Paths of Change
Primeiro Capítulo:
Seogwipo, Coreia do Sul:
A cafeteria recém aberta estava sendo o maior sucesso da cidade, e aquilo era indiscutível. passeou os olhos pelo lugar assim que botou os pés lá dentro. As paredes eram revestidas com tijolos aparentes, pintados em tons claros de creme, criando um contraste acolhedor com o teto em madeira escura. O ambiente era iluminado por luminárias pendentes com luz quente, que jogavam um brilho suave sobre as mesas de madeira rústica.
Uma grande estante de livros ocupava uma das paredes, repleta de volumes antigos e modernos, além de pequenos vasos de plantas que adicionavam um toque de frescor. Perto da entrada, um balcão de mármore branco com detalhes em cobre exibia doces artesanais e pães frescos, enquanto a máquina de café cintilava atrás dele, como o coração pulsante do lugar.
As janelas amplas deixavam a luz natural entrar, revelando uma vista encantadora da rua arborizada de Seogwipo, com as montanhas ao fundo. Almofadas coloridas decoravam os assentos junto às janelas, convidando os clientes a relaxarem com uma xícara de café quente enquanto observavam o movimento da cidade. No ar, o aroma de grãos moídos na hora misturava-se ao cheiro de baunilha e canela, criando uma sensação de lar que tornava difícil querer ir embora.
escolheu um lugar da cafeteria para sentar-se, deu sorte que apesar de bem cheia, ainda sobraram alguns lugares ao fundo da mesma. Depositou a bolsa sobre a mesma e pegou o cardápio entre as mãos sentindo o alívio gostoso daquele ser ainda um dos poucos lugares da cidade que os cardápios não eram em QR code.
Ela passou os dedos pela superfície do cardápio de papel, sentindo a textura levemente áspera sob a ponta dos dedos. Ela sempre teve uma preferência por coisas tangíveis, que traziam um certo charme nostálgico em um mundo cada vez mais digital. Para ela, segurar um cardápio físico era quase como folhear as páginas de um livro: dava tempo para apreciar cada detalhe, os pequenos desenhos ilustrativos, as fontes cuidadosamente escolhidas e até os cantos levemente desgastados que contavam histórias de quantas mãos já haviam passado por ali.
Além disso, gostava da sensação de pausa que um cardápio de papel proporcionava. Não era necessário desbloquear uma tela, lidar com conexões de internet ou ser distraída por notificações indesejadas. Era algo simples e direto, uma ponte entre o presente e um passado mais tranquilo, onde as coisas pareciam menos apressadas. Ali, com aquele cardápio físico em mãos, ela podia se desconectar do mundo lá fora e mergulhar por completo na atmosfera acolhedora da cafeteria.
☕☕☕
caminhava pela cafeteria com passos calmos, mas atentos. Ele observava cada detalhe do ambiente, como fazia religiosamente desde o dia da inauguração. Conferiu se as mesas estavam limpas, se o balcão continuava impecável e se o aroma do café ainda preenchia o ar com a mesma intensidade. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios ao perceber que tudo estava exatamente como ele gostava: convidativo, aconchegante e fluindo perfeitamente, mesmo com o movimento intenso daquela tarde.
Foi quando seus olhos pousaram em uma figura no fundo da cafeteria. Ela estava sentada sozinha, com o cardápio nas mãos, completamente alheia ao burburinho ao redor. Havia algo familiar nela – o jeito como inclinava ligeiramente a cabeça ao observar as palavras, como se estivesse perdida em um universo à parte. estreitou os olhos, tentando encaixar o rosto em alguma lembrança, mas sem sucesso imediato. Mesmo assim, um impulso o levou a caminhar até ela.
— Olá, bem-vinda — disse ele com a voz gentil, interrompendo os pensamentos dela. — Posso ajudá-la com alguma recomendação?
ergueu os olhos do cardápio, e por um instante ficou estática, como se estivesse vendo um fantasma do passado. Aqueles olhos calorosos, o sorriso meio tímido… era impossível não reconhecê-lo. , o garoto que estudara com ela desde a infância até o fim do ensino médio. Naquele tempo, ele era apenas um garoto magricela, com os cabelos sempre desalinhados e um jeito tranquilo que contrastava com a agitação dos outros colegas.
— ? — ela perguntou, a surpresa evidente em sua voz.
Os olhos dele se arregalaram levemente antes de um sorriso cheio de reconhecimento tomar conta de seu rosto.
— ?
Ela assentiu, e um turbilhão de memórias a invadiu. Lembrou-se das manhãs em que cruzavam os corredores da escola, dos trabalhos em grupo que ele sempre parecia assumir o controle de forma calma e eficiente, e das conversas ocasionais que tinham quando esbarravam na biblioteca. Depois do ensino médio, ela havia se mudado para Seul para cursar a faculdade, e os dois nunca mais haviam se encontrado. Mas agora, ali estava ele, dono de uma cafeteria tão encantadora quanto parecia ser sua própria personalidade.
— Você sumiu depois do colégio — ele comentou, ainda um pouco incrédulo, mas claramente feliz em vê-la.
— Eu que o diga — ela respondeu, rindo suavemente. — Nunca imaginei que te encontraria… aqui, de todos os lugares.
sorriu novamente, e por um momento, o tempo parecia ter voltado à adolescência. Mas, ao mesmo tempo, a realidade do presente era inegável. Ele não era mais o garoto magricela da escola, e ela também havia mudado muito desde então.
