my lab crush

  null estava cansada. As aulas práticas possuíam um ritmo frenético, e o fato das provas estarem se aproximando não ajudava em nada, ainda mais quando tentava descansar e ficava pensando nos componentes químicos das suas experiências da próxima semana. Estudar e trabalhar em um laboratório era exaustivo, mas até que tinha os seus pontos positivos.

  Quer dizer, um ponto positivo em especial.

  Desde que começou a cursar farmácia, null fez alguns amigos que levaria pelo resto do curso e para a vida, dentre deles, havia null null, a sua dupla de laboratório e seu crush. Gostar de null parecia inevitável no momento em que o rapaz pisou na sala e pediu para null ser a sua dupla, e a partir desse acontecimento, ela sabia que se apaixonaria pelo rapaz facilmente. Dito e feito, a garota passou três anos e meio tendo esse crush secreto e apesar de querer falar sobre com null e se “confessar”, null meio que foi exposta por uma aluna da outra turma que também tinha um interesse na sua dupla.

  Por mais que tenha ficado incomodada por ter sua chance de se declarar tirada de si, ela não ligava para os comentários que sugiram nos corredores da faculdade, tampouco se preocupava de ser o alvo do fã-clube do rapaz; null tinha mais o que fazer e ficar no meio de burburinho não fazia parte dos seus planos, contudo, ela aproveitou o fato de ser tratada como a personagem principal de um filme e decidiu se declarar, afinal, o não a garota já possuía.

  — null, quer almoçar? O professor avisou pelo e-mail que a aula foi cancelada, então teremos tempo livre até o próximo período.

  — Hum… — Abriu os olhos com certo pesar, não querendo levantar de seu cochilo.

  — Você realmente gosta de dormir, né? — null concordou com null, sentindo o seu cabelo sendo afagado por ele. — Se quiser, podemos ficar aqui.

  — Nah, preciso comer algo — se espreguiçou, sorrindo para a sua dupla em seguida —, e quando que eu recuso algum convite seu?

  — Felizmente a minha companhia favorita sempre tem tempo para mim.

  Os dois compartilharam uma risada e seguiram para um restaurante próximo, entretidos nos últimos acontecimentos da faculdade.

  — Acho que não voltaremos para a faculdade hoje.

  null e null não sabiam como, mas caía o mundo lá fora e por mais que tentassem retornar para a próxima aula, as chances de chegarem minimamente secos seriam mínimas. Eles terminaram o almoço e pagaram a conta, e com as mochilas nas costas, pensavam no que fariam, desistindo completamente após alguns minutos.

  — Eu tenho um guarda-chuva. — null o procurou na mochila rapidamente. — É suficiente para nós dois.

  — Isso é uma desculpa para dividirmos um guarda-chuva? — null arqueou uma sobrancelha e sorriu travesso.

  — E se for?

  — Eu diria que não tem problema algum em compartilhar com você.

  — E é por isso que você tem a fama de romântico, null.

  Ambos riram com o comentário de null. O rapaz era chamado de príncipe nos corredores da faculdade, e o apelido surgiu não só por sua beleza, mas por ser prestativo e simpático com todos igualmente. No seu grupo de amigos, a sua fama de romântico vinha por gostar de escrever letras de músicas no seu tempo livre, muitas delas sendo literalmente românticas. A mulher adorava escutar a sua dupla cantarolar, sempre dizendo que ele deveria seguir a carreira da música ao invés de ficar dentro de um laboratório, entretanto, null apenas sorria e respondia que gostava da faculdade que escolheu.

  — Quer voltar?

  — Sinceramente? Não. — null riu. — Estou com preguiça pós-almoço e adoraria tirar mais cochilos.

  — Quando que você não gosta de dormir, null?

  — Nos momentos que estou com você, null! — Sua fala foi animada, fazendo com que o rapaz se deixasse levar por essa animação e acreditasse no que acabou de ouvir.

  — E eu que sou o romântico, né? — Ele se aproximou um pouco do rosto dela, recebendo como resposta uma careta.

  — Enfim — null voltou a sua atenção para a chuva que não diminuía —, quer ir para algum lugar?

  — Não sei se seremos bem-vindos em alguma loja se ficarmos ensopados.

  — Você tem um ponto. — A mulher suspirou pesadamente, ponderando novamente.

  — Meu apartamento é aqui perto.

  — Que bom? — null pausou, parecendo se lembrar de algo em seguida: — Você não mora com o seu amigo?

  — Sim, o Wonwoo, mas ele deve estar no seu trabalho. E não é como se ele fosse nos proibir de ir lá pra casa por estarmos um pouco molhados — falou simplesmente ao dar de ombros.

  — Ah, isso é um convite? — null rolou os olhos, rindo. — Não me lembro de ter sido convidada.

  — Você aceita conhecer a minha humilde residência, null?

  — Aceito, meu romântico favorito.

  null sorriu e passou o braço pelo ombro da garota, a trazendo pra perto enquanto segurava o guarda-chuva com a outra mão. null suspirou, sorrindo também ao cruzar olhares com null ao iniciarem o trajeto para o seu apartamento. A essa altura, null suspeitava que o seu crush é recíproco, entretanto, não comentaria nada sobre o fato da faculdade ser bem mais próxima do que a casa do rapaz.

