como as outras garotas, de famílias afortunadas, faziam, por essa razão, quando a senhorita Lily perguntou se poderiam conversar, a garota engoliu em seco, esperando o pior. Cabisbaixa, ela se encaminhou em direção a mulher de cabelos ondulados e nariz arrebitado.
A professora a encarou de baixo a cima enquanto Phoebe tentava esconder as mãos trêmulas, o que ela teria feito? Será que as outras garotas teriam reclamado do cheiro da gordura vindo das roupas de trabalho que ela deixava no vestiário? Ou pior, será que finalmente haviam armado um plano para expulsá-la de vez? Antes que a senhorita Lily pudesse dizer qualquer coisa, começou:
— Eu juro que se o cheiro estiver incomodando eu dou um jeito de deixar a roupa de trabalho em outro lugar, é que eu venho direto…
A dançarina experiente fitou a aluna com as sobrancelhas erguidas em sinal de confusão.
— Do que você está falando?
— É… se não foi isso, então qual foi a reclamação?
— Reclamação? — A professora cruzou os braços pela primeira vez mostrando disposta a escutar.
A jovem aspirante a bailarina então decidiu se abrir:
— A senhora já deve ter reparado, mas as outras garotas não gostam muito de mim… — admitiu em tom mais baixo.
— Sim, eu já percebi, o problema é delas porque mesmo nas suas condições, atualmente é a minha melhor aluna.
Phoebe não escondeu o sorriso, seus ouvidos provavelmente a enganavam, não era possível. Quer dizer, a garota estava ciente de que a professora agora não a olhava de forma torta como nos primeiros dias e já havia dado sinais de que aprovava seu esforço, mas ouvir as palavras naquela voz rouca? Era uma nova e maravilhosa sensação.
— Nossa, obrigada, é uma honra ouvir isso da senhorita.
— Você já está aqui há bastante tempo e seu desempenho na aula, apesar dos atrasos constantes, é impecável e sua dedicação admirável. Por isso acredito que dará conta.
— Darei conta de que?
O coração de Phoebe parecia não caber mais no peito de tanta ansiedade e alegria, mas mesmo com esse turbilhão dentro de si, ela se manteve serena por fora, enquanto a senhorita Lily explicava:
— Você já deve saber que eu estou organizando um espetáculo profissional aqui na cidade: O lago dos cisnes…
— Sim, quer dizer, eu já comprei o meu ingresso! Vai ser tão legal.
— Bom, acredito que não precisará de ingresso, já que fará parte do espetáculo se assim desejar.
— Nossa, que honra, eu serei uma dançarina de apoio? Porque é incrível fazer parte de uma produção profissional.
— Na verdade você será a cisne branca.
Phoebe quase caiu para trás antes de se beliscar de forma discreta para ter certeza de que não se tratava de um sonho.
— Quer dizer a protagonista?
— Sim.
— De um espetáculo profissional? Eu? — Sua voz saiu trêmula.
— Exato, a minha antiga protagonista quebrou a perna e por isso ficará de repouso por uns meses, como o espetáculo estreia em alguns dias, preciso de uma solução rápida.
— Eu? Sou a solução rápida?
— Claro, afinal, é dedicada, talentosa e já está aqui, o que vai me poupar gastar com qualquer passagem de avião… mas o que me diz, você aceita?
— Se eu aceito? Esse sempre foi o meu sonho!
— Ótimo, mas já aviso que não será fácil, afinal, terá que treinar as coreografias de forma dobrada se quiser estar pronta para o dia da estreia.
— Não se preocupe, isso é comigo.
— Sei que será trabalhoso e já que a primeira protagonista se machucou no ensaio e tive que indenizá-la, não poderei te pagar, mas se fizer tudo certo, poderá sim ser recompensador.
— Ah, com certeza, quer dizer… protagonizar um espetáculo…
— Não só isso, eu estou falando dos meus amigos olheiros da Royal Academy.
Outra vez Phoebe pressionou para confirmar que seus ouvidos não a enganavam.
— Desculpa, quer dizer da mais prestigiada academia de balé do mundo? O sonho de qualquer bailarina?
Phoebe conhecia muito bem a Royal Academy, sempre assistia aos vídeos dos espetáculos deles, mas nunca cogitou a hipótese de tentar entrar, primeiro porque só a matrícula custava mais do que uma mansão e segundo porque o processo de seleção era muito rigoroso, incluía somente as melhores.
A voz rouca da senhorita Lily a fez voltar ao momento presente.
— Essa mesma, eu falei para eles virem analisar a minha protagonista durante o período em que ficaremos em cartaz, mas agora eles vão analisar você para uma vaga.
Phoebe precisou de alguns segundos para se recompor antes de responder:
— Senhorita, esse é meu sonho, mas eu nunca teria condições de arcar com…
— Eu sei, mas eles vieram dispostos a oferecer uma bolsa de estudos integral.
Parecia bom demais para ser verdade.
— Como é?
De forma impaciente a professora retrucou:
— Eu não vou ficar repetindo, você ouviu muito bem. Se você mostrar seu talento nesse espetáculo, pode ganhar uma bolsa integral na maior escola de dança do mundo. Infelizmente eles não vão bancar moradia nem todo o resto…
— Isso não é problema, quer dizer, eu tenho uma reserva guardada! — afirmou Phoebe tentando acreditar nas próprias palavras, mesmo sabendo que era impossível, afinal não tinha um tostão furado de reserva.
— Ótimo! Então, depois acertamos os detalhes!
— Tudo bem!
Phoebe chegou na lanchonete com um misto de emoções, felicidade por finalmente ter a chance de realizar seu grande sonho, e insegurança, afinal, se ganhasse a bolsa de estudos, como iria se manter? A garota não tinha coragem de pedir ao pai, afinal ele já lutava com dificuldades para manter a lanchonete de pé e sustentar a casa, seria injusto exigir que ele a sustentasse em outro país. Claro que Phoebe ganhava um salário pela ajuda que dava a seu pai na lanchonete em seus períodos vagos das aulas na academia, porém este mesmo dinheiro ela usava para ajudá-lo a pagar as contas, portanto não sobrava nada para ela mesma…Não que estivesse reclamando, afinal fazia de bom grado, porém talvez aquela situação exigisse uma nova solução.
Hank Thunderman que conhecia de longe a filha, percebeu sua preocupação e, enquanto continuava limpando as cadeiras, indagou:
— O que está incomodando a minha pequena Phoebes?
A aspirante a bailarina sorriu ao som do apelido que lhe trazia conforto desde a infância.
— Pai, eu recebi uma ótima oportunidade. Já te falei que a senhorita Lily está organizando um espetáculo profissional aqui na cidade do Lago dos Cisnes, que estreia na semana que vem, não é?
— Sim, eu me lembro, inclusive você me pediu para usar parte do seu salário para comprar os ingressos, o que é mais do que justo. Já te falei, querida, não precisa abrir mão de todo seu dinheiro…
— Eu quero, pai, já discutimos isso, mas agora eu nem vou mais precisar do ingresso porque eu vou ser a protagonista. A bailarina que iria fazer o cisne branco se machucou e vou assumir o papel!
— Isso é maravilhoso, filha! Quer dizer, não para a bailarina, coitada, mas para você! Meu Deus, querida, é o seu sonho!
— E não para por aí, alguns olheiros da Royal Academy, a maior academia de dança do mundo, virão assistir ao espetáculo e se gostarem do meu desempenho ao longo das apresentações podem me oferecer uma bolsa integral.
— Que maravilhoso, filha! Nossa, onde fica essa academia, Nova York, Los Angeles?
— Moscow! — sussurrou ela já pronta para a reação chorosa do pai.
— Nossa, mas isso é muito longe, não sei se vou aguentar ver minha filhinha do outro lado do mundo, mas é o sonho, então vou te apoiar ainda mais sendo uma bolsa de estudos.
— Sim, a bolsa de estudos é integral, mas terei que arcar com outras despesas como moradia e alimentação.
Através do suor no rosto de Hank, Phoebe conseguiu enxergar uma ruga de preocupação.
— Bom, podemos dar um jeito, se isso acontecer eu posso pegar mais um empréstimo…
— Não pai, já temos dívidas o bastante para manter a lanchonete, eu nunca te pediria isso.
— Mas então como irá realizar o seu sonho, filha?
— Bom, como o espetáculo não vai ser pago, eu estava pensando em arranjar outro emprego, mas não se preocupe, pai, vou continuar te ajudando aqui da melhor forma.
— Imagina, filha. Você é tão talentosa, tem tanto potencial para crescer, olha só o que conseguiu, ainda adolescente entrou na melhor academia da cidade por seu próprio mérito e agora vai protagonizar um espetáculo profissional. Eu quero tanto que você tenha uma vida melhor do que essa que eu posso te oferecer. Por mais que eu goste da sua companhia, jamais te prenderia nessa lanchonete fedorenta para sempre.
Phoebe sentiu uma dor no coração ao ouvir a pessoa que mais amava no mundo e que mais a havia apoiado falar daquela maneira.
— Pai, não, eu nunca pensei isso. Nossa lanchonete não é fedorenta, viu? Ela é o nosso orgulho, não se esqueça disso. E jamais pense que eu me envergonho dessa vida, muito pelo contrário, eu chego nas aulas com minha roupa suja, mas muito orgulhosa porque, ao contrário daquelas esnobes, eu sei o valor do trabalho, porque você me ensinou! E eu jamais vou esquecer, pode ter certeza que no último dia de espetáculo eu vou agradecer ao meu pai, que vai estar lá na primeira fila!
Hank não segurou as lágrimas diante de tanto carinho da filha
— Você é mesmo uma filha de ouro, meu amor! Eu só queria poder ter te proporcionado todas as oportunidades que você merece… Sabe, uma escola melhor, não ter que trabalhar …
— Pai, você nunca me deixou faltar nada e além do mais, me deu o mais importante! Carinho e apoio!!
— Eu te amo, minha pequena Phoebe.
— Também te amo, pai!
Os dois se juntaram em um abraço amoroso e emocionado.
— Desculpa interromper — começou Cherry, uma jovem funcionária da lanchonete que ajudava Hank durante as noites. — Eu não pude deixar de escutar e, Phoebe, eu acho que sei de uma oportunidade de emprego para você.
— Mesmo?
— Sim. Como vocês sabem, eu trabalho como professora de artes em uma escola durante o dia, sabe como é, tenho dois filhos para sustentar… enfim, a diretora estava procurando uma nova professora de economia doméstica, como você tem experiência aqui na lanchonete, quem sabe?
— Olha só, minha filha professora! — exclamou Hank orgulhoso, enquanto terminava de ajeitar as cadeiras.
— Será? Quer dizer, eu não tenho experiência em sala de aula…
— Bom, se quiser você pode ir comigo amanhã, eu te apresento para a diretora, afinal fazer a entrevista não custa nada.
— É, tem razão… muito bem, amanhã vou com você, então. Quem sabe?
