II. O novo diamante bruto
Para todas as donzelas em seu ano de debut, impressionar a rainha é a maior de suas preocupações. Sabemos que o mínimo gesto de vossa majestade pode significar o ganho ou a perda de um matrimônio promissor. Nosso exemplo sempre lembrado é de vossa graça, lady Daphne, a duquesa de Hastings. Entretanto, receio que esta história dispensa mais comentários desta singela autora, já que lady Whistledown obteve a oportunidade de vivenciar toda a trama. Fora realmente uma pena que a mesma tenha se revelado, contudo, tal ato abriu-me as portas para que eu me apresentasse a vocês.
Um conselho? Não fiquem afoitos em descobrir quem eu sou, pois nem pelos diamantes da coroa revelaria minha real identidade.
Então voltemos ao foco inicial.
As belas moças que nesta manhã se aprontavam para apresentar-se à vossa majestade, a eterna rainha Charlotte, uma delas, que pertencia à família mais casamenteira de toda Londres, se encontrava em seus aposentos apreciando o belo vestido em seu corpo. Encomendado por sua tia, lady Violet, e confeccionado pela mais talentosa modista do país, mademoiselle Tatou. O toque de suas mãos no tecido de linho em seu corpo a fez suspirar de ansiedade.
Bridgerton levantou o olhar encontrando seu reflexo no espelho. Manteve-se imóvel para que sua criada terminasse o penteado, que lhe fazia nos longos cabelos castanhos claros. O dia que tanto esperava havia chegado e mesmo com o olhar seguro de quem estava preparada para encantar vossa majestade, internamente seu coração se mantinha acelerado e aflito. Cometer o menor deslize diante de toda corte poderia custar a reputação de sua família. E por mais que seus primos tivessem tido casamento afortunados, sabemos que em nossa sociedade, um erro vale muito mais que mil acertos. Essa era a pressão que a doce moça vivia em seus pensamentos. E esta autora que vos conta, adora compartilhar os inúmeros erros da nossa aristocracia.
Um singelo sorriso apareceu no canto de seu rosto assim que sua tia deu dois toques na porta.
— Está pronta, minha querida? — Lady Violet olhou-a com carinho e sorriu de volta.
— Sim, estou pronta. — Ela tomou impulso para se levantar da cadeira e logo sua criada se afastou. — Deseja-me sorte, Judith?
— A senhorita não precisa, já nasceu preparada para isso, lady Bridgerton — disse a criada transmitindo confiança em seu olhar.
— Agradeço o encorajamento. — Seu sorriso ficou um pouco mais largo e aparente, após um profundo suspiro, se dirigiu para a porta.
No hall de entrada da casa, estava o impaciente lorde Bridgerton, conhecido agora por se tornar o novo conde de Whatnot. Devo confessar que a inesperada morte de vossos pais fora um tanto estarrecedora para todos. E devido ao trágico acontecimento, sua mudança de Derbyshire para Londres fora rápida e discreta. Bem, não tão discreta assim, já que houve um anúncio de minha parte dois dias antes de sua chegada.
— Ah, finalmente, , estamos a um passo de nos atrasarmos — reclamou ele ao olhar novamente para o relógio de bolso que sempre mantinha consigo.
— Falando assim, irmão, vou achar que está ansioso para ver suas pretendentes deste ano. — manteve o sorriso ao rosto, com o olhar sereno para ele, sabia que o irmão era impaciente quando o assunto era esperar. — Com sorte e menos exigência de vossa parte, podemos nos casar juntos em uma mesma cerimônia, não seria perfeito?
— Não estou interessado em casamentos este ano, ou melhor, apenas em um, o vosso — retrucou ele, sem se importar com a indireta da irmã. — Me preocupo com o vosso futuro primeiro, depois decidirei sobre mim.
— Se continuar assim, poderá perder a oportunidade de viver um grande amor — retrucou ela, convicta de suas palavras. — Irmão, não deverias continuar apegado às amarguras do passado.
— Não deverias se preocupar com assuntos que não lhe ajudam a encontrar um bom marido — revidou ele.
— Ambos devem se preocupar com vossos futuros. — Lady Violet olhou para sua sobrinha. — Você está bela e sei que impressionará a todos — então olhou para ele —, e você, trate de pensar nas palavras de vossa irmã, todo homem deve ter responsabilidades de também construir uma família e ter herdeiros.
engoliu seco. Por ser assombrado por seu passado, o coração do nobre conde se encontrava fechado a sete chaves, todas perdidas pelas inúmeras viagens que fez em companhia do primo Colin. Esta autora possui uma ponta de curiosidade em descobrir que passado sombrio seria este.
Se relacionado com o coração, será que temos um Bridgerton que sofre de alguma desilusão amorosa? Logo descobrirei!
— Vamos. — Ele engoliu seco e estendeu a mão, para que elas seguissem na frente para a carruagem.
— Vamos. — Assentiu lady Violet, com sua sobrinha mantendo a mão direita pousada em seu braço.
Uma família já estava a caminho da grande apresentação. Então seguimos adiante para um lugar ainda mais divertido e barulhento que as festas privadas de lady Danbury.
A luxuosa casa da família Sollary. Transbordando o resplendor de sua decoração que imitava singularmente os palacetes francesas, esbanjando um carpete vermelho pela entrada como nos palácios reais e grandes lustres de cristais no teto. A história de como o senhor Frederick Sollary passou de um simples marinheiro que trabalhava no porto de Liverpool para um importante e bem-sucedido homem de negócios ainda permanece inexplicada. Sendo sorte ou trabalho duro, o fato é que este senhor agora detinha uma das mais invejáveis fortunas do país.
Entretanto, mesmo com todo esse sucesso financeiro, nem tudo são flores e esta família passava por problemas internos com a repentina doença de sua esposa, a senhora Marie. De raízes francesas e fortes traços africanos, a bela mulher havia lhe presenteado com seis lindas filhas e o pequeno caçula que herdaria sua fortuna. Ao contrário de uma certa Bridgerton que fora esperta o suficiente para colocar nomes em seus filhos em ordem alfabética, após o nascimento da primogênita , os nomes de suas irmãs que seguiram foram de flores apreciadas pelos seus pais.
A segunda mais velha é Rose, tendo somente um ano de diferença entre seu nascimento e de sua irmã e sendo impedida de debutar por seu pai, por considerá-la ainda jovem demais. Em seguida temos a impetuosa Daisy com seus quatorze anos, considerada a artista da família, com seus doces poemas sendo recitados pela casa. Depois, as gêmeas idênticas Lily e Camellia, com doze anos de pura travessura, se aproveitam do benefício para deixar suas outras irmãs malucas e desnorteadas quando trocam de lugar uma com a outra. A mais nova das meninas, de apenas 7 anos, é a pequena e delicada Jasmine, com seu olhar meigo e o apego ao coelho de pelúcia que ganhara da mãe logo ao nascer. E, encerrando a fábrica de filhos, temos Bowlmer, o filho da herança que possuía apenas dois anos de idade.
Talvez pela quantidade de filhos que tivera com sua esposa, contando com os muitos abortos que Marie sofreu ao longo dos anos entre os nascimentos que vingaram, sua saúde foi ficando mais frágil, até que na gravidez do filho caçula, o dr. Green lhe aconselhou a se precaver mais e não engravidar novamente. Devo contar-lhes, caros leitores, que não tem sido fácil para nossa debutante Sollary cuidar de vossos irmãos e ainda se concentrar em ter uma boa imagem diante da corte.
Devemos desejar sorte a ela? — ! — Daisy gritou o nome da irmã, ao se aproximar da escada. — A RAINHA NÃO IRÁ ESPERÁ-LA.
Não que Daisy estivesse irritada com a demora de vossa irmã.
Mas toda a agitação em sua casa devido ao evento, lhe causou um inesperado bloqueio criativo que a deixara nervosa por dias. Se imaginar na mesma situação nos próximos anos, causava-lhe ainda mais surtos internos. Entretanto, não era a única que se sentia em desequilíbrio. Não seria a primeira vez que o pai em questão apresentaria a donzela diante da rainha, mas seria a primeira vez do senhor Sollary diante de toda a corte naquelas circunstâncias. Um peso estava sobre seus ombros, ainda mais por saber que ainda teria mais cinco filhas para encontrar bons maridos.
— Não precisa gritar, Daisy. — apareceu no topo da escadaria, com a cabeça erguida e o olhar de reprovação para a irmã. — Já estamos prontas, papai.
Logo Rose apareceu ao seu lado e juntas desceram os degraus. com sua respiração mais lenta tentando manter-se calma diante de toda a pressão que sentia para não desapontar seus pais e irmãos. Cabelos mais soltos e uma tiara de pérolas, combinada ao vestido de seda amarelo no tom pastel. Já a vossa irmã Rose, com um singelo vestido rosa, também de seda, ostentava as pérolas em seu pescoço. Um mimo do senhor Sollary que tinha o prazer em agradar suas filhas com pequenos presentes em momentos oportunos.
— Ambas estão mais belas do que já são, uma pena que vossa mãe não possa… — O senhor Sollary parou por um momento, reprimindo a angústia em ter a esposa impossibilitada de frequentar os ambientes festivos dos nobres.
Algo que ele mais desejava era apresentar a mulher de sua vida para a sociedade e mostrar a beleza que o conquistou em apenas um sorriso. Um brilho cheio de orgulho surgiu em seu olhar, ao voltá-lo para . A primogênita fora seu braço de apoio nos momentos mais caóticos desta família e, agora, pensar em entregá-la a um homem desconhecido, lhe estremecia internamente. Porém, mesmo com o cuidado extremo de um bom pai zeloso, seu dever de garantir um bom futuro a todas as filhas e ao pequeno herdeiro, vinha em primeiro lugar.
— Então, vamos para o palácio — disse ele, voltando o olhar para a senhorita Moore, a preceptora de seus filhos menores. — Senhorita Moore, cuide bem dos meus filhos, por favor.
— Não se preocupe, senhor, tudo continuará na mais perfeita ordem — garantiu ela.
— Por que não posso ir, papai? — Jasmine se agarrou nas pernas do pai com um olhar tristonho.
— Minha pequena — ele a pegou no colo sem cerimônias e sorriu para ela —, prometo que um dia a levarei comigo, mas enquanto não puder ir, fique e ajude a senhorita Moore a cuidar de vosso irmão. Combinado?
— Combinado! — Assentiu ela, abrindo um sorriso largo para o pai.
Ele a colocou de volta ao chão e assentiu com o olhar para a senhorita Moore levá-la para seus aposentos.
— Estou curiosa para saber como é o palácio da rainha — comentou Lily, sentindo seu coração pulsar mais forte.
— Eu entro primeiro na carruagem! — disse Camellia, ao sair na frente a passos apressados.
— Assim não vale! — Lily reclamou começando a correr atrás da irmã.
— Ei, as duas, parem com isso — repreendeu-as .
— Deixa-as, querida, só estão se divertindo — disse o senhor Sollary, segurando o riso ao observar a empolgação das filhas.
— Elas podem acabar se machucando com essas brincadeiras — retrucou .
— Ainda se preocupa com elas, irmã? — Rose riu de leve. — Deverias se preocupar com sigo mesmo, hoje é vosso dia de ser conhecida por todos. Será que Lady Lewis falará de nossa família amanhã?
— Não dizendo palavras constrangedoras como da última vez, já me darei por satisfeita — retrucou . — Seu ato de indagar nosso pai sobre a nossa fortuna foi deselegante.
— Não me importo com suas perguntas impertinentes, minha querida, nada que ela disser mudará o fato de eu ser um dos homens mais ricos de toda Londres. — A voz do senhor Sollary ficou um pouco mais firme e assertiva.
