Por detrás dos olhos bicolores

  Era o primeiro ano colegial de no Sodaina High School. Por sorte, suas amigas optaram por irem na mesma escola, a fim de não desmancharem o grupo e poderem continuar passando muitas horas do dia juntas.

  A entrada parecia triunfal. Enfeitada com flores de cerejeira devido à estação da primavera, as quatro amigas podiam ver uma enorme faixa de boas vindas aos novos e velhos alunos do colégio. Atrás da linha de entrada, era possível ver vários grupos, parecendo panelinhas. Eles gritavam palavras que, unidas às gritarias dos outros grupos, tornavam-se desconexas. , que sempre foi a mais tímida do grupo, olhou para as três amigas paradas à sua frente e ao seu lado, esperando que elas caminhassem para poder seguir seu caminho com elas. Mas, assim como esteve há pouco, as três se encontravam admiradas com o modo que a escola recepcionava seus alunos.

  Miho foi a primeira a se mexer. Sempre querendo ir à frente, a mais alta do grupo gostava de socializar, sendo as relações públicas das outras três, que não dirigiam a palavra a qualquer um desconhecido. Com as pernas compridas, a loira de olhos castanhos caminhou animada até o primeiro grupo, indicado na placa como “clube de tênis”. Animados, os meninos e meninas que não abordavam outros alunos logo viraram sua atenção inteira para Miho, que perguntava com bastante interesse sobre a frequência das aulas. A garota fizera aulas em sua infância e mal podia esperar pelo colegial para que voltasse ao clube e pudesse participar de competições.

  Rika, a mais magricela de todas, suspirou e balançou a cabeça, indicando que não aprovava o clube que Miho havia escolhido. a viu se dirigir ao grupo com a placa “clube de desenho”. Era bastante claro o quanto a amiga gostava de desenhar. Quando disse que iria para Sodaina, Rika fora a primeira a se pronunciar dizendo que também iria, já que era uma das poucas escolas de Tókio que ofereciam um ótimo clube de desenhos. A garota, com a mochila pendurada de chaveiros e pins de mangás e animes, correu até o grupo, adorando receber em suas mãos panfletos e mais panfletos das aulas e competições que haveria no decorrer do semestre e do ano. riu quando a amiga de cabelos e olhos escuros se virou para a dupla que ainda se encontrava na porta e balançou os diversos panfletos dizendo que ficaria naquele clube.

   olhou para Kim, que estava séria. A amiga sempre tivera uma personalidade forte e mandona, mas sabia melhor que ninguém o quão indecisa ela era.

  - Acho que vou para o clube de computação – anunciou, vendo um grupo menor do que a dos outros e com pessoas bem mais esquisitas do que o normal. Pode-se dizer sobre esquisitas, que os alunos daquele clube usavam uniformes corretamente, os cabelos produzidos em penteados exóticos e óculos com lentes de fundo de garrafa. Kim olhou para assustada e depositou uma mão em seu ombro:

  - Tem certeza?

  - Não deve ser tão mal – disse, levantando os ombros. – E você?

  - Não sei… Talvez… Bem. Não sei mesmo – Kim disse, seus ombros caídos, denunciando seu desânimo. – Vou dar uma volta e pesquisar, temos até às 10 para nos decidirmos, não é? Tem tempo – ela olhou em seu relógio, que batia às 8:10 – Nos vemos depois – ela acenou, sendo a última a se afastar de .

  Virou seu corpo em direção ao clube de computação. Olhando-os melhor, eles não pareciam pessoas com uma boa sanidade. Não havia interação no grupo, o que era ruim para ela que decidira que seria uma pessoa mais sociável no colegial. Parou no meio do caminho, perguntando-se se seria uma boa ideia continuar sendo a garota excluída. Participar de um grupo desses significava não ser considerada pelos grupos mais populares. Olhou para Rika e Miho em grupos próximos do dela e viu que as duas já estavam rodeadas de pessoas que riam e perguntavam mais sobre elas, chamando-as por apelidos próximos. sentiu uma faísca de inveja. Queria estar rodeada de amigos novos também. Voltou a olhar para o grupo de computação, onde haviam um ou dois alunos que facilmente se encaixariam no clube. Se perguntou se quem visse-a agora, diria que ela pertencia ao clube como fez com os dois alunos que estavam se inscrevendo para o clube. Balançou a cabeça, espantando tais pensamentos e, antes que pudesse voltar a caminhar, foi abordada por um poste:

  - Oe. – deu um pulo ao ver o tamanho do garoto que parava em sua frente. Ele provavelmente era meio metro mais alto que ela. Talvez fosse um daqueles garoto do clube de gângsters que não era oficiado pela escola, mas que mesmo assim tentava juntar alunos fracos para se aproveitar durante todo o semestre escolar. olhou para os lados, desesperada por encontrar alguém que pudesse socorrê-la mas, aparentemente, ninguém percebia a seriedade da situação da garota de pouco mais de 1,50m. – Qual seu nome? – o garoto perguntou, fazendo-a pular com o susto.

  - Ah-… – respondeu, hesitante.

  - Ah? – o garoto perguntou, estranhando uma garota ter um nome assim.

  - Não, só – ela retrucou, se impressionando com a lerdice do garoto.

  - Ah, sim. Sou Murasakibara, do clube de basquete – levantou um formulário com o título com o nome do clube. concordou com a cabeça, aliviada por ele não ser um gângster e sim de um clube normal. – Entre no clube – ele disse, jogando a folha para a garota, que ficou séria e confusa, não entendendo o tom de voz dele. Ele estava mandando ela entrar no clube? O certo não seria perguntar?

  - Bem… Eu não sou alta o suficiente – diz baixo, tentando se esquivar da atenção do jogador.

  - Estamos precisando de garotas, eles falaram.

  - Eles?

  - Sim, o capitão e o gerente. A professora responsável pelo nosso clube também disse que é bom ter garotas para colocar a ordem nos jogadores – um sorvete surgiu do nada na mão do jogador de cabelos roxos, fazendo estranhar. Olhou na direção do dedo apontado de Murasakibara e viu um grupo de garotos gigantes, alguns em pé ao redor da mesa, outros dois sentados fazendo as inscrições de alguns alunos. – Venha – não teve tempo sequer de protestar; quando viu, estava debaixo do braço de Murasakibara sendo carregada em direção à mesa.

  - E-espere! – tentou chamar a atenção do jogador, em vão.

  - Trouxe uma garota – Murasakibara disse, colocando-a no chão em frente aos dois jogadores que se encontravam sentados.

  - Oh! Como você é kawaiiii! – aquele que estava em pé ao lado da mesa, disse. – Bem-vinda! Eu sou Kise! Kise Ryouta!

   o olhou, séria, fazendo com que o garoto ficasse sem graça por não ter sido retribuído o cumprimento na mesma animação.

  - Por favor, preencha o formulário – o garoto de cabelos verdes sentado no lado direito da mesa, disse, entregando uma caneta a . Ela olhou para os lados e viu o grupo do clube de computação. Eles não pareciam estar se divertindo muito. Olhou então para o grupo de basquete, onde os jogadores brincavam e faziam piadas entre si.

   olhou para cima e perguntou-se se Kami-sama mudou seu percurso de propósito. Suspirou e pegou a caneta da mão do garoto de cabelos verdes, preenchendo seu nome e signo.

  Assim que o final da cerimônia de abertura foi anunciada, os alunos relaxaram seus ombros e arriscaram iniciar um papo entre si, alguns se conhecendo, outros já acostumados com a amizade. olhou para as amigas ao lado e cada uma fazia o que sempre fazia depois de assistir a uma apresentação: Miho começava a falar sem parar sobre o que ouviu, concordando ou dizendo o quão chato foi, além dos alunos que subiram ao palco para as boas-vindas; Rika lia o horóscopo do dia em seu celular, uma mania que possui desde sempre; Kim fazia massagem em si mesma, mexendo o pescoço de um lado para o outro, resmungando o quão trabalhoso era ter de ficar ouvindo por uma hora as pessoas falarem.

  - Que tal almoçarmos juntas? – Miho de repente pergunta, animada. As três amigas concordam em comerem juntas para falar um pouco sobre os clubes que foram escolhidos. Enquanto saíam do ginásio junto com outros diversos alunos, ouviram o nome de ser chamado, fazendo com que as quatro olhasse na direção da voz:

  - -chan! – , apertando os olhos, pode ver o loiro que a cumprimentou com animação mais cedo. Durante o caminho até ela, Kise quebrava o pescoço de várias garotas que paravam o que faziam para vê-lo passar; algumas arriscando chamá-lo, outras apontando em sua direção. Dono de tamanha atenção e vindo em sua direção, deu um passo atrás de Kim, que estava ao seu lado, apesar de ter querido que fosse Miho, que era mais alta. – Olá! – acenou para as três amigas de , que retornaram não tão animadas quanto ele. – -chan, vim trazer o calendário de horários para que você possa comparecer ao clube. Você tem o horário depois do almoço livre? Akashi-chi disse que gostaria de discutir com você seus afazeres.

