Namae wo Yobu yo
História narrada e vivenciada por , o .
Se puderem, e quiserem, leiam essa narração ouvindo a música que escrevi para a pessoa que me faz seguir em frente.
O ser humano é um animal que, inevitavelmente, precisa viver junto de seus semelhantes para estar satisfeito, de alguma forma. Não é como se eu fosse diferente disso, o fato é que a popularidade que adquiri, sem nenhuma intenção, me incomoda. Eu, literalmente, não posso fazer
nada no colégio, ou na minha vida fora dele, sem que a escola toda saiba. Neste instante, em que narro a minha história, eu estou caminhando pelos corredores do colégio sob olhares de todos seus estudantes, só pelo fato de que ontem eu estava em companhia
dela. A menina que está causando inveja em todas as demais habitantes femininas do colégio. Só porque passou uma noite comigo.
Deixe-me voltar há alguns dias e contar do início.
Segunda-feira, primeiro dia de nossas vidas juntos
Como era de costume, eu saí da última aula da manhã e caminhei na direção da quadra de esportes. Sou capitão do time de basquete, estou no último ano do ensino médio e me chamo , mas, por favor, me chamem de . Costumeiramente, aqui no meu país, o Japão, todos se chamam pelo sobrenome, por respeito. Chamar alguém pelo
nome da pessoa pode até ser considerado rude. Eu não ligo. Meus pais dizem que só quando eu me casar que poderei chamar uma mulher pelo nome e vice versa. As pessoas me tratando por o tempo inteiro realmente é algo que me incomoda, mas, quem sou eu para mudar uma tradição milenar, não é mesmo? Sou apenas um garoto de 17 anos que quer terminar o ensino médio e me formar em alguma faculdade que ainda não escolhi. É, eu sei, preciso me decidir logo.
— ! – Takashi, um dos meus melhores amigos me chamou assim que apontei na porta do vestiário. Todos já estavam se trocando para o treino.
— E aí, Taka! – falei de volta e cumprimentei ele. Abri meu armário, joguei minha pasta lá dentro e retirei o uniforme de treino.
— Já tá sabendo que teremos plateia hoje? – falou Taka enquanto calçava o tênis.
— Sempre tivemos – respondi sem olhar para ele. – Qual a diferença de hoje? – completei, curioso.
— Os nerds vão nos ver hoje. Soube que tomaram uma punição na última aula de educação física e serão obrigados a assistir nosso treino e escrever um trabalho sobre – ele falou num tom risonho e completou: – Até a mais certinha deles estará aqui, acredita? tomando uma punição dessas?! Logo ela!
— também? – perguntei, curioso.
— Para você ver, ela também. Vamos logo! Hoje irei jogar com gosto só para agradar os nerds! – ele disse e riu do próprio comentário.
Eu terminei de me arrumar e subimos para a quadra. Logo eu vi que, além das cheerleaders que sempre marcavam presença nos treinos do time, havia pessoas novas na arquibancada, dentre elas, uma logo se destacou. Pelo menos para mim. , ou , como já ouvi alguns amigos íntimos dela a chamarem. Ela é uma garota normal, sem muitos dotes físicos visíveis que atraem qualquer cara da minha idade, menos a mim. Eu prefiro uma garota inteligente com quem eu possa trocar mais que duas frases que não sejam sobre futilidades. Além disso, que ela tem de sobra, o que me chama atenção nela é a forma como ela me olha. Não é de hoje que venho notando os olhares dela para mim, durante as aulas, nos intervalos, até mesmo já a vi em um parque onde eu fui caminhar uma vez. Seu olhar é sempre tímido, amedrontado, mas diria que há mais sentimentos escondidos ali além disso. E, por mais bobo que possa parecer, eu quero descobrir esses sentimentos.
[…]
Após o treino, voltamos para o vestiário, tomamos banho e fomos para a última aula da tarde, uma aula extra. Na verdade, tratava-se de uma reunião com os alunos da turma para conversar sobre nossas notas. Ah, minhas notas devem estar péssimas. Confesso que ultimamente eu venho me dedicado mais ao basquete do que às provas. Estou bem desleixado. Meus pais me matariam, caso soubessem.
