1. Constance Elite Elementare School
Toscana, outono de 2010
A vida pode ser complexa e perigosa quando se trabalha para uma família da máfia, e Lídia sabia bem disso quando se candidatou a uma oferta de emprego para a casa
Magnus, pois mesmo com os riscos, ela tinha uma filha para cuidar. Estava mais do que agradecida pelo emprego, podia dar à pequena uma cama macia e confortável, refeições deliciosas e a oportunidade de estudar em uma escola particular com bolsa de estudos, a
Constance Elite Elementare School. Ainda que todos os benefícios que tinha com aquele trabalho custasse um preço alto que lhe era cobrado todas as noites pelo senhor Francesco Magnus.
— Ainda está acordada, minha princesa? — Lídia se assustou ao adentrar o quarto em que dormia com a filha, no setor dos empregados localizado na parte sul da mansão.
— Tive um pesadelo — sussurrou a criança, estando abraçada às pernas e com marcas de lágrimas escorridas pelo rosto.
— Querida… — Lídia se aproximou da cama dela e, sentando na beirada, a olhou com ternura. — Se quiser me contar, estou aqui.
A mãe segurou a mão da filha, dando um sorriso reconfortante, encorajando-a a falar e desabafar.
— Não consigo esquecer daquela noite… — respondeu ela, num tom ainda mais baixo e voltando a lacrimejar. — E dos gritos.
— Princesinha… — Lídia puxou a filha para mais perto e a abraçou forte, segurando suas emoções para transmitir segurança e conforto à filha. — Está tudo bem agora, tente não pensar no passado, temos uma nova vida e estamos seguras agora.
assentiu com a cabeça, limpando as lágrimas e deu um sorriso fechado à mãe. Mesmo com as palavras confiantes de Lídia, a pequena sabia que não seria fácil para ela superar os traumas causados pelo dia em que a casa dos seus avós foi invadida por homens armados e sua família foi dizimada. Agora, era apenas ela e sua mãe contra o mundo e para sobreviverem, precisavam fechar os olhos e apenas aceitar as regras impostas pela governanta da casa.
— Mamãe… — A pequena respirou fundo, pensando se iria ou não fazer a pergunta que lhe importunava o pensamento.
— Sim, querida? — Lídia a olhou atentamente, enquanto acariciava seus cabelos.
— Por que todas as noites a senhora precisa limpar o escritório do senhor Magnus? Não pode fazer isso de manhã? — As indagações de foram como uma facada no peito da mãe, fazendo-a se sentir constrangida pela percepção da filha.
Para uma mulher que perdeu os pais, os sogros, cunhados, irmãos, primos e o marido em uma única noite há quatro anos, precisava ser forte para proteger a pequena do assombroso mundo da máfia italiana.
— Querida… — Lídia tentava encontrar palavras para formular sua resposta de forma plausível e convincente, ao respirar fundo, ponderou seu tom de voz mantendo-o suave mesmo sendo firme. — O senhor Magnus é muito exigente quanto a qualidade do serviço dos empregados, então… Ele prefere que eu limpe seu escritório em sua presença.
— Entendo. — O olhar da criança abaixou, a garota sabia que a mãe mentia, mas não questionaria nada, apenas apoiaria o sacrifício dela.
— Não se preocupe com meus afazeres, eu fui contratada para limpar e manter este lugar organizado, então… Apenas se ocupe com seus estudos, graças ao senhor Magnus, você estuda no melhor colégio particular deste país, é uma oportunidade única. — Lídia finalizou o assunto, desviando o foco para a filha. — E como tem ido nos estudos?
— Tenho sido uma boa aluna e vou te orgulhar muito no futuro. — sorriu mais abertamente para ela, e voltou o olhar para a janela. — Amanhã teremos prova de matemática, e eu vou tirar total mais uma vez.
— Que bom, e saiba que já estou orgulhosa. — Lídia abraçou a filha mais uma vez, então a ajudou a se deitar, cobrindo-a em seguida e lhe dando um beijo na testa.
Na manhã seguinte, acordou antes mesmo do despertador da mãe tocar. Estava com tanta ansiedade para chegar na escola, que nem mesmo quis tomar café da manhã, apenas trocou de roupa rapidamente e, pegando a mochila, seguiu correndo até o ponto de ônibus. A pequena não era a única daquela casa a frequentar a Constance Elite, a escola também recebia o filho caçula Magnus e a delicada Tommaso, filha de um amigo da família, além de muitos outros herdeiros de famílias que também pertenciam à máfia ou eram associados.
— , … — Rosalia se aproximou dela, assim que a viu passar pelo portão da escola, o olhar animado e entusiasmado. — Como estamos para a prova de hoje?
— Acho que bem — respondeu ela, ainda assustada por sua euforia. — Eu estudei antes de ir dormir.
— Estudar? Pra que? — A outra riu um pouco, para ela não havia tal necessidade porque era expert com números. — A matéria é tão fácil.
— Fale por você. — A voz de Matteo soou atrás da garota, com uma careta e olhar desanimado. — Eu odeio geometria plana.
— Pois saiba que educação física também tem matemática e biologia, que são as matérias que você mais apanha, e carreira esportiva também não dá futuro a ninguém — retrucou Rosalia, ao se voltar para o rapaz.
— Fala isso para o Ronaldinho Gaúcho — retrucou Matteo, seguro de seu argumento, apresentando seus jogadores favoritos. — Ou o Ronaldo Fenômeno, além do mais, eu não preciso fazer faculdade de educação física se for um jogador de futebol.
— Contra fatos não há argumentos. — concordou segurando o riso. — Desta vez não tem como te defender, Rosa.
— Ok, vou mudar minha fala, já que utilizou do futebol para me atacar. — Ela manteve o olhar seguro para Matteo. — A carreira esportiva não dá futuro a ninguém que não tenha talento, e você está nesta lista.
— Eu tenho talento sim — retrucou o garoto.
— Acho melhor irmos — disse , cortando o assunto. — Ainda temos dez anos de idade e uma prova de matemática nos aguardando. — Eles riram um pouco e seguiram para a sala.
