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Quiz #006
// O Tema
Qual cor representa seu próximo personagem?
// O Resultado
Azul


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Esta história não possui capas prévias (:

Midnight Blue

Aurora Boreal

  A primeira vez que vi o azul da meia noite, foi o dia em que eu o conheci.
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  Naquela tarde eu estava eufórica por ter conseguido um emprego integral na Minas Uai, também conhecida como a cafeteria do Zé. A mais famosa do bairro Brooklin na cidade de São Paulo, segundo ele próprio. Era meu primeiro dia de trabalho e tinha minha inseparável amiga Lola dividindo o cargo de garçonete comigo. Seria divertido trabalhar ali, mesmo que no período final da tarde/noite como um segundo emprego que me ajudaria a pagar os boletos, pois minhas manhãs eram revezadas entre os trabalhos freelances de gráfico e um curso de aperfeiçoamento em fotografia, do qual estava me apaixonando dia após dia. Meu pai não concordava muito, para ele, ter um trabalho em tempo integral estilo CLT era bem mais garantido do que ser uma autônoma que vive de dois empregos por causa do mercado competitivo. Contudo, eu não me importava, já que quem pagava minhas contas era eu mesma e não lhe rendia nenhuma preocupação financeira.
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  — Não acredito que o Zé te contratou também — comentou Lola ao amarrar a liga do meu avental nas minhas costas. — Vai ser mais legal com você aqui.
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  — Espero que ele não me demita se a gente ficar conversando durante o trabalho. — Eu ri enquanto me olhava no espelho.
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  — Que nada, o Zé é uma pessoa bem tagarela também. — Ela terminou de fazer o laço e se afastou. — Principalmente quando conta as histórias da roça onde a família dele vive.
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  — Estou curiosa para ouvir essas histórias — admiti. — Eu acho tão fofo o sotaque dele, ainda mais quando fala uai.
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  — Hum… Está interessada?
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  — Não, eu sei que ele tem namorada — desconversei.
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  — Talvez ele tenha um irmão — disse ela. — Ainda dá pra entrar pra família.
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  Nós rimos um pouco e saímos do vestiário, em segundos começamos a atender as mesas e levar os pedidos. No final da tarde, me aproximei de um grupo de quatro amigos que se sentaram na mesa dos fundos. Todos de jaqueta preta, jeans e all star, rindo bastante em meio a sua conversa e três deles cantando as garotas que estavam na mesa à frente. Me aproximei discretamente para anotar os pedidos.
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  — Boa noite, o que vão querer? — perguntei sendo simpática.
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  — O seu telefone — respondeu o loiro de piercing na orelha, dando um sorriso malicioso.
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  — Que isso, Alex, seja respeitoso com a garota — disse o rapaz negro, ao estilo jogador de basquete da NBA. — Me desculpe moça, qual o seu nome?
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  Eu ri de leve, no automático.
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  — Você é um cara de pau, Tobia, também está cantando a moça. — O ruivo riu dos amigos. — Gata, nós queremos três espressos e um cappuccino nutella para o nosso amigo que acabou de perder a noiva, me disseram que chocolate é bom para corações amargurados.
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  O ruivo apontou para o rapaz com boné que mantinha seu olhar para a vidraça, calado e alheio às brincadeiras dos amigos.
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  — Anotado — disse ao terminar de escrever no bloco. — Fica pronto em alguns minutos.
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  — Agradecemos. — O ruivo piscou de leve e sorriu para mim.
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  Eu sorri de volta e me afastei deles indo até o balcão. Entreguei os pedidos a Beth e peguei a bandeja com o pedido da mesa de um casal de idosos que também atendia. Assim que entreguei o pedido deles e retornei ao balcão, Lola se aproximou de mim com um olhar malicioso.
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  — Que gatos — comentou ela. — Principalmente o de piercing na orelha.
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  — Ele pediu meu telefone, você acredita? — comentei segurando o riso dela. — Fica longe daquela mesa.
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  — Ai, você é egoísta, divide eles comigo. — Ela mordeu o lábio inferior.
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  — Falando assim, nem parece que namora né, amiga? — Olhei para ela séria.
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  — Decidi ficar só na amizade com benefícios — explicou ela.
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  — O quê?
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  — Não estou preparada para relacionamentos, amiga, então…
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  — Você não presta, o David é louco por você, arrasta até um caminhão quase. — Coloquei a mão na cintura. — Se ficar esnobando demais ele, vai acabar perdendo.
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  — Vira essa boca para lá, eu só preciso de tempo e espaço para aproveitar a vida antes de pensar em relacionamentos. — Lola era mais racional que emotiva e, na sua lógica de vida, um relacionamento aos 20 anos atrapalha ela curtir a vida.
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  Eu virei para Beth e peguei a bandeja da mesa dos rapazes e caminhei até eles para entregar.
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  — Aqui está, três espressos e um cappuccino nutella — disse colocando os pedidos na mesa.
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  — Seu cappuccino, — murmurou o ruivo empurrando a xícara para o rapaz de boné.
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  — Cara, você precisa melhorar seu humor, sua ex era uma vaca, te traiu com seu primo, não fica assim por causa dela — falou Alex, parecia irritado com a tristeza do amigo.
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  — Deixa ele em paz, Alex — repreendeu o ruivo.
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  — Diga que estou errado, Junior?! — o loiro retrucou. — Eu nunca fui com a cara dela, sempre criticava a nossa amizade, todos sabemos as intenções dela, só queria a coroa.
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  — Shiiiiiiii — o repreendeu Tobia. — Não fala sobre isso aqui.
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  O tal tocou na xícara e voltou seu olhar para mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados com olheiras, como se tivesse chorado por muito tempo. Só então eu percebi que me mantive parada ali observando a discussão deles.
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  — Desejam mais alguma coisa? Algo para comer? Temos deliciosas panquecas americanas — ofereci de forma natural, porém seguindo o protocolo de atendimento.
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  — Não, obrigado, nos traga a conta de uma vez, por favor — pediu Junior.
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  — Tudo bem. — Mantive o sorriso no rosto e me afastei dele.
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  Dei alguns minutos e sinalizei para Junior que estava com a conta em mãos, ele se levantou da mesa e veio até o caixa pagar. Eles ficaram mais um tempo ali conversando, com os três tentando animar , mas sem sucesso. Assim que eles saíram, Lola chegou perto de mim com um sorriso malicioso me convidando para dar um rolê, mas neguei. Estava meio cansada por causa da mudança e precisava acordar cedo para assistir a uma palestra sobre fotografias em sépia. Enfrentar metrô lotado às 10 da noite não era novidade, o pior foi caminhar mais vinte minutos da estação até o prédio onde morava. Não gastaria passagem cara para ficar 5 minutos dentro do ônibus, e como tinha bares próximo do prédio, não seria tão perigoso assim voltar a pé. Cheguei na quitinete onde morava, ou melhor, loft nas palavras de Lola, já jogando minha mochila no sofá, retirando o all star do pé. Trabalhar em pé, mesmo que na metade do dia, era dolorido.
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  — Boa noite, Mel — disse à gata agregada que, ao me ver, veio roçar em minha perna. — Seu dono já te deu comida?
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  Ela miou para mim, então a peguei no colo e a abracei apertado.
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  — Hum… Você é mesmo manhosa — sussurrei.
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  Mel era a gata do meu vizinho da casa ao lado que sempre pulava as varandas e se refugiava em meu sofá ao longo do dia. Acho que a única vez que ia para sua casa verdadeira era quando sentia fome. Então, só me restava aceitar sua companhia. A deixei no chão e retirei minha blusa, então peguei a toalha que tinha deixado em cima do encosto da cadeira e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido, pois o chuveiro não esquentava muito bem. Era o que tinha para o momento, era o que eu podia pagar com o que ganharia agora com meus dois empregos.
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  — Mel, o que faz aí? — perguntei à gata indo até a varanda.
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  Me apoiei no beiral e voltei meu olhar para o céu. Com todas as estrelas brilhando e revelando uma tonalidade única azulada, nunca tinha visto aquilo, mas achei lindo e fascinante. Fiquei algum tempo ali, até que voltei para dentro e me joguei no sofá-cama, não demorou muito até que me rendi ao sono enquanto via um filme na netflix, não tinha chegado nem a 20 minutos de filme.
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  As semanas que passaram.
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  Tentei me adaptar à nova rotina. Segunda quarta e sexta, trabalhos de gráfico que iam surgindo por indicações, terça e quinta concentrada no curso de fotografia, o restante do dia era reservado para a cafeteria e à noite minha pequena residência. Uma rotina agitada e cansativa, mas que significava minha independência e possível crescimento profissional. Porém, havia uma coisa que me deixou intrigada, com frequência os quatro amigos apareciam na cafeteria fazendo o mesmo pedido da primeira vez. Lola tinha comentado que viu eles várias vezes no rolê que ela tanto me chamava, e muito se intrigou quando eles pediram para serem atendidos apenas por mim nas vezes que ela se aproximou de sua mesa.
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  — Boa tarde, o mesmo de sempre? — perguntei assim que me aproximei da mesa, com um sorriso simples.
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  — Não, só me traga um espresso, por favor — pediu .
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  Aquilo me deixou intrigada.
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  — Os outros não vão querer nada? — Notei que ele estava sozinho ali na mesa, isso era novidade.
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  — Eles não virão agora — disse num tom mais baixo ainda.
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  — Ok, anotado, se precisar de mais alguma coisa… — eu me afastei dele e segui para o balcão.
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  Como Layla estava de férias, eu e Lola tínhamos que ajudar Beth no preparo dos cafés também, então preparei seu espresso pessoalmente e levei a ele. Me afastando novamente, segui para a mesa onde duas garotas se sentavam, Lola tinha atendido elas, mas pareciam querer mais alguma coisa. Quando cheguei, uma delas me deu um guardanapo com seu telefone anotado, pedindo para entregar a . Me chocou um pouco, mas normal, já que ele é bonito e atraente.
