Nos Seus Olhos
CAPÍTULO UM:
A noite havia acabado de cair, o sol havia definitivamente ido embora e agora eu e andávamos de mãos dadas do lugar que havíamos estacionado o carro até o salão escolhido para celebrarmos o noivado de , uma das minhas melhores amigas desde sempre.
Eu e sempre estivemos presentes uma na vida da outra. Nascemos no mesmo ano, com apenas alguns meses de diferença, e nossas mães também eram grandes amigas desde a adolescência. Crescemos praticamente como irmãs, compartilhando aniversários, feriados e até viagens em família. Nossas infâncias foram entrelaçadas de forma tão natural que, em muitos momentos, era difícil saber onde a história de uma terminava e a da outra começava.
Lembro-me de como passávamos tardes inteiras planejando nosso futuro, prometendo que estaríamos juntas em cada etapa da vida. E agora, lá estava ela, prestes a se casar, enquanto eu seguia meu caminho ao lado de . A cada passo em direção ao salão, uma mistura de nostalgia e felicidade me preenchia. Era estranho pensar em como o tempo havia passado rápido, mas também era reconfortante saber que algumas amizades realmente resistem a tudo.
Assim que entramos no salão, avistei , o noivo de e também meu amigo de infância. Seu sorriso se abriu ao me ver, e eu não hesitei em abraçá-lo apertado.
— ! — ele disse com a voz calorosa, mas havia algo em seu tom que me fez franzir o cenho. — Eu preciso falar com você… a sós.
Antes que eu pudesse questionar, ele se virou para com um sorriso amigável.
— Será rapidinho! Preciso da ajuda dela com uma surpresa para a .
assentiu sem desconfiar de nada, e me puxou gentilmente pelo braço para fora do salão. Meu estômago se revirou com a expressão séria dele.
— , o que foi? — perguntei, já preocupada.
Ele segurou meus ombros com firmeza, me fitando nos olhos.
— O , … ele veio.
— O quê? — soltei, sentindo o mundo girar por um instante.
Minhas pernas vacilaram e me apoiei nos braços de , tentando recuperar o equilíbrio. Senti a pressão baixar, e por um momento, o salão ao nosso redor pareceu distante.
Imagens de invadiram minha mente: nós dois rindo na infância, dividindo segredos na adolescência, e eu, completamente apaixonada por ele, mesmo sem coragem de admitir. E então, como um estalo, a lembrança do dia em que ele simplesmente desapareceu, sem explicações, há três anos…
— Como… como a sabia onde ele estava? — minha voz saiu fraca, quase num sussurro.
suspirou, apertando levemente meus ombros.
— Calma, . Não é tão simples assim. também ficou sem contato com ele por muito tempo. Ele apareceu de repente e… eu achei que você precisava saber antes de vê-lo.
Tentei controlar a respiração, mas meu coração batia acelerado. Parte de mim queria ir embora dali, mas outra parte… outra parte precisava entender o motivo de estar ali agora.
— Meu Deus , o que eu faço agora? — minha voz saiu embargada.
soltou um suspiro pesado e passou a mão pelos cabelos.
— Olha, fugir não vai resolver. Você sabe disso. Ele está aqui, e você vai acabar cruzando com ele em algum momento. É melhor encarar isso de frente.
— E se eu não conseguir? — sussurrei, sentindo o peito apertar.
— Você é mais forte do que pensa. Respira fundo, volta para o salão e tenta agir naturalmente. Se ele quiser falar com você, você decide o que fazer. Mas fugir agora só vai piorar as coisas.
Fechei os olhos por um instante, tentando absorver suas palavras. estava certo. Não tinha como evitar. Precisava enfrentar aquilo, por mais que doesse.
— Tudo bem, vou tentar. — minha voz ainda tremia, mas forcei um sorriso fraco.
sorriu de volta, apertando de leve meus ombros antes de me soltar.
— Eu estou aqui, qualquer coisa me chama, ok?
Assenti e, com o coração ainda acelerado, comecei a caminhar de volta para o salão, tentando reunir a coragem que eu sabia que precisaria.
Assim que entrei novamente no salão, meus olhos procuraram por — não, por . Lá estava ele, me esperando pacientemente com aquele sorriso calmo. Sem pensar duas vezes, caminhei até ele e o abracei com força, enterrando o rosto em seu peito. Como se aquele gesto pudesse me ancorar no presente, como se, ao sentir seu calor, eu pudesse afastar os fantasmas do passado.
me envolveu nos braços, surpreso com a intensidade do abraço, mas logo afagou meus cabelos.