Havia algo em comum entre o trio de amigos que os unia mais do que o fato de terem entrado na escola no mesmo dia, os três eram filhos de empregados que trabalhavam para famílias da máfia, bolsistas e rejeitados pelos outros alunos. Por isso, não demorou muito para que Matteo se juntasse às duas meninas nas horas de intervalo ou para os trabalhos em grupo, até que se tornassem amigos inseparáveis. O filho do motorista da família
Cassano, a filha da cozinheira da família
Tommaso, e a filha da empregada da família
Magnus.
— Pode uma pessoa ser psicopata desde a infância? — comentou Matteo, num tom baixo, ao se aproximar das meninas no pátio da escola.
— Do que está falando Matteo? — olhou para o amigo confusa por suas palavras.
— Esse menino é um surtado, você ainda dá atenção a ele? — Rosalia riu baixo, mantendo sua atenção nos cálculos da prova, que insistia em refazer, pois não tinha conseguido entender a última questão.
— Diga logo, do que está falando? — insistiu , tentando entendê-lo.
— O filho dos Magnus, , ele tem uma cara de psicopata — explicou Matteo mais abertamente, sentindo um frio na espinha.
— Por que acha isso dele?! — indagou , curiosa, ao voltar seu olhar discretamente para o menino citado.
— A forma como ele te olha quando você passa por ele — continuou o amigo, num tom preocupado —, é como se ele fosse um predador selvagem e você a presa.
— Sério?! — segurou o riso, em respeito ao amigo e sua preocupação. — Ele é um tanto quanto estranho mesmo, tenho que concordar, mas… Não acho que ele me olhe assim.
— Acredite, ele olha sim. — Rosalia parou o que fazia e concordou com o amigo. — Por mais que eu deteste concordar com o Matteo.
— Bem, tem alguns problemas com a família, sabem que minha mãe trabalha para os Magnus há dois anos apenas, e eu não tenho muito contato com eles, reservo meu tempo em casa ficando apenas no meu quarto e às vezes dou algumas voltas escondida pelo jardim… — vasculhou em sua memória os raros momentos em que viu alguém daquela família, além do filho caçula. — Mas teve um dia que eu vi o senhor Magnus batendo no rosto do , dizendo que ele era uma vergonha para a família e que apenas tinha orgulho do filho mais velho.
— Viu, é assim que nasce um psicopata, sendo rejeitado pelos pais — comentou Matteo, confirmando suas teorias.
— E por falar em filho mais velho, alguma vez você o viu? — indagou Rosalia, curiosa pela informação. — Dizem que ele é três anos mais velho que o e que antes de ser enviado para a filial do Constance em Londres, ele era o melhor aluno da escola…
— E o capitão do time de futebol também — completou Matteo antes que ela pudesse terminar sua fala. — Quem me dera ter uma oportunidade dessas, algum olheiro me veria e eu me tornaria a próximo craque do Barcelona… Mas como bolsista e nascido na classe operária, nem posso me aproximar do time.
— Barcelona… — Rosalia soltou uma risada discreta e olhou para a amiga, que permaneceu pensativa.
— A única vez que o vi, foi… — pensou bem se deveria ou não falar do assunto, pois havia sido um dia bem difícil para a família após o anúncio da mudança do primogênito. — Naquele mesmo dia, ele estava de costas, apenas observando o pai bater no irmão.
— Tá explicado o motivo de ambos não se darem bem… — Matteo constatou a realidade e, tombando seu corpo, deitou no gramado mantendo a atenção no céu. — Quanto mais eu descubro sobre a vida dessas pessoas, mais eu me sinto feliz com a família que eu tenho.
— Por que diz isso? — indagou Rosalia, surpresa pelo que o outro dizia. — Eu não me importaria se tivesse o dinheiro que eles têm, pelo menos já teria minha vaga em Harvard garantida.
— O que adianta ter dinheiro e não ser feliz… Ou amado por seus pais. — O garoto soltou um suspiro ao se lembrar de seus momentos de lazer e diversão com os pais. — Pelo menos sei que posso contar com minha família — explicou ele, seu conceito.
— Olhando por esse lado, Matteo está certo, mas… Querendo ou não, quando você tem dinheiro, pode proteger quem você ama. — As palavras de foram profundas e refletiam a tristeza de seu passado e a perda do seu pai.
— Isso é verdade — concordou o garoto, erguendo o corpo novamente. — Eu ouvi meu pai comentando com minha mãe sobre o arranjo de casamento do senhor Mancini com a filha mais velha do senhor Tommaso.
— Ah, sim, eu ouvi minha mãe comentando com uma das criadas, parece que a irmã da , a senhorita Diana, se apaixonou por um plebeu como nós e, como castigo, o senhor Tommaso fez um acordo com o senhor Mancini, a mão da filha em troca de uma aliança entre as famílias. — Rosalia sentiu uma leve repulsa. — Que nojo, ela agora vai se casar com um velho asqueroso.
— Bem que a falou sobre proteger quem se ama. — Matteo continuou a refletir a afirmação da amiga. — Se o plebeu fosse rico, com certeza teria conseguido entrar pra família Tommaso.
não sabia o motivo por ter perdido sua família, mas sabia que parte disso se devia à falta de recursos financeiros que tinham. Seus avós eram pessoas humildes, que viviam do pouco que o comércio lhes proporcionava, assim como seu pai, era mecânico que sempre prestava serviços a preços baixos para os moradores do bairro.
— ?! ?! — A voz de Rosalia despertou a amiga de seus pensamentos profundos.
— Hum?! — A menina olhou-a atentamente. — O que foi?!
— É que você ficou estática, olhando pra frente. Está tudo bem? — indagou Rosalia.
— Sim, está, e nós temos que voltar pra aula. — Ela se levantou, espreguiçando um pouco.
— Aula de história, por que é tão chato falar sobre o passado?! — reclamou Matteo, se levantando também.
— Para você, toda aula é chata. — Rosalia o criticou em risos, esticando a mão para que a ajudasse a se levantar.
— Eu deveria te deixar aí no chão — retrucou o garoto ao pegar na mão da amiga e a levantar. — E, a propósito, educação física não é chato.
— Educação física não é aula, é um passatempo que não deveria existir na escola, só serve para atrapalhar meus estudos — argumentou Rosalia, dando o primeiro passo para seguir na frente.
