Para me refazer
Capítulo 1
Observar o jardim era um dos poucos momentos capazes de colocar um sorriso sincero no rosto de Clarice. A dama da sociedade apoiava os cotovelos graciosamente sobre a parte inferior da janela enquanto sua mente refletia sobre o quanto sua vida havia mudado em tão poucos anos. Tudo começou quando a sonhadora artista deixou sua pequena residência em Petrópolis a fim de tentar a carreira de pintora na cidade grande. O som das rodas do trem ainda ecoava em sua memória, assim como as batidas fortes de seu coração. Seria uma vida nova, em um lugar onde não conhecia ninguém. E se tudo desse errado? E se nunca alcançasse o sucesso? E se estivesse condenada a passar o resto da vida fazendo algo que não ama? Lavar roupas sem dúvidas era uma atividade digna, entretanto a mulher de fios ondulados queria mais do que passar os seus dias realizando uma atividade apenas para sobreviver. Por esse motivo, mesmo não send
o fácil, a aspirante a desenhista decidiu sair da zona de conforto de uma vez por todas. Todavia, quando seus sapatos velhos pisaram nas ruas da capital pela primeira vez, ela jamais poderia imaginar que seu destino estaria ali, em uma mansão recheada de quadros caros, mas nenhum de sua autoria, até porque, com tantos afazeres exigidos pelo “cargo” de esposa, a artista nem se lembrava da última vez em que havia pegado em um pincel, mesmo tendo sido eles, de certa forma, os responsáveis por fazê-la passar de simples lavadeira em Petrópolis, para integrante de uma das famílias mais ricas e poderosas do Rio de Janeiro.
No início, Juliano Alencar parecia o homem mais romântico da face da Terra. Chegou tímido, encarando de longe enquanto Clarice tentava vender uma de suas obras de arte, sem sucesso. Entretanto, quando tudo parecia perdido e a jovem estava prestes a desistir, ele apareceu.
— Me desculpe, senhorita, não pude deixar de notar o seu talento com os pincéis, essas cores. Por acaso são flores da Imperatriz? — O jovem magnata colocou as mãos para trás como um perfeito cavalheiro.
Clarice, pela primeira vez desde que tinha se instalado à frente daquela galeria onde algum dia pretendia expor, sentiu seus olhos se iluminarem. Ainda era difícil de acreditar que alguém naquela cidade tão grande tivesse reconhecido as flores típicas do lugar onde havia nascido.
— Sim, exatamente! O senhor as conhece? — Seu tom de voz saiu mais empolgado do que gostaria, afinal, não pretendia parecer uma desesperada por atenção, mesmo se sentindo dessa forma por dentro
Juliano soltou uma risada discreta, porém charmosa.
— Se eu conheço? Tinha um jardim enorme na minha antiga casa.
— O senhor é de Petrópolis?
— Não, sou daqui mesmo, porém sempre vou a cidade imperial a negócios. E adoro.
— Incrível! Eu sou de lá.
O homem de terno cinza e fios grisalhos encarou a jovem de cima a baixo. Apesar dos cabelos bagunçados e das roupas simples, a tinha achado bastante atraente.
— E está no Rio há muito tempo?
— Não, acabei de chegar. Vim tentar a sorte.
— Mas você já trabalhava com arte, não é? Porque com um talento desses…
O elogio fez a jovem sonhadora sentir as bochechas queimarem.
— Imagina, na verdade eu era lavadeira.
— Ah, não é possível, alguém que pinta desse jeito precisa ser uma artista profissional! — Havia sinceridade o suficiente na fala do galanteador para convencer uma jovem inocente.
— Imagina, o senhor é muito gentil. Para ser sincera, esse sempre foi meu sonho.
— E com certeza irá realizá-lo! Na verdade, posso te ajudar!
— Jura, o senhor é olheiro de arte?
— Não, sou empresário do ramo de cosméticos. Dono de uma das maiores empresas do país. Já deve ter ouvido falar, a Perfumaria Carioca.
A mulher não conteve a empolgação.
— Claro que sim! Eu uso os seus produtos o tempo todo!
— Olha, então será um prazer maior ainda ajudar uma cliente fiel! Eu tenho alguns amigos no ramo das artes e posso te apresentar para eles.
— Sério?
— Claro. Tenho certeza de que eles vão adorar sua arte assim como eu. Ainda tem algum quadro sobrando?
Clarice deu uma risada, sem dúvidas o empresário havia percebido que havia muitos, porém era educado demais para comentar.
— Muitos, quer dizer, eu cheguei a pouco e infelizmente até o momento ninguém se interessou, além do senhor, claro.
— Bom, se é assim, eu vou querer comprar todos!
Clarice ficou a um triz de desmaiar.
— Como é?
— Isso mesmo, eu quero os seus quadros para pendurar na minha mansão e na minha sala na sede da Perfumaria Carioca. Essas maravilhas precisam ser apreciadas!
— Eu nem sei o que dizer.
— Diga que quando se tornar uma artista famosa irá se lembrar de mim!
— Mas é claro, senhor…
— Juliano, Juliano Alencar. — Ele estendeu a mão de forma muito além de cordial.
— Clarice, Clarice Dourado.
— É um prazer enorme te conhecer! — O magnata beijou de forma delicada as mãos da mulher dando início ao que parecia um conto de fadas.