Já estávamos todos sentados em nossas carteiras esperando o professor para começar a reunião. está sentada na primeira carteira no canto da janela. Minha carteira fica na fileira do meio, a penúltima da fila. Eu não enxergo muito bem, deveria sentar na frente. Teoricamente, eu deveria usar óculos, porém não os uso, pois me incomodam. Bem, a miopia me incomoda mais, às vezes, as dores de cabeça também, porém usar óculos me deixa com a feição mais idiota do que a de costume. Sem contar que jogar basquete de óculos é inviável. Enfim…
O professor entrou na sala e todos nos levantamos, em respeito a ele. Ao chegar à sua mesa, o mesmo já começou o discurso. E que discurso! Eu fiquei tenso só pela entonação que ele usou e olha que eu não me intimido fácil. O professor foi falando com todos sobre suas notas. Quando chegou a minha vez, me levantei para ouvir seu discurso. Os olhares de meus colegas recaíram sobre mim.
— Sr. , estou decepcionado com o fato de suas notas estarem muito na média – ele disse e eu arqueei a sobrancelha esquerda sem querer. Mas, se minhas notas estão na média, por que a decepção? – Como capitão do time de basquete, eu esperava muito mais do senhor – completou ele num tom exageradamente decepcionado. Ah, é por isso então. Só porque sou o capitão do time de basquete eu tenho que ter notas excelentes?! Sim, só por isso.
— Me perdoe, professor, vou melhorar minhas notas – falei isso mais para ele largar do meu pé.
— Ah, disso eu tenho certeza, rapaz – falou ele ainda me encarando. – É por isso que o senhor terá ajuda a partir de amanhã. – eu estava com o corpo curvado, em sinal de desculpas pelas minhas notas medianas, mas, neste instante, meu corpo ergueu-se e revelou minha expressão de total desaprovação.
— Ajuda? – perguntei involuntariamente.
— Sim, você precisa de ajuda para aumentar suas notas e é claro que estou falando da srta. – aquilo realmente me surpreendeu. me ajudando? De imediato, eu olhei na direção dela e a vi levantar assustada. – Creio que a senhorita não irá se opor em ajudar o sr. , não é mesmo? – o professor a encarou, fazendo mais uma retórica do que realmente querendo saber se ela estava disposta.
— Sim, senhor! – exclamou ela e olhou de esguelha para mim encontrando meu olhar ainda fixado nela.
— Ótimo! Após a aula, vocês já podem conversar sobre como farão as aulas de reforço. E o senhor, sr. – ele voltou seu olhar repreendedor para mim – espero que isso realmente resolva seu
problema. – enfatizou ele. Naquele momento, eu não questionei mais nada, apenas assenti com a cabeça e voltei a me sentar. fez o mesmo.
Após a aula, eu fui o primeiro a sair e nem falei com ninguém.
Terça-feira, segundo dia de nossas vidas juntos
Já acordei com uma enorme dor de cabeça. Eu mal dormi noite passada pensando naquela bendita reunião e nas palavras, que eram mais ordens, do professor. Aulas de reforço com . É, eu realmente preciso de um banho gelado para tirar essa tensão de mim. E eu nem sei explicar o porquê de estar tão nervoso com isso.
Eu já estou na escola, cheguei mais cedo para poder evitar muita movimentação, principalmente após essa notícia. Passei quase correndo pelos corredores que me parecem maiores do que realmente são. Em um deles, enquanto eu andava, senti um puxão de leve em minha pasta que eu segurava atrás de meu ombro direito, apoiada nas minhas costas. Virei-me e vi a figura tímida de parada e de cabeça baixa.
— , e-eu… – ela começou gaguejando, respirou fundo e falou de uma vez: – vamos estudar hoje após o seu treino! Pode ser na biblioteca! Com licença!
