Pulsação
Primeiro Capítulo
Ela abriu os olhos com o barulho de móveis sendo arrastados no apartamento ao lado do seu e então tapou os ouvidos achando que talvez o impacto do barulho diminuísse. Eram sete e quarenta e quatro da manhã e no sábado, aquela não era a hora que ela acordava, de jeito nenhum!
se levantou da cama com um misto de irritação e curiosidade. Seus chinelos perfeitamente alinhados ao lado da cama, no chão, agora pareciam convidá-la para uma missão de investigação matinal. Ela os calçou rapidamente e saiu do quarto em direção à sala, onde o barulho persistia.
Ao chegar à porta do apartamento ao lado, encostou o ouvido na porta, tentando identificar a origem do tumulto. Antes que pudesse formar uma teoria sobre o que estava acontecendo lá dentro, a porta se abriu abruptamente e ela quase caiu para trás, mas foi amparada por um par de mãos firmes.
Olhando para cima, encontrou os olhos de , o novo morador do apartamento ao lado. Ele tinha um sorriso divertido nos lábios, mas seus olhos mostravam uma mistura de surpresa e preocupação.
- Desculpe, não queria te assustar! – disse , segurando-a firme para que ela não caísse – Eu estava tentando arrumar o meu novo sofá e acabei fazendo um pouco de barulho demais.
o encarou por um momento, sentindo a raiva diminuir diante da sinceridade em seus olhos. Ela respirou fundo e forçou um sorriso leve.
- Tudo bem, acho que eu estava precisando acordar mais cedo hoje de qualquer forma…
soltou um riso suave e afastou-se um pouco para permitir que ela recuperasse o equilíbrio.
- Bem-vinda ao prédio novamente, . Espero que possamos nos dar bem como vizinhos!
concordou, ainda um pouco atordoada com o encontro inesperado. Enquanto observava voltar para seu apartamento, ela percebeu que talvez aquele sábado não seria tão rotineiro quanto ela imaginava.
Depois do encontro inesperado com , retornou ao seu apartamento, deixando para trás o barulho e a agitação do corredor. Ao entrar em seu próprio espaço, ela se sentiu instantaneamente mais calma. Respirando fundo, ela se concentrou em retomar sua rotina matinal meticulosamente planejada.
Primeiro, dirigiu-se ao banheiro, onde começou sua rotina de higiene pessoal. Ela lavou as mãos cuidadosamente, seguindo um ritual meticuloso que aprendeu para acalmar sua mente ansiosa. Cada movimento era calculado e repetido exatamente da mesma maneira todas as manhãs.
Escovou os dentes contando exatamente vinte vezes em cada lado e na língua, depois guardou a escova no porta escovas e limpou o espelho com o pano específico para isso que ela mantinha guardado lá no banheiro.
Em seguida, foi para a cozinha, onde preparou seu café da manhã. Ela mediou cuidadosamente cada porção de cereal e frutas, garantindo que tudo estivesse perfeitamente equilibrado. Sua alimentação era parte fundamental de seu tratamento para o TOC, e ela seguia uma dieta específica para manter seu corpo e mente saudáveis.
Enquanto comia, refletiu sobre como sua vida tinha sido moldada pelo TOC. Desde jovem, ela lutava contra a necessidade obsessiva de ordem e controle, encontrando conforto nas rotinas rígidas e nas regras autoimpostas. Mudar-se para um novo apartamento representava um desafio significativo, pois implicava em enfrentar o desconhecido e sair de sua zona de conforto cuidadosamente estabelecida.
No entanto, a presença de no prédio também trouxe uma nova dinâmica à sua vida. Ele era o oposto de tudo que ela conhecia: descontraído, espontâneo e cheio de vida. Enquanto ela ainda se ajustava à ideia de ter um vizinho tão diferente dela, também sentia uma certa curiosidade em relação a ele. Será que sua presença poderia desafiar suas rotinas de uma maneira positiva? Ou seria apenas mais uma fonte de incerteza em sua vida cuidadosamente controlada?
Enquanto terminava seu café da manhã, decidiu que só o tempo diria. Por enquanto, ela estava determinada a manter suas rotinas e enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente. Com essa determinação em mente, ela começou a arrumar a mesa e a preparar-se para mais um dia, sabendo que, acontecesse o que acontecesse, ela estaria pronta para enfrentá-lo.
Depois de terminar o café da manhã, decidiu que era hora de enfrentar as caixas ainda não desfeitas no quarto de hóspedes. Respirando fundo para acalmar seus nervos, ela se dirigiu ao cômodo, determinada a trazer ordem ao novo espaço.
Ao abrir a porta do quarto de hóspedes, ficou momentaneamente sobrecarregada pela visão das caixas empilhadas até o teto. Ela sabia que seria uma tarefa árdua, mas estava determinada a seguir sua rotina meticulosa e colocar cada item em seu lugar designado.
Com um olhar determinado, começou a abrir as caixas uma por uma, cuidadosamente retirando o conteúdo e examinando-o antes de decidir onde guardá-lo. Cada objeto tinha seu próprio lugar específico, e ela se certificava de que tudo estivesse perfeitamente organizado antes de passar para a próxima caixa.
Enquanto trabalhava, refletiu sobre como a arrumação e a organização sempre foram uma forma de controlar o caos ao seu redor. Para ela, a ordem física do ambiente era um reflexo direto de seu estado mental. À medida que as caixas iam se esvaziando e o quarto de hóspedes começava a se transformar em um espaço habitável, ela sentia uma sensação de realização e calma se instalar.
Mesmo diante das incertezas que acompanhavam a mudança para o novo apartamento e a presença de como vizinho, sabia que tinha o poder de criar um ambiente seguro e acolhedor para si mesma. E, enquanto continuava a arrumar suas coisas, ela estava determinada a fazer exatamente isso.
Enquanto estava imersa na arrumação do quarto de hóspedes, seu celular despertou com o som de uma suave melodia. Ela parou por um momento, tirando a luva de limpeza e pegando o celular em cima da mesa ao lado. Era o lembrete de que era hora de começar a preparar o almoço.
Com um suspiro resignado, desativou o alarme e colocou o celular de volta no bolso, decidindo que a arrumação poderia esperar mais um pouco. Ela se dirigiu à cozinha, onde começou a reunir os ingredientes para sua refeição cuidadosamente planejada.
Enquanto cortava os vegetais e temperava a carne, se concentrou totalmente na tarefa à sua frente, deixando de lado temporariamente as preocupações e os pensamentos sobre o novo apartamento e seu vizinho. Preparar o almoço era uma parte essencial de sua rotina diária, e ela encontrava conforto na familiaridade dos gestos e dos sabores.
À medida que o aroma tentador da comida começava a encher o apartamento, sentiu uma sensação de satisfação se espalhar por ela. Apesar das mudanças e dos desafios que enfrentava, havia algo reconfortante na rotina do almoço, algo que lhe dava uma sensação de controle em um mundo que muitas vezes parecia caótico e imprevisível.
Com o almoço pronto e cuidadosamente arrumado em um prato, sentou-se à mesa, saboreando cada mordida enquanto pensava no que o resto do dia poderia trazer. Apesar das incertezas, ela sabia que tinha o poder de criar momentos de paz e estabilidade para si mesma, um alimento vital para sua alma em meio ao turbilhão da vida cotidiana.
Terminado o almoço, recolheu o prato cuidadosamente, depositando-o na pia. Seu TOC já começava a se manifestar, impulsionando-a a seguir sua rotina pós-refeição com precisão e meticulosidade. Ela respirou fundo, preparando-se para enfrentar a próxima etapa.
Primeiro, encheu a pia com água morna e sabão, garantindo que a temperatura estivesse perfeitamente equilibrada. Ela mergulhou a esponja na água, iniciando uma coreografia cuidadosamente coreografada de limpeza e organização.
Cada prato, talher e utensílio foi lavado minuciosamente, inspecionado para garantir que não houvesse nem mesmo o menor vestígio de sujeira. esfregava e enxaguava, seguindo um padrão familiar que lhe trazia uma sensação de calma e controle.
Depois de lavar a louça, secou cada item individualmente, organizando-os com precisão milimétrica nos armários. Cada copo, cada prato, cada talher tinha seu lugar específico, e ela se certificou de que tudo estivesse perfeitamente alinhado.
Com a louça arrumada, começou a limpar as superfícies da cozinha, removendo qualquer vestígio de migalhas ou respingos. Cada canto e recanto foram inspecionados, e ela se recusou a deixar qualquer detalhe escapar de sua atenção vigilante.
Finalmente, voltou sua atenção para o chão, varrendo e depois passando o pano para garantir que cada centímetro estivesse impecavelmente limpo. Só quando ela estava satisfeita com o resultado, permitiu-se relaxar um pouco, sentindo uma sensação de realização pelo dever cumprido.
Apesar do desafio constante que o TOC representava em sua vida, encontrava conforto na rotina diária de cuidar de sua casa. Era uma forma de manter o caos do mundo exterior à distância, criando um espaço de calma e ordem em meio à turbulência da vida cotidiana. E enquanto ela olhava em volta para a cozinha impecavelmente limpa, sentia uma sensação de paz e contentamento se instalar em seu coração.
Foi quando a campainha tocou fazendo com que ela caminhasse desconfiada até a porta, encontrando o vizinho do outro lado da porta. olhou com surpresa para o vizinho que estava parado do lado de fora de sua porta, segurando uma peça de roupas e alguns utensílios de banho. Ela sentiu uma pontada de curiosidade misturada com cautela ao encontrar o olhar de .
- Olá, vizinha… – cumprimentou com um sorriso amigável – Desculpe incomodá-la, mas meu chuveiro queimou e eu preciso tomar um banho antes de sair. Eu prometo que será rápido.
hesitou por um momento, avaliando a situação com uma mistura de preocupação e incerteza. Ela sabia que sua rotina e seu espaço pessoal eram sagrados para ela, mas também não queria ser rude com seu novo vizinho.
- Ah, claro! Tudo bem… – ela disse finalmente, abrindo a porta um pouco mais para permitir que entrasse – Você pode usar o banheiro. Deixe-me apenas pegar uma toalha limpa para você.
Enquanto se dirigia ao armário para pegar uma toalha, ela se perguntava como essa mudança de planos afetaria sua rotina cuidadosamente planejada. Ela lutou consigo mesma, sentindo a mistura de desconforto e curiosidade sobre a situação. No fundo, porém, ela também reconhecia a oportunidade de interagir com seu novo vizinho de uma maneira diferente.
Quando ela voltou com a toalha, entregou-a a com um sorriso leve.
-O banheiro fica logo ali, vou te mostrar.
Ela conduziu até o banheiro, lutando consigo mesma para não impor suas regras obsessivas sobre a organização e limpeza. No entanto, uma vez dentro do banheiro, ela não conseguiu se conter completamente:
- Ah, só um lembrete… – ela começou, sua voz soando um pouco tensa – Por favor, tente não molhar muito o tapete. E, ah, é melhor secar bem a pia depois de usar. E… bem, você sabe, só para garantir que tudo fique limpo e organizado.
percebeu que estava se deixando levar pelo TOC, mas era difícil ignorar suas preocupações com a ordem e a limpeza. Ela esperava que não se sentisse muito incomodado com suas instruções.
, por sua vez, assentiu com um sorriso compreensivo.
- Claro, entendi. Obrigado pelas dicas, ! Eu vou tentar não fazer bagunça.
Com isso, ele entrou no banheiro, deixando sozinha com seus pensamentos tumultuados. Enquanto ela ouvia o som da água do chuveiro, ela se perguntava como seria essa nova dinâmica entre eles e se ela seria capaz de superar suas próprias preocupações para permitir uma conexão genuína com seu vizinho inesperado.
Enquanto tomava seu banho, ficou perdida em seus pensamentos, debatendo-se com as preocupações causadas pelo TOC. Ela tentou distrair-se, focando em organizar mentalmente sua lista de afazeres, mas suas preocupações continuavam a assombrá-la.
Ela imaginava como o banheiro ficaria depois que terminasse. A água respingada, a bagunça que ele poderia deixar para trás, todas essas possibilidades a deixavam inquieta. Ela sabia que não deveria se preocupar tanto com detalhes tão pequenos, mas era difícil para ela ignorar seus impulsos obsessivos.
Absorta em seus pensamentos, permaneceu parada à porta do banheiro, incapaz de se afastar. Foi então que ela ouviu o som da água do chuveiro cessar, e alguns minutos depois, a porta se abriu lentamente.
emergiu do banheiro, a toalha enrolada em torno de sua cintura, os cabelos molhados gotejando água. não pôde deixar de notar a forma definida e musculosa de seu corpo, e por um momento ela se viu hipnotizada por sua presença.
No entanto, sua reverie foi interrompida quando ela percebeu a bagunça que estava fazendo no corredor, deixando pegadas molhadas e respingos de água por toda parte. Ela sentiu uma mistura de frustração e preocupação se apoderar dela, seu TOC gritando diante da bagunça imprevista.
- Ah, cuidado com o chão molhado! – ela advertiu rapidamente, lutando para manter a calma – E… talvez você possa secar um pouco o chão antes de sair do banheiro?
olhou para baixo, notando a bagunça que ele havia feito, e sorriu embaraçado.
- Ah, desculpe por isso! Eu vou limpar tudo agora mesmo.
Com um aceno rápido, ele entrou de volta no banheiro, deixando sozinha com suas emoções conflitantes. Enquanto observava-o lidar com a bagunça que ele havia criado, ela se perguntava como seria viver ao lado de alguém tão diferente dela, alguém cuja presença poderia desafiar todas as suas noções preconcebidas sobre ordem e controle.
permaneceu parada no corredor por um momento, observando limpar a bagunça que ele havia feito. Ela sentiu uma mistura de admiração pela sua prontidão em corrigir o problema e um leve desconforto pela quebra de sua rotina cuidadosamente planejada.
Enquanto observava , ela percebeu que talvez houvesse mais na vida do que seguir estritamente as regras e rotinas que ela mesma estabelecera. Talvez a presença de alguém como pudesse trazer um pouco de leveza e espontaneidade à sua vida tão rigidamente estruturada.