— Então, o que posso trazer para você? Vou fazer questão de preparar pessoalmente — disse ele, com um brilho divertido nos olhos, como se o reencontro fosse a desculpa perfeita para um gesto especial.
sentiu as bochechas esquentarem, mas conseguiu esconder seu embaraço ao voltar a olhar para o cardápio, dessa vez com um sorriso discreto no rosto.
— Surpreenda-me — respondeu, enquanto pensava em como aquele encontro inesperado prometia mudar o rumo de sua tarde… e talvez até mais do que isso.
assentiu com um sorriso caloroso, como se tivesse aceitado um pequeno desafio.
— Certo, . Vou trazer algo que eu tenho certeza de que você vai gostar.
Ele se afastou em direção ao balcão, ainda com a expressão de leve incredulidade e felicidade em seu rosto. Enquanto isso, o acompanhava com o olhar, seus pensamentos já mergulhando nas lembranças do passado. Era engraçado como a vida funcionava. Quem diria que, anos depois de terem seguido caminhos completamente diferentes, ela acabaria reencontrando ali, naquela cafeteria charmosa e cheia de personalidade que parecia refletir tanto quem ele era?
Sua mente vagou para os dias de escola. Ele sempre foi reservado, o tipo de garoto que não chamava atenção em meio ao barulho dos colegas. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que sempre a intrigava: a calma, a inteligência e o sorriso gentil que aparecia nos momentos mais inesperados. Ela se perguntava o que havia acontecido com ele depois da formatura. Pelo visto, ele ficou em Seogwipo, enquanto ela seguiu para Seul em busca de seus próprios sonhos.
olhou ao redor da cafeteria novamente, reparando nos detalhes que pareciam ter o toque pessoal de : as plantas estrategicamente posicionadas, o quadro-negro no canto com frases motivacionais escritas à mão e até as luminárias que jogavam uma luz suave e aconchegante no ambiente. Era um espaço acolhedor, e agora, saber que ele era o responsável por tudo aquilo fazia sentido.
Não demorou muito para que voltasse, equilibrando habilmente uma bandeja com uma xícara de café com leite e um pedaço de bolo de limão. Ele parou na frente dela, colocando o pedido na mesa com o mesmo cuidado que ela se lembrava de vê-lo demonstrar em tantas outras situações.
— Aqui está — disse ele, com um brilho divertido nos olhos. — É uma das combinações favoritas dos nossos clientes.
sorriu, sentindo o aroma cítrico do bolo misturado com o cheiro reconfortante do café.
— Parece delicioso, obrigada.
hesitou por um segundo, como se estivesse ponderando se deveria dizer algo a mais, mas acabou se inclinando levemente para frente.
— Eu espero que você goste. Se precisar de mais alguma coisa… bem, eu estarei por aqui.
Ele se afastou, voltando ao balcão, mas não conseguia tirar os olhos dele. Enquanto ele falava com um dos funcionários e organizava algo no caixa, ela não pôde deixar de notar como ele parecia ter mudado e, ao mesmo tempo, continuava o mesmo.
Tomou um gole do café e experimentou o bolo, sentindo-se confortada pelo sabor simples, mas perfeito. Seus pensamentos continuavam girando, agora mais focados em como a vida o havia moldado. Aquele encontro inesperado estava prestes a reabrir portas para memórias adormecidas – e, talvez, criar novos capítulos que ela nem sabia que queria viver.
Do outro lado da cafeteria, a observava de relance, com um sorriso pequeno no rosto. Ele também estava perdido em seus próprios pensamentos, se perguntando como aquele reencontro poderia mexer tanto com ele depois de todos aqueles anos.
☕☕☕
Enquanto ajeitava algumas xícaras no balcão, seus olhos voltaram a deslizar até , que parecia completamente imersa no café e no bolo. Um sorriso discreto surgiu em seu rosto enquanto ele observava o jeito que ela levava o garfo à boca, inclinando levemente a cabeça em aprovação. Ela não havia mudado muito – ainda tinha aquele mesmo jeito delicado, mas com uma aura mais madura, mais confiante.
Ele se lembrou dos tempos de escola. nunca fora o tipo de garoto popular ou que conseguia facilmente chamar atenção, mas, para ele, sempre foi impossível de ignorar. Ela era brilhante, cheia de vida, e, de alguma forma, sempre parecia saber exatamente o que queria. Era como se ela tivesse um brilho próprio que fazia todos ao redor gravitarem em sua direção – inclusive ele.
Havia uma memória específica que sempre voltava à sua mente: o dia em que a viu pela primeira vez na biblioteca da escola, inclinada sobre uma pilha de livros, com uma expressão de concentração enquanto mordia levemente o lápis. Ele se lembrava de como havia parado no corredor, quase tropeçando nos próprios pés, apenas para observá-la. Desde aquele momento, ele sabia que tinha um crush nela – um segredo que guardou tão bem que duvidava que ela tivesse sequer suspeitado.
Ele também se lembrava de como os encontros casuais nos corredores da escola faziam seu coração acelerar. Havia tantas vezes em que ele quis se aproximar, dizer algo além de um tímido “Oi” ou “Bom dia”, mas nunca encontrou coragem. sempre achou que ela estava fora de seu alcance, vivendo em um universo diferente do dele.