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  — Me pediram para te entregar — disse deixando o guardanapo em cima da mesa. — Me parece que você tem fãs.
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  — Agradeço, mas não quero. — Ele manteve o olhar na xícara pela metade.
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  — Está tudo bem? — perguntei.
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  — Sim. — Ele voltou seu olhar para mim. — Pode, por favor, devolver o guardanapo para a garota?
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  — Posso.
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  Fiz o que ele pediu e no impulso peguei um cookie por minha conta e levei para ele.
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  — Por conta da casa — disse, deixando o prato com o cookie na sua frente. — Você não pediu cappuccino nutella hoje.
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  — Você gravou? — Ele me olhou impressionado.
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  — Depois de três semanas vindo aqui todos os dias, três espressos e um cappuccino nutella, é fácil o pedido. — Eu ri de leve.
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  — Seu sorriso é bonito. — Ele suavizou seu olhar, parecia contemplar algo.
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  — Obrigada. — Fiquei meio tímida com aquilo.
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  — Me desculpe dizer, mas você me lembra uma pessoa — comentou ele mantendo o olhar fixo em mim.
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  — É a primeira pessoa que me diz isso. — Respirei fundo e voltei meu olhar para Lola que me espiava enquanto atendia um casal. — Bem, fique à vontade.
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  — Obrigado pelo cookie. — Ele sorriu rapidamente e voltou o olhar para a vidraça.
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  Seu sorriso era bonito, uma pena sempre o ver sério e triste. Ele passou toda a tarde ali sozinho e notavelmente me observando, até que seus amigos apareceram e pediram suco de laranja para contrariar. Era a primeira vez que eles mudavam de pedido, curiosamente os três, me deixando mais curiosa ainda, porém nada impressionada com as novas cantadas deles para mim. No sábado à tarde pedi para sair mais cedo, pois iria visitar meu pai, era seu aniversário e não tinha escolha a não ser levar um presente e mostrar que estava plenamente bem morando sozinha.
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  Caminhando pela avenida Paulista, entrei no Shopping Cidade para ver se encontrava alguma caneca bonita na Imaginarium. Meu pai tinha um crush por canecas e era um presente que jamais erraria. Ao sair do shopping, com a sacola na mão guardando na mochila, reconheci um rosto caminhando de forma aleatória pelo lugar.
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  — Cappuccino Nutella?! — disse brincando, ao me aproximar dele.
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  — Oi. — Ele sorriu meio surpreso ao me ver. — O que faz aqui?
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  — É aniversário do meu pai, vim comprar um presente a ele — expliquei sem necessidade.
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  — Ah.
  — E você?
  — Me perdi dos meus amigos um pouco — respondeu.
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  — Foi proposital?
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  — Sim.
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  Eu ri.
  — Se posso me intrometer, eles pareceram bastante preocupados com você hoje — observei. — Ainda é sobre sua ex-namorada?
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  — Então você realmente ouve nossas conversas — supôs ele, segurando o riso.
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  — Em minha defesa, tem sido acidental — disse, arrancando um riso discreto dele.
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  — Digamos que eu já superei essa fase — assegurou ele, mantendo o olhar fixo em mim. — Só estou tendo problemas em casa.
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  — Ainda mora com os pais? — deduzi.
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  — Com meus tios, infelizmente. — Ele suspirou fraco. — Só aqui me sinto à vontade, tenho liberdade.
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  — São Paulo nos faz sentir isso mesmo — concordei. — Eu conquistei minha independência há pouco tempo, mesmo tendo chegado aos vinte esse ano. — Ri de leve. — Mas espero que consiga também.
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  — Oh, não. — Ele olhou atrás de mim.
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  — O que foi? — Virei o rosto e vi seus amigos.
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  — Queria um lugar onde não me encontrassem — desejou ele. — Por pelo menos duas horas.
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  — Bem, eu tenho uma festa de aniversário para ir e…
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  — Eu topo, mesmo não sabendo seu nome — disse ele de imediato.
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  — Eu te sirvo cappuccino nutella quase todos os dias, acho que já somos próximos — brinquei.
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  — Bom argumento. — Ele segurou minha mão e seguiu em frente nos afastando do shopping.
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  — Calma, deixa que eu te guio — disse a ele, o puxando agora. — A propósito, meu nome é , mas pode me chamar de .
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  — Prazer, . — Completou ele.
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  Era loucura, mas se ele precisava desaparecer por um tempo, eu o ajudaria. Tinha notado que especificamente naquele dia seu olhar se mantinha chateado e frustrado. Mas foi só entrar na casa do meu pai e se deparar com minhas tias malucas perguntando se ele era meu namorado e se morávamos juntos, que sua face mudou e passou a rir de tudo que ouvia. Ou melhor, ria do meu desespero em explicar que não tinha nada entre nós dois e abafar os comentários da minha avó dizendo que eu era a encalhada da família. Morri de vergonha, principalmente por meu pai me perguntar em cochichos se a gente estava usando preservativo, e o deixando escutar. Foi o momento em que eu queria abrir um buraco no meio do chão e me jogar dentro. Contudo, pelo menos consegui ver vários sorrisos na face do meu convidado inesperado.
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  — Me desculpa mesmo por tudo isso — disse ao sairmos em gargalhadas.
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  Minha avó tinha pedido ele para se casar comigo, caso ele não tivesse namorada, com direito a bisnetos em menos de um ano. E meu pai então… Nem vou continuar o assunto.
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  — Minha família vive querendo me casar, como se eu tivesse encalhada. — Rindo de nervoso e vergonha.
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  — Foi uma noite bem divertida e engraçada — comentou ele, recuperando o fôlego depois das risadas. — Foi minha primeira vez perto de uma família normal.
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  — Família normal? — O olhei confusa. — Minha família não tem nada de normal.
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  — É que minha família não é assim…
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  — Não precisa explicar, fico feliz que tenha se divertido. — Olhei para o relógio do celular. — Ai não, se não correr, vou perder o último metrô.
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  — Posso ir com você?
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  — Comigo?
  — Não posso deixar uma dama ir sozinha para casa — explicou ele.
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  — Ok, então.
  Sorri de leve e, tomando impulso, corremos até o metrô. Ele me acompanhou até em frente ao meu prédio, seu gesto foi de um cavalheiro moderno.
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  — Aqui estamos — disse parando e o olhando. — Agradeço pela companhia.
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  — Eu que agradeço pela noite. — Ele sorriu. — .
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  Respirei fundo e olhei para o céu. Estrelado e azulado como do primeiro dia em que o vi, de alguma forma estranha, olhá-lo deixou meu coração aquecido.
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  — Azul da meia noite — disse ele.
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  — Como? — Voltei meu olhar para ele, que também olhava o céu.
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  — Quando o céu ficava assim, meu avô chamava de azul da meia noite. — Ele voltou o olhar para mim. — Porém, ainda não consegue ser mais lindo que você.
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  Eu sorri envergonhada.
  — Você precisa de uns óculos — brinquei.
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  — Me permite? — perguntou.
  — O que? — O olhei sem entender.
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  — Isso. — Ele foi se aproximando lentamente de mim, então parou seus lábios a centímetros dos meus.
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  A escolha era minha, permitir ou não. Fechei meus olhos e impulsionei meu corpo, o beijando. O que eu estava fazendo? Meu coração acelerou um pouco, minhas pernas bambearam quando sua mão tocou minha cintura, nos aproximando mais. Entretanto, continuei permitindo aquele beijo intenso e doce que ele transmitia.
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  — Eu… Tenho que entrar — disse, me afastando dele.
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  — Boa noite — sussurrou ele, sorrindo de canto.
  — Boa noite. — Me afastei dele e entrei no prédio.
  Seria complicado focar em outra coisa a não ser no beijo dele. Mas eu tinha que dormir cedo, pois o dia seguinte era minha folga e a vida adulta me exigia faxinar a quitinete, lavar a roupa suja e finalizar um trabalho do curso de fotografia. Porém, isso não me impediu de sonhar com em uma parte da madrugada.
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  E que sonho.
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  Mais dias se passaram com alguns encontros casuais entre mim e no metrô da Paulista, para dar uma caminhada noturna pelas ruas movimentadas da cidade que nunca dormia. Naquele dia exaustivo, pensei que no final do expediente de sexta-feira eu voltaria para casa e terminaria minha maratona de Friends. Entretanto, Lola e sua duracel de 220 watts no lugar do corpo, me arrastou para um “encontrão radical”. Segundo ela, desta vez eu não iria escapar. Seu rolê era tão radical que, descobri ao chegar no lugar, era um encontro de carros turbinados e rachas clandestinos.
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  — Você está louca, Lola? — disse a ela assustada com aquele fluxo de pessoas e carros turbinados na minha frente. — Racha é ilegal no Brasil.
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  — E daí? Não quer dizer que vamos correr. — Ela riu de mim e continuou seguindo em direção a uma Mercedes preta.
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  Não tive escolha senão segui-la, com medo de me perder naquela multidão de pessoas estranhas. O dono do carro era um asiático descolado de cabelos longos e pinta de badboy Fast & Furious. Fiquei chocada ao chegar perto e ver a potência do som do motor. Lola parecia bem íntima daquele rapaz, o que me impressionou.
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  — Han, esta é minha amiga — disse ela ao se manter abraçada a ele, para minha surpresa.
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  — Oi, , sua primeira vez, né? Espero que goste — falou ele sorrindo de canto.
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  — Obrigada. — Voltei meu olhar para minha amiga, sinalizando sua intimidade com ele, mas ela me ignorou.