Quando terminou de limpar e voltou ao corredor, forçou um sorriso amigável, tentando afastar os sentimentos conflitantes que a assaltavam.
- Ah, obrigada por cuidar disso. Eu realmente aprecio !
sorriu de volta, seus olhos brilhando com uma mistura de diversão e simpatia.
- De nada, ! Sinto muito pela bagunça. Eu prometo tentar não causar mais problemas.
assentiu, sentindo-se um pouco mais relaxada com a resposta de . Talvez ela estivesse começando a perceber que, às vezes, um pouco de bagunça e imprevisibilidade na vida poderia ser uma coisa boa.
observou enquanto se afastava em direção ao seu próprio apartamento, sentindo um misto de alívio e ansiedade. No entanto, antes que ela pudesse relaxar completamente, ela ouviu um ruído vindo do corredor e viu voltar rapidamente em sua direção.
- Ah, desculpe, … – disse , parecendo um pouco constrangido – Eu esqueci de pegar minhas roupas no banheiro. Posso entrar rapidamente para trocar de roupa?
sentiu uma onda de nervosismo percorrer seu corpo enquanto lutava para processar a súbita invasão de seu espaço pessoal. Ela não estava preparada para a ideia de entrando em seu quarto, um lugar que ela considerava seu refúgio seguro contra o caos do mundo exterior.
- Ah, eu… eu não sei… – murmurou , sua voz vacilando com a indecisão. Ela queria ser educada e prestativa, mas também sentia uma forte necessidade de proteger sua privacidade e manter o controle sobre seu ambiente –
No entanto, antes que ela pudesse tomar uma decisão, já estava entrando no quarto, ignorando sua hesitação. sentiu seu coração acelerar enquanto observava-o sentar-se molhado em sua cama, uma sensação de invasão crescendo dentro dela.
Enquanto se preparava para trocar de roupa, sentiu-se impotente diante da situação, sua mente dominada pela ansiedade sobre a possível bagunça que ele poderia deixar para trás. Ela se perguntou se algum dia seria capaz de se acostumar com a imprevisibilidade que a presença de trazia para sua vida cuidadosamente estruturada.
olhou divertido para enquanto ela lutava com a situação desconfortável, e então ele perguntou brincando:
- Você vai ficar aqui vigiando enquanto eu troco de roupa? Não se preocupe, para mim está tudo bem ficar nu na sua frente!
sentiu seu rosto corar intensamente com a sugestão de , e ela gaguejou em resposta:
- N-Não, não precisa disso! Eu… eu vou ficar na sala.
Com o coração acelerado, rapidamente se afastou, deixando para trocar de roupa em seu quarto. Ela se dirigiu à sala, tentando acalmar sua respiração ansiosa enquanto se sentava no sofá, tentando afastar os pensamentos tumultuados que invadiam sua mente.
Enquanto esperava, ela se perguntava como poderia lidar com a presença desconcertante de no prédio, e se algum dia conseguiria superar sua própria ansiedade e se acostumar com a imprevisibilidade que ele trazia para sua vida tão cuidadosamente planejada.
Depois de terminar de trocar de roupa, saiu do quarto e encontrou na sala. Ele se aproximou dela com um sorriso gentil no rosto, e então, de forma surpreendente, deixou um beijo rápido em sua bochecha.
- Obrigado, ! – disse ele, sua voz suave e calorosa – Você foi muito compreensiva. Eu prometo não te incomodar mais.
ficou momentaneamente atordoada com o gesto inesperado, sentindo um calor se espalhar por suas bochechas enquanto se afastava em direção à porta. Ela não conseguiu articular uma resposta, apenas acenou timidamente enquanto observava-o sair do apartamento.
Assim que a porta se fechou atrás dele, ficou sozinha na sala, deixada com seus próprios pensamentos tumultuados. Ela tentou processar a série de eventos que acabara de acontecer, seu coração ainda batendo forte em seu peito.
Enquanto ela se sentava lá, perdida em seus pensamentos, o capítulo finalmente chegou ao fim, deixando-a com a promessa de um novo dia cheio de possibilidades e desafios inesperados.
Segundo Capítulo
se levantou do sofá ainda sentindo o coração acelerado e então caminhou pelo corredor rumo ao banheiro, encarando o mesmo ainda úmido.
A moça se encontrou lutando contra seus próprios pensamentos intrusivos enquanto encarava o banheiro úmido. Ela sabia que precisava ter controle sobre suas preocupações excessivas e que o banheiro estava limpo e arrumado quando saiu, mas ainda assim, sua mente insistia em criar cenários de caos e bagunça.
Respirando fundo, tentou afastar os pensamentos negativos, lembrando-se de todas as vezes que conseguiu superar suas compulsões. No entanto, a sensação de ansiedade persistia, empurrando-a em direção ao banheiro mais uma vez.
Com determinação, pegou os produtos de limpeza e começou a trabalhar, percorrendo cada centímetro do banheiro com um cuidado meticuloso. Ela esfregou e poliu, certificando-se de que cada superfície estivesse impecavelmente limpa, mesmo que já estivesse antes.
Enquanto trabalhava, tentou afastar os pensamentos negativos que insistiam em assombrá-la. Ela sabia que era importante desafiar suas compulsões e não ceder ao ciclo interminável de preocupações, mas a sensação de alívio só viria quando tudo estivesse perfeitamente arrumado.
Finalmente, depois de um esforço considerável, deu um passo para trás e observou seu trabalho. O banheiro estava impecável, exatamente como ela gostava. Um leve sorriso de satisfação cruzou seu rosto enquanto ela sentia uma sensação de controle retornar.
Mesmo que fosse uma batalha constante, sabia que estava no caminho certo para superar seus desafios. Com um suspiro de alívio, ela se afastou do banheiro, determinada a enfrentar os obstáculos que a vida continuaria a lançar em seu caminho.
Depois de finalmente terminar de limpar o banheiro, sentiu um suspiro de alívio enquanto se afastava, deixando para trás suas preocupações. Ela se dirigiu ao seu quarto e pegou uma toalha limpa, preparando-se para tomar um banho tão esperado.
Enquanto a água morna caía sobre ela, sentiu uma sensação de relaxamento se espalhar por seu corpo tenso. Era um momento de paz em meio ao turbilhão de sua mente, e ela aproveitou cada momento, permitindo-se afastar temporariamente as preocupações.
Depois de sair do chuveiro e se enxugar, verificou as horas em seu celular. Seu coração se apertou ao ver algumas chamadas não atendidas de , seu namorado. Ela rapidamente percebeu que já passara alguns poucos minutos da hora combinada com ele.
Um leve sentimento de culpa a invadiu enquanto se apressava em se vestir e secar o cabelo. Ela sabia que deveria ter avisado sobre a mudança em seus planos, mas as circunstâncias tumultuadas do dia a tinham distraído completamente.
Com o cabelo ainda úmido, se apressou até a porta do apartamento, esperando encontrar esperando por ela do lado de fora. Ela se perguntou como explicaria sua ausência repentina e se ele entenderia.
Enquanto abria a porta, sentiu uma mistura de ansiedade e antecipação enquanto enfrentava o que quer que o destino reservasse. Ela sabia que teria que enfrentar as consequências de suas ações e esperava poder resolver tudo com da melhor maneira possível.
Quando finalmente abriu a porta, encontrou do lado de fora, com uma expressão levemente emburrada no rosto. Seus braços estavam cruzados e ele parecia impaciente, os olhos lançando um olhar interrogativo para ela.
- Finalmente! – exclamou , sua voz carregada de frustração – Eu estive esperando aqui fora por um tempo. Você não viu minhas chamadas?
sentiu um aperto no peito ao ver a decepção no rosto de . Ela sabia que tinha falhado ao não avisá-lo sobre a mudança de planos, e agora estava enfrentando as consequências de sua negligência.
- Desculpe, ! – murmurou , sua voz carregada de arrependimento – Eu perdi a noção do tempo e… as coisas ficaram um pouco agitadas aqui.
suspirou, passando a mão pelo cabelo com um gesto de frustração.
- Eu entendo, mas seria bom se você me avisasse quando houver mudanças nos planos. Eu estava preocupado, afinal de contas se sou eu que atraso dois minutos você quase me mata!
abaixou os olhos, sentindo-se péssima por ter causado preocupação a . Ela sabia que precisava ser mais consciente de suas responsabilidades e do impacto de suas ações nos outros.
- Eu sei, eu sinto muito! – disse ela sinceramente, levantando o olhar para encontrar os olhos de – Eu prometo que vou ser mais atenta no futuro.
olhou para ela por um momento, seu olhar suavizando-se um pouco. Ele então assentiu, aceitando sua desculpa.
-Está bem. Vamos esquecer isso agora. Só queria ter certeza de que você está bem…
sentiu um alívio se espalhar por ela ao ver a compreensão nos olhos de . Ela sabia que tinha sorte de ter alguém tão compreensivo ao seu lado, e faria o possível para não decepcioná-lo novamente. Com um sorriso tímido, ela estendeu a mão para ele.
- Obrigada, . Vamos aproveitar o tempo juntos agora, que tal?
segurou a mão de com ternura, seus dedos entrelaçados como se estivessem se apoiando mutuamente. Um sorriso suave surgiu em seus lábios enquanto ele olhava para ela, seus olhos transmitindo um calor reconfortante.
Com um movimento suave, aproximou-se lentamente de , seus corpos quase se tocando. Ele inclinou a cabeça levemente, capturando os lábios dela em um beijo demorado e cheio de carinho.
fechou os olhos, perdendo-se no calor do momento, sentindo seu coração acalmar diante do afeto de . Seus lábios se moveram em perfeita sincronia, compartilhando um momento de intimidade que dissipou qualquer tensão remanescente entre eles.
Por um instante, tudo ao redor deles desapareceu, deixando apenas o toque suave de seus lábios e a conexão profunda que compartilhavam. Era um momento de doçura e amor, um lembrete do quanto eles significavam um para o outro.
Quando finalmente se separaram, olhou nos olhos de com ternura, um sorriso brincando em seus lábios.
- Eu te amo, ! – disse ele suavemente, suas palavras carregadas de sinceridade e afeto –
sentiu um calor se espalhar por todo o seu ser ao ouvir essas palavras, seu coração transbordando de amor por . Com um sorriso radiante, ela respondeu:
- Eu também te amo, . Mais do que palavras podem dizer!
E assim, juntos, eles seguiram para dentro do apartamento, prontos para aproveitar o tempo juntos.
***
e passaram a tarde juntos em seu apartamento, desfrutando da companhia um do outro enquanto assistiam a filmes, compartilhavam histórias e riam juntos. Eles prepararam um jantar leve juntos e desfrutaram de uma refeição tranquila enquanto conversavam sobre seus dias.
À medida que o dia avançava e a noite começava a cair, eles se aconchegaram no sofá, enrolados em cobertores, continuando sua maratona de filmes. sentiu-se verdadeiramente feliz ao lado de , apreciando a sensação de conforto e segurança que sua presença trazia.
No entanto, em um determinado momento da noite, enquanto estavam absortos em um filme, eles foram interrompidos pelo som da porta sendo batida. Surpresa, olhou para , perguntando-se quem poderia ser a essa hora.
Quando se aproximou da porta com para atender, eles encontraram do lado de fora, segurando uma caixa de pizza e sorrindo animadamente. sentiu-se repentinamente sem graça diante da presença de , perguntando-se o que ele queria naquela hora da noite na porta de seu apartamento.
pareceu ficar um pouco sem graça ao ver acompanhada por outro homem, mas rapidamente tentou disfarçar sua surpresa com um sorriso amigável.
sentiu a tensão no ar e perguntou, confusa:
- , o que está acontecendo? Por que você está aqui tão tarde?
coçou a nuca, buscando por uma resposta enquanto tentava disfarçar seu constrangimento.
- Ah, eu… hum, só queria ver se você queria assistir a um filme comigo e comer pizza. Eu percebi que estava entediado em casa e pensei que poderíamos aproveitar juntos.
sentiu-se tocada pelo gesto de , mas a presença de ao seu lado deixou-a ainda mais desconfortável. Enquanto ela tentava encontrar uma resposta, percebeu o movimento de , que casualmente colocou uma mão na cintura de .
Uma breve pausa se seguiu, e então finalmente percebeu a situação. Seu sorriso desapareceu lentamente enquanto ele olhava entre e , seu rosto corando de embaraço ao compreender a verdade.
- Oh… eu… me desculpe! – murmurou , envergonhado – Eu não sabia que você tinha companhia. Eu… eu acho que vou deixá-los em paz. Desculpe pela interrupção.
Sem esperar por uma resposta, deu meia-volta e rapidamente se afastou, deixando e sozinhos na porta, envoltos em um silêncio constrangedor. sentiu-se mal pela situação, desejando que as coisas tivessem sido diferentes, enquanto permanecia ao seu lado.
fechou a porta do apartamento com um suspiro, sentindo-se desconfortável com a situação que acabara de ocorrer. Ela se virou para encontrar , que soltou gentilmente a cintura dela e voltou para o sofá.
Enquanto se preparava para segui-lo, virou-se para ela e perguntou com uma expressão séria:
- Quem é esse cara?
sentiu um nó se formar em seu estômago ao enfrentar a pergunta direta de . Ela sabia que precisava ser honesta com ele sobre , mas também temia que isso pudesse causar mais desconforto entre eles.
Respirando fundo, decidiu ser sincera.
- Ele é um novo vizinho que se mudou recentemente para o prédio… – explicou ela. – Eu o conheci quando ele me ajudou com um problema no apartamento esses dias. Não é nada além disso.
Após ouvir a explicação de , soltou um suspiro pesado e se jogou no sofá, claramente emburrado. Ele murmurou com descrença:
- Nada além disso, é?
sentiu-se desconfortável com a reação de e tentou explicar novamente:
- Sim, é isso mesmo. Ele só queria ser amigável e…
Antes que ela pudesse terminar, a interrompeu, sua voz carregada de frustração:
- E ele aparece aqui com uma pizza para vocês verem filmes juntos? Isso parece bem mais do que apenas ser amigável, .
A tensão aumentou no ar enquanto os dois trocavam olhares carregados de emoção. sentiu-se pressionada e frustrada com a situação, desejando poder acalmar os ânimos e resolver o mal-entendido.