Algo que transmitiu à vossa filha a segurança que necessita para enfrentar a corte. Todos acomodados nas duas carruagens da família, seguiram para o palácio real. As duas filhas mais velhas acompanhadas pelo pai na primeira, e as outras três na segunda. Claro que estar na companhia das gêmeas bagunceiras não era lá a preferência de Daisy, que encontrava em seus pequenos livretos de poesia o escape das loucuras de ser uma Sollary.
E que rufem os tambores, meus leitores…
Pois a temporada de casamentos se inicia com todas as carruagens sendo estacionadas na grande entrada do jardim frontal do palácio. As flores da primavera perfumavam todo o lugar que aos poucos fora ficando bastante movimentado pelos nobres de Londres. Todos os convidados se reuniram no salão real e, ao sinal de vossa majestade, as apresentações deram início.
E aqui vamos nós para mais uma longa fila de donzelas a se curvar para a rainha na esperança de um pequeno elogio, ou até mesmo um sorriso, talvez. Confesso que se eu estivesse na pele dessas moças, estaria mais do que nervosa.
— Senhorita Freya Whitehall, apresentada por sua madrinha, a honorável lady Featherington — soou a voz do cavalheiro, que segurava com cuidado os pequenos papéis em sua mão.
Logo que as portas se abriram, a face de uma senhorita assustada se colocou diante de todos. Seus passos eram um tanto quanto pesados e trêmulos, sendo seguida por sua madrinha que forçava um sorriso no rosto. Se era sorte ou destino suas filhas terem encontrado bons maridos, eu não posso afirmar, mas que a honra fora mantida, isso eu concordo. Ainda mais por nossa Penélope agora desposada por Colin Bridgerton.
Enfim, neste momento apenas um olhar é o mais importante. E sabemos o quanto vossa majestade tem sido ainda mais criteriosa ao longo dos anos. Se na última temporada não obtivemos sucesso em encontrar o novo diamante raro, ando lutando contra meu lado racional para manter as esperanças nesta primavera. Assim que o olhar desinteressado da rainha se voltou para a janela, a jovem que mal conseguiu reverenciá-la se afastou juntamente com lady Featherington.
— Senhorita Bridgerton, apresentada pela tia, a muito honorável viúva, viscondessa Bridgerton — mais uma vez o cavalheiro proclamou.
Ao abrir as portas, todos os olhares curiosos já se direcionaram para a dama que, com suavidade e delicadeza, adentrava o lugar com um sorriso singelo no rosto. realmente havia nascido para aquele momento, ser o destaque das atenções e apreciada por todos. Assim que se colocou diante da rainha, lentamente fez a sua reverência, mantendo o olhar abaixado e a respiração controlada. Uma movimentação de vossa majestade causou inquietação em todos. Assim que a rainha Charlotte se levantou de seu trono e se aproximou dela, sentiu seu coração acelerar.
— Impecável, como era de se esperar. — As palavras da rainha alegraram aquele coração aflito.
— Eu realmente ouvi isso? — sussurrou ela, para sua tia ao reverenciar novamente.
— Sim, minha querida, continue sorrindo, os olhares estão em você — respondeu lady Violet, orgulhosa de sua sobrinha.
Acredite, vossa majestade, esta autora aqui também não esperava menos que a perfeição desta família. Porém, pelo que entendi, ainda não encontramos o nosso diamante e ainda faltam muitas donzelas a serem apresentadas. Apesar de surpresa pelo que ouvira, se sentia ainda mais honrada por cada palavra. Algo que significava um futuro trabalho ao irmão, afinal, sua irmã agora estava em foco.
— Apresentando mais uma vez, a senhorita Bourbon — anunciou o cavalheiro — sendo apresentada pelo pai, o honorável viúvo, conde Bourbon.
Todos já sabiam o que apareceria ao abrir as portas. O primeiro passo de foi tão silencioso que até pôde-se ouvir a reação de surpresa de vossa majestade. O mesmo vestido da temporada passada não fora o causador, mas sim a bela jovem que se apresentava com ele.
Será que lorde Bourbon tinha uma filha gêmea escondida e esqueceram de trocar os nomes no anúncio? Se não, a estadia na casa de campo ao norte da Escócia havia-lhe feito muito bem. Principalmente por estar aos cuidados de sua excêntrica tia Poppy. Assim que a jovem se curvou diante da corte, sentiu um pulsar mais forte de seu coração, assim como suas mãos que seguiam trêmulas. Desapontar vosso pai pela terceira vez não era algo que deveria acontecer.
— Impressionante — disse vossa majestade, mantendo-se assentada, porém deixando escapar um sorriso leve de satisfação.
Até mesmo as sardas em seu rosto se tornaram um charme, além dos chamativos cabelos ruivos que eram a marca registrada desta família. Agora sim a senhorita Bourbon finalmente se parecia com a falecida mãe. Talvez ainda haja esperança para esta bela fênix que ressurgiu das cinzas. Não é o diamante que eu busco nesta temporada, mas tão brilhante quanto.
— Apresentando, a senhorita Sollary, acompanhada pelo pai, o honorável senhor Frederick Sollary.
A voz do cavalheiro soou mais uma vez, atraindo a atenção de todos os curiosos para conhecer a filha mais velha do burguês. Assim que abriram as portas, o olhar admirado de vossa majestade se fixou na bela jovem que adentrou o lugar a passos sutis e seguros. O brilho de sua pele negra atraiu ainda mais os olhares de alguns nobres solteiros, assim como a delicadeza de seu sorriso que herdara da mãe. Ao se curvar em reverência à vossa majestade, manteve também o olhar abaixado. Mais uma vez a rainha Charlotte se levantou de seu trono e deu poucos passos até ela, tocando em seu rosto, a fez se levantar.
Um olhar orgulhoso e um sorriso no canto do rosto, foram o suficiente para mostrar o quanto a burguesa havia lhe chamado a atenção. Após receber um leve beijo na testa, reverenciou novamente e se afastou com seu pai, seguindo para onde suas irmãs estavam.
E eis aí, meus caros leitores, o diamante bruto que eu e a coroa tanto procurávamos.
Lady Lewis
Você brilhou radiante em um curto período de tempo
Como um relâmpago
Você iluminou o mundo por um instante.
– Thunder / EXO
III. O baile de lady Danbury
E chegamos ao momento mais aguardado por toda a aristocracia: O baile de abertura da temporada na Casa Danbury. Há quem diga que este evento consegue ser ainda mais desejado que uma tarde de chá no solário de vossa majestade. Tenho que confessar que nossa rainha Charlotte já teve seus dias de glória ao oferecer grandes bailes para corte. Será que a futura esposa do príncipe regente será treinada adequadamente para tal posição? Afinal, ninguém vive para sempre.
Uma noite memorável em que todas as jovens debutantes poderão demonstrar sua beleza e charme. Nobres, inocentes e esperançosas, todas treinadas desde o nascimento para viver este momento. O que me atiça a curiosidade de quais donzelas receberão convites para uma dança e, quem sabe, uma possível corte no dia seguinte. Então me voltou para as três pedras preciosas que me chamou atenção na apresentação de vossa majestade.
Contudo, antes de atentarmos a cada uma delas, seguimos para os nobres cavalheiros que também compõem nossa história. O primeiro deles é o silencioso duque de Whosis, vossa graça, Tenebrae. Mais sério que o habitual, chegara acompanhado de seu amigo, Robert Magnus, o ilustre marquês de Hamilton. Ambos solitários em suas vidas amorosas e atentos às belas donzelas que já integravam o grande salão da Casa Danbury.
— Aqui está o filho do meu melhor amigo — disse lord Bourbon ao se aproximar dos cavalheiros, se referindo ao marquês.
— Lord Bourbon, que surpresa vê-lo aqui. — Robert disfarçou o desconforto pela aproximação do homem. — Soube que estava em sua casa de campo na Escócia.
O marquês tentou agir com naturalidade, pois sabia da fatídica situação financeira do homem. Lord Bourbon, por sua vez, engoliu seco ao se lembrar que tal propriedade não lhe pertencia mais, e sim ao marido burguês de sua irmã, a quem devia mais do que os vestidos usados por sua filha.
— Me ausentei rapidamente para buscar minha filha. — Lord Bourbon apontou discretamente para , que estava com sua tia do outro lado da sala, conversando com lady Danbury.
— Estou impressionado com a beleza revelada de vossa filha — comentou o marquês. — O que acha, Whosis?
— Vossa graça, duque de Whosis. — Lord Bourbon se mostrou sem graça por não o cumprimentar de início. — Perdoe-me por minha indelicadeza, e meus sentimentos por vossa perda.
— Está tudo bem, lord Bourbon. — manteve-se sério no olhar. — Se me derem licença, cavalheiros, preciso tomar um ar.
Mais do que um ar, nosso duque queria apenas se afastar de todo aquele ambiente que lhe trazia lembranças de sua falecida. Vossa história com lady Margareth era de brilhar os olhos de qualquer pessoa, ambos se conheceram na infância. Cortejaram-se ao construir uma amizade sólida durante longos anos, até que a jovem finalmente chegou à idade do casamento. Este sim fora o relacionamento mais aguardado e desejado por ambas as famílias. Entretanto, o fatal incêndio acidental foi de partir o coração. E agora? Temos um homem frio e solitário que se convenceu em casar-se novamente para apenas obter um herdeiro e levar adiante a linhagem da família.
— Hum… Acho que o jardim já está ocupado. — A voz de príncipe soou próximo ao canteiro de margaridas. — Whosis.
— Vossa alteza. — fez uma breve reverência com a cabeça. — Não deverias estar à vista dos guardas reais?
— Ah. — se espreguiçou de leve e sorriu de canto. — Ando fugindo destes inconvenientes… Não é fácil ser um príncipe!
moveu seu olhar para o rapaz a sua frente. Foram muitas as vezes que abrigara o amigo em seu castelo, para que não fosse castigado por sua mãe.
— Mas e quanto a vós? — o olhou curioso. — Soube que procuras uma nova esposa, aqui no jardim não encontrará nenhuma.
— É apenas o primeiro baile, ainda tenho tempo para encontrar alguma dama que sirva ao propósito — respondeu ele, voltando o olhar para o horizonte. — E vós? Acredito que não seja somente dos guardas que está fugindo.
— Ah não, não mesmo. — riu. — Mães… Conseguem ser piores que os guardas, isso eu lhe garanto. Não aguento mais ser parado a cada dois passos por uma mãe que deseja ter sua filha transformada em uma princesa.
— Agradeça à vossa majestade por isso. — segurou o riso.
Mas das poucas vezes que se divertia, era graças aos infortúnios de e as loucas histórias de Magnus.
— Ahh. — bufou de leve. — O anúncio da rainha sobre meu casamento nesta temporada tem me deixado com insônia, agora preciso pensar em algum plano para me livrar disso.
— Que tal não se envolver mais com escândalos? — o olhou. — Para um príncipe, deverias ser mais prudente com seus atos.
— Vai mesmo me dar sermão? És meu amigo ou meu pai? — lhe lançou um olhar desconfiado.
— Sou vosso amigo, o vi nascer e crescemos juntos, mas quase lançou uma guerra entre reinos por se envolver com uma senhora casada. — O duque o chamou à razão de sua travessura mais perigosa até o momento.
— Vossa majestade tem mais 13 filhos, por que preciso seguir a tradição? — se mostrou frustrado. — Às vezes não queria ser um príncipe.
— Tente negociar com vossa majestade, talvez um acordo — sugeriu .
— E que tipo de acordo poderia ser? — indagou ele, interessado nas palavras do amigo.
— Não me vem à mente, mas vossa alteza é inteligente e sagaz para pensar em algo — completou , afastando-se dele e seguindo mais adentro no jardim.
ficou pensativo por um tempo, então retornou para o salão. Precisava enfrentar as mães e mostrar aos guardas reais que estava se comportando, como manda o figurino. Bem, meus caros leitores, se nada der certo para a maioria das donzelas nesta temporada, sabemos que pelo menos um casamento há de acontecer.