Desde aquele momento, o dono da perfumaria se fez presente. Todos os dias aparecia naquele mesmo lugar e levava flores da imperatriz. Depois de alguns dias, deu o próximo passo e a convidou para ir a um clube, onde dançaram a noite inteira. Clarice foi se acostumando e gostando cada vez mais de sua companhia, os dois saíam juntos, conversavam, tudo parecia perfeito, ainda mais a partir de certo momento em que Juliano a pediu em noivado! Clarice ficou tão empolgada com os preparativos do casório que até mesmo se esqueceu de suas pinturas. A cerimônia foi notícia em todos os principais tabloides do Rio daquela época.
A aspirante a pintora famosa havia se tornado conhecida por outro motivo e por outro nome: Clarice Alencar. No início, deslumbrada pelos privilégios que a nova posição lhe proporcionava, como usar roupas novas e luxuosas, frequentar os restaurantes refinados, deixou seus sonhos de lado, de vez em quando questionava o marido sobre a promessa feita ao se conhecerem. Juliano, com seu habitual charme manipulador, segurava suas mãos e repetia:
— Meu bem, eles estão ocupados agora, mas no momento certo eu direi a eles sobre você. Agora por enquanto, porque não pendurar outro de seus quadros pela casa?
A esposa recatada colocava um sorriso falso no rosto e obedecia. Muitas vezes quis insistir, procurar os olheiros sozinha, mas os inúmeros compromissos exigidos pela alta sociedade, como recepções, festas e o gerenciamento dos empregados, a impediam.
Certo dia, porém, enquanto arrumava a casa, encontrou algo que tocou fundo em seu coração e pareceu acordar a jovem esperançosa ali adormecida: seu primeiro rascunho. As linhas eram tortas pois seu traço ainda era de iniciante, porém vê-los foi a fagulha que precisava para se lembrar do que a arte significava. De repente, nem mesmo os inúmeros luxos eram mais suficientes para preencher o vazio que corroía seu peito. Como pode ter deixado sua identidade e seu sonho morrerem dessa forma? Era como se toda sua alma e energia estivessem sendo sugadas durante todos esses anos sem que percebesse, ou melhor, até percebia, mas não queria enxergar de fato o que isso realmente significava.
O vento em seu rosto a trouxe de volta ao presente, um presente que agora estava disposta a mudar. Sob testemunho das flores, decidiu que era hora de tomar uma atitude, era hora de recuperar seus sonhos. Com um sorriso nos lábios, deixou a janela e foi até o armário e segurou, satisfeita, a lingerie vermelha, a favorita de Juliano, sabendo que ele não é, no momento certo, a esposa tiraria proveito dessa fraqueza para conseguir o que tanto queria desde que havia decidido colocar os pés naquela maldita cidade.
Mesmo Clarice não indo tanto à fábrica, os seguranças a reconheceram, provavelmente das inúmeras fotos saídas nos tabloides, e a deixaram entrar sem nenhum problema. A mulher respirou fundo enquanto colocava os pés no elevador. Seu coração pareceu sair pela boca quando este parou no andar do escritório do marido. Um último suspiro e algumas palavras de encorajamento para si mesma a seguraram por alguns instantes no portão principal.
“Você consegue Clarice, é uma artista”
Homens de terno apressados, seguidos por assistentes de óculos grossos passavam de um lado para o outro a ignorando, provavelmente devido à pressa. Ela sabia qual era a porta correta, porém a mesma era guardada por uma secretária que, diferentemente das outras, parecia se importar com a própria aparência, sua testa coberta por uma franja castanha e seu sorriso meigo de alguma forma a fizeram se sentir acolhida, entre outras sensações que não conseguia descrever.
Um pigarro foi o suficiente para chamar a atenção da jovem trabalhadora.
— Posso ajudar? — Sua voz era doce como uma flor. E seu sorriso mais brilhante que as estrelas. Clarice não pôde evitar observá-la por alguns segundos, sem dúvidas a formosa mulher daria uma excelente modelo para uma de suas obras.
Estranho, a artista nunca havia tido vontade de pintar pessoas, nem mesmo depois de Juliano insistir algumas vezes, ela nunca conseguiu captar a imagem do cônjuge em uma tela, papel. Mas desenhar aquela mulher, de certa forma parecia certo…
— É… — O nó em sua garganta fazia as palavras saírem com dificuldade. — Gostaria de falar com o senhor Juliano Alencar — afirmou enquanto apertava os dedos.
— Desculpe, mas o senhor Alencar é um homem muito ocupado e não recebe qualquer um, quem gostaria?
A mulher pensou em se revelar, mas considerando que a jovem e bela secretária de seu marido, diferentemente dos seguranças na entrada, parecia não ler tabloides, era sua chance de ser reconhecida pelo que era.
— Diga que é a sua artista favorita.
A jovem trabalhadora exibiu o sorriso mais brilhante que Clarice já tinha tido o prazer de testemunhar.
— Ah, é uma artista, que incrível, geralmente não ajudo ninguém, pois posso ser demitida, mas acho que nós mulheres batalhadoras devemos nos apoiar.
Foi a vez de Clarice sorrir de orelha a orelha. Era incrível como uma única frase daquela desconhecida a havia encorajado muito mais do que seu próprio marido durante anos.
— Só um instante, eu vou comunicá-lo de que está aqui!
— Obrigada.
A secretária caminhou em direção a sala de Juliano e para alívio de Clarice, saiu em alguns instantes.
— Muito bem, o senhor Juliano irá recebê-la agora.
