Noona – Blue Hour

   encarava a tela de seu computador com certa satisfação. Fazia alguns meses desde que tinham inaugurado a empresa de marketing ali; após quase cinco anos com o plano apenas no papel e o medo das coisas darem errado fazendo as quatro amigas se contentarem com um trabalho “regular”, elas finalmente haviam tomado coragem para fazer aquele projeto se tornar real.

   não poderia estar em um momento mais satisfatório em sua vida. Estava feliz com seu trabalho e sua liberdade, mesmo com a certa incerteza que trabalhar com seu próprio negócio podia trazer, ela não podia se sentir mais realizada do que naquele instante – obviamente até outros momentos futuros chegarem para tomar o posto.

  Soltando uma exclamação aleatória e feliz, ela se espreguiçou, chamando a atenção de Soyeon, sua melhor amiga.

  — O quê? — perguntou rindo.

  — Sério, , você é muito estranha — Soyeon murmurou fazendo uma cara engraçada, logo acompanhando a amiga no riso. — A que devemos a exclamação de segundos atrás?

  — Eu só estava pensando no quanto estou feliz e realizada. — deu de ombros se levantando de sua cadeira e fazendo alguns passinhos de dança aleatórios para enfatizar sua alegria.

   encarou a animação da amiga e gargalhou. era o raiozinho de sol mais brilhante que já havia conhecido, e também o mais aleatório. Soyeon se lembrou das vezes em que havia levado sustos com a melhor amiga na rua com seus gritinhos empolgados ao ver alguma coisa de seu interesse ou das vezes em que, sem ligar para a atenção que poderia estar chamando, saiu saltitando como uma criança feliz na direção do que queria… era uma das melhores coisas que havia acontecido na família . E sim, família.

  A energia e animação de eram tão contagiantes que era impossível não se deixar levar em sua presença. Os pais de Soyeon amavam da mesma forma que amavam os próprios filhos. E também havia … Ah, , seu irmão mais novo, era uma história à parte.

  Já fazia um bom tempo que ela, a irmã mais velha e muito atenta, havia percebido a mudança no tipo de interesse e afeto que o caçula tinha por . Ela sabia bem que desde pequeno tinha uma paixonite platônica pela melhor amiga dela, mas depois que ele havia passado da puberdade as coisas pareciam ter se encaixado e voltado ao “normal”, ele havia tido algumas “namoradinhas” como os pais gostavam de chamar e parecia bem feliz, até decidir cursar a faculdade de medicina.

  Ela não sabia exatamente quando as coisas haviam mudado para , mas ela havia percebido que havia mudado. Soyeon ficou preocupada quando percebeu, ela sabia que o irmão podia ser teimoso e insistente e conhecia a amiga bem o bastante para saber que o irmão não era exatamente o que imaginava na sua vida. soltou um risinho baixo. Quando percebeu o interesse amoroso – e platônico – do irmão mais novo em sua melhor amiga, não sentiu ciúmes ou resistência, tudo o que pensou foi na possibilidade daquilo dar certo.

  — O que foi, So? — perguntou ao ouvir o risinho.

  — Ah, nada. Só estava pensando. — Deu de ombros voltando sua atenção ao celular que havia acabado de receber a notificação de que seu irmão havia acabado de postar em uma rede social.

  Ela suspirou. Não tinha ideia do que tinha acontecido meses atrás, na festa de inauguração daquele lugar, mas desde aquela noite, parecia ter mudado radicalmente, apesar de ainda ser o garoto alegre e tranquilo em quase todos os aspectos, exceto na vida amorosa.

   parecia ter decidido entrar de cabeça no estereótipo americano de “vida universitária” inventando a cada dia uma nova coisa para fazer com uma nova garota. Soyeon fez uma careta de insatisfação e desgosto. Seu irmãozinho não era daquele tipo de homem, o que diabos havia acontecido naquela noite?

  — Aish — resmungou ao ver um story da rede social do mais novo.

  — O que foi, Soyeon-ah?

  A moça fez careta novamente antes de responder.

  — Eu só não entendo o que o tá fazendo da vida na universidade — resmungou.

  — Por que, as notas dele estão ruins? — questionou chegando mais perto da mesa da sócia e melhor amiga.

  — Não, mas você já deu uma olhada nos stories e nas imagens em que ele é marcado? — A nova careta foi automática para , que largou o celular e se voltou para .

  — Bom, acho que ele tem todo o direito de se divertir, né? — comentou num tom incerto.

  A verdade é que tinha sim visto os stories e fotos nas quais era marcado nas redes sociais. Ele parecia estar curtindo a vida como um jovem da idade dele faria, claro que parecia muito mais que ele estava “curtindo” fora dos padrões da sociedade coreana, mas quem era ela exatamente para julgar?

   se lembrou da reclamação da amiga que havia comentado que a mudança repentina do caçula havia acontecido pouco tempo depois da inauguração do novo negócio delas e a mais velha tinha certeza de que algo havia acontecido para a mudança ter acontecido com seu irmão. Soyeon havia até mesmo questionado se ela saberia de alguma coisa que explicaria as atitudes de , mas não queria revelar que ela havia dado o fora no irmão de sua melhor amiga e que possivelmente era o motivo dele ter decidido agir de uma forma quase desvairada.

  — Espero que mamãe e papai não descubram essas aventuras dele — Soyeon resmungou de má vontade.

   voltou a se sentar à sua mesa e, automaticamente, seu olhar pairou sobre a porta que levava ao hall de entrada do lugar. Fazia meses que ela não pensava na cena que havia protagonizado com naquele lugar. Quer dizer, ela não podia ser de fato o motivo para que o garoto começasse a agir de uma forma tão diferente do que todos estavam acostumados, não é?

  E mesmo que fosse, não mudava o que ela havia dito a ele. estava em uma fase muito diferente da que ela estava e mesmo que ela estivesse disposta a dar uma chance àquilo, com certeza estavam fadados ao fracasso, não? Além disso, apesar de estar aberta a tentar encontrar um companheiro e um relacionamento, aquilo não era exatamente sua prioridade no momento e ela não sabia se algum dia seria. Ela conhecia por tempo e bem o bastante para saber que ele era do tipo que se importava muito com as pessoas que gostava e tendia a ser bem protetor com tudo e todos com que se importava.

   era uma bola de energia grande demais para ser controlada. Ela já havia tentado estar em relacionamentos amorosos antes e tudo o que havia aprendido era que ela estava muito melhor sozinha do que acompanhada enquanto se sentia sufocada e obrigada a retribuir toda a atenção que recebia dentro das relações, o que fazia com que toda a alegria de sua vida desaparecessem.

  Não, estava muito bem como estava. E além disso, era sete anos mais novo que ela, enquanto ela estava praticamente na fase de pensar em casamento e filhos, ele estava na fase de desbravar o mundo e aproveitar.

   riu baixinho para si mesma, até mesmo aquela forma de pensar era velha o bastante para fazê-la se sentir velha demais. Ela estava feliz e , aparentemente, também estava. E ela estava satisfeita o bastante com aquela constatação. Feliz o bastante para ignorar o fato de que desde aquela noite os dois nunca mais tinham sido os mesmos um com o outro.