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Natashia Kitamura
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Temporada #002
Ideia #003

Love On The Brain
Rihanna

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Nossa Música 2

  – Caramba, cara, o que é que está te perturbando tanto? – Tomás jogou o console do videogame ao seu lado no sofá, ao mesmo tempo em que eu virava minha cabeça para ele, não compreendendo sua explosão.
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  Tudo bem, nós havíamos perdido no jogo? Havíamos. Eu havia sido o culpado? Sim. Mas Tomás nunca foi de se importar em perder – pelo menos, não tanto quanto Bruno, que ainda não havia chego.
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  – Você sabe que esse não é The Witcher, né? – ele apontou para a TV, que mostrava o resultado do jogo até então. Não era bom, tudo bem. – Ta rolando alguma coisa no trabalho?
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  Imediatamente, a imagem de veio à minha mente. Ela poderia ter começado como trabalho, mas acabou sendo muito mais do que isso.
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  Quando se trabalha no mundo do entretenimento, é normal que as pessoas tenham uma visão errônea sobre você. A maioria dos meus clientes são do sexo feminino; acho, sim, muito confortável conviver com elas, ao invés de estar rodeado de homens de terno e gravata, como acontece com Bruno, ou pior, homens sem nenhuma noção de estilo, como grande parte dos amigos de Vitor.
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  Sempre fui chamado de gay, como se a palavra em si fosse uma ofensa. Convivo com muitos gays; digo, sempre, que se realmente fosse um, teria muito mais sucesso profissional. Acredito, vendo com meus próprios olhos, que eles possuem um quê social que outras pessoas não têm. Infelizmente, não sou como eles, nem no quesito social, muito menos no quesito se interessar amorosamente. Tenho, inclusive, muito mau gosto com as mulheres; costumo me interessar pelas que querem sempre mais do que podem. Dessa vez, excedi minhas expectativas, gostando de uma que, aparentemente, tem como hobby, brincar com o coração alheio.
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  Conheci através de um contrato que precisava fechar entre um produtor e uma atriz que estava em ascensão. Naquela época, há quatro anos, eu ainda estava perdido nos prazeres que o mundo dos famosos tinha a oferecer. É incrivelmente mais agradável viver nesse meio, sem ser realmente famoso. Meu trabalho é me manter reconhecido pelos artistas, não pelas pessoas comuns.
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  O contrato deveria ser fechado até sexta, era quinta e eu ainda não havia recebido nenhuma resposta da artista ou seu representante. Assim, decidi, em um impulso, prestar uma visita à agência. quem me atendeu, porque disse ter reconhecido meu nome ao ouvir a secretária informar a uma das funcionárias da empresa. Ela, em seu papel de diretora de recrutamento, tinha interesse em criar relação com o homem que andava na boca das celebridades, como o milagreiro – nunca me vi como um.
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  A história é simples e bem curta. Tivemos essa breve reunião, que foi estendida para um happy hour em plena terça-feira. Bebemos, conversamos e encontramos coisas em comum. Ela me pareceu uma mulher inteligente e perspicaz, coisas que, admito, fazem meu muro profissional estremecer. O fato de ser alguns anos mais velha que eu também era um extra em seu charme. Eu nunca havia saído com mulheres mais velhas, mas aquela, em especial, me fazia querer leva-la para casa.
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  É óbvio que não a levei. Mantive contato pelos dias que seguiram, até que consegui fechar o contrato entre as partes interessadas na sexta de manhã. Para celebrar, a agência, satisfeita, me chamou para fazer parte da comemoração, já que a outra parte do contrato era a maior emissora do Brasil.
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  Terminei a noite na casa de .
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  Também comecei o dia seguinte lá.
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  E assim foi, durante três meses.
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  Achei, como as garotas em novelas americanas fazem, que ela era a minha princesa encantada. Achei, sim, que nosso relacionamento fosse se tornar algo mais, afinal, quando uma mulher faz um homem se sentir como um, ele deve venerá-la. Pelo menos, é o que eu sempre digo – e elas sempre adoram.