— Nem sei como te agradecer.
— Imagina. — A trabalhadora se sentou novamente à sua mesa. — Mostre a ele do que é capaz.
A esposa de Juliano se limitou a acenar, gesto retribuído com um sorriso e um tinino por parte da secretária.
O som da maçaneta girando fez seus dedos tremerem, contudo, não havia mais volta.
— Pode falar, meu amor! — Juliano exclamou sem tirar os olhos do documento à sua frente.
— Então sabia que era eu? — Sua voz saiu sexy enquanto se encaminhava na direção do marido e o abraçava por trás.
— Claro que sim, meu amor, quem mais é minha artista favorita? Ainda bem que a incompetente da Zélia não te barrou, senão eu a demitiria na mesma hora.
“Zélia, então era assim que a dona do sorriso brilhante se chamava, um belo nome, para uma bela mulher”. Mas no que estava pensando?
— Imagina, ela foi um amor — se limitou a responder a fim de não revelar o misto de emoções que havia tomado seu peito ao conversar com a secretária.
— Mesmo assim, por que não se identificou? E a que devo a honra dessa visita surpresa?
— São muitas perguntas. — Clarice começou se sentando no colo do marido. — O que foi? Uma esposa dedicada não pode fazer um agrado para o marido que trabalha tanto?
— Pode sim, mas você nunca fez isso.
— Bom, estou fazendo agora e sabe o que eu trouxe? — ela sussurrou no ouvido do empresário, finalmente conseguindo sua atenção por completo.
— O quê?
Com um olhar ela exibiu a champanhe trazida em uma sacola e por fim retirou o casaco, exibindo a blusa transparente que deixava a lingerie à mostra.
— Ah não, você não fez isso, meu amor, assim não aguento, vai, vem cá.
— Com todo o prazer. — Ela abriu a garrafa antes de a entregar ao magnata.
Ela beijou de forma delicada o pescoço do marido o levando ao deleite. Ele estava rendido, aquele era o momento ideal…
— Já que você perguntou, tem sim um outro motivo para eu ter vindo aqui…
— Ah é, eu sabia, e o que foi? — Juliano sussurrou enquanto ainda aproveitava as carícias da esposa. — Quer um perfume novo? Sabe que tem acesso ilimitado ao estoque da fábrica.
Clarice suspirou antes de continuar, era agora ou nunca.
— Na verdade… eu estava pensando, você sempre adorou tanto minha arte… O que acha de eu desenhar as embalagens da nova coleção de sabonetes da perfumaria carioca?
Juliano soltou uma risada, porém dessa vez não uma risada doce, mas sim de tom zombeteiro.
— Ah, meu amor, você é hilária, por isso que eu te amo.
Clarice arregalou os olhos enquanto se afastava.
— Não é piada, Juliano. — Seu tom era firme. — Você sempre adorou minha arte, disse que me apresentaria aos olheiros, mas até hoje nada. Por que não me dá uma chance? Já pensou? As minhas pinturas exibidas em todas as farmácias? — Suspirou, deixando seu lado sonhador se expressar.
— Meu amor, eu amo sua arte, ela é maravilhosa, mas para mim, para nós, é melhor a maternos assim, como uma diversão.
Aquela foi a gota d’água. Pela primeira vez, a mulher enxergou o homem frio com quem tinha se casado. Com a raiva subindo a garganta, ela vestiu o casaco às pressas e arrancou de forma voraz a bebida das mãos do insolente.
Ainda desnorteada, ansiando por sair daquele lugar, acabou esbarrando na secretária atraente, derrubando champanhe não somente por toda sua roupa, mas por todos os papéis em suas mãos, papéis estes que com certeza a bela jovem estava levando ao escritório de Juliano.
Capítulo 2
Zélia sentiu a raiva queimar sua garganta enquanto encarava as letras dos contratos virando borrões diante de seus olhos.
— Me desculpa, eu não vi que você estava aqui, sinto muito! — começou Clarice usando o tom mais delicado possível.
A assistente de Juliano, por sua vez, ao invés do maravilhoso sorriso exibido apenas alguns minutos antes, dessa vez apresentava uma feição diferente.
— Todo meu trabalho, passei a manhã inteira preenchendo esses papéis, eram urgentes. — Ela cerrou os punhos em exaltação.
— Consigo imaginar.
— Não, não consegue, porque é uma desastrada! — acusou, fazendo Clarice saltar para trás. Onde estava aquela mulher gentil, e de certa forma atraente, que a havia encorajado? Porém, mesmo perplexa, a mulher sabia se defender.
— Desastrada? Preste atenção, você está falando com uma dama.
As pupilas de Zélia, como um ímã, foram atraídas imediatamente pelos “atributos” que o casaco de seda tentava esconder.
— Bom, acho que uma dama não se vestiria assim… — Com os olhos ela apontou para a roupa íntima que cobria o corpo da suposta “lady”.
Ao captar a direção do olhar sedutor da secretária, a aspirante a artista percebeu que, na pressa, havia se esquecido dos malditos botões. Suas bochechas ficaram mais vermelhas que um pimentão, era hora de sair dali o mais rápido possível.