— Está tudo bem? — ele perguntou baixinho.
Fechei os olhos por um segundo e respirei fundo.
— Está sim — respondi, sem muita convicção, mas precisava acreditar nisso. Porque naquele momento, era o meu agora. E eu precisava me lembrar disso.
🩹🩹🩹
Quando ergui o olhar, encontrei do outro lado do salão. Nossos olhos se cruzaram e, naquele instante, não foram necessárias palavras. Ela caminhou até mim e me envolveu em um abraço apertado. Não precisávamos dizer nada; aquele gesto dizia tudo. Ela entendia o turbilhão que se passava dentro de mim, e eu sabia que podia contar com ela.
Ficamos assim por alguns segundos, apenas nos apoiando em silêncio, até que sussurrou:
— Vai ficar tudo bem.
— O salão está lindo, . Estou tão orgulhosa de você. Você e o merecem toda a felicidade do mundo. — sorri, apertando-a com carinho.
sorriu emocionada, seus olhos brilhando.
— Obrigada, . Ter você aqui comigo faz tudo ser ainda mais especial.
, com um sorriso animado, cumprimentou calorosamente.
— Vocês precisam ser os próximos, hein! — brincou, lançando um olhar divertido.
riu, passando o braço ao redor da minha cintura.
— Não pretendo demorar. — disse com convicção.
Soltei uma risada nervosa, apoiando-me nos ombros dele. Ele não percebeu nada, mas eu sentia o nervosismo crescendo em meu peito.
Logo depois, seguimos juntos cumprimentando os conhecidos pelo salão. Cada sorriso trocado e cada palavra dita pareciam cada vez mais distantes enquanto meu coração batia descompassado, antecipando um reencontro que eu não sabia se estava pronta para enfrentar.
🩹🩹🩹
Enquanto cumprimentávamos os convidados, o salão estava repleto de amigos de infância e novos rostos. Sorrisos eram trocados, memórias compartilhadas. Eu e nos aproximamos de uma mesa onde alguns amigos já estavam sentados. Cumprimentamos todos com abraços e apertos de mão calorosos.
Sentamos lado a lado, e , carinhoso, depositou um beijo leve em meus lábios. Correspondi com um sorriso tênue, mas algo dentro de mim parecia inquieto.
Meus olhos vagaram pelo salão, distraídos, até pararem na mesa de doces. Foi então que o tempo pareceu parar…
.
Ele estava ali, parado, recém-saído do banheiro. Seus olhos estavam fixos em mim e em . Havia surpresa e algo mais naquele olhar — algo que fez meu coração vacilar.
Meu corpo congelou. O passado e o presente colidiram de forma brutal. E eu não fazia ideia de como lidar com isso.
Por um momento, ele permaneceu paralisado, como se estivesse processando o que via. Então, como se despertasse de um transe, piscou algumas vezes. Nesse instante, inclinou-se em minha direção e sussurrou algo em meu ouvido, arrancando de mim um sorriso fraco. Quando voltei a olhar para a mesa de doces, vi ajeitando a postura e caminhando em direção a uma cadeira vaga, exatamente de frente para onde eu e estávamos.
Meu corpo congelou outra vez e eu torci que nem ele, nem percebessem nada.
— ! — o meu nome saiu dos lábios carnudos dele. — Você demorou…
parecia sair de um transe. Seu olhar vacilou, mas logo se recompôs. A voz firme contrastava com o nervosismo que ele tentava esconder.
Minha respiração falhou. Eu não sabia se respondia ou se fingia que não era comigo. Senti apertar de leve minha mão, alheio ao turbilhão que acontecia dentro de mim.
O passado estava sentado à minha frente, desafiando-me a encarar tudo o que eu tentei esquecer.
Minha garganta secou. Senti o peso das palavras dele me atingir, mas reuni coragem e o encarei por alguns segundos. Os olhos de pareciam procurar algo nos meus, como se quisesse decifrar quem eu me tornara.
— … — minha voz saiu baixa, quase um sussurro.
Ele sustentou meu olhar por um instante antes de desviar, passando a mão pelo cabelo em um gesto nervoso.
— Achei que nunca mais fosse te ver — ele disse, com um sorriso leve, mas havia algo quebrado ali.
Meu peito apertou. Lembrei-me de todos os momentos que passamos juntos, de como ele desapareceu sem explicações.