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  Pode ser por ter sido a primeira vez, mas me senti deslocada naquele lugar. De repente, as pessoas ali começaram a se movimentar para a rua lateral. Pelo que entendi, iria fazer uma corrida ali, Lola se afastou do asiático e me pegou pela mão, animada para ir ver a corrida. Tive que seguir com ela e fiquei observando, logo reconheci o rosto dos quatro rapazes da cafeteria. Parecia que um deles iria participar da corrida e, inusitadamente, seria . Minha amiga me puxou para que ficássemos mais próximas, assim a visão seria boa. Uma mulher se colocou entre os carros e levantou um lenço que retirou do pescoço. Ao som dos motores, ela abaixou o lenço dando início à corrida.
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  Todos pareciam eufóricos com aquilo. Menos eu, que a cada minuto me sentia apavorada caso chegasse a polícia. Não demorou muito o bate-volta dos carros. Foi uma corrida acirrada e o vencedor: o garoto misterioso do cappuccino nutella. Seus três amigos se mostraram bastante entusiasmados, ainda mais com o beijo surpresa da vitória fornecido pela moça do lenço, me deixando boquiaberta e perplexa com tudo. Aos poucos um barulho conhecido foi soando, era a sirene dos carros da polícia. O tumulto e o caos tiveram início e, com as pessoas correndo para todos os lados e me empurrando, me perdi da minha amiga.
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  Aos poucos comecei a me desesperar, não podia ser presa em meu primeiro ano de independência financeira e longe de casa. Uma moça robusta trombou em mim e no susto eu caí no chão. Olhei para meu joelho que ralou de leve e senti uma pontada de dor, logo senti uma pessoa pegar em minha mão e me levantar.
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  — Você está bem? — perguntou, era me olhando preocupado.
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  — Sim… Como sabia que eu estava… Como me achou aqui? — perguntei.
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  — Te vi quando estava no carro correndo — ele se explicou. — Consegue correr?
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  — Acho que sim. — Assenti mentindo em partes, pois o joelho doía.
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  Era a parte mais escura da rua em que tinha entrado, então não consegui ver seu rosto, mas segurando em sua mão fui guiada para longe dali. Corremos mais alguns quarteirões, até chegar no parque do Ibirapuera. Eu já estava sem fôlego e cansada, parei de correr e o puxei para que parasse também.
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  — Você está mesmo bem? — me perguntou ele.
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  — Sim, só meu joelho, mas preciso de um minuto — pedi a ele.
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  — Tudo bem. — Assentiu voltando seu olhar para trás.
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  Foi então que os outros três amigos apareceram correndo e gritando para nós.
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  — Corre… , corre! — gritou Alex.
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  Eu olhei para a direção deles e vi que tinham policiais atrás deles. Olhei para que me pegou ainda me segurando pela mão. Assenti e começamos a correr de novo. Seus amigos nos alcançaram e chegando perto de uma cerca eles pularam. Por essa eu não esperava.
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  — Vamos? — perguntou .
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  — Eu não sei se consigo — disse me encolhendo um pouco.
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  Joelho machucado e medo de cair de novo. Eu estava entre ser presa ou possivelmente ir para o hospital com a perna quebrada. E sim, sempre fui exagerada e dramática.
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  — Pode ir, eu não vou pular. — Soltei minha mão dele e recuei.
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  — Não vou te deixar. — Ele segurou minha mão e olhou para seus amigos, que assentiram com a cabeça.
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  Será que eles sabiam os próximos movimentos dele? Os três pularam de volta a cerca e se aproximaram de nós. Os policiais já se aproximavam de onde estávamos, me deixando mais apavorada ainda. olhou para mim novamente e, retirando uma correntinha que era escondida por sua blusa, segurou firme no pingente azul marinho. De repente uma luz forte surgiu do lado direito, que foi sendo suavizada e revelando uma fina película do que parecia ser vidro. Os amigos de passaram pela película, desaparecendo num piscar de olhos, me deixando estática.
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  — O que? Eu não vou… — Nem mesmo pude terminar minha reação e fui puxada por para passar pela película.
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  Fechei meus olhos no meio de tudo isso ainda com mais medo do que ser presa. Mas uma coisa eu conseguia notar: ele continuava segurando em minha mão.
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  — Pode abrir os olhos — disse ele num tom baixo, senti seu corpo próximo ao meu.
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  Abri meus olhos e o olhei. Aquela foi a primeira vez que consegui ver seu olhar mais suave e menos triste. Olhei à minha volta e ainda estávamos no parque Ibirapuera, mas estranhamente os guardas tinham sumido.
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  — O que aconteceu? — perguntei não entendendo nada.
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  — Nada, gata — disse Alex abrindo um largo sorriso e se espreguiçando. — Só conseguimos despistar os guardas.
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  — Eu preciso voltar para minha casa — disse a eles.
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  Os quatro se olharam preocupados. Então me olhou.
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  — Me desculpe, você não pode ir agora — disse ele.
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  — Mas por quê? — perguntei.
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  — É que… — Ele parecia tentar encontrar uma explicação convincente.
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  — Você acabou de chegar e já vai embora? — Alex falou fazendo todos os olhares se voltarem para ele.
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  — Cala a boca, Alex — falou Tobia.
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  — O que eu fiz? — O olhou sem entender.
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  — Levem ela para a cobertura, por favor, eu preciso passar em casa. — se afastou de mim com um olhar preocupado e carinhoso também. — Prometo não demorar.
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  — — Junior o olhou —, toma cuidado, aqui somos… Você sabe.
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  Ele assentiu e se afastou de nós. Tobia me segurou pela mão e me guiou até o carro deles. Fiquei admirada ao olhar para a Mercedes vermelha, carro de gente rica. O que me fez perguntar se eles eram aqueles playboys que faziam travessuras escondido dos pais esbanjando dinheiro. Eu não queria ir com eles, estava preocupada com o que poderiam fazer comigo, e se fossem psicopatas? Não os conhecia direito. Apesar dos passeios com . Em um segundo de distração deles, saí correndo pela rua. Quando se deram conta do meu afastamento, eles vieram atrás de mim.
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  Tobia no volante dirigindo o carro, Junior de moto e Alex correndo. Entrei em uma rua estreita e escura e continuei correndo, até que achei uma loja aberta e entrei nela me escondendo atrás de algumas caixas. Uma criança me olhou assustada e eu fiz sinal para que não dissesse nada. Ela assentiu com a cabeça e voltou o olhar para o brinquedo em suas mãos agindo com naturalidade. Deixei passar algum tempo e saí da loja, seguindo em direção à minha casa.
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  Meu corpo gelou quando cheguei na rua e no lugar do que deveria ser meu prédio de quitinetes, tinha um edifício comercial. Não era possível, eu não tinha errado o endereço, sabia muito bem o caminho e estava tudo correto, exceto por esse detalhe diante de mim. O que aconteceu aqui? Engoli seco ficando com medo. Foi quando uma viatura parou perto de mim e duas policiais desceram.
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  — Jovem? Está tudo bem? — perguntou a mulher mais baixa, de cabelos cacheados.
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  — Eu… — Olhei para seus uniformes e eram diferentes do que eu costumava ver.
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  Será que a guarda-municipal estava trocando os uniformes sem informar a comunidade?
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  — Vocês são? — perguntei intrigada, temendo que fosse uma farsa e elas fossem assaltantes ou coisa pior.
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  — Guarda-Municipal da cidade de São Paulo. — A morena puxou o distintivo e me mostrou.
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  Entrei em choque quando li o que estava escrito.
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  — Guarda-Municipal da cidade de São Paulo do… — Paralisei em meio ao sussurro e subi o olhar para seu rosto. — O quê?
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  Voltei meu olhar para a viatura e percebi que até o brasão adesivado no carro era diferente. Minha cabeça estava fervilhando com tudo isso, e se eu não estava louca e aquilo não era uma ilusão, onde eu estava então? Pois no meu país não era.
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  — Oficiais, está tudo bem. — Ouvi uma voz de longe, reconheci sendo de Junior.
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  — Ah, lorde Tavares — disse a cacheada o reconhecendo, elas bateram continência de imediato, me assustando.
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  — Descansar. — Junior veio até mim e segurou em minha mão. — Ela está comigo, podem ficar tranquilas.
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  — Sim, senhor — disse a morena, voltando à posição normal.
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  — Gostaria de pedir discrição também, agradeço pelo trabalho duro — disse ele num tom baixo, mas senti a ordem em sua voz.
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  Elas assentiram com a cabeça e entraram na viatura novamente. Eu voltei meu olhar assustado para ele e fiquei esperando que explicasse tudo aquilo.
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  — Onde estou? — perguntei tentando não entrar em desespero. — Para onde me trouxeram? O que querem comigo?
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  — Calma, gata. — Ele sorriu me entregando um dos capacetes. — Não vamos fazer nada, está tudo bem, você está no nosso mundo.
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  — Seu mundo? — Não entendi o que quis dizer.
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  — Vamos para um lugar mais seguro e eu te explico — sugeriu ele. — Prometo.
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  Eu fiquei com medo e insegura, mas se minha casa não existia no meu endereço e tudo ali parecia estranho demais, as únicas pessoas que poderiam me contar eram os quatro amigos. O segui, mesmo relutante dentro de mim. Junior me levou até a cobertura onde morava com os outros dois amigos. Aparentemente, , ou melhor, morava com seus tios, sabe Deus onde. Assim entrei na luxuosa cobertura, na rua mais cara de Moema, me impressionou tanto estilo e requinte, pois eles pertenciam mesmo à elite de São Paulo.
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  — Vocês moram mesmo aqui? — perguntei boquiaberta.
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  — Sim, moramos. — Alex despojado no sofá de couro sintético branco, sorriu sem cerimônias. — Bem-vinda ao nosso humilde lar doce lar.
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  Debochado ele.
  — Não precisa ficar com medo — disse Junior. — Não vamos te machucar.
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  — De onde eu venho, não é seguro uma mulher entrar na casa de três homens sozinha — assegurei a realidade da nossa sociedade atual. — Eu tenho um canivete dentro da mochila, só adiantando.
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  — Uau, ela é perigosa — brincou Tobia sentando no segundo degrau da escada me olhando curioso. — Gostei dessa garota.