Zélia a observou pela última vez antes de cruzar os braços e sussurrar para si mesma:
— Uma dama pode até não usar, mas meu tipo predileto de pecado, sim…
Clarice saiu do prédio cabisbaixa, nunca, nem mesmo quando era lavadeira, havia sido tão humilhada em toda sua vida. Ainda mais de uma forma tão vergonhosa. Apesar de que a ideia daquela secretária ter visto sua lingerie a excitava de certa forma. Mas no que estava pensando, ela não poderia ter se sentido atraída… muito menos por alguém que se mostrou tão grosseira no fim. De todo jeito, aquilo não importava, pois assim que Juliano soubesse do ocorrido, a demitiria. Quanto ao plano, pelo visto ela teria que aceitar: Estava condenada a passar o resto da vida se sentindo moldada, artificial, porém pelo menos tinha tido alguns momentos de diversão, cortesia de uma certa pessoa em quem havia derramado champanhe por acidente…
Zélia girou maçaneta com as mãos trêmulas enquanto já escutava em sua mente a bronca que estava por vir.
— Senhor Juliano!
— Ah, Zélia, pode entrar.
— Obrigada. — Ela se sentou cabisbaixa. Ela geralmente sempre evitava olhar o chefe nos olhos, porém naquele possuía uma razão ainda mais plausível para tal atitude.
— Então, Zélia, você trouxe os contratos que eu te pedi?
Ela respirou fundo antes de começar.
— Eu consegui terminar tudo hoje de manhã, mas aquela artista desastrada os arruinou quando esbarrou em mim. Eu não tive culpa nenhuma, foi aquela insolente e desfrutável ainda por cima… — ela sussurrou a última parte para si mesma, porém alto o suficiente para ser escutada pelo patrão.
— Aquela “desfrutável” é minha esposa…
A secretária por pouco não caiu para trás.
— Como é? Ela não se identificou, como eu poderia saber? — Sua voz saiu trêmula.
— Pelo jeito você é a única mulher no Rio de Janeiro que não se interessa pelos tabloides.
Zélia cerrou os punhos de forma discreta, não era a primeira vez que Juliano fazia um comentário tão insolente na sua presença, ela tentava ignorar, já que precisava do emprego, porém estava cada vez mais difícil.
— Me desculpe. — Seus dentes se tensionaram entre o sorriso falso. — Na próxima vez eu vou considerar que ler tabloides pode ser útil para meu trabalho.
O comentário sarcástico não passou despercebido pelo magnata insolente que a encarou como um predador a sua carniça.
— Sua permanência na empresa está por um triz, não pense que esqueci todos os erros cometidos anteriormente. Os deixei passar porque sou um homem muito caridoso, mas insultar minha esposa foi inadmissível.
Apesar do sermão, Zélia não pôde evitar pensar em como era um desperdício alguém com tantos quanto aquela aspirante a artista ser esposa de um homem tão bruto e rude quanto seu chefe. Seu peito doía ao imaginar que Juliano seria responsável por explorar o que estaria por baixo da peça íntima tão atraente, a inveja a dominou de forma involuntária, pois mesmo depois do chilique e de ter sido ensopada, a ideia de realizar tal “missão” no lugar do machista à sua frente soava extremamente excitante ao seu imaginário…
Clarice caminhou para o quarto e encarou mais uma vez o seu rascunho. Ali naqueles traços ainda iniciantes estavam escritas tantas memórias, o primeiro pincel que havia ganhado de sua mãe, a primeira vez que havia segurado uma tela… O momento em que decidiu que queria se dedicar a arte… Tudo parte da sua história, história essa que agora se encontrava apagada por um sobrenome de valor e um marido que pelo visto só a enxergava como boneca de luxo, criada apenas para satisfazê-lo e se comportar. Ela se jogou na cama gritando em frustração… porém uma voz parecia sussurrar para que continuasse tentando. Assim, de repente a mulher abriu um sorriso ao se lembrar de que Juliano podia impedi-la de desenhar as embalagens da empresa dele, mas não podia impedi-la de pintar na própria casa.
Apressada, pegou uma tela e pincel. Sua primeira ideia, como de costume, foi esboçar uma flor, entretanto sua mente foi tomada pelas imagens de mais cedo, o momento em que entrou na sala do marido com empolgação, apoiada pela bela secretária do sorriso brilhante, mesmo não sendo muito atenta a pessoas, Clarice decorou aquele rosto em apenas um segundo, aqueles olhos cheios de empolgação e de carência, os lábios rosados dos quais ela tinha curiosidade de sentir o gosto… Quando deu por si, aquele mesmo rosto, que povoava sua mente desde aquele instante, estava ali, perfeitamente traduzido na tela.
Ela encarou o próprio trabalho, chocada pela facilidade com que aqueles traços haviam saído. Seus dedos pareciam ter sido guiados pela alegria que povoava seu coração ao se recordar daquele rosto angelical. Aquela obra prima, no entanto, precisava ser escondida a sete chaves, pois ela nem queria pensar se algum empregado encontrasse e mostrasse a Juliano… O desastre seria completo. Por isso ela decidiu guardá-la para si mesma, como um suspiro e uma lembrança de sua liberdade.
Enquanto sentia a respiração de Juliano mais perto do que gostaria, Zélia teve sua mente inundada pelas lembranças de como havia chegado até ali. Sonhadora e otimista, há não muito tempo, deixou Minas Gerais em direção a capital, a fim de perseguir seu sonho de se tornar uma perfumista renomada, mas, principalmente, dar uma vida melhor a sua família. Seu primeiro passo na capital não poderia ser outro a não ser procurar a maior empresa no ramo. A perfumaria Carioca. Com seu projeto na mão e um sorriso esperançoso no rosto, ela caminhou até o mesmo escritório onde atualmente passava seus dias e pediu para ver o dono. Na primeira vez, foi esnobada, porém não iria desistir, até que certo dia, o magnata finalmente decidiu recebê-la. Seus olhos amedrontados e fios pretos cobertos de gel fizeram suas mãos tremerem à primeira vista. Contudo era seu sonho.