Após falar isso, ela saiu correndo na direção contrária da nossa sala e eu continuei ali parado. Voltei a andar na direção da sala, ouvi algumas pessoas falarem comigo, mas não prestei atenção. Por que eu só conseguia pensar nesse encontro? Ah, vamos lá , isso não é um encontro. É apenas uma aula de reforço. Mas é com ela… meu Deus, eu preciso tirar esses pensamentos da cabeça! Foco, ! Foco!
[…]
O treino já havia acabado há mais de duas horas e ainda me aguardava na porta da biblioteca. É, eu não apareci. estava magoada comigo pela minha ausência. Ela caminhou a passos firmes até a saída do colégio. Fez o caminho que dá em minha casa, logo ela havia chegado aqui em casa e tocado a campainha. Olhei pela janela do meu quarto, que é no primeiro andar, e não vi ninguém. Desci devagar as escadas, tocaram novamente. Meu Deus, calma!
— Já vai! – gritei, irritado. Desci as escadas e abri a porta. O semblante de era de alguém que foi traído. Sua postura sempre retraída deu lugar para uma muito firme e alterada.
— , por que não apareceu na biblioteca!? Fiquei esperando e você não apareceu! Por que fez isso? Estou tão irritada com você! , isso não se faz, é maldade! – ela gritava com os braços gesticulando enquanto segurava sua pasta, vi que haviam algumas lágrimas presas em seu olhar.
— , eu… – eu tentei começar uma explicação, mas ela realmente não estava me escutando.
— Não há desculpas, ! Você foi irresponsável comigo e com o compromisso que firmou com nosso professor. Agora entendo porque suas notas estão na média. Que irresponsável!… – ela continuou falando. Nunca a vi tão falante antes. Eu estava me sentindo tão cansado. Minha cabeça começou a rodar e doer mais, aquela mesma dor de quando eu acordei, ainda não havia passado. Estou com dificuldade para respirar e me sinto mal. Me segurei rapidamente na porta, senti que ia cair – ! – ela disse ao me ver vacilar – Desculpe, , você está bem? – corrigiu-se e segurou meu braço. Sua expressão voltou a ficar doce e um pouco temerosa.
— Eu estou com dor de cabeça – falei e levei a mão livre na minha testa – está muito forte – fiz uma careta de dor e ela afastou minha mão, pondo a dela em minha testa.
— , você está com febre! – disse ela espantada.
— Estou? – perguntei e senti que cairia de novo, caso não me sentasse – Preciso sentar, agora. – sem perguntar, ela jogou meu braço por cima de seus ombros envolvendo seu braço em minha cintura. Com cuidado, ela me sentou na ponta da escada. – Obrigado, .
— Onde estão seus pais? Quer que eu ligue para alguém? – indagou num tom claro de preocupação.
— Meus pais estão viajando, como sempre. Meu irmão mais novo foi com eles, dessa vez. Não há ninguém para ligar. – falei e fiz outra careta de dor.
não sabia o que fazer. Minha cabeça ia explodir a qualquer minuto, parecendo uma bomba relógio. Eu conseguia até ouvir o tic tac…
Eu levantei para ir até meu quarto, mas minhas pernas vacilaram. Só não caí de cara nos degraus da escada, porque me segurou a tempo. Ajudou-me a subir e me colocou na minha cama. Ela desceu as escadas e eu achei que havia ido embora, mas, minutos depois ela voltou com uma bandeja com um prato de sopa em cima. Mais uma coisa para me surpreender positivamente.
— Te trouxe sopa. Se não quiser comer agora, não demore a comer, para não esfriar muito. Eu, eu já vou. Trouxe alguns remédios que encontrei na caixa de remédios que há na cozinha – e eu nunca soube da existência dela. – Acha que vai precisar de mais alguma coisa? – perguntou ela me encarando. Eu estiquei o braço para ela, que estava afastada, e fiz sinal para que se aproximasse. Ao chegar perto suficiente, eu segurei firme em sua mão.
