Namoro Escondido

  Olhei ao redor, pessoas conhecidas sorriam para mim por todos os lados. Uma delas, minha amiga, balançou a mão para que eu fosse cumprimenta-la logo. Fiz um sinal de positivo com o dedo, mostrando que captei sua mensagem e que iria até ela assim que pudesse.

  - , vamos começar em uma hora. – meu agente disse, tocando em meu braço para chamar minha atenção. Concordei com a cabeça, vendo-o se afastar para falar com a produção do show que participaria como convidada.

  É apenas uma apresentação de nossa performance. Faço parte deste grupo chamado Velvet; estamos na mídia faz um tempo, seis anos para ser exata. Desde as Spice Girls, não é fácil fazer parte de um grupo de cantoras e dançarinas; mesmo com ótimas coreografias e tendo trabalhado com produtores renomados, é difícil ultrapassar as pioneiras. Nosso grupo possui seis integrantes. Nossa união foi feita de maneira incomum. Halo é o rosto do grupo, ela veio do Havaí para fazer um teste para um grupo que já não existe mais, mas acabou por ser retirada dele antes de debutarem; como os produtores viam um grande potencial nela, optaram por criar um novo grupo ao redor de seus talentos. Halo é uma ótima atriz e muito bonita, já ganhou dezenas de prêmios e é sempre a favorita dentre as marcas de cosméticos. Seus cabelos praticamente pretos sempre cortados em um modelo reto e comprido, os olhos acinzentados são levemente puxados pela descendência havaiana e as sobrancelhas finas a faz sempre parecer que está tentando seduzir alguém.

  A segunda pessoa que entrou no grupo foi Paris. Por causa do nome dela, as pessoas tendem a achar que ela é francesa, mas a verdade é que ela nasceu na Alemanha e veio para Londres quando ainda pequena. Ela é a dançarina principal do grupo; não possui a melhor voz, mas compensa na dança. Sempre estudou dança desde quando chegou a UK e foi escolhida para que ajudasse as outras cinco de nós melhorarmos nosso gingado. Ela gosta de ter a cor dos cabelos escuros, está em um tom azulado essa semana; nossas fãs nunca a viram com sua cor natural, por isso, é difícil delas saberem qual é. Paris é loira, como uma alemã do interior, seus cabelos são claríssimos. A terceira a entrar fui eu. Nasci em Wokinghan, uma pequena cidade, próxima de Windsor, onde a rainha costuma passar suas férias de verão. Vim para Londres com a intenção de uma carreira solo, mas acabei na Velvet. Não sei bem como aconteceu, mas pude entender que se não estivesse no grupo, seria difícil cantar para estádios e ao redor do mundo como fazemos agora. Sou a vocalista principal, por isso, as pessoas acham que sou a líder, mas não sou. Chelsea, a quarta a entrar no grupo é a verdadeira líder, porque ela é a mais velha de todas nós. Nasceu em 87 e sempre gostou de cantar e dançar. Não é melhor que eu no canto, nem que Paris na dança, mas tem seus talentos. Ela sempre gostou de ruivos, por isso, pinta seus cabelos em tons de laranja e vermelho com frequência. Com seus olhos verdes e sardas nas maçãs do rosto, é fácil de achar que ela é uma autêntica, quando, na verdade, apenas retoca a tintura a cada duas semanas.

  Khloe foi a penúltima a entrar e é a mais nova de todas nós. Por ser filha única e do interior, possui uma educação diferente da nossa. É pouco interativa e costuma manter nós cinco como seu círculo de amizade. Seus cabelos são escuros e nunca gostou de mudar de cor ou deixá-los curtos, por isso, desde quando debutamos, sua imagem continua praticamente a mesma, com a diferença de seu rosto estar com mais maquiagem. Por fim, a última a entrar foi Magz, ela é sobrinha do dono da empresa que nos lançou; ela gosta de cantar e o fato de ser a sobrinha de quem é, tem facilidade em ser chamada para programas. Por falar e rir bastante, gosta de ser a porta-voz do grupo quando Chelsea não quer falar.