— Muito bem, senhorita… — indagou sem tirar os olhos dos papéis em suas mãos.
— Zélia — ela afirmou mais alto do que gostaria na tentativa de lembrá-lo de sua presença.
— Certo, me diga, Zélia, o que te traz aqui na minha sala e por que tanta insistência?
A jovem respirou fundo:
— Bom, senhor Juliano, estou aqui com um produto capaz de agregar bastante à sua empresa.
O empresário ainda sem lhe dar a devida atenção indagou:
— Certo e quem é o perfumista responsável?
— Sou eu mesma!
Juliano finalmente se deu ao trabalho de largar os papéis e encarar como se estivesse diante de um extraterrestre.
— Como é? Uma mulher perfumista?
A jovem engoliu seco e tentou manter o sorriso no rosto, afinal sempre soube que não seria fácil entrar em um ramo dominado por homens.
— Eu sei que por enquanto não é muito comum, mas eu tenho as melhores recomendações, sou formada e meus professores…
— É, Zélia, não é? Olha eu até acho legal que você tenha se aventurado dessa forma, provavelmente para fazer alguns perfumes para o seu marido… — Ela teve que conter a risada, se ele soubesse do que ela realmente gostava…
— E por que não? — Quis indagar, porém seu bom senso a impediu, afinal, aquela era sua melhor chance. — Eu não me aventurei, eu me especializei, fiz inúmeros testes, vendi para meus vizinhos e todos… — tentou argumentar, mas foi novamente interrompida como se naquele momento já fosse uma empregada.
— Vendeu para seus vizinhos? — zombou. — Olha só, se quiser mesmo trabalhar aqui na perfumaria Carioca, eu posso te oferecer um cargo mais adequado…
— Como eu estava dizendo, ofender a minha esposa, foi inadmissível. — A voz do empresário a arrancou de seus pensamentos.
— Eu sei… Já pedi desculpas — afirmou controlando a vontade de acertar aquele rosto.
O magnata segurou um de seus fios de cabelos em um gesto autoritário que fez o corpo de Zélia se enrijecer por inteiro em alerta.
— O que eu faço com você? Apesar dos erros, tem sido uma ótima secretária, pontual, obediente e bela…
O coração da aspirante a perfumista saltou diante do último “elogio”.
— Uma pena eu ter que te demitir.
A mulher de franja castanha não era do tipo que costumava se importar, contudo além do seu sonho, precisava daquele cargo para sobreviver, se não como conseguiria se manter no Rio de Janeiro?
— Por favor, senhor Juliano, eu prometo que isso nunca mais irá acontecer.
O dono da empresa deu um sorriso malicioso diante da vulnerabilidade da mulher à sua frente.
— Bom, tem um outro jeito de você continuar aqui, na verdade eu consideraria até mesmo uma promoção.
Zélia cruzou os braços já desconfiada.
— Promoção? — Sua voz saiu trêmula.
— É, seriam dois cargos, você continuaria como minha secretária, mas teria também que cumprir outro tipo de funções.
Ele cortou os centímetros que ainda os separam e segurou sua face na tentativa de forçar um beijo. Zélia todavia tinha total conhecimento de como se defender e de forma automática, realizou seu desejo de deixar uma marca naquele rosto esnobe.
O impacto fez Juliano se afastar enquanto gemia e a amaldiçoava através de murmúrios.
— Covarde.
Atordoada, a mulher correu para fora o mais depressa que suas pernas ainda trêmulas conseguiam. Não dava para acreditar em um absurdo daqueles. Quer dizer, desde o primeiro instante, sempre soube que o patrão não era flor que se cheirasse, porém, o assédio passava de todos os limites. Nem mesmo seu sonho valia tamanha humilhação. A repulsa corria por todo o seu corpo diante da ideia de quase ser tocada pelo nojento. O que mais a revoltava, não era ter perdido o emprego, mas sim o fato de que Juliano sairia impune e ainda teria uma beldade o esperando em casa com uma lingerie vermelha…
Zélia se indagou como uma mulher tão encantadora era capaz de aturar um homem como Juliano? Teria sido uma união por interesse? Bom, se fosse o caso ela não teria se dado ao trabalho de ir até o escritório do marido daquela forma… Ela havia dito algo sobre se tornar uma pintora, talvez o dono da perfumaria também tivesse arruinado seus sonhos a julgar pela forma atordoada como saiu daquela sala… Quem sabe até teria desistido da ideia de seduzi-lo! A hipótese a fez abrir um sorriso sincero e uma ideia brotar em sua mente. Se Clarice estivesse mesmo com raiva do marido, provavelmente a escutaria. Essa era a solução, talvez seu sonho não estivesse perdido afinal e ainda de quebra arruinaria ainda a reputação de Juliano para sua “bela esposa”.
Animada pela ideia, Zélia foi até uma floricultura, afinal não havia forma melhor de fazer as pazes, caso a senhora Alencar ainda estivesse ressentida.
— E então, o que vai ser? — O homem simpático de bigode indagou exibindo a diversidade de seu negócio.