— Fala assim porque suas notas são péssimas nessa aula. — Ele riu da outra.
— Já disse, não é aula, é passatempo — corrigiu a garota num tom mais empoderado.
— Vocês dois um dia vão se casar, só acho — comentou , rindo de ambos e da careta que fizeram.
Os amigos seguiram para a sala, enfrentando mais três horas de aula, até serem dispensados. Naquela sexta, decidiu seguir para casa sozinha e caminhando, por mais que sua mãe lhe desse dinheiro para a passagem do ônibus, em alguns dias ela variava sua rota. Como o outono era sua estação favorita, nada melhor do que uma caminhada ao ar livre para apreciar a beleza da paisagem e dos tons terrosos das folhas caídas ao chão.
— Olha só, a filha da empregada está sem dinheiro para voltar para casa. — A voz de a despertou de seus pensamentos, fazendo-a parar.
Com o olhar assustado, sentiu um frio na espinha ao ver que o menino não estava sozinho e tinha a companhia de mais dois amigos. A pequena não somente o achava estranho, como também tinha um certo medo do garoto devido a seus atos de aterrorizar alguns dos alunos bolsistas e sempre se meter em brigas de rua, mesmo com pouca idade.
— Está assustada em me ver?! Estudamos na mesma escola — continuou ele, num tom intimidador ao se aproximar dela.
— Eu só quero ir para casa — sussurrou , sentindo seu corpo paralisado pela proximidade de .
O caçula Magnus já havia completado seus treze anos de idade e, ao contrário de que tinha apenas dez, ainda estudava no Constance Elite Elementare por ter sido reprovado por dois anos. Considerado o terror dos professores, suas notas apenas haviam melhorado graças a constantes doações generosas do pai aos cofres da instituição.
— A gente pode ir pra casa juntos. — Ele sorriu de canto, tinha uma malícia nos olhos. — Assim meus amigos também poderão te conhecer.
— Senhor Magnus, por favor, eu quero ir sozinha — pediu a menina, deixando sua voz baixa e reprimindo os traços de medo de seu rosto. — Por favor.
Ela sabia que não era um bom garoto e tinha testemunhado isso na noite em que conheceu o primogênito da família. Alguém com tanto ódio pelo irmão no coração era capaz de qualquer maldade com terceiros.
— Que isso, não precisa ficar tímida… — O garoto segurou forte em seu braço, a puxando para mais perto. — Deveria se comportar como sua mãe, já que eu sou o patrão.
relutou com mais determinação às investidas dele e, em um momento de distração em que tentou mostrar força aos amigos, ela conseguiu se soltar dele o empurrando e lhe dando um tapa em seguida.
— Eu pedi para me soltar. — Ela finalmente conseguiu a coragem para elevar mais seu tom de voz, mesmo com medo que aquilo pudesse prejudicar sua mãe.
— Ih, ela te humilhou. — Andreas lançou uma chacota do amigo, enquanto o outro ria.
— Sua vadia… — a olhou com raiva, então levantou a mão para bater nela.
Assim que deu impulso, no susto, foi parado por outra pessoa que se colocou ao lado da menina.
— O que acha que está fazendo?! — A voz grossa e firme de fez o corpo de estremecer por dentro, assim como seu irmão engolir seco.
— Me solta — disse , forçando o tom de ordem.
— Se for para bater, que seja em alguém mais forte, assim vale a pena se gabar depois. — O primogênito largou o braço do irmão bruscamente, quase o fazendo cair ao chão, mantendo sua atenção fixa nele. — Se está com raiva por eu ainda estar vivo, não desconte nela, venha e me mate adequadamente. Desconte em mim.
— Eu te odeio! — gritou , assustando até mesmo seus amigos.
— Volte para casa e esqueça o que aconteceu aqui — ordenou ao voltar seu olhar para .
A menina assentiu, ainda sentindo seu coração acelerado pelo medo, então, dando o primeiro passo para se afastar, seguiu na direção contrária para chegar ao ponto de ônibus. Das muitas vezes que foi coagida por ao longo dos últimos sete meses, aquela havia sido a mais pesada de todas, e desta vez não guardaria segredo da mãe. já estava se sentindo mais do que sufocada ao morar na mansão da família, ao ver a mãe sendo explorada pelo senhor Magnus de todas as formas possíveis e não poder contar que sabia.
Após a saída da menina, os irmãos Magnus continuaram a se encarar por alguns minutos em silêncio, até que…
— Vocês dois, se não querem sair daqui com o olho roxo, aconselho que se mandem daqui — disse , com o olhar atravessado para os amigos do irmão.
— Aonde vão?! Estão com medo dele? — gritou aos garotos ao vê-los sair correndo. — Maricas… E você? O que acha que está fazendo, chegando aqui e bancando o irmão mais velho?!
— Eu sou seu irmão mais velho… — arregaçou as mangas de sua camisa em poucos movimentos e com certa elegância, então olhou o mais novo com seriedade. — E acho que tenho que te lembrar disso.
Não foi uma surpresa para os pais quando chegou em casa com cortes na boca e o olho roxo, entretanto, ficaram mais felizes por ter o primogênito em casa naquela noite. Uma visita rápida e inesperada que acabou sendo benéfica para a filha da empregada.
— Como está sua filha? — perguntou , assim que foi servido por Lídia à mesa do jantar.
A mulher paralisou pela pergunta, tentando entender quando havia tido algum contato com os filhos do patrão.
— Responda ao meu filho, Lídia. — O tom de ordem de Francesco a despertou, ele também estava curioso por aquilo.
— Está bem, senhor — disse a mulher, sentindo um aperto no coração. — Agradecemos pela bolsa de estudos que o senhor interviu para que ela recebesse, minha filha tem se esforçado muito para ser uma boa aluna.
— Satisfeito com a resposta, filho? — Marie controlou seu olhar de raiva para a criada, ela sabia muito bem o que acontecia no escritório do marido todas as noites, e odiava o fato de mãe e filha estarem na mansão.
— Sim, mãe. — voltou sua atenção para o irmão, que mantinha um sorriso de deboche para ele.