  O fato é que enquanto somos solteiras, as pessoas tendem a não nos dar tanta atenção, exceto pelo fato que somos talentosas. Por incrível que pareça, atualmente, ser talentosa não é o suficiente para o mundo. Assim, há dois anos Chelsea namora um ator; eles eram amigos de infância e vieram juntos para Londres, por isso, não foi difícil terem qualquer tipo de relacionamento. Foi muito fácil, porque as fãs facilmente criava grupos e apelidos com a junção dos nomes de Chelsea e Joe. Contudo, dois anos passa com rapidez e no início do ano passado, Magz e Halo foram flagradas com Ronnie e Vinny. Eles são da área de entretenimento, mas bastante conhecidos pelos cidadãos ingleses. Vinny, principalmente, é 12 anos mais velho que Halo, o que fez com que o escândalo fosse ligeiramente maior que Magz e Ronnie. Por um tempo, as pessoas cogitaram na separação do grupo por causa dos relacionamentos. Vinny e Joe, em entrevistas diferentes, falaram sobre casamento, por isso, foi uma péssima divulgação da Velvet.

  Sou uma pessoa que faz parte do mundo das celebridades, porque é o preço que tenho de pagar para cantar. Amo cantar. Sempre soube que minha carreira seria relacionada à música e ao canto; fiz aulas desde pequena. Durante estes seis anos na Velvet, vi que se esconder o relacionamento, é melhor para nosso grupo. Quando a pessoa com quem nos relacionamos é mais famosa ou querida que nós, é especialmente mais doloroso manter qualquer contato. Com essa ideia, coloquei em minha cabeça que não deveria me relacionar com alguém mais famoso que eu.

  Um erro.

  Minha mãe sempre disse, “não diga que não fará algo ou isso se tornará seu carma.” Há dois meses, em nossa apresentação do Brit Music Awards, conheci , do grupo One Direction. É bastante claro para todos os músicos da atualidade, que o One Direction é o grupo do momento, ganhando tantos prêmios quanto os Beatles em sua época de ascensão. Toda vez que ligo a rádio ou a TV, lá estão eles em seus videoclipes ou participações nos programas. Para mim, eles eram indiferentes. Possuem rostos bonitos e vozes também, parecem simpáticos e têm seus charmes. Entretanto, nunca esperaria me dar tão bem com um deles, a ponto de começarmos a nos falar com frequência. Aos poucos, eu e fomos criando um laço muito forte entre nós; saímos juntos, vamos ao cinema escondidos e ambos conhecemos a família do outro. Participamos de eventos pessoais na casa de familiares e, o mais importante, nos encontramos no Kensington Park de madrugada. Lá, durante a noite, podemos caminhar juntos sem nos preocuparmos em chamar a atenção. Com roupas escuras e capuzes, somos capazes de fazer um percurso inteiro entre risadas até pegarmos um táxi para nossos lares.

  Suspirei e olhei para o lado, onde as garotas ainda tinham seus cabelos e maquiagens retocadas. Porque falam muito e gostam de andar para lá e para cá, é mais fácil desgastar a maquiagem ou desfazer o penteado. Como permaneci grande parte do meu tempo sentada com meus amigos, era natural que eles se sentissem mais seguros em não terem de ficar atrás de mim pedindo para que parasse de me mexer para que arrumassem logo o que tinham de arrumar.

  Meu celular tocou em minhas mãos. Não pude evitar abrir um sorriso ao ver o nome de na caixa de mensagem que surgiu, mostrando o início de seu recado.

  “Não sabia que você participaria deste X-Factor.”

  Olhei ao redor e pude vê-lo parado próximo à porta de ligação do palco com os camarins. Abriu um pequeno sorriso, que descobri ser tão charmoso quanto sua voz e então levantar a mão que segurava o celular, em um aceno de cumprimento. Abri um sorriso de volta e apontei para meu celular, indicando que iria responder:

  “Podemos nos ver daqui a pouco, então?”

  Levantei o rosto e me levantei. Olhei para as meninas e pude vê-las a par de nossa troca de mensagens, pois sorriam maliciosas para mim e . Balancei a mão ao vê-las rirem e então segui até ele, longe do grupo de concorrentes que participariam do programa.

  - Quando você disse que tinha programação hoje, não imaginei que teria a sorte de vê-la aqui. – ele deu um beijo em minha bochecha assim que cheguei. – Como você está?

  - Bem. Um pouco cansada, não me deixaram dormir essa noite. Foi a última de Chelsea conosco, ela irá se mudar para uma casa com Joe, então decidimos que seria bom fazer uma festa de despedida.

  - Dê meus parabéns para ela depois. – ele sorriu. – Escuta, o que você fará depois daqui? – inclinei minha cabeça para o lado, sem entender a razão da pergunta. – Bem, talvez nós pudéssemos, não sei, ir até aquele parque que você gosta.

  - Você sabe como os parques são medonhos de noite aqui em Londres. – abri a boca, vendo-o corar por ser pego de surpresa. Não pude evitar dar uma risadinha. – Seria ótimo ir ao parque com você, .

