Esta história pertence ao Projeto Songfics

Status

Loading

Avalie

Este texto não foi revisado
Encontrou algum erro? Clique aqui

Temporada #037

Training Season
Dua Lipa

Esta história não possui capas prévias (:

Sem curiosidades para essa história no momento!

No More Training Season

  O garçom deixou a conta na mesa com uma delicadeza quase irônica. Eu agradeci com um sorriso automático e deslizei o cartão antes mesmo de olhar para o valor. Já sabia. Eu sempre sabia. Do outro lado da mesa, Bruno ainda tentava, desesperadamente, me impressionar.
0
Comente!x

  — Sabe, , eu realmente acho que coaching é a profissão do futuro. As pessoas precisam de direcionamento, sabe? Eu sou muito bom nisso.
0
Comente!x

  Apertei os dedos ao redor da taça de vinho quase vazia. Precisei de toda a minha força mental para não revirar os olhos.
0
Comente!x

  Coaching. Claro. O cara que chegou vinte minutos atrasado, confundiu meu nome duas vezes e passou metade do jantar falando sobre “mindset de alta performance” enquanto não conseguia sequer lembrar o nome da própria ex-namorada.
0
Comente!x

  Meu “mindset” naquele momento era simples: fugir.
0
Comente!x

  — Interessante… — murmurei, olhando o relógio discretamente.
0
Comente!x

  Ele sorriu, satisfeito, como se minha resposta fosse o selo de aprovação que ele tanto buscava. Mal sabia ele que a única coisa que eu aprovava ali era a sobremesa que, infelizmente, não pedi.
0
Comente!x

  Quando finalmente saí do restaurante, o ar frio da noite bateu no meu rosto como um alívio. Desci a rua caminhando rápido, os saltos ecoando na calçada vazia.
0
Comente!x

  Suspirei, pegando o celular da bolsa e dando uma rápida olhada nele. Resolvi renomear o contato do Bruno no aparelho e bloqueá-lo. Bruno agora era o número 17. Sim, você não leu errado, eu tive 17 dates ruins!
0
Comente!x

  Fechei o celular. Respirei fundo. Olhei para o céu escuro.
0
Comente!x

  Chega.
0
Comente!x

  Destranquei a porta do meu apartamento com a mesma energia de quem está prestes a se livrar de um sapato apertado. Me joguei no sofá, larguei a bolsa no chão e encarei o teto por alguns segundos. Silêncio.
0
Comente!x

  O celular vibrou. Uma notificação no WhatsApp: Juliana. Minha melhor amiga e, infelizmente, cúmplice moral de todos os meus dates fracassados.
0
Comente!x

  Juliana: E aí? Deu bom? 😏🔥
0
Comente!x

  Soltei uma risada seca. Digitei de volta.
0
Comente!x

  Eu: 17, amiga. 17.
0
Comente!x

  Nem precisou de mais nada. Ela entendeu. A resposta veio segundos depois.
0
Comente!x

  Juliana: Pqp. Mais um?
0
Comente!x

  Juliana: Desisto, . Você vai acabar virando freira.
0
Comente!x

  Revirei os olhos e apoiei o celular no peito, olhando para o teto.
0
Comente!x

  “Freira não, Juliana. Só cansei de dar aulas particulares de educação básica emocional.”
0
Comente!x

  Suspirei fundo, fechando os olhos por um instante.
0
Comente!x

  O pior não era nem o fracasso dos encontros. Era essa sensação de que todo mundo ainda estava na pré-escola emocional… e eu, sei lá, fazendo doutorado em independência afetiva.
0
Comente!x

  Chega de testes com caras aleatórios, eu repeti mentalmente. E dessa vez, prometi pra mim mesma: era definitivo.
0
Comente!x

💖✨

  O alarme tocou como se fosse um ataque de emergência.
0
Comente!x

  Resmunguei, rolei para fora da cama e encarei meu reflexo amassado no espelho. Olheiras, cabelo rebelde, a clássica expressão de “não estou pra brincadeira”.
0
Comente!x