— Você! – falei meio inconsciente, meio lúcido. Ou minha dor de cabeça e febre estão afetando meu raciocínio ou estão aguçando algo que eu já queria fazer no meu subconsciente. – Fica aqui comigo, por favor?! – fechei os olhos, estou ofegante e acho que minha febre aumentou.
Senti que o corpo dela deu um passo para trás, talvez de medo por ficar sozinha comigo, mas logo senti o peso de seu corpo sentando-se ao meu lado.
— Vou cuidar de você,
– a voz dela saiu suave e doce. Só em ouvi-la mencionar meu nome eu sorri e adormeci tranquilo.
Quarta-feira, terceiro dia de nossas vidas juntos
Abri meus olhos devagar, achando que teria muita luz no ambiente, mas me enganei. Ainda estava escuro, o relógio marcava 4AM e senti que não estava sozinho na minha cama. Rolei a cabeça para o lado e vi que dormia ao meu lado. Sua cabeça estava em cima de meu travesseiro, que aliás está molhado com meu suor. Me sinto um pouco melhor. Minha cabeça não dói tão alucinadamente como antes e acho que minha febre cessou ou diminuiu bastante. Vi que segurava um pano úmido próximo ao corpo. Sua respiração serena me fez encarar ela. Eu estou com um sorriso idiota no rosto e nem seu o motivo. Talvez porque ela está aqui comigo. Eu nem sabia direito, mas eu precisava disso: da companhia dela. Preciso
dela comigo. Eu que sempre tive a sensação, desde que a conheci, que quero cuidar dela, desta vez quem está sendo cuidado sou eu. E, pela primeira vez, na vida me sinto acolhido de verdade por alguém.
Adormeci novamente. Sorrindo.
[…]
— O que significa isso, ?! – ouvi a voz de minha mãe bem longe. A luz do Sol que preenche meu quarto agora me incomodou muito. Me virei para o lado, ainda de olhos fechados, e joguei meus braços em cima de algo. – ?! – ouvi a voz brava de minha mãe novamente e resolvi abrir os olhos para acordar deste sonho doido. Quem me dera ser um sonho.
— Mãe?! – falei espantado, ainda na mesma posição, olhando para ela.
— O que uma
garota faz no
seu quarto, ? – olhei para a “coisa” que estou abraçando e vi o semblante de que ainda dormia. Como que não acordou com os berros de minha mãe?
— O que está havendo aqui? – a voz de meu pai invadiu o quarto e eu não poderia estar mais ferrado. – !! O que é isso?!
— Não está vendo? Ele está com a namorada na cama dele. Isso é uma total falta de respeito com seus pais e seu lar, garoto! – berrou minha mãe. finalmente acordou, só agora notei que eu ainda abraçava ela. Recolhi meus braços e me sentei.
— Não é isso, mãe. Eu… – arregalou os olhos ao ver meus pais ali e levantou-se rapidamente, curvando-se em seguida.
— Me desculpem por isso, senhor e senhora ! – ela falou, ainda curvada e pude ver que ela estava quase chorando.
— Não precisa pedir desculpas, . Não fizemos nada errado – eu disse e encarei meus pais.
— Não precisa disso tudo, minha filha – meu pai disse e aproximou-se mais dela. – Vamos lá, levante-se. – ele a olhou com compaixão e sorriu – Se o disse que não fizeram nada é porque não fizeram. Certo? – ele me encarou e eu assenti com a cabeça. Minha mãe revirou o olhar.
— Que seja! Eu vou tomar banho. – falou ela e saiu do quarto.
— O que aconteceu realmente, ? – perguntou meu pai assim que minha mãe saiu.
— Eu passei mal ontem, tive febre e, como eu tinha um compromisso com a e não apareci, ela veio aqui para saber o que havia acontecido. Então ela me encontrou aqui com febre e uma dor de cabeça forte. Foi só isso, meu pai. Ela só ficou aqui porque eu pedi. Acabamos dormindo.
