Pecados Mortais – Soberba
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“For pride is spiritual cancer: it eats up the very possibility of love, or contentment, or even common sense”.
– C. S. Lewis
Me desculpe, Pai, sei que pequei, mas já paguei o suficiente por isso. Meu nome é Andrews e essa é a minha confissão. Vou contar o meu lado da história.
“O mundo é dos espertos” foi o que aprendi desde criança. Em casa entendi que tentar agradar os outros é um beco sem saída, e se permitir que alguém esteja acima de você, certamente você nunca será capaz de ir muito longe. Meu pai era o diretor financeiro de uma multinacional e vivia para lamber as botas do CEO da empresa, a tal ponto que até mesmo fingiu não saber que ele e minha mãe tinham um caso nada discreto. Era uma sensação agridoce não admirar nenhum daqueles que deveriam ser meus modelos de vida, meu pai era um otário puxa-saco e minha mãe uma vadia ingrata.
Ter essa percepção desde muito novo me fez entender que a vida é feita de escolhas que o levarão a estar no topo ou no fundo do poço. Você precisa fazer a escolha entre ser a presa ou o caçador, e eu definitivamente não havia nascido para ser a presa. Em um mundo de interesses e ambições, eu sempre fui esperto o suficiente para conquistar tudo que desejava.
Ainda na escola percebi que, para não ser atacado, precisava primeiro atacar, e assim estive sempre na liderança, controlando as decisões dos outros e fazendo com que todas as situações fossem favoráveis a mim. Se alguém tentasse ir contra, não era difícil fazer da vida deles um pesadelo diário até que aprendessem seu lugar. Algo que quase ninguém parece entender é que as pessoas comuns são facilmente manipuláveis: um sorriso mais charmoso, algumas palavras falsamente doces e um ou outro elogio mentiroso pode fazer maravilhas para seu status.
Cresci tendo a vantagem de ser bonito, charmoso e inteligente, o que me permitiu ter uma promissora empresa de finanças antes dos vinte e cinco anos. Minha vida era o que muitos chamariam de perfeita, e tenho certeza de que qualquer homem venderia a alma para estar em meu lugar. Eu tinha uma casa luxuosa, carros do ano, viagens extraordinárias sempre que me desse vontade, além de todas as mulheres aos meus pés.
Não vou mentir e dizer que era o melhor chefe do mundo, sempre fui exigente e focado em metas, o que quer dizer que não importava quão bom era o currículo dos meus funcionários, se não tivessem a performance esperada mandava para o olho da rua. Se havia algo que ser CEO havia me ensinado era que sempre teria alguém que se mataria de trabalhar para cumprir as demandas e a minha função era explorar esse conhecimento para meu benefício.
É claro que a vida que eu levava também gerava inimigos aos montões, principalmente covardes invejosos que não tinham o necessário para algum dia chegar aos meus pés e que, portanto, tentavam me arrastar para a lama junto com eles. Mas como eu já disse, eu sempre fui um caçador, nunca a caça.
Trabalhar com projeções e entender como o futuro se desdobraria era minha especialidade, e assim eu sabia exatamente em que ou quem investir para obter o melhor lucro possível ou evitar perdas. Eu usava essa habilidade não somente para trabalho, mas também com amizades que poderiam me trazer benefícios e – é claro – com mulheres. E foi utilizando esse meu talento que a conheci, .
era uma mulher claramente inteligente e sagaz, do tipo que sabia o que queria e não tinha medo de demonstrar. Assim que a entrevistei sabia que teria muito a acrescentar à empresa, e ela deixou claro que poderia ser útil de diversas outras maneiras também. Pouco tempo depois da sua contratação, ela me surpreendeu positivamente, superando todos os outros funcionários com seus resultados. E o que tornava ainda melhor eram suas provocações constantes, ela fazia questão de demonstrar seu interesse por mim.
Sua vontade de ter algo comigo não me surpreendeu, ela não era a primeira e nem a única, muitas outras funcionárias antes dela também tentaram. Eu tinha uma espécie de regra não oficial de não me envolver com nenhuma mulher que trabalhasse para mim, uma forma de evitar dramas desnecessários. Eu poderia conseguir uma em qualquer lugar, então para quê estragar um ambiente produtivo com algo tão efêmero?
No entanto, conseguiu me fazer quebrar essa regra sem sentir nenhum arrependimento. Não era apenas sua beleza e sensualidade que instigavam, mas também o fato dela ser atrevida e sem qualquer pudor. Ela não via problema algum em expressar o quanto me desejava e tudo que queria fazer comigo e – em poucas semanas – não havia um dia sequer que não explorássemos todas as nossas fantasias sem restrição alguma. Seu corpo era como um convite ao pecado e apesar de pecar não ser nada novo para mim, nunca o fiz com tanta vontade.
Os meses se passaram e parecíamos nunca nos cansar um do outro. É claro que ela não era a única com quem me envolvia, era requisitado demais para focar toda minha energia em uma única mulher, mas tenho certeza de que era somente em mim que ela pensava. Basicamente, ela era a melhor foda que já tive na vida, mas não tínhamos nada além disso, afinal, ela estava longe de ser o tipo de mulher com quem namoraria.
Infelizmente, nada que é bom dura para sempre. Depois de um ano em que aproveitávamos qualquer oportunidade para “desestressar” ela me disse que não queria mais, que estava cansada da mesmice. Nem preciso dizer que aquilo me surpreendeu, especialmente pelo modo como ela falou, como se eu fosse completamente entediante. Não tive outra opção a não ser demiti-la, não precisava desse tipo de desrespeito na minha própria empresa. foi uma foda incrível, mas ela nunca chegaria aos meus pés, e era bom que ela soubesse disso.
A rotina logo voltou ao “normal”. Continuei exigindo o máximo de meus funcionários, trabalhando exaustivamente, e por vezes estranhando não ter aqueles olhos penetrantes que pareciam me despir assim que me viam. Era certamente diferente não ter os momentos de desestresse que ela me proporcionava. Mas mal sabia eu que a minha rotina mudaria novamente, e ela seria a culpada.
Dois meses depois da saída de fui surpreendido com uma visita inesperada: a polícia federal. Apesar da surpresa e do leve nervosismo que senti ao ver minha empresa ser revirada do avesso, parte de mim estava confiante de que eles não encontrariam nada. Eu sempre havia sido extra cuidadoso com minhas pedaladas fiscais, tendo muita atenção ao fazer meus pequenos truques para maximizar meus lucros e minimizar meus gastos. O que eu não contava era que havia deixado uma última lembrança antes de ir, a desgraçada havia me investigado por todo aquele tempo, e exposto tudo que havia encontrado, além de deixar as provas espalhadas por todo o edifício.
Aquele foi o início do meu declínio. Perdi minha empresa, meus carros luxuosos, tive minhas contas congeladas e ainda fui condenado à prisão por cinco anos por fraude fiscal. Mas o que corou, de fato, a situação toda foi descobrir que era a esposa de um fracassado qualquer que havia se suicidado depois de ter ido à ruína por conta de alguns investimentos meus. Ela me culpara pelo destino dele, e havia decidido – como ela mesma disse – “me fazer provar do meu próprio veneno”.
Fim
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