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Sem curiosidades para essa história no momento!

Midnight in Ulsan

City

  Meia-noite marcava no relógio do meu celular. Só tinha uma hora que eu havia iniciado minhas atividades de serviços gerais no shopping Lotte Young Plaza. Para uma estrangeira que chegou de paraquedas na Coréia, ter conseguido um lugar para ficar e um emprego de meio período no horário noturno era mais que sorte, um milagre. A mudança de planos em minha vida se deve ao meu descuido de não ter seguido à risca todas as orientações dadas pela University of Ulsan, onde ganhei uma bolsa de estudos com direito a dormitório e faria meu curso de hangul para aprimorar o que aprendi com aulas particulares no Brasil.
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  Não que eu seja uma pessoa rica, pelo contrário, sempre economizei cada centavo para realizar meu sonho de atravessar o oceano para o outro lado do mundo. Entretanto, a lei de Murphy em minha vida resolveu atrapalhar meus planos traçados desde a sexta série. Agora, preciso me virar para me manter em Ulsan, até as próximas provas de admissão no próximo ano. Segundo a responsável pelo setor de bolsas, minha vaga está reservada, porém devo fazer novamente as provas por questão de “cumprimento do protocolo”.
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  — Ah… — Soltei um suspiro cansado, dizendo para mim mesma: — Só mais um dia, %Annia%, você consegue.
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  Embalaria mais uma noite com as ferramentas de limpeza, revezando os andares com as outras senhoras da minha equipe noturna. Um detalhe? Eu era a única mulher com 20 anos ali, todas as outras já eram denominadas ajumma. Todas donas de casa, casadas e com filhos, que trabalhavam. Algumas para manter suas famílias e outras para manter sua independência dos maridos, segundo elas. Eram senhoras maravilhosas que me adotaram como se fossem minhas tias.
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  — Criança, nem começamos o turno e já está cansada? — ajumma¹ Sora deu uma risadinha. — Assim não vai aguentar nada quando se casar. 
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  — Deixe ela, Sora — me defendeu ajumma Hana. — Ela tem trabalhado em três turnos, nem sabemos como ela dorme, olhe só essas olheiras.
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  — Se continuar assim vai ficar feia, e eu não apresento mulheres feias aos meus filhos — comentou ajumma Yuri ao ajudar Sora a amarrar seu avental.
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  — Eu não quero um marido, ajumma, eu quero minha bolsa de estudos — protestei. — E por mais que seus filhos sejam bonitos, ajumma Yuri, eu não me senti atraída por nenhum deles.
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  — Yah, você não tem bom gosto. — Ela deu de ombros. — Fique com os bombados do seu país. — Ela pareceu chateada com a minha rejeição.
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  — Não ligue para ela, seu orgulho é sempre ferido quando uma garota rejeita seus filhos — ajumma Hana comentou segurando o riso. Eu ri discretamente.
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  — Vamos trabalhar, pois a noite é longa — disse ajumma Hana já colocando as luvas protetoras.
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  Sim, a noite era longa e trabalhosa. Eu ficaria com o último andar de compras do shopping para variar. Hana, que é a líder da equipe, sempre me mantinha no andar térreo. Comecei pelos banheiros femininos, eram menos bagunçados. No geral não podia reclamar tanto, em comparação com o povo brasileiro, os coreanos eram bem gentis quanto ao uso do banheiro público. Após sair da área dos banheiros, notei uma movimentação do lado norte seguida de vozes. Eu deveria continuar meu trabalho, talvez fossem os seguranças fazendo a ronda de rotina, ou as ajummas me chamando para a pausa do lanche.
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  Não me importei de início, até que ouvi o barulho de algo caindo e me aproximei lentamente. Me posicionei atrás de uma pilastra observando alguns homens de terno vinho, notoriamente armados, encurralando o gerente geral do shopping. Um deles, com terno na cor grafite, deu um passo à frente, deixando-se destacar entre os outros. O homem de grafite se colocou em frente ao gerente com um olhar meio nebuloso, e o pegando pelo colarinho da camisa, sorriu de canto.
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  — Entendeu a ordem? Ou quer que eu desenhe? — perguntou o homem de grafite.
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  — Do… %Dohwan%… Por favor — pediu o gerente exalando medo e desespero. — Eu conheço sua família há anos, jamais trairia a confiança do seu pai.
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  — Para você é senhor Woo — retrucou o homem mantendo o tom sério.
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  A forma que colocou as palavras certamente enfatizava seu sobrenome, para que meu chefe se referisse da forma correta. Em um piscar de olhos, o tal %Dohwan% largou a camisa do gerente e, tomando impulso, deu-lhe um soco o derrubando no chão. Eu coloquei a mão na boca, ao me assustar com a cena. Logo o homem de grafite retirou o celular do bolso, em segundos olhou para minha direção. Se ele me viu eu não sei, mas me encolhi e, mais que depressa, saí dali. Corri em direção à saída de emergência e desci algumas lanças de escada. Achei estar segura o suficiente para não ser alcançada, até que %Dohwan% abriu a porta e se aproximou de mim. Eu fechei meus olhos de medo. Pior que presenciar uma cena assim, é presenciar em país estrangeiro.
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  Meu coração acelerou quando ouvi sua aproximação de mim. Permanecendo de olhos fechados, senti até mesmo sua respiração. Certamente nossos rostos estavam bem próximos.
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  — Não precisa ficar com medo. — Sua voz estava mais branda e suave. — Não vou te machucar.