— Por favor, , apenas estou a te pedir que sejais menos exigente. — manteve o controle do tom de sua voz, irritada por vosso irmão rejeitar o quinto nobre que se aproxima dela. — Assim não somente vós, como também eu ficarei solteira nesta temporada.
— Não estou sendo exigente, , só me preocupo com o vosso futuro. — a olhou com zelo. — És minha irmã preciosa e quero que faças o melhor dos casamentos.
— Estou impressionada em como se parece com Anthony — comentou lady Violet. — Confesso que és mais responsável que ele, quando Daphne fez sua apresentação, mas em termos de exigência, está no mesmo nível.
Mesmo com todos os olhares para nossa preciosa Bridgerton, a mesma continuou parada ao lado de vosso irmão desde que chegara ao baile. Frustrante para ela e um alívio para ele. No entanto, toda a resistência por parte dele só aumentava ainda mais o interesse dos cavalheiros presentes.
— Estive com Anthony há alguns dias e conversamos bastante sobre os nobres que provavelmente estariam aqui. — compartilhou com elas o motivo de sua resistência a permitir a aproximação dos cavalheiros.
— Não acredito — lady Violet sussurrou desacreditada por estar vivendo a mesma cena com seus sobrinhos.
— Preciso me refrescar um pouco, poderia pegar limonada para mim? — pediu dando um sorriso suave e forçado.
— Claro, irmã, me espere aqui. — Assentiu ele, se afastando.
— Vou fingir que não estou te vendo se afastar de mim, e irei conversar com lady Danbury — disse lady Violet, dando um sorriso encorajador à sobrinha.
— Agradeço pela ajuda, minha tia. — se afastou dela, mais do que depressa e se misturou entre os nobres do lugar.
A jovem estava realmente sentindo-se sufocada pelo irmão e precisava, por si mesma, fazer uma pesquisa de campo. sonhava em casar-se por amor, ou algo próximo a isso, assim como seus pais e tios. E mesmo que achasse improvável uma pessoa se apaixonar verdadeiramente por outra em apenas uma estação, ela tinha em seu coração a certeza de encontrar o amor naquele lugar.
O que de fato, poderia acontecer.
se afastou mais do que o necessário. O que a levou acidentalmente a esbarrar em vossa graça, o duque de Whosis.
— Perdoe-me, vossa graça — disse ela ao senti-lo ampará-la com a mão direita.
— Está tudo bem — disse ele, dando um passo para se afastar dela. — A senhorita se machucou?
— Não, eu estou bem. — levantou seu olhar para ele. — Agradeço a preocupação, vossa graça.
Dentro de seu coração, ansiava sentir algo, porém, nem mesmo uma simples brisa passou por seu corpo. Das poucas histórias que vossa mãe contara sobre a primeira vez que viu o pai, sempre fantasiava o momento, mostrando que a primeira troca de olhares de um casal era a chave para os sentimentos dos mesmos. sabia quem era o homem à sua frente, e não se imaginava casando com alguém apenas para lhe dar filhos. Talvez, seja exatamente por isso que não sentira a mágica que tanto esperava.
— Whosis, estava à vossa procura. — O marquês se aproximou deles, movendo seu olhar para ela. — Senhorita Bridgerton.
— Lord Magnus. — fez uma breve reverência e se afastou deles.
— Meu amigo, está a se inclinar para a Bridgerton? Seguirá os passos do vosso primo Hastings? — brincou Robert rindo baixo. — Tens meu apoio, viu como ela se apresentou diante da rainha.
— Não, não a estava cortejando. — voltou seu olhar em direção aos casais que dançavam no centro do salão.
— Tem certeza… Impecável foi a palavra que vossa majestade utilizou — enfatizou Magnus. — E estou a me impressionar com sua beleza visto de perto.
— Não será ela — garantiu .
— E está considerando alguma? — retrucou Robert, rindo baixo. — Meu amigo, não podes continuar mantendo vosso luto e mentindo para si mesmo que fará um novo casamento.
— Fique tranquilo, me casarei nesta temporada. — manteve o olhar fixo em algum lugar que lhe mantinha longe das memórias de vossa falecida.
Magnus suspirou fraco. Ele sabia que vossa graça ainda não havia deixado o luto, entretanto, a vida continuava e como um bom amigo, Robert tinha a incumbência de encorajá-lo a seguir em frente.
Mas será que um novo amor consegue se sobrepor ao forte amor do passado? Estou começando a considerar em dar minhas condolências à triste dama que for desposada por vossa graça.
— Não vai acreditar… Mas tenho por mim que lord Bourbon quer me empurrar vossa filha — comentou o marquês. — Devo admitir que este ano ela está realmente mudada, a própria rainha enfatizou isso, mas não quero me associar a uma família em decadência.
— Está à procura de uma esposa por seu dote? — perguntou , intrigado com as palavras do amigo.
— Não que minha família esteja com problemas, mas ter um sogro com dívidas não é uma sábia decisão — explicou Magnus, dando uma risada rápida. — Mas agora, olhando para o senhor Sollary, estou curioso para saber quem será o felizardo a se casar com vossa filha; além de bela, temos um dote de 200 mil libras.
Sendo por amor ou apenas por interesses financeiros e sociais, sabemos que o segredo para se obter um bom casamento é saber escolher. Há quem diga que se casar com um amigo é a chave para um relacionamento de paz e prosperidade, outros, consideram o ditado que os opostos se atraem. Contudo, meus caros leitores, sabemos que o coração é um campo minado, afinal, nem sempre a primeira impressão é a que vale.
E talvez o amor possa ser encontrado da forma mais desastrosa possível.
Ainda relutante em deixar a irmã só, caminhou pelo grande salão até ser parado por lady Featherington, acompanhada de sua afilhada, Freya Wintehall.
— Lord Bridgerton — disse lady Featherington, com um sorriso no rosto. — Que prazer vossa presença aqui. Deixe-me apresentar minha afilhada, Freya Wintehall, seu pai é um militar, sir Wintehall, deve conhecer.
— Boa noite milady, boa noite senhorita. — se esforçou para ser educado e cordial.
Mas no fundo só desejava ser resgatado dali. Ter que fingir dar atenção à senhora a sua frente e à jovem que mais parecia estar com medo de tudo e de todos, o deixava em agonia. E foram longos minutos até que lady Featherington encontrou no marquês Magnus uma oportunidade melhor para apresentar sua afilhada. Um alívio para lord Bridgerton que não sabia mais o que pensar sobre as inúmeras qualidades falsas que a lady inventara para deixar a jovem mais atraente. Finalmente, ele se aproximou da mesa de bebidas, não percebendo que alguém estava ali também.
— Por que essas temporadas me deixam tão irritado — sussurrou para si, enquanto pegava o copo de cristal com limonada para a irmã.
— Disse algo? — Uma voz feminina soou bem próximo.
Assim que se virou para responder quem quer que fosse, um desequilíbrio de sua parte com sua mão trombando no braço da jovem, derrubando em vosso vestido o líquido do copo.
— Perdoe-me, senhorita — disse ele, ainda surpreso com o que causara.
— Está tudo bem. — A voz dela permaneceu suave e baixa.
— Aqui, pegue, por favor. — esticou seu lenço para que ela se secasse.
— Agradeço, senhor. — A jovem pegou o lenço e tentou secar parte do vestido que estava molhado.
— Oh céus, o que houve aqui? — se aproximou deles, olhando o vestido da jovem. — Irmão, presumo que minha limonada esteja… Senhorita, desejas ajuda?
— Temo que este vestido não veja mais nenhuma festa — brincou a jovem, rindo do ocorrido.
se pegou intrigado pela reação da moça, e admirado com o sorriso que ela dera. A mesma que permanecera o tempo todo com a cabeça abaixada, levantou o olhar até ele, que finalmente pôde ver seu rosto.
— Me lembro do vosso rosto, senhorita Sollary, não é? — perguntou , vasculhando em seus pensamentos a face de todas as jovens que viu na apresentação da rainha.
— Sim, Sollary — afirmou a jovem burguesa, mantendo o olhar em .
— , querida, está tudo bem? — O senhor Sollary se aproximou deles, voltando o olhar para o vestido molhado da filha. — Oh, céus, o que houve aqui?
— Apenas um acidente, papai, nada mais do que isso — respondeu . — Podemos ir para casa?
— Claro, minha querida. — O senhor Sollary olhou de forma séria e intimidadora para . — Lord Bridgerton, com sua licença.
— À vontade e, mais uma vez, perdoe-me pelo infortúnio causado, senhorita Sollary. — se sentiu estranho pela forma com que o senhor Sollary o olhou.
— Sem problemas. — fez uma breve reverência juntamente com o pai.
Assim que pai e filha se afastaram. Seu olhar voltou-se para a irmã, que mantinha um sorriso escondido no canto do rosto.
— Por que me olhas assim, irmã? — perguntou .
— Porque estou por demasiado ansiosa pelo dia de amanhã — respondeu ela.
não estava assim por si mesma, ela estava ansiosa por seu irmão. Após anos vendo seu irmão rejeitar fortes candidatas e nunca esboçar nenhuma reação diante de alguma dama, dentro de sua mente fértil e observadora, havia reparado na forma que reagiu ao sorriso de . Juntando isso à uma pequena ajuda de sua parte, sabia que poderia causar distrações a ele, para que enfim pudesse escolher seu futuro marido em paz.
Longe dali e se escondendo do próprio pai, Bourbon apenas almejava encontrar um lugar silencioso para finalmente respirar com tranquilidade. Sentindo um peso em suas costas e vendo o pai a oferecer como um objeto para os nobres de vosso círculo de amizades. A jovem apenas ambicionava não mais desonrar vosso pai por não estar casada. Mas também desejava ser feliz em seu futuro, tendo um bom marido.
— Finalmente silêncio — sussurrou ela, ao adentrar a grande biblioteca da casa.
Ela deu alguns passos até o vitral da janela e respirou fundo. Seu coração pesado pelas circunstâncias da vida, a deixava triste de tempos em tempos, algo que era escondido apenas por seu sorriso meigo e gentil. Adentrando mais o lugar, deslizou seus dedos pelos livros de uma estante, até que ouvi barulhos vindos da porta. O medo de ser pega invadindo cômodos da casa da anfitriã, a fez se esconder. Porém, do ângulo em que estava, seus olhos conseguiram, com clareza e perfeição, avistar os pecadores que profanavam a biblioteca de lady Danbury.
Poderiam dizer:
Inacreditável. Claro, se um dos envolvidos em questão não fosse o príncipe em pessoa. Mas o nosso libertino favorito estava aquecendo ainda mais sua noite no corpo de uma criada desconhecida. Me pergunto como ele havia escapado mais uma vez dos olhares dos guardas reais. Mais ainda, dos olhares da nossa querida anfitriã. fechou os olhos e se encolheu ainda mais, pedindo aos céus para que as contravenções alheias não lhe manchassem a reputação.
Foram longos e sussurrantes minutos, até que alguns passos foram ouvidos do corredor e, de imediato, se afastou da criada. Eles esperavam alguns instantes, então ela saiu primeiro. Antes que vossa alteza pudesse se retirar, adentrou o lugar com seu olhar sério e repreensivo ao amigo.
— Não me olhe assim, Whosis, é mais forte do que eu. — levantou as mãos em rendição.
— Saiba que a moça possui honra, tanto quanto as nobres do salão, deverias ser mais respeitoso. — manteve o tom sério.
— Eu sou meu amigo, desta vez, juro que estava me comportando muito bem em meu canto — retrucou . — Deverias ser mais flexível e menos enfadonho, podes ser cinco anos mais velho do que eu, mais não precisa ser assim.
— Sem graça — respondeu ele. — Está decidido, vou te levar para se divertir amanhã.
— Considerando a vossa forma de diversão, temo pela minha integridade agora. — foi sério em suas palavras, porém arrancou risadas do príncipe.