  - A-ah… Ok… – cutucou Kim, que pulou e olhou feio para a amiga. – Pega o papel pra mim… – pediu baixo à amiga, que olhou sem graça para Kise e disse:

  - Eu pego a folha – apontou para a mesma, pegando-a em seguida.

  O loiro estranhou o comportamento da nova aluna, mas acabou por não se importar:

  - Nos vemos mais tarde! – se afastou acenando escandalosamente. As quatro observaram-no se afastar e ser abordado por um grupo de garotas pedindo por fotos e autógrafos.

  - QUE CLUBE VOCÊ ENTROU? – Miho correu para ficar à frente de . – DESDE QUANDO KISE RYOUTA ESTUDA AQUI? POR QUE VOCÊ NÃO ME FALOU?

  - HEY! – Kim afastou Miho de , que se encolhia mais. – Calma! Deixe ela em paz, não vê que ela está com medo de você?

  Miho viu a amiga se esconder ainda mais atrás de Kim, suspirou e deu um passo para trás.

  - Qual é o seu clube? – perguntou.

  - Basquete – disse baixo.

  - O QUÊ? – as três amigas berraram, chamando atenção de todos os próximos para o grupo.

  - Você não disse que seria computação? – Kim perguntou.

  - Sim, mas várias coisas aconteceram e eu acabei no clube de basquete – disse.

  - O que pode acontecer em uma hora? – Rika colocou as mãos na cintura.

  Durante o caminho até o restaurante, fora contando tudo o que aconteceu, desde quando achava que seria bom sair de sua rotina, até ter de responder perguntas esquisitas no formulário, como seu signo e seu tipo sanguíneo. As amigas, surpresas com o clube que a amiga se inscreveu, falaram sobre o que achavam que ela iria fazer dentro dele. Coisas desde limpar o chão da quadra durante um jogo, encher os squeezes de água dos jogadores, até fazer massagem em suas pernas e pés.

  - Vai dar tudo certo. – Kim, sempre compreensível, colocou a mão no ombro da amiga, que concordou com a cabeça.

  - É! Você verá Kise Ryouta ao vivo todos os dias! Você pode ficar bastante amiga dele e agitá-lo para mim! – Miho enviou um sinal de positivo com seu polegar, fazendo Rika balançar a cabeça e bater a mão na testa.

   entrou na sala onde estava indicada no papel que Kise havia entregue mais cedo. Estava dez minutos atrasada por causa da sua péssima memória, que a fez se esquecer onde se localizava o prédio dos esportes. Quando entrou, viu que havia somente uma pessoa ali.

  - Olá… – disse, hesitante. – Desculpe o atraso. – falou, mas não recebeu nenhum retorno. Olhou para o garoto que se encontrava sentado em uma mesa e se sentiu um pouco intimidada quando ele levantou a cabeça e olhou para ela.

  O garoto tinha um olho de cada cor. Quando o olhar atingiu os olhos de , ela soube que ele não seria qualquer um.

  - O que você quer dizer com “ele tem um charme que só ele tem”, ? – Kim perguntava durante a festa do pijama que acontecia na casa de Miho. Toda semana, as quatro se uniam para dormirem juntas na casa de uma. Era o momento perfeito para fazerem o que mais gostavam de fazer: fofocar. Com o início das aulas e o novo ambiente, as quatro tinham muito o que falar.

  No entanto, logo que a reunião se iniciara, a atenção fora direcionada para , que disse que o capitão do time de basquete era muito interessante. Miho logo surtou perguntando se era Kise.

  - Você acha mesmo que ele será o capitão? – olhou para a loira, que não pode evitar se expressar:

  - O QUE TEM? ELE É LINDO E ABSOLUTO COMO UM!

  - Ele é um mongo! – Rika gritou de volta para a amiga, que lhe tacou um travesseiro na cara.