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  — Não estou brincando — o ameacei de forma ridícula.
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  — Eu sei. — Tobia riu um pouco.
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  — Gata — Junior me chamou.
  — Meu nome é , não gata. — O olhei.
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  — , fique tranquila, não somos malvados — garantiu ele.
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  — E quem vocês são? Onde eu estou? Por que meu prédio desapareceu do nada? Por que aquela policial te chamou de lorde Tavares? — Joguei meus questionamentos nele.
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  — Eu não sei como iniciar isso. — Junior parecia ponderar suas palavras.
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  — Você está em um universo paralelo em que nós somos da nobreza, o Brasil não é uma república, mas sim uma monarquia constitucional, o Império do Brasil, governado pelo imperador regente Dom Luiz Gastão de Orleans e Bragança, tio do nosso amigo , que no caso é o príncipe imperial do Brasil prestes a se tornar o imperador — respondeu Alex de forma natural e tranquila. — Mais alguma pergunta?
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  Meu corpo gelou com toda aquela informação absurda. Fundindo ainda mais a minha mente.
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“Someone call the doctor.”
– Overdose / EXO

Arco-Íris

  — O quê? — Mantive meu olhar em Junior, surtando por dentro. — Império do Brasil? Que tipo de brincadeira é essa?
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  — , não é brincadeira. — A voz de veio de trás de mim.
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  Eu me virei para trás e o olhei, parado perto da porta de entrada com as mãos nos bolsos. Seu olhar estava triste mais uma vez.
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  — Me desculpe, eu não deveria ter trazido você — seu tom estava baixo —, mas não te deixaria lá sozinha.
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  — Vamos lá pra cima, gente, eles precisam de privacidade. — Junior, com seu bom senso de irmão mais velho, puxou os outros dois amigos para o segundo andar.
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   continuou mantendo seu olhar em mim, adentrando mais a sala vindo em minha direção. Parecia escolher as palavras para iniciar uma conversa.
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  — Então é verdade? A loucura que acabaram de me contar? — perguntei diretamente.
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  — Sim. — Assentiu ele.
  — Império do Brasil — sussurrei me sentando no sofá. — Que loucura.
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  Minha mente estava um misto de surto com curiosidade. Universos paralelos são coisas de filmes de ficção científica e não algo da realidade.
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  — Seu olhar está curioso — comentou ele.
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  — São muitas perguntas — confessei, me sentia zonza com tudo aquilo. — Sinto que minha mente está em surto.
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  — Então pergunte. — Ele se manteve de pé ainda com as mãos nos bolsos da calça jeans, me olhando atento.
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  — Como você encontrou uma passagem para… o meu mundo? — perguntei.
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  — Com isso. — Ele mostrou a corrente no pescoço com a pedra. — Foi um presente do meu avô, ele dizia que tinha uma lenda por trás desse cordão que revelava que nosso universo não era o único, sempre que eu uso isso o céu fica azulado à noite.
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  — Hum… Agora faz sentido. — Observei.
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  — O que faz sentido? — Ele caminhou até mim.
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  — Na primeira vez que foi à cafeteria, naquele dia eu vi o céu azulado à meia noite, me deixou fascinada — expliquei a ele.
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  Ele sorriu de canto e se sentou ao meu lado.
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  — Você está vindo da sua casa? — Continuei minhas perguntas. — Com seus tios?
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  — Sim — respondeu voltando seu olhar para frente.
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  O silêncio pairou pelo ambiente. Tanto que se podia ouvir o som dos carros do lado de fora. Mesmo em um universo paralelo, São Paulo era a mesma à noite, tão movimentada e barulhenta quanto à luz do sol.
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  — Príncipe imperial? — Voltei meu olhar para ele.
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  — Sim — assentiu.
  — E tem mais príncipes?
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  — Uma princesa real e um príncipe real, meus irmãos mais novos — respondeu.
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  — Por que real e não imperial como você?
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  — Por ser o mais velho, sou o primeiro na linha de sucessão — respondeu com um tom amarga. — O que faz de mim o príncipe imperial.
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  Ele parecia não levar aquilo muito bem.
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  — É louco pensar que agora todas as conversas que ouvi sem querer dos seus amigos fazem sentido — comentei. — Principalmente aquelas sobre sua ex ser interesseira e querer a coroa.
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  — Podemos não falar sobre ela? — Ele voltou o olhar para mim.
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  — Tudo bem. — Sorri de forma carinhosa para ele.
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  — Prometo que voltará para sua casa amanhã.
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  — É, voltar para casa seria bom, apesar de ainda não ter absorvido os últimos acontecimentos. — Observei suspirando fraco. — Ainda é meio louco para mim.
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  — Imagino, também fiquei assim na primeira vez. — Ele se inclinou e apoiou as costas no encosto do sofá. — Não foi uma experiência muito boa inicialmente, mas salvou minha vida.
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  — No sentido literal ou figurado?
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  — No sentido geral. — Sua voz ficou mais baixa.
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  Eu me levantei do sofá e caminhei até a varanda. A vista era linda, principalmente do céu estrelado com o azul da meia noite. Apesar de estranho e meio surreal toda a história de universo paralelo e Império do Brasil, eu estava curiosa para saber como era aquele mundo.
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  — Uau, que silêncio — comentou Tobia descendo as escadas.
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  — Nós começamos a pensar que ela fugiu de novo — brincou Alex.
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  — Só estou absorvendo essa loucura — expliquei a eles, me virando para dentro. — Estou curiosa sobre uma coisa.
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  — O quê? — perguntou Junior.
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  — Por que o meu universo? Com certeza devem haver mais por aí, por que o meu? — indaguei.
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  Os três amigos voltaram o olhar deles para , como se fosse o único com a resposta. O príncipe se manteve em silêncio, desviando o olhar para o chão. Eu poderia insistir, mas resolvi acompanhá-lo no silêncio.
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  — Quem quer pizza? — perguntou Junior, quebrando o gelo. — Estou morrendo de fome.
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  — Eu quero de pepperoni — disse Tobia.
  — Eu prefiro de quatro queijos — disse Alex.
  Voltei meu olhar para a varando e olhei os carros. O tempo foi passando e a pizza chegou. Comemos sem cerimônia e logo depois precisou ir embora. Junior ficou encarregado de me fornecer o quarto de hóspedes. Era mesmo uma cobertura de luxo e muito confortável. Assim que entrei no quarto e fechei a porta, me sentei na cama ainda abobada com tudo, imaginar que estava em um universo paralelo ao meu, que seu país era uma monarquia e que o desconhecido que beijei em frente ao meu prédio era um príncipe… Isso tudo ia além do que minha sanidade mental pudesse suportar.
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  Na manhã seguinte, depois do café da manhã caprichosamente preparado por Tobia, tive a oportunidade de saber mais sobre eles. Descobri que nosso mestre cuca da confeitaria, além de visconde de Belo Horizonte, era um renomado chefe de cozinha com sua própria linha de restaurantes. O que fazia sentido as panquecas estarem tão gostosas. Alex, o nobre marquês de Floripa, era o musicista mais aclamado no meio, já tinha participado das melhores orquestras do país e do mundo, além de ter sua própria escola de Artes, destinada principalmente para jovens de baixa renda que precisam apenas de uma oportunidade para aflorar suas habilidades. O descobri um filantropo nato. Já Junior, o conde de São Paulo, por ser de família militar, se formou há pouco tempo em engenharia aeronáutica, se tornando o orgulho dos pais. Todos eles com seus títulos de nobreza, porém reconhecidos pelo país por suas habilidades em particular.
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  — Qual a programação de hoje? Eu realmente preciso ir para casa — disse a eles depois que Junior terminou de lavar os pratos.
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  — Vamos te mostrar a nossa São Paulo e depois te levamos para — respondeu Tobia.
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  — O que está acontecendo? Ele parecia meio triste quando chegou aqui ontem — perguntei intrigada.
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  — Nosso amigo está sofrendo uma grande pressão com as proximidades de sua coroação — explicou Junior. — Ele já alcançou a idade estipulada para reinar e a corte brasileira o tem pressionado a escolher uma esposa para cumprir o protocolo imperial.
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  — Uau. — Aquilo me pegou de surpresa. — Em pleno século XXI?
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  — Existem algumas tradições no Brasil monarca que são diferentes do Brasil república, ter uma família aqui é sinal de responsabilidade e confiabilidade — continuou ele —, pelo menos para nós aristocratas.
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  — Hum… E o que ele vai fazer? — Meu olhar ficou curioso.
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  — Não sabemos, mas ele tem quinze dias para se decidir. — Junior pegou as chaves e me olhou com tranquilidade. — Vamos?!
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  Assenti com a cabeça.
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  Não queria acreditar que em 15 dias seria coroado rei e que possivelmente se casaria com alguém. Os nobres cavalheiros fizeram o melhor tour que eu poderia imaginar e esperar. Me mostraram cada ponto turístico da cidade, fiquei impressionada com vários pontos diferentes do meu Brasil república, e o primeiro deles é de como a cidade era limpa e bem urbanizada. Brasões da família real espalhados em alguns estandartes e, pelo que pude perceber, a segurança da cidade também era de impressionar.
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  Ao pôr do sol, nos encontramos com no parque do Ibirapuera, onde ele me levaria de volta para casa. Os outros três nos deixaram sozinhos e ficamos um tempo em silêncio vendo a noite chegar. Assim que passamos o portal e chegamos na minha velha república, ele tentou se despedir de mim sem muito sucesso. Parecia realmente não querer voltar.
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  — Eu sei que não tenho o direito de perguntar nada, nem mesmo somos amigos para isso, você é só o garoto do cappuccino nutella — comecei meio travada em minhas palavras —, mas…
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  — O que meus amigos te falaram? — perguntou ele, direto e preciso.
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  — Que vai ser coroado em 15 dias e que precisa se casar por causa disso. — Fui honesta e direta também.