Com um suspiro resignado, tentou novamente explicar:
- Eu não pedi para ele vir aqui com a pizza, . Foi uma surpresa para mim também. Eu juro!
No entanto, suas palavras pareceram cair em ouvidos surdos enquanto permanecia emburrado e desconfiado. A discussão rapidamente se intensificou, com ambos expressando suas preocupações e sentimentos de maneira acalorada.
sentiu-se cada vez mais angustiada com a tensão entre eles, desejando poder encontrar uma maneira de restaurar a paz e a confiança em seu relacionamento. No entanto, ela sabia que isso exigiria paciência e comunicação aberta, algo que ambos precisariam estar dispostos a fazer.
Após a intensa discussão, se levantou do sofá com um suspiro pesado. Com uma expressão cansada e resignada, ele virou-se para e disse com voz calma, mas firme:
- Acho que vou para o quarto dormir. Estou cansado.
assentiu, sentindo-se triste e magoada com a distância que se formava entre eles. Ela observou silenciosamente enquanto se dirigia ao quarto, fechando a porta suavemente atrás de si.
Ficando sozinha na sala, sentiu seus sentimentos em conflito. Ela queria resolver as coisas com , mas também precisava de um momento para processar suas próprias emoções. Ela se afundou no sofá, perdida em pensamentos enquanto lutava para encontrar clareza em meio ao caos.
Após alguns minutos de reflexão solitária, decidiu que também precisava de descanso. Ela se levantou do sofá com um suspiro resignado e se dirigiu ao quarto, preparando-se para se deitar e tentar dormir.
Ao entrar no quarto, encontrou já deitado na cama, os olhos fechados em um sono tranquilo. Ela sentiu um aperto no coração ao vê-lo ali, tão distante e inalcançável, mesmo estando tão perto.
Com um suspiro, se deitou na cama ao lado de , deixando-se envolver pelo silêncio da noite. Ela sabia que ainda havia muitas questões a serem resolvidas entre eles, mas por enquanto, ela encontraria conforto na proximidade silenciosa de seu amor adormecido ao seu lado.
***
No dia seguinte, acordou no seu horário habitual, os primeiros raios de sol filtrando pelas cortinas do quarto. Ela se levantou com um suspiro suave, sentindo a tensão da noite anterior ainda pairando no ar.
Decidida a começar o dia com um gesto de paz, foi para a cozinha e começou a preparar o café da manhã para os dois. O cheiro de café fresco e torradas quentes logo encheu o apartamento, trazendo uma sensação reconfortante de normalidade.
Enquanto trabalhava na cozinha, ouviu passos vindos do quarto e viu entrar na sala. Seus olhares se encontraram e, apesar da tensão remanescente, havia uma suavidade em seus olhos que não estava lá na noite anterior.
se aproximou dela com um sorriso tímido e retribuiu o gesto, sentindo um peso sendo levantado de seus ombros. Eles se aproximaram um do outro e selaram os lábios em um beijo suave, um sinal silencioso de perdão e reconciliação.
Sentados à mesa da cozinha, eles compartilharam o café da manhã em silêncio, mas não havia mais desconforto entre eles. Cada gesto e olhar era permeado por uma sensação de entendimento mútuo e renovação. Eles sabiam que ainda havia desafios a enfrentar, mas estavam determinados a superá-los juntos, com amor e compreensão.Enquanto observava deitado no sofá, relaxado e imerso na programação da TV, ela sentiu a ansiedade começar a se insinuar em seu peito. O horário de partida dele se aproximava rapidamente, e sua mente meticulosa já estava contando os minutos até ele precisar sair.
Cada aspecto de sua vida era estritamente cronometrado, e os momentos de chegada e partida de em seu apartamento não eram exceção. Ela se esforçava para manter tudo sob controle, mas a iminente partida de estava desencadeando uma sensação de inquietação dentro dela.
Enquanto lutava contra a ansiedade crescente, tentou se concentrar em suas próprias tarefas, mantendo-se ocupada na cozinha. No entanto, sua mente continuava a retornar ao relógio, contando os minutos que restavam até que tivesse que sair.
Ela sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com a ansiedade e manter sua calma habitual, mas a sensação de tempo escapando de suas mãos era avassaladora. Ela respirou fundo, tentando controlar seus pensamentos tumultuados, enquanto lutava para encontrar uma maneira de lidar com a pressão crescente.
Conforme se aproximava dela no sofá, sentiu uma mistura de emoções conflitantes dentro dela. Ela se entregou ao beijo intenso que o namorado iniciara, mas sua mente ainda estava preocupada com o tempo que se esgotava.
No auge do momento, interrompeu o beijo, lembrando-se abruptamente do horário de partida iminente de .
- Tá quase na hora de você ir embora, né? – ela disse, tentando manter sua voz calma, apesar da ansiedade pulsante em seu peito –
A expressão de escureceu com frustração ao ouvir suas palavras. Ele se afastou dela abruptamente, uma mistura de decepção e irritação cruzando seu rosto. – Você sempre coloca seu TOC antes de tudo, não é? – ele disse, sua voz carregada de amargura –
sentiu um aperto em seu coração ao ouvir as palavras de . Ela sabia que sua condição afetava não apenas a ela mesma, mas também seu relacionamento com . Ela tentou explicar, sua voz tremendo com emoção.
- Não é só sobre o TOC, . É sobre manter uma rotina que funcione para mim, para nós.
No entanto, suas palavras não foram capazes de dissipar a tensão entre eles. O ressentimento continuou a borbulhar abaixo da superfície, alimentado pela frustração e pelo desejo não correspondido de de passar mais tempo juntos.
A discussão se intensificou rapidamente, cada palavra lançada como uma flecha afiada, ferindo e dividindo-os ainda mais. No final, eles se encontraram em um impasse, presos em um ciclo familiar de incompreensão e conflito, lutando para encontrar um meio-termo entre as necessidades de ambos.
se preparava para sair do apartamento e o seguia, os dois ainda envolvidos em uma discussão tensa.
- , por favor, vamos conversar sobre isso… – implorou, sua voz embargada pela emoção –
virou-se para encará-la, sua expressão endurecida pela frustração.
- Não há mais nada para conversar, ! Você só se importa com suas regras e rotinas. Eu estou cansado de sempre ser deixado de lado por causa do seu TOC. Eu mereço alguém que possa me amar sem restrições.
As palavras de cortaram como uma lâmina afiada, perfurando o coração de com sua crueldade. Ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas, lutando para conter a avalanche de emoções que ameaçava engolfá-la.
Enquanto se afastava em direção às escadas, se aproximava do apartamento, testemunhando a troca intensa entre eles. Ele hesitou por um momento, incerto sobre como intervir, mas então decidiu se aproximar.
sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto se aproximava, seus olhos ainda úmidos de lágrimas não derramadas. Ela se perguntou o que ele pensaria dela agora, exposta em toda a sua vulnerabilidade.
Antes que pudesse dizer alguma coisa, proferiu uma última frase cortante, dirigida a .
- Cuidado com ela. Ela pode parecer doce, mas sua obsessão pelo controle pode sufocar qualquer um que se aproxime demais.
Com essas palavras, desceu as escadas, deixando e sozinhos no corredor, o eco de suas palavras amargas pairando no ar como um lembrete sombrio do que estava em jogo.
Terceiro Capítulo
sentiu o coração quebrar quando viu as lágrimas nos olhos de . Ele instintivamente se aproximou dela e então colocou as duas mãos em seus ombros.
- Ele só está de cabeça quente, tenho certeza que ele não quis dizer aquilo.
balançou a cabeça, resignada.
- Acho que ele quis sim… – ela engoliu as lágrimas – Me desculpe, você não tem nada haver com isso!
Ela balançou a cabeça outra vez e então fez menção de entrar de volta em seu apartamento, mas a impediu, segurando-a pelo pulso.
parou abruptamente, sentindo o toque firme de em seu pulso. Seus olhos se arregalaram com surpresa, uma mistura de emoções passando por seu rosto. Por um momento, eles ficaram em silêncio, o corredor preenchido apenas pelo som de suas respirações.
percebeu a tensão no ar e imediatamente soltou o pulso dela, coçando a cabeça com um sorriso nervoso.
- Desculpe, eu não quis te assustar.
deu um pequeno aceno de cabeça, seus olhos ainda brilhando com lágrimas não derramadas.
- Tudo bem… – ela murmurou, virando-se para a porta de seu apartamento.
Ela abriu a porta e entrou, fechando-a suavemente atrás de si. O som da porta se fechando ecoou pelo corredor, deixando sozinho com seus pensamentos, refletindo sobre a intensidade do momento que acabara de presenciar.
entrou no apartamento e foi direto para seu quarto, fechando a porta atrás de si. Sentou-se na beira da cama, as palavras de ecoando em sua mente. As lágrimas finalmente rolaram por seu rosto enquanto ela refletia sobre a acusação de sobre sua obsessão pelo controle e como isso estava afetando seu relacionamento.
“Eu mereço alguém que possa me amar sem restrições.” Essas palavras perfuraram seu coração, trazendo à tona a culpa e o medo de que ele estivesse certo. O choro tornou-se mais intenso, e se permitiu desabar, abraçando um travesseiro enquanto as lágrimas escorriam livremente.
Enquanto isso, no apartamento ao lado, tentava se concentrar em outra coisa, mas sua mente continuava voltando para . Ele podia imaginar a dor dela, e isso o incomodava profundamente. Sentado no sofá, ele se mexia inquieto, tentando assistir TV ou navegar no telefone, mas nada conseguia afastar a preocupação que sentia por ela.
Finalmente, ele decidiu que não podia ficar parado. Levantou-se com determinação e pegou o telefone. Pediu uma pizza, esperando que, ao menos, pudesse fazer algo para animá-la. Com a decisão tomada, ele foi até a cozinha, pegou algumas bebidas e esperou pela entrega.
Pouco depois, a pizza chegou. pagou rapidamente e pegou a caixa, respirando fundo antes de sair de seu apartamento e caminhar até a porta de . Ele bateu suavemente, esperando que ela estivesse disposta a aceitá-lo.
abriu a porta com os olhos ainda vermelhos de chorar. Ela pareceu surpresa ao vê-lo ali novamente, segurando uma caixa de pizza e uma expressão gentil.
- Eu pensei que você poderia precisar de uma companhia,- disse , levantando a pizza com um sorriso tímido – Se não se importar, é claro.
hesitou por um momento, mas depois abriu a porta um pouco mais, dando espaço para ele entrar.
- Obrigada… – ela disse, sua voz suave e um pouco rouca.
entrou, sentindo-se um pouco aliviado por ela ter aceitado.
- Eu só queria ter certeza de que você estava bem… – ele disse, colocando a pizza na mesa e puxando duas cadeiras – Vamos comer e conversar, se você quiser.
sorriu um pouco, apreciando o gesto.
- Eu adoraria … – ela respondeu, antes de ir até a cozinha.
observou enquanto ela abria os armários e pegava os pratos, copos e talheres com movimentos precisos e organizados, típicos de sua natureza meticulosa. Ela voltou à mesa, colocando os pratos e talheres com cuidado, alinhando-os perfeitamente. Em seguida, pegou os copos e uma garrafa de suco da geladeira, trazendo tudo para a mesa.
sorriu enquanto a observava.
- Você realmente é muito organizada, não é?
deu um pequeno sorriso, ainda um pouco tímida.
- É, eu gosto de manter tudo em ordem. Faz parte de quem eu sou.
Eles se sentaram e começaram a comer a pizza. A conversa fluiu lentamente no início, mas logo se tornaram mais confortáveis um com o outro. fez perguntas sobre seus hobbies e sua vida antes de se mudar para o novo apartamento, e perguntou sobre sua banda e como ele estava se adaptando ao novo lugar.
Conforme a noite avançava, se sentia cada vez mais à vontade na presença de . A gentileza e a compreensão dele a ajudaram a relaxar, mesmo que apenas por um momento, e ela apreciava profundamente o esforço que ele estava fazendo para estar ali para ela.
Depois de um tempo, se levantou para pegar mais uma fatia de pizza.
- Você sabe… – ele disse casualmente – Às vezes, mudar um pouco a rotina pode trazer surpresas agradáveis. Talvez a gente possa fazer disso um hábito, o que você acha?
olhou para ele, surpresa, mas sorriu genuinamente pela primeira vez naquela noite.
- Eu acho que isso seria ótimo, . Obrigada por estar aqui comigo…
sorriu de volta.
- Qualquer hora, . Estou aqui para você.
Enquanto terminavam de comer, sentiu uma nova esperança surgir dentro dela. Talvez, com o tempo, ela pudesse aprender a equilibrar sua necessidade de controle com a espontaneidade e a gentileza que trazia para sua vida. E naquele momento, ela estava disposta a tentar…
***
Alguns dias depois:
e estavam no corredor do prédio, discutindo acaloradamente. , ao sair do apartamento, notou a tensão entre eles. estava vestida elegantemente em um vestido preto colado ao corpo, que deixava as costas à mostra. Seu cabelo estava preso em um coque sofisticado, mas ela estava descalça. também estava elegante, em um terno bem cortado, mas sua expressão era de frustração.
- Por que você não pode simplesmente relaxar um pouco, ? – exclamou, exasperado – Nem tudo precisa ser tão rigidamente planejado!
, visivelmente arrasada, tentou se defender.
- Eu já tinha tudo planejado, ! Era para ser uma noite especial, nosso jantar de comemoração… E agora você quer mudar tudo de última hora?
se aproximou, preocupado com o estado de .
- Está tudo bem aqui? – ele perguntou, tentando intervir de forma gentil –
lançou um olhar irritado para , mas não disse nada. , no entanto, pareceu aliviada ao ver .
- Não, não está tudo bem… – ela admitiu, sua voz tremendo.
suspirou e, sem dizer mais nada, se afastou, deixando e sozinhos no corredor.
colocou uma mão reconfortante no ombro de .
- Quer conversar sobre isso?
assentiu, lutando contra as lágrimas.