Antes que eu respondesse, apertou suavemente minha mão sobre a mesa outra vez, alheio à tensão. percebeu o gesto e sua expressão vacilou por um segundo antes de se recompor.
— Também achei que nunca mais fosse ver você… três anos não são três meses não é? — respondi depois de engoli seco, deixando transparecer um pouco demais minha frustração há tanto tempo contida.
arregalou levemente os olhos, claramente não esperando a minha investida. Mas ele optou por apenas balançar a cabeça, concordando.
— Concordo… em três anos muita coisa pode mudar, não é ? — os olhos dele desceram para minha mão entrelaçada a de .
Eu apertei a mão de que apertou-a de volta como se naquele momento entendesse um pouco da tensão do momento.
— Com licença, eu vou ver se precisa de ajuda com alguma coisa. Você pode vir comigo, ?
Com um suspiro discreto, me levantei da cadeira, tentando disfarçar o nervosismo que me corroía por dentro. me seguiu sem hesitar, mas antes de dar os primeiros passos, ele lançou um olhar rápido para , como se tentasse entender o que estava acontecendo, mesmo sem conhecê-lo direito. O gesto foi sutil, mas o suficiente para eu sentir um frio na espinha. Ele estava alerta, e isso só aumentava a tensão que já estava presente entre nós três.
Ao sairmos, fui diretamente até a cozinha, tentando focar no que estava à minha frente. Quando passei pela porta, o ambiente mais calmo me ajudou a respirar um pouco melhor. Ainda assim, meu corpo estava tenso, como se cada movimento fosse monitorado.
— Alguma coisa sobre esse cara que você queira me contar? — perguntou, com um tom mais suave, mas a pergunta parecia um peso, a voz dele carregada de curiosidade e algo mais. Ele se aproximou, buscando meus olhos, e eu sabia que ele não iria desistir de obter uma resposta.
Parei por um momento, encarando a bancada da cozinha. Minhas mãos estavam tremendo um pouco. Eu queria ser honesta, mas ao mesmo tempo, não sabia se estava pronta para compartilhar tudo. A dor do passado parecia pronta para explodir, e eu não queria que ele fosse vítima disso. Ou pior, que ele se afastasse por não entender as complexidades do que a volta de havia causado em mim.
— Não é nada, … — Minha voz saiu mais fraca do que eu esperava, e mesmo sabendo que ele não iria aceitar uma resposta simples, o silêncio entre nós era denso demais.
se aproximou ainda mais e, antes que eu pudesse reagir, segurou minha mão, agora visivelmente mais apreensivo.
— Eu entendo, . Mas me avise quando você se sentir pronta para falar. Eu estou aqui para você, sempre estarei.
Eu olhei para ele, as palavras ficaram presas na garganta, mas naquele instante, percebi que ele não estava apenas tentando me proteger, mas se oferecendo para estar ao meu lado, independentemente de tudo o que eu passava. Isso me trouxe um conforto imenso, e, por mais que não tivesse encontrado palavras para expressar isso, meu olhar disse tudo.
🩹🩹🩹
Olhei para e, antes de seguir, dei-lhe um beijo lento na bochecha, como se tentasse afastar o turbilhão de pensamentos que se acumulava dentro de mim. Ele me olhou com um sorriso gentil, apertando suavemente minha mão antes de eu me afastar.
— Você precisa de ajuda com alguma coisa, ? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas o nervosismo ainda me traía.
sorriu para mim, como sempre, e, com um gesto acolhedor, respondeu:
— Você é minha convidada, ! Vá se sentar e se divertir, por favor. Eu já tenho ajuda com tudo aqui.
Eu senti o peso das palavras dela, e um pequeno sorriso apareceu no meu rosto, um sorriso que tentei fazer parecer genuíno. Agradeci com um gesto e me afastei, caminhando na direção oposta. Quando passei pela porta da cozinha, vi e conversando entre si em um canto do salão, mas não consegui ouvir o que diziam. Era como se a conversa deles fosse a última coisa que eu conseguisse processar naquele momento.
Voltei à mesa e sentei-me novamente, sentindo a tensão voltar a me consumir. Cada respiração parecia mais pesada. , que estava se divertindo com alguém na mesa, se virou para me olhar de maneira debochada, como se tivesse esperado o momento certo para lançar sua provocação.
— Não vai me apresentar seu namorado, ? — ele perguntou, seu tom irônico deixando claro o prazer que ele tinha ao me fazer sentir desconfortável.