Expliquei e meu pai sorriu. Meu pai nos olhava com um mix de orgulho e compaixão. Compaixão pela situação em que fomos flagrados. E orgulho, talvez, por eu ter trazido
uma garota aqui em casa. Melhor, para o
meu quarto. Pai, essa realmente não é a melhor hora para o senhor pensar nessas coisas pervertidas. Meu irmão, Ren, um ano mais novo, passou pela porta do meu quarto e viu a cena. Esperou nosso pai sair para falar:
— Aí, ! Mandou bem, ela é bem gata! Claro que se você der um banho de loja nela, pode melhorar, mas ainda assim é bem bonita! Estou orgulhoso, maninho!
Fixei meu olhar de reprovação nele e arremessei-lhe um travesseiro. Ele riu e saiu correndo para seu quarto. não falou mais nada. Meu pai ofereceu café da manhã e comemos. Gentilmente ele nos levou até o colégio, depois que tomamos um banho, é claro. E então chegamos a cena do início desta narração.
[…]
Chegar ao colégio acompanhado da foi um acontecimento muito maior do que eu imaginei que seria. Enquanto caminhamos, notei que o corpo inteiro dela tremia e com certeza está com vontade de chorar. Para tentar lhe passar segurança, eu segurei sua mão e apertei de leve. Lancei um olhar acolhedor e sorri.
— Estou aqui com você,
– falei e ela sorriu pela primeira vez. Um lindo e genuíno sorriso que me deixou ainda mais encantado por ela.
Caminhamos rapidamente pelos corredores até finalmente chegarmos em nossa sala. Ela foi para seu lugar e logo foi cercada pelos poucos amigos que tem. Fiz o mesmo e também fui cercado pelos meus amigos. Takashi era o mais empolgado e a todo momento me perguntava o motivo de eu ter vindo junto com a . Ele tem a mesma opinião de Ren: a de que precisa de um “banho de loja” para ficar mais bonita. Pois, para mim, ela é linda da maneira que é.
Quinta-feira, quarto dia de nossas vidas juntos
Hoje acordei mais feliz que ontem. Por que? Bom, passei a tarde e parte da noite na companhia da . Ah, a . Eu acho que estou apaixonado por ela. Na verdade, eu acho que sempre fui apaixonado por ela e ela por mim. Enquanto eu estava com febre e ela estava cuidando de mim, eu a ouvi dizer diversas vezes que queria estar no meu lugar, que se sentia culpada por ter brigado comigo quando eu estava doente. E, teve uma frase que ela disse, que me fez acreditar que todos podem encontrar a felicidade na vida, inclusive eu.
— Você é tão especial para mim, . Não posso perder você. Eu… eu gosto tanto de você.
A frase. Essa frase que me fez sorrir inconscientemente e me sentir acolhido por ela. E por isso agora já estou me imaginando envelhecer ao lado dela. Eu devo ser muito louco, um romântico idiota. Ou, na verdade, eu estou certo em pensar assim. De que adiantaria ter um futuro brilhante pela frente se estarei sozinho? Se não terei ninguém para compartilhar comigo essa glória? Se eu não tiver a
comigo?
— Depois conversamos, Taka. Te vejo depois – me despedi de meu amigo e o deixei com uma cara muito cômica na arquibancada da quadra externa. Saí em direção à… bom, eu não sabia bem para onde eu ia. Só sabia que eu tinha que encontrá-la. – Com licença, você é amigo da ? Quero dizer, da , nossa colega de turma? – o cara para quem perguntei isso me olhou como se eu fosse um lunático ou algo parecido.
— Para quê quer saber, ? – questionou de volta num tom muito desconfiado.
— Bem, eu… – não precisei me explicar, logo a estava em nossa companhia.
— ? – disse ela ao se aproximar. – Quer dizer, . Olá! – corrigiu-se ela e sorriu para mim.
— Olá, . Podemos falar a sós, um minuto? – o amigo dela parecia não querer nos deixar a sós. Ah, com certeza não.