O primeiro instinto de Zélia foi pensar em uma rosa, vermelha, afinal a madame parecia gostar da cor… porém, por algum motivo, seus olhos foram atraídos por um conjunto de pétalas roxas.
— Como elas se chamam? — Ela apontou com a cabeça.
— Ah, são flores da imperatriz, são um presente perfeito se estiver pensando em presentear alguém especial…
A ideia não era de todo ruim.
— Vou querer uma! — Não havia qualquer sinal de dúvida em seu semblante.
Capítulo 3
Os dedos de Clarice escorregaram pela obra de arte uma última vez antes que precisasse fechar a gaveta e não poder admirá-la. A consolava pensar até talvez esses momentos não fossem assim tão raros, visto que Juliano ficava girando a maior parte do tempo sempre chegando exausto ou raivoso devido às reuniões ou a aborrecimentos tolos com algum funcionário tolo. O empresário, dessa forma, não tinha muita paciência para conversas “fúteis”, apenas o essencial saía de seus lábios grossos, e às vezes nem isso. Na verdade, a artista nem se lembrava do último diálogo entre eles com duração superior a cinco minutos. Às vezes, entre os lençóis, o marido até dava sinal de vida, ou seja, apesar da rotina monótona, no fundo ainda a desejava. Pela primeira vez, no entanto, Clarice não se sentiu feliz com essa constatação. Quanta vergonha havia passado aquela manhã, tentando seduzir o próprio marido a fim de realizar seu sonho esquecido há tantos anos por ela própria.
A vergonha se dava principalmente pelo fato dela própria, por mais que não quisesse admitir, já não sentir nenhuma atração pelo dono da perfumaria. Para dizer a verdade, nunca havia sentido, não de verdade. Jovem e inocente, recém-chegada na capital, foi atraída pela oportunidade que Juliano se dispunha a oferecer-lhe e pela forma como pareceu valorizar sua arte. Era irônico perceber que, anos depois, nenhum desses dois motivos havia se concretizado. Mesmo sendo uma dama da sociedade, nunca conheceu um olheiro de uma galeria sequer e pela conversa da manhã, Juliano poderia continuar mentindo sobre qualquer coisa, menos sobre admirar sua arte, arte esta que ele mesmo havia chamado de “diversão”. Dessa forma, não havia a menor possibilidade de sentir desejo por ele novamente. Na realidade, há muito tempo ela cumpria suas “obrigações” de esposa apenas por cumprir. Se sentia uma boneca, sem emoções, incapaz de se excitar novamente, pelo menos até colocar os olhos na bela secretária. A lembrança de sua voz, a maneira como seus olhos se dirigiram para o que havia atrás de sua blusa transparente a fazia sentir arrepios em certos lugares que não podia mencionar. De repente se pegou imaginando como seria ter aquele lingerie tirada pelas delicadas mãos responsáveis por assinar os contratos de Juliano… Quanta loucura! Só podia ser efeito do estresse. Afinal, não era possível que tivesse se interessado por alguém naquela altura da vida, ainda mais por uma mulher… Clarice não tinha preconceito contra os chamados “invertidos”, porém a sociedade não pensava da mesma forma… Os obrigando a viver o amor na clandestinidade, escondidos e perseguidos como criminosos, quanta injustiça. Seria esse o futuro que queria para si mesma? Estaria disposta a trocar todo o conforto conquistado?
O som da campainha a arrancou de seus pensamentos. Quem poderia ser àquela hora? Bom, pelo menos uma visita a faria se distrair de certos pensamentos, mesmo que por alguns instantes.
Ela caminhou até a porta e por pouco não enfartou ao se deparar com a secretária na sua frente.
— Olá, Clarice, não é mesmo?
Se sentindo como se tivesse levado um soco no estômago, a dama da sociedade só foi capaz de fazer que sim com a cabeça.
— Sei que pessoas como você não devem guardar os rostos dos subalternos…
“Você não poderia estar mais errada, pois guardei os seus traços muito bem” a artista pensou consigo mesma antes de cruzar os braços a fim de disfarçar o nervosismo.
— Por isso vou me apresentar. Sou Zélia Rangel, secretária do seu marido. Aquela em que você derramou champanhe hoje mais cedo… — A empregada da perfumaria diminuiu a voz propositalmente na última parte, visando não despertar certas lembranças na esposa do patrão.
— Ah, sim, me lembro de você — começou a fitando de cima a baixo tentando de forma inútil evitar os arrepios que insistiam em subir por suas pernas.
Zélia, por sua vez, evitou encará-la nos olhos, já prevendo os insultos que viriam a seguir, afinal era isso que esse tipo de gente fazia com pessoas como ela. Contudo, para sua surpresa, a madame sedutora de forma gentil continuou:
— Sinto muito mais uma vez, você tinha razão, eu fui descuidada, tinha muitas coisas na cabeça naquele momento.
“Na cabeça realmente não, porém em outras partes do corpo…” a secretária pensou consigo mesma.
— Por isso acabei não vendo os contratos na sua mão e acabei nem ajudando. Eu poderia ter falado com meu marido, dizer que não foi sua culpa…
Ao contrário do que estava acostumada a receber da elite, Zélia não notou qualquer sinal de falsidade nas falas da aspirante a artista. Não havia dúvidas de que estava sendo sincera. Isso tornava sua missão ainda mais fácil.
— Imagina, tudo bem, ele não me demitiu nem nada.