E agora ela estava ali, sentada em sua cafeteria, como se o tempo tivesse decidido lhe pregar uma peça. Ele se perguntou se tinha alguma ideia do quanto ele gostava dela naquela época. Será que ela já tinha notado os olhares furtivos? Ou os momentos em que ele inventava desculpas para passar perto do grupo dela, só para ouvi-la falar ou dar uma risada?
suspirou, encostando-se no balcão e cruzando os braços enquanto a observava. “E pensar que, depois de tanto tempo, ela está aqui, na minha frente.”
Mas havia outra questão que rondava sua mente: o que teria acontecido com ela depois do ensino médio? Ele sabia que ela havia se mudado para Seul para estudar – todo mundo na cidade comentou na época –, mas o que mais ela teria feito? Que tipo de vida ela havia construído?
Ele se pegou imaginando como seria a vida dela na cidade grande. Será que ela estava feliz? Será que estava de volta a Seogwipo apenas de passagem? Ele não conseguia deixar de sentir uma pontada de curiosidade, misturada com algo que ele não conseguia exatamente nomear.
Sacudindo a cabeça, decidiu não se perder tanto em suas próprias lembranças. Tinha uma cafeteria para administrar, afinal. Mas, enquanto ele continuava a trabalhar, a presença de parecia trazer à tona sentimentos e pensamentos que ele não tinha há anos – e, por mais que quisesse, não conseguia ignorá-los.
☕☕☕
terminou o pedaço de bolo lentamente, apreciando cada garfada. O sabor doce e reconfortante parecia embalar seus pensamentos enquanto olhava distraída pela grande janela da cafeteria. Ela sorriu para si mesma, satisfeita com a escolha do lugar. Era como se aquele ambiente aconchegante tivesse se tornado uma espécie de refúgio temporário.
Ao terminar o café, ela colocou a xícara vazia de lado e pegou o celular, verificando as mensagens. Uma notificação lembrava-a da reunião online que teria em breve. Suspirando, ela decidiu que ficaria ali mesmo para participar. O ambiente era calmo o suficiente, e ela não queria voltar correndo para casa.
olhou em volta, à procura de , que estava conversando com um funcionário próximo ao balcão. Sem hesitar, ela levantou a mão para chamar sua atenção.
— ! — chamou, um tom gentil na voz.
Ele virou-se imediatamente, notando o gesto dela, e caminhou até a mesa com um sorriso caloroso.
— Posso ajudar com mais alguma coisa?
— Na verdade, sim — respondeu ela, devolvendo o sorriso. — Eu vou ficar mais um tempo aqui, preciso participar de uma chamada. Será que posso pedir outro café? O mesmo de antes.
— Claro. Vou preparar pra você. — Ele anotou o pedido em um pequeno bloco, mas parou por um instante, franzindo o cenho como se ponderasse. — Na verdade, a reunião que você mencionou é muito importante?
Ela inclinou a cabeça, surpresa pela pergunta, mas respondeu com uma risadinha.
— Na verdade, é. Por quê?
— Ah, só pensei… — Ele deu de ombros, ainda sorrindo. — Se precisar de um lugar mais tranquilo, temos uma sala pequena ali no canto. Não é exatamente uma sala de reuniões, mas tem uma mesa e é bem mais silenciosa.
piscou, surpresa pela gentileza.
— Isso seria incrível, . Obrigada!
— Vou preparar seu café e, enquanto isso, arrumo o espaço pra você.
Ele saiu em direção ao balcão, e o observou enquanto ele se afastava. Havia algo tão natural e caloroso em , algo que ela não lembrava de ter notado quando eram mais novos. Ele era atencioso de um jeito que a fazia se sentir confortável, como se estivesse em casa.
Enquanto ele preparava o café, começou a organizar suas coisas para a reunião, posicionando o celular e o fone de ouvido sobre a mesa. Ela olhou novamente para e se pegou pensando no quanto a vida pode dar voltas inesperadas. Quem diria que o garoto tímido e quase invisível da escola agora era o dono de um lugar tão acolhedor?
Poucos minutos depois, voltou com o café em mãos.
— Aqui está. E a sala já está pronta, se quiser ir pra lá. É só me chamar se precisar de qualquer coisa.
— Você está realmente salvando meu dia, . Muito obrigada.
Ele sorriu, um pouco envergonhado com o elogio, e apenas acenou com a cabeça.
— Bom trabalho na sua reunião, .
Com isso, ela pegou o café, sua bolsa e o celular e seguiu até o espaço que ele havia indicado. Era um pequeno cômodo com paredes claras, decorado com algumas plantas e quadros minimalistas. Havia uma mesa com duas cadeiras e uma janela que dava para o jardim lateral da cafeteria.
Assim que se acomodou, respirou fundo, relaxando no ambiente acolhedor. Ela tomou um gole do café, sentindo-se pronta para enfrentar a reunião. E, ao abrir o aplicativo no celular, não pôde evitar que um pequeno sorriso escapasse ao pensar em como havia feito algo simples parecer tão especial.
☕☕☕
A reunião de começou pontualmente. Ela ajustou o celular em um suporte improvisado sobre a mesa e colocou os fones de ouvido, focando na conversa com os colegas de trabalho. Discutiram prazos apertados, ideias criativas para um projeto em andamento e algumas mudanças no planejamento que ela precisava implementar. Apesar da atenção que dedicava ao trabalho, vez ou outra sua mente vagava para o ambiente ao redor. O cheiro de café fresco, a tranquilidade da pequena sala e a gentileza de criavam uma sensação de acolhimento que tornava tudo mais suportável.