  Enquanto as duas guerreavam almofadas e travesseiros entre si, Kim e falaram sobre o tal do capitão que chamara a atenção da amiga. Kim ouvira falar sobre o Fogo de Gelo do time de basquete, com os cabelos avermelhados, mas um comportamento frio. Analisando a personalidade da amiga, não era de se surpreender que ela fosse se sentir atraída justamente por ele, considerando o modo como ela gostava dos garotos mais estranhos.

  - E sobre o que seria esse charme dele? – Kim pergunta, tendo a atenção de Miho e Rika, que haviam parado de brigar à pouco e voltaram as atenções à .

  - Ele tem um olho de cada cor – disse em tom de animação, como se fosse a coisa mais normal e bonita uma pessoa ter um olho de cada cor.

  - Ele é um ET ou algo assim? – Rika perguntou entre risos. – Ninguém tem um olho de cada cor.

  - Ele tem, Rika – disse, nervosa. – Além do mais, seus olhos fazem toda diferença nele. Se você olha por um ângulo, ele pode parecer um garoto indefeso, mas se olhar por outro, parece uma pessoa completamente oposta, isso é tão legal! – pulou enquanto sentada, vendo as amigas rirem de sua cara.

  - E ele já conversou com você? – Kim perguntou enquanto Miho se balançava animada por ver uma amiga “apaixonada” por alguém. Não que tivesse dito que estava apaixonada por Akashi; a loira apenas interpretava da maneira que lhe convinha.

  - Bem, nada pessoal, somente coisas do basquete – deixou seus ombros caírem.

  - Você tem que ir falar com ele! – Miho disse finalmente, autoritária. – Se você gosta dele, não pode deixá-lo fugir assim!

  - Eu não gosto dele! – protestou. – Eu apenas disse que achei os olhos dele charmosos porque eles são de cores diferentes.

  - Não – Rika negou. -, você disse que ele era interessante.

   sentiu suas bochechas queimarem quando ouviu suas palavras serem repetidas por Rika. A amiga começou a dar risadinhas com Miho, que começou a cantarolar músicas infantis de amor para a mais baixa ficar ainda mais sem graça.

  - Eu concordo com a Miho. Você precisa mostrar mais presença perto dele! – Kim bateu na mão, decidindo por .

  - Como eu faria? Akashi é o capitão e…

  - Isso! – Miho aponta para a amiga. – Ele é o capitão, você é obrigada a falar com ele sempre! É um bom primeiro passo.

  As amigas então começaram a criar maneiras de fazer se aproximar de Seijuro. No entanto, elas não entendiam o que queria dizer. Akashi não era qualquer pessoa. Com os olhares enviados, não é qualquer um que consegue chegar perto do jogador. Mesmo ele tendo um grupo de amigos e fazer parte dele ativamente, era bastante claro para qualquer um que ele apenas estava lá porque era parte do time e o capitão. As pessoas tinham um grande respeito pelo jogador.

  Curiosamente, criou a vontade de saber como seria receber o olhar claro do capitão. Até então ela apenas conseguia olhar para o olho vermelho, que demonstra seu poder e autoridade. Na escola, ouvia algumas garotas dizerem que o olhar vermelho era tão forte que o amarelo não conseguia se destacar para equilibrar a sensação que a pessoa que o está olhando sente. Elas tinham razão. Parece que Akashi apenas permite que seu olhar amarelo apareça quando ele quer.

  - Oe, ! – a garota ouviu a voz do Às do time, Aomine. Olhou para o jogador bem mais alto que ela se aproximar. – Escuta… – o jogador, pouco suado depois de um batalhão de treinamentos passados pelo técnico, colocou o braço ao redor dos ombros de e agachou para poder falar-lhe ao ouvido. – Você não poderia pedir a Akashi que pegue mais leve nos treinos? Me obriga a vir, mas estou me sentindo mais desgastado por causa deles. Precisa rever isso.

  - Não acho que ele me ouvirá, Aomine-kun – se assustou com o pedido de Aomine. Ele nunca falava com , exceto quando queria pedir alguma coisa ou ser acobertado por chegar atrasado aos treinos.

  Sentiu o peso de Aomine sair de seus ombros, e então apenas conseguiu vê-lo se afastar com uma risada, colocando a toalha úmida de suor no ombro:

  - Isso é o que você pensa.

   se encontrava nervosa, tinha que passar o pedido de Aomine a Akashi, mas não sabia como fazer. Não queria fazer, mas não podia deixar de dar atenção ao Às do time. Ouvira uma vez o técnico dizer que Aomine não possuía dos melhores humores, então não era bom questioná-lo. Como é uma pessoa indecisa e tímida, interpretou como nunca questioná-lo.