— Que bom, eu não ia me perdoar se ele tivesse feito isso… — E agora posso te ver mais vezes, acrescentou mentalmente antes de se repreender.
— Mesmo assim, eu não tinha direito de falar com você daquela forma, mesmo que não fosse, você sabe…
— A esposa do dono.
— Isso. Eu trouxe um presente em sinal de paz, não sei se você conhece, mas são…
Clarice colocou os olhos no objeto e não pôde acreditar. Como a atraente trabalhadora teria descoberto suas origens e lembranças?
— Uma flor da Imperatriz. — Ela não se preocupou em conter o sorriso que surgiu de forma involuntária em seus lábios.
— Sim, então pelo jeito já ouviu falar…
— Na verdade…
Ela fez sinal para que a assistente de Juliano atravessasse a porta. Zélia colocou os pés trêmulos sobre os azulejos que provavelmente haviam custado um ano de seu salário. Seu olhar foi imediatamente atraído para os inúmeros quadros espalhados pelas paredes verde limão. Todos retratando as mesmas flores que haviam chamado sua atenção em meio a tantas no dia anterior. Não podia ser uma simples coincidência
— Realmente não mentiu. Gosta mesmo delas. — A visitante apontou para as obras penduradas
— São minhas favoritas.
A afirmação fez Zélia sorrir satisfeita por ter confiado em seu instinto.
— Suas e pelo jeito desse artista também!
Clarice suspirou, não costumava se gabar de suas obras, contudo por alguma razão desconhecida, se sentia à vontade o suficiente com a secretária para revelar:
— Na verdade, eu os pintei.
— Uau, então definitivamente não é uma desastrada!
As duas se perderam nos olhos uma da outra por algum instante. Zélia imaginou se ela ainda estaria com a lingerie por baixo daquele vestido preto que infelizmente não mostrava o bastante. Clarice, por sua vez, sentiu uma vontade enorme de continuar o desenho para muito além do rosto… No entanto, antes que uma das duas fosse capaz de cometer tal loucura, a razão de Clarice a fez despertar.
— Bom, obrigada pela flor. — Sua voz saiu tímida enquanto ela tentava esconder o turbilhão de emoções que se passava em seu peito.
— Não foi nada, eu já vou indo.
Clarice sabia que era o melhor para todos, contudo algo dentro de seu peito gritava para que impedisse a secretária de sair por aquela porta.
— Espera, você veio até aqui e foi muito gentil! Não quer ficar para jantar?
Da mesma forma que a madame, Zélia também estava ciente de que a melhor decisão seria recusar o convite, no entanto a ideia de passar mais tempo com a encantadora esposa do patrão era suficientemente tentadora para fazê-la ignorar a razão.
— Bom, não é uma boa ideia, quer dizer, eu conheço seu marido o suficiente para saber que ele não gostaria de me ver aqui… — afirmou sem entrar em detalhes.
A aspirante a artista suspirou, realmente Juliano às vezes poderia ser o homem mais rude do Rio de Janeiro, porém ela ainda tinha artimanhas o suficiente para convencê-lo.
— Fique tranquila, eu sou a dona dessa casa, é minha convidada e te prometo que o senhor Alencar não lhe faltará com educação na minha presença.
A confiança de Clarice e a forma como ela havia se referido ao marido de forma tão fria, fizeram outro sorriso surgir nos lábios de Zélia, que sem pensar duas vezes aceitou o convite, contudo não iria ficar parada vendo a gentil anfitriã organizar tudo. Mesmo tendo inúmeros empregados e uma governanta, Clarice ainda gostava de realizar algumas tarefas sozinha, como por exemplo arrumar a mesa.
Zélia segurou os pratos de porcelana como se fossem moedas de ouro. A empregada da perfumaria nunca havia chegado tão perto de um artefato tão valioso. A raiva subiu em seu peito mais uma vez ao se dar conta de que enquanto um homem tão arrogante quanto Juliano tinha acesso a tantos luxos, ela mal sabia se conseguiria pagar o aluguel de um quarto minúsculo em uma pensão no subúrbio da cidade. Sua ira, no entanto, se dissolveu quando a doce voz de Clarice indagou.
— Juliano e eu ganhamos esse conjunto de casamento do homem que se tornou o atual prefeito… Para ser sincera eu achei super brega, mas claro, não pude dizer nada, tive que sorrir e tecer elogios a esse tom de azul super sem graça, como uma verdadeira pateta.
A afirmação fez Zélia cair na risada.
— Eu posso imaginar, quer dizer, com aquele bigodinho ridículo é mesmo impossível levá-lo a sério.
Foi a vez de Clarice gargalhar e de repente ambas as risadas se juntaram em uma só, como se tivessem sido feitas para coexistirem.
— Eu sei que você, como artista, tem sua visão sobre os tons de cores, mas eu nunca vi um prato tão elegante e…
— Se gostou, pode ficar para você!
— Sério?
— Claro, afinal nunca mais vou conseguir encará-los sem me lembrar do bigode horrendo do prefeito.
Zélia sorriu satisfeita enquanto indagava sobre como uma mulher tão autêntica, divertida, charmosa e atraente teria ido parar no altar com um ser humano tão desprezível quanto o dono da perfumaria.
— Obrigada. — Sua voz saiu em forma de um sussurro.
— Imagina, é o mínimo! — Em um movimento descuidado, a dona da casa segurou de leve a mão da secretária e esse pequeno gesto foi o suficiente para desencadear mais uma cadeia de arrepios por todo o seu corpo. Droga. Contudo, antes que tivesse a chance de cometer alguma loucura ainda maior, uma voz masculina a impediu.