  Vesti meu uniforme de guerra: calça de alfaiataria preta, blusa de seda branca e salto. O batom vermelho era opcional, mas hoje eu precisava dele. Um lembrete silencioso de que ainda controlava alguma coisa na vida.
0
Comente!x

  No caminho para o escritório, decidi desviar para a livraria da esquina. Precisava de um presente para a minha secretária, ela faria aniversário amanhã. E, sinceramente? Poucas coisas me acalmavam tanto quanto o cheiro de papel novo.
0
Comente!x

  Passei pelos corredores tranquilos, vasculhando capas e títulos, até que me abaixei para pegar uma edição especial de arquitetura. Foi quando aconteceu.
0
Comente!x

  Um corpo colidiu de leve com o meu, e a minha bolsa — fiel escudeira — se abriu como um espetáculo de tragédia: celular, chaves, batom, fone de ouvido e, para meu horror, minha lista com os nomes dos 17 homens com quem eu havia saído impressa, não me julgue, eu sou do papel.
0
Comente!x

  — Droga… — murmurei, me abaixando apressada.
0
Comente!x

  — Nossa, me desculpa! — uma voz masculina disse, agachando ao meu lado para ajudar.
0
Comente!x

  Levantei o olhar. E parei.
0
Comente!x

  Ele usava um moletom cinza, barba por fazer, cabelo bagunçado de propósito. Tinha olhos castanhos absurdamente calmos. E um sorriso pequeno, sincero, quase tímido. Ele estendeu a mão com meu batom.
0
Comente!x

  — Aqui… — sorriu. — E… hum… seu “relatório confidencial”, eu acho?
0
Comente!x

  Me entregou a folha dobrada. O papel onde, em letras garrafais, estava escrito: 17 HOMENS: CASOS E CAUSAS DE FRACASSO.
0
Comente!x

  Que vontade de evaporar.
0
Comente!x

  — Ah. É… é uma… brincadeira interna. Coisa de amiga. — Enfiei tudo na bolsa de qualquer jeito. Ele riu, um som leve, nada debochado.
0
Comente!x

  — Relatórios são sempre úteis. Sou ilustrador, vivo fazendo anotações estranhas. Não julgo.
0
Comente!x

  — — me apresentei rápido, antes que a situação ficasse ainda mais patética.
0
Comente!x

  — . — Ele estendeu a mão, ainda ajoelhado. — Prometo tomar mais cuidado na próxima colisão.
0
Comente!x

  Apertei a mão dele. Calor. Contato. Uma faísca inesperada.
0
Comente!x

  — Melhor não ter próxima, né?
0
Comente!x

  Ele sorriu. E naquele sorriso havia algo que não tentava me impressionar. Era só… genuíno.
0
Comente!x

  Pela primeira vez em muito tempo, não senti aquela pontada de cansaço habitual. Talvez só tivesse sido um acidente. Talvez não.
0
Comente!x

  Dois dias depois, eu estava atrasada. De novo.
0
Comente!x

  Equilibrei café em uma mão, pasta de projetos na outra e tentei abrir a porta do coworking com o cotovelo. Um desastre anunciado. A porta não cedeu. Eu suspirei, pronta para soltar um comentário sarcástico para mim mesma, quando alguém do lado de dentro puxou gentilmente a maçaneta.
0
Comente!x

  — Achei que tinha prometido mais cuidado nas colisões, lembra?
0
Comente!x

  Virei devagar. .
0
Comente!x

  Mesmo sorriso calmo, moletom novo (azul dessa vez) e aquele jeito desconcertantemente tranquilo de existir.
0
Comente!x

  — Você trabalha aqui? — perguntei, surpresa.
0
Comente!x

  — De vez em quando. Faço freelas pra uma editora que tem sala nesse prédio.
0
Comente!x

  Eu pisquei, sem saber se estava mais surpresa pela coincidência ou pela leve onda de… empolgação? Não, definitivamente era só curiosidade.
0
Comente!x

  — Bom, obrigada pela gentileza. — Passei por ele tentando soar indiferente.
0
Comente!x

  — Sempre às ordens, do relatório confidencial.
0
Comente!x

  Parei e virei o rosto, semicerrando os olhos.
0
Comente!x

  — Você não vai esquecer daquilo, né?
0
Comente!x

  Ele deu uma risada baixa, mexendo distraidamente no chaveiro pendurado na mochila.
0
Comente!x