Enquanto isso, do lado de fora, continuava em sua rotina. Ele circulava pela cafeteria com a mesma dedicação de sempre: verificava se os clientes estavam sendo atendidos, conferia os pedidos na cozinha e até ajeitava alguns detalhes decorativos em mesas que haviam sido desocupadas. Porém, por mais que tentasse focar em suas tarefas, sua mente sempre voltava para .
Ele se perguntava como ela tinha mudado tanto desde os tempos de escola. A de antes era sempre sorridente, cercada de amigos e com uma energia que parecia iluminar qualquer ambiente. Agora, ela parecia mais madura, mais tranquila, mas ainda carregava aquela mesma essência que ele sempre admirou. Será que ela nunca percebeu o quanto ele gostava dela naquela época? Ele suspirou, distraído, e quase derrubou uma bandeja ao desviar de um cliente apressado.
“Concentre-se, “, murmurou para si mesmo, tentando afastar os pensamentos. Mas era inútil. A presença dela parecia ter acendido algo nele, algo que ele nem sabia que ainda existia.
Quando a reunião terminou, suspirou aliviada, sentindo o peso das responsabilidades deixar seus ombros por um momento. Guardou os fones e o celular na bolsa, pegou o copo de café vazio e saiu da pequena sala. Decidiu que era hora de ir, mesmo que, no fundo, tivesse vontade de ficar mais tempo naquele lugar.
Ao chegar ao caixa, ela olhou em volta, procurando por . Havia um certo incômodo em ir embora sem vê-lo novamente. A funcionária no balcão sorriu para ela.
— Gostaria de pagar agora?
— Sim, por favor — respondeu , ainda lançando olhares pelo ambiente. Mas não estava em lugar nenhum.
Depois de pagar a conta, ela agradeceu à funcionária e pegou a bolsa, pronta para sair. Foi quando ouviu uma voz familiar atrás dela.
— Vai embora sem se despedir?
virou-se rapidamente e encontrou parado ali, com as mãos nos bolsos e um sorriso fácil no rosto.
— Ah, achei que você estivesse ocupado — disse ela, sorrindo de volta.
— Estou sempre ocupado, mas nunca tão ocupado assim.
Ela riu, sentindo o calor subir ao rosto.
— Obrigada por hoje. A sala foi uma ideia perfeita. Acho que vou começar a frequentar mais sua cafeteria.
— Eu ficaria feliz com isso — respondeu ele, e havia algo no tom de sua voz que parecia mais do que simples cordialidade.
— Até a próxima, então.
— Até a próxima, .
Ela deu um último sorriso antes de sair, e ficou ali, observando-a atravessar a porta. Quando ela desapareceu de vista, ele voltou para o balcão, mas sua mente estava longe.
Enquanto continuava suas tarefas, ele se pegou pensando em como aquele dia tinha sido inesperado. Era estranho como alguém do passado podia reaparecer e bagunçar tudo tão rapidamente. Ele balançou a cabeça, um sorriso discreto surgindo em seus lábios.
“Até a próxima”, repetiu em sua mente. E, pela primeira vez em muito tempo, ele percebeu que estava ansioso pelo amanhã.
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Segundo Capítulo:
Encontrar funcionários de confiança nem sempre era uma tarefa fácil, mas até que havia tido sorte desde que abriu a cafeteria. Alguns colegas e conhecidos da época do ensino médio, assim como ele, não haviam ido muito longe de Seogwipo, muito menos saído da Coreia para estudar. Portanto havia conseguido contratar bastante ex-colegas de escola, e o gerente agora era um dos ex-alunos mais inteligentes da sala deles: Moonbin.
Os dois não eram exatamente melhores amigos, até porque nunca fez esse tipo de escolha durante o ensino fundamental ou médio, ele tinha seu grupinho de amigos, é claro, mas nunca havia elegido nenhum deles como “melhor amigo” ou algo do gênero. Hoje cada um deles trilhava seu próprio caminho e desse pequeno grupo só havia permanecido e ainda morava em Seogwipo.
puxou o celular do bolso enquanto mantinha um ritmo constante na corrida pela orla. O céu estava azul, a brisa marítima refrescava seu corpo aquecido pelo exercício e, mesmo suado, ele sentia-se leve.
Desbloqueou a tela e viu uma notificação de Moonbin no grupo de mensagens da cafeteria.
Moonbin: “Tudo tranquilo por aqui. Movimento normal pra um começo de manhã. Pode terminar sua corrida sem preocupação.”
sorriu de forma relaxada. Era bom saber que podia confiar em sua equipe. Desde que abriu a cafeteria, raramente conseguia desligar-se completamente do trabalho, mas com Moonbin gerenciando as coisas, ele conseguia momentos como aquele—em que apenas respirava e sentia o mundo ao seu redor.
Guardou o celular e continuou correndo, sentindo a areia fina se misturar ao concreto do calçadão conforme se aproximava de um quiosque. O local era simples, mas charmoso, com guarda-sois coloridos e um pequeno balcão de madeira onde eram servidos sucos naturais e cafés gelados.
Decidiu que era um bom momento para uma pausa e caminhou até lá, passando a toalha pelo rosto antes de fazer seu pedido.