- Nós íamos sair para jantar para comemorar nossos dois anos de namoro. Eu tinha feito a reserva, estava empolgada… mas ele quis de última hora que fôssemos a um barzinho encontrar alguns amigos e depois voltar para casa para comemorar. Isso atacou minha ansiedade. Sair completamente do que eu tinha planejado me deixa… me deixa assim.
a ouviu atentamente, sua expressão cheia de empatia.
- Eu entendo… Mudanças de última hora podem ser realmente difíceis, especialmente quando você já tinha tudo planejado. E é uma ocasião especial para você…
enxugou uma lágrima que escorria.
- Eu só queria que ele entendesse como isso é importante para mim e como é difícil lidar com essas mudanças.
segurou as mãos dela, tentando oferecer algum conforto.
- Talvez ele não entenda agora, mas ele precisa aprender a respeitar suas necessidades. E você merece alguém que compreenda e apoie isso.
olhou para , sentindo-se um pouco mais calma.
- Obrigada, ! Eu não sei o que faria sem sua ajuda.
sorriu gentilmente.
- Eu estarei aqui para você, sempre que precisar. Vamos, vou te acompanhar até seu apartamento.
Juntos, eles caminharam de volta para o apartamento de , onde ela se sentiu um pouco mais segura e reconfortada pela presença de .
se sentou no sofá e então colocou as mãos sobre o rosto. se sentou ao lado dela, passando um dos braços em volta de seus ombros.
- Vou ligar para o restaurante e cancelar a reserva… – ela balançou a cabeça em negativa.
-Não! – também balançou a cabeça em negativa – Vamos jantar nós dois, que tal? Sei que você preferiria estar com o , mas bom, pelo menos a sua ansiedade diminui um pouco sabendo que não vai precisar desfazer todos seus planos.
olhou para , uma lágrima silenciosa desceu por sua bochecha e ele logo tratou de limpar a mesma com o polegar fazendo recuar um pouco o rosto.
- Você está aqui chorando e ele deve estar a caminho do tal barzinho para encontrar os amigos…
- E se divertir… – voltou a balançar a cabeça – Temos meia hora para chegar ao restaurante sem perder a reserva.
sorriu, satisfeito e então se levantou do sofá, determinado.
- Em dez minutos eu fico pronto e vamos no meu carro, tá bom? Não vamos perder essa reserva. Não vamos mesmo, ou eu não me chamo .
E então ele saiu deixando sozinha com seus próprios pensamentos.
Enquanto se arrumava em seu próprio apartamento, ela foi até o banheiro e se encarou no espelho novamente.
Havia planejado tantas coisas para aquele jantar… os olhos se encheram de água e ela tentou lutar contra o choro que ameaçava cair. Não queria borrar a maquiagem, não teria tempo para refazê-la.
Antes que ela pudesse entrar de volta em seu próprio quarto para colocar as sandálias, ela escutou a voz de ecoar pelo apartamento. Ele entrava e saia do apartamento dela como se morasse lá… sorriu, achando aquilo cômico.
- Vou só calçar minhas sandálias… – ela respondeu enquanto caminhava para o quarto.
Sem cerimônias, caminhou até lá. Ele observou sentada na cama tentando amarrar as tiras das sandálias que iam até metade de sua canela. Mas ela estava tremendo tanto que falhava.
terminou de entrar no quarto e então se ajoelhou de frente à ela, levando as mãos até o fecho de sua sandália. Ele olhou ao redor e percebeu a decoração cuidadosamente preparada. Velas aromáticas estavam acesas, espalhando um aroma suave e relaxante pelo ambiente. Pétalas de rosa estavam dispostas sobre a cama, formando um cenário romântico que contrastava com a tensão do momento.
observou em silêncio enquanto começava a amarrar as tiras das sandálias em volta de sua canela. Seus dedos roçaram delicadamente sua pele, e ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo. A sensação do toque suave de a fez se sentir estranhamente calma, mesmo em meio à tempestade emocional que enfrentava.
trabalhou com cuidado e concentração, ajustando as tiras de maneira perfeita. Ele também estava ciente da intimidade do momento, sentindo a suavidade da pele de sob seus dedos. O ambiente, combinado com a proximidade física, criava uma atmosfera carregada de sentimentos não ditos.
sentiu seu coração acelerar, mas de uma forma diferente daquela provocada pela ansiedade. Era uma mistura de gratidão e algo mais profundo, algo que ela não conseguia identificar completamente. Quando terminou de amarrar as sandálias, ele levantou o olhar para encontrar os olhos dela.
- Pronto. – disse ele, com um sorriso gentil – Agora você está perfeita!
sorriu, ainda sentindo o toque dele em sua pele.
- Obrigada, … – ela sussurrou, a voz ligeiramente trêmula – Você está sendo incrível.
se levantou e estendeu a mão para ela.
- Vamos? Não podemos perder essa reserva.
Ela aceitou a mão dele e se levantou, ainda sentindo o calor do toque dele. Juntos, caminharam até a porta, prontos para sair.
Enquanto fechava a porta atrás de si, lançou um último olhar para o quarto decorado. Ela ainda estava triste pelo que havia acontecido com , mas havia uma nova sensação de esperança dentro dela. estava ao seu lado, e isso fazia toda a diferença.
***
No carro, a entreteve com histórias engraçadas de sua banda e das viagens que haviam feito. Aos poucos, começou a se sentir mais leve. tinha esse efeito sobre ela, e ela estava agradecida por ele estar ali.
Ao chegarem ao restaurante, segurou a porta para ela, e entrou, sentindo-se um pouco mais confiante. Eles se sentaram à mesa e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que poderia aproveitar a noite, mesmo que não fosse exatamente como havia planejado.
Enquanto folheavam o menu, olhou para e perguntou:
- O que você está pensando em pedir para beber?
deu um leve sorriso, ainda um pouco tensa.
- Acho que só vou ficar com água e um suco mesmo. Não posso beber por causa dos remédios.
fez um aceno compreensivo, mas logo sugeriu:
- Que tal fazermos uma exceção esta noite? Apenas uma taça de vinho. Pode ajudar você a relaxar um pouco mais.
hesitou.
- Não sei, ! E se tiver algum efeito colateral?
Ele sorriu de forma encorajadora.
- Prometo que ficarei de olho em você. Vamos aproveitar esta noite, por favor?
Ela ponderou por um momento, finalmente cedendo à gentileza e preocupação de .
- Tá bom, só uma taça.
chamou o garçom e pediu duas taças de vinho tinto.
- E para comer? O que você está pensando?
voltou sua atenção para o menu.
- Acho que vou pedir o salmão grelhado com legumes. E você?
- Vou de bife com batatas assadas, – respondeu , fechando o menu e entregando-o ao garçom – Tenho certeza de que tudo aqui é ótimo!
Pouco depois, o garçom retornou com as taças de vinho. ergueu a sua em um brinde.
- Às novas oportunidades e às boas companhias.
sorriu, levantando sua taça.
- Às novas oportunidades… – ela repetiu, sentindo-se um pouco mais relaxada.
Eles beberam um gole de vinho e sentiu uma leveza começar a tomar conta de seu corpo. Talvez estivesse certo; talvez uma pequena exceção naquela noite não fosse tão ruim assim. Eles continuaram conversando enquanto aguardavam a comida, e se deu conta de que estava se divertindo mais do que esperava.
Quando os pratos chegaram, ambos elogiaram a apresentação e começaram a saborear a refeição. , como sempre, encontrou maneiras de fazê-la rir, compartilhando histórias e anedotas de sua vida na banda. Aos poucos, a tensão que sentia foi se dissipando.
Enquanto comiam, a observava com um olhar atento e carinhoso.
- Estou feliz que você tenha aceitado vir jantar comigo. Acho que ambos precisávamos disso.
sorriu.
- Eu também. Obrigada por me tirar daquele lugar e me ajudar a esquecer um pouco dos problemas.
deu um sorriso caloroso.
A noite continuou, e sentiu-se cada vez mais confortável ao lado de . Ele estava se tornando um amigo importante, alguém que a fazia sentir-se valorizada e compreendida. E, mesmo que ainda houvesse uma dor em seu coração por causa de , ela começou a perceber que, talvez, a vida pudesse ser um pouco mais flexível do que seus rígidos horários e regras permitiam.
***
e haviam terminado seus pratos principais e estavam prontos para pedir as sobremesas. olhou para o cardápio de sobremesas e sorriu.
- Eu acho que vou de cheesecake. E você, ?
Ela analisou o menu por um momento antes de responder.
- Eu vou querer o creme brûlée.
chamou o garçom e fez os pedidos:
- Um cheesecake e um creme brûlée, por favor.
Pouco depois, enquanto aguardavam as sobremesas, o telefone de tocou. Ela pegou o celular na bolsa e viu o nome de na tela. Um aperto se formou em seu estômago. Ela hesitou por um momento, mas decidiu não atender.
percebeu a tensão no rosto dela.
- Tudo bem?
Antes que ela pudesse responder, o telefone tocou novamente. Era de novo. , com um olhar compreensivo, sugeriu:
- Acho melhor você atender. Pode ser importante…
suspirou e, relutantemente, atendeu a chamada: “Alô?”
A voz de estava embriagada do outro lado da linha:
“, onde você está? Estou na porta do seu apartamento e você não abre!”
Ela respirou fundo, tentando manter a calma.
“, eu não estou em casa agora.”
“Não está em casa? Então onde você está? Eu preciso falar com você!”
percebeu que ele estava claramente bêbado.
“Estou fora, jantando. Podemos falar sobre isso amanhã?”
resmungou algo inaudível antes de desligar abruptamente. colocou o telefone de volta na bolsa, sentindo uma mistura de preocupação e frustração.
- Ele está bem? -perguntou , com um tom suave e preocupado.
- Ele está bêbado e está na porta do meu apartamento! – respondeu , suspirando – Isso não é nada novo, infelizmente. Mas eu realmente não quero lidar com isso agora.
assentiu, entendendo.
- Se precisar de qualquer coisa, estou aqui. Vamos aproveitar a sobremesa, tudo bem?
As sobremesas chegaram e, apesar da ligação perturbadora, tentou se concentrar na companhia de e na deliciosa refeição. Eles continuaram conversando, e aos poucos, a tensão foi diminuindo novamente.
***
Enquanto e voltavam para o prédio, o ar noturno estava fresco e tranquilo. Eles subiram as escadas juntos, com ela na frente e não pôde deixar de reparar nas costas nuas de , expostas pelo elegante vestido preto. Cada passo que ela dava fazia o vestido deslizar suavemente sobre sua pele, e se pegou pensando em como seria a textura da pele dela completamente nua sob seus dedos…
Ele balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos inapropriados. Sentia-se culpado por imaginar algo tão íntimo, especialmente considerando que ela estava em um relacionamento complicado.
Eles finalmente chegaram ao andar de e, para surpresa deles, encontraram dormindo na porta do apartamento dela. Ele estava deitado no chão, a respiração pesada e um leve ronco escapando de seus lábios.
suspirou, frustrada e cansada.
- Isso não está acontecendo… – murmurou, passando a mão pelos cabelos.
olhou para ela com simpatia.
- Quer ajuda para levá-lo para dentro?
assentiu, embora claramente exasperada.
- Sim, por favor! Ele não vai acordar facilmente assim.
se aproximou de , tentando acordá-lo com um leve empurrão.
- Ei, cara, acorda. Vamos te levar para dentro.
resmungou algo inaudível, mas não fez muito esforço para se mover. suspirou e olhou para .
- Acho que vamos ter que carregá-lo…
Com algum esforço, conseguiu levantar , apoiando-o enquanto destrancava a porta do apartamento. Eles o levaram até o sofá da sala e o deitaram com cuidado.
-Obrigada, ! – disse , exausta – Eu não sei o que faria sem você hoje.
sorriu suavemente.
- Sempre que precisar, estou aqui para ajudar.
olhou para , dormindo pesadamente no sofá, e depois para .
- Acho que ele vai ficar bem aqui. Vou pegar um cobertor para ele.
assentiu, observando-a ir até o quarto e voltar com um cobertor. Ele se perguntou como alguém poderia ser tão tolo a ponto de preferir sair com os amigos em vez de passar a noite com uma mulher tão incrível como .
Eles cobriram e, por um momento, ficaram em silêncio, apenas olhando para o homem adormecido. finalmente quebrou o silêncio.
- Espero que as coisas melhorem entre vocês.
suspirou.
- Eu também espero. Mas hoje, só quero dormir e esquecer esse dia!
deu um passo para trás, respeitando o espaço dela.
- Boa noite, ! Se precisar de qualquer coisa, estarei no meu apartamento.
- Boa noite, ! E obrigada, de verdade.
saiu do apartamento de , fechando a porta silenciosamente atrás de si. Enquanto caminhava para seu próprio apartamento, ele não pôde deixar de se preocupar com ela, mas também sabia que precisava dar espaço para ela lidar com seus próprios sentimentos e decisões.
***
ficou parada, encarando adormecido no sofá. Várias coisas se passavam por sua mente: a discussão, a decepção da noite arruinada e o apoio inesperado de . Respirando fundo, ela se dirigiu ao seu quarto.
Ao entrar, ela sentiu o aroma suave das velas aromáticas ainda acesas. Começou a apagá-las uma por uma, sentindo um peso no coração a cada chama que se extinguia. A luz ambiente diminuía, criando sombras tristes no quarto que deveria ter sido cenário de uma noite especial.
Depois, se concentrou nas pétalas de rosa que estavam espalhadas pela cama. Ela as recolheu, sentindo a textura suave e fragrante entre os dedos. Jogou as pétalas no lixo do banheiro, como se estivesse descartando as esperanças que tinha para aquela noite.
Olhou para seu reflexo no espelho do banheiro, vendo o delineador e o rímel levemente borrados pelas lágrimas. Com movimentos automáticos, começou a remover a maquiagem, limpando o rosto com cuidado.
Decidiu tomar um banho, na tentativa de lavar não apenas a maquiagem, mas também a tristeza e a frustração. Deixou a água quente correr sobre seu corpo, fechando os olhos e tentando se acalmar.
Depois do banho, passou algum tempo ajeitando o banheiro. Limpou as gotas de água do chão e da pia, arrumou as toalhas e certificou-se de que tudo estava no lugar. O ritual de limpeza ajudava a acalmar sua mente, oferecendo um controle reconfortante sobre pelo menos uma parte de sua vida.