  — Nem se eu quisesse. Foi a coisa mais inusitada que já aconteceu comigo numa livraria.
0
Comente!x

  Me peguei sorrindo antes de conseguir me controlar. Perigo. Sorriso bonito e senso de humor leve.
0
Comente!x

  — Sabe que você ainda me deve uma… — ele completou, me olhando nos olhos.
0
Comente!x

  — Uma o quê?
0
Comente!x

  — Uma recomendação de livro. Não tive chance de perguntar naquele dia.
0
Comente!x

  Fiquei alguns segundos o encarando. “Respira, . Não é flerte. É só educação. Ele nem deve estar interessado. E mesmo se estivesse… você prometeu.
0
Comente!x

  — Passa na livraria na hora do almoço — respondi casual. — Te indico o melhor.
0
Comente!x

  Ele assentiu, com aquele maldito sorriso de canto que quase me fez tropeçar na própria lógica.
0
Comente!x

  — Combinado.
0
Comente!x

  Na hora do almoço, eu quase desisti.
0
Comente!x

  Sério. Ainda estava tentando me convencer de que aquilo era só um favor educado, uma gentileza profissional. Nada mais. Mas lá estava eu, entrando de novo na livraria da esquina, a mesma onde meu “relatório confidencial” havia se tornado um episódio digno de terapia.
0
Comente!x

  E lá estava ele. . De novo de moletom (verde dessa vez; definitivamente ele tinha uma paleta), encostado casualmente na prateleira de lançamentos, folheando um livro como se pertencesse àquele lugar.
0
Comente!x

  — Pensei que não viesse. — Ele fechou o livro e sorriu.
0
Comente!x

  — Pensei também — respondi, tirando os óculos escuros e pendurando na gola da blusa. — Mas prometi a mim mesma ser menos anti social em 2025.
0
Comente!x

  — Estamos em maio.
0
Comente!x

  — Pequenos passos.
0
Comente!x

  Ele riu, me acompanhando pelos corredores silenciosos. Eu puxei um exemplar de capa azul.
0
Comente!x

  — “A Arquitetura da Simplicidade”. Minimalista, direto ao ponto. Acho que combina com você.
0
Comente!x

  — Como assim?
0
Comente!x

  — Sem excessos. Sem firulas. Sem prometer o que não entrega.
0
Comente!x

  Ele pegou o livro das minhas mãos e examinou com atenção, depois me olhou por cima da capa, aquele olhar calmo e penetrante que eu já começava a temer.
0
Comente!x

  — Engraçado. Acho que é exatamente como você também parece ser.
0
Comente!x

  Parei. Um segundo a mais. Um batimento a mais. Respirei fundo.
0
Comente!x

  “Não, . Não embarca. Ele só foi gentil.”
0
Comente!x

  — Não costumo ser simplificada tão fácil assim — retruquei, com um sorriso lateral.
0
Comente!x

  — Nem eu.
0
Comente!x

  Por algum motivo, aquilo ficou no ar por tempo demais. Ele passou os dedos pelas bordas do livro.
0
Comente!x

  — Posso te pagar um café como agradecimento?
0
Comente!x

  Alerta vermelho. Sinal de emergência interno ativado.
0
Comente!x

  Chega de testes com caras aleatórios, . Mas a boca respondeu antes da razão.
0
Comente!x

  — Tem uma cafeteria na esquina. O café deles é decente.
0
Comente!x

  Ele sorriu de novo. Maldito sorriso de canto.
0
Comente!x

  — Vamos?
0
Comente!x

  Peguei minha bolsa e caminhei na frente, ainda tentando me convencer de que era só café. Nada mais. Mas a verdade? Pela primeira vez em muito tempo, eu não me importava se fosse um pouco mais do que isso.
0
Comente!x

  A cafeteria era charmosa, com mesas pequenas de madeira e uma vitrine de doces que me encarava com a mesma insistência do .
0
Comente!x