  O apartamento não era enorme, mas espaçoso o suficiente para duas pessoas morarem. Dava para perceber que os quadros que enfeitavam o ambiente eram pintados por null, e null gostava de poder vê-los mais de perto, já que só via por fotos pela falta de tempo de ir até o prédio das artes da faculdade.

  O amigo lhe ofereceu algo para beber, contudo, null surgiu ao seu lado e logo apontou para o bolo, sem dar oportunidade para null lhe oferecer. Não era a primeira vez que null vinha ao seu apartamento, na verdade, ela era uma das visitas mais frequentes – por mais que null não a considerasse mais como “visita”, mas, sim, parte da casa –, então, a mulher tinha intimidade o suficiente para dizer que queria uma fatia de bolo. Mas mal sabia null que a sua dupla sempre comprava aquele bolo em específico por causa dela.

  — Eu nunca vou me cansar desse bolo! — A mulher saboreava cada pedacinho da sobremesa, extremamente feliz com a junção de sabores. Ela e o rapaz haviam decidido comer o doce após tomarem um banho e colocarem a roupa para secar, pois apesar de terem usado um guarda-chuva, eles chegaram na casa um tanto molhados.

  — Você sempre diz a mesma coisa — ele sorriu, apoiando o rosto na sua mão —, e eu acho isso adorável. Quer assistir alguma coisa?

  — Claro, quais são as opções?

  null corou um pouco, tendo cada vez mais certeza de que seria correspondida, contudo, mudou de ideia sobre se declarar; não havia desistido, só que se null também gostasse dela, null queria que ele desse o primeiro passo. Ela o conhece muito bem para saber que o rapaz não falava as coisas só por falar, todavia, null tinha uma leve dificuldade de expor o que realmente queria, além do fato dele saber que os rumores que percorrem a faculdade sobre null gostar dele é verdade.

  — Que filme chato. — Nem dez minutos se passaram e a garota já reclamava, arrancando uma gargalhada do amigo.

  — Não queria ter que concordar, mas parece que vai ser bem ruinzinho. Quer fazer outra coisa? — perguntou ao deitar a cabeça nas pernas da amiga, recebendo um cafuné.

  — Nah, deixa o filme rolar enquanto a gente conversa, é uma companhia a mais. — null bocejou, sentindo um pouco de sono. — De quem fofocaremos dessa vez?

  — Da sua inimiga?

  — A Rafa da sala 3? — O viu concordar. — Tá mais para o contrário, né? Ela me odeia de graça, meu querido. E a culpa é sua.

  — Minha? — Se levantou, encarando a mulher de frente.

  — Uhum. — Continuou a mexer em seu cabelo, fazendo um penteado qualquer.

  — A culpa é minha de ser tão bonito? — Sorriu travesso.

  — Você é idiota, sabia?

  — Sei, e você adora esse idiota aqui, null. — Tocou na ponta do nariz dela, ganhando a segunda careta do dia como resposta. — Mas, voltando a falar da Rafa, ela nunca se declarou ou tentou puxar assunto. Não entendo o motivo de te encher o saco e criar rumores quando ela não tem a coragem de falar comigo.

  — Vai entender, né… — null suspirou, sem paciência para a garota ou quem espalhava os boatos. Por mais que escolhesse ignorar, era verdadeiramente um saco ser enfiada no meio de algo infantil.

  — Quer que eu fale com ela?

  — Nope, se eu quisesse já teria te pedido, meu bem. Não tem conversa com a Rafa, ela simplesmente age do jeito que quer, e eu tenho mais o que fazer.

  — Então talvez eu tenha que criar outros rumores também…

  — Sobre? — questionou curiosa.

  — Sobre eu gostar de você. Assim, as pessoas terão outra coisa pra falar.

  — E você gosta?

  null ficou quieto por um momento, sem quebrar o contato visual. Ele sempre deu muita importância às suas palavras, então não havia interesse algum em fingir e mentir sobre o que sentia, ainda mais por null, por quem tinha uma afeição durante esses três anos e meio.

  — Eu gosto de você, null. Desde que a gente se conheceu, provavelmente.

  — E me chamou várias vezes para a sua casa ao invés de um encontro? Não posso aceitar isso!

  null caiu na gargalha, sem conseguir manter a pose por muito tempo; ela não ligava de não ter sido chamada para um encontro e até preferia não ser, já que não queria ser convidada só por pena ou algo do tipo – mesmo que saiba que null nunca faria isso. Os dois passavam muito tempo juntos, e isso era o bastante para null, independente dela se declarar ou não.

  — Eu também gosto de você desde o início da faculdade — ela abraçou os joelhos e sorriu ao olhar para null —, mas é bom saber que é recíproco.

  O rapaz se aproximou de seu rosto, tentando se encaixar para que pudesse selar os seus lábios; null soltou um risinho anasalado antes de se ajeitar, o puxando para si para que finalmente pudessem se beijar sem maiores problemas. Ambos degustavam de um beijo tão doce quanto o bolo que dividiram e ao se separarem, null segurou a sua mão, sorrindo:

  — Quer ir a um encontro comigo, null?

  null murmurou um contente e animado sim, enquanto o beijava novamente.