— O que está acontecendo aqui? — Juliano cruzou os braços enquanto as fitava em desaprovação.
Clarice sentiu seu coração sair pela boca, como se tivesse acabado de ter sido pega cometendo adultério, quer dizer, não havia acontecido nada demais… pelos menos até aquele instante, afinal, se o marido não tivesse chegado, ela não sabia até onde os arrepios em seu corpo seriam capazes de levá-la.
— Ah, Juliano, oi. Não preciso nem perguntar se conhece a Zélia.
— Claro, minha secretária que não deveria estar aqui.
— Não seja grosseiro. Ela foi muito gentil vindo até aqui. Então a convidei para jantar!
— Clarice, está maluca? Quantas vezes já te alertei sobre a proximidade com os subalternos.
O magnata advertiu como se a secretária não estivesse ali.
— Juliano, olha a educação, não me faça passar vergonha. Zélia é uma moça muito educada!
— Educada? Ela te ofendeu.
— Sim, porque eu, em um momento de descuido, molhei os contratos que ela passou a manhã inteira fazendo. Por isso, se ainda estiver bravo, fique bravo comigo, agora será que podemos jantar?
O empresário encarou a assistente como se estivesse diante de uma praga que queria eliminar, porém, em respeito a esposa, ele se sentou e passou o resto do jantar em silêncio. Zélia e Clarice no entanto conversaram sobre arte, moda e tudo mais, como se já se conhecem há séculos.
— Muito bem, eu agradeço a hospitalidade, Clarice. — Ela omitiu o nome do patrão justamente com a intenção de provocá-lo. — Porém agora realmente preciso ir.
Contudo antes que ela tivesse a chance de girar a maçaneta, um trovão a impediu.
A dona da casa olhou pela janela antes de afirmar:
— Está caindo um temporal lá fora, tem certeza de que vai sair assim?
— Imagina, já encarei situação muito piores. Bom, minha casa não é muito longe, então a pé devo chegar em uns vinte minutos.
Clarice se horrorizou.
— A pé? Nessa tempestade, céus. Claro que não, imagina, pode pegar uma pneumonia, nós temos espeço o bastante aqui.
Juliano, que até o momento não estava prestando atenção na conversa, se manifestou.
— O quê? Uma subalterna dormindo em um dos meus quartos de hóspedes? Nem pensar.
— Juliano, eu não vou deixar a pobre da moça ir na chuva desse jeito. — A aspirante a artista se impôs.
Mas uma vez, o magnata suspirou antes de ceder.
— Certo, ela pode ficar, porém dorme no sofá.
— Juliano, isso é…
— Não, Clarisse, imagina, o sofá está ótimo, já dormi em lugares muito piores… — se limitou a explicar.
— Tem certeza?
— Claro!
— Bom, se está resolvido, eu vou dormir, mas espero não te ver aqui amanhã. — Ele apontou os olhos como armas em direção a secretária antes de se retirar.
— Não liga para ele, o Juliano pode ser rude às vezes… — A dona da casa se explicou.
— Imagina, sei bem como é, de toda forma, obrigada por me defender.
— Imagina, eu não fiz nada demais.
— Fez sim, quer dizer, ninguém nunca foi tão gentil comigo!
Clarice sentiu suas bochechas queimarem, ela seria capaz de esquecer todas as regras de etiqueta para provar o gosto daqueles lábios proibidos, porém a razão novamente a impediu.
— Bom, eu vou pegar uma roupa de cama limpa para você.
As tempestades sempre foram motivo de terror para Zélia, talvez porque tenha crescido em uma casa com teto de madeira frágil. Seu coração saltava a cada relâmpago, porém não poderia gritar e correr o risco de acordar o rabugento do patrão, então, em uma tentativa de se acalmar, ela foi até a cozinha na ponta dos pés. Contudo, não evitou um grito quando viu uma sombra se mexendo.
A luz se acendeu segundos depois, revelando o belo rosto de Clarice à sua frente.


Eu nem assisti a novela inteira, fiquei pegando uns pedacinhos quando passava na frente da TV, mas eu sempre tinha vontade de esfregar a cara do Juliano no asfalto. Aqui, aparentemente vai permanecer a vontade, né HAHAHAHAH
Bora que eu quero ver essas mulheres florescerem!
não é??? Ele era a personificação do cara babaca e machista. E você tem razão,aqui essa vontade vai permanecer igual kkkkkk. Só digo que elas irão florecer muuuito…
Eita, Zélia. Mudou a história, mas ainda tem o ar meio vilanesco, né? NHAHAHAHAH
E Juliano continua desprezível, alguém joga ele na frente do bonde porque não faz falta nenhuma, por favor?
Quero ver essas duas se unindo contra o homem <3
siiiim kkkkkk TUDO que eu queria ver na novela era alguém ter jogado o Juliano em umbonde. Siiim,essas duas unidas jamais serão vencidas!!!! <3
Nossinhora, a Clarice aparecendo igual assombração no final do capítulo OUASBDNOIASDO
E Juliano não dá uma dentro, né? O ranço só aumenta a cada aparição. E aí, será que o romance começa agora?
kkkkkkkkkkkkk O Juliano não tem jeito, como dizem , ele não se ajuda KKKKK Será que essas duas vão se entregar ao sentimento???