— Estou apenas o convocando para assistir a uma luta. — ajeitou as vestes em seu corpo. — Nos vemos amanhã… E, a propósito, a donzela não era mais tão pura quanto deveria.
Assim que se retirou da biblioteca. permaneceu por mais alguns minutos com suas memórias do primeiro baile de lady Danbury que participou após seu casamento. Riu de leve ao lembrar-se da anfitriã perguntando sobre os herdeiros do casal. Em meio à nostalgia pessoal, sua atenção fora despertada por um barulho vindo dos fundos. Se movendo silenciosamente na direção, paralisou ao se deparar com caída ao chão. A pobre senhorita, tentando erguer o corpo, acabara tropeçando e caindo por definitivo.
— A senhorita está bem? — se moveu para ajudá-la a se levantar, porém parou no caminho. — Permita-me ajudá-la.
— Sim, vossa graça — assentiu ela, com o olhar assustado e temeroso.
a amparou com cuidado, ajudando-a a se erguer.
— Está machucada? — perguntou ele, novamente, ao ver gotículas de sangue no chão.
— Acho que minha perna… — olhou para baixo, vendo uma mancha de sangue no vestido.
— Permita-me examinar? — perguntou ele novamente.
Ela assentiu com a cabeça. Assim, se abaixou e elevou um pouco as camadas de seu vestido. Um rasgo havia sido causado em sua perna, o que explicava o sangue.
— Devemos retratar a vosso pai — disse o duque preocupando-se com a moça.
— Vossa graça, por favor, não diga nada a meu pai, eu lhe imploro. — Ela o olhou ainda mais temerosa. — Se ele souber que estive aqui e sozinha nas devidas circunstâncias, estarei perdida.
Sempre há um momento na vida em que nos deparamos com as escolhas a serem feitas. Há quem diga que somos livres para fazermos nossas escolhas, entretanto, somos também prisioneiros de suas consequências. já havia lido em meu jornal sobre a lastimável situação de lord Bourbon. Mais ainda, vossa graça também sabia sobre as duas temporadas de fracasso na vida da doce .
Agora cabia a ele fazer sua escolha: o que é o certo a ser feito, ou o que é o necessário a se fazer.
E quanto a vós, estimados leitores, já se encontraram nesta mesma situação?
Eu confesso que estou curiosa para saber o que acontecerá a seguir.
Lady Lewis
Em meio a uma tempestade posso tropeçar
Nessa luta precária para o amor, mesmo com medo devemos acabar com a tempestade
Temos que começar de novo
Você não está sozinha, e nem eu solitário novamente
Eu tenho você.
– Destiny (Korean ver.) / Super Junior
IV. Entre planos e acordos
No amor e na guerra tudo é válido…
Esta é uma frase de efeito que ouvi recentemente. Contudo, será que as mesmas estratégias de batalha valem para a conquista de um casamento perfeito? Sabemos que a melhor defesa é o ataque, e no que depender das mães vorazes em ter um príncipe como genro; o que vossa alteza mais terá são opções para escolher.
E caros leitores, no baile da casa Danbury tem acontecido muitos encontros e desencontros que me rendem mais do que apenas relatos. E nossa noite ainda não terminou, pois, na biblioteca, duas pessoas ainda viviam uma incógnita em suas vidas. Vossa graça, o duque de Whosis, se mantinha com o olhar preocupado para a perna ensanguentada de , que se mantinha com o olhar abaixado e o coração acelerado.
— Não posso deixá-la assim, senhorita, devemos cuidar desse ferimento. — retirou um lenço de seu bolso e amarrou na perna da moça, na altura do ferimento.
Em um piscar de olhos a porta se abriu, causando-lhes um frio na barriga. O rosto de lady Danbury se revelou a eles, com um olhar curioso e espantado. deu um pulo, erguendo seu corpo. continuou sentada ao chão, sentindo sua perna latejar em dores, por dentro, o pavor em ser exposta pelo acidente lhe consumia por inteiro.
— Lady Danbury, devo explicar-lhe a situação — iniciou vossa graça mantendo a firmeza.
— Não me deves explicação, vossa graça, conheço-o muito bem desde que veio ao mundo e sei o quão honrado és, e, considerando o estado da senhorita Sollary, vejo que um acidente ocorreu em minha biblioteca. — Lady Danbury manteve a serenidade no rosto com um sorriso de canto intrigante, voltando o olhar para a perna da garota. — Eu aconselho a vossa graça se retirar e esquecer o ocorrido, deixe que sua anfitriã se responsabilize a partir de agora.
— Lady Danbury?! — O olhar dele ficou confuso.
— Devo pedir novamente? — Ela deixou o olhar mais sério para ele.
Assim, sem relutar, assentiu e se retirou do recinto.
— Lady Danbury… — A voz de falhou um pouco.
— Não precisa se explicar, minha querida, fatalidades acontecem e não é a primeira jovem que encontro em uma situação comprometedora. — Ela deu alguns passos se aproximando. — Mas como conheço muito bem vossa graça, sei que não devo me preocupar com o ocorrido.
— Agradeço, senhora. — abaixou o olhar mais uma vez.
— Fique onde está, chamarei uma criada para lhe ajudar e pedirei ao dr. Green que lhe examine.
Sim, lady Danbury, não deves se preocupar com o ocorrido, sabemos que vossa graça é um gentleman, comparado ao príncipe libertino que quase profanou o solo de sua biblioteca. Assim, nossa anfitriã chamou uma das criadas para amparar a jovem Sollary e levá-la a um dos quartos de hóspedes. Em instantes o doutor adentrou o ambiente acompanhado de lorde Bourbon, com o olhar surpreso pelo estado da filha.
— Lady Danbury, meus sinceros agradecimentos pelo socorro prestado à minha filha e as mais singelas desculpas pelo transtorno causado. — Lorde Bourbon manteve-se próximo à anfitriã.
— Não se preocupe lorde Bourbon, acidentes acontecem e o que importa é que não se feriu gravemente e está bem agora, os deixarei à vontade, ainda tenho um baile acontecendo em minha casa. — A astuta lady se afastou dele, mantendo-se apoiada em sua bengala e se retirou do quarto.
Ao finalizar o curativo na perna da jovem, o doutor lhe receitou um frasco para suas dores latentes. Com a retirada do homem, lorde Bourbon se aproximou de vossa filha e sentou na beirada da cama. O olhar preocupado deu lugar para a ternura e compreensão, dentro de si, o aflito pai sabia que a vossa adorável filha se sentia pressionada a não o desapontar novamente.
— Minha querida, estavas a esconder-se novamente? — perguntou ele, ao segurar a mão da filha.
— Senti-me um tanto quanto envergonhada dos olhares de todos para mim, sei dos comentários sobre nossa situação e que nenhum nobre irá se interessar por mim levando em consideração meu dote. — Ela deixou sua voz mais baixa e suave, tinha traços de frustração.
— Não se sinta assim, minha querida, a culpa é toda minha, contudo, não deixarei que carregue este fardo, lhe farei o melhor dos casamentos nem que isso me custe a vida, terá um bom marido — jurou ele com um tom emocionado, segurando seus sentimentos de culpa.
— Obrigada, meu pai. — sorriu de leve para ele.
Logo seu olhar se voltou discretamente para a porta, que estava entreaberta. Foi por alguns segundos, mas a jovem Bourbon conseguiu ver nitidamente o rosto de Tenebrae a lhe observar em silêncio do lado de fora do quarto.
Será que vossa graça estava mesmo preocupado com a doce donzela? Ou haveria outro interesse em questão? Enfim, logo saberemos, pois nada fica em oculto de Lady Lewis.
Ainda no salão, na companhia de vossa tia, sugeriu partirem para casa. Confesso que me surpreendeu o vosso olhar constante na senhorita , quando vosso pai se aproximou de lady Danbury para agradecer o convite e se retirar do baile. Mais ainda nossa preciosa que em sua mente, seus planos de conquista e casamento para o irmão lhe fervia a criatividade. Ela não se importava em ter na família uma donzela sem títulos, apenas desejava dar uma força ao destino que resolveu apresentar alguém que despertou um olhar mais profundo no conde de Whatnot.
— Devemos ir então — disse , num tom impaciente — já que a única coisa que pude fazer neste baile foi beber uma limonada, ou melhor, nem isso, já que meu irmão a derramou no vestido de alguém.
— Não foi algo proposital, irmã e sabes disso. — Ele bufou de leve e a olhou. — Vamos, o fato de não ter dançado com ninguém só aumentará o desejo dos nobres em conhecê-la melhor.
— Vossa alteza, não o havia visto aqui — comentou lady Violet intrigada pela presença do príncipe.
— Este é um que pretendo manter bem distante de vós, — comentou , ao sentir sua irmã apoiar a mão direita em seu braço.
— Não precisas se preocupar, irmão, se há uma coisa da qual não ambiciono, é casar-me com um libertino — assegurou ela, com firmeza. — Sei que há casos de recuperação em nossa família, mas considerando os casos da realeza, não acho que vossa alteza tenha salvação, então…
— Sinto-me aliviado por vossas palavras, irmã. — abriu um sorriso singelo de satisfação.
Estava mais do que surpreso pelas palavras da irmã. E não somente ele, como eu também. Nossa impecável desejava sim fazer um bom casamento como vossa prima Daphne, e já se dava por satisfeita em casar-se com um duque também, ou talvez um marquês. Para vosso irmão, era um alívio saber que a Bridgerton caçula não se deixara levar pela ambição de ser uma princesa.
Se a noite havia terminado para a família Bridgerton, para nosso libertino príncipe só estava começando. Após se perder dos olhares da guarda real, seguiu clandestinamente para uma modesta casa na rua mais quente e pecaminosa da cidade. Sua sede por uma noite de diversão e prazer o levou para ao Madame Gastine, o mais luxuoso cabaré parisiense que temos em um meio londrino. E vossa alteza tinha sua própria entrada privativa que o levava ao quarto de Genevieve
LéChant, o affair oculto de .
— Vossa alteza demorou, achei que não viria mais — comentou ela, ao se afastar da janela e se aproximar dele de forma sinuosa.
— Jamais a deixaria me esperar. — sorriu de canto com um olhar desejoso.
Sabemos que a noite de nosso príncipe seria em claro e cheia de malícias. Ainda me perguntou como consegui descobrir seus segredos antes de vossa majestade e como ele consegue os esconder da realeza.
Já na casa de Sollary, adentrava o quarto sendo seguida pelas curiosas gêmeas que não se cansavam de fazer lhe perguntas. A primogênita entendia bem suas irmãs, por ser uma novidade em vossas vidas, porém seu cansaço mental a consumia por dentro.
— Lily, Camellia, eu prometo que amanhã pela manhã lhes contarei tudo, mas agora só desejo repousar-me. — Seu olhar compreensivo se voltou para elas, que fizeram uma cara de abandono. — Por favor, estou com dores de cabeça pela noite turbulenta que tive.
— Prometes que vai mesmo nos contar tudo? — reforçou Lily, deixou o olhar brilhoso aparente.
— Prometo — assentiu ela, com um sorriso singelo.
As gêmeas assentiram eufóricas, começando a fazer suposições sobre a noite da irmã pelos corredores do segundo andar. Logo após a criada ajudar-lhe a se trocar e se retirar, o senhor Sollary deu dois toques na porta da filha, pedindo permissão para entrar. permitiu a vossa entrada e ficou a observar as expressões preocupadas de seu pai.
— Desejas algo, papai? — perguntou ela, intrigada.
— Esta noite representa uma mudança em nossa vida, minha querida, certamente seremos convidados a mais bailes e recepções, isso me preocupa não só por vossas irmãs como também por vós. — Ele deu um passo adentrando o quarto e deixou a porta entreaberta. — O que achou desta noite?