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  Não foi o que aconteceu. Claro. era poderosa demais para ficar com um homem e, pelo que sua fama ditava – fui dolorosamente saber tarde demais –, ela amava enlaça-los, para então acabar com seus corações e jogá-los fora. Foi o que aconteceu comigo.
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  Não posso dizer que a superei, mesmo depois de quatro anos, porque não houve – ainda, espero – uma mulher que me fizesse sentir as coisas que ela fez. Não a culpo por ser da maneira que é, ela deve ter seus motivos; mas, às vezes, ela é vítima das minhas má intenções, quando estou de mau humor ou em um celibato maior do que gostaria.
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  – Você a encontrou? – a voz de Tomás soou no local.
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  O bom de ter melhores amigos, é que você não precisa de filtro, pois mesmo sendo motivo de piada, sabe que eles não fazem para te machucar.
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  No entanto, o lado ruim de ter amigos, é que você está tão acostumado a não precisar de filtro, que às vezes acaba falando mais do que deveria. Sou a favor de manter alguns segredos comigo. Ninguém precisa, necessariamente, saber absolutamente de tudo sobre a vida de outra pessoa, mesmo ela sendo a mãe, o pai ou os melhores amigos.
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  Suspirei, balançando a cabeça.
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  – Surgiu algum boato?
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  – Não tem a ver com ela, Tomás.
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  – U-hum… Tudo bem, cara – senti um tapinha em minhas costas –, se você quiser falar, estou aqui.
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  Ficamos os dois calados.
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  Olhei para a porta, esperando o retorno de Vitor e Leticia. Eles já haviam saído a algumas horas. Deveriam estar retornando. Será que o trânsito estava pesado?
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  – Quer outra? – Tomás ergueu a taça do champanhe que Leticia havia trazido. Peguei a minha e a entreguei para ele. – Encontrei com aquela moreninha bonita que foi na sua festa no começo do ano. – o ouvi, enquanto ia até o cooler e pegava a garrafa. – Parece que está solteira. Trocamos número. Devo ligar?
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  – Você quer saber o que eu acho de você sair com uma mulher? Eu acho ofensivo, você jurou seu amor a mim, lembra?
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  Ouvi a risada de Tomás como resposta.
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  – Dizem que ela gosta de ser mimada. Procura sempre um rosto bonito.
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  – Que eu tenho – ele disse em um sorriso, entregando a minha taça, ao mesmo tempo em que Bruno entrava ao mesmo tempo em que tirava a gravata do pescoço e jogava a mochila e o terno em uma cadeira.
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  – Que merda de trânsito! – ele se joga no sofá ao lado de Tomás. Olha para a taça recém enchida na mão dele e o pega. – Valeu! É a que a Leti trouxe?
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  Abro um sorriso ao ver Tomás levantar para pegar outra taça, ao mesmo tempo que dá um tapa na cabeça de Bruno, enquanto este vira o líquido para dentro.
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  – Cadê os dois? Traz essa garrafa, brother, estou seco por um álcool. Fiquei pensando nessa champanhe o caminho inteiro.
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  – Foram ao mercado. – respondi. – Conseguiu fechar o contrato?
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  – Eles me pediram o final de semana. Me venceram pelo cansaço.
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  – E desde quando você se cansa, Bruno?
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  Ele suspirou e inclinou o corpo para frente.
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  – Brother… – suspirou – Esse Brunão aqui não é mais como antes. Eu só queria sextar.
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  Soltei uma risada.
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  – Duvido – tomei mais um gole da bebida, enquanto voltava a pegar o console do videogame –, você passou é a noite em claro com uma mulher. Você sabe que sua mãe ainda liga pra gente quando você não volta, né?
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  Bruno solta um palavrão, ao mesmo tempo que Tomás se senta, rindo, com mais coisa para petiscarmos. Cinco minutos depois, Leticia e Vitor entram no local com as compras. Nos levantamos para ajudar, mas paramos os três na porta da cozinha, enquanto vemos Leticia às risadinhas com Vitor – que não era nunca de ter esse tipo de comportamento.