— Um suco de maracujá, por favor. — Ele se apoiou no balcão, sentindo o suor esfriar sob a brisa do oceano.
Enquanto esperava, seu olhar vagueou pelo lugar e, para sua surpresa, encontrou uma figura familiar sentada em uma das mesas de madeira, absorta na tela do celular.
.
Ela usava óculos escuros e uma roupa confortável, o cabelo preso de qualquer jeito, como se tivesse saído de casa sem pensar muito no visual. Mesmo assim, havia algo cativante na despreocupação dela.
Antes que pudesse decidir se devia chamá-la ou não, ela ergueu a cabeça, sentindo-se observada. Quando o reconheceu, os lábios dela se curvaram em um sorriso surpreso.
— ?
Ele pegou seu suco do balcão e se aproximou com um meio sorriso.
— Parece que estamos destinados a nos esbarrar por aí.
— Ou Seogwipo continua pequena como sempre. — Ela brincou, batendo de leve na cadeira ao lado. — Quer se sentar?
Ele hesitou por um segundo, mas então se acomodou ao lado dela.
— Eu poderia dizer que estou surpreso, mas depois de ontem, acho que já devia esperar algo assim.
Ela riu e deu um gole em sua própria bebida, os óculos escuros ocultando qualquer emoção mais profunda nos olhos.
— E você, costuma correr por aqui sempre?
— Quase todo dia. A vista ajuda a começar bem a manhã.
— Hm. Talvez eu devesse adotar esse hábito também.
ergueu uma sobrancelha.
— E levantar cedo deixaria de ser um sacrifício para você?
riu, balançando a cabeça.
— Pegou minha fraqueza rapidamente, hein?
Ele apenas sorriu e tomou um gole de seu suco. Por mais que estivesse acostumado a conversar com clientes todos os dias, estar ali com ela, de maneira tão casual e inesperada, fazia algo estranho dentro dele se agitar.
Talvez Seogwipo não fosse tão pequena assim. Talvez fosse o destino, afinal.
☕☕☕
— Você ainda mora com seus pais? — As unhas finas de bateram contra o tampo da mesa de madeira, fazendo um barulho baixo.
— Não mais. Tenho um apartamento aqui perto, bem perto mesmo. Meus pais estão na Rua Baekhyun, ainda na mesma casa de sempre.
— Uau! Nunca morei sozinha, quando fui embora para Seul dividi apartamento com outras garotas, mesmo depois de formada.
— E você voltou para a casa dos seus pais? Faz muito tempo que eu não os vejo, eles estão bem?
respirou fundo, desviando o olhar por um instante antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras certas.
— Na verdade, não… — Ela soltou um suspiro discreto, apoiando as mãos sobre a mesa. — Meu pai está em tratamento por conta das complicações da diabetes. Já perdeu a visão de um dos olhos.
franziu o cenho, a expressão serena dando lugar a uma preocupação genuína.
— Sinto muito, …
Ela assentiu levemente, esboçando um sorriso fraco.
— Obrigada… Por sorte, o trabalho que consegui lá em Seul me permite trabalhar de casa. Então, resolvi voltar para ajudar minha mãe a cuidar dele.
observou-a por um momento, como se tentasse encontrar algo a mais por trás de suas palavras. Ele se lembrava de seus pais como pessoas gentis e acolhedoras, e saber que estavam passando por dificuldades o fez sentir um aperto no peito.
— Deve estar sendo difícil para você…
deu de ombros, tentando minimizar o peso da situação.
— Faz parte da vida, né? A gente aprende a lidar…
— Você está sentindo falta de Seul?
girou levemente o copo com as mãos antes de responder, refletindo sobre a pergunta.
— Às vezes, sim. — Ela sorriu de canto. — É uma cidade cheia de oportunidades, tem sempre algo acontecendo… Mas, ao mesmo tempo, pode ser solitária. Aqui em Seogwipo tudo é mais calmo, mais familiar.
assentiu, levando o copo de suco de maracujá até os lábios e bebendo um gole. O sabor doce e levemente ácido combinava com a sensação estranha que ele sentia naquele momento—uma mistura de nostalgia e algo que ele não sabia nomear.
— Eu entendo. Seul tem essa energia única, mas também pode ser cansativa. Quando fui para lá algumas vezes, senti que a cidade engole a gente se não tomarmos cuidado.
— Exato. — riu baixinho. — Mas e você? Nunca quis sair daqui?
Ele terminou o restante do suco antes de responder, deixando o copo vazio sobre a mesa.
— Quis, sim. Só que, no fim, percebi que meu lugar era aqui. Gosto do ritmo da cidade, gosto da minha cafeteria… Não me vejo em outro lugar agora.
assentiu devagar, como se absorvesse cada palavra.
— É bom quando a gente encontra um lugar assim, onde se sente realmente em casa.
sorriu de leve, mas logo olhou o relógio e soltou um suspiro discreto.
— Eu preciso ir… A cafeteria me espera.
Ele queria ficar mais um pouco, queria continuar conversando e ouvir mais sobre a vida dela. Mas o trabalho o chamava.
— Claro. — sorriu suavemente. — Foi bom te encontrar assim, por acaso.
— Foi mesmo. — Ele se levantou, pegando o copo vazio e dando um último olhar para ela antes de se afastar.