— É tudo muito novo para todos nós, papai, a fortuna, minha apresentação, a ideia de uma corte e um casamento com nobres. — Ela tentou ponderar em sua opinião, mas por dentro sentia medo do que poderia acontecer no dia seguinte.
Por mais que vosso dote fosse tão chamativo quanto a vossa beleza, Sollary ainda era uma senhorita simples e sem títulos de nobreza, da classe burguesa e com culturas familiares bem diferentes da nobreza e suas rígidas formalidades.
— Não entendo o motivo de não poder casar-me com alguém de nosso nível — indagou ela.
A filha dedicada também possuía sonhos e no mais profundo deles, existia um amigo de infância chamado Sir Nikolai Graham. O jovem rapaz, para conquistar o direito de desposar a moça, concordou a continuar o legado do pai no meio militar, se tornando um cavaleiro de sua majestade. Mas claro que o senhor Sollary desejava algo mais seguro para sua filha que a unir a um homem com chances de morrer em batalha.
— Sabes o que penso sobre sir Nikolai, não a deixarei se casar com um militar — repetiu ele num tom mais firme. — Acredito, minha querida, que se apaixonará por seu futuro marido, há muitos nobres interessados em vós, estou certo que um deles despertará vosso interesse.
— Metade deles está interessado em meu dote — corrigiu ela, sendo realista.
— Por isso serei ainda mais criterioso — alegou o pai, confiante em seu instinto de julgar as pessoas.
— Confio no senhor, meu pai, só não acho que estou preparada para entrar neste mundo da aristocracia — confessou ela.
— Eu prometo, minha querida, que farei a melhor escolha para vós. — Seu pai sorriu com carinho. — Não a entregarei para qualquer um, será para o homem que conquistar o vosso coração.
já havia se convencido que um romance entre ela e Nikolai jamais aconteceria, mas relutava na ideia de se casar com um lorde. Ser desposada por um nobre lhe causava arrepios negativos e inseguranças das quais não desejava sentir. Temia pela infelicidade.
Nada como uma manhã de primavera com as flores perfumando a casa para sentir que a sorte está do vosso lado. É o que o senhor Sollary sentiu ao receber a visita de vários nobres em sua casa, com presentes significativos para a primogênita. Até mesmo vossas irmãs se surpreenderam com tamanho interesse em nosso diamante bruto.
O olhar surpreso de para o marquês de Hamilton diante dela com uma singela caixinha de joias de presente, foi o ápice da manhã na casa dos Sollary. E quem diria que um dote de 200 mil libras compraria o mais crítico dos nobres de Londres. Estou ainda mais curiosa pelo desenrolar dessa história.
E vós, caros leitores? O que acham disso? — Senhorita Sollary. — O marquês fez uma breve reverência, assim que os outros foram conduzidos até a porta pelo mordomo Park. — Senhor Sollary, é uma honra ser recebido em vossa casa.
— Agradeço a visita e pelo presente. — Assim que o senhor Sollary assentiu com o olhar, Moore pegou a caixinha das mãos do homem e a entregou para a primogênita.
sorriu para a mulher e pegou a caixinha, abrindo-a em seguida. Dentro continha um par de brincos de diamantes, o que impressionou a todos na sala de visitas da casa.
— Agradeço, lorde Magnus, é muito bonito — disse ela um pouco vergonhosa pelo presente.
— Confesso que estou curioso para conhecê-la, senhorita, o vosso olhar é encantador — disse ele, mantendo um tom suave e espontâneo na voz.
As irmãs de entraram em cochichos pela cena diante delas, empolgando-se pela irmã ter atraído um marquês sem o menor esforço.
— Devemos oferecer-lhe chá com biscoitos? — disse Rose, tentando não se mostrar afoita pela ocasião.
— Rose?! — Em um sussurro repreendendo-a, o olhar de voltou-se para a irmã.
— Vossa irmã nos deu uma boa ideia. — O senhor Sollary voltou o olhar para o homem à sua frente. — Aceitas biscoitos, lorde Magnus?
— Não desejo incomoda-los, mas se isso significa mais tempo na presença de vossa filha, aceito o convite.
É a única palavra que me vem à mente.
Seguindo para outro lugar, após rejeitar a praticamente todos os nobres que visitaram a irmã, se trancou no escritório da casa dos Bridgertons. Boatos de constantes visitas à casa dos Sollary logo pela manhã havia lhe deixado irritado de uma forma inexplicável. E com isso, um gatilho para colocar em prática seu plano de manter o irmão distraído. Com um pedido desesperado para a tia, seguiu na companhia de sua criada pessoal, Judith, em direção à loja da modista.
— Senhorita Bridgerton, que surpresa em vê-la aqui, acabo de lhe fazer dois vestidos — comentou a mademoiselle Tatou, com o olhar curioso.
— Desta vez, mademoiselle, a encomenda não é para mim — disse a jovem determinada. — Sei que possui as medidas de todas as donzelas da cidade e principalmente da casa Sollary.
— Sim, e qual o propósito de vossas palavras? — perguntou a modista interessada na história.
— Bem, meu irmão é um tanto tímido e não saberia lidar com tal situação, então estou aqui para encomendar um vestido em seu nome para a senhorita — explicou , com clareza.
— Hum… Entendo, e há uma urgência neste pedido? — indagou ela.
— Sim, gostaria que fosse o mais rápido possível e seu melhor modelo, e que, junto, entregue esta carta, por favor — respondeu , esticando a mão que segurava a carta. — É de suma importância que ela saiba que é um presente de lorde Bridgerton.
Mademoiselle Tatou assentiu mantendo a discrição. O primeiro passo havia sido dado. E nossa pérola não deixaria a oportunidade passar.
Alguns dias passaram com mais e mais nobres a visitar a casa dos Sollary.
O que me recheava de boatos para saborear. O frescor do final de uma tarde calorosa era tudo que nossa sociedade londrina desejava. Em sua carruagem, a família Bridgerton seguia para um jantar na casa do marquês, lorde Brook, em comemoração ao vosso aniversário.
— Ainda não entendo o motivo de aceitarmos tal convite, não somos da família e o acho um homem asqueroso. — fez uma careta.
— Querida, ele em pessoa convidou o vosso irmão e terão outros nobres nesta recepção — explicou lady Violet. — Então, mantenha um sorriso no rosto, precisas continuar encantadora.
— Infelizmente com todas as rejeições de meu irmão, até mesmo Lady Lewis tem colocado em dúvida as palavras de vossa majestade sobre mim, a culpa é toda vossa, . — Suas palavras transbordavam irritação.
— Apenas estou a proteger-te de um futuro descontente — assegurou ele.
bufou de leve e voltou o olhar para a janela. Ao chegarem ao palacete de lorde Brook, foram recebidos por vosso anfitrião que se mostrou animado pela presença de . Ela, por sua vez, não esboçou reação nenhuma, apenas manteve o olhar desinteressado em seus elogios.
Confesso que recepções assim são minhas favoritas, principalmente quando todas as pessoas interessantes estão presentes. Uma delas é nosso príncipe libertino com seus guardas reais, que sempre o perdiam de vista. E fora numa dessas escapadas que avistou uma bela paisagem a observar as estrelas no jardim lateral do lugar. Nada mais, nada menos que Bridgerton, após conseguir fugir dos assuntos entediantes do vosso anfitrião.
— Sozinha em um jardim não é uma boa referência a uma donzela — comentou ao se aproximar dela.
— Invadir a privacidade alheia também não é uma boa referência a um príncipe. — Ela voltou o olhar para ele. — Vossa alteza não deverias estar sob o olhar dos guardas reais?
Ele sorriu de canto, totalmente surpreso pelas palavras da garota.
— Todos precisam de um pouco de ar, quando se sentem sufocados — argumentou ele.
— Infelizmente, devo concordar com vossa alteza. — Ela bufou de leve e voltou a olhar o horizonte.
— Estou curioso para saber o que a sufocou esta noite — comentou ele, mantendo uma distância significativa. — No baile de lady Danbury estava mais radiante e determinada a ser vista por todos.
— Vossa alteza estava a me vigiar? — Ela o olhou intrigada.
— Após ser apresentado a quase todas as senhoritas do baile, não pude deixar de me intrigar por não a terem apresentado a mim — respondeu ele.
— E achas que tenho ambições em casar-me com um príncipe? — Ela cruzou os braços, admirada por aquilo.
— Sempre achei que fosse o sonho de qualquer donzela — explicou ele.
— Pois saiba, vossa alteza, meus planos para o futuro passam bem distantes de um casamento com um príncipe de tal fama — disse ela, segura de suas palavras.
— E, no entanto, nem mesmo um vislumbre de casamento tens, a não ser que o pretendente seja lorde Brook — supôs ele, rindo baixo. — Estarias inclinada a casar-se com um marquês como ele?
— O que vossa alteza tens de interesse nisso? — contra perguntou ela, se irritando.
— Nada, apenas curioso, já que correm boatos que vosso irmão tem rejeitado todas as propostas de casamento que recebeu. — O príncipe manteve um sorriso de deboche escondido no canto do rosto.
— Meu irmão apenas considera o que é melhor para mim, afinal, após as palavras de vossa majestade, a própria Lady Lewis concordou ao me colocar como uma pérola rara que nenhum homem jamais sequer imaginou tocar — retrucou ela.
As palavras de bateram forte no orgulho do homem à sua frente, despertando-se ainda mais interesse.
Quem seria tal senhorita à sua frente, que não se deixa seduzir por sua coroa de príncipe? sentiu o coração pulsar mais forte.
— Suas palavras me impressionam, mas o fato é que todos têm desistido de obter a chance de tocá-la graças ao vosso irmão — contra-argumento ele. — E, sejamos honestos, quem desejaria possuir uma pérola quando se pode ter um diamante bruto?
tocou no ponto exato. Era uma realidade que mantinha subjetivamente dividindo todos os olhares com , e isso a fazia temer por seu plano, pois o presente do vosso irmão ainda não lhe fora entregue, entretanto a esperança continuava e a Bridgerton não se deixaria abater pelas palavras dele.
— O que desejas, vossa alteza?! — perguntou ela.
— Vós! — disse ele, num tom mais baixo.
— O quê? — Ela se assustou com tal resposta.
— Desejo que me ajude — explicou ele melhor. — Há alguns dias venho pensando sobre isso, és a única que não me olhas com ambição e já deixaste bem claro vossa posição…
— E o que isso tem a ver com o fato de querer minha ajuda? — perguntou ela.
— Precisas voltar a ser o centro das atenções e desejada por todos os nobres, e eu preciso me livrar das mães que me oferecem vossas filhas como um objeto de arte, além de mostrar à vossa majestade que estou levando a sério a ideia de um casamento — ele continuou com sua linha de raciocínio. — Podemos fingir que estou a cortejar-te, assim voltas a ser a pérola desejada, neste tempo, eu terei algum momento de paz e posso lhe ajudar a encontrar o melhor marido que podes ter. O que acha?
— E quando eu encontrar o tal pretendente, o que fará? — perguntou ela, curiosa pela sua habilidade em planejar tal situação.
— Direi a vossa majestade que estou sofrendo e que o amor não é para mim, então posso me recolher longe de Londres para curar meu coração e ganhar mais tempo. — Suas palavras faziam parecer fácil seu plano. — Então, temos um acordo?
Ele esticou a mão para que ela apertasse.
O olhar de tinha uma ponta incomum de intensidade, que causava estranheza interna em . Ela estava temerosa que tal acordo pudesse prejudicá-la ao invés de ajudar. Entretanto, pensando bem, ter um príncipe interessado em sua pessoa poderia elevar ainda mais seu nível de exigência para um bom marido.
Sim ou
não, qual será a vossa resposta?
Lady Lewis
“Someone call the doctor.”
– Overdose / EXO
V. E os planos continuam
A vida é cheia de decisões a serem feitas. Quando acordamos, temos que decidir por nos levantar ou permanecer deitado; ao longo do dia várias questões se colocam diante de nós com apenas uma opção a escolher. E chegara o momento em que uma escolha deve ser tomada pela Bridgerton: aceitar ou recusar a oferta do príncipe libertino.