Dessa forma, Phoebe terminou a noite empolgada com a ideia de realizar seus sonhos e de um novo emprego, sem saber que além de tudo isso, o destino também lhe reservava outra surpresa…
Capítulo 2
Phoebe penteava seus fios longos e castanhos enquanto se encarava no espelho. A ideia de trabalhar em algum outro lugar que não fosse a lanchonete de seu pai a fazia sentir um certo frio na barriga, afinal, tendo Hank como patrão, ela podia se dar ao luxo de sair um pouco mais cedo a fim de não se atrasar ainda mais para as aulas de balé ou cometer erros sem o medo de ser despedida. Não que servir aos clientes esnobes e preparar os lanches fosse uma tarefa fácil, pelo contrário, ainda mais nas vezes que seu pai precisava sair para fazer compras de novos ingredientes, ela ficava sozinha, precisando dar conta de fazer os lanches e ouvir reclamações de clientes metidos que nunca haviam entrado em uma cozinha na vida. Por suporte no fim da tarde e ajudava Hank a fechar o local quando chegasse a hora, assim a garota de cabelos marrons podia ir despreocupada para as aulas de balé. Agora com seu novo trabalho, Hank ficaria sozinho durante toda parte do dia, o que a preocupava, contudo, não era a primeira vez que ele se sacrificava a fim de realizar as vontades da filha.
Quando conseguiu a bolsa de estudos para a academia, a lanchonete havia sido inaugurada há pouco tempo, por isso seu pai não podia contratar outro funcionário. Não querendo exigir nada do bondoso pai que se sacrificou tanto para criá-la, Phoebe chegou a esconder os papéis, quase abrindo mão de seu grande sonho, contudo, Hank os encontrou e indagou a filha por que ela havia mentido dizendo que não havia passado. Phoebe suspirou, explicando que se aceitasse, Hank ficaria na lanchonete sozinho e ela não queria isso.
Hank, ao invés de concordar, limpou a testa suada e pediu que a filha se sentasse ao seu lado.
— Meu amor, você tem que aceitar, é o seu sonho.
— Não posso, pai, eu sei o tanto que o senhor batalhou para conseguir abrir nossa pequena lanchonete, e sei também que não temos condições de contratar um funcionário agora. Você fez tanto por mim, preciso te ajudar.
Segurando as lágrimas, Hank respondeu:
— Ah, Phoebe, você é mesmo uma filha de ouro, por isso merece realizar seu sonho, quer dizer, dançar é sua paixão, que tipo de pai eu seria se te impedisse de fazer o que gosta para ficar aqui comigo fritando hambúrgueres?
— Mas, pai.
— Nada de mas, eu tenho algumas economias, vou usá-las para contratar alguém apenas para a parte da tarde, assim você pode sair mais cedo e ir para a sua aula.
A garota sorriu incrédula e grata por ter o melhor pai de todo o universo.
— Obrigada. — Sua voz saiu em um sussurro, enquanto abraçava Hank sem se importar com as manchas de gordura.
Phoebe se deliciava com as lembranças, ao mesmo tempo em que se sentia culpada, com o espetáculo e esse novo trabalho ficaria tão ocupada que talvez nem conseguisse ajudar seu pai na lanchonete… todavia ela sabia que o pai não a deixaria desistir.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.
— Está pronta? — Cherry indagou não escondendo a empolgação.
Phoebe respirou fundo antes de fazer que sim com a cabeça.
Naquela manhã, Max havia acordado atrasado, talvez devido à noite mal dormida causada por uma rápida mensagem com um efeito catastrófico. Se dependesse dele, ficaria debaixo das cobertas pelo resto do dia, porém era um adulto e tinha uma escola para dirigir, afinal a posição de vice-diretor que havia conquistado há alguns meses vinha com grandes responsabilidades. Dessa forma ele se sentou à mesa e deu uma mordida em suas panquecas.
Sua mãe, Barbara, sabendo do ocorrido e por terem escutado o choro noturno, evitou tocar no assunto.
— Bom dia, e então, como está, querido? — Barbara se limitou a perguntar.
Max encarava a panqueca exibindo um olhar vago, como se sua vida tivesse perdido o sentido.
— Eu estou bem. — Continuou sem se preocupar em olhar a mãe nos olhos. — Eu tenho um ótimo trabalho com o qual sempre sonhei e essa é a vida…
— Então não está mais triste pela Alisson ter te dado o fora? — Era a voz de Chloe, a caçula.
— Querida — repreendeu Barb.
— Tudo bem, mãe, essa baixinha adora me irritar, sorte dela que não estuda na minha escola, senão ficaria de castigo todo dia.
— Deus me livre ter meu irmão como vice-diretor, já não basta você querendo me dar ordens aqui em casa, achei que ficaria livre de você depois que se casasse, mas a Alisson desistiu, garota sensata.
— Chloe — Barb repreendeu outra vez as provocações da caçula.
Max havia conhecido a bela e doce Alisson quando a mesma se voluntariou na escola para um projeto relacionado a educação ambiental, não demorou, os dois começaram um intenso romance que resultou em um pedido de noivado por parte de Max, ele passou dias escolhendo o anel perfeito e comentando seus planos para a mãe e a irmã, queria construir uma vida ao lado da amada, contudo quando se ajoelhou, a palavra de três sílabas que saíram dos lábios dela, não foi a esperada.
Agora seu coração estava partido e fechado para o amor…
— Isso mesmo, garotinha, você vai ter que me aguentar porque eu vou mergulhar no trabalho e não pretendo me apaixonar tão cedo — afirmou Max sem um pingo de dúvidas, Chloe, no entanto, tinha outra opinião.
— Não teria tanta certeza… Eu ouvi dizer que quando não procuramos por algo, é aí que ele aparece.
— Isso é bobagem… — zombou o mais velho.
— Será mesmo? Aposto que em uma semana no máximo você vai conhecer uma bela garota que vai te balançar outra vez. — A garotinha fez um gesto de coração com os dedos em tom de brincadeira.
— Não me joga praga, Chloe. Agora, se me dão licença, preciso ir…
Max se levantou da cadeira e caminhou risonho até a escola, ainda caçoando das palavras da irmã, mal sabia ele, que ela estava certa…
O jovem diretor estacionou seu carro na vaga de costume, ver seus alunos no caminho do escritório e cumprimentá-los com um sorriso o fazia se sentir melhor.
— Bom dia, Diretora Wong!
A mulher em torno de cinquenta anos, de descendência chinesa e cabelos presos por um coque, deixou de lado os papéis em que estava trabalhando a fim de cumprimentar o colega de trabalho.
— Bom dia, vice-diretor Mecbugger, que bom que chegou, estamos com um grande problema.
O garoto suspirou já imaginando o que o esperava.
— O que foi dessa vez?
— O zelador Billy pediu demissão.
— O quê? Mas ele trabalha aqui há anos, não tem volta mesmo?
— Não, quer dizer, ele saiu furioso gritando coisas que eu não posso repetir.
— Droga, isso é que dá dependermos de um único zelador, e agora?
— Eu já coloquei o anúncio nas redes, mas só conseguirei entrevistá-los na semana que vem.
— E o que vamos fazer até lá?
— Bom, eu estou cheia de trabalho, agora mesmo vou entrevistar uma candidata a vaga de professora de economia doméstica, a indicação da Chery, mas você vai pensar em uma solução.
Max suspirou sabendo que teria um longo dia pela frente.
Os dedos trêmulos de Phoebe hesitam girar a maçaneta da sala que definiria seu futuro, Cherry, já conhecendo a garota, segurou sua mão em um gesto de amizade.
— Não se preocupe, querida, a diretora Wong é uma pessoa muito legal, não precisa ficar nervosa.
— Eu sei, mas é que eu sou tão jovem e inexperiente e preciso muito desse emprego para conseguir me sustentar na Russia, quer dizer, nem sei se os olheiros vão mesmo gostar de mim, mas tenho que me preparar porque senão…
— Ei, calma, lembra do que eu te ensinei quando por um raro momento a lanchonete estava muito cheia, você teve que matar aula de balé para me ajudar e um cliente gritou com você por ter errado o pedido?
— Sim, respirar fundo e contar até três.
— Exatamente, então vamos juntas?
Phoebe sorriu já se sentindo melhor, desde que foi contratada, Cherry se mostrou uma mulher muito gentil e amiga, muitas vezes fazendo o papel da mãe que Phoebe nunca teve.
Após algumas respirações, Cherry indagou:
— Está melhor?
— Sim, você sempre salvando minha vida, sério, nem sei como te agradecer por ter me indicado, quer dizer, se eu fizer alguma besteira é seu nome que vai estar em jogo…
— Ei, eu confio cem por cento em você! E te indiquei com muito orgulho! Agora vamos?
Phoebe se limitou a fazer que sim com a cabeça, enquanto agradecia silenciosamente por seu pai ter escolhido uma pessoa tão legal para substituí-la no turno da noite.
A sala não era muito diferente das que Phoebe já tinha estado, troféus exibidos em prateleiras mostravam o orgulho de todas as vitórias já conquistadas por aquela instituição e duas mesas completavam o local, em uma delas, uma mulher de fios negros digitava em seu computador de forma concentrada.
— Diretora Wong?
A mulher em questão desviou o olhar do computador e as encarou com um sorriso.
— Cherry! Que bom que chegou, imagino que essa seja a Phoebe.
— Sim senhora, sou eu mesma! — a jovem respondeu cabisbaixa.
— Podem se sentar.
Phoebe obedeceu sem pensar duas vezes.
A diretora colocou os óculos antes de indagar.
— Então, Phoebe, a Cherry deve ter dito que a vaga é para professores de economia doméstica, certo?
— Sim
— Você tem experiência com esse tipo de tarefa?
— Sim, quer dizer, desde mais nova eu trabalho na lanchonete do meu pai, eu faço de tudo, separo os ingredientes, preparo os lanches, lavo a louça, além do mais, como somos só meu pai e eu, aprendi desde novinha a cozinhar e a cuidar da casa, eu só não tenho muita experiência ensinando… — admitiu.
A mulher de cabelos negros sentada à sua frente a encarou de cima a baixo.
— É. Eu imaginei, afinal você parece ser muito jovem, o que me faz indagar se conseguiria impor respeito aos alunos?
Phoebe sentiu um nó se formar em sua garganta, enquanto as ideias de resposta se misturavam em seu cérebro, contudo, antes que ela pudesse abrir a boca, Cherry interveio.
— Sim, Phoebe é ótima nisso, ela sempre cuida dos clientes mais jovens.
A aspirante a dançarina encarou a amiga em um silencioso “obrigada”.
— Certo, você parece mais disposta do que os outros que entrevistei ontem, então vamos fazer uma experiência, o que acha? Seria possível trabalhar na parte da tarde?
Phoebe sentiu um aperto no coração ao imaginar seu pai na lanchonete sozinho, contudo, ele havia sido o primeiro a apoiá-la, então não demorou a responder:
— Claro. — Phoebe sorriu incrédula. — É claro que eu posso! Muito obrigada!
As duas caminharam, felizes, até uma sala que Cherry explicou ser a sala dos professores.