Enquanto caminhava de volta para a cafeteria, sentiu um peso estranho no peito. Algo dentro dele dizia que aquela conversa ainda não havia terminado.
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Cumprimentou os clientes que estavam na parte da frente da cafeteria, aproveitando para sondar com eles como estavam as coisas e se precisavam de mais alguma coisa e depois que entrou cumprimentou alguns dos funcionários do turno da manhã que encontrou no caminho até a despensa.
pegou um avental limpo pendurado no suporte próximo à despensa e o vestiu com movimentos automáticos, já acostumado com aquela rotina. Amarrou as tiras na cintura e, em seguida, colocou a touca para manter tudo conforme os padrões de higiene da cafeteria.
Antes de ir para a cozinha, parou para conferir os estoques. Passou os olhos atentos pelas prateleiras organizadas, verificando os pacotes de farinha, açúcar, café e outros ingredientes essenciais. Anotou mentalmente o que precisaria ser reposto nos próximos dias e, satisfeito com o controle, seguiu para a cozinha.
Ao entrar, o cheiro de manteiga derretida e baunilha o envolveu de imediato. O chef da cafeteria, um senhor de meia-idade chamado Dongmin, estava finalizando uma fornada de pães doces.
— Bom dia, chefe. — cumprimentou, pegando um avental menor para proteger as mangas da camisa.
— Bom dia, . Veio colocar a mão na massa de novo? — Dongmin brincou, erguendo uma sobrancelha enquanto retirava os pães do forno.
— Você sabe que não consigo ficar longe daqui. — sorriu, já pegando uma tigela para começar a preparar a massa de cookies. Ele gostava de cozinhar os doces servidos na cafeteria, especialmente os que levavam chocolate, seu ingrediente preferido.
Enquanto misturava os ingredientes, sentiu sua mente vagar por um instante. Lembrou-se do encontro com naquela manhã e da conversa que tiveram. Havia algo nela que ainda o intrigava, algo que o fazia querer saber mais.
Mas, por ora, ele focou na massa. Afinal, nada como cozinhar para organizar os pensamentos.
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O sol já estava se pondo quando chegou em casa, sentindo o cansaço pesar sobre os ombros. A casa dos pais ficava em um bairro tranquilo, longe do centro movimentado de Seogwipo. O cheiro de chá de gengibre e ervas tomou conta do ar assim que ela entrou, e, como de costume, sua mãe estava na cozinha, preparando algo para o marido.
— Chegou cedo hoje. — A mãe comentou, lançando-lhe um olhar rápido enquanto mexia a panela no fogão.
— Resolvi terminar algumas coisas em casa. — respondeu, colocando a bolsa sobre uma cadeira e se aproximando da geladeira para pegar um copo de água.
Ela ouviu um murmúrio vindo da sala e virou a cabeça, vendo seu pai sentado na poltrona com uma manta sobre as pernas. Desde que as complicações da diabetes haviam piorado, ele passava boa parte do tempo ali, ouvindo rádio ou simplesmente descansando.
— Appa, quer mais alguma coisa? — perguntou, se aproximando dele.
— Não, filha, estou bem. Você já trabalhou muito hoje, não precisa se preocupar tanto. — A voz dele era baixa, mas carregava um carinho que sempre a fazia se sentir criança de novo.
sorriu, mas não conseguia evitar a preocupação constante. Respirou fundo e foi para o próprio quarto, onde ligou o notebook e se acomodou na cadeira. Seu trabalho remoto permitia que estivesse ali para ajudar os pais, mas isso não significava que fosse fácil.
Abriu sua caixa de e-mails e começou a responder mensagens pendentes. Sua profissão exigia criatividade, mas também muita paciência. Ela revisava documentos, criava relatórios e participava de reuniões online com a equipe de Seul.
O tempo passou rápido enquanto digitava, até que sua mãe apareceu na porta, chamando-a para jantar.
— Só mais cinco minutos! — respondeu, terminando de anexar um arquivo importante.
Quando finalmente desligou o computador e foi até a cozinha, percebeu como o dia tinha sido longo. Mas, por mais cansativo que fosse, estar ali, perto da família, ainda parecia a escolha certa.
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A cafeteria já estava quase vazia, com apenas alguns clientes terminando seus pedidos enquanto os funcionários começavam a limpar as mesas e organizar tudo para o dia seguinte. secava as mãos depois de lavar alguns utensílios quando seu pensamento voltou para a conversa que teve mais cedo com .
Ele lembrava do jeito como ela falou do pai, da preocupação sutil que tentava esconder, mas que transparecia no olhar. Seus olhos correram para o balcão, onde alguns doces sem açúcar e sem lactose ainda estavam intactos. Seria um desperdício jogá-los fora quando poderiam ser úteis para alguém.
— Hum… — ele murmurou, pegando uma pequena caixa e começando a embalar os doces.
— Tá falando sozinho? — A voz de Moonbin o tirou de seus pensamentos. O gerente estava terminando de fechar o caixa e olhou para ele com um sorriso divertido.
— Só estava pensando… — resmungou, ainda concentrado. — Na verdade, vou levar isso para a e a família dela. O pai dela está com diabetes, achei que ele poderia gostar.
Moonbin arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— ? Fazia tempo que não ouvia esse nome.
assentiu, mas então franziu a testa.
— O problema é que… eu nem sei onde eles estão morando agora.