— Claro! Já volto, Kōhshi – ela disse olhando para o amigo. Ele não disse nada em resposta, ele apenas me encarava e aquilo começou a me assustar. – Deseja marcar as aulas de reforço? Eu estou livre… – ela começou a falar, já estávamos mais afastados do tal Kōhshi, porém eu a interrompi e segurei sua mão.
— Quer sair comigo? – fiz o pedido bem de repente, mas eu já havia planejado isso mil vezes em minha mente de ontem para hoje. Em todos os meus devaneios ela dizia “não” e eu tentava falar de uma outra forma até que ela aceitasse. Eu não consegui chegar nesse cenário…
— Sim – … pelo menos, não nos meus devaneios. Realmente eu não esperava que ela aceitasse. Eu sorri, feliz pela afirmação e falei:
— Podemos ir ao café que tem aqui perto do colégio e depois dar uma volta. O que acha? – eu disse e ela assentiu.
— Esse horário está ótimo. Te vejo mais tarde,
.
Hoje não teria treino, então eu estou com a tarde livre. Assisti às aulas da manhã com toda alegria possível, pois mais tarde passaria um tempo a sós com ela. Eu não consegui evitar alguns olhares direcionados à ela. O tal Kōhshi percebeu e ficou me encarando, a carteira dele é na mesma fileira dela, aliás, é bem atrás dela. Passou todas as aulas me encarando também. Um mala. Mas resolvi ignorar ele, eu só tinha olhos para a .
[…]
Estou atrasado e me odeio por isso!
Já passam das 16h e eu já deveria estar no café que há lá perto do colégio para o encontro com a . Mas, infelizmente, ao chegar em casa para me arrumar, minha querida e exigente mãe me prendeu em casa para uma de suas conversas sobre “qual curso você vai fazer na Universidade, ?” Essa é a única pergunta feita por ela. Após mais de duas horas de discurso dela, meu irmão conseguiu me salvar fingindo passar mal. Com a atenção de minha mãe voltada para ele, eu finalmente peguei meu casaco e meu cachecol, pois é inverno no país, e corri para o café. Literalmente estou correndo para chegar até lá. Eu espero que a não me odeie.
Antes mesmo de chegar perto do café, já no início da rua, eu pude ver a cena que me irritou muito de ver. As cheerleaders do time de basquete, e também as meninas mais cobiçadas do colégio, cercavam uma das mesas externas do café. Ao me aproximar mais, pude ver quem era o foco da zoação delas. Corri para ajudar.
— O que faz aqui, garota? Fala logo! – uma delas disse e deu um tapa na cabeça de , que nada disse. Elas começaram a pegar e puxar o cabelo da , como se fosse algo muito asqueroso e sujo. – Não me diga que está esperando um namorado? – ela disse e riu. As outras riram como hienas.
— O que estão fazendo?! – perguntei ao me aproximar – , está tudo bem? – ela não respondeu, ainda mantinha a cabeça baixa, seus cabelos cobrindo seu rosto.
— , porque está falando com essa aí fora do colégio? – perguntou ela e encarou com desdém.
— Não te interessa, com licença – afastei ela com as mãos e segurei os ombros de . Ela levantou o olhar. – Está tudo bem, ?
— Me deixem em paz!!! – gritou ela e bateu na minha mão que estendi para ajudá-la a levantar. Depois disso, ela saiu correndo.
— , espera! – gritei, mas ela já estava longe.
— Deixa ela, . Te faço companhia – a líder das cheerleaders abraçou meu braço e sorriu maliciosamente.
— Não quero sua companhia. – falei e deixei ela falando sozinha.
Corri pelas ruas laterais e principais que existem próximas ao café a procura dela. Faz muito frio e está ventando bastante. Pelo que vi, o casaco que ela usava não era tão grosso e ela não usava um cachecol. Corri mais rápido ao ver uma figura parecida com ela entrando num parque, não tão longe do café onde estávamos.