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  – O que é que ta rolando aqui? – Tomás é quem pergunta, enquanto Bruno e eu cruzamos os braços.
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  Os dois nos encaram e se colocam um ao lado do outro, como se estivessem prestes a falar com os pais sobre algo que fizeram de errado.
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  – Então? – Bruno os incentivou a começar.
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  O silêncio permaneceu por um tempo, em que foi preenchido com o som do videogame e as sacolas que se mexiam de acordo com a corrente de vento que acontecia no apartamento de Vitor.
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  Segundos depois, o vimos pegar a mão de Leticia e dizer, de forma meio robótica:
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  – Eu e Leticia estamos namorando.
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  Ficamos os três parados, estáticos, olhando para os dois, até que desatamos a fazer o que queríamos, ajudar com as compras e voltar para a sala, para continuar a jogar videogame.
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  – Espere! Vocês não têm nada para falar? – Leticia veio até nós, na sala.
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  Nos entreolhamos.
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  – Leti, não é como se precisássemos aprovar o relacionamento de vocês – Bruno se serviu de mais champanhe e olhou para os dois, que permaneciam em pé, próximos da cozinha.
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  – É, a única surpresa dessa notícia, é que Vitor é o primeiro de nós em um relacionamento sério com alguém – disse, recebendo um tapa de Leticia e risadas dos outros três.
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  – Só não fiquem se beijando perto de mim, eca – Tomás fingiu estremecer e pegou o console do videogame.
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  A notícia, na verdade, havia sido uma surpresa para nós três. Mas sabíamos que Leticia era preocupada demais com nossa amizade – porque Vitor era o único de nós que não tinha amizades fora do nosso grupo –, e também tínhamos noção de que era melhor que ela namorasse um de nós, do que alguém que quisesse se meter na nossa relação.
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—-

  – Você realmente está em outro patamar – a voz de Leticia soou da porta balcão, que conectava a sala com a varanda no estilo gourmet –, os três estão mortos. – apontou para trás, onde Tomás havia dormido no sofá, e Bruno, no chão. Vitor provavelmente trabalhava, já que era um hábito seu da madrugada.
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  – A profissão exige – ergo os ombros, ouvindo um riso nasal dela, enquanto sentava ao meu lado.
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  – Parece que alguém continua te dando pesadelos…
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  Olhei para ela, que abraçava os joelhos e me olhava com carinho. Leticia, para mim, é a irmã que nunca tive. Vindo de uma família de 4 homens, foi um susto para meu pai, fazendeiro, e minha mãe, dona de casa, quando decidi me mudar para São Paulo, para a casa de meus tios, a fim de cursas Relações Públicas. Eles achavam que, assim como meus 3 irmãos mais velhos, eu fosse me envolver com algo relacionado à fazenda, economia ou administração. Mas eu nunca fui feito para ficar no meio do mato ou atrás de uma mesa.
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  Quando mencionei sobre o que exatamente iria trabalhar, houve um enorme rebuliço, tanto pela parte dos meus pais, quanto dos meus irmãos. Ainda assim, como uma boa família deve ser, mesmo com todas as ameaças, me observaram de longe, enquanto eu construía meu próprio caminho. Meu rápido crescimento profissional os fez rapidamente mudar de ideia e ser o orgulho da família, principalmente porque, para compensar minha ausência, envio presentes de luxo que podem esbanjar para seus amigos – desde que eu apareça para o dia das mães e o natal.
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  Foi a amizade de Leticia que deu o gatilho para o que eu seguiria em vida. Com a carreira dela, tive contato com profissionais da área e outras modelos, observando, de longe, como era o comportamento comum de todos eles, e treinar, em minha mente, a maneira que eu resolveria determinados problemas que aconteciam. Na hora de colocar em prática, foi mais fácil que eu imaginava. Acabei me sobressaindo por conta disso. Já que Leticia ficou famosa muito mais cedo do que qualquer um dos homens do grupo, não tenho vergonha em dizer que ela foi quem mais me deu apoio, me levando a eventos e me apresentando a quem era importante de verdade. Hoje, sou eu quem consigo bons trabalhos para Leticia.
