My Golden Boy

  O sol aparecia sem vergonha, me obrigando a levantar enquanto meu corpo queria permanecer em repouso nas cobertas. Encarei minha prima e lhe desejei “bom dia”, pegando uma toalha e fui em direção ao banheiro, tomando um banho rápido. Ao sair, me deparei com minha mãe na cozinha e falei brevemente com a mesma, que já estava de saída para o trabalho. Terminei de vestir o uniforme e pus a mochila nos ombros, caminhando até a escola. A brisa matinal batia contra meu rosto, bagunçando levemente meus cabelos e eu me deixava levar pela música que saía dos meus fones. O percurso durou quinze minutos, e logo eu adentrava o colégio, onde tinha quase pessoa nenhuma no pátio, já que eu estava atrasada. Subi calmamente as escadas e abri a porta da minha sala, observando meus amigos nas cadeiras da frente. Sentei na frente de Chloe, trocando de lugar com a mesma e engatamos uma conversa sobre os acontecimentos, resumindo alguns da semana, já que era sexta-feira. Antes da aula de matemática começar, fui falar com o meu amigo que parecia estar um pouco nervoso. Acabei descobrindo que ele havia sido assaltado e que mais tarde iria embora, já que não queria continuar ali. O abracei e pedi para ele mandar notícias depois, e em troca recebi um beijo na bochecha. Contei a Chlo o acontecimento e começamos – ou tentamos – prestar atenção no professor. E foi assim durante os próximos três tempos.

  O sinal para o fim do intervalo soou, provocando um desagrado em muitos alunos espalhados pelo pátio. Eu, Chloe, Claire, Jenny, Carolyn e Greg esperamos o professor chegar para subirmos com o mesmo, rindo de algo aleatório. Era impressionante como uma manhã que iniciou ruim, poderia dar uma melhorada em pouco tempo. A aula de biologia ajudava nisso, o nosso professor era super simpático e engraçado, sempre com histórias que envolviam a matéria e nos fazia esquecer de tudo, provocando entendimento e risadas. Eu amava isso, pois tínhamos três tempos com Charles, e se as aulas fossem monótonas, ninguém aguentaria a linda, e um tanto complicada, biologia.

  Encarei a tela do meu celular e quase chegava o horário para o segundo intervalo, quando decidi ligar minha internet e checar meu WhatsApp. Observei as mensagens que iam aparecendo e ao pararem, uma das primeiras que me chamou a atenção foi de uma amiga, Glinn, em um grupo que tínhamos com outras amigas.

  “Quem é ?” – Glinn

  Naquele momento, senti meu coração gelar, e um enorme medo invadir os meus poros. Abri rapidamente o chat, lendo o que estava acima, sentindo uma dor ao passar os olhos por cada palavra.

  “ morreu, estão sabendo?” – Kends

  Tudo tinha parado. Tudo. Eu dei um suspiro e comecei a chorar, chorar muito, descontroladamente. Sabe quando você não sabe como reagir, perde a noção dos seus sentimentos e só consegue pensar na pessoa em questão? Era como se o meu último fio de esperança havia se esvaído, a ficha não caiu, eu não queria acreditar nisso.

   era um menino de ouro, por mais que fosse galinha, ele era uma boa pessoa, sempre bem-humorado e te fazia rir. O conheci por causa de Letry, teve um dia fiquei com ela e seus amigos rodando o mercado na calçada da minha escola, e estava lá. Lembro que o achei bonito e ri bastante quando começaram a comparar e falar da bunda dele, ainda mais no momento que ele olhou para mim, quase numa súplica por ajuda. Desde então, fomos nos aproximando e criando um vínculo, até chegarmos na amizade.

  Um tempo após, nos envolvemos, porém, não deu em muita coisa. Isso não mudou nada entre nós dois, e em meados de 2015, acabamos nos esbarrando. Eu ia para o dentista, e ele, para o curso. Havíamos nos afastado um pouco, mas eu percebia que continuávamos do mesmo jeito um com o outro, e mais uma vez ele me fazia rir contando sobre os acontecimentos da vida dele. Paramos na porta da galeria que dava acesso ao consultório e ele me beijou. Em primeiro instante, me afastei, alegando que já tinha ficado com a minha amiga, e depois, o deixei tocar meus lábios novamente. Eu e Letry não ligávamos de ficar com os mesmos meninos, sempre perguntávamos uma a outra se estava tudo bem e se não rolava sentimento. Então, não tinha o que nos impedissem de fazer o que tínhamos vontade.

   e eu ficamos mais algumas vezes, e novamente, perdemos um pouco o contato. Fiquei sabendo que ele começou a namorar e mais tarde, que tinha se mudado para morar com sua mãe em outro estado. havia me mandado mensagem, dizendo que queria me ver antes de viajar, porém, acabou que não nos vimos.