Fui tomada pela raiva, mas ao mesmo tempo, uma sensação de impotência. Em vez de responder à provocação, optei por ignorá-lo, como se ele não fosse mais uma parte do meu mundo. Não valia a pena ceder àquilo. Fiquei em silêncio, tentando desviar o olhar, mantendo-me focada no que estava à minha frente.
O silêncio entre nós dois foi o suficiente para mostrar que, para mim, o passado estava fechado.
CAPÍTULO DOIS:
Eu vi se levantar de sua cadeira, o sorriso irônico ainda brincava em seus lábios, e dar a volta na mesa, colocando as mãos nos bolsos enquanto o fazia, e então se sentar ao meu lado, na cadeira que era de . Eu virei meu rosto na direção dele quando seu cheiro adocicado preencheu minhas narinas e então, franzi o cenho. O que ele estava fazendo se sentando ali com tanta naturalidade?
— Precisamos conversar … não pode fugir de mim o tempo todo!
Eu respirei fundo, tentando acalmar a tempestade que se agitava dentro de mim, e o encarei. Meu coração batia forte, como se protestasse contra a proximidade dele.
Meus olhos passearam por seu rosto, absorvendo cada traço com uma mistura de familiaridade e estranheza. Ele estava mais velho, mas ainda era . O mesmo olhar intenso, os lábios sempre prontos para um sorriso irônico, a postura descontraída como se o mundo não pudesse abalá-lo. Mas havia algo diferente—uma sombra no brilho de seus olhos, um peso invisível que antes não estava ali.
Os anos tinham passado, e embora ele ainda carregasse a essência do garoto que partiu sem olhar para trás, eu conseguia ver as mudanças sutis. O maxilar parecia mais marcado, os traços mais maduros, e até a forma como ele me olhava carregava uma profundidade que antes eu não reconhecia.
Eu umedeci os lábios, sentindo minha garganta seca. Parte de mim queria perguntar o que ele estava fazendo ali, por que tinha voltado, mas a outra parte se recusava a lhe dar essa satisfação.
— Eu não estou fugindo de você. — Minha voz saiu firme, mas baixa, como se temesse que alguém mais ouvisse.
Ele soltou um riso abafado e apoiou o cotovelo na mesa, inclinando-se ligeiramente em minha direção.
— Ah, … — ele suspirou, balançando a cabeça devagar. — Ainda mente muito mal.
Engoli em seco, mantendo o olhar preso ao dele. Eu não podia demonstrar fraqueza. Não depois de tudo.
— Quem foge aqui é você … — eu sussurrei para que só ele pudesse ouvir e o vi abaixar o olhar, parecendo ofendido.
— E eu tive inúmeros motivos para isso. Espero que possa me ouvir, em algum momento. Mas por hora, acho melhor nós não estragarmos o noivado da e do .
— Você já estragou, ainda não entendeu? — Me levantei bruscamente, fazendo a cadeira soltar um rangido seco e estridente, raspando contra o piso polido do salão.
O som ecoou pelo ambiente, cortando por um instante o burburinho das conversas ao redor. Algumas pessoas se viraram para olhar, mas eu não me importei. Meu peito subia e descia rapidamente, a raiva pulsando em minhas veias.
O barulho pareceu chamar a atenção de que olhou na minha direção e depois na direção de , e então eu caminhei na direção do meu namorado que acabou vindo em minha direção também, com o semblante preocupado. , percebendo o que podia ter acontecido, soltou um suspiro e então foi em direção à Suno.
— O que aconteceu? Qual é a de vocês com aquele cara ? Porque está me escondendo alguma coisa?
O tom na voz de era sério, mas não soava como uma acusação. Havia preocupação ali, um cuidado genuíno que fez meu peito apertar. Ele não parecia irritado, nem ofendido, apenas confuso e tentando entender o que estava acontecendo.
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar. Eu não queria mentir para ele, mas também não sabia como dizer a verdade. Como explicar ? Como colocar em palavras tudo o que aquele reencontro significava para mim?
— … — comecei, mas minha voz falhou.
Ele segurou minha mão com delicadeza, os olhos buscando os meus.
— Você está tremendo — ele constatou, apertando meus dedos com mais firmeza. — , me diz… quem é ele?
Minhas mãos ficaram geladas. Eu sabia que precisava responder, mas as palavras pareciam presas na minha garganta.