— Nossa, não dá para acreditar que eu consegui.
— Pois é, mas eu sabia, você é muito capaz e talentosa! — Cherry a abraçou.
— Eu não teria conseguido sem você, muito obrigada. Quer dizer, você voltou correndo depois das suas aulas para me buscar e me salvou naquela última pergunta.
— Imagina, meu amor, o mérito é todo seu, agora vamos porque você não pode se atrasar para a aula de balé e seu pai está me esperando…
— Estou tão feliz… — Porém, ao se encaminhar para a porta, Phoebe se deparou com um aviso.
— Escala para limpar a escola? O que é isso?
Cherry se aproximou igualmente curiosa.
— Parece que o nosso único zelador se demitiu e até contratarem um novo o vice-diretor montou uma escala para todos os outros funcionários, incluindo professores, limparem a escola, hoje pelo visto é meu dia.
— O quê? Ele não pode fazer isso… Quem esse vice-diretor pensa que é para fazer os professores limparem a escola? Ele não pensa nos funcionários que como você tem outro emprego para se manter…? Ah, como uma pessoa assim tem competência para ser vice-diretor? Eu não entendo, eu aposto que nunca teve que trabalhar na vida, com certeza é um filhinho de papai arrogante que… — Antes que Phoebe pudesse terminar a fala, percebeu a cara assustada de Cherry
— O que foi?
— Ele está atrás de você. — Sua voz saiu trêmula
A afirmação fez Phoebe sentir seu corpo inteiro congelar.
Capítulo 3
Sentindo o estômago embrulhado, Phoebe se virou para encarar a face zangada que provavelmente a esperava, porém, ao invés de um homem de meia idade e fios brancos, ela se deparou com um jovem adulto, provavelmente da sua idade, de olhos cintilantes, barba rala e uma franja que por algum motivo a lembrava de Justin Bieber na época de ouro, este por acaso seu cantor favorito da adolescência.
O vice-diretor em questão, que Phoebe precisava admitir ter uma aparência muito mais agradável do que a imaginada, a fitou de cima a baixo. Os dois continuaram se encarando por alguns segundos até que finalmente Cherry interveio:
— Senhor Macburgger, esta é a Phoebe, professora de economia doméstica que eu indiquei, a diretora Wong acabou de contratá-la.
Na tentativa de quebrar o gelo, a garota de fios marrons estendeu a mão.
Max cruzou os braços enquanto analisava cada detalhe da garota à sua frente, ele precisava admitir que não esperava uma professora nova tão jovem e bonita, seus olhos refletiam um brilho diferente… Por algum motivo naquele instante sentiu seu peito acelerar, talvez pela surpresa, de toda a forma precisava manter a postura, ainda mais depois do que havia escutado, por isso ao invés de tocar as mãos aparentemente delicadas respondeu:
— Ah, sim, uma professora de economia doméstica que pelo visto não é muito chegada a uma faxina.
Phoebe engoliu seco com o insulto discreto. Droga! Seu primeiro dia de trabalho e já havia ofendido o chefe, chefe este que mais parecia um superstar e não um vice-diretor, mas o que ela estava dizendo?
Inúmeras combinações de palavras flutuavam pela mente de Phoebe, se fosse por sua vontade colocaria aquele metido com cabelo de Justin Bieber no devido lugar naquele instante, quem ele pensava que era para insinuar que ela não gostava de faxina só por reclamar de uma escala absurda? De repente, ela se lembrou de alguns garotos que a provocavam no ensino médio, eram da mesma forma, bonitos, mas cruéis, tudo bem que eles a ofendiam de graça e no caso em questão, ela havia começado, de toda forma, uma coragem inesperada surgiu em seu peito para que ela pudesse afirmar:
— Para a sua informação, eu trabalho em uma lanchonete desde mais nova, já limpei mais banheiros do que se pode imaginar, e segundo, os professores são pagos para dar aula não faxinar, se o zelador da escola de demitiu, isso não é problema nosso.
Max respirou fundo em choque com a audácia da garota. Como ela se atrevia a respondê-lo daquela forma?
— Phoebe, não é? Devo te lembrar de que acabou de ser contratada e eu mesmo posso demiti-la agora mesmo. — A voz de Max saiu firme enquanto ele se aproximava da garota de cabelos castanhos.
A aspirante a bailarina teve que se segurar para não responder à altura, afinal, o Justin Bieber da escola estava certo em dizer que ela havia acabado de ser contratada e precisava do dinheiro para se bancar na Rússia, mas, pensando bem, ela preferia ralar o dobro no futuro do que aguentar aquele absurdo.
— Tudo bem, não me importa, eu já estou indo mesmo. Cherry, não quero te prejudicar, você fica, eu aviso o papai.
A funcionária da lanchonete disse que sim com a cabeça.
Durante todo o caminho a garota tentou se acalmar. Como uma escola permitia um vice-diretor tão insolente e explorador, porém bonito e com certo charme… mas o quê? Ela realmente deveria estar maluca, afinal o mal educado havia acabado de ofendê-la e provavelmente a feito perder o emprego, porque com certeza ela não seria mais bem-vinda ali, pelo menos se dependesse do “Justin Bieber”.
Enfim, era hora de concentrar no seu sonho. Pela primeira vez, Phoebe chegou a aula sem que suas mãos estivessem com cheiro de gordura, porém as outras alunas a encaravam torto da mesma forma e, naquela tarde, de um jeito ainda pior, era como se ao invés de somente desprezo também tivesse pitadas de… inveja, claro.
Com a cabeça erguida, Phoebe as ignorou e caminhou até a senhorita Lily, que também pela primeira vez abriu um sorriso ao vê-la.
— Ah, Phoebe, pontualmente … muito bom! Então, depois da nossa aula eu quero falar com você para acertarmos todos os detalhes, certo?
— Claro!
Já de coque desfeito, a jovem com dedos trêmulos girou a maçaneta da sala onde poderia definir seu futuro na dança.
— Quer falar comigo, senhorita Lily?
— Sim, sente-se.
A garota obedeceu sem fazer cerimônia, enquanto tentava pescar alguma dica do que estava por vir através do olhar de sua professora, mas suas emoções eram mais fechadas que um túmulo.
— Muito bem, Phoebe, é o seguinte, o espetáculo estreia em alguns dias, como sei que é dedicada, não duvido que irá conseguir.
— Sim, eu treino noite e dia se for preciso, além do mais, já estou familiarizada com a maioria das coreografias do Lago dos Cisnes.
— Eu imagino que sim, mas lembre-se que este é um espetáculo profissional, um erro pode custar a sua carreira inteira na dança, mas os acertos podem garantir uma bolsa na melhor academia de ballet do mundo.
— Eu sei, não acredito até agora, mas vai ser interessante ter uma nova experiência e trabalhar também em um país diferente.
A última frase, fez a instrutora erguer as sobrancelhas.
— Trabalhar?
— É, a senhora disse que eles não vão me dar nada além da bolsa e esse é o único jeito de me manter por lá.
— Ah, querida, não, entre as exigências da bolsa está a exclusividade, como bolsista você tem que se dedicar ainda mais, não terá como trabalhar, sem contar que as aulas são integrais.
— Bom, eu tinha conseguido uma maneira de juntar dinheiro antes de ir, mas pelo jeito…
— Então encontre outra porque senão pode dar adeus…
— Não, eu vou conseguir! — afirmou tentando acreditar nas próprias palavras.
— Certo, então vamos aos detalhes…
Phoebe fez que sim com a cabeça, lutando para manter a aparência tranquila, mas em seu peito e sua mente o caos reinava. Onde arrumaria outro emprego tão rápido além da lanchonete para a sustentar? Bom, o jeito seria implorar e pedir perdão de joelhos ao vice-diretor arrogante com pinta de superstar, o que feriria seu orgulho? Com certeza, porém ela estava mais disposta do que nunca a fazer o que fosse preciso para alcançar seu sonho.
Ao abrir a porta do apartamento, Max se deparou com os olhares curiosos de Barbara e Chloe. Ele nunca pensou que terminar um namoro o tornaria o centro das atenções.
— Meninas, eu estou bem, antes que me perguntem.
— Tem certeza, querido? Quer dizer, eu sei o quanto você gostava da Alisson e o quanto deve estar doendo para você, então só quero que saiba que se quiser conversar, eu estou aqui! — Barb tomou os ombros do filho de forma delicada.
— Obrigado, mas eu tive um dia muito estressante, o zelador se demitiu e a Wong disse que era para eu resolver, como se não bastasse, a nova professora de economia doméstica da escola é uma atrevida, acreditam que eu a peguei falando mal da minha proposta de revezamento entre professores para limpeza, enquanto não contratamos um novo zelador? Ela me chamou de filhinho de papai, quer dizer, se ela soubesse…
O nome de Ray Mcburger era praticamente proibido naquela casa, quando Chloe nasceu, Barbara teve um parto muito complicado e quase não sobreviveu, Ray não aguentou a pressão e abandonou a família deixando para trás apenas um bilhete frio. O pequeno Max não conteve as lágrimas. Por que seu pai o havia deixado? Será que não era bom o bastante? Teria feito algo para decepcioná-lo? Desde aquele dia, o garoto decidiu que sempre faria de tudo que estivesse a seu alcance para ser perfeito e o mais eficiente possível em tudo que fizesse, fosse na escola, no comportamento… O término com Alisson trouxe de volta as lembranças dolorosas, mas pelo menos a garota lhe deu uma explicação decente.
Percebendo o olhar triste do filho mais velho, Barbara o envolveu em um caloroso abraço.
— Querido, se o seu pai não pode enxergar o menino maravilhoso que deixou para trás, e agora o homem incrível que ele está perdendo a oportunidade de conhecer, ele é quem está errado nessa história.
— É, quer dizer, eu não o conheci, porém imagino que seja um covarde! — insultou Chloe.
— Tudo bem, meninas, eu já sou infinitamente feliz por ter vocês e ela não fez por mal…
— Max, eu aposto que ela é uma velha coroca rabugenta, não é? — Chloe cruzou os braços curiosas e já exalando raiva por Phoebe sem nem a conhecer.
— O pior que não, irmãzinha, ela tem a minha idade… — O jovem vice-diretor não pôde evitar se perder nas lembranças daqueles olhos penetrantes e corajosos, afinal a maneira como a garota o havia enfrentado…
— Ah, não, não vai me dizer que… — Chloe o trouxe de volta à realidade com sua insinuação. Droga, por que aquelas duas precisavam o conhecer tão bem?
— Do que você está falando, Chloe? — Max indagou, se fazendo de desentendido.
— Ah, nem vem, Max, você sabe muito bem, ela é bonita?
— Que pergunta mais idiota, Chloe, só porque ela tem minha idade não significa que vai se tornar minha namorada nem nada do tipo, até porque é bom lembrar que ela é subordinada a mim, e a escola proíbe namoro entre diretores e professores, então, mesmo se eu quisesse e não… eu não quero.