Finalmente, saiu do banheiro e foi até a sala para dar uma última olhada em . Ele ainda dormia profundamente, alheio ao tumulto emocional que havia causado. sentiu uma mistura de tristeza e desapontamento.
Com um suspiro, voltou para o quarto, desejando que a manhã seguinte trouxesse alguma clareza e paz. Fechou os olhos, tentando se preparar para dormir, mas a mente ainda estava agitada, refletindo sobre as palavras ditas e não ditas, as promessas quebradas e os futuros incertos.
Quarto Capítulo
A mãe a puxou para um abraço apertado e logo em seguida segurou o rosto de entre as mãos fazendo com que a franja dela ficasse bagunçada. Os olhos dela se arregalaram brevemente e quando a mãe a soltou, ela engoliu seco.
— Você já é uma mulher feita ! — A mãe desceu os olhos por ela. — Tão bonita minha filha.
Yeon-Hee, segurou as duas mãos da filha e então lhe beijou a bochecha. não se lembrava muito bem do quanto a mãe era afetiva, e bom, aquilo incomodava um pouco , sua ansiedade começava a atacar. A rotina dela sendo bagunçada…
— E você … que belo homem! — Yeon-Hee sorriu para ele e soltou as mãos da filha indo em direção ao genro.
ficou ali, imóvel, enquanto sua mãe se afastava para abraçar . A cena parecia deslocada de sua realidade, como se ela estivesse observando algo de longe, sem realmente fazer parte. A verdade era que não via a mãe há pelo menos três anos, desde a morte de seu pai. Quando ele faleceu, tudo mudou de maneira abrupta e dolorosa. A perda do pai, com quem sempre teve uma ligação mais próxima, fez com que ela tomasse a decisão de deixar Busan e se mudar para Seul, buscando um novo começo.
O relacionamento com Yeon-Hee sempre fora complicado. Não era que elas não se amassem, mas havia uma certa frieza, um distanciamento que, com o tempo, se tornara uma barreira. As conversas, que já eram superficiais, se tornaram ainda mais escassas depois que mudou-se. A maioria de suas interações limitava-se a mensagens curtas, formais, quase como se fossem estranhas que compartilhassem um vínculo sanguíneo, mas não um emocional.
E agora, ali estava sua mãe, tão carinhosa, tão… diferente. O afeto que Yeon-Hee demonstrava naquele momento a incomodava. Não estava acostumada com aquele tipo de demonstração vinda dela. Não daquele jeito, não agora. A bagunça na rotina de já estava começando a gerar uma leve onda de ansiedade, o que era previsível. Três dias com a mãe em Busan. Três dias longe de sua zona de conforto.
O motivo para ela estar ali não era a mãe. havia recebido o convite de casamento de uma amiga de infância que ainda morava em Busan, e por isso se viu obrigada a retornar à cidade que deixou para trás. O evento era a oportunidade perfeita para um reencontro, embora a perspectiva de enfrentar sua mãe durante esse tempo fosse algo com o qual ela não sabia muito bem como lidar.
observou o interior da casa da mãe enquanto Yeon-Hee e conversavam animadamente. Não pôde evitar uma análise rápida de como tudo estava disposto no ambiente. Havia algo que a incomodava profundamente, embora ela não conseguisse colocar em palavras de imediato. A sala estava decorada com um caos de cores e texturas que faziam sua mente rodopiar.
As cortinas florais desbotadas não combinavam com o tapete de listras, e o sofá de couro vermelho parecia perdido entre as almofadas estampadas com flores roxas e verdes. Sobre a mesa de centro, uma toalha de crochê contrastava com uma pilha de revistas antigas e uma coleção de enfeites que pareciam não pertencer a lugar algum. sentiu o TOC começando a falar mais alto, como se cada detalhe gritasse para ser arrumado, ordenado, ajustado.
Ela começou a tamborilar os dedos contra a lateral da perna, um hábito inconsciente quando sua ansiedade tomava conta. As bordas desalinhadas dos móveis, os quadros pendurados em alturas diferentes, as cadeiras da sala de jantar que não estavam devidamente alinhadas… Tudo aquilo criava uma pressão crescente em sua cabeça, como se o descompasso da decoração fosse um reflexo da desordem interna que tentava manter controlada.
Ela respirou fundo, lutando para manter a compostura. Sabia que qualquer tentativa de organizar ou rearranjar algo naquela casa causaria estranhamento ou mesmo um conflito com sua mãe, mas era difícil. Cada pequeno detalhe fora do lugar parecia multiplicar a tensão em seu peito.
Seus olhos pousaram em um quadro torto na parede e, sem perceber, ela se levantou para corrigi-lo, mas parou no meio do caminho. “Não faça isso”, disse a si mesma, engolindo em seco. Ela precisava encontrar uma maneira de lidar com aquilo, ou os próximos três dias seriam insuportáveis.
Yeon-Hee sorriu, animada, e fez sinal para que e a seguissem.
— Venham, vou mostrar o quarto onde vocês vão ficar — disse ela, com a voz calorosa enquanto caminhava pelo corredor estreito da casa.
e trocaram um olhar breve antes de seguirem. Ela estava apreensiva, ainda sentindo o desconforto causado pela desordem da casa, enquanto parecia mais descontraído, apenas observando o ambiente sem aparentar qualquer incômodo.
Ao chegarem ao quarto de hóspedes, Yeon-Hee abriu a porta com um gesto animado, revelando um pequeno quarto de paredes pintadas em tom de azul claro, com uma cama de casal no centro coberta por um edredom florido, um guarda-roupa antigo ao fundo e uma mesa de cabeceira cheia de pequenos enfeites que, assim como o resto da casa, não combinavam entre si. notou de imediato que o quarto, assim como o restante da casa, parecia uma mistura de estilos e cores que a incomodavam profundamente.
— Espero que gostem — disse Yeon-Hee, com um sorriso orgulhoso. — Coloquei umas flores frescas na janela para deixar o ambiente mais alegre.
forçou um sorriso, tentando esconder o desconforto que sentia.
— Está ótimo, mãe… — respondeu ela, com a voz baixa, enquanto seus olhos analisavam os detalhes do quarto, já começando a sentir o TOC cutucar suas preocupações novamente.
, por outro lado, sorriu amplamente.
— Ficou muito bom, obrigado, Yeon-Hee — ele disse, dando um passo à frente para examinar a janela com as flores.
Yeon-Hee deu uma última olhada no quarto antes de se voltar para eles.
— Bom, vou deixar vocês à vontade. Se precisarem de algo, estou na cozinha preparando o jantar — e com isso, ela saiu, fechando a porta atrás de si.
Assim que a mãe se foi, soltou um suspiro longo, sentindo a pressão no peito aumentar. O quarto parecia apertar em volta dela, cada detalhe desorganizado chamando sua atenção de forma incômoda. Ela passou a mão pela testa, tentando afastar a sensação, enquanto se aproximava, colocando a mão suavemente em seu ombro.
— Está tudo bem? — ele perguntou, com um tom gentil, notando o desconforto nos olhos dela.
assentiu, mesmo que sua mente estivesse a mil. Sabia que os próximos dias seriam uma verdadeira prova de paciência.
, percebendo o estado de , sentou-se ao lado dela na cama, mantendo a mão no ombro dela. Seu toque era suave, tentando transmitir calma.
— Eu sei que está difícil, — ele começou, com um tom compreensivo. — Mas estamos aqui por poucos dias. Se precisar de um tempo, ou se algo começar a te incomodar demais, você pode me falar.
Ela respirou fundo, ainda olhando para a desordem no quarto. O edredom florido, as flores na janela que não combinavam com nada, e os pequenos enfeites na mesa de cabeceira que pareciam escolhidos aleatoriamente. Tudo isso estava começando a sufocá-la.
— É só que… — começou, lutando para encontrar as palavras certas. — Não é só a bagunça, ou as coisas fora de lugar. Parece que cada detalhe me pressiona, sabe? Como se nada fizesse sentido e isso faz minha cabeça girar.
apertou de leve o ombro dela.
— Eu sei. E sei que sua mãe não entende isso, mas eu entendo. Você não precisa se forçar a ser diferente, está bem? — Ele a olhou com seriedade, querendo que ela soubesse que não estava sozinha.
virou-se para encará-lo, mordendo o lábio inferior.
— Eu achei que… depois de tanto tempo… fosse ser mais fácil, mas toda vez que vejo algo fora do lugar, meu cérebro entra em pânico. É como se eu não conseguisse focar em mais nada além do caos. Isso me deixa ansiosa, e meu TOC fica gritando na minha cabeça.
Ela baixou o olhar, sentindo as lágrimas se acumularem nos olhos.
— E minha mãe nunca entendeu… Sempre dizia que eu estava exagerando, que eu devia ignorar as coisas, mas eu simplesmente… não consigo.
suspirou e puxou-a para mais perto, envolvendo-a em um abraço reconfortante.
— Você não precisa fingir que está tudo bem para agradar sua mãe ou qualquer outra pessoa. Se quiser, eu posso falar com ela, tentar explicar como você se sente.
balançou a cabeça.
— Não… Eu não quero causar mais problemas. Ela vai ficar preocupada, ou pior, vai achar que eu estou sendo ingrata.
— , ninguém pode julgar como você se sente. Você tem o direito de se sentir assim, e eu estou aqui com você para o que precisar.
Ela afundou um pouco mais no abraço de , apreciando o calor e o conforto que ele oferecia. Mesmo com todas as suas diferenças e os problemas que estavam enfrentando no relacionamento, naquele momento ela sabia que podia contar com ele.
— Obrigada por entender, — sussurrou ela, sentindo um peso um pouco menor em seu peito.
— Sempre. Eu estou do seu lado, não importa o que aconteça — respondeu ele, beijando suavemente o topo de sua cabeça, como uma promessa silenciosa.
***
Depois da conversa, percebeu o quanto a ansiedade de estava afetando-a e sugeriu que tomassem um banho juntos para ajudá-la a relaxar. Relutante no início, ela acabou concordando, sentindo que talvez a presença dele pudesse aliviar um pouco da tensão que sentia. No banheiro, enquanto a água quente escorria pelo corpo de ambos, ele a envolveu com carinho, massageando seus ombros tensos e sussurrando palavras tranquilizadoras. O ambiente aquecido e a intimidade do momento trouxeram uma sensação de calma, e aos poucos foi relaxando, respirando mais tranquilamente.
continuou atencioso, garantindo que ela se sentisse confortável, sem pressa. Após o banho, ele a ajudou a se enxugar, ambos trocando sorrisos suaves, apreciando o momento de proximidade que parecia amenizar um pouco da turbulência emocional.
Ao saírem do banheiro, sentiram o aroma de comida vindo da cozinha. A mãe de já estava servindo o jantar, o que trouxe um alívio adicional para ela. Mesmo que a noite ainda prometesse ser desafiadora, ela sabia que pelo menos aquele momento com havia lhe dado a força que precisava para continuar.
e desceram as escadas e se dirigiram à sala de jantar, onde a mesa já estava posta. O cheiro de comida caseira preenchia o ambiente, trazendo uma sensação familiar que, para , era um misto de conforto e ansiedade. O jantar estava simples, mas bem preparado: arroz, legumes refogados, kimchi fresco e carne grelhada, tudo servido com esmero.
Yeon-Hee sorriu ao ver os dois se aproximando, gesticulando para que se sentassem.
— Sentem-se, sentem-se. A comida está pronta. Espero que gostem.
acomodou-se à mesa, observando tudo ao redor. O ambiente ainda a incomodava — os objetos desordenados, a decoração que não seguia nenhum padrão harmonioso. Ela tentou, com esforço, não deixar sua mente se concentrar nisso. A presença de ao seu lado a ajudava a manter o controle, mas seus dedos ainda tamborilavam nervosamente na borda da mesa.
— Está tudo ótimo, senhora Yeon-Hee, obrigado por nos receber, — disse com um sorriso educado, enquanto servia um pouco de arroz no prato de .
Yeon-Hee se acomodou do outro lado da mesa, olhando com carinho para a filha e o genro.
— Estou feliz por termos este tempo juntos. É tão raro te ver, … Depois que você se mudou para Seul, parece que se distanciou de todos.
engoliu seco, o peso daquelas palavras caindo sobre ela. Ela sabia que era verdade, mas a relação com sua mãe sempre foi complicada. As expectativas da mãe, os problemas não resolvidos após a morte do pai… tudo isso a afastou. Ela tentou não deixar a culpa tomar conta, mas sabia que aquele jantar seria cheio de pequenos confrontos emocionais.
— Eu estava ocupada… com o trabalho, a vida em Seul, — respondeu, tentando ser neutra. — Mas é bom estar aqui agora.
Yeon-Hee serviu-se de um pouco de carne e continuou:
— E como estão as coisas com você, ? Eu vejo que você cuida bem da minha filha, não é?
Ele deu um sorriso sem jeito, tentando não parecer tenso.
— Eu faço o meu melhor. é… especial. Ela é forte, mas tem seus momentos difíceis. Estamos sempre tentando equilibrar as coisas.
mordeu o lábio, sentindo o olhar da mãe sobre ela, mas manteve a cabeça baixa, focando em sua comida. Ela sabia que o comentário de era bem-intencionado, mas sentiu-se exposta, como se sua fragilidade estivesse à mostra.
— Espero que vocês estejam bem, — Yeon-Hee continuou, sem notar o desconforto da filha. — Dois anos de namoro já, não é? Quando eu e seu pai fizemos dois anos, ele me levou para o nosso lugar favorito em Busan. Era uma época tão diferente…
olhou para rapidamente, sentindo a tensão no ar. O jantar que deveria ter sido comemorativo havia se transformado em algo muito diferente, e ela sabia que o assunto iria pescar em feridas recentes.
ajeitou o guardanapo no colo, tentando esconder a inquietação que começava a tomar conta de si. O comentário de sua mãe sobre o aniversário de namoro trouxe à tona lembranças recentes — a briga, os planos frustrados, o esforço que ela fez para não deixar aquilo tomar conta da noite.