— Então?! — insistiu ele, mantendo sua mão esticada.
, por um curto espaço de tempo, analisou todos os prós e contras daquela proposta e por um leve surto interno proveniente das atitudes do irmão, ela esticou sua mão e apertou a do príncipe.
— Somente para encontrar o pretendente ideal para mim — frisou ela suas condições —, nada além disso, e terá que agir como se realmente estivesse a me cortejar, para que todos acreditem.
— Como quiser, senhorita Bridgerton — assentiu ele, mantendo um olhar curioso para ela.
— Desejo-lhe sorte para quando enfrentar meu irmão, pois tenho certeza de que ele não irá aceitar nem um pouco. — Ela soltou sua mão e se afastou dele. — Devo retornar, antes que alguém nos veja aqui.
— Mal posso esperar para colocar em prática nosso acordo — disse ele.
não esboçou nenhuma reação de expectativa ou ansiedade, pelo contrário, se mostrou totalmente desinteressada. Ela reverenciou sutilmente e retornou para o interior da casa, assim que passou pela porta, esbarrou em vossa graça o duque de Whosis.
— Perdoe-me, vossa graça — disse ela, no susto, em um tom mais baixo.
Estava parcialmente temerosa. Talvez ele tivesse visto-a com o príncipe, talvez não. Para seria uma desonra se tal boato fosse pronunciado, principalmente por mim, Lady Lewis. Mas é claro que no meio desse turbilhão de acontecimentos, o que mais desejo é ver tudo dando certo no final para minhas três pedras preciosas. O raro
diamante bruto, ; a desejável
pérola intocável, ; e o sublime
rubi inesperado, que ressurgiu das cinzas como uma fênix, .
— Aconselho a senhorita, que deves ficar longe de possíveis problemas — disse o duque, sabendo muito bem a quem se referia. — Algumas pessoas podem interpretar mal aquilo que está diante dos olhos.
sentiu um frio passar por seu corpo.
Estaria ele falando de vossa alteza? Eu não duvido nem um pouco.
— , irmã, estava a te procurar. — se aproximou de ambos, com um olhar desconfiado. — Vossa graça.
— Lord Bridgerton. — fez um leve aceno com o olhar para ele.
— Algum problema aqui? — voltou o olhar para sua irmã.
— Não, irmão, apenas estava tomando um ar, quando retornei para dentro e meu caminho se cruzou com o de vossa graça — respondeu ela, com um tom sereno e moderado.
— Whosis. — O som da voz do príncipe logo atrás deles fez com que o coração de acelerasse um pouco. — Estou a te procurar, meu amigo.
— Agora me encontrou. — O olhar sério de se voltou para o amigo.
— Lord Bridgerton, senhorita Bridgerton. — O príncipe agiu com naturalidade, para que nenhum dos dois desconfiasse de sua aproximação com a jovem.
Agir assim em meio a situações comprometedoras era uma habilidade invejável de vossa alteza.
— Vossa alteza. — fez uma breve reverência com a cabeça, juntamente com sua irmã. — Vamos, irmã?
— Sim. — Assentiu ela e, antes que se afastasse mais, olhou para e sorriu gentilmente. — Agradeço a vossa graça, pelo conselho.
assentiu e permaneceu em silêncio.
— Que conselho recebeste do duque? — perguntou , ao se afastarem mais dos cavalheiros.
— Não contarei — respondeu ela, sorrindo de canto.
— E por que não? És minha irmã, não deveria haver segredos entre nós — questionou ele, intrigado.
— Como se me contasse todas as conversas que participou em sua ida ao clube — retrucou ela, segurando o riso.
— Há conversas entre cavalheiros que uma dama não deve saber — explicou ele.
soltou uma risada ponderada e manteve o olhar para frente, enquanto seguiam pelo salão em direção à sua tia.
— Desculpe-me, irmão, mas este é um assunto que jamais saberá — relatou ela, não se importando com a curiosidade alheia.
Logo o olhar de avistou , que se mantinha acompanhada de suas irmãs gêmeas. A família Sollary também havia sido convidada a tal jantar de aniversário do lord Brook. Se afastando sorrateiramente de vosso irmão, que fora preso em uma conversa obstinada com o insistente anfitrião, a Bridgerton caçula se aproximou da primogênita, a fim de obter informações.
— Um prazer vê-la novamente, senhorita Sollary — disse ela, abrindo um sorriso singelo.
— Senhorita Bridgerton, não é? — puxou em sua memória o nome associado ao rosto da jovem à sua frente.
— Sim, por favor, pode me chamar de , não precisamos ser tão formais assim, estamos na mesma situação aqui — disse ela, num tom suave e gentil.
— E que situação seria? — perguntou Lily que estava ao lado da irmã, com um olhar curioso e intrigado.
— A de uma donzela esperançosa e aflita com as exigências de nossa família a realizar um bom casamento — explicou — Ou haveria alguma outra situação?
— Creio que não. — A primogênita Sollary riu baixo. — Podes me chamar de também e, confesso que, minhas preocupações realmente são essas.
— Estas são minhas irmãs Lily e Camellia — apresentou , apontando de leve. — A que está acompanhando meu pai ali é Rose, e Daisy certamente está perdida perto da mesa de doces.
— Com certeza ela está na mesa de doces — comentou Camellia.
— A gente podia ir até ela — sugeriu Lily com um olhar sapeca.
— Não me vão irritar a Daisy e arrumar confusão, não podemos envergonhar nosso pai. — as repreendeu de imediato.
— Não se preocupe, irmã, não faremos nada que vá comprometer o nome de nossa família e atrapalhar seu futuro casamento com lord Magnus — disse Lily já se afastando e puxando Camellia consigo.
Lord Magnus?! O marquês?! Foi o pensamento que veio à mente de , seguido de uma paralisia mental repentina. Ela não queria acreditar que seu plano, que mal havia iniciado, corria riscos de ser frustrado.
— Não deixei de atentar às palavras de sua irmã, perdoe-me a indiscrição, mas está a ser cortejada pelo lord Magnus? — perguntou .
— Bem, ele tem feito muitas visitas para o chá da tarde — respondeu de forma subjetiva.
— Estás a gostar dele?! — A Bridgerton não conseguia controlar sua curiosidade.
— Haveria algum interesse da senhorita em lord Magnus, para este tipo de indagação? — respondeu com outra pergunta.
se viu sem reação, mas pensando com mais cuidado.
— Bem, só uma indagação, atualmente eu já estou sendo cortejada — respondeu ela, se beneficiando levemente do acordo com o príncipe. — Só não posso dizer quem é, não antes do cavalheiro em questão conversar com meu irmão.
— Ah… Desejo-lhe sorte então. — sorriu gentilmente e voltou sua atenção para frente.
Logo seu olhar cruzou com o de lord Bridgerton, que indiscutivelmente não conseguia parar de olhá-la. Por dias tentava entender o que acontecia internamente consigo. Quanto mais ele tentava focar seus pensamentos, mais a imagem do sorriso da senhorita Sollary invadia sua mente.
— Sou curiosa sobre o vestido assassinado pela limonada — brincou com suas palavras. — Devo imaginar que foi perda total?
— Sim, a criada tentou recuperá-lo, mas a seda realmente não resistiu — explicou num tom mais baixo. — Mas está tudo bem, era somente mais um vestido e o que importa é que não me machuquei.
— Gostaria de convida-la para um chá no sábado pela manhã, como um pedido formal de desculpas — ofereceu , com um olhar amigável. — E não aceito vossa recusa.
— Bem, isso me deixou um tanto surpresa, mas aceitarei de bom grado. — Assentiu a jovem Sollary, não tendo outra escolha.
Uma peculiar conversa deu início entre as duas damas que em poucos minutos sentiram certa afinidade em alguns pensamentos sobre o futuro de suas vidas. Intrigante como uma amizade pode nascer nos momentos mais inesperados.
Do outro lado da sala, nosso libertino favorito mantinha uma conversa cordial e interessante com vossa graça. O duque, por si, estava preocupado com as constantes abordagens das mães londrinas ao seu amigo, principalmente após vê-lo tão próximo de nossa pérola no jardim.
— Deverias ser mais cuidadoso — disse ele ao amigo.
— Falas do que agora? — voltou seu olhar para ele, confuso por aquelas palavras. — Juro que estou me comportando.
— Estar no jardim com uma senhorita sozinho é se comportar?! — O duque manteve o olhar sério para ele.
— Oh, você nos viu? Eu juro que não foi proposital, amigo. — tratou de se explicar. — Foi algo como lugar errado e hora errada.
— Não consigo confiar em suas palavras. — colocou a mão nos bolsos da calça, voltando o olhar para lord Brook que se aproximava de Bridgerton. — Seus atos podem prejudicá-la.
— Imagine se Lady Lewis menciona algo sobre a pérola intocável estar sendo cortejada pelo príncipe libertino. — Ele soltou uma gargalhada boba.
— Estou a falar sério — reforçou .
— Eu também, meu amigo. — deixou seu olhar um pouco mais sério. — Estou a considerar uma corte à senhorita Bridgerton. É de boa família, uma nobre impecável e de beleza rara também, se devo escolher uma dentre muitas, por que não ela?
— Por que ela?! — indagou o duque.
— Pensando logicamente, vamos por eliminação — disse ele, iniciando sua linha de raciocínio. — Apenas três donzelas chamaram a atenção de vossa majestade; descartamos o diamante bruto da burguesia, pois um príncipe só pode se casar com alguém na nobreza; o rubi inesperado nem mesmo um dote deve possuir, e não quero ter que lidar com as dívidas do lord Bourbon, o que me resta? A pérola intocável.
soltou um suspiro cansado ao ouvi-lo.
— Ficarei de olho em vós, meu amigo, podes ser da realeza, mas não deixarei que brinque com os sentimentos dessa moça — advertiu o duque num tom mais firme.
— Fique tranquilo, meu amigo, se há algo que não pretendo é brincar com os sentimentos da senhorita Bridgerton — assegurou o libertino, dando um sorriso de canto. — Mas e quanto a vós? Já se inclinou para algumas das donzelas nesse salão?
— Não — respondeu ele, porém, com o olhar fixo em um ponto específico do lugar.
E qual seria esta coordenada geográfica? A lateral esquerda do grande salão, ao lado do pai e, totalmente recolhida em seus pensamentos, mantendo o olhar em um vaso de cristal que tinha ao lado, a senhorita Bourbon. Fora no mínimo intrigante que lord Brook tenha convidado o falido lord Bourbon, talvez pela amizade de longa data que ambos tinham e por consideração o convite tenha chegado a eles. Mas ali estava mais uma vez o bom pai tentando encontrar um bom marido para sua graciosa filha.
— E para onde olhas tanto? — perguntou com sua curiosidade.
— Para lugar nenhum. — voltou o olhar para o amigo. — Irás daqui novamente para o Palácio de Buckingham?
— Estava com a esperança de me abrigar em sua residência — pediu o príncipe indiretamente. — Não quero ter que proferir um relatório completo dos meus passos para vossa majestade antes de me recolher.
— Terá que enfrentá-la em algum momento, meu amigo — comentou .
— Quanto mais eu puder evitar, melhor. — Ele sorriu de canto.
Mais à frente, lady Bridgerton observava sua sobrinha a conversar com a primogênita Sollary. Algo muito surpreendente para ela e preocupante também.
— É impressionante as coisas que Lady Lewis tem dito sobre vossa sobrinha — comentou lady Danbury ao se aproximar de lady Violet.
— Sim, a classificou como a pérola intocável. — Assentiu lady Violet. — Acho que me sinto um pouco mais aliviada, lembrando-me de quando minha Daphne estava nesta mesma situação com Anthony a impedindo de escolher o melhor para ela, pelo menos Lady Lewis tem sido ponderada em suas classificações.