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  — Sim — confirmou ele, com seu olhar triste.
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  — E o que você vai fazer? — perguntei.
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  — Não sei, mas eu prometi ao meu pai que seria o melhor governante que o meu país já teve, então darei o meu melhor — respondeu ele.
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  — E vai se casar com alguém que não gosta só para mostrar que é responsável? — O confrontei. — Você será o novo imperador, pode mudar leis e tradições, não pode?
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  — Por que está preocupada se sou somente o garoto do cappuccino nutella? — Ele sorriu de canto me olhando curioso. — Por acaso está gostando de mim?
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  — Ah, por favor, deixe de ser convencido. — Eu dei de ombros, demonstrando não estar interessada. — E mesmo se estivesse, somos de mundo diferentes.
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  — Se estivesse, eu mudaria as tradições com todo prazer. — Ele segurou em minha mão e me puxou para perto. — Eu… Não sei se depois de hoje vou poder voltar… Mas gostaria de vê-la novamente.
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  — O que vai acontecer agora? — perguntei receosa.
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  — Passarei os próximos dias me preparando para a coroação — respondeu ele. — Sei que não posso te pedir isso, mas… Gostaria que esperasse por mim.
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  Eu tomei impulso e o beijei com doçura. Mesmo sendo pego de surpresa, ele retribuiu com certa intensidade. Assim que me afastei, o olhei com um sorriso escondido.
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  — Eu espero, estou curiosa para te ver como imperador — brinquei.
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  Ele sorriu de canto e se afastou de mim.
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  Os dias seguiram com minha rotina normal.
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  Trabalhos gráficos e curso de fotografia pela manhã, ir trabalhar no Minas Uai à tarde/noite. Por mais que eu tentasse me concentrar em minhas tarefas, era complicado não pensar em . Final da tarde de um sábado e eu estava de folga, aproveitei para dar um passeio no Ibirapuera e tirar algumas fotos para a primeira parte do meu trabalho final do curso. Desta vez, testaria o filtro em sépia e teria que montar uma sessão de fotos com o conceito do inverno noturno. Então teria que me inspirar o bastante para fazer dar certo a ideia de cenários que tinha em minha mente.
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  — Ora, ora, nossa atendente também é fotógrafa. — A voz de Tobia soou atrás de mim, me deixando estática.
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  — Cavalheiros. — Brinquei ao olhar para trás e ver os três nobres diante de mim, fiz uma breve reverência. — A que devo a honra?
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  — Como você está, senhorita? — perguntou Junior com seu jeito cordial moderno.
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  — Levando. — Dentro de mim a vontade de perguntar sobre o príncipe ardia forte.
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  — Deve estar curiosa por nossa presença — disse Alex, ele retirou um cordão de dentro da camisa mostrando uma pedra azul — e de como passamos sem ele.
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  — Azul da meia noite — disse admirada ao ver a pedra e me lembrando da história de . — Ele te emprestou?
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  — Não. — Junior riu. — Ele me deu, mas depois ele te explica sobre isso, agora você precisa vir conosco.
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  — E por quê? — O olhei confusa.
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  — Como assim por quê? — Alex me olhou indignado com minha reação.
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  — será coroado hoje, mas isso não é o pior, seu tio está tentando dar um golpe e tomar o trono em alegação por ele não querer se casar com… — Tobia se calou, parecia mais do que revoltado.
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  — , nosso mundo está passando por rumores de uma guerra civil orquestrada pelo imperador regente — explicou Junior. — Isso é traição, e o tio de possui muitos aliados na corte e no parlamento.
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  — E o que eu posso fazer quanto a isso? Eu nem existo no mundo de vocês — aleguei com precisão.
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  — Na verdade você existe, mas com outro nome. — Alex expôs a informação, mesmo com o olhar de desaprovação de Junior. — Só você pode impedir que nosso amigo ceda à pressão política.
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  — Isso é tudo uma loucura para mim, está dizendo que querem que eu me passe por outra pessoa no seu mundo para simplesmente impedir um golpe de estado? — Eu estava em surto interno. — Olhem para mim, eu nem mesmo consigo lidar com o fato de vocês não serem daqui.
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  — Nossa última esperança de ver nosso amigo bem é a garota que fez ele sorrir de novo — confessou Tobia. — Você.
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  Eu não sabia o que pensar, mas se colocasse numa balança, usaria a razão e não me envolveria mais, assim não iria me machucar. Mas não foi o que fiz. Segui com eles para o Brasil Imperial e assim que passei pelo portal, eu somente senti meu coração bater mais forte. Os meninos me levaram para o apartamento deles, afinal a coroação seria somente no dia seguinte pela manhã. E também eu não poderia aparecer de qualquer forma em uma cerimônia tão importante.
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  Na teoria, entrei na Catedral de Metropolitana de São Paulo, também conhecida no Brasil monarca como Igreja da Sé onde seria a coroação, como acompanhante de Junior. Seguimos para a segunda fileira reservada para amigos, já que a primeira era destinada aos familiares. O bispo já estava a postos esperando a chegada de sua majestade imperial. Logo o lugar ficou cheio e, em instantes, as portas se abriram para que entrasse. A cada passo próximo do trono, parecia que ele sentia ainda mais o peso sobre suas costas. Seu olhar triste me fazia ver a realidade da preocupação dos seus amigos.
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  — Ele não parece confortável — disse ao sussurrar para Junior, minha percepção do que acontecia.
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  — Ele tem estado assim desde a última vez que a viu — comentou ele mantendo o olhar para frente. — Tenho que admitir, nunca ficou tão à vontade em nenhum outro universo como no seu e isso se deve a você.
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  — A mim? — O olhei impressionada. — Como?
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  — Acho que ele gosta do seu sorriso — brincou Alex que estava ao meu lado.
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  — E do cappuccino nutella que prepara. — Tobia segurou o riso e os outros dois também.
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  Voltei meu olhar para frente e continuei prestando atenção na cerimônia. Assim que o bispo ergueu a coroa, nos levantamos de imediato. Ao ser coroado, todos se curvaram para o novo rei do Império do Brasil. Aos poucos um a um, foram se aproximando e ficando diante dele para fazer uma breve reverência. Junior me pegou pela mão e me levou com ele. Assim que parei em frente a , seu olhar ficou surpreso ao me ver ao lado do amigo.
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  E eu… Bem, meu coração ficou mega acelerado.
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  — Parabéns, majestade. — Fiz a reverência e o olhei novamente.
  Assim que me afastei para sair, me pegou pela mão e me puxou para si. Um abraço desesperado e aconchegante ao mesmo tempo. Eu fiquei com medo pelo momento e por todos estarem vendo o novo imperador abraçando uma indigente como eu. Bem, naquele mundo eu era uma indigente, já que não pertencia a ele.
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  — Estou surpreso por estar aqui, mas… Obrigado por vir — sussurrou ele ao se afastar de mim e sorrir com leveza.
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  Seu olhar ficou mais alegre.
  — Todos devem estar confusos por ter me abraçado — comentei.
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  — Terão que se acostumar, a menos que não queira ser minha namorada — disse ele com tranquilidade. — Você aqui me deu forças para fazer o que penso ser o correto.
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  — Então não vai se casar com nenhuma duquesa? Por acordo político? Ou responsabilidade com a coroa? — indaguei a ele.
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  — Bem… Acho que seria loucura se eu te pedisse em casamento agora, então prefiro te conquistar primeiro — brincou ele.
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  — Seu bobo. — Eu bati em seu braço, mas só depois caiu minha ficha onde estávamos e fiquei estática. — Desculpa, eu bati no imperador.
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  Os amigos dele começaram a rir atrás de mim.
  — Só isso já te condenaria à prisão perpétua, agressão à coroa — disse ele ao segurar a minha mão, então olhou para seus amigos. — Quero que conheça os novos integrantes da corte real e meus futuros ministros.
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  — Isso é que é upgrade na vida — brinquei.
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  — Junior, saída estratégica, seja um bom ministro da defesa e nos tire daqui — disse ele num tom de ordem.
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  — Com prazer, majestade. — Junior olhou para Tobia. — Relações diplomáticas, dispensa esse povo e mantenha os holofotes bem longe.
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  — Deixa comigo — Tobia bateu continência de uma forma despojada.
  — Majestade, venha comigo, já tenho tudo planejado. — Junior sorriu de canto.
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  — Se a trouxe, eu sabia que teria um plano depois. — sorriu de canto.
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  Nossa saída estratégica foi pela lateral da Catedral. O carro que nos levaria já estava aguardando e em segurança e, com uma pequena escolta selecionada por Junior, seguimos para o heliporto imperial. Foi minha primeira vez dentro de um helicóptero, um frio na barriga me tomou com aquelas 3 horas de voo, até que pousou no Paço de São Cristóvão, o palácio imperial localizado no que deveria ser o parque da Quinta da Boa Vista, no bairro imperial de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Porém, não era um parque, mas, naquele Brasil, era a casa da corte imperial brasileira.
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  — Aqui é lindo — sussurrei boquiaberta ao olhar para o jardim da fachada.
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  — Este lugar também tem no seu mundo — comentou ao segurar em minha mão.
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  — Eu sei, mas é que aqui as coisas parecem ser mais vivas e mais bem conservadas. — Tentei escolher bem as palavras. — O seu mundo parece ser melhor que o meu.
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  — Acredite, todos os mundos têm seu lado bom e ruim. — Ele soltou um suspiro cansado. — Este lugar só se manteve de pé até hoje porque meu país continuou como uma monarquia, então, de geração em geração, a família imperial brasileira de Orleans e Bragança continuou vivendo aqui e mantendo o bom estado desta edificação.
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  Ele entrelaçou nossos dedos e me guiou pelo jardim frontal. Senti um frio na espinha ao passar pelas portas da frente do palácio. A imponência do império brasileiro estava contida na decoração moderna e levemente luxuosa. Olhei em minha volta boquiaberta com tudo aquilo, era real mesmo e só agora a ficha caía.