— Sim, dois anos já… — respondeu com um sorriso que não alcançou os olhos. Ele sentia o mesmo peso que , mas tentou esconder o desconforto. — Nós tínhamos alguns planos, mas… imprevistos aconteceram.
, que estava prestes a cortar um pedaço de carne, parou o movimento e olhou de soslaio para , que claramente tentava mudar o tom da conversa. Sua mãe, no entanto, parecia alheia ao clima tenso entre os dois.
— Imprevistos? — Yeon-Hee perguntou, arqueando as sobrancelhas. — Ah, essas coisas acontecem. O importante é que vocês estejam juntos. Nem tudo sai como planejado.
abaixou os talheres, já não conseguindo fingir que estava tudo bem. Sua mãe nunca soube o quanto ela se esforçava para que tudo ficasse perfeito. E, ali, com ao lado, toda a pressão da noite malfadada voltou com força.
Ela respirou fundo, tentando segurar a frustração.
— É que… eu tinha planejado algo diferente, — falou, sua voz saindo mais baixa do que gostaria. — Eu queria que fosse especial.
— E foi, — cortou, tentando ser conciliador. — Foi diferente, mas ainda assim especial.
sentiu seu estômago se revirar. Para ela, nada foi especial naquela noite, mas sabia que não era o momento de discutir isso diante da mãe. Em vez disso, ela soltou o ar que estava prendendo, evitando contato visual com ambos.
Yeon-Hee, percebendo que havia algo no ar, mas não sabendo exatamente o que, mudou de assunto.
— Bom, que tal a gente deixar esses planos de lado por enquanto? Vocês estão aqui agora, e é isso que importa. — Ela sorriu, tentando trazer um pouco de leveza ao momento. — E, claro, vocês têm toda a comida deliciosa que eu preparei. Espero que gostem.
agradeceu e começou a comer, mas mal tocou na comida. Sua mente estava longe, relembrando cada detalhe do que tinha dado errado naquela noite. A reserva, as velas, as pétalas… tudo desmoronou diante dos imprevistos de .
Ela mexeu no arroz com o hashi, sem fome, desejando que aquela conversa terminasse logo.
Depois do jantar, se ofereceu para ajudar a mãe com as louças, uma maneira de escapar um pouco da tensão que sentia no ambiente. tinha se retirado para o quarto, aparentemente cansado, e ela ficou aliviada por poder ter um momento a sós com Yeon-Hee, mesmo que ainda estivesse incerta sobre como seria a conversa.
Enquanto ambas trabalhavam em silêncio, lavando e secando pratos, finalmente tomou coragem para falar o que estava entalado em sua garganta há tanto tempo.
— Faz muito tempo que a gente não conversa direito, não é? — disse, quebrando o silêncio. Ela observou a mãe de canto de olho, esperando por uma reação.
Yeon-Hee suspirou, parando de esfregar um prato por um momento.
— Sim, faz… E eu sinto falta disso, sabe? — Ela olhou para a filha, com uma expressão triste. — Mas eu sei que muita coisa mudou desde que seu pai se foi. Nada foi fácil depois disso.
mordeu o lábio, tentando controlar a emoção que começava a aflorar.
— Quando o papai morreu, parece que tudo desmoronou. Eu me sentia tão… sozinha, mesmo com você por perto. Acho que foi por isso que me mudei para Seul tão rápido. Eu precisava fugir.
Yeon-Hee colocou o prato que estava lavando de lado e enxugou as mãos, voltando-se completamente para a filha.
— Eu sabia que você estava sofrendo. Só que… eu também estava. E talvez eu não tenha sido a mãe que você precisava naquele momento.
sentiu um nó se formar em sua garganta.
— A gente nunca falou sobre isso, sobre como foi para você. Eu sempre pensei que você fosse forte o suficiente para lidar com tudo, mas… — Ela parou, tentando encontrar as palavras certas. — Talvez eu estivesse errada. Talvez eu só estivesse tão focada no meu próprio sofrimento que não percebi o seu.
Yeon-Hee se aproximou da filha, com um olhar cheio de pesar.
— Eu também estava perdida, . Quando seu pai se foi, eu perdi meu companheiro, meu melhor amigo… E, por mais que eu quisesse estar ali para você, acho que me fechei em mim mesma.
O silêncio pairou por um momento, enquanto ambas absorviam o peso das palavras não ditas por anos.
— Sempre pareceu que você e o papai tinham um relacionamento perfeito — continuou, a voz trêmula. — E eu acho que, quando ele morreu, eu fiquei com medo de nunca encontrar algo assim. Eu me senti tão pressionada, como se tivesse que seguir os mesmos passos, sabe? Ter algo tão… impecável.
Yeon-Hee balançou a cabeça lentamente.
— O casamento com seu pai foi bom, mas não foi perfeito, . Nós tínhamos nossas brigas, nossos desafios. Só que ele era meu parceiro, e nós sempre encontrávamos uma maneira de seguir em frente. Mas eu entendo essa pressão que você sente. Não quero que se sinta assim. Você tem o direito de construir o seu caminho, do seu jeito.
respirou fundo, tentando absorver o consolo nas palavras da mãe.
— Eu só… eu queria que a gente tivesse falado disso antes. Acho que teria ajudado.
Yeon-Hee sorriu suavemente, colocando uma mecha de cabelo de atrás da orelha.
— Nunca é tarde demais para isso. Estou aqui agora, e sempre vou estar.
sentiu as lágrimas queimarem seus olhos, mas não tentou afastá-las dessa vez. Ela deu um passo à frente e abraçou a mãe com força, sentindo o calor e o conforto que tanto havia faltado nos últimos anos.
***
Mais tarde naquela noite, , e sua mãe estavam sentados na sala assistindo TV. O clima estava mais leve, graças à conversa sincera entre e Yeon-Hee durante a arrumação da cozinha. estava distraído com o celular, enquanto Yeon-Hee zapeava pelos canais, até que parou em uma reportagem que chamou a atenção de .
— Olha, é sobre k-pop! — disse Yeon-Hee, animada, aumentando o volume da TV.
A reportagem começou a exibir imagens de uma banda famosa, e o narrador mencionava como o grupo havia conquistado o mundo. observava sem muito interesse, até que um nome familiar ecoou pela sala.
— …e o líder do grupo, , mais conhecido como RM, vem sendo um dos destaques não só na música, mas também em projetos humanitários e…
congelou ao ouvir o nome de . Ela imediatamente foi transportada de volta àquela noite em que tudo tinha desmoronado no seu aniversário de namoro com . A lembrança de a acalmando, oferecendo-se para jantar com ela no restaurante e tentando animá-la, veio à tona de maneira avassaladora. Ele havia sido o porto seguro dela em um momento de caos.
— Você conhece esse tal de , ? — a mãe perguntou curiosa, notando a expressão da filha mudar de repente.
piscou, voltando à realidade.
— Ah, sim… Ele é… um amigo. — Ela hesitou um pouco, não querendo dar mais detalhes, principalmente com ali ao lado.
, que ainda estava no celular, ergueu os olhos ao ouvir a conversa, mas não demonstrou muito interesse. Apenas fez um som de reconhecimento, como se o nome fosse vagamente familiar para ele.
Yeon-Hee sorriu, sem saber da conexão mais profunda que a filha tinha com .
— Ele parece ser um bom rapaz. Sempre ouvimos coisas boas sobre ele na mídia.
apenas assentiu, sem conseguir esconder o quanto estava pensativa. A lembrança de trouxe uma onda de emoções conflitantes. Ela não podia ignorar o quanto ele a havia ajudado naquela noite, e como sua presença havia sido um alívio em meio àquela bagunça emocional. Pensar nisso a fez questionar ainda mais seu relacionamento com , que naquele momento parecia alheio a tudo, como se a reportagem, ou mesmo a noite que passaram, não tivesse importância.
Logo depois, o programa na TV mudou para outro assunto, e a sala mergulhou em um silêncio confortável. Contudo, continuava mergulhada em seus pensamentos, até que Yeon-Hee bocejou e comentou:
— Acho que vou para a cama, estou exausta.
sorriu para a mãe e se despediu com um beijo na testa, enquanto murmurou um boa noite distraído. Quando ficaram sozinhos, ela e foram para o quarto de hóspedes. Ele parecia pronto para cair no sono imediatamente, mas se viu inquieta. Mesmo deitada ao lado dele, a imagem de continuava rondando sua mente.
***
Na manhã seguinte, foi a primeira a acordar. Os raios de sol entravam suavemente pela janela do quarto de hóspedes, iluminando o ambiente com uma luz cálida. Ela se espreguiçou preguiçosamente, olhando para , que ainda dormia profundamente ao seu lado. Após um breve momento de contemplação, ela se levantou e foi até o banheiro para se arrumar.
Quando voltou ao quarto, já estava acordado, mexendo no celular como de costume.
— Bom dia — ela disse, sorrindo levemente enquanto ele murmurava algo em resposta.
Logo depois, ambos se dirigiram à cozinha, onde encontraram Yeon-Hee preparando o café da manhã. O cheiro de café fresco e pão torrado preenchia o ar, trazendo uma sensação de aconchego.
— Bom dia, crianças! — Yeon-Hee os saudou com um sorriso caloroso. — Fiz café para nós. Sentem-se, está quase pronto.
se sentou à mesa, olhando para a mãe enquanto ela finalizava os preparativos. Era estranho estar ali, naquela casa que já não parecia tão familiar, mas o esforço de sua mãe em criar uma atmosfera acolhedora era inegável. Ela ainda estava processando tudo, mas aos poucos sentia que a tensão entre as duas diminuía.
— Então, o que vocês planejam fazer hoje? — Yeon-Hee perguntou enquanto colocava o pão torrado e as xícaras de café na mesa.
e se entreolharam. deu de ombros, aparentemente sem muitas ideias.
— Pensei que poderíamos dar uma volta por Busan — sugeriu, um tanto hesitante. — Faz tanto tempo que não venho aqui, seria bom ver alguns lugares de novo.
Yeon-Hee sorriu em aprovação.
— Ótima ideia. Busan tem mudado bastante, mas ainda tem a sua essência. Vão aproveitar o dia juntos.
Depois de terminarem o café da manhã, e se arrumaram e saíram para passear. O clima estava agradável, com uma brisa suave que fazia o passeio ainda mais prazeroso. Eles caminharam pelas ruas movimentadas da cidade, visitando alguns pontos turísticos e relembrando os tempos de em Busan.
A primeira parada foi o mercado de peixes Jagalchi, um dos lugares mais tradicionais da cidade. adorava a atmosfera do local, com o vai e vem de pessoas, o cheiro do mar e a variedade de frutos do mar frescos à venda. , embora mais interessado em observar o movimento ao redor, também parecia se divertir.
— Lembra de quando viemos aqui com meu pai? — comentou de repente, enquanto caminhavam pelas barracas de peixe. — Nós ainda éramos só amigos, mas vivíamos juntos.
assentiu.
— Sim, lembro. Ele ficou negociando o preço daquele peixe por uns bons minutos, como se estivesse numa grande disputa.
riu. A lembrança de seu pai ainda trazia uma mistura de saudade e dor, mas naquele momento, o peso parecia um pouco mais leve.
Eles também visitaram o famoso Haeundae Beach, uma das praias mais conhecidas da Coreia do Sul. Sentados na areia, observando as ondas do mar e o horizonte distante, sentiu uma paz que há muito não experimentava. O ritmo acelerado de Seul parecia uma memória distante enquanto ela respirava o ar fresco e deixava a mente vagar por um breve momento de tranquilidade.
— Isso aqui é bem mais calmo do que Seul — comentou, deitando-se na areia, com os braços atrás da cabeça.
— Sim, é — concordou, olhando para o mar. — Talvez eu devesse voltar a visitar Busan com mais frequência.
não respondeu imediatamente, e o silêncio que se seguiu foi confortável. Durante o resto do passeio, eles visitaram outros pontos icônicos da cidade, como o Parque Yongdusan e a Torre de Busan. Enquanto caminhavam, não pôde evitar comparar a leveza daquele dia com as turbulências recentes que havia enfrentado em seu relacionamento. A presença de ao seu lado era familiar e confortável, mas a sombra das discussões ainda pairava sobre ela.
Quando finalmente retornaram para a casa de sua mãe, já no final da tarde, sentia-se cansada, mas de certa forma, revigorada pelo passeio. A nostalgia de estar em Busan e a oportunidade de reconectar com sua cidade natal a deixavam mais leve, apesar de todas as emoções conflitantes dentro de si.
estava na frente do espelho em seu quarto, ajustando o vestido que havia escolhido para o casamento. Era um vestido elegante, com um caimento perfeito que realçava sua silhueta, e ela se sentia bem dentro dele, mas a ansiedade de participar de um evento social ainda a deixava um pouco tensa. Ela respirou fundo, tentando se acalmar. Os últimos dias em Busan haviam sido mais intensos do que ela imaginava, com as emoções à flor da pele devido à presença da mãe e os sentimentos misturados em relação a .
Ela ouviu um resmungo de frustração vindo do quarto ao lado. Quando se virou, viu lutando com o nó da gravata. Ele estava parado em frente ao espelho, mexendo desajeitadamente no tecido, claramente irritado.
— Argh… por que isso sempre dá errado? — ele murmurou, emburrado.
observou por alguns segundos, os dedos coçando para corrigir aquilo. O nó da gravata estava torto, malfeito, e aquilo começou a incomodar o TOC dela de imediato. Por mais que tentasse ignorar, a visão de algo fora de lugar a deixava inquieta.
Ela suspirou e caminhou até ele, já decidida.
— Deixa eu fazer isso, — disse suavemente, aproximando-se dele.
olhou para ela com um meio sorriso, aliviado por não precisar continuar brigando com o acessório.
— Eu não tenho jeito pra essas coisas.
sorriu levemente, embora sua atenção estivesse completamente voltada para a gravata. Suas mãos ágeis e precisas desfizeram o nó mal feito, e ela começou a refazê-lo com movimentos firmes e calculados. Enquanto ajustava a gravata ao redor do colarinho de , seus dedos tocaram a pele do pescoço dele, e ela sentiu um pequeno arrepio percorrer sua espinha. A proximidade era familiar, mas naquele momento, parecia carregada de uma tensão sutil que ela não conseguia ignorar.