  Sentamos perto da janela. Ele pediu um cappuccino. Eu fui direto no espresso duplo. Sem açúcar. Sem frescura.
0
Comente!x

  — Então… ilustrador? — perguntei, cruzando as pernas e me apoiando na mesa com o cotovelo.
0
Comente!x

  — Freelancer. Faço capas de livros, ilustração editorial, às vezes storyboard para agências.
0
Comente!x

  — E vive disso?
0
Comente!x

  Ele sorriu, balançando a cabeça de leve.
0
Comente!x

  — Sobrevivo. Mas gosto. Prefiro isso do que ficar tentando me encaixar em algo que não sou.
0
Comente!x

  Mordi o canto do lábio sem perceber. Sem se encaixar, sem buscar aprovação… quem é esse ser mitológico?
0
Comente!x

  — Acho corajoso.
0
Comente!x

  Ele deu de ombros, mexendo devagar o café.
0
Comente!x

  — Não é coragem. É cansaço. Cansei de tentar ser a versão que as pessoas esperam de mim.
0
Comente!x

  Dei uma risada curta.
0
Comente!x

  — Bem-vindo ao clube.
0
Comente!x

  Nos encaramos por um segundo a mais do que o aceitável para simples conhecidos. O suficiente pra me fazer lembrar que tinha prometido a mim mesma: chega de testes com caras aleatórios.
0
Comente!x

  — E você? — ele perguntou. — Arquiteta, certo? — Assenti.
0
Comente!x

  — Escritório próprio. Pequeno, mas meu. Passei anos “treinando” colegas, chefes, clientes… Um dia resolvi parar de ajustar os outros e ajustar minha própria rota.
0
Comente!x

  Ele apoiou o rosto na mão, com aquele olhar de quem realmente ouve. Não finge. Não formula a próxima frase pra se gabar.
0
Comente!x

  — Parece que a gente tem mais em comum do que imaginei.
0
Comente!x

  Eu sorri, mas levantei a guarda. Era cedo demais pra pensar em qualquer coisa.
0
Comente!x

  — Vamos ver… ainda é só o primeiro café. — Ele riu.
0
Comente!x

  — Justo. Nenhuma pressa.
0
Comente!x

  A forma como ele disse aquilo me desmontou um pouquinho. Nenhuma pressa. Nenhuma cobrança. Nenhuma expectativa escondida.
0
Comente!x

  Terminamos o café falando sobre livros, música, lugares preferidos da cidade. Nenhuma tentativa forçada de impressionar. Só duas pessoas existindo no mesmo espaço.
0
Comente!x

  Quando nos levantamos, ele puxou a porta para mim, como na primeira vez.
0
Comente!x

  — Obrigada pelo livro. E pelo café.
0
Comente!x

  — Eu que agradeço pela recomendação e pela companhia inesperada.
0
Comente!x

  Nos despedimos com um aceno discreto. Sem convite para “marcar algo”, sem troca de número, sem joguinhos. Enquanto voltava para o escritório, pela primeira vez em muito tempo, pensei: talvez nem todo cara precise ser treinado.
0
Comente!x

  Depois daquele café, eu tinha certeza que não veria de novo. Não porque não quisesse, claro. Mas porque era assim que essas coisas aconteciam. Casual. Rápido. Passava.
0
Comente!x

  Spoiler: não passou.
0
Comente!x

  Na semana seguinte, eu esbarrei com ele três vezes. Na calçada, saindo da farmácia. Na padaria, escolhendo o mesmo pão integral que eu. No coworking, no mesmo horário do meu intervalo.
0
Comente!x

  Coincidência? Talvez. O universo dando risadinhas irônicas? Provável.
0
Comente!x

  — Vai começar a parecer perseguição — brinquei na terceira vez.
0
Comente!x

  Ele riu, segurando um copo de chá na mão.
0
Comente!x

  — Se fosse, eu não seria tão óbvio.
0
Comente!x

  Não consegui conter o sorriso. Maldito.
0
Comente!x

  Nosso “acaso” virou rotina silenciosa. Ele sentava algumas mesas longe, mexendo no iPad com a caneta, fones no ouvido. Às vezes, quando levantava o olhar e me pegava encarando, só levantava uma sobrancelha em silêncio e voltava pro desenho.
0
Comente!x