— Tem certeza… eu conheço muito bem esse olhar que você fez agora a pouco, é o mesmo de quando conheceu…
Antes que Barb pudesse completar a frase, Max elevou a voz.
— Chega! Por favor. Eu pedi minha namorada em noivado ontem e ela recusou, eu tive um dia super estressante onde tive que resolver um problema gigante, fui insultado, e quando chego em casa ainda tenho que aguentar vocês fazendo insinuações bobas? Tenham paciência.
Barb e Chloe se encararam cabisbaixa.
— Desculpe, Max, nós não…
— Eu preciso de um banho e depois de uma boa noite de sono, então, se me dão licença, boa noite!
O garoto se limitou a dizer antes de ir para o quarto.
Na manhã seguinte, Phoebe acordou com as mãos trêmulas, a conversa com a senhorita Lily ecoava em sua mente. Não havia outra saída, ela precisava conseguir uma boa reserva de dinheiro caso quisesse ter alguma chance de estudar na escola dos seus sonhos. Isso não seria o problema se aquele vice-diretor mandão não a tivesse escutado. Que droga, por que ele precisava ter entrado na sala dos professores bem naquela hora e por que ele precisava insinuar que ela não era chegada em faxina? Tão arrogante, mas de certa forma charmoso. A franja caída na testa a fez voltar ao tempo em que suspirava pelo pôster de Justin Bieber colados em suas paredes. Não que aquele vice-diretor filhinho de papai chegasse aos pés do cantor, quer dizer, ele era sim bem bonito, Phoebe não podia negar, e sua voz, por mais autoritária que tivesse soado na conversa, era tão melodiosa…
Mas no que ela estava pensando? Ele seria seu patrão, se tivesse sorte e conseguisse convencê-lo a aceitá-la de volta.
Pelo menos se ele fosse careca e velho como os outros vice-diretores que ela já havia conhecido, talvez seu coração não estivesse tão disparado.
Depois de um beijo de despedida do pai, a garota foi para o metrô torcendo para conseguir se acalmar até chegar na escola.
Phoebe colocou um pé de cada vez ao passar pela mesma porta que tinha passado no dia anterior, dessa vez, ela já sabia o caminho, então foi direto para a sala da direção, onde a mesma senhora simpática a recebeu.
— Ah, Phoebe, que bom que você está aqui, eu pensei…
— Diretora Wong, eu sei que não esperava me ver aqui hoje e eu não sei o que o vice-diretor falou sobre mim, mas eu preciso muito desse emprego, meu maior sonho está em risco, então se me der uma chance, eu prometo que nunca mais vai acontecer…
A diretora ouviu atentamente antes de se levantar.
Capítulo 4
Phoebe sentiu seu coração se transformar em uma bomba enquanto a diretora a encarava de cima a baixo. Porém, para a surpresa da aspirante a dançarina, a mulher de cabelos negros indagou:
— Como assim? O vice-diretor Mcburger não fez nenhuma queixa sobre você, pelo contrário, até te elogiou?
Phoebe arregalou os olhos, crente de que seus ouvidos a estavam enganando. Não era possível que o vice-diretor Justin Bieber tivesse falado bem dela depois de todas as ofensas que haviam saído de sua boca.
— Como é?
— Sim, ele me falou que foi você quem teve a ideia de usar o salário do zelador, que não estamos gastando, para dar hora extra aos professores da escala de limpeza pelo segundo serviço prestado.
Phoebe não pôde segurar o sorriso. Talvez ela o tivesse julgado mal e ele não fosse assim tão ruim.
— Bom, eu falei mesmo isso para ele, afinal não é justo os professores terem que ficar até mais tarde, realizando uma segunda função e não receberem nada em troca.
— E você está completamente certa, por isso hoje mesmo o vice-diretor Macburger já implantou o novo sistema.
— Isso é ótimo. Então quer dizer que eu não fui demitida antes mesmo de começar?
— Claro que não, querida, pode se preparar para as aulas!
— Muito obrigada, diretora Wong. Bom, eu já vou me preparar então.
Por sorte, a pequena fagulha de esperança dentro da garota a fez levar os materiais que usaria. Ao entrar na sala dos professores, a jovem se deparou com aquele que deveria agradecer. O vice-diretor Justin Bieber se encontrava concentrado em alguma tarefa no computador, seu cabelo parecia ter ficado ainda mais bonito de alguma forma.
Phoebe pigarreou a fim de chamar sua atenção. No mesmo segundo ele voltou seu olhar para a garota, seus lábios formaram um sorriso, um belo sorriso, por mais que Phoebe não quisesse admitir.
— Ora se não é a amante da limpeza! — brincou.
Dessa vez a garota de cabelos castanhos não levou para o pessoal.
— Pois é, preciso me preparar para o primeiro dia …
— Eu me lembro como foi o meu.
— Me deixa adivinhar, você tinha cinco anos de idade?
A sugestão fez Max rir.
— Claro que não… foi dois anos atrás.
— Eu imaginei, é só que um vice-diretor tão jovem… é surpreendente de se ver.
— Digo o mesmo sobre uma professora de economia doméstica da minha idade, mas aposto que você também não começou com cinco anos…
— Não tão cedo, mas eu comecei a trabalhar bem jovem sim, depois que minha mãe morreu e meu pai abriu a lanchonete.
— Nossa, eu sinto muito… — Diferentemente do dia anterior, seu tom era dócil.
— Tudo bem, quer dizer, meu pai faz o que pode, ele é maravilhoso.
Por algum motivo, mesmo tendo acabado de conhecer a garota de olhos brilhantes e cabelos cheirosos, Max sentia que podia se abrir com ela, então, de forma automática, afirmou:
— Eu queria poder dizer o mesmo do meu pai, quer dizer, ele me abandonou quando eu nasci… — Ele não escondeu sua vulnerabilidade.
De certa forma, o vice-diretor ter coragem de contar a ela sobre algo tão profundo era fofo.
— Nossa, agora sou eu que sinto muito…
— Imagina, minha mãe é incrível e nunca me deixou faltar amor, nem para mim nem para a minha irmãzinha.
Ah, então o vice-diretor jovem e com cabelos charmosos tinha uma irmãzinha, isso talvez explicasse o corte, ou não, já que sendo mais nova ela provavelmente não havia vividos a época de ouro do ídolo pop canadense.
— Pelo visto, além de sermos trabalhadores jovens da educação, também temos em comum o fato de uma ausência paterna ou materna…
— Pois é…
Os dois riram e se encararam por alguns segundos até que Phoebe voltou à realidade.
— Bom, eu tenho que te agradecer, quer dizer, depois de tudo que eu disse ontem antes de saber que você era tão jovem e que acataria a minha ideia…
— Não sou tão filhinho de papai quanto você imaginava, não é? — provocou, cruzando os braços.
Phoebe engoliu seco enquanto tentava se recompor para responder:
— Eu sinto muito por tudo que eu disse, eu só fiquei revoltada principalmente pela Cherry, não porque ela teve que faltar ao trabalho na lanchonete, mas porque ela batalha tanto para sustentar o filho e ficar aqui até tarde sem receber hora extra…
— Imagina, você estava coberta de razão, até porque a escola nem terá prejuízo, visto que usaremos o salário do zelador para pagar as horas extras. A Cherry, inclusive, vai receber por ontem.
— Que bom, ela precisa muito
— Eu sei. Bom, preciso ir, sabe como é, vida de vice-diretor, mas boa sorte com as aulas!
— Obrigada, senhor Macburger — agradeceu Phoebe, tentando ignorar o quanto era estranho chamar um garoto fofo da sua idade de senhor.
Como se lesse sua mente ele afirmou:
— Max, pode me chamar de Max.
— Tudo bem, eu sou a Phoebe, mas acho que você já sabe disso.
O garoto colocou as mãos no bolso e riu de forma tímida.
— Sim, eu já sabia. Bom, nos vemos por aí, Phoebe!
— Sim, nos vemos, vice… quer dizer, Max.
O Justin Bieber da educação lançou um último sorriso antes de sair. Definitivamente ele não era assim tão ruim, mas também não deveria ser bom ao ponto de fazer as mãos de Phoebe tremerem. O que estava acontecendo? Ela estava ali para trabalhar e conseguir realizar seu sonho da melhor forma, não para paquerar, além de tudo, com certeza o vice… quer dizer, Max, não havia esquecido as ofensas do dia anterior, apesar de sua atual gentileza.
Colocando os pensamentos no lugar, Phoebe se encaminhou até os cartazes, a fim de ver em qual sala seria sua primeira aula, porém encontrou algo pelo qual não estava esperando. Seu nome estava escrito no cartaz da escala de limpeza para aquela noite.
Pelo visto o vice-diretor Justin Bieber havia encontrado um jeito de ter sua vingança. Ela não se importaria, ainda mais recebendo, contudo, aquela era justamente a noite de seu primeiro ensaio para o espetáculo. Droga.
— Ai, como eu fui boba de acreditar em toda aquela gentileza forçada. Isso é para você aprender, Phoebe, nunca confie em um rostinho bonito acompanhado de um cabelo charmoso.
Max se encaminhou para o refeitório já vazio, se sentindo um pouco culpado, afinal, Phoebe havia pedido desculpas, havia sido gentil quando ele contou sobre seu passado e realmente tinha um ponto, já que fazer os professores trabalharem até mais tarde na faxina sem receberem nada em troca era errado e cruel, talvez até mesmo uma atitude de super vilão. Max riu com o pensamento que o levou a infância. Ao contrário da maioria das crianças, ele sempre admirou os malvados pelo simples fato de eles terem capas e roupas muito mais legais, contudo, obviamente, depois de crescido ele passou a analisar o caráter ao invés do estilo. Além do mais, ao ser abandonado pelo pai, sentiu o gosto do que é a verdadeira maldade.
Mesmo assim, ele havia agido como um tirano e se sentia mal com isso, se não fosse pela fala de Phoebe, talvez ele não tivesse acordado para o seu erro, então talvez, ele é quem devesse agradecer a garota de fios marrons e olhos incríveis, mas obviamente ele nunca faria isso. Max podia não ser um super vilão, porém seu orgulho o impedia de tal atitude. Dessa forma, ele deu uma garfada em seu almoço, tentando ignorar esses pensamentos.
Phoebe girou a maçaneta da sala com dedos trêmulos enquanto um milhão de dúvidas invadiam sua mente. Será que ela seria uma boa professora? Será que conseguiria dar o seu melhor para aqueles estudantes apesar de estar tão ocupada com o espetáculo e ainda ter a responsabilidade de ajudar seu pai nas horas vagas? Eram tantas preocupações, mas a principal delas não estava relacionada àqueles adolescentes que a aguardavam, e sim a uma jovem senhora de cabelos loiros geralmente presos num coque, esta receberia uma notícia não muito agradável.