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  — Meu gerente… — tentei iniciar, porém minha voz falhou. — Eu juro que não vi nada.
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  — Por que mantém os olhos fechados? — perguntou ele.
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  — Porque não quero ver nada — respondi, controlando meu desespero.
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  — Abra os olhos — pediu ele com suavidade.
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  — Não, se eu abrir, vai me machucar — me neguei racionalmente.
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  Ele moveu mais seu rosto para mais perto e sussurrou em meu ouvido:
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  — Abra os olhos, por favor. — Sua voz saiu ainda mais doce e aveludada, em uma forma envolvente.
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  Por mais que eu quisesse resistir, minhas pálpebras se moveram de acordo com seu pedido, e abriram lentamente. Meus olhos se fixaram nos dele, que irradiava intensidade, algo que fez meu corpo arrepiar.
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  — Eu não vou contar a ninguém — disse em sussurro.
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  — Hum… — Ele pareceu pensativo.
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  — Eu prometo — assegurei. — Dou minha palavra, eu não vi nada, não sei de nada, não falarei nada.
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  — E acredito em você. — Ele deu um sorriso de canto, mantendo o olhar em mim. — Seu olhar é sincero.
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  %Dohwan% retirou o celular do bolso mais uma vez e fez uma ligação.
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  — Está tudo sob controle, apague os registros. — Ao terminar, ele desviou seu olhar para a câmera perto da porta, então voltou para mim. — Volte ao seu trabalho e esqueça o que aconteceu.
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  — Sim, senhor Woo — disse de imediato, me lembrando da forma correta que ensinara o gerente.
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  — Você não — corrigiu ele de forma surpreendente. — Pode me chamar de %Dohwan%.
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  Assenti com a cabeça. Ele deu um último sorriso para mim e se afastou indo em direção à porta de saída. Passei o resto da noite estática ali até que ajumma Hana me encontrou e perguntou o que eu fazia nas escadas. Inventei a desculpa que não estava me sentindo bem e parei para respirar um pouco.
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  Após amanhecer, seguimos para o vestiário e nos trocamos, me despedi das ajummas. Segui para o Goshiwon² onde me hospedava, solução simples e barata para uma pessoa sem grana como eu. O louco é que não era nem um lugar que podia ser comparado a uma kitnet, mas meu quartinho era aconchegante com seus 5m².
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  Duas semanas se passaram desde o ocorrido. O gerente Kim se mantinha indiferente ao acontecimento, mantendo sua rotina de trabalho e não se importando em nos cobrar cada vez mais serviços impecáveis. Sexta à noite, uma grande reunião foi organizada com todos os funcionários do shopping, até nós da base da cadeia alimentar, a humilde equipe de limpeza. Nos colocamos todos no grande espaço do piso térreo, assim que o gerente começou a discursar, senti vontade de colocar os fones no ouvido.
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  — Soube que temos um novo diretor no shopping — comentou ajumma Sora. — E que é bonito.
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  — Tenho certeza que não é mais que meus filhos — comentou ajumma Yuri.
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  — Se for mesmo bonito, pode ser um bom partido para nossa criança brasileira — brincou ajumma Sora.
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  — Ajumma, você vive querendo me casar com todo mundo. — Eu a olhei por um momento. — Estou aqui para estudar, e jamais que um executivo vai olhar para a estrangeira da faxina. 
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  — A vida pode ser um dorama quando se tem esperança — comentou ela.
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  — Você quer é me arranjar qualquer marido — brinquei rindo.
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  — Silêncio as duas, ou a equipe de limpeza vai levar repreensão — disse ajumma Hana ao nos chamar atenção.
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  Até o momento eu não estava prestando atenção às falas e apresentações do gerente.
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  — Então, dou a palavra ao nosso novo diretor de marketing do Lotte Young Plaza, senhor Woo %Dohwan% — concluiu o gerente Kim seu discurso.
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  — %Dohwan%?! — sussurrei colocando a mão na boca.
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  Se eu pudesse ver minha cara agora… Senti até mesmo minhas pupilas dilatarem ao ver aquele homem novamente, trajando seu terno vinho, com all star branco e semblante sério, porém sereno.
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  Meu corpo arrepiou e meu coração acelerou assim que o olhar dele encontrou o meu.
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  Ele deixou transparecer um sorriso de canto nebuloso e charmoso ao mesmo tempo.
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“Someone call the doctor.” 
– Overdose / EXO

  “Surpresas: A vida segue acontecendo nos detalhes, nos desvios e nas alterações de rota, todas te trazendo surpresas.” – by: Pâms

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Lelen
Admin
3 meses atrás

Gente, achei que o moço era mafioso (é?), aí do nada surge ele de novo como alguém importante na hierarquia do negócio.
EU QUERO CONTINUAÇÃO, SENHORAAAAA.
Eu achei que o pp ia ser o filho da senhora Yuri no final HAHAHAHAH
Mimdá continuação, por favor <3


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