Ao longe, vi se aproximando de e dizendo algo em um tom baixo, mas firme. Meu peito subia e descia de forma irregular. Tudo isso estava acontecendo rápido demais.
esperava, paciente, sem soltar minha mão.
Eu precisava dizer algo. Mas será que estava pronta para isso?
🩹🩹🩹
’s POV:
— , por favor! — colocou uma das mãos sobre meu ombro com firmeza — Vamos tomar um ar? Vem.
Ele fez um sinal indicativo com a cabeça para a parte de fora do salão e eu, ainda atônito com toda a atenção sendo desperdiçada para mim, apenas me levantei e o segui.
Chegando lá fora, eu e nos encaramos e ele soltou um longo suspiro.
— Me desculpe hyung. Eu não deveria ter aparecido do nada, eu deveria ter confirmado a minha presença e aviso á vocês dois com antecedência que estaria aqui… na verdade, agora eu me pergunto se fiz bem em ter voltado. Não pareço mais ser querido aqui, então pode ter sido uma perda de tempo.
A dor evidente em minha voz soou de forma surpreendente até para mim mesmo, e eu engoli o choro que se formava em minha garganta, não querendo parecer ainda mais patético.
— … — se aproximou de mim, voltando a colocar sua mão em meu ombro — Não foi uma perda de tempo. Você é muito querido e muito bem vindo no meu noivado e da , nós sentimos muito a sua falta. Agora é como se finalmente estivéssemos todos aqui onde deveríamos ter permanecido, é como se estivéssemos completos com você de volta.
— Não parece! — sussurrei voltando a encher os olhos de lágrimas — A , ela…
Minha voz falhou, e eu senti as lágrimas teimosas escorrerem antes mesmo de poder contê-las.
não hesitou. Em um movimento firme, mas cheio de cuidado, ele me puxou para um abraço apertado, deixando uma mão em minha nuca e a outra dando leves tapinhas reconfortantes em minhas costas. Fechei os olhos, sentindo o calor do gesto, mas isso só fez com que as lágrimas caíssem ainda mais rápido.
— Tá tudo bem, — ele murmurou, sua voz baixa e compreensiva. — Você não precisa carregar tudo sozinho. A , ela… ah cara! Vocês eram melhores amigos, moravam lado a lado, e eram muito grudados, ela nunca aceitou a sua partida repentina.
Quando nos separamos, ainda me olhava nos olhos enquanto eu enxugava as lágrimas.
— A gente nunca entendeu o que aconteceu, os seus pais só disseram que você decidiu estudar fora e nem eles passavam notícias suas para a gente. Foi muito difícil para a , ela sofreu muito cara, você não faz ideia do quanto.
Eu sabia! Era claro que eu sabia que, para ela, mais do que para qualquer um dos nossos amigos, teria sido mais difícil. sempre foi intensa em tudo que fazia, sempre demonstrou seus sentimentos de forma tão genuína que era impossível não sentir a profundidade deles. E eu conhecia aquele coração melhor do que ninguém.
E foi exatamente por isso que também foi insuportável para mim.
Eu não parti por querer. Eu não cortei o contato porque quis esquecê-los. Eu fui arrancado da minha vida, do lugar onde cresci, das pessoas que eu amava. E o pior de tudo? Fui arrancado dela.
Nos primeiros meses, cada dia longe foi uma tortura. Eu acordava e, por um segundo, esquecia que estava em outro lugar. Instintivamente, pegava o celular para mandar uma mensagem para ela, contar sobre algo idiota que me fez lembrar dela, perguntar como estava seu dia… Mas então a realidade me atingia como um soco. Eu não podia falar com ela. Eu não podia falar com ninguém.
Eu sabia que me odiaria. Eu sabia que ela se sentiria abandonada, e esse pensamento me corroía por dentro. Porque, se para ela foi difícil, para mim foi um inferno.
E agora, vê-la me olhando daquela forma, com mágoa, raiva e talvez até desprezo, me fazia perceber o quanto eu realmente tinha perdido.
— Dá um tempo para ela! Ela precisa se acostumar com sua volta tão repentina quanto a sua ida, sabe?
— A vida dela seguiu… — Voltei a limpar uma lágrima silenciosa que escorreu novamente.
— Seguiu , a nossa vida seguiu! A sua também seguiu, não foi?
Eu balancei a cabeça em negativa e então terminei de limpar mais algumas lágrimas.
— Eu não sei, ! A minha vida foi um emaranhado de bagunça e estranhamento depois que eu fugi daqui!
ficou em silêncio, apenas me observando, esperando que eu continuasse.