— Eles quem? — Moonbin perguntou, cruzando os braços.
— A e os pais dela.
Moonbin piscou algumas vezes antes de soltar um riso leve.
— Ah, isso eu sei. Eles moram numa rua acima da minha casa. Eu posso te mostrar o caminho se quiser.
sorriu, aliviado.
— Ótimo. Então acho que já tenho um destino para depois do expediente.
Com a cafeteria devidamente fechada, conferiu as trancas da porta pela última vez antes de se virar para Moonbin, que o esperava do lado de fora, esfregando as mãos para espantar o frio da noite.
— Pronto? — perguntou, guardando as chaves no bolso do casaco.
— Pronto. — Moonbin assentiu. — Mas você tem certeza de que quer aparecer lá na casa dela a essa hora?
soltou uma risada nasal.
— Não é tão tarde assim. E, sinceramente, não custa nada tentar. Se não der, pelo menos fica o gesto.
— Justo.
Ambos seguiram até o carro de , um modelo simples, mas bem cuidado. A viagem até a casa de Moonbin foi rápida, com os dois conversando sobre o movimento do dia e algumas mudanças que poderiam fazer no cardápio para o próximo mês. Quando pararam na frente da casa dele, Moonbin apontou para uma rua mais acima.
— A casa da fica naquela rua ali. É a terceira à direita.
— Valeu, cara. Até amanhã.
— Até. Boa sorte aí, quem sabe você não ganha uns pontos com ela.
riu, balançando a cabeça, e esperou Moonbin entrar em casa antes de seguir seu caminho.
À medida que se aproximava do endereço, sentiu uma leve inquietação crescer dentro de si. Não era como se estivesse nervoso, mas havia algo na ideia de reencontrar pela segunda vez no mesmo dia que o deixava um pouco ansioso. Ele nunca foi do tipo que ficava remoendo esse tipo de coisa, mas agora se pegava se perguntando como ela reagiria ao vê-lo ali.
Ao parar em frente à casa, desligou o motor e pegou a pequena caixa com os doces. Respirou fundo antes de sair do carro e caminhar até a porta, batendo levemente três vezes.
Agora era esperar para ver quem atenderia.
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A porta se abriu lentamente, revelando uma mulher de meia-idade com olhos gentis e um sorriso discreto. Era a mãe de .
— Sim? — ela perguntou, analisando com curiosidade.
Ele ajeitou a postura e sorriu educadamente.
— Boa noite, senhora . Sou , um amigo da do tempo da escola. Eu… — levantou a pequena caixa em suas mãos. — Trouxe alguns doces sem açúcar e sem lactose da minha cafeteria. Achei que poderiam gostar, especialmente seu marido.
Os olhos da mulher brilharam com surpresa e um pouco de reconhecimento ao ouvir o nome dele.
— Ah, ! Claro que me lembro de você! Meu Deus, como o tempo passa… Você era um menino na última vez que o vi!
Ela abriu um sorriso caloroso e deu um passo para o lado.
— Entre, por favor.
hesitou por um instante, mas logo aceitou o convite, entrando na casa. O ambiente era acolhedor, com móveis de madeira bem cuidados e o cheiro sutil de chá de ervas pairando no ar.
— está no quarto dela, mas eu posso chamá-la.
— Não se preocupe, eu só queria deixar isso aqui. Não quero incomodar.
A mãe de sorriu de canto.
— Ora, não é incômodo nenhum. Fique um pouco, eu insisto. Vou avisá-la que você está aqui.
E, com isso, ela se afastou, deixando sozinho na sala, onde ele não pôde evitar de olhar ao redor, sentindo a estranha familiaridade de estar ali depois de tantos anos.
Ele havia estado lá algumas vezes em que teve que fazer trabalhos em grupo com e outros colegas.
O corredor de entrada era estreito, com paredes em um tom suave de bege e um pequeno aparador de madeira ao lado da porta, onde descansavam algumas chaves e uma tigela com doces embalados. Um cabideiro simples segurava alguns casacos e bolsas, e um tapete escuro cobria parte do chão de madeira polida.
Ao dar alguns passos à frente, alcançou a sala de estar. Era um ambiente acolhedor, iluminado por uma luminária de canto que emitia uma luz amarelada e aconchegante. O sofá de tecido azul-claro parecia bem cuidado, e sobre ele repousavam algumas almofadas floridas, bem alinhadas. Uma mesinha de centro de vidro exibia alguns livros, além de uma xícara vazia e um par de óculos dobrado cuidadosamente ao lado.
À sua esquerda, uma estante de madeira repleta de livros e pequenas lembranças de viagem se estendia até quase o teto. Fotos emolduradas decoravam o espaço, e percebeu algumas imagens antigas da família — uma delas mostrando ainda criança, segurando um troféu escolar, e outra mais recente, onde ela estava ao lado dos pais.
Ele se pegou sorrindo de leve. Tudo ali parecia carregar histórias e memórias, e de certa forma, trazia um calor nostálgico.
ouviu passos vindos do corredor e engoliu seco. E se já estivesse quase dormindo? E se ela o achasse inconveniente por estar ali aquela hora?
Antes que pudesse pensar em mais desculpas para dar meia-volta e ir embora, os passos se aproximaram, e logo surgiu no corredor.