— Há de concordar comigo que a classificação está correta, não consigo imaginar irmão mais protetor que seu sobrinho, lord Bridgerton. — Lady Danbury riu de leve.
— Outra preocupação é esta superproteção, ele precisa se focar em escolher uma bela esposa, porém segue inclinado aos assuntos de sua irmã. — A tia Bridgerton soltou um suspiro cansado.
— Bem, quanto a isso posso lhe ajudar novamente. — O tom sinuoso soou na voz dela.
— O que sugere? — Lady Violet voltou o olhar para a mulher.
— Bem, veja vossa graça, o duque Tenebrae. — Ela voltou seu olhar para a direção de que ainda conversava com o príncipe. — O conheço desde pequeno e sei o quanto foi difícil sua perda, nesta temporada haverá um casamento na casa de Whosis e vossa sobrinha podes vir a ser a noiva.
— Ainda não havia pensado sobre isso — comentou lady Violet. — Vossa graça é um homem tão silencioso e reclinado a não frequentar bailes da sociedade.
— Admito que seus pais o criaram como uma pessoa reservada e reclusa, mas tenho certeza que a doçura de vossa sobrinha pode quebrar qualquer gelo que tenha naquele coração frio — insistiu lady Danbury. — Posso afirmar que podemos aceitar um convite de jantar, tenho certeza que vosso cozinheiro deve saber preparar um bom pernil de carneiro ao molho de alcaparras.
— Pode acreditar que meu cozinheiro é cheio de especialidades. — Assentiu a Bridgerton com o olhar esperançoso.
Há quem diga que quando um não quer, dois não brigam. Neste momento, há muitos que querem uma coisa e outros que querem outra. Planos e acordos continuam rolando ao longo deste jantar. Uma lástima é que nenhum deles se aplica ao nosso anfitrião que insiste em demonstrar certo interesse em cortejar nossa preciosa Bridgerton.
Mas será que o marquês, lord Brook, conseguirá competir com uma realeza na jogada? Se aproximando da mesa de doces, , que finalmente conseguira se afastar do pai, parou em frente à bandeja de Manjar Turco. Seu olho brilhou de leve por ver sua sobremesa favorita, algo que havia definido quando finalmente a provara em um chá do solário de vossa majestade quando criança. Ela pegou um e mordiscou com delicadeza, não se dando conta da aproximação de mais uma pessoa.
— Isso é gostoso?! — A voz de soou um pouco confusa em sua pergunta.
— Sim? — voltou o olhar para ela, segurando a vergonha pelo momento.
— Isto seria uma resposta? Pois soou como uma pergunta — comentou ao se aproximar delas, segurando o riso.
— Perdoe-me. — se encolheu com timidez. — Sim, este é o doce mais gostoso que já comi.
— Hum. — manteve o olhar para a bandeja de manjar turco, pensando se arriscaria ou não experimentar tal doce.
— Eu particularmente não gosto, prefiro o tradicional muffin de chocolate — comentou ao desviar o olhar para sua sobremesa favorita. — Apesar de ser tradicionalmente servido na hora chá, me atrevo a comê-lo a qualquer momento do dia.
— Devo comentar que vosso olhar para a bandeja de muffins me assusta um pouco — comentou rindo baixo.
— Estou a me perguntar se o marido que a desposar terá que disputar vossa atenção com algum muffin — brincou , fazendo-as rir.
— Sinto-me admirada por vosso comentário. — riu mais um pouco. — E por ser tão bem-humorada.
manteve a suavidade no rosto e finalmente pegou um pedaço de manjar turco.
— Bem, não tenho costumes com doces, mas vendo o olhar de ambas para esta mesa, agora entendo o motivo de Daisy nunca sair de perto dela — comentou a primogênita Sollary de forma descontraída.
— Um pouco de açúcar não faz mal a ninguém — disse , em sua coragem de manter-se conversando com as donzelas que se aproximaram dela. — É o que faz seu dia não ser amargo.
— Devo concordar com a senhorita Bourbon — disse —, principalmente em dias chuvosos ou no inverno.
— Ah, por favor, podes me chamar de , não precisas ser tão formal assim — disse a jovem.
— . — A Bridgerton abriu um sorriso gentil para ela.
— Podes me chamar de — disse a Sollary.
Elas olharam entre si e logo soltaram alguns risos ponderados, então voltaram a atenção para a mesa de doces a frente. E mais uma vez pego-me surpresa com os acontecimentos deste não tão desastroso jantar. Agradeço ao lord Brook por proporcionar-me tal evento.
E um novo dia se inicia para nossas pedras preciosas.
Em seu quarto, manteve seus pensamentos distantes. Não conseguia parar de pensar nos constantes olhares de vossa graça. E sim, meus caros leitores, não foi somente eu quem reparou nisso, mas também nosso rubi inesperado conseguiu sentir uma certa intensidade vindo do olhar de Tenebrae em sua direção. Estou a me consumir de curiosidade para saber os pensamentos do duque em relação a nossa lady falida.
Sua atenção fora despertada assim que a criada, a única que sobrara para servir vossa família, deu dois toques na porta e adentrou o quarto com uma carta nas mãos.
— Franchy, algum problema? — perguntou ela, olhando-a atentamente.
— Uma carta chegou para a senhorita — disse a criada esticando o envelope.
assentiu ao pegar o envelope de sua mão e sorriu em agradecimento.
— E meu pai? — perguntou ela.
— Saiu logo cedo, senhorita, não sei para onde — respondeu prontamente.
— Agradeço, Franchy, não irei sair do meu quarto por agora, pode ir — continuou ela.
A criada assentiu e se retirou do quarto, fechando a porta. ficou um pouco estática ao reconhecer o brasão da casa de Whosis no selo do envelope. Um frio passou por sua barriga, assim como o acelerar de vosso coração.
Outra manhã de surpresas se inicia na casa Sollary.
desfrutava de um café da manhã pomposo e divertido com os comentários de suas irmãs sobre o jantar da noite anterior. As inúmeras gargalhadas de Daisy, provocadas pelos comentários das gêmeas, conseguiam ser ouvidas até por seu pai, do escritório. Até mesmo Rose possuía seus comentários a serem feitos, e a maioria deles se resumiam em lord Magnus, algo já notado por sua irmã mais velha.
— Senhorita Sollary. — Uma das criadas se aproximou da mesa de café no jardim.
— Chegou uma encomenda para a senhorita, pedi ao entregador que a deixasse na sala — explicou a criada —, não queria incomodar o vosso desjejum.
— Agradeço o cuidado, Constance. — se levantou. — Terei que me ausentar, meninas.
— E não irás sozinha — disse Lily levantando-se junto. — Estou curiosa para saber o que mandaram desta vez.
— Deixe de curiosidades, Lily, certamente fora mais um presente de lord Magnus para ela — comentou Rose, como se estivesse certa do que dizia.
— E se não for? — retrucou Camellia. — Também quero saber.
— Andas mencionando muito o lord Magnus — comentou Daisy, com um tom debochado. — Acaso ambiciona roubar a corte de nossa irmã?
— Como ousas insinuar isso?! — Rose se mostrou ofendida pelas palavras da irmã.
— Não estou dizendo mais do que a realidade em que observo — retrucou Daisy.
— Parem as duas. — elevou um pouco sua voz. — Não estou em corte com lord Magnus, Daisy, nosso pai deu-me livres poderes de escolha e ainda não a fiz… O fato de receber presentes de tal cavalheiro não indica nada.
se afastou dela com o olhar sério e se dirigiu para a sala sendo seguida, claro, por suas irmãs curiosas. Ao chegar, se aproximou da impressionante caixa branca com um laço lilás, um tanto grande para ser um simples presente. Ao abrir, se deparou com um deslumbrante vestido que fez até mesmo os olhos de suas irmãs brilharem.
— Será que este presente está mesmo à altura de lord Magnus? — comentou Lily boquiaberta.
— É de seda, como aquele vosso que se perdeu — disse Camellia ao alisar o tecido. — E esta parece ser ainda mais nobre que a outra.
— Não acho que o marquês tenha bom gosto para presentear nossa irmã assim — comentou Daisy.
De fato, ela não havia simpatizado com tal homem.
— Tem um cartão — disse Rose ao pegar um envelope escondido no fundo da caixa, entre os papéis de embrulho.
— Abra e veja de quem é — disse Lily, com extrema curiosidade.
— Verei sozinha em meus aposentos. — recolheu tudo e colocou novamente na caixa, então se retirou da presença de suas irmãs.
Assim que chegou em seu quarto, fechou devidamente a porta. Sentou em sua cama e olhou atentamente o envelope. O brasão da família Bridgerton estava sobre o selo, que foi aberto com cuidado. Retirando a carta dentro, começou a ler:
“Sei que um simples vestido não estará à altura das desculpas que mereces. Menos ainda de vossa beleza que me encantou desde o primeiro momento. Mas aqui estou eu a enviar-te este singelo presente para que possa finalmente ter a minha mente em paz.
Mais uma vez, peço-lhe desculpas.
Lord Bridgerton.”
Aqui temos mais uma pedra preciosa sem reação e mais uma carta inesperada. Me inquieta pensar na realidade que não fora lord Bridgerton que escrevera e sim vossa irmã com seus planos em ação. Mas nossa dedicada não sabe disso, o que me motiva ainda mais em olhar com atenção para este possível casal.
Será que teremos o casamento de um Bridgerton com alguém da burguesia? Ou esta conquista será do marquês de Hamilton, lord Magnus?
Lady Lewis
Mesmo com você na minha frente
Eu não sei o que fazer
Para as pessoas que estão apaixonadas
Por favor, me diga como você começou a amar.
– Hello / SHINee
VI. Jantar e Desafios
Se existe uma coisa que traz esperança a um soldado em meio à guerra, é receber a carta da pessoa amada. Ler as palavras de encorajamento e apoio, forma uma barreira invisível de construção que fortalece a esperança do indivíduo.
Nossas pedras preciosas não são soldados, mas a guerra que elas travam contra o tempo e a pressão da sociedade produz basicamente o mesmo desespero sutil de como se estivesse em um campo de guerra. E assim estava com seu coração acelerado, segurando o envelope sem a coragem de abri-lo.
Qual o motivo para vossa graça lhe enviar uma carta? Era a pergunta que lhe martelava a cabeça. Não a condeno, meus caros leitores, pois assim como o nosso
rubi inesperado, eu também me pergunto qual seria a motivação de Tenebrae para tal ato.
— Céus… O que faço? — perguntou para si mesmo, sentindo o corpo trêmulo.
Com cuidado, ela rompeu o selo e abriu o envelope, retirando a carta que havia dentro. Desdobrando o papel, respirou fundo para começar a leitura:
“Senhorita Bourbon,
Venho por este dizer que senti-me aliviado por tê-la visto melhor na noite anterior. Segui estes dias preocupado com vossa condição física devido ao acidente passado. Para ser honesto, nem mesmo sei o motivo de estar lhe escrevendo esta carta, nem se fará alguma importância para a senhorita. Espero que continue bem e saudável.
Tenebrae
duque de Whosis.”
Assim que terminou de ler, pode perceber que a letra do duque estava um pouco trêmula nas últimas linhas. Será que somente naquele momento estaria ele se atentando ao que redigia na carta? Sendo ou não, o fato é que vossa graça foi até o final e o envelope com seu selo chegou às mãos do nosso rubi.
— Por que meu coração está acelerado?! — a jovem se perguntou. — É somente uma carta que não significa muita coisa.
Seu destino parecia, até então, incerto. Por mais que participasse de bailes com vosso pai, nenhum cavalheiro se aproximou dela, nem mesmo uma visita para o chá. Como se o elogio de vossa majestade em sua apresentação fosse ignorado e abafado pelas dívidas e má administração financeira do seu pai. Se havia uma coisa que poderia tirar de positivo de tudo aquilo, foi a inesperada amizade que desenvolveu na última noite com as outras pedras preciosas. Quem diria que um assunto relativamente insignificante como doces e sobremesas seria um gancho para a aproximação de nossas meninas? Estou mais do que ansiosa pelo chá da tarde de sábado.