Será que sua falta no primeiro ensaio custaria o papel com o qual sempre sonhou? Será que valeria a pena abrir mão disso por um trabalho secundário que só serviria para bancá-la durante os futuros estudos de dança? Droga, se não fosse a vingança infantil do vice-diretor Justin Bieber, ela não estaria agora nesse dilema. Como alguém de certa forma charmoso podia ser tão mesquinho e orgulhoso? Bom, ela não poderia culpá-lo por completo, já que ele não tinha como saber sobre o espetáculo, se dependesse da futura protagonista, continuaria exatamente assim… Pelo menos era o que a garota de cabelos marrons e ondulados desejava. Mal sabia ela que o destino tinha outros planos…
Para o alívio de Phoebe as turmas a receberam com respeito e até riram de algumas de suas piadas, provavelmente por pena da nova professora, tão jovem e tão inexperiente, afinal até mesmo adolescentes têm coração. No fim do dia, a filha de Hank saiu com a sensação de dever cumprido e aliviada por ter conseguido conquistar a turma e sobrevivido ao primeiro dia.
Provavelmente, no entanto, sua próxima missão provavelmente não teria tanto sucesso. Depois de respirar fundo e repetir para si mesma de que tudo ficaria bem, ela discou o número de senhorita Lily que atendeu depois de alguns segundos, exibindo seu habitual mau humor apenas pelo tom de voz.
— Alô?
Phoebe sentiu sua garganta secar, precisaria ser forte.
— Olá, senhorita Lily?
— Phoebe? O que aconteceu?
A garota não pôde deixar de se sentir lisonjeada pelo fato de a bailarina experiente reconhecer sua voz, já que normalmente não prestava atenção nas pessoas.
— É, eu sei que está em cima da hora, mas houve um imprevisto no meu outro trabalho e eu não vou conseguir ir ao primeiro ensaio hoje.
Após alguns segundos de silêncio que pareceram uma eternidade para Phoebe, resmungos surgiram do outro lado da linha.
— Phoebe, você sabe que a vida de uma bailarina profissional se resume à dança, não é? Precisamos dar cem por cento de nós a todo instante, o ensaio é sagrado, você sabe muito bem disso, apesar de sempre chegar atrasada… — alfinetou.
— Eu sei e eu quero muito isso, mas eu também preciso desse emprego caso consiga a bolsa na Rússia, a senhora mesma disse que eu não teria outra opção.
— Mas eu não achei que você o deixaria intervir na sua vida no ballet. Talvez eu tenha tomado a decisão errada, talvez você não esteja pronta…
— Não, por favor, senhorita Lily, isso é tudo que eu sempre quis, eu prometo que a partir de amanhã eu posso ensaiar a madrugada toda se a senhora quiser.
Mais resmungos surgiram do outro lado.
— Tudo bem, eu vou te dar outra chance por causa do seu talento.
Phoebe suspirou aliviada enquanto um sorriso surgia em seus lábios.
— Muito obrigada, senhorita Lily, eu prometo que não irá se arrepender.
— Assim espero, porém, se chegar atrasada um segundo sequer para o ensaio de amanhã…
— Eu não vou chegar, prometo!
— Eu não quero promessas, Phoebe, quero resultados.
— E a senhora terá!
— Ótimo.
A jovem desligou a chamada contente por tudo ter se resolvido, quer dizer, quase tudo, porque graças a um certo vice-diretor, ela tinha uma escola para limpar. A garota já estava mais do que acostumada ao trabalho, já havia perdido as contas de quantas vezes limpou sozinha a lanchonete, contudo, aquela situação era completamente diferente, ela não estava ali por amor ou porque acreditava no que estava fazendo, mas sim para conseguir dinheiro, nada mais, Phoebe sempre havia sido contra a filosofia de se trabalhar apenas visando o pagamento, mesmo tendo tido que aplicá-la até agora.
Ao imaginar o quanto gostaria de estar no ensaio, ela sentiu suas pernas se balançarem enquanto passava a vassoura pelo chão, de repente, um som de piano invadiu seus ouvidos e ela não pôde evitar se mexer com a música, mesmo o som estando somente em sua cabeça, a jovem, como toda boa dançarina apaixonada, não precisava de muito para fazer sua arte, assim, o corredor se tornou um palco enquanto Phoebe girava da mesma forma que fazia nas aulas de balé.
— Interrompo algo? — Uma voz conhecida a arrancou de sua maravilhosa fantasia.
A professora de economia doméstica sentiu as bochechas corarem ao ver Max à sua frente.
Capítulo 5
Max fitou a bailarina de cima a baixo como se estivesse diante de uma alienígena, mas não no mau sentido, estava diante de uma garota que, por alguma razão, o fascinava. Seus movimentos não eram nem um pouco desengonçados, será que ela era dançarina? De toda forma, apesar das ideias precipitadas e da insensibilidade anterior, Max ainda tinha um pingo de percepção dentro dele para ter ciência do quanto sua chegada havia constrangido a nova professora, ele conseguia ver isso, não apenas pelas suas bochechas vermelhas, mas também pela forma como sua respiração estava acelerada.
— Me desculpe, eu só estava…
— Imagina, eu não queria interromper, eu só pensei em te oferecer ajuda?
Phoebe sentiu mais uma vez a raiva subir em seu peito. Como se não bastasse o fato de ele a ter escalado para limpar corredores na noite mais importante de sua vida, agora ainda queria humilhá-la? Isso não ficaria barato.
— Por quê? Está preocupado que a nova professora reclamona não dê conta do recado? — provocou, deixando a vassoura de lado e colocando as mãos na cintura.
Como aquela garota era atrevida, nunca nenhum outro professor havia falado com Max daquele jeito antes, todos sempre obedeciam sem questionar, com medo de perder o emprego ou no máximo davam suas sugestões de forma pacífica. De certa forma, isso o incomodava porque, afinal, a escola não era para ser um ambiente autoritário. Tudo bem que ele era o vice-diretor e os docentes lhe deviam respeito, contudo ele não queria trabalhar com pessoas que tivessem medo dele ou achassem que lhe deviam alguma obediência, ele queria compartilhar ideias, ouvir o que os outros colaboradores tinham a dizer. Talvez isso era o que ele achava tão atraente sobre Phoebe… mas o que ele estava dizendo? De toda forma, ela era uma atrevida. Certo, uma atrevida que o havia ajudado e feito perceber o erro que seria colocar os professores para faxinar de graça, contudo, ainda assim, atrevida.
— Você também fala assim com o seu outro patrão? — Foi a vez do vice-diretor provocar.
— Quer dizer com meu pai? Se ele me obrigasse a limpar fora do horário combinado, sim, eu brigaria — afirmou, tentando se concentrar na tarefa de varrer o chão, porém era impossível com Max ao seu lado.
O garoto deu uma risada.
— Você vai receber, do que está reclamando?
Phoebe engoliu seco enquanto se lembrava do telefonema doloroso com a senhorita Lily.
— Há coisas muito mais importantes que o dinheiro, você não entenderia… — se limitou a responder, por mais que uma parte dela quisesse contar tudo ao diretor Justin Bieber e dar a ele pelo menos o direito de entender a sua raiva.
— Mulheres… — Max pegou outra vassoura e começou a esfregar no mesmo ritmo de Phoebe.
— Nossa, sério?
— Me desculpa, quer dizer, eu não sei o motivo pelo qual você ficou tão brava, mas eu tenho uma notícia que vai te animar: eu consegui contratar um novo zelador que começa amanhã! Então, esse é o último rodízio! — exclamou ele como se estivesse contando que uma super estrela participaria do show de talentos da escola.
Phoebe, no entanto, levantou uma sobrancelha incrédula em constatar como Max realmente era tão insensível.
— Sério? Então quer dizer que eu e a Cherry fomos as únicas “premiadas”? Que sorte! — soltou ela irônica, enquanto se movia para o outro canto, tentando se afastar ao máximo do vice-diretor Justin Bieber. Ele, no entanto, a seguiu, finalmente percebendo seu erro.
“Droga, eu vivo com duas mulheres e cometi uma gafe dessas” ele lamentou consigo mesmo, já imaginando a reação de sua mãe e de Chole caso ele contasse o ocorrido.
— Espera, você tem razão, eu sinto muito por você ter que limpar essa noite, quer dizer, os professores depois do trabalho geralmente só ficam assistindo televisão e…
Phoebe saiu de perto novamente, enquanto se controlava para não acertar a vassoura que segurava naquele rosto bonito.
Max suspirou percebendo que sua falta de jeito com as mulheres atacava novamente. Tudo bem que ele havia estado em um relacionamento por algum tempo, mas Alysson era diferente de todas as outras e ela era tão decidida… o que de certa forma o fazia se sentir frustrado algumas vezes…
— Mas você provavelmente tinha algo mais importante para fazer, não é? — O jovem educador tentou a sorte.
Phoebe, no entanto, continuou concentrada no chão que varria, o ignorando, gesto que de certa forma o deixava maluco.
— Tudo bem? Eu vou te ajudar com isso, aí acabaremos na metade do tempo e quem sabe ainda consiga ir para o seu compromisso.
Por mais que quisesse, Phoebe não conseguia esconder seu olhar de tristeza.
— Certo, imagino que não tenha mais jeito, quer dizer, a não ser que viremos o Flash, eu posso ajudar com isso. — O rapaz esfregou o mais rápido que podia, enquanto seus pés aceleravam.
Phoebe, no entanto, se lembrando de que apenas alguns segundos antes havia passado a vassoura com sabão naquele exato lugar, soltou o alerta:
— Espera, não precisa ser tão rápido. — Contudo, ela soube que era tarde demais quando viu o vice-diretor caído no chão.
— É, já sei — afirmou em meio aos dentes, enquanto lutava para se levantar, contudo o sabão o puxava de volta.
Phoebe colocou as mãos no lábio, na tentativa inútil de controlar o riso. O vice-diretor de rosto bonito, porém tirano, teve o que mereceu.
— É… Uma ajuda?
Ela voltou a si e se posicionou perto das costas de Max, ela segurou os braços do jovem educador e por algum motivo arrepios subiram por todo seu corpo, porém não era nisto que deveria estar prestando atenção.
Usando toda a força do braço ela o puxou.
— Mais forte! — gritou Max.
— Eu estou dando o meu máximo.
— Mas não é o suficiente! — apontou.
A vontade de Phoebe era deixá-lo preso para sempre naquele chão escorregadio, contudo não podia correr o risco de ser demitida de novo, precisava se lembrar de seu sonho. Então, mesmo sentindo os braços arderem, ela continuou, porém, mesmo que seus braços estivessem dispostos a lutar, seus pés a deixaram na mão e escorregaram, a fazendo cair bem em cima do vice-diretor.
A proximidade fez com que ambos entrassem em um mundo paralelo onde pretendiam permanecer pelo máximo de tempo possível. Contudo, foram trazidos de volta à força quando uma voz feminina indagou:
— O que está acontecendo aqui?
O casal se deparou com a diretora Wong de braços cruzados e olhos arregalados.
— Diretora Wong, nós só estávamos… — A voz de Phoebe saiu trêmula, mesmo não tendo feito absolutamente nada de errado a garota tinha pavor do que poderiam pensar ou dos boatos maldosos que poderiam se espalhar pela escola se mais alguém visse aquela cena. A garota estava pronta para pedir desculpas, porém Max a interrompeu.