O caçula, mesmo com raiva de ter apanhado dele, não se continha em deixar o sorriso de deboche estampado em seu rosto.
— Pode se retirar, Lídia, deixe que Gertrudes conduza o jantar — ordenou Marie, lançando o olhar para o marido, um recado oculto para que não a contrariasse na frente dos filhos.
— Sim, senhora. — A empregada assentiu com a cabeça e se retirou da sala de jantar.
Preocupada com a filha, seguiu até o quarto, onde a menina estava fazendo sua lição de casa. Lídia ficou um tempo em silêncio, apenas observando-a com carinho, até que despertou a atenção da menina.
— Mãe? O que faz aqui? E o jantar? — perguntou , confusa por sua presença.
— Está tudo bem com o jantar, mas… — A mulher se aproximou mais da filha e sentou na cama ao lado. — O primogênito Magnus perguntou por você.
— Perguntou por mim?! — A menina sentiu um frio na espinha.
— , eu quero que seja honesta comigo, tudo bem? — pediu ela, analisando as expressões da filha.
— Tudo bem. — Concordando com a mãe, ela reuniu coragem para falar o que fosse preciso para ambas saírem daquela casa.
— O que aconteceu entre vocês dois? — perguntou Lídia, temendo a resposta, porém, disposta a ouvi-la.
8 meses atrás…
— Não consigo imaginar desgosto maior que ter você como filho. — Aquelas palavras saíram da boca de Francesco como uma adaga afiada, como uma lâmina cheia de veneno sendo travada no coração do filho caçula.
Não era novidade para a preferência dos pais pelo irmão e, por mais que tentasse chamar a atenção deles, a única coisa que lhe restava eram as surras que ganhava do pai quando o mesmo se frustrava com algo. E nem mesmo a socialite Marie, o agraciava com o mínimo de afeto materno.
— Faça um favor para esta família e mude seu comportamento, se torne pelo menos a metade do que seu irmão é e já será uma preocupação a menos — ordenou o pai, ao levantar a mão para ele mais uma vez e bater em seu rosto. — Da próxima vez que você envergonhar esta família, vou esquecer que tem o meu sangue e lhe dar o mesmo tratamento que dou a quem me aborrece.
— Pai — interviu nas palavras dele, chamando-o a realidade —, sei que está bravo, mas mal fez treze anos, não deixou de ser uma criança e ainda tem muito o que aprender… Não acha que está sendo rígido demais?
— Você com esta idade já era mais responsável que muito adulto que conheço. — Francesco olhou para o primogênito, mantendo seu tom sério e o rosto inexpressivo. — Seu irmão precisa aprender que não é mais uma criança e deve começar a agir como um Magnus de verdade.
— E para que eu preciso ser um adulto, o senhor já tem seu escolhido, eu nunca serei nada nesta família mesmo. — com a mão no rosto, revoltado pelo que o pai lhe fez, saiu correndo dali segurando o choro de raiva.
— Vá e não deixe que ele cometa mais nenhum absurdo — ordenou o pai, mais áspero e impaciente.
— Amanhã eu volto para Londres, não estarei aqui para vigiá-lo, então deveria aceitar a oferta da diretora Morellis e fazer a doação à escola, assim se formaria no fundamental e eu poderia ficar de olho nele na Inglaterra — aconselhou o pai, sabendo que sua ideia era plausível.
— Acha que não posso controlar seu irmão? — O pai o confrontou, elevando mais a voz.
— Ele odeia a todos nessa casa, mas pelo menos eu consigo contê-lo — argumentou o filho, validando sua proposta. — Pense sobre isso, eu vou atrás dele.
se afastou do pai e saiu da garagem, seguindo em direção ao jardim. Após caminhar alguns minutos procurando pelo irmão, o encontrou parado em frente à piscina. Ao respirar fundo, se aproximou dele mantendo o silêncio.
— O que está fazendo aqui? Veio rir de mim? — O tom amargo era nítido na voz de . — Se gabar por ser o preferido?!
— Não, só quero saber se meu irmão está bem — respondeu , mantendo a atenção na piscina à sua frente.
— Se estivesse mesmo preocupado comigo não ficaria assistindo enquanto ele me bate. — cuspiu a frase como se estivesse entalado em sua garganta. — Pare de se fazer o irmão que se importa, porque eu sei que não se importa.
Ele deu um passo para se retirar.
— , espere. — o segurou pelo pulso. — Vamos conversar.
— Eu não quero conversar, eu te odeio. — O caçula soltou seu braço com mais raiva ainda. — E a única coisa que eu quero é que você morra.
o empurrou na piscina e saiu andando como se nada tivesse acontecido. Aquilo não seria um problema, apenas um desabafo de irmão descontando sua revolta no mais velho, exceto pelo fato de que não sabia nadar, e que possivelmente seu desejo se tornaria realidade.
Entretanto, a vida é imprevisível e de longe, a pequena observava todo o drama da família Magnus. No impulso após voltar do choque que foi ver um irmão empurrando o outro, ela se lembrou do comentário dos empregados sobre o primogênito ter um certo trauma da piscina por ter se afogado aos seis anos de idade. Foi então que a menina correu até lá e pulou na água sem se dar conta das consequências, afinal, ela poderia se afogar junto ao tentar salvá-lo.
— Você é muito pesado… — disse ela, com certa dificuldade ao tentar nadar e puxar o rapaz ao mesmo tempo.
Para sorte, ou falta dela, o garoto já estava desacordado naquele momento, facilitando o projeto de resgate. Com muito esforço, conseguiu tirá-lo da água e, se lembrando dos procedimentos de primeiros-socorros que tinha aprendido na aula de ciências, começou a fazer a reanimação cardiopulmonar, repetindo as compressões torácicas por várias vezes até finalmente obter uma resposta positiva do mais velho.
— Você está bem?! — perguntou ela, assim que ele começou a tossir, dando sinal de que voltara a respirar.
— Acho que engoli muita água — respondeu o rapaz ao voltar seu olhar para a garotinha, inicialmente pensando que fosse outra pessoa. — Quem é você?!
nunca havia visto ela na mansão, afinal, a mais importante das regras era que a pequena não poderia ficar passeando pela casa e nem se aproximar dos filhos dos donos.