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  — Quer conhecer mais o meu mundo? — perguntou ele.
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  — Vendo agora que é real de verdade, acho que estou com medo… — Mordi o lábio inferior e o olhei receosa. — Mas eu quero conhecer sim.
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  — Gostaria de passar o Natal comigo? — perguntou novamente.
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  — Seria uma honra, majestade.
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  Ele sorriu com carinho para mim e, tomando impulso, me puxou para ele, me abraçando forte.
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Não importa cada noite que esperei,
Cada rua ou labirinto que cruzei,
Porque o céu tem conspirado a meu favor,
E a um segundo de render-me te encontrei.
– Creo en Ti / Lunafly

Azul da Meia-noite

  Foi uma loucura ter aquele palácio só para nós dois. E percebi o olhar curioso dos empregados para mim, quando passava por eles. A parte mais engraçada foi ele me pedir para preparar um cappuccino nutella para ele, e as cozinheiras ficarem admiradas de me verem na cozinha mexendo em seus instrumentos de trabalho. Porém, a melhor parte de todas foi ver o azul da meia-noite com ele naquele lindo jardim.
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  — Quero te dar uma coisa. — retirou uma caixinha do bolso e me olhou singelamente.
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  — Você não acha que está cedo demais para um pedido de casamento, majestade? — brinquei com um olhar estranho.
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  — Não vou te pedir em casamento, não agora. — Ele piscou de leve.
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  — Hum… — fiquei levemente desapontada.
  — Quando o meu avô me deu essa pedra, ele disse que havia se apaixonado por uma mulher que não era do seu mundo, mas que não havia enfrentado tudo para ficar com ela. — Ele abriu a caixa mostrando um cordão com outra pedra azul. — Mas não o fez e se arrependeu depois, eu não quero me arrepender e sei que você não é deste mundo, mas quero que seja do meu mundo.
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  Ele retirou o cordão da caixa e o colocou em meu pescoço.
  — Quando recebi este presente, havia cinco pedras… Mas nunca soube para quem dar a quinta, não até agora — continuou ele.
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  — Você nem me conhece, tem certeza? — perguntei.
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  — Eu não gostava da Dara e só estava noivo por pressão dos meus tios, quando a vi na cama com meu primo, não fiquei chateado, foi como se um peso tivesse saído de cima de mim. — Contou ele, com o olhar sereno. — E quando eu te vi naquela cafeteria, senti meu coração bater mais forte, mesmo não te conhecendo, tinha a sensação de ter te visto antes.
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  — Seus amigos me disseram que havia outra de mim no seu mundo — comentei. — Não quero pensar que está apegado a mim por causa de outra que tem minha cara.
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  — Não, jamais. — Ele sorriu com serenidade. — Estou apaixonado por você, não porque pareça com alguém do meu mundo, mas porque me fez esquecer de todos os problemas que tenho aqui apenas com seu sorriso.
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  — Hum… — me peguei tímida. — Mas, se não estava triste pela traição, por que a tristeza naquele dia?
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  — Estava frustrado por alguns assuntos reais como ter que me casar com quem meus tios acham que devo — confessou. — Vamos falar sobre outra coisa? O que importa é que agora sempre que quiser me ver, você pode usar o cordão.
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  — Mas e o lance do portal no Ibirapuera? — perguntei ao olhar para o céu estrelado. — Estamos no Rio, lembra?
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  — Meus amigos dão um jeito nisso. — Ele riu.
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   se levantou da grama e esticou a mão para mim. Me levantei também.
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  — Estou curiosa sobre uma coisa — comentei.
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  — O quê? — Ele me olhou.
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  — … Quem escolheu seu nome? — perguntei.
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  — Minha mãe, antes de eu nascer — respondeu ele num tom triste. — Ela faleceu após o parto da minha irmãzinha por complicações.
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  — Hum… E por falar nos seus irmãos, quero conhecê-los. — Pedi.
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  — Terei o enorme prazer de lhe apresentar a eles. — Ele piscou de leve.
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  Nós entramos no palácio e continuamos nossa conversa na biblioteca. Eu estava mega admirada com tanto livro e todos em bom estado. E tinha uma sessão considerável reservada ao tema de fotografia, um encanto para mim. Em alta madrugada, me instalou em um quarto ao lado do dele e esperamos alguns minutos até que uma criada o deixou pronto. Nos despedimos na porta e eu entrei. Quem diria que um dia eu estaria hospedada em um quarto no palácio imperial, algo que só vejo nos filmes de Natal da Netflix estava acontecendo comigo. E a parte mais surreal é que não era em minha realidade, mas numa bem diferente do que aprendi quando criança.
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  Na manhã seguinte, ao acordar, senti algo estranho dentro de mim. Uma criada bateu na porta do quarto para me ajudar a me trocar, porém eu já estava mais do que vestida. Foi quando ouvi alguns gritos vindo do andar de baixo. Me afastei da criada e segui pelo corredor até a escada, começando a descer vagarosamente. Foi quando vi um homem estranho parado em frente a .
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  — Não me importa mais o que pensa e vossa opinião sobre meus passos e minhas escolhas — disse num tom forte e seguro. — Eu sou o imperador, eu faço as tradições, eu aprovo as leis.
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  O homem pareceu engolir aquelas palavras a seco.
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  — Vou fazê-lo se arrepender amargamente de sua arrogância — ameaçou o homem. — Durante dez longos anos eu cuidei de vossa majestade e de seus irmãos, uma monarquia em certos momentos pode ser questionada.
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  — É uma ameaça, lord de Orleans e Bragança? — se manteve firme diante dele, com o olhar frio e sério. — Sabe que o imperador pode revogar títulos de nobreza, seria trágico que perdesse vossos privilégios de duque do Rio de Janeiro.
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  — Aproveite enquanto pode, vossa majestade, um país monarca sempre pode se tornar uma república, basta o povo estar a favor. — O homem se virou para sair e de relance me viu, parou por um momento para me encarar, então se retirou dali.
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  Senti meu coração paralisado de medo do que ele poderia fazer contra . E sim, estava temendo pelo novo imperador e nem por mim. O imperador se aproximou de mim e estendeu sua mão. Terminei de descer os últimos degraus e segurei em sua mão.
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  — Está tudo bem? — perguntei temerosa.
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  — Sim, com você aqui, está. — Ele sorriu levemente e me deu um beijo suave. — Vamos tomar café?
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  — Vamos. — Assenti forçando um sorriso gracioso.
  Eu sabia que não tinha nada bem. Mas ele não iria me preocupar com seus assuntos como fez no caso da coroação. Entretanto, eu sabia quem poderia me ajudar a descobrir o que de fato acontecia. Meus ministros favoritos não me negariam uma informação que poderia ajudar o trono brasileiro. Passamos a manhã juntos e logo após o almoço, precisou se ausentar para iniciar suas atividades como novo imperador do Brasil. E neste dia, ele iria nomear oficialmente seus ministros de governo.
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  Como o Brasil Imperial contava com a monarquia constitucional renovada, o imperador deveria seguir a constituição, porém possuindo plenos poderes para revogação de qualquer lei que limite diretamente seu poder o deixando vulnerável ao parlamento e ao chefe de governo. Além de governar em conjunto com o primeiro-ministro e ter a palavra final em qualquer tipo de decisão. Por isso, precisava pensar em alguém de suma confiança para ser o primeiro-ministro, uma pessoa que tivesse a mesma visão política que ele. E sua nomeação foi para sua prima Lorelyn de Orleans e Bragança, uma mulher forte e autêntica que, assim como seus amigos, tinha sua confiança. Eu não quis acompanhar as nomeações de perto, não queria causar mais alvoroço no país, então permaneci na sala de tv do palácio, vendo a transmissão.
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  — Nosso irmão é muito bonito, não é?! — Uma voz infantil soou da porta.
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  Eu dei um pulo do sofá e olhei. Havia duas crianças diante de mim, me deixando mega nervosa e envergonhada.
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  — Vocês devem ser os… — comecei a dizer tentando não demonstrar surtos.
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  — Vossas altezas reais — disse a garotinha — Ana Giulia de Orleans e Bragança e Michael Lucas de Orleans e Bragança.
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  — Prazer, altezas — disse fazendo uma breve reverência aos dois. — Eu sou a…
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  — Namorada do — disse o garoto me interrompendo.
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  Fiquei sem reação diante dos dois.
  — Você é mais bonita que a Dara. — Giulia riu meio sapeca e se aproximou primeiro. — Estava curiosa para te conhecer, nosso irmão fala muito sobre você.
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  — A garota do cappuccino nutella. — Michael também entrou na sala, ambos vindo até mim. — Estou curioso para experimentar.
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  — Vossa alteza gosta de chocolate? — perguntei ao sorrir para ambos.
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  — Ele não gosta, ele ama — disse Giulia. — Eu prefiro morangos com leite condensado.
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  — Os dois são maravilhosos ao meu gosto — murmurei me deixando neutra. — Mas posso preparar cappuccino para vocês se quiserem.
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  — Eu quero. — Michael deu um pouco de animação levantando a mão.
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  — Eu posso experimentar. — Giulia fez uma cara de desconfiada.
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  Eu ri deles e os guiei até a cozinha. Em poucas horas ali já tinha decorado muitos caminhos. E fiquei surpresa ao saber que era a primeira vez que as crianças entravam na cozinha. Assim que comecei o preparo, os convidei para participar e não somente o cappuccino, mas também inventei de fazer cookies para eles. Foi diversão pura naquela cozinha que terminou com uma grande bagunça, mas vários sorrisos nos rostos deles e muitas histórias que tinham sobre o irmão mais velho imperador. Enquanto as crianças lanchavam, uma mulher desconhecida adentrou o palácio e pediu minha presença.
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  Achei estranho, pois quem poderia querer falar comigo? Logo eu, uma desconhecida? E como saberia que eu estaria ali?