— Essa bagunça é culpa minha. Eu fui ajudar a Phone… quer dizer senhorita Thunderman, e acabei escorregando, ela tentou me ajudar e acabou caindo também.
A mulher de cabelos negros cruzou os braços enquanto avaliava a situação. Phoebe sentiu seu coração na boca, ela não podia correr o risco de ser demitida de novo, caso o contrário, como arcaria com os custos na Rússia? E se recusava a ter perdido o primeiro dia de ensaio sem motivo algum.
— Realmente professores e vice-diretores não foram feitos para a limpeza, ainda bem que você já conseguiu resolver esse problema, senhor McBurguer! — Seu tom neutro não fez nenhum dos dois se acalmar.
— Sim, ainda bem — comentou Max esticando as mãos para receber a ajuda da diretora logo depois de Phoebe.
Agora, já de pé, os dois se encararam, enquanto esperavam a bronca, contudo, para o alívio de ambos, ela não veio.
— Muito bem, só enxuguem esse chão e podem ir para casa, o novo zelador cuidará do restante do corredor amanhã.
Em uma perfeita sintonia, os dois responderam ao mesmo tempo:
— Sim, senhora.
— Ainda bem que tudo deu certo… — Phoebe se limitou a comentar, enquanto enxugava o molhado.
— Pelo menos agora você sabe que eu corro tanto risco de perder meu emprego quanto você. Por isso, jamais prejudicaria ou colocaria seu nome no rodízio de propósito — explicou Max antes de jogar o cabelo da exata mesma forma que um certo cantor canadense. Dessa vez Phoebe nem se preocupou em disfarçar o riso.
— O que é tão engraçado? — indagou o jovem educador realmente curiosos para saber o que havia feito para que aquela bela garota de cabelos castanhos mudasse de humor rapidamente.
Obviamente, a aspirante a dançarina nunca iria revelar o apelido “carinhoso” que havia dado ao vice-diretor, por isso, tratou de se recompor antes de responder:
— Não é nada, só vamos limpar, está bem?
O casal continuou em silêncio, contudo, não era um silêncio do tipo constrangedor, mas sim reconfortante, como se finalmente tivessem selado a paz.
Max entrou em casa com os cabelos umedecidos e a camisa social ensopada, fato que não passou despercebido pelos olhos de Barb e Chloe que foram logo indagando.
— Meu irmão, quem fez isso com você? — Chloe encostou na blusa para ter certeza de que realmente era água e não algum outro líquido nojento.
— Phoebe! — Se limitou a explicar.
— A nova professora da sua idade?
— O que aconteceu? Ela te molhou? — Foi a vez de Barb entrar na conversa.
Max não queria explicar a situação, temendo uma interpretação errada, contudo, se mentisse seria pior.
— Mais ou menos, eu fui ajudá-la a limpar o corredor e acabei escorregando.
— Nossa, você nunca me ajudou a lavar a louça quando te pedi — reclamou Chloe antes de expor a conclusão que Max tanto temia. — Você deve estar mesmo a fim dessa garota…
O vice-diretor sentiu as bochechas corarem, talvez sua irmã não estivesse de todo errada, afinal, não dava para negar que Phoebe tinha algo especial, contudo, ele jamais admitiria isso em voz alta.
— Não fala bobagem, eu tive a ideia de fazer os professores limparem, o mínimo que pude fazer era ajudar. Agora, se me dão licença, vou tirar essa blusa e secar meu cabelo.
Ele caminhou para o quarto o mais rápido que suas pernas ainda doloridas da queda, permitiam, porém, sem deixar de refletir sobre tudo que havia vivido naquela noite…
Phoebe pendurou o casaco na porta da lanchonete e ao entrar no local ouviu a familiar e confortável voz de Hank.
— Oi, querida!
— E então, como foi a limpeza? — indagou Cherry enquanto arrumava as mesas.
— Não limpamos o corredor inteiro …
— Espera, nós? Alguém te ajudou? — Cherry colocou as mãos na cintura, deixando o pano que segurava de lado.
Phoebe engoliu seco tentando não tirar conclusões precipitadas.
— Sim, o vice-diretor.
— Ah, claro. Nós podemos ir na cozinha, preciso da sua ajuda com… os hambúrgueres.
— Tudo bem.
Chery segurou a mão de Phoebe e a puxou para um lugar privado o mais rápido que pôde.
— O que foi?
— O vice-diretor Macburguer não me ajudou ontem, eu fiz tudo sozinha — afirmou sem um pingo de raiva na voz, apenas curiosidade.
— Bom, talvez o Max estivesse ocupado…
— Max? Você chama ele de Max?
— Foi ele quem me deu permissão, por que, você não o chama assim?
— Claro que não, ele é meu chefe… Phoebe, não é por nada, mas eu acho que ele gostou de você…
A garota engoliu em seco outra vez, tentando impedir que seu coração se tornasse uma bomba dentro de seu peito.
— O quê? Para com isso, Cherry que viagem, ele só deve ter percebido o quanto pedir para os professores limparem a escola depois do horário é errado e decidiu ajudar.
— Será mesmo?
— É, Cherry, nada mais do que isso, não fica colocando minhocas na cabeça.
— Eu não estou colocando, mas de todo jeito, mesmo que ele estivesse gostando de você, o regimento da escola proíbe qualquer relação amorosa entre empregados.
Phoebe, por algum motivo, sentiu a notícia como um soco no estômago. Não que ela tivesse qualquer interesse no vice-diretor Justin Bieber, mas talvez, só talvez… Quanta bobagem, afinal, ela estava lá para conseguir juntar dinheiro para realizar seu sonho e não viver um grande amor, ponto final.
— Ainda bem! — se forçou a exclamar, enquanto tentava convencer a si mesma de que a afirmativa que saía de sua boca era verdadeira.
Desesperada para mudar de assunto, a garota de olhos castanhos comentou:
— De todo jeito, o importante é que esse pesadelo, faxina depois do horário, acabou! Agora vamos logo porque as mesas não vão se arrumar sozinhas — afirmou Phoebe na esperança de se distrair com o trabalho, contudo, sabia que seu cérebro não seria capaz de concentrar naquela noite que não fosse um certo alguém…
Capítulo 6
Phoebe acordou no dia seguinte com um sorriso no rosto, não evitando as lembranças da noite anterior que insistiam em invadir a sua mente. Seus lábios formavam um sorriso diante da imagem de Max jogando os cabelos da mesma forma que seu cantor favorito da adolescência, só podia ser brincadeira do destino. De toda forma, sua disposição naquela manhã tinha nada a ver com o fato de a faxina ter sido bem mais divertida e empolgante do que imaginava. Não, Phoebe estava radiante porque aquele, se não houvesse nenhuma surpresa desagradável vinda do vice-diretor Justin Bieber, seria seu primeiro dia de ensaio como uma bailarina profissional. Era a realização do maior sonho da Phoebe adolescente que chegou até mesmo a vender sanduíches na escola para conseguir dinheiro e uma sapatilha de ponta. Finalmente ela teria condições de dar a seu pai a vida que ele merecia ao mesmo tempo em que fazia o que mais amava. Certo, a senhorita Lily havia deixado bem claro que não poderia pagá-la por aquele espetáculo em questão, porém seria sua porta de entrada para que outros produtores artísticos vissem seu talento e a contratassem, oferecendo bons cachês, além da chance de ganhar uma bolsa de estudos na maior escola de dança do planeta. Seu currículo seria irresistível! Então, mesmo que não recebesse um centavo sequer financeiramente naquele momento, tudo valeria a pena em um futuro não muito distante. Quer dizer, quando pisasse no palco pela primeira vez usando a roupa do cisne branco, já teria sua recompensa, afinal sua paixão pela dança falava mais alto do que tudo.
Todavia, antes de ir ao ensaio teria que dar aulas, o que não era tão ruim, o problema era a enorme chance de esbarrar, sem querer, no vice-diretor Justin Bieber. Se isso acontecesse, sem dúvidas, seu coração teimaria novamente em virar uma bomba, enquanto suas bochechas tomariam uma coloração avermelhada em questão de instantes. Droga, o que estava acontecendo, ela nunca havia sido o tipo de garota que se deixava intimidar por uma paixonite? Paixonite? Ela, por Max? Não, isto estava fora de questão, não podia acontecer, por inúmeros motivos, e o mais recente que havia descoberto era o regulamento da escola.
Como ela queria que a notícia dada por Cherry na noite anterior não a tivesse deixado tão incomodada. Até porque a última coisa que ela precisava naquele instante era um novo amor, afinal, em poucos meses, se tudo desse certo, estaria embarcando para o outro lado do mundo em busca de seu sonho. Sendo assim, precisava manter a cabeça no lugar e os olhos longe de um certo alguém. Assim, naquela tarde o universo atendeu seu pedido, as aulas correram da melhor forma possível e nem sinal de Max, talvez ele estivesse ocupado demais. Sua mente dizia que a situação devia faze-la suspirar de alívio, contudo, seu maldito coração insistia em indagar se ele a estaria evitando. Claro que não, quanta bobagem, se fosse o caso, melhor ainda! Certo? Certo! Tentou convencer a si mesma, sem sucesso.
Os dias se passaram dessa forma, Phoebe dividia seu tempo entre dar aulas, ensaiar e ajudar seu pai na lanchonete sempre que possível. Não era de se estranhar que ela chegasse exausta ao final do dia, porém esse era o caminho para uma vida melhor, a vida com a qual sua mãe havia sonhado e nunca pôde ter… um aperto surgia em seu peito toda vez que se lembrava da mãe… mas sua vida estava caminhando e isso era o mais importante.
Quanto a um certo diretor, para sua sorte ou tristeza, ele estava a uma distância segura de seu caminho, nas poucas vezes que se cruzavam nos corredores, ambos se limitavam a um leve aceno de cabeça, a atitude fazia Phoebe nutrir um pingo de esperança de que talvez o vice-diretor estivesse tão sem graça quanto ela, às vezes Max percebia que ela estava com curativos nos pés sem saber que estes eram cortesia de longos e cansativos ensaios, contudo não se atrevia a indagar o motivo.
Após algumas semanas de muito trabalho, dedicação e corretivo de pele para disfarçar olheiras, o dia da estreia do espetáculo finalmente havia chegado! Lá estava Phoebe experimentando sua roupa de cisne branco, mesmo sendo uma roupa cheia de penas, a fazia se sentir poderosa, capaz de chegar aonde quisesse. Alguns anos atrás, enquanto encarava sapatilhas de ballet na vitrine de lojas com os olhos brilhando, aquilo parecia tão distante de sua realidade, como se alguém com seus traumas e condições nunca fosse capaz de ter, mas agora, lá estava, prestes a protagonizar seu primeiro espetáculo profissional! Um misto de alegria e nervosismo tomava conta de seu peito, contudo não havia como ser diferente, se tudo desse certo, ela estaria mais perto do que nunca de se tornar alguém no mundo da dança, porém se falhasse, tudo pelo qual havia batalhado teria sido em vão. Por isso a escolha era óbvia.