— Meu nome é — disse a menina num tom baixo ao se apresentar para o mais velho. — Sou a filha da Lídia.
manteve seu olhar mais profundo enquanto a encarava. Mesmo que seu coração estivesse acelerado por causa do ocorrido, não conseguia entender o que estava sentindo naquele momento.
Um misto de encantamento e raiva que mantinha sua atenção fixa nela.
Como a filha de uma criada ousou tocá-lo e salvar a sua vida…
Caindo (tudo está) caindo
Por tua causa eu me estraguei assim.
– I Need U / BTS
2. Tommaso
Toscana, outono de 2010
Para aqueles que pensam que apenas os mais afortunados poderiam ter o mundo em suas mãos, saibam que até mesmo para os
filhos da máfia, nascidos em berço de ouro, nem sempre o dinheiro significava a liberdade. Uma realidade que Diana Tommaso estava experimentando, com o castigo que o pai lhe deu, após descobrir seu romance com o jardineiro recém-contratado.
— Pietro! — A voz da jovem soou esperançosa ao vê-lo, exatamente no ponto que haviam marcado de se encontrarem.
— Diana… — O sussurro dele fez o corpo de sua amada estremecer, sendo contemplada por um beijo acolhedor. — Por um momento pensei que não viesse.
— Seu bobo, eu te amo — sussurrou ela de volta, sentindo uma aquecida do coração. — Jamais deixaria de vir.
Na alta madrugada, a esperança parecia ser a companheira do determinado casal e sua última tentativa de ficarem juntos e viver o amor proibido. Fugir de casa foi a parte mais fácil para Diana, pois não conseguia se imaginar casando-se por obrigação com um homem que já havia enterrado quatro esposas, no entanto, encarar o fato de ficar longe de sua família, se escondendo do pai, seria o mais doloroso para ela.
— Está arrependida? — indagou Pietro ao pegar a mala dela, para carregar com a sua.
— Jamais, não me importo para onde vamos, desde que seja com você — assegurou ela, certa de sua decisão arriscada.
Um sorriso surgiu no rosto do homem, que sentia o coração acelerado pelas palavras dela, então, uma longa pausa para mais um beijo apaixonado, internamente fez o casal sentir o gosto da separação. O que de fato pareceu um vislumbre de premonição, sendo concretizado antes do amanhecer.
— Nunca imaginei que uma de minhas filhas me traria tamanha desonra. — O tom amargo e frio de Elio Tommaso despertou a atenção do casal.
Um frio gélido passou pelo corpo da jovem, temendo pelo pior, ao notar que estavam cercados por homens armados.
— Papai… Por favor. — Diana não conseguiu controlar o tom de desespero em sua voz, se colocando à frente do seu amado.
— Saia da frente. — Elio retirou a arma da cintura, apontando para o rapaz atrás dela. — Ou me esquecerei que é minha filha.
— Papai… — Diana sussurrou, com lágrimas nos olhos.
— Senhor, por favor, faça o que quiser comigo, mas não machuque a sua filha. — Pietro, em seu pequeno passo de coragem, se colocou à frente da arma, trazendo sua amada para trás. — Eu amo sua filha…
— Um ninguém como você não tem o direito de amar alguém como minha filha. — Elio manteve seu olhar firme, mantendo a mira, então olhou para o lado fazendo o sinal para que seus homens afastassem sua filha.
Logo, cinco homens se aproximaram. Dois seguraram nos braços da garota, arrastando-a para longe do amado, enquanto os outros seguraram o rapaz e começaram a socá-lo. Aos gritos de Diana por piedade, em desespero e agonia, a jovem foi forçada a assistir seu amado sendo espancado pelos homens do seu pai, seus gemidos podiam ser ouvidos com nitidez.
— PAIIII!!! — O grito de Diana, fez com que os homens parassem a sequência de socos e chutes. — Por favor… Eu faço o que o senhor quiser… Eu me caso com o senhor Manchini… Serei a esposa perfeita para manter a honra da minha família… Mas, por favor, não o mate.
O chefe Tommaso deu alguns passos até a filha, com o olhar rígido, parcialmente inexpressivo.
— Saiba que estou desapontado com você, mas espero que cumpra com sua palavra — disse o pai, rudemente — ou ele sofrerá as consequências.
Diana assentiu com a cabeça, ao voltar o olhar para Pietro ao chão, ensanguentado. Com o aperto no coração, ela fechou os olhos tentando guardar no mais profundo de sua memória, o gosto doce do beijo dele.
— Joguem-no no beco da morte — ordenou o chefe Tommaso, ao referenciar a rua em que os banidos da máfia são jogados. — E marquem-no para que se lembre desta noite.
Mais lágrimas rolaram no rosto de Diana, enquanto era arrastada até um dos carros. Para a jovem, sua vida havia acabado naquele mesmo instante, sobrando apenas suas memórias como seu último fôlego.
— Bonjour, senhoritas — disse Andreas, ao se aproximar das carteiras das garotas na sala de aula.
— Bom dia, And — respondeu Teresa, num tom animado ao olhá-lo com um brilho nos olhos.
— Bongiorno — respondeu Angela de forma desinteressada, mantendo o olhar no celular em sua mão.
— Quem é vivo sempre aparece para aula de manhã — brincou Roberto, rindo da careta do amigo.
— Achei que não viesse hoje, já que seus pais iriam viajar — comentou ao chegar logo atrás, surpresa pela presença do amigo. — Você passou a semana se gabando que iria para as Maldivas.
Uma risada tímida soou de Giorgia, que estava ao lado da amiga, dando um aceno singelo. A delicada garota, mesmo sendo do grupo desde o jardim, ainda tinha certas dificuldades de socialização, muitas delas traumas de infância pelo casamento conturbado dos pais.
— Ah, Queen, nem me fale disso. — Ele bufou um pouco com chateação. — Achei mesmo que fosse me livrar da semana de provas e simplesmente ir para o paraíso, mas, parece que a viagem deles é apenas de casal.
— Esqueceram de mim, versão Riina. — Roberto soltou uma gargalhada maldosa, fazendo os outros rirem.
— Nem comentou. — Andreas puxou sua cadeira e sentou, ainda inconformado com sua realidade. — E onde está nosso amigo?