Ela usava um moletom folgado e calças de tecido leve, o cabelo preso de qualquer jeito no topo da cabeça, e seus olhos ainda carregavam vestígios de cansaço do dia longo. Quando viu parado ali, segurando a sacola com os doces, piscou algumas vezes, claramente surpresa.
— ? — A voz dela saiu levemente rouca, como se já estivesse relaxando para dormir.
Ele coçou a nuca, sem saber ao certo como começar.
— Ei… Eu estava fechando a cafeteria e me lembrei do seu pai — ele levantou um pouco a sacola, como se para ilustrar sua intenção. — Sobrou alguns doces sem açúcar e sem lactose, achei que vocês pudessem gostar.
Os olhos de passaram da sacola para ele, e por um instante, ela apenas ficou ali, olhando-o como se tentasse compreender o gesto. Então, um pequeno sorriso apareceu em seu rosto.
— Você veio até aqui só para isso?
Ele deu de ombros.
— Achei que seria um desperdício deixar lá.
Ela suspirou, balançando a cabeça de leve antes de dar um passo para o lado.
— Entra mais um pouco.
hesitou.
Não quero incomodar…
— Não está incomodando. — Ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha. — Além disso, se fosse o contrário, você não ficaria feliz em ver alguém trazendo doces para a sua família?
Ele riu baixinho, assentindo.
— Tá bom, tem razão.
Ele entrou mais uma vez na casa dos , sentindo o mesmo calor acolhedor de antes. Enquanto ela fechava a porta, notou que sua mãe já havia voltado para o quarto, e o silêncio da casa indicava que o pai de já estava dormindo.
— Quer um chá? — ela perguntou, já indo em direção à cozinha.
sentiu que negar seria inútil.
— Aceito.
E então ele a seguiu, percebendo que, mesmo depois de tantos anos, estar na presença de ainda lhe causava aquela estranha sensação de nostalgia e conforto ao mesmo tempo.
Na cozinha, abriu um dos armários e pegou uma caixinha de chá de camomila, enquanto se encostava na bancada, observando-a com um pequeno sorriso. O ambiente era aconchegante, com tons suaves e uma iluminação quente que tornava tudo ainda mais acolhedor.
— Então, você ainda gosta de chá de camomila? — Ele perguntou, lembrando-se de vê-la tomando exatamente o mesmo durante os intervalos na escola.
riu baixinho, enquanto colocava a água para esquentar.
— Algumas coisas nunca mudam — ela respondeu, apoiando-se na pia por um momento. — E você? Ainda é viciado em café?
assentiu, cruzando os braços.
— Viciado é pouco. Agora eu praticamente vivo disso.
Ela sorriu e balançou a cabeça.
— Eu deveria imaginar. Você sempre aparecia na escola com aquele café instantâneo horrível…
— Ei, na época era o que dava para ter! — Ele protestou, rindo. — Além disso, não era tão ruim.
— Era sim — ela retrucou com convicção, e então olhou para ele com um brilho divertido nos olhos. — Você lembra quando tentou fazer café na sala de química e quase botou fogo no laboratório?
cobriu o rosto com a mão, soltando uma risada envergonhada.
— Por favor, não me lembra disso. Eu juro que achei que sabia o que estava fazendo…
— Sim, claro — debochou. — Sorte sua que o professor gostava de você, senão teria levado uma suspensão.
— Verdade. — Ele respirou fundo, como se ainda pudesse sentir a tensão daquele dia. — E você? Qual foi o seu pior momento na escola?
franziu os lábios por um instante, pensativa, antes de rir sozinha.
— Ah, teve uma vez em que eu tropecei na escada bem na frente de todo mundo e derrubei todos os meus livros. Foi humilhante.
riu, lembrando-se da cena.
— Eu lembro disso! Mas, se serve de consolo, acho que ninguém riu porque ficou com medo de você…
— Eu não era tão brava assim!
— Era sim — ele afirmou, sorrindo.
Ela revirou os olhos, mas o sorriso em seu rosto mostrava que estava gostando daquela troca de lembranças. Quando a chaleira apitou, ela se virou para preparar as xícaras.
a observava em silêncio agora, e por um momento, percebeu o quanto era estranho e ao mesmo tempo familiar estar ali com ela, como se o tempo não tivesse passado.
— Você sente falta da escola? — ele perguntou, baixando um pouco a voz.
suspirou, colocando uma das xícaras na frente dele antes de pegar a sua.
— Às vezes — confessou. — Mas não necessariamente das aulas ou das provas… Acho que sinto falta da época, sabe? Da sensação de que ainda tínhamos todo o tempo do mundo pela frente.
Ele assentiu, compreendendo exatamente o que ela queria dizer.
— Eu também.
Por alguns segundos, o silêncio entre eles não foi desconfortável, apenas carregado de nostalgia. Então, ergueu a xícara.
— Bom, pelo menos agora você não precisa mais tomar café instantâneo horrível.
riu e ergueu a xícara também.
— E você não está mais tropeçando nas escadas.
Ela fez uma careta.
— Não apostaria nisso.
Os dois riram juntos, e pela primeira vez em anos, sentiu que talvez ainda houvesse algo ali, algo que o tempo não havia apagado completamente.
Adoro essa vibe de nostalgia. Não sinto falta da escola, mas da época sim.
Achei fofinho ele se lembrar do pai dela <3
Vão fazer um casal bonitinho! Espero que o caminho pra eles seja tranquilo e sem dramas HAHAHAHAH