Naquele momento também, a garota não pôde deixar de lembrar da mãe, com certeza a mesma estaria sentada na primeira fila ao lado de Hank, aplaudindo a filha a cada segundo. De alguma forma, a garota de cabelos castanhos sentia sua presença aconchegando e dando forças para subir naquele palco e dar o seu melhor. A ideia a fez abrir um sorriso involuntário que foi interrompido por uma batida na porta.
— Posso entrar? — Hank segurava uma rosa.
— Claro, pai!
— E então, preparada?
— Bem nervosa, mas com certeza tudo vai dar certo!
— Claro que vai, eu não tenho dúvidas! Ah, minha filha, eu estou tão orgulhoso de você, desde jovem lutou pelos sonhos e agora olha onde chegou!
— Eu não teria conseguido sem seu apoio, pai! Obrigada por ter entendido todas as vezes que eu saí mais cedo da lanchonete para ir às aulas!
— Ah, querida, não tinha como ser diferente, você é tão talentosa, seria um crime eu te prender naquela lanchonete para sempre!
— Não fala assim, o senhor sabe que eu não tenho vergonha alguma.
— Eu sei, mas é verdade, quer dizer, você tem tanto potencial e quando estiver se apresentando nos maiores palcos do mundo e quando seu espetáculo estiver passando na tevê, eu vou falar para os clientes todo orgulhoso. Olha lá! É a minha filha.
Phoebe deu uma leve risada.
— Te amo, pai! — declarou ela o abraçando.
— Eu também! Ah, antes que eu me esqueça, você sabe que se eu pudesse, te daria um colar de diamantes em uma ocasião como esta, mas espero que goste dessa rosa!
Phoebe pegou a flor de forma delicada.
— Era tudo que eu queria! Eu amei e vou guardá-la com todo carinho, pai, com certeza vai me dar sorte.
— Essa é a ideia! Bom, agora deixa eu ir para deixar minha estrela terminar de se preparar!
— Espera, pai, um último abraço!
Ela se aconchegou nos braços de Hank antes de dar um último sorriso. Era hora de respirar fundo, pois o espetáculo começaria em menos de uma hora. Terminando de se arrumar, Phoebe firmou o coque com gel fixador e olhou para os dois objetos minúsculos que estavam na penteadeira, lentes de contato. Se tivesse escolha, ela exibiria sem problemas seus belos olhos castanhos herdados dos avós, contudo, senhorita Lily havia feito a exigência alegando:
“Olhos verdes são chiques e atraem a atenção do público, além do mais, a nossa antiga protagonista possuía essa mesma cor de olhos” ela apontou para as lentes quando as mostrou a Phoebe pela primeira vez há alguns dias. A filha de Hank não teve como argumentar. O objeto “invasor” fez seus olhos arderem a princípio, eram preciso alguns segundos para que os mesmos assimilassem a nova realidade. Phoebe se olhou no espelho, ela até que ficava bem de olhos verdes, mesmo que não se sentisse cem por cento confortável com a ideia ainda, era como se fosse uma impostora tentando pegar o lugar de outra pessoa ou como se tivessem arrancado uma parte de sua identidade. Olhos verdes não eram para qualquer um, assim como a posição que estava ocupando.
Sua mente começava a se questionar se ela era realmente merecedora daquela oportunidade, afinal, por que mesmo que ela quisesse, nunca teve a chance de se dedicar cem por cento à dança como as outras garotas da turma que frequentava. Além do mais, a senhorita Lily sempre pegava mais em seu pé do que de qualquer outra, não somente quanto aos atrasos, mas durante todo o tempo. “Estique mais esses dedos, Phoebe”, “sua mão precisa ser corrigida”. Contudo, ao mesmo tempo, talvez isso fosse um bom sinal, sinal de que a professora enxergava potencial nela, e essa teoria tinha grandes chances de estar correta, considerando Phoebe entre todas, havia sido a escolhida para estar ali, apesar dos pensamentos intrusivos que teimavam em invadir sua mente. Era fato, a senhorita Lily a havia escolhido por livre e espontânea vontade, não por falta de opções.
Ao se sentir mais aliviada, a garota de cabelos castanhos abriu um sorriso antes de preencher o rosto com a última peça do figurino: Uma máscara branca cheia de penas. Outra vez ela se olhou no espelho, a máscara só deixava sua boca e os falsos olhos verdes visíveis, escondia suas imperfeições, como se ela fosse outra pessoa quando fosse entrar no palco e de certa forma era assim mesmo o que ela sentia, porém ao mesmo tempo ainda era a velha Phoebe, a garota da lanchonete, que por esforço havia se tornado uma dançarina, uma dançarina com sangue nos olhos, disposta a agarrar a oportunidade dada com todas as forças.
Max revisava os últimos planejamentos para a escola em seu quarto quando a voz de Chloe chamou sua atenção.
— Poxa, mãe, é sério mesmo?
— Eu sinto muito, minha filha, sei o quanto queria ir neste espetáculo, mas é uma emergência no trabalho, eu não posso deixar de atender.
Chloe suspirou frustrada, enquanto encarava o irmão mais velho que chegava para entender a situação.
— O que foi?
— Você lembra do espetáculo para o qual eu comprei dois ingressos há muito tempo?
— Sim, claro, O Lago dos Cisnes… Ele comentou relembrando a admiração da irmã pela arte da dança.
— Pois é, a mamãe está me dizendo agora que não vai poder me levar…
— É uma emergência de trabalho, não tem nada que eu possa fazer… — Seu tom de voz era suave e apresentava um certo tom de tristeza, afinal, Barb gostava de ser uma mãe presente.
— Que pena… mas eu posso ir sozinha?
— Claro que não, está maluca, Chloe? Você só tem treze anos — Barb lembrou a filha.
— É, mas eu sou bem madura para a minha idade. Por favor, mãe, eu quero tanto ir…
Barb cruzou os braços enquanto sua mente tentava pensar em uma solução, depois de alguns segundos, um sorriso se formou em seus lábios.
— Bom, sozinha você não vai, mas o seu irmão mais velho pode te levar.
Os olhos de Chloe brilharam ao encararem o vice-diretor.
Max suspirou ao perceber que provavelmente não teria escapatória.
— Ah, Chloe, amanhã eu vou para a escola cedo, estou cansado e …
Contudo, a irmã mais nova sabia ser convincente, sua expressão se tornou semelhante à de um cachorro abandonado, enquanto ela implorava.
— Por favor… Por favor, Max eu sou sua irmãzinha, é só hoje, não custa nada.
O garoto cruzou os braços enquanto refletia, talvez realmente fosse bom ele sair para espairecer um pouco e tentar manter a mente longe de uma certa professora de economia doméstica, que por algum motivo ocupava seus pensamentos de forma insistente. Além do mais, era só uma noite, que mal poderia fazer? Se bocejar demais no dia seguinte, era só regar o copo de café como sempre fazia, não havia mistério.
— Tudo bem, Chloe, você me convenceu, eu te levo!
A pré-adolescente pulou em euforia.
— Oba, obrigada, Max, você às vezes é um chato, mas neste momento te considero o melhor irmão mais velho do mundo!
O abraço de Chloe fazia qualquer sacrifício valer a pena, de certa forma, Max era sua única figura paterna e aquele instante o fez perceber que talvez devesse dar mais atenção a esse papel.
— Que bom ouvir isso, eu só vou me arrumar e já volto.
O vice-diretor pegou o casaco que estava em cima da mesa, sem saber que uma simples saída com sua irmãzinha para um espetáculo de ballet seria capaz de fazer seu coração acelerar e mudar tudo…
Capítulo 7
A escuridão do teatro fez os olhos de Max arderem no primeiro instante, enquanto seus ouvidos se concentravam em ouvir o som dos dedos de Chloe se movimentando devido ao pacote de pipoca que ele mesmo havia comprado para ela na entrada. Enquanto caminhavam até a primeira fila, lugar ao qual os ingressos comprados davam direito, Max, mesmo entre sombras, percebeu o padrão das pessoas que estavam ali, mães com suas filhas, famílias inteiras, avós tios e alguns adolescentes aborrecidos que provavelmente só estavam ali porque foram obrigados, ou porque queriam agradar aos pais por alguma razão. Max riu ao pensar que se fosse um adolescente, com certeza estaria da mesma forma, de lábios cerrados em mau humor, pés batendo em impaciência procurando algo com que se distrair.
Claro que ele não era o maior fã de ballet e tinha muitas outras coisas que gostaria de estar fazendo naquele instante, tudo bem, talvez nem tantas assim, porém, como um adulto de vinte seis anos que amava a irmãzinha de todo o coração e a tinha quase como sua própria filha, lá estava. Obviamente ele não esperava encontrar nada de interessante naquele lugar, contudo tentaria ao máximo para ver Chloe feliz.
— Olha, são esses os nossos lugares! — Apontou a pré-adolescente arrancando o irmão de seus pensamentos.
Os irmãos se sentaram nos dois assentos marcados como reservados, era engraçado notar como a simples palavra escrita em um pedaço de papel foi capaz de colocar um sorriso enorme no rosto da menina de fios loiros que não hesitou ao exclamar:
— Olha, eu tive que prometer ajudar a mamãe com as roupas por um mês para ela comprar estes ingressos, mas valeu a pena. — Chole se acomodou.
Max deu uma risada com a empolgação da irmã, se lembrando de como era bom ser jovem e ficar feliz com algo tão simples quanto um par de ingressos.
— Você fez mesmo o “sacrifício” de ajudar a mamãe com as roupas para poder assistir a este espetáculo? — indagou o vice-diretor se sentando ao lado da irmã.
— Bom, mas não é qualquer espetáculo, o cisne será interpretado pela Paris Berlec. — Enquanto colocava mais pipoca na boca, a garota pronunciou o nome em questão como se estivesse falando sobre um artista mundialmente famoso, o que não era o caso.
— Ah, sim, mas eu continuo sem entender.
— É uma bailarina profissional que eu sigo nas redes sociais, ela é tão incrível… Mal posso esperar para vê-la dançando na minha frente ao vivo e depois tirar uma foto!
— O quê? Como assim? Tirar uma foto?
— Os nossos ingressos dão direito a uma visita no camarim.
Que ótimo, além de assistir ao espetáculo, teria que aguentar sua irmã conversando com uma bailarina provavelmente muito sem graça, mas o que ele não fazia para ver Chloe feliz… Contudo, nenhum dos dois imaginava que não seria Paris que entraria naquele palco, e sim uma certa professora de artes.
Antes que Max pudesse dar a sua sincera opinião, no entanto, uma luz amarelada iluminou o centro do palco, evidenciando uma garota mascarada que logo começou a dançar.
Chole a fitou de baixo a cima como se algo estivesse errado.
— O que foi? — indagou Max em sussurro a fim de não invocar reclamações.
— Essa não é a Paris. — Chloe apontou para a garota mascarada no palco que movia seu corpo de forma graciosa.