, por sua vez, ficou em silêncio, observando os movimentos dela com os olhos atentos. Ele percebeu o quão concentrada estava, o olhar fixo na gravata como se aquilo fosse uma tarefa de extrema importância. Ele sempre soube sobre o TOC dela, mas momentos como aquele o lembravam de como algumas pequenas coisas realmente a afetavam.
— Pronto — ela disse, após terminar de dar o nó e ajustá-lo perfeitamente. — Agora está certo.
Ela deu um passo para trás, avaliando o trabalho com um olhar crítico, mas satisfeita. A gravata estava impecável, o que trouxe um pequeno alívio à sua mente.
— Obrigado — sorriu, olhando-se no espelho. — Você tem mãos de fada pra isso.
sorriu de volta, mas não disse nada. Embora o nó da gravata estivesse perfeito agora, sua mente ainda estava um pouco agitada com o que estava por vir. O casamento de sua amiga de infância trazia à tona uma série de emoções e lembranças, e ela sabia que, de alguma forma, aquele evento também seria um teste para o relacionamento entre ela e .
— Está pronta? — ele perguntou, percebendo que ela estava um pouco distante.
Ela assentiu, respirando fundo mais uma vez. — Sim, estou. Vamos?
— Vamos — ele respondeu, oferecendo-lhe o braço.
Enquanto saíam do quarto, não pôde evitar sentir um peso em seu peito. Mesmo que tudo parecesse estar em ordem do lado de fora, por dentro, ela sabia que sua mente ainda era um campo de batalha.
Quando e chegaram à entrada do salão onde o casamento seria realizado, ela sentiu um frio na barriga ao ver tantas pessoas reunidas. Algumas eram rostos familiares, mas outras, desconhecidas, o que sempre a deixava um pouco mais ansiosa em eventos sociais. O ambiente estava decorado com flores elegantes, e o som suave de música ao vivo tocava ao fundo, criando uma atmosfera romântica e acolhedora.
segurou sua mão com firmeza, percebendo o leve tremor que se espalhava pelos dedos dela.
— Vai ficar tudo bem, . Estou aqui com você — ele sussurrou, apertando sua mão suavemente para confortá-la.
Ela sorriu de volta, agradecida pelo apoio, e respirou fundo, tentando controlar a ansiedade que começava a subir. Quando deram os primeiros passos em direção ao salão, ela foi imediatamente abordada por algumas amigas de infância.
— ! Quanto tempo! — uma voz feminina familiar ecoou.
Ela se virou e foi recebida por So-ra, uma das amigas que ela não via desde a época do colégio. As duas se abraçaram rapidamente, e sentiu uma onda de nostalgia ao vê-la. So-ra estava acompanhada de outras duas amigas da época, todas sorridentes e curiosas sobre sua vida.
— Mal acredito que você está aqui! — So-ra exclamou com entusiasmo. — Você se mudou para Seul e desapareceu da nossa vida. Queremos saber tudo sobre você!
riu nervosamente, um pouco incomodada com o foco repentino sobre ela.
— Ah, nada muito interessante, só a vida de sempre. Mas e vocês? Ainda moram em Busan?
— Sim! Não conseguimos nos livrar dessa cidade — uma das amigas brincou, e todas riram. — Mas me conta, quem é esse bonitão que você trouxe com você?
Os olhos de todas se voltaram para , que sorriu educadamente. sentiu um pequeno rubor subir em suas bochechas.
— Esse é , meu… namorado — ela respondeu, ainda um pouco hesitante.
As amigas trocaram olhares curiosos e sorrisos aprovadores.
— Prazer, — So-ra disse, apertando a mão dele. — Você tem sorte, sempre foi a mais reservada do grupo. Mal posso esperar pra ver vocês dois na pista de dança hoje!
riu de nervoso, mas se saiu bem, mantendo a conversa casual e leve, o que ajudou a aliviar parte da tensão que ela sentia.
Conforme avançavam pelo salão, mais pessoas vinham cumprimentá-los. Alguns parentes distantes de , outros amigos de infância que ela mal reconhecia à primeira vista. Ela se viu presa em uma série de conversas rápidas e cheias de formalidades, e, a cada nova interação, sentia a ansiedade borbulhando mais e mais por dentro.
Depois de alguns minutos, puxou para um canto mais tranquilo.
— Preciso de um momento — ela sussurrou. — São tantas pessoas…
— Claro, vamos dar uma volta lá fora antes da cerimônia começar — sugeriu, sempre atento ao estado dela.
Eles saíram para uma varanda decorada com luzes cintilantes, onde a brisa fresca de Busan os envolveu. fechou os olhos por um momento, deixando o ar fresco acalmar sua mente agitada.
— Está se sentindo melhor? — perguntou suavemente, acariciando o braço dela.
— Sim, só precisava de um respiro — ela respondeu, abrindo os olhos e fitando o horizonte. — Esse reencontro com tanta gente… me fez pensar em como minha vida mudou. Seul parece tão distante de tudo isso aqui.
— É, mas você também evoluiu muito, . As pessoas daqui podem não entender, mas não precisa se sentir culpada por seguir em frente.
Ela sorriu de leve para ele, sentindo-se grata por sua compreensão. A cerimônia começaria em breve, e eles precisavam retornar ao salão. Depois de alguns momentos de tranquilidade, sentiu-se um pouco mais preparada para enfrentar o resto da noite.
Enquanto voltavam para dentro, o salão estava começando a encher ainda mais, e ela sabia que, aos poucos, reencontraria ainda mais pessoas. No entanto, com ao seu lado, sentiu que, apesar da ansiedade constante, talvez conseguisse lidar com o turbilhão de emoções que aquele evento trazia.
Durante a cerimônia, tentou se concentrar no momento, apreciando a bela decoração e o som suave do piano que acompanhava a entrada da noiva. O clima era de pura emoção. A noiva, radiante em um vestido branco clássico, caminhava pelo corredor, enquanto os olhares de todos estavam fixos nela e no noivo, que aguardava nervoso no altar. As palavras do celebrante eram tocantes, e as promessas que os dois faziam traziam um leve brilho aos olhos de , lembrando-a do porquê aquele tipo de evento sempre a emocionava tanto, apesar de sua ansiedade social.
No entanto, enquanto ela tentava se imergir na cerimônia, notou um movimento constante ao seu lado. Discretamente, mexia no celular, as mãos ocupadas com a tela, enviando mensagens ou deslizando pelo feed de algo.
franziu o cenho, tentando ignorar, mas a frequência com que ele olhava para o aparelho começou a incomodá-la. Mesmo nos momentos mais importantes da cerimônia, como quando os votos estavam sendo trocados, ele parecia mais atento ao que acontecia na tela do que ao que estava diante de seus olhos.
A inquietação cresceu, e após alguns minutos de hesitação, ela finalmente não conseguiu se segurar.
— , por que você está no celular o tempo todo? — ela sussurrou, inclinando-se levemente em sua direção para que ninguém mais ouvisse.
Ele a olhou de canto de olho, claramente irritado com a interrupção. Baixou o celular por um instante, mas seu rosto mostrava frustração.
— Vai querer controlar até isso agora, ? — ele respondeu em um tom seco, mantendo a voz baixa, mas o suficiente para transmitir sua irritação.
Ela piscou, surpresa com a resposta, sentindo uma mistura de raiva e tristeza tomar conta de seu peito. Não esperava que ele reagisse dessa forma, ainda mais em um momento tão especial.
— Não estou tentando controlar nada… só achei que fosse importante pra você também. — A voz de estava mais baixa, quase um sussurro, enquanto ela desviava o olhar, tentando esconder o desapontamento.
Durante o restante da festa, o clima entre e ficou tenso. Eles se mantiveram distantes, com poucas trocas de palavras, e quando o faziam, era sempre em tom curto e ríspido. continuava conferindo o celular de tempos em tempos, o que só aumentava o desconforto de . Ela tentou disfarçar seu incômodo, conversando com algumas pessoas e forçando sorrisos, mas a atmosfera entre eles era evidente para quem os observasse de perto.
Enquanto a festa prosseguia, os dois interagiam apenas quando necessário. Dançaram juntos por cortesia, mas sem muita conexão. , que tinha inicialmente se sentido animada com a ideia de reencontrar velhos amigos e prestigiar o casamento, agora só queria ir embora.
Quando a festa começou a desacelerar e os convidados se preparavam para se despedir dos noivos, decidiu que era o momento de cumprimentar sua amiga. Ela se aproximou da noiva com um sorriso, tentando esconder o desconforto que sentia por dentro.
— Você está deslumbrante, parabéns! — disse, abraçando sua amiga, que estava radiante.
— Obrigada, ! Fico tão feliz que você veio! — a noiva respondeu, com um brilho nos olhos.
trocou algumas palavras gentis, mas logo se despediu, sentindo que não conseguiria prolongar a conversa com sinceridade. permaneceu ao lado dela, em silêncio, cumprimentando brevemente o noivo.
Quando finalmente decidiram ir embora, o caminho de volta foi quase todo em silêncio. A distância entre eles parecia ainda maior do que antes, e o sentimento de frustração de apenas aumentava, enquanto ela se perguntava se estava realmente presente naquele momento ou se continuaria preso a algo ou alguém que estava do outro lado da tela do celular.
mal esperou a porta do apartamento se fechar antes de seguir direto para o quarto de hóspedes. Ele sequer olhou para trás ou disse algo a . Ela ficou parada por alguns segundos, observando a porta do quarto se fechar, e então suspirou profundamente. Em vez de ir atrás dele, decidiu ficar um pouco na sala, no escuro, apenas com seus pensamentos.
Sentou-se no sofá, abraçando as próprias pernas, a cabeça repousando sobre os joelhos. A sala estava silenciosa, o único som vindo do distante zumbido do ventilador. começou a refletir sobre o que vinha acontecendo nos últimos dias: o casamento, as brigas constantes, a falta de conexão entre ela e , o quanto ele parecia distante… A imagem de veio à sua mente, trazendo uma pontada de saudade, e ela se perguntou por que tinha permitido que tudo chegasse a esse ponto.
Foi então que ela ouviu um leve ruído vindo da cozinha. Sua mãe, Yeon-Hee, apareceu, andando devagar na penumbra. não se mexeu, e por um instante, as duas ficaram em silêncio. Yeon-Hee percebeu o estado da filha e, sem dizer nada, se aproximou e sentou-se ao lado dela no sofá.
— Achei que vocês já estivessem dormindo — a mãe falou baixinho, quebrando o silêncio, enquanto olhava de soslaio para .
permaneceu quieta por alguns segundos, tentando organizar seus pensamentos.
— Não consegui ir ainda — respondeu com a voz baixa, a cabeça ainda apoiada sobre os joelhos.
Yeon-Hee olhou para a filha com um misto de preocupação e carinho. Havia algo naquela noite que parecia pesar ainda mais sobre os ombros de .
— O que está acontecendo, filha? — Yeon-Hee perguntou com cuidado.
demorou a responder. Parte dela não queria expor seus sentimentos, principalmente para a mãe, com quem sempre teve uma relação complicada. Mas naquele momento, sentiu que precisava desabafar, mesmo que um pouco.
— Eu… acho que e eu não estamos mais no mesmo lugar, mãe — disse, finalmente levantando a cabeça e olhando para o vazio à sua frente. — As coisas não estão bem entre nós, e eu não sei mais o que fazer.
Yeon-Hee suspirou, sabendo o quanto era difícil para admitir algo assim.
— Relacionamentos são complicados, … Mas às vezes, quando as coisas começam a pesar demais, é importante se perguntar se ainda vale a pena. — A mãe falou com calma, tentando ser o mais delicada possível.
apenas balançou a cabeça, perdida em seus próprios pensamentos, sem saber se a relação com realmente tinha conserto.
***
Na manhã seguinte, o clima na casa ainda estava silencioso. acordou antes de , com o pensamento agitado após a conversa com sua mãe. Levantou-se e foi até a cozinha, onde encontrou Yeon-Hee preparando o café da manhã. O cheiro de café fresco e pão torrado preenchia o ar, e por um breve momento, se deixou levar pela nostalgia de quando era criança e acordava com o mesmo cheiro na casa dos pais.
— Bom dia, filha — a mãe disse com um sorriso suave, enquanto colocava algumas frutas na mesa.
— Bom dia, mãe — respondeu, forçando um sorriso, mas a mente ainda estava carregada dos acontecimentos da noite anterior.
Logo apareceu, os olhos um pouco inchados de sono, e sentou-se à mesa sem dizer muito. percebeu que ele ainda estava chateado, e o silêncio entre eles parecia cada vez mais pesado. Enquanto tomavam o café, Yeon-Hee tentou puxar conversa, falando sobre coisas cotidianas, mas o desconforto entre e era palpável.
— Vocês vão voltar para Seul hoje, não é? — Yeon-Hee perguntou, quebrando o silêncio que se instalava entre as pausas das falas.
— Sim, mãe, nosso ônibus sai no início da tarde — respondeu, tomando um gole de café.
— Que pena, achei que ficariam mais um pouco — disse Yeon-Hee, disfarçando a decepção, mas respeitando a decisão da filha. — Mas foi bom ter vocês aqui, mesmo que por pouco tempo.
apenas assentiu. Após o café, ela e foram para o quarto de hóspedes arrumar as malas. Enquanto ela dobrava as roupas e colocava na mala, permanecia no celular, quase alheio ao que estava acontecendo ao redor. O peso da desconexão entre eles só aumentava, e tentou se concentrar na tarefa de organizar as coisas.
— Está tudo pronto? — ela perguntou, olhando para ele.
— Sim, só falta fechar a mala — ele respondeu de forma apática, sem levantar os olhos do celular.
O desconforto que pairava no ar tornava tudo mais difícil. sabia que, assim que voltassem para Seul, teria que encarar a realidade do relacionamento deles. Agora, o casamento de sua amiga e os dias em Busan pareciam um desvio temporário, mas a situação com não poderia ser ignorada por muito mais tempo.