  Zero flerte barato. Zero “preciso da sua atenção agora”.
0
Comente!x

  E eu… bem, eu estava acostumada a caras que precisavam ser alimentados emocionalmente a cada cinco minutos. A confiança quieta de era tão desconcertante quanto magnética.
0
Comente!x

  Num final de tarde, quando eu saía carregada de amostras de revestimento, ele apareceu ao meu lado sem aviso.
0
Comente!x

  — Precisa de ajuda?
0
Comente!x

  Balancei a cabeça, teimosa.
0
Comente!x

  — Dou conta.
0
Comente!x

  Ele não disse nada. Apenas pegou metade das caixas das minhas mãos.
0
Comente!x

  — Eu sei. Mas às vezes aceitar ajuda não é sinal de fraqueza.
0
Comente!x

  Parei. Fiquei olhando pra ele. Calmamente determinado. Nenhuma intenção escondida.
0
Comente!x

  — Você sempre dá lições de vida aleatórias assim?
0
Comente!x

  — Só quando vale a pena.
0
Comente!x

  Maldito de novo.
0
Comente!x

  Acompanhei o caminho até o carro em silêncio. No fundo, sabia que ele tinha razão. Pela primeira vez em muito tempo, alguém oferecia algo sem esperar nada em troca.
0
Comente!x

  Quando coloquei a última caixa no banco de trás, respirei fundo.
0
Comente!x

  Chega de testes com caras aleatórios, . Não complica. Só aceite.
0
Comente!x

  Na sexta-feira, Juliana me mandou um áudio caótico:
0
Comente!x

  , feira de rua na praça das Cerejeiras! Vai, mulher! Desconecta um pouco! Aproveita e compra aquelas velas aromáticas caríssimas que você AMA.”
0
Comente!x

  Eu estava quase dizendo não. Quase. Mas alguma parte minha — a parte que andava sorrindo mais ultimamente — decidiu ir.
0
Comente!x

  O sol de outono deixava o céu absurdamente bonito. As barracas coloridas, o cheiro de café fresco, bolo de milho, e incenso competindo no ar. E adivinha quem eu encontrei, parado casualmente numa banca de prints artísticos?
0
Comente!x

  — Se isso for uma perseguição, parabéns. Está sutil. — Cruzei os braços, erguendo uma sobrancelha.
0
Comente!x

   sorriu, virando-se para mim com uma sacola de papel na mão.
0
Comente!x

  — Eu te disse. Se eu perseguisse, seria melhor do que isso.
0
Comente!x

  — Modesto.
0
Comente!x

  — Realista.
0
Comente!x

  Ele apontou para a banca ao lado.
0
Comente!x

  — Vem. Quero sua opinião sobre algo.
0
Comente!x

  Me peguei seguindo sem resistência. Ele mostrou duas ilustrações minimalistas em aquarela.
0
Comente!x

  — Qual combina mais com meu espaço? — Olhei de lado, intrigada.
0
Comente!x

  — Isso é um truque pra fazer compras comigo? — Ele fingiu indignação.
0
Comente!x

  — Juro que não. Preciso de ajuda de alguém com bom gosto.
0
Comente!x

  Me detive, observando o desenho. O coração um tiquinho acelerado — não era nada, , respira.
0
Comente!x

  — Essa. — Apontei para a obra com traços suaves em azul e dourado. — Tem equilíbrio. É simples, mas tem presença.
0
Comente!x

  Ele me encarou por um instante a mais do que o necessário.
0
Comente!x

  — Que coincidência… exatamente como você.
0
Comente!x

  Corei. Sim. Eu, Costa, a rainha da muralha emocional, corei. Disfarcei, apontando pra frente.
0
Comente!x

  — Vamos andar. Antes que eu cobre por consultoria.
0
Comente!x

  Caminhamos devagar pela feira. Ele me deixou escolher um buquê pequeno de flores secas, segurou minha sacola quando eu lutei para equilibrar o café e o celular, comentou calmamente sobre as peças expostas. E no meio daquele caos bonito de feira, barulhos, cores e aromas, eu pensei o que não queria pensar:
0
Comente!x

