Right Now
“- Cinco semanas é muita coisa, não?
- Para ficar aturando os meus sócios discutirem como acham que eu devo tratar os investidores? Sim. – A mulher riu – Você vai ficar bem.
- Quem eu irei irritar o dia inteiro e ainda ganhar comida de graça? – indagou incrédulo.
- Justo. – Pausou – Tá, e a minha companhia favorita para ir à boates e ficarmos tão loucos?
- Você precisa mesmo que eu te lembre de todos os seus contatos que já entrou aqui na minha casa? – arqueou uma sobrancelha e pôs a mão na cintura.
- Nossa casa, pequena . – Corrigiu – Mas você sempre será a minha favorita, movie star.
- Que romântico! – Ironizou – Eu vou sentir a sua falta, , quando menos esperar estarei aqui, ok?
- Queria ir contigo, . – A mulher passou os dedos pelas madeixas bagunçadas do mais alto, sentindo uma pontada em seu peito. – Sentirei a sua falta. – Disse durante o abraço – Eu vou te esperar voltar para casa.”
*
O tique do relógio era o único som capaz de desafiar o silêncio fatal que se encontrava o hall da enorme casa em que se encontrava. Havia chegado de um encontro com clientes que fora no mínimo desgastante o bastante para lhe dar uma dor de cabeça. O estresse que vinha se submetendo para que não perdesse os lucros que obteve nos últimos meses o levavam a loucura, a ponto de beber uma garrafa de vinho inteira e ir trabalhar com a pior ressacada que poderia ter em tão pouco tempo desde a anterior. Não costumava resolver seus problemas com álcool, na verdade preferia ser sincero e decidir a melhor maneira de lidar com a situação que o chateava, porém a alta sociedade era tão exigente e rude que nem sabia se queria continuar no emprego.
O engraçado era ser a tão querida sexta-feira e a motivação de em sair era nula. Uma das coisas que mais adorava era ir para um de seus pubs e curtir a noite como se fosse um adolescente, bebendo adoidado, cantando músicas dos anos 2000 e dançando com seus amigos.
Desde que o trabalho dobrou, seu tempo ficou mais corrido, o evitando de perder suas preciosas horas de descanso em casas noturnas com companhias agradáveis. Mesmo que conseguisse duas horinhas para gastar, sua mente sempre acabava na figura radiante de , e seus dedos deslizavam ligeiramente pela tela de seu celular, mandando mensagem para a mulher.
A saudade estava lhe matando dolorosamente, e quando se lembrava que ainda faltava uma semana para revê-la, seus olhos reviravam. Achava um absurdo ficarem tantos dias separados, ainda mais já que eram acostumados a conviverem diariamente desde que se entendiam por gente.
Se ousasse a dizer em voz alta, certamente seus lábios iriam proferir que é o amor de sua vida, e certamente, o seu fim.
Não há palavras no mundo que explicassem toda a essência maravilhosa que a mulher emanava, tão deliciosa quanto o seu aroma adocicado que seu pescoço carregava. O homem ficava abobalhado ao observa-la fazendo as menores coisas, e um dos momentos que mais almejava era quando ambos deitavam no chão com cobertas e uma travessa de doces e assistiam filmes antigos até a manhã seguinte. Dos pensamentos em programas para os finais de semana, em100% tinha no topo, não existia sem em – quase – nenhuma ocasião.
Mas… Algumas exceções eram feitas ao longo desses anos, e isso envolvia a vida amorosa dos amigos. Eles tinham o seu ninho, e isso não os impedia de saírem com outras pessoas, e até de ficarem com os mesmos indivíduos. Eles sabiam dividir as situações e assim seguiam suas vivências, sem medos e arrependimentos, como os dois diziam.
O irônico e talvez, previsível, fato é que e não tinham encontros há dois meses. Nesses sessenta e um dias com muito trabalho e cansaço, eles preferiam ficar que nem um casal de idosos casados há quarenta anos aproveitando a presença um do outro do que beijar alheios por aí.
Estavam longe de firmarem um namoro, mas gostavam do jeito que eram.
O homem jogou seu corpo no sofá, em busca de algo que satisfizesse o seu tédio pós banho. Checou o celular e só leu por alto algumas mensagens de seus amigos marcando de sair, e ao ver que não entrava em contato desde o almoço, bufou. Odiava quando ficava sem notícias da amiga por um longo período de tempo, e por mais que tenha noção que ela sabe se cuidar, não tem como evitar a preocupação.
Seu coração quase saiu pela boca ao ouvir uma corneta vinda da larga porta, o que o fez pular em uma velocidade fora do normal.
- em plena sexta-feira dentro de casa e sem nenhuma foda marcada, é isso mesmo? O gato comeu sua língua, é?
- O que você está fazendo aqui? – indagou ofegante.
- Não sei, talvez uma visita a minha própria casa? – largou suas bolsas no chão – Ah, mais uma coisa. Surpresa! – Ela gritou a última palavra, soltando confetes pelo hall de entrada.
- Você não tem ideia do quanto eu estou feliz por te ver, mas também estou puto porque quase tive um ataque do coração. – correu em sua direção e começou a fazer cócegas na outra.
- Tá bem, tá bem, eu me rendo! – levantou os braços – As reuniões terminaram mais cedo do que o previsto, e eu não aguentava mais ficar sem você.
- Oh céus. – Sussurrou – Respondendo a sua pergunta: eu não quero outra pessoa que não seja você, movie star.
- Que romântico! Que bom então que é recíproco.
Com o sorriso que havia dado, tomou o rosto dela cuidadosamente nas mãos, beijando-a com o desejo mais intenso que ambos mantinham durante esse mês afastados. Ele havia prometido a si que na próxima vez que se vissem, não deixaria suas chances escaparem.
Mal imaginava ele que havia feito a mesma promessa.
Fim