love, money, fame

  — Você não deveria, sei lá, se casar? Sabe, com o tanto de pacto que já fez não precisa se preocupar com mais nada, .

  — Lilith, meu bem — o demônio apenas rolou os olhos, sorrindo com a sugestão da sua rainha —, para que se ter amor quando posso ter tudo o que mais desejo em questão de segundos?

  — A vista do topo é muito solitária, querido. Mas, se isso lhe apetece o bastante e nada mais é necessário, quem sou eu para dar pitacos em sua incrível vida, certo?

  — Seu novo namorado não está te entretendo o suficiente? — perguntou brincalhão.

  — Certeza que quer detalhes da minha vida pessoal? — Lilith se aproximou, segurando o queixo do homem e sussurrando: — Quer cometer o mesmo erro de alguns bons anos atrás?

  — Não está mais aqui quem perguntou, minha rainha. — Um calafrio percorreu o corpo do demônio. As lembranças de Lúcifer contando detalhe por detalhe das aventuras sexuais dele e de Lilith quando estava bêbado o deixou bem traumatizado, e definitivamente não precisava desse tipo de detalhe novamente – mesmo tendo sido quem fez a pergunta.

  — Bom garoto. — Sorriu vitoriosa. — A vista daqui é linda, contudo, solitária demais para ser admirada por apenas uma pessoa… Oh, essa é a minha deixa! Sua cliente favorita está chegando e eu preciso coletar algumas almas já que a Dona Morte decidiu tirar férias.

   não teve tempo de se despedir, visto que, no segundo seguinte, Lilith havia desaparecido da sua vista, o deixando sozinho. Ao olhar para o relógio, reparou que faltavam dois minutos para os ponteiros se unirem e uma excitação invadiu o seu corpo, o fazendo sentir uma mistura de ansiedade com felicidade. O demônio possuía tudo o que desejava, seja da fama ao dinheiro; ele era bastante conhecido nos três mundos, se estabelecendo como uma figura quase que divina, afinal, todos o procuravam para realizarem seus sonhos, e, com um simples aperto de mão, conquistavam os seus objetivos. Ele era um dos mais bem-sucedidos em todo o inferno, e durante toda a sua existência nunca sentiu falta do “amor”, tampouco fazia questão de manter alguma relação; a sua mais duradoura foi com Lúcifer, apesar de saber que não daria certo desde o primeiro momento, já que o rei era apaixonado por apenas duas pessoas e não poderia se importar menos.

  Nunca, em todo esse tempo, pensou que gostaria de compartilhar a sua vida com alguém, principalmente esse alguém sendo uma humana.

  Até que esbarrou com , uma jovem que era a definição de determinação e teimosia.

  Os dois se conheceram nessa mesma montanha – na qual o demônio esperava os seus clientes para fecharem os contratos – e imediatamente disse a que queria se casar com ele. Por breves segundos o homem ficou sem reação, mas logo soltou uma alta gargalhada, impressionado com a audácia da humana. “Como alguém tem a coragem de falar algo assim para mim?”, pensou enquanto a observava, percebendo que a mulher não estava brincando. É claro que ele a recusou, afinal, nunca quis saborear o amor como todos os outros, e o fato de ela ser humana e ter um tempo de vida bem mais curto não ajudava, pois havia visto de perto o seu amigo perder o grande amor da sua vida e o sofrimento que isso causou. não desistiu do seu objetivo e pelo menos uma vez ao mês ia visitar no alto da montanha, e não demorou muito para ambos começarem a criar um vínculo, e quando percebeu, a mulher alugou um grande espaço em seu coração. Apesar do afeto que sentia por ela, ele se mantinha firme na sua decisão, mesmo após descobrir que era filha de um humano com uma vampira e o seu envelhecimento era bem mais lento do que os demais humanos.

   era conhecido por ter um coração de gelo, e não seria agora que perderia uma de suas famas. Ele não permitiria isso.

  — Adivinha quem ganhou mais um caso? — sorriu abertamente, parando em frente ao rapaz.

  — Hum, não sei… o seu concorrente? — se divertia com as reações da mulher, achando todas uma graça.

  — Por favor, ele nem teve chances! — Riu. — E você, algum pacto novo?

  — Alguns. — Voltou a encarar a vista à sua frente. — Mas não é isso que você quer me dizer, .

  — Eu vou desistir de me casar com você, .

  As palavras da mulher ecoaram lentamente na sua mente, o fazendo piscar algumas vezes sem acreditar no que acabara de escutar. Claro que não achava que ela tentaria realizar o seu objetivo pelo resto da sua vida, e se fosse o de um ano atrás estaria agradecendo aos deuses pela desistência, no entanto, algo em seu interior se remexia inquietamente, e o desconforto que sentia com o pensamento de não ter mais a presença de era sufocante. Ele a encarou tentando esconder os seus reais sentimentos, tentando mostrar para si que não precisava do amor que tanto falavam por aí, porém, ao ver os seus olhos vermelhos, ele caiu de joelhos no chão, se dando por vencido.

  , mais do que nunca, queria ter com quem compartilhar a vida. O demônio estava cansado de mentir para si, não tinha um dia sequer desde que conheceu que não pensasse nela.

  — Eu não preciso de mais nada. — Segurou suas mãos com certa urgência ao se levantar, a pegando de surpresa. — Fama e dinheiro de nada valem se eu não tiver você comigo, . Sei que parece loucura, e é algo muito clichê, mas é a verdade. Não consigo pensar em mais ninguém a não ser você e no seu sorriso e, sinceramente, sei que parece que estou querendo te prender por você ter perdido o interesse, contudo, prometo que não é o caso. Eu só não sei como funciona isso, sabe… amor.

  — E quem disse que eu perdi o interesse, bobinho? — A mulher não conseguiu conter a risada, provocando uma confusão no demônio.

  — Não perdeu? — perguntou com certo desespero na voz. — Você disse que ia desistir…

  — De me casar com você, exatamente. A questão é que eu sempre te achei muito bonito, e claro que foi amor à primeira vista, porém, conversando com a minha mãe, ela me fez perceber que eu estava pulando etapas muito importantes, principalmente quando o cara que eu gosto é um demônio com muitos anos pela frente. Eu ia sugerir de a gente marcar um encontro e ver no que dava, mas a sua declaração já responde algumas perguntas minhas.

   nunca se sentiu tão aliviado em toda a sua longa vida, e a sua única reação foi puxar para os seus braços, a envolvendo em um abraço apertado.

  — Nunca pensei que veria o coração de gelo perder a compostura tão rapidamente… — Soltou um risinho anasalado.

  — E a culpa é toda sua. — Se afastaram um pouco, o suficiente para encostarem suas testas.

  — Agora é você que tem que correr atrás de mim, viu? Compensar esses 365 dias que dei em cima de você.

  — Nós temos bastante tempo para compensarmos o que quisermos, . Prometo que farei o possível e o impossível por você. — Sorriu.

  — Nós vamos descobrir o que o amor significa juntos, . Então, não precisa mover montanhas por mim.

  Os dois se entreolharam antes de selarem os lábios, firmando o contrato mais aguardado por ambos: o amor.