  “Talvez, só talvez… o treinamento realmente tenha acabado.”
0
Comente!x

  A feira terminou e começamos a andar de volta, sem pressa.
0
Comente!x

  — Tá tarde… — comentei, olhando o céu escurecendo. — E eu estou faminta.
0
Comente!x

  — Eu também. — apontou pra esquina. — Minha casa é logo ali. Tem uma varanda legal e, se você não tiver medo, posso fazer um macarrão decente.
0
Comente!x

  Parei. Olhei pra ele. O alerta interno soou forte.
0
Comente!x

  Perigo. Proximidade + comida + varanda = altíssimo risco de criar expectativas.
0
Comente!x

  Mas o sorriso dele era tão leve, tão despretensioso…
0
Comente!x

  — Só se eu supervisionar a cozinha — respondi.
0
Comente!x

  Ele levantou as mãos como quem se rende.
0
Comente!x

  — Fechado.
0
Comente!x

  O apartamento dele era exatamente como eu imaginava. Paredes Julianas, móveis de madeira simples, plantas nas janelas, livros e cadernos de desenho espalhados com organização caótica.
0
Comente!x

  — Amei. — Me surpreendi dizendo.
0
Comente!x

  — Obrigado. Não é muito, mas é meu.
0
Comente!x

  Ficamos na cozinha pequena, lado a lado, preparando o jantar. O silêncio era confortável. De vez em quando, nossos braços se encostavam, e eu me pegava pensando se aquilo era normal. (spoiler: não era.)
0
Comente!x

  Quando sentamos na varanda para comer, serviu duas taças de vinho. A luz amarelada da luminária fazia tudo parecer calmo, íntimo, quase cinematográfico.
0
Comente!x

  — Por que você me convidou hoje? — perguntei de repente. Ele apoiou o cotovelo na mesa, girando a taça com os dedos.
0
Comente!x

  — Porque gosto da sua companhia. E porque, por alguma razão, estar com você parece fácil.
0
Comente!x

  Fiquei em silêncio. O vento frio brincava com uma mecha solta do meu cabelo. esticou a mão e, com cuidado, ajeitou-a atrás da minha orelha. Toque leve, quase reverente.
0
Comente!x

  — Posso te perguntar algo? — ele sussurrou. Assenti, incapaz de formar palavras. — Por que você sempre parece pronta pra fugir?
0
Comente!x

  Minha respiração prendeu. Pega. Na hora. Sem escapatória.
0
Comente!x

  — Porque eu já perdi muito tempo tentando ter algo decente com outros — confessei. — Não quero mais fazer isso. Não quero cair nesse ciclo de novo.
0
Comente!x

  Ele me olhou fundo, com aquela calma devastadora.
0
Comente!x

  — Eu não sou os outros, . Eu sou eu. Não quero ser um projeto. Só quero ser eu. Com você, se você deixar.
0
Comente!x

  Meu coração deu um salto dolorido de tão intenso. Eu devia recuar. Dizer alguma coisa sarcástica. Manter o controle. Mas tudo que consegui foi sussurrar:
0
Comente!x

  — Ainda é só o primeiro jantar… — Ele sorriu.
0
Comente!x

  — Eu sei. Sem pressa.
0
Comente!x

  Brindamos em silêncio. E pela primeira vez, eu quis que o momento não terminasse tão cedo.
0
Comente!x

  Eu devia ter previsto, sempre faço isso.
0
Comente!x

  Dois dias depois daquele jantar perfeito, fui tomada pelo pânico. Pela necessidade desesperada de controle. Pela voz interior gritando: não se entregue, ele vai te decepcionar como todos os outros.
0
Comente!x

  Então fiz o que sabia fazer melhor: me afastei.
0
Comente!x

  Respondi as mensagens dele com frieza educada. Evitei o coworking. Mudei minha rota matinal pra não cruzar com ele. Esperei. Esperei ele insistir. Procurar. Mandar flores, áudios, convites dramáticos. Porque era assim que sempre tinha sido. Sempre.
0
Comente!x

