Northern Lights in Daegu

  — Este seria o último lugar que ele te procuraria, mas como eu te conheço… — disse ao me colocar em sua frente, com as mãos no bolso a olhando com serenidade.

  — Foi o primeiro que você procurou — completou ela, reconhecendo minha voz.

   além de ser minha melhor amiga, também era o amor da minha vida. Porém, estava nos braços de outro homem, um sujeito que não a merecia. Que não a fazia feliz.

  — Sim — concordei com ela.

  — O que está fazendo aqui? — perguntou com os olhos marejados. Percebi rastros de lágrimas em seu rosto.

  — Ainda pergunta. — Estiquei a mão para ela se levantar. — Sou seu melhor amigo.

  — Eu e o Scott… Eu pedi o divórcio. — Mais uma lágrima caiu de seus olhos.

  Não me contive em segurar a mão dela e a puxar para mim. Assim que seu corpo se ergueu do chão, a abracei forte, fazendo-a sentir que estava segura em meus braços.

  — Do-hwan — sussurrou ela caindo em lágrimas.

  — Calma, eu estou aqui — sussurrei de volta acariciando seus cabelos.

   estava sofrendo, o que me fazia sofrer também. Mais do que somente abraçá-la, eu queria transferir minha força para ela. O boçal do Scott havia cometido adultério, traindo o meu jardim com uma qualquer interessada em seu dinheiro. Me lembrava amargamente do casamento de ambos com ele fazendo falsas juras de amor. Mas a culpa foi minha. Por uma trama da família de em conjunto com Scott, arruinaram nosso namoro fazendo-a acreditar que eu não a amava de verdade. Eles não gostavam de mim por eu ser um ator coreano e ela filha de empresários argentinos.

  Quando consegui provar o contrário, era tarde demais e ela já havia se casado. Só Deus sabe o quanto chorei e sofri naquela época, mas não perdi a fé em nosso amor. Não perdi as esperanças que um dia ela iria conhecer o verdadeiro carácter de Scott, e eu estaria lá por ela, para apoiá-la. Só me entristece que tenha sido daquela forma.

  — Eu não quero voltar agora — sussurrou ela novamente. — Vamos ficar aqui mais um pouco.

  — Tudo bem.

  O orquidário da casa da minha avó era o lugar favorito de no mundo todo. Eu jamais me esqueceria disso, por este motivo a procurei lá primeiro quando sua mãe me ligou desesperada dizendo que ela estava desaparecida há mais de 12 horas. Com minha avó viajando, ninguém saberia que ela estava ali. Ela sabia em qual peça de madeira solta do assoalho da varanda guardamos a chave reserva.

  — — disse, fazendo-a olhar para mim.

  — Sim. — Ela me olhou.

  — Estarei sempre aqui ao seu lado.

  Ela assentiu, mais lágrimas rolaram em seu rosto. Não me contive em lhe dar um beijo doce e suave, nem mesmo o amargo de suas lágrimas poderiam barrar o meu amor nesse momento.

  — Me desculpe — disse ao esbarrar em um homem.

  — Não foi nada — disse ele.

  A jovem estava tão concentrada na tela do celular, porém ao ouvir a voz do homem, levantou o olhar de imediato.

  — Woo Do-hwan… — sussurrou ela surpreso em vê-lo.

  Já havia dois anos que não via aquele olhar que tanto lhe fazia estremecer por dentro.

  — O que faz aqui? — perguntou ela.

  — Pelo que sei o local é público — brincou ele.

  — Me refiro sobre estar em Daegu — explicou ela. — Soube que estava gravando um filme em Jeju.

  — Era um dorama, mas estou feliz por acompanhar notícias sobre mim. — Ele deu um sorriso de canto malicioso.

  — Não disse que estou te acompanhando, só disse que ouvi comentários — corrigiu ela.

  Mas é claro que ele sabia que ela estava mentindo.

  — Jardim — ele a chamou pelo apelido carinhoso que inventara para ela desde criança.

  — Foi um prazer te ver de novo. — Ela se moveu para sair de lá.

  — Está sozinha? — perguntou ele ao segurar em sua mão.

  — Sabe que não. — Ela se soltou. — Meu marido está aqui, estou esperando por ele.

  — Também tive notícias de você, parabéns pela gravidez — disse ele num tom amargo.

  — Obrigada.

  — Posso lhe fazer uma pergunta antes de ir?

  — Faça. — Ela se mostrou impaciente, mas na realidade estava segurando suas emoções.

  Do-hwan era seu amor da juventude, ambos amigos de infância que haviam sidos separados não pelo destino, mas pelo preconceito de sua família. Ele a amava e ela sabia disso, seu sentimento era recíproco apesar de ter aceitado se casar com Scott.

  — Você o ama agora? — perguntou ele direito e preciso.

  — Não entendi.

  — Você disse que aprenderia a amá-lo após o casamento. — Do-hwan conteve as lágrimas que queriam se formar em seus olhos. — Você o ama agora?

  — Scott é o pai do filho que carrego dentro de mim — respondeu ela.

  — Não foi o que perguntei, mas entendi a resposta. — Ele sorriu de canto. — Muito curioso que o pai do seu filho te deixe esperar por ele em frente a uma cafeteria numa rua escura? Você nem gosta de café.

  — Não comece com suas provocações — pediu ela. — Não me importo em esperar por ele, nem o café.

  — Não importa? — Ele soltou uma risada rápida. — Você sabe que quem te ama de verdade jamais a faria esperar. Jamais a forçaria a ir em um lugar que não quer. Mas não importa porque ele é o pai do filho que carrega… O que mais não importa? Que você prefira tomar suco de laranja natural à tarde? Ou que prefere salada de frutas no café da manhã. Que gosta de ler de madrugada porque sempre perde o sono. Que mesmo te dando espinhas, ama chocolate e odeia festas surpresas. Ele sabe que odeia festas surpresas por nunca ter conseguido fazer uma para mim que sempre descobria? — O rapaz foi se aproximando mais dela enquanto argumentava. — Então não deve importar para ele que suas pernas fiquem bambas quando eu te toco.

  Do-hwan tocou na cintura dela e a puxou para perto. tentou lutar contra, mas seu corpo se moveu espontaneamente.

  — E que sua voz some quando estamos próximos — completou ele.

  — Do-hwan, para com isso — sussurrou ela.

  — Mas como ele é o pai do seu filho, nada mais importa. — Ele tomou impulso para beijá-la, porém parou no meio do caminho e se afastou para ir embora.

  — Woo Do-hwan! — gritou ela. — Por que está fazendo isso?

  — Você ainda pergunta? — Ele sorriu de canto com o olhar confiante. — Jardim.