— O próprio, quem mais seria? — Andreas a olhou confuso.
— Ele não vem hoje — respondeu ao se sentar também, soltando um sorriso cansado.
Dos muitos problemas que a garota estava enfrentando em casa por causa da irmã, ela ainda dividia sua atenção com os irmãos mais problemáticos que existiam no grupo de amigos da elite: os Magnus. e , por muitas vezes, a fizeram passar madrugadas em claro, ambos crescendo juntos pela amizade entre as famílias, só ajudou ainda mais em sua aproximação e intimidade com os meninos.
— Sabe de alguma coisa? — perguntou Angela, interessada na informação.
— Reuniões de família — respondeu a Tommaso, abrindo o livro de geografia, pois seria a primeira aula. — Nada demais.
— Então já sabemos que ele não vai aparecer nos próximos dias — concluiu Roberto, já entendendo a situação do amigo.
— Algum problema com isso? — Insistiu Angela, curiosa.
A recém-chegada no grupo, assim como a irmã gêmea, não conhecia os segredos ocultos das famílias que pertenciam à máfia, menos ainda o quão pesado era ser um herdeiro nascido neste mundo.
— Todos possíveis — sussurrou Giorgia, chateada pela notícia.
Em minutos, a atenção de se desviou para a filha da empregada, que passava pelo corredor, acompanhada dos amigos. A garota Tommaso não sentia nem um pouco de afinidade com ela, não somente por sua classe social, como pelo fato de já ter notado que os irmãos Magnus sempre mantinham um olhar discreto para a garota invisível.
Em um rompante, se levantou de sua mesa e seguiu para o corredor, a fim de . Ao chamá-la, elevando mais a voz, fez os três amigos pararem paralisados pela abordagem, e parando em sua frente, precisou forçar sua resiliência para se dirigir a ela.
— Preciso falar com você — pronunciou para ela.
— Senhorita Tommaso — disse Rosalia, surpresa com o chamado dela, sem saber o que dizer.
— Rosa, você e seu amigo poderiam nos dar licença? — tentou ponderar, porém, soou como ordem.
— Claro, senhorita. — Rosalia segurou no pulso de Matteo e o arrastou para saírem de lá. — Te esperamos na sala.
— O que a senhorita deseja? — perguntou , ainda surpresa com a aproximação dela.
— Quero saber o que está acontecendo na mansão dos Magnus. — foi clara e objetiva.
— Me desculpe, mas não sou autorizada a entrar na casa grande, menos ainda me aproximar dos herdeiros — respondeu , demonstrando não poder ajudar.
— Não é o que me parece, já que você sempre está no campo de visão deles — retrucou , sentindo uma ponta de ciúmes.
— Senhorita… — se sentiu levemente intimidada pelo olhar atravessado dela.
— Espero mesmo que você permaneça bem longe deles, para o seu bem. — Mais uma vez em tom de ordem, suavizou mais seu olhar ao notar curiosos atentos a elas. — Pessoas como você apenas destroem o futuro de…
A garota Tommaso estava com raiva, não de , mas do jardineiro que havia seduzido sua irmã mais velha e instaurado o caos em sua casa. Não queria descontar na menina, mas sabendo que os irmãos Magnus também tinham uma sutil curiosidade a respeito da filha da empregada, isso já era motivo para deixá-la irritada.
— Sim, senhorita. — Assentiu , algo que ela mais queria.
A pequena Miller sabia que lá no fundo, mesmo sua mãe não admitindo, havia sido alguma família da máfia que tinha matado seu pai e parentes. E o que mais desejava era sumir da mansão Magnus com Lídia, e ser livre bem longe dos olhares que lhe causavam medo. Em instantes, o toque do celular de interrompeu a tensão criada no ambiente, dando a a oportunidade que precisava para se afastar dela e seguir para as escadas onde os amigos curiosos a esperavam.
— Sim — disse ela, ao atender a ligação da irmã mais nova.
— Papai trouxe a Diana de volta e parece que teremos bolo de casamento. — A voz da caçula pingava sarcasmo e deboche.
apenas respirou fundo e encerrou a ligação. Não que ela odiasse a irmã mais nova, porém, Elena era apenas meia-irmã misturada à ideia de ser também sua prima. Um pequeno detalhe que existia na família Tommaso, graças a inveja e persistência de uma irmã ambiciosa, afinal, não era novidade para ninguém o constante interesse de Marcella pelo cunhado. Contudo, após a morte precoce da irmã, era um tanto quanto óbvio que a próxima a ocupar o cargo de esposa seria exatamente ela.
— ?! — A voz de Giorgia a despertou de seu devaneio. — Está tudo bem?
— Sim. — Assentiu a garota, ao notar que a filha da empregada já havia se retirado.
— Você saiu da sala com tanta pressa e ficou trocando palavras com a filhote de criada. — Giorgia a olhou curiosa, tentando entender o assunto que poderia ter rolado entre elas. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, nada que seja importante compartilhar. — respirou fundo, reunindo forças para conseguir levar as horas de aula até o final.
As horas parecem longas quando estamos ansiosos para algo. Não que Tommaso se enfadasse facilmente com as aulas, pelo contrário, assim como os irmãos, ela tinha o dever e obrigação de orgulhar sua família fosse em qualquer lugar. E no Constance não era diferente, a melhor aluna da escola e capitã das cheerleaders, popular e mais influencer que as mais destacadas socialites de toda Itália.
— Quer carona hoje? — perguntou à amiga, enquanto se levantava da cadeira ajeitando sua bolsa.
— Ah, não — recusou Giorgia, mantendo seu material em cima da mesa. — Vou passar na biblioteca antes, preciso devolver alguns livros e tenho aula de reforço em inglês, após o almoço.
— Te vejo na segunda então — informou ela, dando o primeiro passo para se retirar da sala.
— Você não vai na minha festa? — indagou Andreas, enfatizando a pequena recepção que organizava na casa dos pais. — Já não teremos o , você não pode deixar de ir.
— Farei o possível para comparecer, mas sabem que minha família agora está se preparando para o casamento da minha irmã, então… — Ela o fez entender suas prioridades pontuais.