— ! – chamei por ela que se virou e voltou a correr, atravessando a ponte que ligava uma ponta à outra do parque, embaixo dela tem um lagoa. – Espera! – quando a alcancei, segurei seu braço e puxei seu corpo para perto do meu. – Me perdoa por demorar, me perdoa… – eu disse e segurei a nuca dela apertando levemente sua cabeça em meu peito.
— … – ela disse baixinho. Me afastei e olhei para ela. Seu rosto está vermelho e pude comprovar que seu casaco não é tão grosso quanto deveria.
— Você deveria estar usando um desses. Com licença… – tirei meu cachecol e coloquei em volta de seu pescoço, ajeitando por dentro de seu casaco. O vento gelado do inverno cortava nossos rostos. Ela se encolheu e eu a conduzi até ao corrimão da ponte, abraçando ela pelas costas.
— Oi, … – sussurrei em seu ouvido e a ouvi suspirar de leve. Ela se virou e eu mantive meu abraço, só que um pouco mais afastado.
— Eu gosto de você, – ela disse e fez uma careta em seguida, como se tivesse se arrependido do fato.
— Eu também gosto de você, – eu disse e encostei nossas testas. Senti sua respiração quente bem perto, está bem ofegante. – Eu estou apaixonado por você, – completei e senti sua respiração aumentar mais. Foi o momento em que a beijei suavemente. Um beijo literalmente gelado, mas que aqueceu nossos corações. – Quer ser minha namorada? – seus olhos encheram-se d’água e ela assentiu com a cabeça.
Eu não conseguia escolher entre Engenharia Industrial ou Jornalismo. Ou qualquer outro curso para fazer uma faculdade. Mas, para escolher a mulher da minha vida, meu coração foi bem rápido. E eu senti em meu interior que eu fazia o certo naquele momento. É o que eu mais quero. É o que o meu coração pede para ser feito. Eu sempre fui meio desleixado na vida, com quase tudo. Poucas eram as coisas que me chamavam a atenção e prendiam meu interesse. E esse meu jeito de ser sempre irritou minha mãe, sempre levantou críticas pesadas dela a meu respeito. Já pensei várias vezes em desaparecer, mas, sempre que me vinha esse desejo, eu pensava em uma coisa que a me disse quando ainda não tínhamos tanta intimidade. Em nossa primeira semana de aula, eu fiz uma redação sobre como seria o futuro. O professor disse que minha redação está fora dos padrões e que nem se daria o trabalho de ler. Joguei o papel fora, fiquei bem irritado. No mesmo dia, me mandou um bilhete dizendo que tinha lido minha redação e que estava
bem poética e que transmitia toda a luz que eu tinha. Não sei se ela exagerou um pouco nas palavras, mas aquilo me tocou profundamente. Agradeço a ela por isso. Me deu ânimo para tocar meu projeto de montar uma banda adiante. Eu tenho muitas composições, músicas prontas que nunca mostrei a ninguém. E ela será a primeira a conhecer todas elas.
Eu quero continuar com nossas vidas juntos. Sempre que ela se sentir mal eu quero estar perto para ser seu suporte. E sei que ela será o meu.
“Sempre que você estiver obscurecido por tristeza e suas lágrimas caírem
Sempre que seu coração se encher de solidão e começar a definhar
Eu vou chamar um nome
O seu nome
Assim como uma vez você chamou o meu
Eu vou chamar um nome
O seu nome”
Namae wo yobu yo, Luck Life.
Fim
AAAA, essa fic é algo que eu sempre quis fazer desde que ouvi essa música pela primeira vez. Ela é ending de um anime (Bungou Stray Doys) e o Luck Life é uma banda maravilhosa, com várias músicas incríveis, mas essa é especial. A tradução é lindíssima e coube como uma luva nesse plot haha sem contar que o Pon, vocalista, encaixou perfeitamente no PP fofinho e despreocupado que eu criei.
Enfim, espero que tenham gostado. Eu amei escrever cada palavra dela. (E ouvi MUITO essa música durante o processo)
Me digam nos comentários ou no meu insta!
Um beijo e até a próxima fic da tia Li 😉