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  – Estou bem – digo, mais para mim mesmo do que para ela.
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  – Não, não está. Você está apaixonado.
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  Solto uma risada de desgosto. Apaixonado. Que piada. Ri de vários amigos que se mostraram apaixonados por suas namoradas, noivas e esposas, achando que aquilo jamais aconteceria comigo porque, eu sabia, ainda havia muito terreno para ser explorado no mundo.
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  – Eu não sei o que foi que ela fez – murmuro, abaixando a cabeça.
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  – Você chegou a correr atrás dela?
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  Olhei para Leticia, como se a fizesse olhar para quem estava direcionando aquela pergunta. Ela suspirou e desviou o olhar para o céu.
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  – Eu quem tomei a iniciativa hoje. Com Vitor.
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  – Não poderia ser diferente. Quando se trata de amor, vamos combinar que ele é uma mula. Empaca e não sai do lugar.
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  – Eu não achava assim – ela disse, erguendo os ombros –, eu achava que ele iria, eventualmente, enxergar as minhas intenções. Vitor consegue ser bem direto quando quer. Ou quando tem certeza do que está sentindo. Mas sabe, eu cansei de esperar.
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  – Você suportou bem.
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  – Mais de 20 anos – ela deu uma fraca risada e então olhou para mim – Você consegue esperar tudo isso?
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  Não respondi. Leticia e Vitor são um caso completamente diferente de mim e . Para começar, faz anos que não a vejo, um e meio, para ser exato. Me parece que ela foi morar na Itália, porque encontrou um cara italiano.
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  – Eu acho – ela voltou a falar –, que a parte que não esquece, é porque não teve um término definido. Quero dizer, em algum lugar aí dentro – apontou para mim –, ainda não acabou.
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  Mas havia acabado. Ela deixou bem claro, ao aparecer nas centenas de eventos que comparecemos depois, cada um com um parceiro diferente, enquanto eu apenas decidi fazer meu trabalho.
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  – Você não é o tipo de cara que desiste rápido de algo, – Leticia continuou – Eu não entendo o porquê de você estar agoniando durante todo esse tempo, quando poderia muito bem ter colocado ela contra a parede e dado um fim. E isso faz com que qualquer um tire a conclusão de que você está com medo do fim. Você pode brigar comigo agora, mas quando estiver sozinho e pronto para realmente pensar no assunto, verá que estou certa. Então, lembrará da minha dica: fale logo com ela.
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  Não a respondi, porque, assim como ela disse, eu estava pronto para uma discussão. Mas não adiantava brigar com Leti. Ela sempre arranja alguma coisa para estar certa, mesmo inicialmente não estando.
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  – E se o fim for como está pensando, nós estaremos aqui. Eu e aqueles três bêbados lá dentro – apontou mais uma vez para trás, se levantando e me dando um abraço, antes de entrar.
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  Voltei meu olhar para o céu noturno. Não deveria demorar para começar a amanhecer. Suspirei e fechei meus olhos, pensando no que ela havia falado; tentando fugir dos meus próprios pensamentos.
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  – Você vai voltar? – Bruno perguntou, enquanto eu colocava um casaco.
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  Domingo. Havia recebido uma ligação do meu chefe, pedindo para fazer o primeiro contato com uma nova modelo, para uma coleção de um estilista que estava para vir ao Brasil e queria ver algumas opções de mulheres com um tipo físico específico.
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  Como todas as vezes que nos reuníamos na casa de alguém, levava um conjunto uniforme, só para casos como este, em que surge um trabalho de última hora e não tenho tempo de me deslocar até minha residência.
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  – Acho que não. – respondo, colocando o terno. – Eu preciso garantir que nenhuma outra agência reserve ela em nosso lugar. Mas vai depender se a responsável já recebeu alguma oferta ou não. Loucura. Geralmente preciso levar a pessoa para comer. De qualquer maneira vocês iriam embora hoje, não?