— Ah, é verdade — concordou Giorgia, percebendo a preocupação disfarçada no olhar da amiga. — Seus amigos receberão o convite?
— Mas é claro que sim. — Assentiu a garota, já se adiantando para sair.
seguiu até o portão, onde o motorista já a aguardava para a conduzir até a mansão. No caminho, ela retirou o celular da mochila e mandou uma mensagem para o amigo.
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Já estamos quase na hora do almoço.
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Você não foi à escola, mesmo tendo prova de alemão.
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Eu já sou fluente, não preciso provar nada.
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kkkkkkkkkkkk ainda assim precisa de notas para se formar
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poderia me mandar um áudio
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hum…
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Como pode uma garota de 12 anos parecer mais a minha mãe que minha própria mãe?
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kkkkk
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sabe que quero ser bem mais que isso
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Ela soltou um suspiro profundo, olhando rapidamente para a janela do carro, vendo a vida se passando do lado de fora.
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hmm…
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mas logo estaremos longe deles
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vai mesmo se formar com a gente?
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ensino médio londrino nos aguarda
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me liga, caso precise desabafar
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Um sorriso espontâneo surgiu no rosto dela ao ver alguns emojis sendo enviados por ele. Eram raros os momentos em que se demonstrava descontraído e despreocupado com seus problemas com o pai e, na maioria das vezes, era ela quem mais apoiava o amigo em seus momentos de dor e angústia.
Guardando novamente o aparelho na mochila, logo percebeu a aproximação do carro no portão de entrada do condomínio. Alguns metros depois, finalmente estava descendo do veículo em frente à entrada da mansão Tommaso.
— Voltando à realidade — sussurrou ela, ao subir os poucos degraus da entrada.
Sendo recebida na porta pela empregada, o olhar de passou pela sala, já encontrando seu pai e irmão conversando. Assim como todos os outros chefes de família, Elio Tommaso tinha aquela figura rígida e sombria de um mafioso implacável. Com a ajuda de sua cunhada, Marcella, após o acordo de casamento para que ela cumprisse a promessa de ajudá-lo com sobrinhos, ele pode seguir com a criação dos três filhos, frutos de seu amor por Franci. A mulher que verdadeiramente detinha seu coração e havia sido levada precocemente, vítima de leucemia.
Não era surpresa para a presença do irmão na cidade, já que o primogênito, Marco, estava sendo preparado para se tornar o braço direito do pai nos negócios. Entretanto, o que mais a deixava irritada era a notória demonstração de favoritismos do chefe da família pela pequena Elena, a princesinha caçula da casa, resultado de uma gravidez meticulosamente calculada pela tia, para manter o casamento com o cunhado.
— Bongiorno, papà — disse ela, interrompendo a conversa de ambos, chamando a atenção para ela. — Bongiorno, Marco.
— . — O irmão sorriu de canto, erguendo de leve a taça de vinho em sua mão.
— Chegaste cedo, filha. — Elio a observou se aproximar deles. — Algo de errado na escola?
— Não, eu sempre chego neste horário — respondeu ela, mantendo a suavidade em sua voz. — Apenas não está aqui para receber sua filha todos os dias.
— Direta e sincera como sua mãe — comentou ele, mantendo a seriedade no rosto.
Aquele era o lado que Elio mais admirava em sua filha e ao mesmo tempo mais detestava. Apesar do jeito sereno, delicado e paciente que demonstrava ter, no fundo, seu lado racional a instiga a ser obstinada e empoderada.
— Onde está Diana? — Sem rodeios, ela chegou ao assunto que queria.
— Não deveria se preocupar com ela — reforçou o pai, num tom mais áspero. — Mesmo sua irmã quase levando nosso nome e honra para a lama, ainda teremos uma festa de casamento na próxima semana.
— Onde ela está?! — Insistiu , conhecendo bem o pai que tinha.
Mesmo com seus doze anos, ela já havia visto o pai sendo cruel e abusivo em diversos momentos e, em todos, ela precisou ser forte para conseguir dormir à noite.
— No quarto — respondeu Marco, sentindo a impaciência do pai.
— Por que tanto quer saber? — indagou Elio, analisando as expressões da filha.
— Não posso mais saber sobre minha irmã? — retrucou a jovem, devolvendo a pergunta.
— Claro que pode. — Elio riu baixo. — E aconselho que aprenda com o erro dela, para assim não cometer o mesmo.
— Eu sei dos meus deveres com esta família, papai. — manteve a firmeza em sua voz. — Esteja certo que não haverá desonra de minha parte.
Sem dar direito a uma argumentação do pai, apenas deu o primeiro passo para se retirar e seguiu até as escadas, subindo mais que depressa para o quarto da irmã. Com o coração aflito pelo que poderia ter acontecido para que o pai encontrasse a irmã e mais ainda preocupada com o que viria a acontecer com ela após o casamento arranjado.
— Diana?! — A voz de soou da porta, após o som de dois toques. — Posso entrar?
— Sim. — A voz baixa e falha da jovem teve entonação suficiente para que a irmã ouvisse.
— Você está bem? — indagou a mais nova, ao adentrar o quarto e fechar a porta.
O olhar de permaneceu atento à irmã, notando as olheiras aparentes e a expressão que confirmava as muitas lágrimas derramadas.
— O que você acha?! — Diana reprimiu o soluço pelo choro de toda a noite, e manteve o olhar voltado para a janela. — Eu odeio ser dessa família… Odeio tudo isso.
— Di… — se aproximou mais dela e sentou na beirada da cama, pegando em sua mão para confortá-la. — Você sabia muito bem que algo assim poderia acontecer.
— Eu não sei como ele descobriu… — reclamou ela, suspirando fraco.
— Não deveria ter fugido — disse , sendo a única que aparentemente sabia dos planos da irmã. — Eu disse que era perigoso para você.
— Eu deveria ser dona das minhas próprias escolhas, … — Diana soltou um suspiro cansado e chateado. — Eu tenho vinte anos… Por que eu me sinto mais presa que os empregados desta casa? Até a filha da cozinheira tem mais liberdade que a gente.
— Eu sei que é clichê falar isso, mas, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades — disse a menina, num tom descontraído, fazendo-a rir um pouco.