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  — Boa tarde — disse ao entrar na sala de estar.
  — Então é você a mulher de que todos falam. — A mulher desconhecida, que estava de frente para a janela, se virou para mim e me olhou de cima a baixo. — As mídias falam que você é provavelmente a futura imperatriz consorte.
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  Vasculhei em minha mente o real significado da palavra consorte, que quer dizer cônjuge de um monarca. Segurei minhas expressões faciais, mantendo a suavidade.
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  — E você? Quem é? — perguntei. — Já que está tão informada sobre mim, devo saber sobre você.
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  — Meu nome é Dara, acho que vossa majestade já mencionou sobre mim — disse ela num tom soberbo.
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  A ex traidora.
  — Sim, ele já mencionou. — Cruzei meus braços não entendendo sua presença ali. — Em que posso ajudar?
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  — Soube que o antigo imperador regente esteve aqui, acho que já deve entender o que vai acontecer. — Iniciou ela se sentindo segura em suas palavras. — A única forma de vossa majestade ter um reinado tranquilo e de paz é se casando comigo, e a única que pode convencê-lo disso é você… Garanto não me importar que seja a concubina do imperador, desde que eu seja a soberana ao seu lado.
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  Concubina? Comecei a tossir de leve, porém me recompus. Que espécie de pessoa era ela?
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  — Você acha mesmo que vou fazer isso? — Eu ri dela. — é o imperador, é ele quem dá as ordens e o tio dele não pode mais obrigá-lo a conviver com você.
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  — Me admira sua ousadia, mas escute bem, se ele não se casar comigo, acredite, não haverá mais monarquia nesse país e nem um imperador. — Ela lançou um sorriso superior e se retirou da sala.
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  Senti meu coração na mão. Eu tentei não me abalar com sua ameaça e menos ainda deixar os irmãos da realeza preocupados. O imperador retornou logo após o jantar, para minha surpresa, seus amigos estavam junto acompanhados da primeira-ministra. me apresentou sua prima, a oitava na linha de sucessão. Achei Lorelyn superdivertida e muito gentil, felizmente não era filha do tio malvado e sim do tio caçula de .
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  Fiquei mais em silêncio e forçando sorrisos entre eles, até que me perguntou se havia acontecido algo em sua ausência. Me peguei em uma indecisão se contava ou não da visita de Dara. Não queria lhe trazer mais preocupações, porém acabei contando a todos, que ficaram perplexos e com olhares preocupados.
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  — E o que faremos agora? — perguntou Junior, tentando não me encarar.
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  — Eu não acredito que nosso tio está tão desesperado pelo poder para chegar a isso. — Lorelyn permanecia embasbacada. — Golpe de estado transformando nosso país em uma República de corruptos? Já é difícil separar o joio do trigo tendo um imperador, imagine se fosse o contrário.
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  — Seriam um país falido e fracassado, transbordando caixa 2 — sussurrei ao me lembrar da minha realidade.
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  Os amigos me olharam, pareciam ter me ouvido.
  — Eu não vou me curvar às pressões do meu tio. — se manteve firme em seus pensamentos. — Ainda que tenha uma guerra civil, não me casarei com ela e com nenhuma outra que pertence a este mundo.
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  Seu olhar veio para mim com intensidade. Era uma indireta bem direta.
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  — E o que fará? — perguntou Lorelyn.
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  — Revogarei algumas leis que restringem a monarquia principalmente sobre o casamento. — Iniciou ele mantendo o olhar em mim. — Enquanto reviso as leis, preciso que consigam o máximo de aliados na corte e no parlamento, então… Irei apresentar oficialmente ao meu povo alguém especial para mim.
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  Meu corpo estremeceu um pouco e meu coração acelerou.
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  — Mas a tradição do casamento é a mais importante para a corte. — Observou Tobia ao se ajeitar na poltrona em que sentava. — Acha mesmo que algumas famílias vão aceitar?
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  — As necessárias, sim — disse ele.
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  — Pois eu tenho uma outra ideia ainda melhor e mais fácil — disse Junior ao olhar para mim e sorrir como se tivesse ganhado na loteria. — Vamos usar ela para vencer seu tio.
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  — Eu?! — disse surpresa.
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  — Ela? — Lorelyn me olhou confusa. — Como?
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  — Assim! — Ele ligou a tela do celular e mexendo por alguns segundos, nos mostrou uma imagem. — Assim vamos ganhar essa guerra.
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  A imagem era de uma mulher exatamente igual a mim. Será que era minha versão naquele universo? Meu corpo estremeceu mais uma vez.
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  — Por que está nos mostrando uma foto dela? — perguntou Lorelyn sem entender nada.
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  — Não é ela e já conversamos sobre isso — respondeu . — Esqueça essa ideia.
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  — Que ideia? — perguntei.
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  — Eu ia… — Junior começou a falar.
  — Não ia nada, já disse que não. — o interrompeu engrossando mais a voz, o que me deixou surpresa. — Terminamos por hoje, amanhã espero todos bem cedo no Palácio da Alvorada para a primeira reunião com o parlamento, podem se retirar.
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  Os amigos de engoliram a seco sua ordem, principalmente Junior. Assim que se retiraram eu o olhei séria e brava por sua forma de agir, cruzando os braços. Assim que seu olhar se voltou para mim, ele percebeu meu estado.
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  — Me desculpe, mas não quero que se preocupe com assuntos do meu mundo — disse ele num tom mais baixo.
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  — E como pode me pedir para estar no seu mundo se não posso nem participar totalmente dele? — O confrontei. — Acha mesmo que sou somente um rostinho bonito?
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  — Você é realmente linda, mas sei que há muito mais por trás da sua beleza, só não quero que se machuque se envolvendo com tudo isso — disse ele dando um suspiro fraco e cansado. — Sei que este lugar não tem somente as partes boas, mas quero evitar que as más te alcancem.
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  — Elas me alcançaram hoje pela tarde — retruquei. — Então, vai me dizer ou não quem era a mulher igual a mim?
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  — Tudo bem. — Ele assentiu estendendo sua mão para mim. — Podemos conversar sobre isso amanhã?
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  — Quero falar agora ou volto para casa. — Lhe dei duas opções, mostrando o colar em meu pescoço.
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  — Se voltar daqui, vai parar no Rio no seu mundo — retrucou ele.
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  — Não me importo. — Continuei firme.
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  — Você realmente é única. — Ele sorriu de canto.
   começou a me contar sobre a minha versão naquele mundo. Dizendo que aquela era uma possível imagem de como a garota seria nos dias atuais. Ela havia desaparecido há mais de dez anos, após o naufrágio do navio de seus pais em umas férias no Caribe. E pertencia a mais importante família brasileira após a realeza de Orleans e Bragança.
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  A família Castelatto descendia de imigrantes italianos que se refugiaram no Brasil imperial, logo após a abolição da escravatura pela princesa Isabel. Além de possuírem uma grande fortuna e empresas no segmento alimentício, detinham uma quantidade significativa de cadeiras aliadas no parlamento. Assim como títulos de nobreza de duques e duquesas, por alianças e acordos matrimoniais no passado com membros da realeza.
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  E qual era o plano? Eu me passar pela duquesa desaparecida, que sem nenhuma dúvida seria a melhor opção matrimonial para a coroa. Os amigos de realmente tinham a ambição de nos casar, mesmo que fosse um casamento falso somente para acalmar as tensões políticas. não queria que essa cultura de acordos matrimoniais e casamentos arranjados continuasse nas tradições monarcas brasileiras. Século XXI, ele desejava a liberdade dos próximos sucessores de escolher pelo amor e não pelo poder político em seu reinado.
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  — Entendeu agora minha reação? — perguntou ele, após me contar tudo. — Não quero que fique comigo por causa das guerras políticas do meu mundo, quero que fique comigo porque me ama, independentemente de ser ou não deste universo.
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  — Você é um fofo e confesso que não me vejo me casando por contrato ou algo assim… — eu segurei em sua mão. — E entendo suas palavras.
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  — Obrigado. — Ele sorriu de leve e, me puxando para perto, me abraçou. — Estou realmente feliz por estar aqui.
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  — Mas eu preciso voltar — disse ao me afastar um pouco dele. — Preciso voltar ao meu mundo, ainda tenho uma vida lá.
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  — Tem razão. — Ele assentiu, erguendo sua mão e tocando no cordão em meu pescoço. — Mandarei que alguém te acompanhe até São Paulo amanhã, uma pessoa de confiança a levará até o parque.
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  — Ok.
  Sorri de leve e, tomando impulso, o beijei de forma suave e doce, sentindo ele aproximar novamente seu corpo do meu. Passamos mais algum tempo na sala de tv, juntamente com seus irmãos vendo filmes aleatórios. Algumas coisas naquele universo eram sim diferentes, principalmente no Brasil, porém, algumas não mudaram em nada, principalmente relacionado a Hollywood.
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  Eu estava de volta ao meu Brasil república. me fez prometer que não iria ao seu mundo até o Natal. Ele não me queria em meio ao fogo cruzado que poderia rolar com sua guerra contra o tio traidor. As semanas se passaram, o verão chegou e até mesmo as lojas já se enfeitavam para o Natal. Minha mente não conseguia se focar muito, tanto que até minha amiga Lola percebeu. Se ela soubesse quem realmente era o garoto do cappuccino nutella, surtaria como eu.
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  — Ele não voltou mais — comentou ela, assim que saímos da cafeteria.
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  — É, não voltou — confirmei, dando um suspiro cansado.
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  Ela me convidou para ir ao rolê de sempre com os carros de corrida clandestinos, mas desta vez não aceitei. Confesso que sempre ia na esperança dele estar lá para me ver. Segui para casa e assim que cheguei diante do meu prédio, me deparei com Junior, surpreendentemente, acompanhado de Lorelyn. Que parecia mais em choque do que eu quando cheguei ao mundo deles.