  O técnico havia dito que Akashi ficaria até mais tarde para analisar melhor a estrutura do time para o jogo da próxima semana. Ele acreditava que o time deveria treinar em suas posições para que estivessem melhores no dia do jogo. A chuva do lado de fora estava torrencial, mas se Aomine perguntasse à pela manhã o que ela falara com Akashi, ela não saberia o que responder e poderia pagar por isso.

  Bateu na porta da sala de reuniões e abriu uma fresta para ver o jogador de costas para a porta, analisando o quadro rabiscado com as posições do time e as possíveis posições do time adversário.

  - Hum… Akashi-kun? – chamou baixo, fazendo-o virar de modo que ela pode ver seu olho vermelho, dando um passo para trás. – Eu… Bem. Eu poderia falar algo?

  - Entre – ele disse direto.

  A garota engoliu seco e fechou a porta atrás de si, enquanto o via se dirigir até a mesa e se sentar, dando sua atenção à ela. Fazia tempo desde a última vez que falara sozinha com Akashi, o que fazia suas mãos suarem. O olhar que o jogador enviava não parecia ser dos melhores. Sua cabeça processava milhares de maneiras de dizer o que tinha para dizer.

  - Aomine-kun veio falar comigo… – começou, vendo o par de olhos coloridos em sua direção. Se lembrou do que as garotas falavam sobre eles; agora ela podia confirmar: Olhar para os olhos de Akashi era vê-los somente vermelhos, como se a cor já chamasse a atenção por inteiro. Tentou encontrar a cor amarela no meio disso tudo, mas não conseguiu.

  - E? – Akashi perguntou, tirando-a de seu transe. A garota balançou a cabeça com o susto; não havia percebido que havia parado de falar.

  - E-e… Ele estava sentindo dores locais, perguntou se você não poderia diminuir o ritmo dos treinamentos.

  Akashi não respondeu, o que fez com que se martirizasse por dentro. Era claro que aquilo era um pedido idiota e desnecessário. Se ele estava dando aquele tipo de treinamento para eles, era óbvio que era porque achava que era necessário. Durante um tempo, se perdeu em seus pensamentos. Quando Miho disse que ela deveria mostrar mais presença para ele, tinha certeza de que não era dessa maneira que deveria fazer. No entanto, surpreendentemente, ouviu o capitão pronunciar as seguintes palavras:

  - Você acha que devo?

   levantou o rosto, surpresa. Estupefata. Ao contrário do que pensava, o capitão não a encarava com um olhar sério; poderia até arriscar que aquilo em seu rosto era um protótipo de sorriso, mas vindo de Akashi, talvez fosse mais uma sujeira do lanche da tarde que preparou para o time repor as energias.

  - Se… Eles estão sentindo dor, bem, talvez haja algo de errado – deu sua opinião baixo, vendo-o não desviar seu olhar dela. Talvez ele sequer tenha piscado até então. Engoliu seco mais uma vez, sentindo o suor começar a transpirar de sua pele, tamanho o nervosismo. Nunca imaginou que alguém pudesse ser tão intimidador como ele estava demonstrando ser agora.

  - Tudo bem – ele respondeu.

  - C-como? – ela o encarou, surpresa.

  Akashi, que se preparava para se levantar, desistiu e olhou para a garota:

  - Você disse que se acha que eles precisam que os treinos sejam mais leves, irei pensar nisso – o jogador respondeu.

  - Mas, por que está considerando minha opinião?

  - Por que não deveria considerar? – ele encosta em sua cadeira e cruza os braços.

  - Porque eu não sei nada sobre basquete? – ela responde em tom indeciso. Tentando entender o que diabos estava acontecendo ali.

  Akashi mais uma vez se manteve calado. Depois de um tempo sem saber a resposta, resolveu encará-lo e, pela primeira vez, viu os dois olhos vermelhos. Se perdeu neles por um longo tempo; tempo esse suficiente para enxergar uma pessoa diferente da que havia conhecido. Piscou uma, duas, três vezes. Akashi estava sorrindo. Um novo sorriso.

  O sorriso dessa vez não foi uma ilusão. Ele estava ali para ela, a única garota que veria o vermelho dos olhos bicolores.