— Como você sabe? Ela está mascarada.
— É, mas eu conheço a Paris de longe, eu bem vi que ela havia se machucado, mas como ela não postou nada, achei que já tinha melhorado e estaria aqui. Que droga, implorei para a mamãe à toa! — Chloe cruzou os braços emburrada.
— Ah, qual é, agora já estamos aqui, tenta aproveitar, quer dizer, essa bailarina também deve ser boa… — Foi a vez de Max fitá-la de cima a baixo, começando pelas sapatilhas até chegar na máscara, nos hipnotizantes olhos verdes que o cativaram de uma maneira como nunca antes, quer dizer… por algum motivo ele tinha a sensação de conhecer aquela expressão misteriosa de algum lugar, contudo não conseguia se lembrar. A jovem se movia de forma tão apaixonada…
— Eu quero dizer, não boa, muito boa, maravilhosa… — As palavras saíram de forma involuntária, enquanto ele continuava encarando a protagonista.
— Espera, você gostou da bailarina?
Mesmo com o escuro à sua volta, o garoto sabia que suas bochechas haviam se avermelhado diante da indagação da irmã.
— O quê? Claro que não… — Sua voz saiu trêmula, fato que ele torceu para que Chloe não tivesse percebido.
— Sei, eu te conheço muito bem… E você nunca chamou nenhuma garota de maravilhosa antes, nem mesmo a Alysson, quer dizer, pelo menos não na minha frente.
Max sentiu uma pontada no peito ao ouvir o nome da ex-namorada.
— Chloe, você sabe que eu não gosto que falem o nome dela.
— Eu sei, porque ela te magoou muito, mas irmão, você tem que recomeçar sua vida, e aquela bailarina no palco, quem sabe não seja uma chance? Não se esqueça de que vamos encontrá-la mais tarde e você vai poder pedir o número dela e marcar um encontro…
A mente de Max doía, ele estava tão confuso, quer dizer, obviamente a garota ali no palco o havia fascinado e ele queria ter a oportunidade de conhecê-la melhor, assim como gostaria de ter a mesma oportunidade com… Phoebe. Droga, o nome da nova professora de economia doméstica tinha invadido seus pensamentos mais uma vez?
— Chloe, não viaja! Eu não estou procurando por nenhum romance agora e você sabe disso.
— Ah, qual é, pode ser legal, eu vi como a olhou quando a encarou de cima a baixo agora a pouco, ela deve ser bem legal, quer dizer, não tanto quanto Paris, mas ela é mesmo boa, você está certo, quem sabe ela não vira minha cunhada? A não ser que seu coração já esteja ocupado por uma certa professora novata. Qual o nome dela mesmo…
A menção ao nome que ecoava em sua mente, por mais que ele não quisesse admitir, fez uma raiva crescer dentro do garoto.
— Já chega Chole. Você veio aqui para assistir ao espetáculo ou para ficar falando da minha vida amorosa?
Chloe engoliu seco e pelo resto do espetáculo o único barulho que o garoto ouviu vindo de sua irmã foi de seus dentes mastigando o que restava da pipoca. Ele não gostava de ser grosso ou ríspido com sua irmãzinha, mas às vezes a maneira como a mesma se intrometia em assuntos que não lhe diziam respeito o tirava do sério, ainda mais quando era um assunto sobre o qual ele mesmo ainda tinha tantas dúvidas…
Os pés de Phoebe pisaram no camarim, enquanto a garota de cabelos castanhos ainda tentava assimilar o que havia acontecido na última hora. Seu primeiro espetáculo profissional, e como protagonista! O que mais ela poderia querer? Seus ombros agora respiravam aliviados sem a pressão da estreia que vinha caindo sobre eles desde o convite.
A jovem caminhou até o espelho onde se olhou mais uma vez, seu rosto coberto pela máscara de certa forma a dava coragem, afinal, Phoebe Thunderman talvez nunca tivesse subido naquele palco, contudo, de certa forma, aquela máscara branca do cisne, por mais que escondesse sua identidade, lhe dava a liberdade de ser quem ela sempre sonhou, sem julgamentos. Quando a usava, ela não era a bolsista que sempre chegava na aula de ballet com as mãos cheirando a gordura, e sim uma bailarina que apenas seria analisada por sua performance, nada mais. Considerando tudo pelo que teve que passar para chegar até aquele momento, essa ideia era um alívio, um alívio pelo qual ela não se importava em esconder em seus olhos castanhos.
O palco para a filha de Hank naquela noite havia se tornado um portal que a levou direto para um conto de fadas, um conto de fadas com o qual ela sonhava quando criança e continuava a imaginar mesmo depois de adulta. Por esse ponto de vista, Phoebe até achava uma pena ter que voltar ao mundo real… e deixar seu mundo perfeito… bom, quase perfeito, só faltava algo que, mesmo não admitindo, ela considerava importante: amor… contudo, a garota naquele instante nem podia sonhar que seu desejo mais secreto estava prestes a se tornar realidade…
— Phoebe? — A voz da senhorita Lily chamou da porta.
A garota caminhou até a instrutora de dança lutando contra a ansiedade que gritava em seu peito para saber a opinião da mestra sobre o espetáculo.
— Que bom que ainda não tirou a máscara e já te explico o porquê, mas antes… Eu gostaria… — Os olhos de Phoebe se enrijeceram como se estivessem preparando para se defenderem de um ataque iminente. — … de te parabenizar.
Os globos oculares da jovem, mesmo coberto pela lente, se arregalaram diante da última frase saída da boca tão rigorosa da senhorita Lily.
— Como é?
— O seu desempenho foi impecável, tanto que as pessoas nem ficaram chateadas quando perceberam que você não era a Paris.
— Espera, como assim?
— Ah, desculpa, eu esqueci de comentar, mas nós divulgamos o espetáculo inteiro no nome da bailarina que é famosa na internet, noventa por cento das pessoas compraram os ingressos exclusivamente para vê-la, imagina o que aconteceria se tivéssemos divulgado que ela não seria a protagonista? Além disso, não queria te colocar ainda mais pressão.
Phoebe não pôde deixar de se sentir um pouco mal diante da constatação, afinal não sabia o nome da bailarina que havia sido cotada primeiro para estar ali e nunca podia imaginar que era alguém tão visada no mundo da internet e da dança ao mesmo tempo, todavia, se sentiu orgulhosa pela professora ter pensado nela para assumir um lugar deixado por alguém tão importante, mesmo assim, continuou atenta à fala da instrutora.
— Ela fez um post do hospital e eu a adverti, então logo depois ela disse que estava bem, quando ainda precisava de repouso e de um tempo longe dos palcos. Sim, eu temi a reação das pessoas quando descobrissem a verdade, mas confiei no seu talento e você não deixou de atender às minhas expectativas.
Os lábios de Phoebe formaram um sorriso involuntário.
— Nossa, eu nem sei o que dizer…
— Não precisa.
— Então, agora o meu nome vai estar na próxima tiragem de panfletos do espetáculo? — indagou, roçando as mãos tentando conter o nervosismo.
— Eu queria, mas infelizmente não será possível, as pessoas te adoraram, e esse ar de mistério de não saberem quem é a bailarina por trás da máscara vai ser ótimo para o espetáculo. Por isso peço que não conte a ninguém além de sua família sobre o seu protagonismo aqui e peça sigilo a eles também.
Phoebe imaginou a decepção nos olhos do pai quando recebesse a notícia, afinal, Hank estava muito animado em contar para todos que sua filha era uma dançarina profissional, contudo, ele entenderia, além do mais, seu ego não era tão inflado a ponto de deixar uma oportunidade como aquela passar por um motivo tão bobo quanto não ter seu nome divulgado. Algo, no entanto, a incomodava, então a senhorita Lily pareceu ler sua mente.
— Antes que me pergunte, sim, os olheiros já sabem seu nome, pra sua sorte, eles aceitaram vir analisar uma desconhecida e caso te aprovem para a bolsa, ela irá para você, pode ficar tranquila.
— Ótimo, então por mim, está tudo certo! — concluiu a garota ao ter sua maior dúvida sanada.
— Agora eu vou para você poder receber os seus fãs.
— Fãs?
— Sim, quem pagou o ingresso VIP das primeiras filas ganhou direito a uma visita no camarim depois do espetáculo. Claro que esse bônus foi pensado para a popularidade da Paris e para atrair os admiradores dela, mas com certeza os pagantes também vão se empolgar em conhecer a “dançarina mascarada”. Quem não gosta de mistério? Só fique caracterizada até o fim das visitas.
— Claro.
— Nos vemos, então, amanhã, os dois primeiros já estão aqui na porta!
Phoebe sentiu seu coração disparar ao pensar que teria fãs. Tudo bem que os mesmos não saberiam sua verdadeira identidade, mas a elogiarem pelo trabalho já seria suficiente. Além do mais, quais seriam as chances de alguém conhecido estar na lista de pagantes? Infelizmente mais altas do que ela pensava.
De toda forma, a dançarina sonhadora tratou de colocar um sorriso no rosto enquanto escutava os passos dos primeiros visitantes, o sorriso, no entanto, se transformou em espanto quando ninguém mais ninguém menos que o vice-diretor Justin Bieber apareceu na sua frente.
Eita, o que será que espera a Phoebe nesse dia que vem aí? E será se vai dar tudo certo com ela estreando como protagonista da peça?
Será?? Só digo que fortes emoções aguardam a nossa protagonista…
Meu Deus, esse futuro casal já vai começar com o pé errado, né? HAHAHAHAH
siiiiiim kkkkkkkkkkk
Mas gente, coitada da Phoebe, ela só tá dando bola fora nesse novo emprego HAHAHA
E Max, tu podia ter ficado quietinho só admirando a dança da Phoebe, mas nããão, tinha que falar, né?
Agora vamos ver como vai terminar esse flagra cômico de vice-diretor e professora HAAHAH
pois é né? Coitadaaa. Como será que o Max vai reagir? E será quea Phoebe o perdoou por ter colocado o nomedelana escala de limpeza justo no dia do primeiro ensaio dela?
Meu Deus, esses dois são trapalhadas ambulantes HAHAHAHAH
E eu imaginando o Max com cabelinho do Justin de Baby e jogando os cabelos pro lado EHEIHEIH
Quer dizer que os regulamentos da escola proíbem o relacionamento entre funcionários, hein? E agora, minha gente? Que essa paixonite já se instalou entre os dois!
hahahahaha pois é né? Siiim esses dois só se atrapalham!!!! Eu admito que também toca baby na minha cabeçatoda vez que ela chama ele de vice diretor Justin Bieber hahahahahah . O que será que eles vão fazer agora???
MEU DEUS, ACONTECE LOGO ESSE ENCONTRO FORA DA ESCOLA AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
siiiiim!!!! garanto que vai épico!!!!
Gente, o moço vai ficar nessa de não reconhecer, será? Mesmo se ela falar?
É SÓ UMA MÁSCARA, GENTE, PERA AÍ.
Quero ver a Chloe virando fã da Phoebe também. E virando cupido HAHAHAHA