— Mas não somos heroínas de quadrinhos — retrucou Diana, voltando o olhar marejado para ela. — Eu não quero passar o resto da minha vida ao lado daquele velho rude e grosseiro.
— Você sabe que o papai tinha outros planos para você — argumentou , demonstrando o descuido dela. — Não quero dizer que a culpa foi sua, mas deveria ter sido mais cuidadosa… Você se envolveu com o jardineiro e nem mesmo conseguiu disfarçar… E agora com sua fuga malsucedida.
— Ele me ama e eu o amo. — Diana abaixou o olhar, segurando as lágrimas que insistiam em escorrer pelo rosto. — Não sou como você que sempre foi racional e consegue esconder seus sentimentos…
Um breve silêncio pairou entre elas, que se podia ouvir o som dos pássaros do lado de fora.
— Olha só como estamos aqui, eu sou a mais velha e ainda te peço conselhos — confessou ela a realidade.
— Diana… — a olhou com carinho. — Tem certeza desse sentimento que a fez cometer uma loucura? Você o conhece há apenas cinco meses… E olha o caos que se instaurou em nossa família.
— Eu o amo… Nunca tive tanta certeza em minha vida. — Assegurou a mais velha, com certeza no olhar.
— Eu não sei o que te dizer… — respirou fundo, temendo o peso de suas palavras. — Só peço que não tome mais nenhuma atitude impensada, não é somente a sua vida que está em jogo.
— Eu sei. — Diana forçou um sorriso e a puxou para um abraço. — São três vidas…
— Como assim?! — se afastou de leve, olhando-a confusa por suas palavras.
— Estou grávida — sussurrou Diana, voltando a lacrimejar.
— Di… Se o papai descobre — comentou ela, sem saber o que pensar diante da situação.
Era insano a turbulência de acontecimentos, mas na máfia sempre era assim, não há nada tão ruim que não possa piorar.
— Por isso que concordei que o casamento fosse na próxima semana — disse Diana, certa de que pelo menos o pequeno ser que havia dentro dela iria sobreviver a todo aquele horror. — Se o senhor Mancini achar que o filho é dele, ainda terei uma parte do Pietro comigo.
— Sabe que é arriscado. — não queria trazer nenhum peso para a irmã, mas tinha que, novamente, traze-la para realidade.
— Eu sei, mas estou segura que vai funcionar. — Assegurou Diana, com base nas informações que havia recebido do irmão mais velho.
— Sabe que sempre terá meu apoio, não importa qual decisão tola que tome. — Reforçou a mais nova, voltando a abraçá-la.
— Você é a melhor irmã do mundo — sussurrou Diana ao sorrir com leveza, retribuindo o abraço.
Após o abraço, se levantou e deu um beijo na testa da irmã, com um olhar de conforto, se afastou dela e retornou para a porta, seguindo para seu quarto. Após um banho relaxante, manteve-se vestida com o roupão de banho, enquanto escolhia o que vestir. De repente, o toque do celular lhe chamou a atenção, era uma ligação de .
— Bongiorno — disse ela ao atender, sentindo um sorriso surgir em seu rosto.
—
Já passamos do almoço. — A voz firme dele soou do outro lado, com um toque de suavidade.
— Para mim sempre é dia, já deveria estar acostumado — respondeu ela, rindo com leveza. — Achei que não fosse me ligar, já que está em casa desde ontem.
—
Perdoe-me pelo silêncio — disse ele, tentando se redimir. —
Reunião de família. — Bem, isso não impediu o de me mandar inúmeras mensagens — retrucou ela, em provocação.
—
Meu irmão não possui as mesmas obrigações que eu — explicou ele, em sua defesa.
— Sempre uma desculpa pronta, senhor Magnus. — deu alguns passos para dentro do quarto, se aproximando da cama para se sentar. — Deixarei passar desta vez.
—
O que me diz de um passeio ao ar livre? — Sugeriu ele, em tom de convite. —
Já almoçou? — Ainda não — respondeu, curiosa. — O que eu teria neste passeio?
—
Hum… Digamos que toda a minha atenção — respondeu o rapaz, confiante em sua proposta.
— Ter a atenção de Magnus por um dia? — Ela se viu surpresa.
—
Uma tarde… E com direito a almoço especial. — Acrescentou ele, tornando irrecusável. —
Te dou dez minutos para trocar de roupa. — Onde está? — perguntou ela, se aproximando da janela para conferir sua teoria.
Um som de riso surgiu do outro lado.
— , onde você está?! — perguntou , novamente, tentando encontrá-lo.
—
Não adianta me procurar, não direi, agora volte para dentro e se troque, sabe que sou ciumento, não quero que outros te vejam de toalha — disse ele, ponderando seus risos.
— Abusado. — A garota riu, enquanto retornava para o closet. — Vou desligar e estarei em frente a mansão em dez minutos.
— ?! — Ela tentou repreendê-lo.
—
Se questionar, abaixo para cinco — brincou ele.
soltou uma gargalhada espontânea encerrando a ligação. Sua relação com os irmãos Magnus sempre seria uma loucura para ela, pois assim como eles a preocupavam, também havia os momentos de descontração que a levava aos risos e mais risos.
Suave como manteiga
Como um criminoso disfarçado
Vou explodir como no jogo Trouble
Invadindo seu coração assim.
– Butter / BTS
Continua
Nossa, que família podre essa, por mim pode todo mundo morrer e ir pro inferno. 😠
Ainda não sei o que pensar do Giovanni, mas tendo tudo em consideração, fiquemos com o pé atrás AHHAHA
E digo mais pra ele: se ficar reclamando muito da “filha da empregada” que tocou em você, eu mesma te empurro de volta pra piscina sem o menor remorso 😇
Nossa, a minha mente tá tão no modo “malvado” que eu olhei pra história da Diana e pensei “foi a Clarice que entregou o plano da irmã”, mas espero que não kkkkk
Eu tô sentindo que em algum momento esse plano da Di vai dar merda, porque sempre dá (mas aceito se der tudo certo ou se ela conseguir o felizes para sempre dela HEHEEH) quero ver quando esse povo crescer e for adulto, gzus…