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  – Eu vou amanhã direto para o trabalho – Bruno ergueu a mão, recebendo um olhar de Leticia –, mas talvez decida ir hoje.
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  – Eu tenho um compromisso mais tarde, vou hoje – Tomás respondeu.
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  – Bom, vamos nos falando. Posso deixar a mochila aqui, V?
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  – Pode – ele respondeu, entregando uma xícara de café para mim.
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  – Obrigado. Se eu não voltar hoje, peço para alguém passar para pegar. Te aviso.
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  Me despedi com um abraço de todos, um hábito que tínhamos, e saí da casa, já chamando o Uber para me levar ao endereço da minha vítima.
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  O caminho não foi curto, mas para São Paulo, qualquer lugar era consideravelmente longe. Após 30 minutos dentro do carro, saltei em frente a uma área residencial, com muros duas vezes o tamanho de um muro normal.
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  Toquei a campainha enquanto terminava de arrumar o colarinho e me identifiquei para a pessoa que atendeu, provavelmente uma funcionária. A porta automática abriu e dei de cara com outra porta, um sistema de segurança eficiente. Não fui alvo de perguntas, nem verificação, já que não carregava nada senão minha carteira.
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  Quando a segunda porta abriu, meu sorriso logo se desfez.
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  – .
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  – Boa tarde, .
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  Ela vestia um robe azul marinho e parecia muito à vontade. Seus cabelos escuros, apesar de soltos, não pareciam embaralhados, mas sim arrumados em uma boa escova. O rosto possuía o mínimo de maquiagem necessário para se passar um domingo em casa. Olhei ao redor, como se quisesse ter certeza de que não estava na casa dela, o que, de fato, não estava.
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  – Eu mudei.
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  – Ah – respondi, sem humor.
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  – Parece que Dovan te enviou novamente. Ele sempre em dificuldade em me convencer sobre um trabalho.
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  – Confesse, é o sotaque que atrapalha – volto à postura de profissional e a sigo para dentro de sua residência.
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  – Sim, o sotaque faz diferença – ela responde, me levando até um área social aberta, com um bar completo e acesso para uma piscina de três níveis. – E então ele manda você, seu fiel escudeiro.
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  – Alguém precisa fazê-lo ficar mais rico.
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  – Os empresários amam esse tipo de pessoa – ela olhou para mim com seus olhos castanhos, enquanto contornava o bar.
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  – Nem todos – lhe respondi quaisquer intenção que tivesse.
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   abriu um pequeno sorriso e começou a servir dois copos com gelo, depois enchendo com um dedo e meio de whisky.
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  – Como você está? – ela retornou à conversa, enquanto me entregava o copo.
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  – Bem, como deve ver – abro os braços. – E você? Achei que estava na Itália.
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  – Eu estive lá, sim. Há alguns meses. Voltei. A Itália, como era de se pensar, não é para mim.
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  – Não? Engraçado. Muitas mulheres dizem amar o lugar.
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  – Eu não sou como as outras mulheres – ela se sentou em um sofá, enquanto eu sentava em outro à sua frente.
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  – Não – olhei em seus olhos, que parecia sorrir para mim, achando a situação engraçada –, não é.
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  Ficamos alguns minutos naquela troca de olhares. Não ouvi nenhum som vindo de qualquer área da casa, o que poderia significar que ela estava sozinha. Domingo, também, não era um dia comum, mesmo para os mais ricos, de ter funcionários perambulando pela casa.
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  – Temos uma oferta muito interessante para sua agência, – disse, deixado o copo na mesa –, não sei que tipo de detalhes te passaram, mas talvez tenham se esquecido de dizer o nome do estilista.
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  – Sei bem o nome do estilista.
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  Ergui uma sobrancelha, surpreso. Ninguém, em sã consciência, recusaria um trabalho com o estilista de renome mundial com quem iríamos trabalhar.