— Nada nunca pareceu certo, sabe? Como se eu estivesse vivendo a vida de outra pessoa, preso em um roteiro que eu nunca escolhi. Acordava todos os dias e fazia o que esperavam de mim, mas nada realmente me preenchia. Era como se… como se eu estivesse sempre esperando algo que nunca chegava.
Eu soltei um suspiro pesado, passando as mãos pelo rosto.
— Eu tentei seguir em frente, juro que tentei. Fiz novos amigos, aprendi coisas novas, conheci lugares que nunca imaginei… Mas no final do dia, a sensação era sempre a mesma: de que eu estava deslocado, vivendo no piloto automático. A casa nova nunca foi um lar. As pessoas ao meu redor nunca foram realmente meus amigos. E, por mais que eu tentasse, nenhuma delas era a ou o , e nenhum de vocês.
Eu ri sem humor, olhando para .
— Engraçado, né? Passei anos tentando acreditar que fiz o certo, que fui forte o suficiente para seguir em frente… Mas bastou olhar para ela de novo para perceber que eu só estava fingindo esse tempo todo.
— Vocês precisam de uma conversa . Uma conversa sincera. Mas dê tempo ao tempo.
— Mais? Hyung, já foram três anos. Ela está namorando…
Balancei a cabeça, incrédulo, como se dizer aquilo em voz alta tornasse aquela realidade ainda mais dura de encarar.
— O é um cara bacana, você vai gostar dele.
— Eu acredito que ele seja, a não namoraria qualquer um. Mas, gostar dele?
Cruzei os braços abaixo do peito, balançando a cabeça devagar. O gesto era automático, quase infantil, e por um momento me senti como uma criança birrenta que não aceitava perder seu brinquedo favorito.
Gostar dele? Como eu poderia? poderia ser um cara bacana, eu suspeitava disso, mas isso não mudava o nó no meu estômago ao vê-lo ao lado dela. Não mudava a sensação de que eu havia chegado tarde demais, de que tudo aquilo que um dia foi nosso já não me pertencia mais.
suspirou ao me observar, como se pudesse ler cada pensamento que passava pela minha mente. Ele sempre teve esse dom.
— …
— Eu sei, hyung. — O interrompi antes que ele tentasse dizer algo para me confortar. — Eu sei que sou eu quem está errado aqui. Não tenho o direito de sentir nada disso, muito menos de esperar qualquer coisa dela depois de tanto tempo.
Minha própria voz soava frustrada, cansada. Passei uma mão pelos cabelos, tentando aliviar a pressão que parecia crescer dentro de mim.
— Mas como eu faço para simplesmente… parar?
— E pior. Como vai ser quando você ver o depois de todo esse tempo de novo? Pensou nisso?
Fechei os olhos com força, como se isso pudesse bloquear a tempestade de sentimentos que o nome dele despertava em mim.
…
Eu não tinha pensado nisso até agora. Ou melhor, tinha evitado pensar. Evitei tanto que a simples menção do nome dele fez minha respiração vacilar por um segundo.
não era só um amigo de infância, ele era o amigo. O meu melhor amigo. E, ao mesmo tempo, a origem de todas as dúvidas que me assombraram desde que fui embora.
Nós crescemos juntos, dividimos segredos, risadas, sonhos… e, um dia, dividimos algo mais. Um beijo.
Foi “por curiosidade”, — pelo menis foi o que dissemos um para o outro. Só uma experiência, nada demais. Mas, a partir daquele momento, nada mais foi como antes para mim.
Porque eu continuei pensando nisso.
Porque me peguei olhando para ele de um jeito diferente.
Porque me perguntei, inúmeras vezes, se aquilo significava algo mais.
E então… eu fugi.
A verdade é que ir embora não foi só sobre . Foi sobre ele também.
E agora eu estava de volta. E teria que encará-lo também.
Eu não conheço Enhypen, só sei que gosto de algumas músicas HAHAH
Vamos ver como vai ficar esse casal do passado e o casal do presente. O Heeseung parece um bom rapaz, NÃO MAGOA ELE, POR FAVOOR
Ai Lelen você não sabe o que tá perdendo, eles são talentosíssimos e uns queridos (piticos af. Vou tentar não magoar o Heeseung, até porque ele é meu bias, aquelas kkkkkkkkk mas acho que vai ser dificil ele não se machucar um pouquinho…