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  — Que loucura, então é real mesmo. — Ela se aproximou de mim e tocou em meu ombro com o dedo indicador.
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  — Sim, eu também fiquei dessa forma que está agora. — Assenti para ela. — Mas o que fazem aqui?
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  — Meu primo está prestes a enfrentar a corte e o parlamento para julgarem suas mudanças nas leis, apesar de não poderem intervir na revogação do imperador pelas leis que regem a monarquia constitucional renovada — respondeu ela.
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  — E eu devo entender isso?! — Olhei para Junior.
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  — Seu tio está planejando um plágio de golpe militar, como o Marechal fez com Dom Pedro II aqui, e vai acontecer durante a reunião de amanhã — explicou Junior.
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  — E o que querem que eu faça? — perguntei.
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  — O óbvio, por isso estamos aqui, queremos que seja nossa duquesa — respondeu Lorelyn.
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  Eu respirei fundo sem saber o que dizer.
  Entretanto, assenti com a cabeça no impulso e no choque. Seguimos para o parque e passamos pelo portal. Permaneci na cobertura dos meninos repassando todo o plano de Junior e Lorelyn, enquanto Tobia e Alex estavam em Brasília para dar cobertura e não deixar que desconfiasse de nada. No dia seguinte, seguimos de helicóptero até o Palácio do Planalto, onde já se reuniam todos. Lorelyn foi na frente, sendo a primeira-ministra, ela deveria chegar juntamente com o imperador. Junior entrou depois e me deixou em sua sala esperando pelo sinal, acompanhada por um militar de sua confiança.
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  Assim que recebi sua mensagem no celular que tinha me dado, segui para o grande salão da corte brasileira onde se reuniam, diante do imperador e da primeira-ministra, todas as famílias da corte e nobreza importantes, juntamente com os parlamentares. Em âmbito nacional, segundo Junior, o povo estava sendo incitado a causar revoltas pedindo pela república, porém, na mesma proporção, havia apoiadores da monarquia que lutavam pela integridade da imagem do novo imperador.
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  Após todas as acusações do tio de e oposições de famílias importantes às mudanças, alguns militares e parlamentares se deslocaram para declarar exílio ao imperador e tentar proclamar a república. Porém, antes que fizessem isso, as portas do salão se abriram para mim. Engoli seco ao me deparar com todos os olhares vindo em minha direção, eu, a passos lentos, fui sentindo os olhares ficando cada vez mais curiosos juntamente com os cochichos de geral. Com as pernas trêmulas continuei até chegar diante do trono em que se mantinha sentado, com o olhar estático para mim, e sua prima ao lado direito fazendo cara de paisagem e Junior ao lado esquerdo, disfarçando a culpa. Alex e Tobia, cada um em uma ponta também.
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  — Apresento-me ao parlamento, à corte, aos ministros e à vossa majestade — disse dando uma breve reverência, estava vestida formalmente com uma roupa emprestada por Lorelyn — Lady Elizabeth Catherine Veronese Castelatto, duquesa de Santa Catarina.
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  Meu coração acelerou. Era surreal que a tal desaparecida tivesse o mesmo nome que eu, além do rosto. Mas sim, ela tinha exatamente o mesmo nome que eu, .
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  — Como pode? — O tio de se levantou de sua cadeira. — A duquesa está desaparecida há anos, você é uma impostora.
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  — Nós provamos que não. — Junior se levantou de sua cadeira e encarou o ex-regente. — Tenho aqui todos os documentos que provam a veracidade de suas palavras, além do teste sanguíneo, esta é a herdeira legítima que está aqui diante de todos para demonstrar seu apoio à coroa — continuou ele, confiante no que dizia. — Para todas as famílias que estão contra nosso imperador, devo lembrá-las de vossa aliança com a casa Castelatto e de como esta família ajudou nosso país a se reerguer na crise de 1929, gerando empregos e esperança à nossa nação. Ir contra o imperador é romper com a aliança e, portanto, se colocar em dívida com a herdeira.
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  — Deixemos que ela fale — disse uma mulher de preto, com cabelos grisalhos, havia uma placa em sua frente escrita lady Silveira, certamente seu sobrenome, condessa de Pernambuco.
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  — Não importa como e onde, o que importa é que fui encontrada e estou aqui para demonstrar meu apoio à coroa, sei que tradições são importantes para manter nossa cultura, mas também através destas mesmas tradições, desculpas para se fazer coisas desonestas podem ser usadas — comecei o discurso que decorei de Lorelyn. — A capacidade de um imperador de governar com sabedoria e responsabilidade não deve ser medida apenas pela ideia de se estar casado ao não, pois entraria em conflito com a realidade do parlamento em que a maioria ou é solteira ou está em uma união informal.
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  Peguei no ponto fraco de muitas pessoas presentes.
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  — E tenho certeza que esta condição não foi impecílio para que assumissem o cargo, estamos em um tempo moderno em que tradições que são utilizadas por interesse próprio devem ser mudadas para tradições que serão utilizadas pelo interesse comum do próprio povo, pois deve-se governar para ele — continuei firme. — Por isso, eu declaro meu apoio ao imperador Leopoldo de Orleans e Bragança.
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  O caos instaurado pelo tio de foi, aos poucos, sendo dissipado assim que Lorelyn, a primeira-ministra, se pronunciou também a favor da coroa. Revelando todos os desvios e falcatruas na má gestão do seu tio em dez anos de regência. O que pegou a todos de surpresa, causando mais alvoroço ainda. Sendo guiada por Junior, segui para a cadeira reservada ao chefe da família Castelatto, no caso, eu. Diante de todas as coisas, a única que me prendia a atenção era o olhar fixo de em mim desde que apareci naquele lugar, e durante toda a sessão.
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  — Vencemos! — disse Alex ao se aproximar de mim com os outros três e esticar a mão para fazermos um toque de vitória.
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  — Sim — disse suspirando aliviada. — Eu nunca fiquei tão nervosa na vida, juro.
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  — Você fez tudo certinho. — Junior piscou de leve.
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  — Você dizendo aquilo sobre mim, foi tão confiante que até eu acreditei. — Ri de leve. — Estou feliz em ter ajudado e evitado uma guerra física com bombas e mortes.
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  — Se não tivesse entrado, acho que teria mesmo começado uma guerra, minha família de militares jamais aceitaria o golpe — garantiu Junior.
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  Voltei meu olhar para que se mantinha em seu trono, com dois guardas imperiais atrás de segurança. Senti uma estremecida no seu olhar ainda fixo em mim, mesmo ouvindo sua prima que tentava trocar algumas palavras com ele.
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  — Sabe aquele medo de encará-lo? — disse num tom baixo.
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  — Nós sabemos — assegurou Tobia. — Cabeças vão rolar hoje.
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  — Melhor eu ir na frente e defender vocês. — Me coloquei como tributo.
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  Eles riram e concordaram brincando comigo. Com a ajuda de Lorelyn, todo o salão se esvaziou restando apenas nós dois. Foi naquele momento que seu olhar se desviou de mim para o anel imperial em seu dedo.
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  — Me desculpe, eu sei que não deveria ter me intrometido e nem me passado pela duquesa, mas…
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  Fui interrompida pela paralisação do meu raciocínio, assim que ele tomou impulso se levantando e me abraçou. Forte, me trazendo para mais perto dele.
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  — Não deveria estar aqui, mas obrigado por ter vindo — sussurrou ele. — Agora entendo o motivo.
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  — Que motivo? — perguntei.
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  — Nada… Não é nada. — Ele sorriu disfarçando e me manteve aninhada a ele.
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  Contava-se dias para o Natal, então resolvi aceitar sua sugestão e ficar mais um pouco. Assim que a data mais esperada do ano naquele universo chegou, o Palácio de São Cristóvão ficou um pouco movimentado pelos amigos/ministros mais badalados do Brasil Imperial e suas namoradas, contamos também com a presença de Lorelyn e sua filha de três anos, que aproveitou para se divertir no quarto de brinquedos com o príncipe e a princesa real.
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  — . — me guiou até o centro da sala de estar, com todos nos olhando. — Naquele dia, eu disse que entendia o motivo, você me perguntou o que era.
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  — Sim. — Assenti.
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  — Agora entendo o motivo do meu pai não ter revogado a tradição quando teve a oportunidade — revelou ele. — Ele sempre dizia que ao lado de um grande homem havia sempre uma grande e sábia mulher que lhe auxiliava, por isso não se deveria governar sozinho…
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  Ele deu um pequeno espaçamento entre nós dois e se ajoelhou diante de mim, deixando todos surpresos, inclusive eu. E retirando uma caixinha dourada do bolso, abriu mostrando um anel de noivado com um diamante.
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  — E eu não quero governar sozinho, mas preciso saber… No próximo Natal, se ainda me amar, aceitaria se casar comigo? — perguntou ele com um olhar esperançoso e aflito ao mesmo tempo.
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  Eu estava mais do que estática e não me imaginava casando tão cedo assim, apesar da minha família inteira dizer que estou encalhada. Mas…
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  — Sim. — A única palavra que minha mente dizia e meu coração também.
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  Mesmo ouvindo as vozes de todos festejando ao nosso redor, minha atenção ficou nos movimentos de colocando o anel em meu dedo e se aproximando mais para me beijar de forma doce e envolvente.
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  Meu coração estava acelerado…
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  Quem diria que em pleno Natal, em um universo paralelo, eu encontraria o meu amor e seria pedida em casamento.
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Eu desisto de entender
É um sinal que estamos vivos
Pra esse amor que vai crescer
Não há lógica nos livros
E quem poderá prever
Um romance imprevisível
Com um turu, turu, turu, turu, turu, turu, tu…
– Quando Você Passa (Turu Turu) / Sandy & Junior

  “Amor: Mesmo sendo distintos, quando o amor acontece, consegue unir dois mundos diferentes.” – by: Pâms

Fim

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