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  – Ora, então o que a impede de fechar o contrato de sua modelo conosco?
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  – Nada.
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  Não me movi, ao contrário de , que moveu suas pernas em uma maneira que as expôs. Elas continuavam belas como a última vez que as vi, há alguns anos. Subi meus olhos por seu corpo, relembrando de cada parte dele, até cair em seus lábios, que estavam curvados em um sorriso malicioso.
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  Soltei um riso.
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  – Você fez Dovan surtar em um domingo, para que pudesse encontrar comigo?
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  – Não – ela misturou a bebida com seu dedo indicador, não quebrando o contato de seus olhos nos meus –, eu fiz Dovan surtar em um domingo, para que você viesse me procurar.
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  – O que você quer? – perguntei, após um breve silêncio.
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  – Relembrar. Quero me sentir nostálgica, .
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  – Bem, você deve ter alguns álbuns de fotos ou fita cassetes…
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  – Você entendeu bem o que quis dizer–
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  – Foi você quem terminou. – a cortei, vendo-a diminuir um pouco seu sorriso. – Lembra? Você se cansou, .
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  Ela não disse nada. Procurei algum sinal de que havia envelhecido, mas ela estava tão fabulosa quanto a última vez que a vi em uma festa. Sorridente, acompanhada de outro homem. Me ignorando, como seu eu tivesse sido um garoto de programa que contratou por algumas noites.
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  – Parece que feri seu orgulho.
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  – Você fez bem mais do que isso. Mas o que te importa? Estou aqui para falar de negócios. Como, aparentemente, você já sabe de tudo e não tinha a intenção de realmente não fechar o negócio, posso ligar para meu chefe, acalmar seu coração quase idoso e terminar o meu domingo de descanso.
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  Me levantei em um único impulso e comecei a fazer o caminho de volta para a porta. Fui impedido por sua mão, que me impediu.
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  Ao momento em que me virei para lhe dar uma boa lição, agiu como a mulher que era, dominante. Senti minhas costas em contato com a parede fria, mas não pude sentir nem um pouco do frescor dela, já que grudou seu corpo no meu, puxando meu rosto para encaixar nossos lábios.
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  A beijei com raiva. E também saudade. Seus lábios estavam exatamente da maneira que os deixei. Seu aroma de rosas permanecia o mesmo. Sua coxa ainda era macia e lisa.
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  – Eu quero você – ela sussurrou, seus olhos famintos me encarando.
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  Mas eu não deveria estar diferente, pois sua afirmação foi tudo o que precisei ouvir.
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  – Essa casa… – comecei a falar, deitado nu em sua cama – É permanente?
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  – Você quer saber se eu vou embora de novo? – em sua voz havia riso. Pude identificar. Estava chegando à conclusão de que não era quem gostava de desafios, mas sim eu. – Quem sabe?
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  Permaneci quieto por alguns instantes, sentindo seu dedo fazer desenhos em meu peitoral. Em um impulso, me sentei, desvencilhando de seu corpo e levantando.
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  – Aonde você vai?
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  – Ficar longe de você.
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  –
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  – Não me venha com essa voz aveludada. Você conseguiu o que queria, , então estou indo embora antes que me descarte você mesma – digo, colocando a cueca e em seguida a calça, em uma velocidade maior do que as retirei. – Você acha que sou palhaço? Que sou um instrumento para você tocar quando quiser?
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  Ela não respondeu. Ficou me assistindo, parecendo perturbada, de sua cama. Estava incrível. Me fazia querer voltar para lá, mas não iria. Não lhe daria esse prazer. Não me humilharia mais.
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  – Eu realmente te machuquei – ela comentou, séria – Eu imaginei que sim, já que não olhou para mim nos últimos eventos. Achei que fosse uma birra. Homens tendem a ser bem birrentos quando querem. Mas pensei que você voltaria para mim se eu tomasse a iniciativa.
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  Soltei um riso nasal, enquanto terminava de abotoar minha camisa.