  Mas … não jogou o jogo.
0
Comente!x

  Silêncio. Nenhuma cobrança. Nenhum “por que você sumiu?” Nenhum “você não responde minhas mensagens!”
0
Comente!x

  Ele simplesmente respeitou meu espaço.
0
Comente!x

  E foi isso que me desmoronou.
0
Comente!x

  Na terceira noite, sentada no sofá, com um copo de coca-cola e a lista impressa dos “17 HOMENS: CASOS E CAUSAS DE FRACASSO” amassada na mão, eu finalmente entendi. Ele não precisava de mim pra ser melhor. Ele já era.
0
Comente!x

  E eu? Eu é que estava tão viciada na ideia de me proteger que não sabia mais reconhecer quando alguém vinha inteiro, não pela metade.
0
Comente!x

  Peguei o celular. As mãos tremiam.
0
Comente!x

  : Podemos conversar?
0
Comente!x

  A resposta chegou em segundos.
0
Comente!x

  : Claro. Quando quiser.
0
Comente!x

  Fechei os olhos. Suspirei. Pela primeira vez em anos, eu não sentia medo. Sentia paz.
0
Comente!x

  Peguei as chaves e saí.
0
Comente!x

  A porta do estúdio de estava entreaberta. A luz suave escapava pelas frestas.
0
Comente!x

  Bati levemente. Ele apareceu, ainda com o lápis preso atrás da orelha e um olhar sereno, como se já soubesse que eu viria.
0
Comente!x

  — Oi — sussurrei.
0
Comente!x

  — Oi. — Ele deu aquele meio sorriso de sempre.
0
Comente!x

  Ficamos em silêncio por alguns segundos que pareceram eternos.
0
Comente!x

  — Eu fugi. — Fui direta. Pela primeira vez, sem muralhas, sem sarcasmo. — Não por você. Por mim. Porque não soube lidar com alguém que não tentasse me convencer, que não me perseguisse, que simplesmente… fosse.
0
Comente!x

  Ele assentiu lentamente, sem interromper.
0
Comente!x

  — E agora? — perguntou baixinho.
0
Comente!x

  — Agora eu quero tentar. Sem jogos. Sem projeções. Sem achar que você precisa ser consertado ou me provar nada. Só você. E eu. Se você ainda quiser.
0
Comente!x

  Ele se aproximou devagar, encurtando a distância entre nós, e tocou de leve minha mão.
0
Comente!x

  — Só se for de igual pra igual, .
0
Comente!x

  Meu coração deu aquele salto de novo. Mas dessa vez não foi medo, foi alívio. Sorri, entrelaçando nossos dedos.
0
Comente!x

  — Igual pra igual.
0
Comente!x

  Ele inclinou o rosto, e o beijo aconteceu do jeito mais natural do mundo: sem pressa, sem fogo de urgência, mas cheio de promessas. Quando nos afastamos, ele sussurrou com a testa encostada na minha:
0
Comente!x

  — Isso conta como nosso primeiro encontro oficial? — Dei uma risada leve.
0
Comente!x

  — Não. Esse foi só o pré-requisito. O primeiro encontro oficial vem depois.
0
Comente!x

  — Quando?
0
Comente!x

  — Quando eu quiser.
0
Comente!x

  Ele sorriu, e eu soube que ele entenderia. Sem pressa. Sem cobrança.
0
Comente!x

  No more training season.
0
Comente!x

Fim

  Nota da autora: Confesso: foi um desafio e tanto escrever essa história, que música dificil. Criar uma protagonista que fosse forte, mas também ferida. Que colocasse limites, mas ainda tivesse espaço pra amar de novo. E encontrar em Rafael não um homem “perfeito”, mas um cara que já fez seu próprio caminho e não precisava de mais uma mulher tentando consertá-lo.
  Essa história é sobre cansaço, sim. Sobre listas de fracassos amorosos, sobre bloquear contatos e sobre o silêncio que vem depois de tanto barulho. Mas também é sobre recomeços, sobre alguém que aparece sem fazer alarde… e fica.
  Obrigada por acompanhar até aqui. Beijos!

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com

You cannot copy content of this page

0
Would love your thoughts, please comment.x