  - Isso é um sim? – ele apontou para mim.

  - É um sim. – concordei.

  - Ótimo.

  Vi em seu corpo agitado que aquele não era o único assunto que gostaria de perguntar para mim. Suas mãos estavam unidas atrás de seu corpo e seus olhos iam de mim para qualquer outro lugar do estúdio.

  - ? – ele olhou para mim. – Você quer dizer algo mais?

  - Talvez. – abriu um novo sorriso, me vendo sorrir. – Talvez eu queira fazer uma pergunta.

  - Tudo bem. O que é?

  - Sobre nós dois. – limpou a garganta. – Você me conhece. Quero dizer, sabe sobre minha, hum, fama. – assenti com a cabeça. Sei bem sobre sua fama. não é o exemplo de cara que os pais querem como genros, mas que todas as garotas do mundo querem como namorado. – Desde que a conheci, tenho me comportado. De verdade, pode perguntar para . – apontou para trás, me fazendo rir. – Você é uma pessoa respeitosa. E algo dentro de todo esse respeito me conquistou, você sabe, eu não sou de trocar mensagens todas as noites, sou uma pessoa bem dorminhoca quando em casa.

  - ! – ouvi meu agente gritar perto do palco.

  - Seja mais rápido, . – pedi, vendo-o se agitar em minha frente.

  - Tudo bem. Talvez eu queira entrar em um relacionamento sério com você. – arregalei meus olhos. – É sim, falei. Sou melhor que isso, mas estou nervoso. Não costumo gostar de garotas caladas e certinhas como você, e isso é um elogio! – apontou para mim, quando levantei uma sobrancelha.

  - Não sei se podemos entrar em um relacionamento, . Quero dizer, eu gosto de você, talvez o suficiente para isso. Mas temos compromissos e…

  - , somos humanos. Acredite, temos tempo para o outro.

  - Suas fãs…

  - É. Elas são um problema para você. Mas podemos lidar com elas. Quero dizer, se você estiver disposta…

  - , dez minutos, vamos! – meu agente chegou para me arrastar para o palco.

  - Keith, na verdade, posso ter uma palavra de quatro minutos com você? – olhei significante para , que olhou para Keith, compreendendo minha atitude.

  - Se demorar quatro minutos…

  - Tudo bem. e eu queremos entrar em um relacionamento sério.

  Keith olhou para mim, finalmente desviando sua atenção para nós.

  - , você é realmente sincera com seu trabalho. – ele abriu a boca. – Você sabe que não precisa anunciar para mim quando começa a namorar, não é?

  - Sim, mas você é a pessoa que está mais próxima de minha agenda e da situação da banda…

  - Ah, você quer minha opinião. – ele limpou a garganta, sentindo a responsabilidade ao ver meus olhos e de em si. – Bem, conheço a fama de em não obedecer as regras do relacionamento, então não sei se seria a pessoa perfeita para namorar com você. Além do mais, o One Direction está em disparada à frente da Velvet; por um lado, seria bom para a divulgação do novo single da banda, mas por outro, você pode sofrer um belo bullying das fãs dele. Ou ex’es.

  - Ela não é a única sincera aqui… – resmungou ao meu lado.

  Olhei para os dois, sem saber o que fazer. Era verdade. A questão de alguém mais famoso que eu poder me derrubar estava de volta à tona, agora de verdade. Não sei como agir. Gosto tanto de . A maneira que ele me acorda me ligando e cantando What Makes You Beautiful, ou quando me manda flores sem razão nenhuma, quando me chama para ir tomar uma cerveja e acaba me comprando um pretzel de canela e todas as idas até cidades ou países fora de Londres e Inglaterra, trazendo lembranças para mim. De fato, ele sabe como tratar bem uma mulher, mas não sei se consigo aturar todo o ódio que possivelmente irei receber das fãs.

  - Discutam sobre isso depois, por favor, , você tem que entrar no palco em um minuto. – Keith me empurrou, pedindo licença para . Olhei para trás, vendo-o sério observar me afastar. Levantou a mão em despedida.

  Não nos encontramos depois de minha apresentação. O One Direction se apresentou logo depois de nós, mas nossas saídas não coincidiram.

  - Como Keith foi insensível! – Chelsea disse, séria dentro da van que nos levava para nosso complexo. – Não há problema nenhum em você namorar o , ele só não quer receber mais broncas por sair escândalos.