A viagem de volta para Seul foi marcada pelo silêncio. e se sentaram lado a lado no ônibus, mas a distância entre eles parecia ainda maior do que antes. O som do motor do ônibus e o burburinho dos outros passageiros eram o único fundo sonoro enquanto cada um se perdia em seus próprios pensamentos.
olhava pela janela, observando a paisagem mudar conforme se afastavam de Busan. O reencontro com a mãe, a cerimônia de casamento e a crescente tensão com a deixavam exausta emocionalmente. O silêncio dele no ônibus era quase opressor, e ela sabia que havia algo a ser resolvido, mas naquele momento, não tinha energia para começar uma discussão.
, por sua vez, manteve-se concentrado no celular, como havia feito durante boa parte do fim de semana. Ele parecia alheio ao incômodo que isso causava em , ou talvez estivesse apenas evitando o confronto direto. Seja como for, a viagem seguiu sem qualquer troca significativa de palavras entre os dois.
Quando finalmente chegaram a Seul, o trânsito pesado os acolheu como um lembrete do caos urbano, e ambos se mantiveram em silêncio até que o ônibus parou na estação central. chamou um táxi para levá-los de volta ao prédio de . Durante o trajeto, a tensão entre eles ainda era palpável, mas nenhuma palavra foi dita.
Quando o táxi parou em frente ao prédio de , ele finalmente quebrou o silêncio:
— Chegamos — disse , enquanto ajudava a pegar as malas no porta-malas.
olhou para ele brevemente, com um misto de cansaço e frustração. Não sabia o que esperar a seguir, mas também não estava pronta para continuar ignorando a situação.
— Obrigada por me trazer — ela disse de forma contida, puxando a alça da mala.
apenas assentiu. Ele parecia igualmente desgastado, mas sem demonstrar muito.
— A gente se fala depois, ok? — ele acrescentou, dando um passo para trás, como se já estivesse pronto para ir embora.
apenas acenou, sem saber o que mais dizer. Quando ele entrou no táxi novamente e partiu, ela ficou parada em frente ao prédio, sentindo um vazio ainda maior.
***
Quando entrou em seu apartamento, o silêncio foi acolhedor. Depois de um fim de semana emocionalmente exaustivo, ela precisava estar sozinha, no seu espaço, onde tudo estava exatamente como ela gostava. O primeiro instinto foi desfazer a mala. O TOC falava mais alto, e a ideia de deixar as coisas desorganizadas a fazia sentir uma inquietação crescente.
Ela rapidamente tirou as roupas da mala, dobrando cada peça e colocando-as no lugar. A maquiagem foi guardada no estojo específico, os sapatos nos compartimentos corretos. Ao terminar, sentiu um breve alívio, como se, ao organizar o exterior, estivesse tentando reorganizar o caos interior.
Com a mala finalmente vazia e no armário, foi até o banheiro. Precisava de um banho para lavar o cansaço e as emoções que se acumulavam desde Busan. A água quente deslizou pela pele, proporcionando algum conforto, mas não o suficiente para apaziguar o turbilhão de pensamentos que se aglomeravam em sua mente. , a mãe, o casamento… tudo se misturava em um emaranhado de sentimentos que ela não conseguia desenrolar.
Quando saiu do banho, vestiu um pijama confortável e caminhou até a sala. Já estava de noite, e o apartamento parecia tão silencioso quanto seus pensamentos queriam. A lua iluminava parte da sala pelas janelas, e ela se sentou no sofá, deixando-se envolver pelo silêncio e pela calmaria da sua própria casa.
Foi então que, quase de forma automática, seu pensamento voltou para . Durante todo o caos do aniversário de namoro e da confusão emocional com , havia sido a única constante. Ele a ajudara a manter o equilíbrio quando tudo parecia desmoronar. Um sorriso involuntário surgiu em seus lábios ao lembrar da noite em que jantaram juntos.
“Será que ele está bem?” — ela se perguntou, sentindo um desejo súbito de falar com ele.
ficou sentada no sofá por alguns minutos, inquieta, o pensamento em não a deixava em paz. A ideia de ir até o apartamento dele crescia em sua mente, mesmo que ela hesitasse. Eles eram vizinhos, afinal. Seria tão fácil bater na porta dele, mas… e se ele achasse estranho? Ela mordeu o lábio inferior, indecisa.
Depois de muito debater internamente, ela decidiu que não podia ficar assim, com aquela necessidade de vê-lo. Levantou-se de repente, como se, ao tomar a decisão, não pudesse mais voltar atrás. Vestiu um casaco por cima do pijama e saiu do apartamento, fechando a porta com cuidado.
Ao chegar à porta do apartamento de , sentiu seu coração bater mais rápido. Ficou um momento parada, respirando fundo antes de bater de leve. O silêncio atrás da porta fez com que ela batesse mais uma vez, um pouco mais forte, e esperasse. Passaram-se alguns minutos e nada.
olhou para os lados do corredor, pensando que talvez fosse melhor voltar. Estava quase desistindo quando finalmente ouviu o som da tranca sendo destrancada. A porta se abriu lentamente, e quando ela olhou para cima, foi pega completamente de surpresa.
estava parado na porta, apenas com uma toalha enrolada na cintura, o corpo ainda molhado, gotas de água escorrendo por seu peito e braços. Ele parecia um pouco surpreso, mas sorriu ao reconhecê-la.
— ? — Ele piscou, sem acreditar muito que ela estava ali, naquele momento. — O que aconteceu? Tá tudo bem?
Ela ficou sem palavras por alguns segundos, desviando o olhar para o chão e tentando ignorar o calor que subiu para o rosto. A situação era constrangedora, mas também impossível de ignorar. parecia tão descontraído com a situação, e ela sentia o coração acelerado, não só pela surpresa, mas pela forma como o corpo dele brilhava à luz do corredor.
— Ah, eu… desculpa, eu não sabia que você… — Ela tentou explicar, mas não sabia exatamente o que dizer. — Eu só… precisava conversar.
, percebendo o embaraço dela, abriu mais a porta e deu um sorriso suave.
— Entra, eu só estava terminando de tomar banho. Me dá um minuto pra eu me vestir e já falo com você, tá?
Ela assentiu, ainda sem palavras, e entrou no apartamento enquanto ele desaparecia pelo corredor. O ambiente era tão familiar e acolhedor quanto ela se lembrava, e logo o som da porta do quarto dele se fechando ao fundo ecoou. respirou fundo, tentando se recompor, mas as imagens de de toalha ainda ocupavam sua mente.
***
Enquanto esperava por , olhou ao redor do apartamento e percebeu que, ao contrário do dela, o lugar era levemente desorganizado. Não era um caos, mas havia alguns detalhes que seu TOC imediatamente captou. Livros estavam empilhados de forma desordenada em cima da mesa de centro, com alguns papéis espalhados, talvez anotações ou esboços de trabalhos. Uma camisa estava jogada de qualquer jeito sobre o encosto do sofá, e uma caneca de café meio cheia estava esquecida na pia da cozinha.
Ela caminhou pelo espaço, sentindo a ansiedade começar a cutucar sua mente. Como ele conseguia viver com aquilo? Aquela bagunça, aquelas pequenas desordens que a incomodavam tanto. Instintivamente, seus dedos coçaram para arrumar os livros, alinhar os papéis, talvez dobrar a camisa, mas ela respirou fundo, tentando controlar o impulso.
Apesar de tudo, havia algo acolhedor no apartamento de . O lugar era repleto de personalidade, com plantas em cantos estratégicos e quadros de arte moderna nas paredes. A desorganização parecia refletir um pouco da essência descontraída dele, alguém que não se prendia muito a detalhes, alguém que vivia de forma mais solta, sem as pressões que ela mesma se impunha com sua obsessão por controle.
deu um pequeno sorriso ao perceber isso. Enquanto ela se preocupava com cada mínimo detalhe, parecia abraçar o caos, e de algum jeito aquilo fazia sentido para ele.
Ela se virou ao ouvir os passos de se aproximando. Agora vestido, ele caminhou até a sala secando o cabelo com uma toalha, ainda com aquele sorriso tranquilo no rosto.
— Desculpa a demora. Agora sim, podemos conversar — ele disse, jogando a toalha em cima do sofá sem nem pensar duas vezes.
teve que conter o impulso de pegar a toalha e dobrá-la. parecia nem notar.
se jogou no sofá com um suspiro, parecendo relaxar completamente no ambiente levemente desorganizado. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, um filhote de gato, pequeno e curioso, pulou em seu colo, ronronando baixo enquanto se acomodava. arregalou os olhos, surpresa.
— Você tem um gato? — ela perguntou, ainda meio incrédula. Sua voz saiu um pouco mais alta do que pretendia, como se fosse difícil imaginar cuidando de um animal.
sorriu e acariciou o gatinho, que começou a ronronar ainda mais alto.
— Ah, sim. Esse é o Miso — ele respondeu com tranquilidade, continuando a passar a mão sobre o pelo do filhote. — Achei ele na rua há algumas semanas, estava todo sujo e magro. Não tive coragem de deixá-lo lá.
olhou para o filhote, um misto de ternura e leve desconforto passando por seu rosto. Animais não estavam no controle, eram imprevisíveis. Mas ao mesmo tempo, havia algo genuinamente fofo naquele pequeno ser.
— Não sabia que você gostava de gatos — ela disse, ainda observando Miso, como se tentasse entender o que aquilo significava.
deu de ombros, sorrindo de forma descontraída.
— Gosto de companhia. E ele… bom, ele não se importa com minha bagunça — ele riu, olhando para o apartamento ao redor. — E você, gosta de gatos?
hesitou por um momento, suas mãos ainda inquietas ao lado do corpo.
— Eu… não sei — ela respondeu honestamente. — Acho que nunca pensei muito sobre isso. Quer dizer, eles são fofos, mas… imprevisíveis.
olhou para ela com um sorriso compreensivo.
— Isso faz parte do charme deles, eu acho. Não são tão exigentes, mas quando gostam de você, é algo especial. Miso, por exemplo, gosta de ficar perto, mas sem exigir muita coisa. E talvez seja isso que eu gosto nele.
observou enquanto o gatinho se aninhava mais confortavelmente no colo de . Aos poucos, ela começou a relaxar, percebendo que, mesmo com o caos controlado ao redor, havia algo tranquilizador naquela cena.
observava em silêncio, percebendo a tensão no corpo dela. Algo não estava certo, e ele podia ver isso em seus olhos, mesmo que ela tentasse disfarçar.
— O que aconteceu? — ele perguntou, com a voz suave, mas direta.
respirou fundo, como se estivesse tentando reunir forças para responder. O silêncio entre eles se estendeu por alguns segundos, até que ela finalmente começou a falar, sua voz carregada de frustração.
— e eu fomos para Busan… para o casamento de uma amiga minha. — Ela fez uma pausa, esfregando as mãos nervosamente. — Achei que seria uma boa oportunidade para tentarmos reconectar, para ver se ainda tinha algo entre nós. Mas… ele ficou no celular a maior parte do tempo. Mesmo durante a cerimônia, ele estava mais preocupado com as mensagens do que com o que estava acontecendo ao nosso redor.
apenas ouvia, com seus olhos fixos nela, sem interrompê-la. Ele percebeu que aquilo não era apenas um desabafo qualquer. Era um momento de vulnerabilidade, algo que ela provavelmente evitava mostrar.
— Quando eu o confrontei… — continuou , a voz dela vacilando por um momento. — Ele disse que eu estava tentando controlar tudo. Como se… como se fosse errado eu querer que ele estivesse presente de verdade, comigo, sabe?
Ela soltou um suspiro, passando as mãos pelos cabelos, como se estivesse tentando organizar os pensamentos que estavam em desordem dentro de sua mente.
— Eu só… não sei mais o que fazer, . Toda vez que tento me aproximar, ele se afasta ainda mais. E parece que… que ele está em outro mundo, longe de mim.
ficou em silêncio por um momento, pensando cuidadosamente nas palavras que diria. Ele observou o sofrimento no rosto de , algo que ele não suportava ver.
— … — ele começou lentamente, hesitando antes de continuar. — Sinceramente? Acho que ele está tendo um caso.
As palavras pairaram no ar, pesadas, como se o ambiente ao redor tivesse parado. o encarou, sua expressão incrédula e ao mesmo tempo vulnerável, enquanto tentava processar o que acabara de ouvir.
Ai, deve ser uma coisa terrível conviver com TOC, né?
Grazadeus eu não tenho essa questão – e não conheci ou convivi com alguém que tenha -, mas é realmente algo patológico que prejudica a qualidade de vida da pessoa, né.
Eu mal posso esperar pra ver esses dois juntinhos e implicando um com o outro – já começou com o jovem aí fazendo bagunça na casa alheia, né POASMNPODASMDOP
Ai eu já to super apegada nos dois Lelen, meus xodós!
Minha cara pro Taeyong tá só o ranço kkkkk
Assim, eu consigo entender que seja difícil lidar com pessoas com algum transtorno, mas acho que dava para ter reagido de uma forma melhor, meu fi.
E sim, imagino que Chae-won precise aprender uma nova forma de lidar com seu TOC, porque desse jeito não está tão funcional quanto poderia, né. Vamos ver qual vai ser o papel de Kim Namjoon nessa jornada, espero que ele não me faça querer dar um socão na carinha bonita dele HAHAHAHAHAH
Aguardando o próximo capítulo 😇😇😇
O Taeyong ainda vai passar raiva em vocês viu? kkkkk não vou mentir! Mas o Namu vai ser um gentleman!
Eu achando que podia ter esperança que o Taeyong tava tomando jeito…
Mas tá, não vou apedrejar (ainda) o moço por essa razão, lidar com pessoas neurodivergentes pode não ser a coisa mais fácil do mundo (lidar com gente num geral não é fácil jkkkkk), mas eu também tô desconfiada da mesma coisa que o Joon, então… HEHEHEH Taeyong, prepara porque traição eu não perdoo não 😀
E Chaewon, ouça a sua mãe. Real, vale a pena todo esse sofrimento e estresse pros dois lados pra manter essa relação? Sei lá, talvez se vocês terminassem amigavelmente, no futuro vocês ainda pudessem ser amigos. (o que acho que não vai acontecer porque, né…)
Vamos ver como vai ser o desenrolar disso tudo.
Tô enviando a att entre hoje e amanhã haha vamos ver o que a Chae-won vai fazer com todas essas informações…