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  – Claro. Bata com um pau no cachorro e então o atraia de volta oferecendo-lhe um biscoito.
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  – O problema não é você, querido…
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  – , por favor. – ergo a mão, olhando sério para ela. – Cale-se.
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  Por alguns segundos, ela respeitou minha ordem. Mas é claro que não me obedeceria. Por que ela o faria? Ninguém mandava em .
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  – Você acha que eu sou tudo o que sou, porque ouve das outras pessoas histórias incríveis de meus feitos com homens. Todos acham isso. – ela disse. – Ninguém domina a . Ela tem todos os homens em suas mãos. – soltou uma risada forçada. – Que piada. Vamos ser sinceros, . Tenho 42 anos. Sou o quê? 15 anos mais velha que você?
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  – Doze.
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  – Doze. Doze anos. Um garoto de 30 anos tem as qualidades de um homem, que nenhum outro homem na face da Terra tem.
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  A encaro sério, mas internamente confuso. Não conseguia entender aonde ela queria chegar. Seu rosto passou a ter uma expressão amarga. A vi se sentar e abraçar a colcha que lhe cobriu o corpo nu.
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  – Desde meu primeiro namorado, aos 14 anos, eu tive um péssimo gosto com homens. Todos. Você sabe os significado de todos, ? Todos, sem exceção. Todos me traíram com outra mulher. Quando se é muito traída, a sua autoestima vai lá para o chão. E então, quando cheguei a uma posição de superioridade, percebi que eu tinha vários homens aos meus pés. Bastava uma erguidinha de dedo para que eu lhes chutasse bem no meio de suas caras, como sempre quis fazer.
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  “Mas a boba ainda acreditava em amor. Que nem todos os homens são iguais. Tola. Uma vez atrás da outra fui sendo traída. Será que é um carma? De fato, fiquei com vários homens. Vários. Dezenas. Relacionamentos que achei durar, acabavam comigo sendo uma piada. Comi o pão que o diabo amassou. Corri anos atrás do meu prejuízo. Talvez fosse meu cérebro. Pensei uma vez. Ele insistia em ser coberto de amor. Durante um bom tempo achei que eu era a errada, quando tudo o que tinha que fazer, era dispensá-los antes que me traíssem.” Estalou os dedos. “Fácil assim.”
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  – E então você chegou, todo maravilhoso. Sabe que é um colírio para os olhos de muitas pessoas? – ela olhou para mim com o que identifiquei ser desejo. – Sim… Fiz de você minha próxima vítima. O que um garotinho saberia? Tudo o que eu precisava, era de um homem para me dar prazer, seja ele quem fosse. Você estava na boca de todo mundo, era como unir o útil, ao agradável.
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  “Mas você ficou. Ficou por meses. E cada encontro, era mais difícil me desvencilhar de você. Cada vez que você saía da minha cama, eu jurava que seria a última vez. E então você voltava, como se reivindicasse o seu lugar.”
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  Cruzei meus braços, achando engraçado o seu ponto de vista, comparado com o meu. Vi seu olhar longe de mim, em algum lugar lá atrás, no passado.
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  – E quando eu terminei com você, foi ainda pior. Você pareceu a menina que perdeu a virgindade e descobriu um mundo novo. Você aparecia cada vez mais e mais bonito. Sozinho, como se risse de mim, mostrando que, ao contrário de mim, que precisava de alguém para mostrar que segui em frente, conseguia me superar sozinho. – ela arrumou os cabelos e estalou a língua. – Você sabe quantas vezes perguntei de você ou mandei meu assistente pesquisar sobre seu status de relacionamento? Como é que você nunca se relacionou com alguma mulher? Como, diabo, eu seria capaz de provar para mim que você era igual aos outros homens, se não tinha nenhum escândalo envolvendo você e alguma piranha por aí?
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  “Decidi, então, me livrar de vez de você. A oportunidade de ir para a Itália surgiu e eu a agarrei como se fosse uma boia em alto mar. Achei que se fosse embora, você iria aparecer com alguém. Fiquei lá por alguns meses e nada.”