  Há duas semanas, eu e Glinn estávamos na casa de Letry, quando a mesma disse que precisava falar sobre . Ao olhar sua feição, percebi que era algo sério, e logo sentei na cama, pedindo para ela contar.

  “ está com câncer, quatro.”

  A vontade de chorar veio, mas me segurei, perguntando informações a mais. Let disse que ele tinha se machucado no futebol e que fora para o hospital, e lá descobriram sobre o câncer que estava se espalhando. , desde então, ficara internado, e só sabíamos disso. Uma vez ou outra eu entrava na sua página do facebook para ver se algum familiar postava algo, mas não havia nada.

  E agora, duas semanas sem notícias, veio a do seu óbito. Meu coração batia freneticamente e meu rosto estava completamente molhado, e uma sensação sufocante tomava conta do meu corpo.

  — O que aconteceu, ?

  — Ele morreu, Chloe! — Mostrei o celular a ela.

  — Quer descer?

  Ao perguntar, eu já tinha me levantado e saí correndo, batendo a porta sem querer. Chorei mais ainda na escada, quando uma das inspetoras indagou o motivo de eu estar daquele jeito e me levou para a nossa orientadora. Chloe me alcançou e foi comigo até a sala de Valery, e eu pedi a mais velha que só ligasse para a minha mãe caso eu não conseguisse passar o intervalo bem. Ela atendeu meu pedido e eu fui ao banheiro com Chlo, sem raciocinar muita coisa. Ao sair, me deparei com alguns amigos vindo me abraçar e perguntando o que houve e brevemente eu falei. Voltei para a sala e arrumei meu material, pois, pelo visto, não ia aguentar ficar lá. Candice, outra amiga, veio ao meu encontro, já que não éramos da mesma sala, só podíamos conversar nos intervalos. Enquanto ela falava comigo, eu entrei no facebook de para confirmar a notícia e em sua página estava cheia de homenagens e seu rosto estampado. Aquele nó fincou com mais vontade em minha garganta, e com os olhos marejados, olhei para Candy.

  — Ele morreu, Candy. Ele morreu.

  Rapidamente me vi em seus braços, e as lágrimas caíam de novo e de novo, como se fosse um ciclo sem fim. A dor era tão forte, aquela sensação de estar sem chão, de saber que você não veria mais aquela pessoa ia acabando comigo lentamente.

   foi um amigo maravilhoso, mesmo que ficássemos anos sem nos falarmos, nada mudava. Nós tivemos algo puro e simples, sem sentimentos indevidos e que não afetou em nada no que éramos. Eu passei por comentários e achismos do meu ex melhor amigo – na época, era melhor amigo –, que não aprovava que eu tivesse algo com . Eu fiz uma das melhores decisões da minha vida, que foi ignorar e seguir o que eu queria, e não me arrependo nem um pouco. era muito bonito, com seus olhos claros e cabelos mais escuros, além de ser alto e ter uma boca gostosa demais. Uma das coisas que eu mais adorava nele era a mordidinha que ele dava em minha bochecha e quando me colocava em algum degrau para conseguir ficar do seu tamanho. Seu senso de humor era maravilhoso, assim como seu jeito todo lerdo e extrovertido, esse menino era todo estranho, e eu continuo amando isso.

  Meu coração, mesmo inundado de dor e saudade, sabia que não sofria mais, o meu menino de ouro pôde descansar e sei que ele vai ficar bem, onde quer que esteja. Eu sempre o levaria em minha memória e nas minhas orações, pois eu nunca o deixaria partir de meu coração.

   tem a melhor mordidinha na bochecha do mundo, e um sorriso maravilhosamente cativante que te leva a sorrir junto. Eu sempre irei amá-lo e ele sempre estará vivo no meu coração.