  - Não ouça o que ele disse, , você não irá receber ódio, porque somos queridas demais. – Halo tocou em meu ombro, me fazendo assentir. – Honestamente, irei mata-lo! Veja só, você namora quem você quiser, já está mais do que na hora, afinal, fazem seis anos e você nunca teve nada mais que um ou dois rumores. Sair com um Directioner não é ruim, principalmente o .

  - Sempre achei ele o mais bonito de lá! – Khloe disse, animada.

  - Ai, eu também! – Halo concordou, iniciando uma discussão entre as três sobre as qualidades de . Abri um pequeno sorriso; o que elas haviam dito era verdade. Posso ter um relacionamento, estou de cabeça no trabalho fazem seis anos.

  Assim que chegamos ao complexo, me despedi das três, entrando em um táxi que me levaria até o Kensington Park. Demoraria cerca de quarenta minutos, então enviei uma mensagem para , dizendo o horário que provavelmente estaria por lá. Pela primeira vez, não recebi resposta dentro de cinco minutos.

   sempre teve o costume de me responder rápido. As vezes que não conseguia, era porque me esquecia que ele não estava mais na Inglaterra e que a maneira mais fácil de falar com ele, era esperando que ele entrasse no Skype. Contudo, dessa vez, durante todos os quarenta e três minutos que levei para chegar ao meu parque favorito, que simboliza todos os melhores momentos de nosso relacionamento quase sério até hoje, não recebi nenhuma resposta de .

  É claro que não, ele provavelmente estava nervoso por eu não ter respondido naquela hora sobre nós dois. Ele estava tão animado, encontrando maneiras de acabar com os obstáculos que eu criava e então, quando merecia uma resposta, dei-lhe as costas para me apresentar. Olho para a noite quente de Agosto e não encontro o semblante de no banco que estamos acostumados a nos encontrar, escondida entre um poste de luz e uma árvore, próxima à estátua principal do parque. A essa hora, muitas pessoas levam seus cachorros para passearem por estar fresco, então não era nada perigoso caminhar por ali. Sentada, olhei o relógio novamente e mais de uma hora havia se passado. Olhei para os lados e não pude ver nenhum sinal dele.

  Me perguntei se deveria tentar enviar uma nova mensagem, mas seria ruim para minha imagem. Tentei ligar duas vezes já, ele poderia estar realmente bravo e ignorando minhas mensagens e ligações propositalmente.

  Quando quase duas horas se passaram, decidi que era hora de ir embora. Suspirei e me levantei, olhando mais uma vez para o celular, na esperança de vê-lo tocar e me dizer uma desculpa qualquer que eu possa aceitar para voltarmos a caminhar por aquele parque juntos. Mesmo depois de dois minutos inteiros em pé olhando para a tela escura, o celular não tocou.

  Caminhei até o ponto de táxi lentamente. Quando finalmente abri a porta para entrar no automóvel, achei que ouvi a voz de me chamando. Olhei para os lados e não vi ninguém, então provavelmente era uma ilusão de minha vontade. Adentrei no táxi e pedi ao senhor que me levasse até o endereço de minha casa. Estava devolvendo o celular em minha bolsa, quando o taxista freou bruscamente, soltando um palavrão:

  - Não, pare o carro! – levantei a cabeça, assustada, achando que era um roubo. Arregalei meus olhos ao ver à frente do veículo, as bochechas avermelhadas e os cabelos bagunçados.

  - Mas o que…

  - Não acelere! – pediu ao taxista, que fez um sinal que não iria. Abri a janela ao meu lado. – Me desculpe, eu atrasei, na verdade, a droga da bateria do meu celular acabou e quando liguei, tinha suas mensagens e as ligações perdidas… Saia desse carro, venha. – se dirigiu até a porta da frente, onde tirou uma nota de cem libras, entregando para o taxista, que não reclamou, já que a corrida daria muito menos que aquilo.

  Sem escolhas, desci quando ele abriu a porta para mim e caminhamos de volta até o nosso banco.

  - Achei que estivesse bravo comigo. – falei, vendo-o arfar ao meu lado, enquanto tentava recuperar o ar.

  - Eu estava. – olhou para mim. – Estava puto. Achei que tinha me dado um fora, mas então me lembrei que você costuma ser sincera. – soltou uma pequena risada. – Olhe, seu agente tem razão. Eu não sigo as regras de um relacionamento, por isso, não faz mal nenhum entrarmos em um escondidos, não é? Ninguém precisa saber, só nos dois. O que acha?

  Soltei uma gargalhada ao vê-lo me oferecer uma proposta daquelas. Vi sua expressão confusa e ansiosa, até decidir lhe dar minha resposta:

  - Namorar escondido nunca me pareceu tão divertido.