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  – Você ficou de olho em mim da Itália?
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  Eu poderia acha-la doente, se não estivesse tão pasmo com sua história. Ela estava quebrando todo o personagem que criei de si em minha mente.
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  – Você saiu com alguém desde mim?
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  – É óbvio que sim. – respondi, entre risos. – Você acha que eu ficaria celibato por 4 anos? Por você? Uma mulher que deixou claro que não me queria nem pintado de ouro? Pelo amor de Deus, , eu tinha 25 na época.
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  Ela riu.
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  – É mesmo. Você era um moleque. Mas agora é um homem. Você está com alguém?
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  – Você acha mesmo que eu teria transado com você se estivesse com alguém?
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  Ela não me respondeu.
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  – Ah, claro. Homens não são leais. Bem, , deixe de dizer uma coisa. Sim, talvez haja uma parcela da população masculina no mundo que não seja leal, assim como haja uma feminina que também não seja. Eu, por acaso, não faço parte desse número de estatística, porque eu, por acaso, nunca traí ninguém.
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  Não percebi que, passo a passo, fui me aproximando dela, até parar ao lado da cama, o lugar mais próximo dela, que me encarava séria, mas mordendo o canto do lábio.
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  – Agora, gostaria você me respondesse como essa mulher que se abriu para mim, não como a empresária que teve um passado merda com a parte da população masculina que quer espalhar semente pelo mundo afora. – inclinei para ela e lhe perguntei baixo. – Você está pronta para ter um relacionamento de verdade?
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  Permanecemos calados, um olhando nos olhos do outro, até ela abrir a boca e responder em um sussurro:
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  – Sim.
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  Sem mais delonga, grudei meus lábios nos dela, sentindo suas mãos virem direto até minha camisa, desabotoando todo o trabalho que eu havia acabado de fazer, abotoando-os. Em questão de segundos, estava mais uma vez pronto para amá-la. Dessa vez, como realmente deveria ser.
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—-

  – Enquanto estava na Itália, ouvi uma música. – ela quem começou a conversa, longos minutos depois de termos terminado a nossa segunda rodada.
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  – Que bom que não castigou seus ouvidos, os privando de ouvir música.
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  – Engraçadinho – seus cabelos estavam lindamente bagunçados como devia ser em um domingo. Ela inclinou para o lado e pegou o celular, mexendo em algumas coisas até que uma música começou a soar ao fundo.
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  – Conheço essa cantora.
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  – É da sua época. – ela brincou e riu quando a mordi. Eu ainda tinha que acertar algumas coisas com relação a esse pequeno detalhe. – Ela me fazia sempre lembrar de você. Das coisas que passei e de como lutei para não aceitar que você não era como os outros homens.
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  O som de Rihanna tocava nas caixas de som estrategicamente espalhadas pelo quarto. Fechei meus olhos e me deixei prestar atenção na letra, que falava sobre uma mulher que só queria ser amada pelo homem que ama.
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  Abri um pequeno sorriso, trazendo-a para meus braços.
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  – Eu gosto – olho para ela e beijo, ouvindo o seu riso.
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  – Do quê? De saber que me identifiquei com uma música como uma adolescente?
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  – Não – a beijei mais uma vez –, gosto de ver que minha mulher tem um lado que só eu conheço.
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  Ela sorriu entre meus beijos.
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  – Sua mulher, pode, então, adotar a música como nossa? Para que eu não esqueça o caminho que persegui?
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  Sorri, deslizando minha mão corpo acima.
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  – É claro. Apesar de que a interpretação correta seria outra – disse, distribuindo beijos por seu pescoço – A correta é: essa é a música que a faz lembrar do inferno que você viveu quando tentou ficar longe de mim.
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   soltou uma risada alta, enquanto eu ocupava minha boca com outra coisa. Com a mão livre, ela pegou seu celular e aumentou o som do ambiente para que pudéssemos adotar a tal da música como nossa.
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  A nossa música.
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Fim

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