Mas antes disso, temos um jantar para organizar e um duque para impressionar.
Nossas casamenteiras seguiam com o plano a todo vapor e lady Danbury teve o prazer de convocar vossa graça para comparecer à casa dos Bridgertons na sexta à noite. O que não foi tão difícil assim, já que tinha um profundo respeito por ela. Entretanto, em todo plano há alguns riscos e chances de imprevistos acontecerem, e foi o que aconteceu naquela noite.
— Bem-vindo, vossa graça. — Lady Violet fez uma breve reverência assim que o convidado especial fora anunciado e se pôs diante dos anfitriões.
Em segundos o mordomo anunciou outra pessoa, um tanto quanto inesperada.
— Vossa alteza?! — disse , vendo o príncipe se apresentar, colocando-se ao lado do amigo com um sorriso presunçoso no rosto.
— Bem-vindo também, vossa alteza. — Lady Violet, deu um sorriso de surpresa. — É uma honra tê-lo em nossa casa, e muito inesperado também.
— Perdoem-me por tê-lo trazido comigo, vossa alteza tem estado hospedado em minha casa e, como um bom anfitrião, não poderia… — parecia escolher bem as palavras em sua mente.
— Não tem o que se desculpar, vossa graça — disse lady Violet, mantendo o sorriso no rosto —, é uma honra tê-los aqui nesta noite.
— Boa noite — disse ao adentrar a sala de visitas, com um sorriso mimoso. — Vossa graça, vossa alteza.
A doce Bridgerton havia combinado com vossa tia uma entrada singela após a chegada do convidado, assim, poderia deixá-lo mais instigado. Porém, o que a jovem não contava era com a presença do príncipe de última hora. Claro que ela ainda não havia se atentado para as intenções de sua tia com o convite de jantar para vossa graça, mas se levar em conta o inoportuno interesse do marquês, lord Brook, em sua pessoa, ela estava grata por ser o duque o convidado da noite.
Para , poderia ser mais tolerável se casar com Whosis, mesmo com o fantasma de sua falecida podendo assombrá-la. Pois pior seria ter que encarar um homem quinze anos mais velho que ela e totalmente asqueroso a seu ver.
Ao sinal do cozinheiro, lord Bridgerton, como o atual homem da casa, conduziu todos para a sala de jantar. Assentados à mesa, fora colocada propositalmente pela tia ao lado de vossa graça, com o príncipe sentado na cadeira de frente para ela. não se conteve em observar os inúmeros olhares da realeza para a sua irmã. Olhares esses seguidos de expressões claras de ciúmes, sempre que se dirigia a vossa graça com um sorriso delicado.
— Então, vossa graça, ouvi dizer que seu palacete em Whosis está em reforma — comentou , puxando assunto.
Talvez ele também tivesse despertado um certo interesse em permitir uma corte entre sua irmã e vossa graça. Como é vantajoso ter bons antecedentes.
Não é, meus leitores?! A reputação de nosso Tenebrae era de invejar qualquer homem da nobreza londrina. Íntegro, sincero, responsável e um tanto quanto misterioso também. Devo admitir que esta última qualidade é a que mais desperta entre as donzelas o interesse e atração. Não só nelas, como também em vossa autora que vos escreve.
— Tenho aproveitado a temporada em Londres para isso, logo a casa de Whosis terá uma nova senhora e deve estar apresentável para isso — respondeu ele.
— Então vossa graça pretende mesmo desposar uma donzela nesta temporada? — voltou seu olhar interessado para ele.
O que deixou um pouco desconfortável em sua cadeira. Afinal, a Bridgerton mal havia aceitado vossa proposta e já estava a se interessar por vosso amigo. Seu olhar se voltou cruzado para o duque, que devolveu com um olhar sereno e tranquilo.
— Devo honrar o nome dos meus pais, senhorita Bridgerton. — O duque voltou o olhar para ela, permanecendo sério. — Mas não sou o único a me casar até o final desta estação.
— Ah, sim, lembro-me bem do anúncio de vossa majestade — comentou lady Violet. — Vossa alteza também está à procura de um bom casamento.
— Não acredito que vossa alteza, com um espírito livre, tenha mesmo a intenção de tal coisa — disse , soando com espontaneidade.
— Talvez por não ter ainda encontrado uma donzela que paralise meus pensamentos — retrucou o príncipe. — Não até agora.
Ele fixou mais seu olhar em , deixando-a constrangida.
— Mas não sou o único que procuro por um amor que proporcione intensidade a vida. — Ele olhou para . — Soube pelo jornal de Lady Lewis que também está com planos de casar-se, lord Bridgerton.
— As pessoas têm dado muito ouvido para o que esta pessoa diz — retrucou .
— Bem, ainda assim, é um tanto impressionante as palavras que ela menciona em seu jornal, parece nos conhecer melhor que nós mesmos — disse , olhando discretamente para vossa alteza. — Confesso que tenho minhas curiosidades para saber quem é ela.
— Tens certeza de que é uma mulher? — perguntou curioso pelas percepções dela sobre o assunto.
— E vossa graça não?! — o olhou. — A forma com a qual ela escreve sobre as pessoas certamente é como os olhos femininos enxergam a sociedade.
— Bom, da última vez que alguém começou a contar sobre a vida de todos da nossa Londres, conseguimos descobrir a verdade por trás de lady Whistledown — comentou . — Então é questão de tempo para que a rainha ofereça novamente uma boa quantia para que revelem mais essa identidade.
— Não acho que Lady Lewis fará tal coisa, nem por todas as joias da coroa — retrucou , rindo baixo.
— E por que tem tanta convicção? Por acaso és a Lady Lewis? — perguntou , olhando-a com atenção.
— Não acho que minha irmã tenha tempo para vigiar a vida dos outros e sair escrevendo sobre as pessoas. — a defendeu prontamente.
Entretanto, a jovem já tinha sua resposta na ponta da língua.
— Acredite, vossa alteza, se eu fosse Lady Lewis, minhas palavras sobre o senhor não seriam tão sutis como são atualmente — disse ela com firmeza no que pronunciava. — Mas quem sabe não possa ser uma de vossas irmãs mais novas, pois ela parece ser sua fã.
— Minhas irmãs também não dispõem de tempo para coisas fúteis como essa — contra-argumentou ele.
— Ah, por favor, vamos deixar o assunto de Lady Lewis longe do nosso jantar, para não atrapalhar a digestão — pediu lady Violet, num tom carismático, voltando seu olhar para o duque. — O que achou do nosso cordeiro, vossa graça?
— Saboroso, lady Bridgerton, vosso cozinheiro realmente é muito habilidoso — respondeu , mantendo-se sério como desde o início do jantar.
Tudo havia ocorrido razoavelmente bem. Na medida do possível, é claro.
E mesmo com o imprevisto de vossa alteza, o duque se mostrou bastante agradecido pelo jantar. Claro que lady Bridgerton queria mais, ela queria uma reação positiva no olhar de vossa graça que se manteve todo o momento sereno e assustadoramente distante. Sendo conduzidos novamente para a sala de visitas, comentou sobre o notório talento de com as teclas do piano, o que resultou em um pedido irrecusável de , para que tocasse um soneto de Mozart para todos.
— Devo confessar que há muito não toco — disse num tom baixo, desviando um olhar de reprovação para que o colocou naquela situação.
Assim que vossa graça começou a dedilhar as teclas do piano, o príncipe, com sua discrição, se aproximou sorrateiramente de , que se mantinha sentada em uma poltrona próximo a janela. Não há como negar que o duque tinha sim um certo charme, que acidentalmente chamou a atenção de nossa pérola. Mas quando um libertino está no jogo…
— Estou perplexo pela forma em que me trataste à mesa — comentou , mantendo o tom baixo para que somente ela o ouvisse.
— Acho que podemos desfazer nosso acordo — disse ela.
— Como assim?! — Ele se mostrou confuso.
— Com a visita de vossa graça hoje, certamente haverá comentários de Lady Lewis que despertará a atenção de todos para mim novamente. — Ela manteve seu olhar no homem que tocava o piano. — Bem, devo agradecer-lhe por comparecer ao jantar, pensar que eu possa estar sendo disputada por um duque e um príncipe é mais do que imaginei.
— Então é isso?! Estais a cogitar a ideia de casar-se com Whosis? — indagou ele. — Notei a forma como o olhou no jantar.
— Confesso que inicialmente não cogitava tal ideia, mas após o jantar na casa de lord Brook e ver que vossa graça se mostrou preocupado comigo a ponto de não condenar-me por nos ver juntos, mas aconselhar-me a ter cautela… — se lembrou com clareza do olhar do duque para ela. — É exatamente isso que espero em um cavalheiro.
— Preocupação?! — indagou o príncipe.
— Não — respondeu ela. — Eu espero segurança, proteção e amor.
— Achas que ele poderia te amar? Conheço o Tenebrae desde a infância, ele sempre teve os pensamentos voltados para sua falecida esposa — argumentou ele, tentando manter o foco.
Por dentro estava mais do que raivoso pela mudança de planos da Bridgerton, e não era pelo fato dele voltar a ser abordado pelas mães desesperadas, mas sim pelo fato da pérola intocável ter a possibilidade de ser cortejada por outro homem.
— Bem, o amor se constrói com o tempo — alegou ela.
Vossa alteza engoliu seco as palavras da jovem e se afastou, ao dar o último gole do vinho em sua taça.
A noite seguiu, assim que ambos os convidados se retiraram para a casa de , passara todo o caminho em silêncio e com o olhar distante do amigo, algo que intrigou o duque.
— Posso entender o motivo de vosso silêncio? — perguntou , assim que adentraram a casa.
— Não há nada para ser falado. — retirou o paletó e se dirigiu para a escada.
— Como se eu não vos conhecesse. — O duque riu. — O que há com você, meu amigo?
— Vais mesmo cortejar a Bridgerton? — perguntou , voltando o olhar para o amigo.
— Não achas que seria melhor para ela? — perguntou de volta.
— Melhor do que o quê? — se mostrou impaciente pela subjetividade do amigo.
— Melhor do que um simples acordo com um príncipe libertino que pode brincar com vossos sentimentos. — foi mais claro e direto. — Achas que não notei?
— Então além de nos espionar, ouviu nossa conversa?! — bufou de leve. — Vossa graça me impressiona, tal cavalheirismo, achas mesmo que podes fazê-la feliz.
— E você poderia? — colocou as mãos no bolso, mantendo o olhar sereno para o amigo. — Pare de agir como se realmente estivesse com ciúmes da senhorita Bridgerton, nós dois sabemos que no meio da noite sairá desta casa e se encontrará com a vossa amante.
As palavras do duque foram como uma adaga no orgulho do príncipe.
— É isso que tens a oferecer a ela? Infidelidade após retirá-la de sua família e prometer amor eterno diante do bispo? — continuou Tenebrae, mantendo a seriedade de seus argumentos.
— Então achas que não posso ser um homem de uma só mulher? — o encarou de frente, sentia sua garganta queimar de raiva por aquilo.
— Prove-me e terá minha permissão para cortejar a senhorita Bridgerton — disse o duque, como sua palavra final.
— Não és o irmão dela — confrontou vossa alteza.
— Bem, seja racional, entre um príncipe libertino e um duque de boa reputação, para quem achas que ele concederia a mão da irmã? — Os argumentos de eram um fato irrevogável. — Como eu disse, não deixarei que brinque com a senhorita Bridgerton, eu o conheço muito bem para saber que ela sairia machucada dessa história.
Antes que o príncipe pudesse argumentar, se afastou seguindo para seu escritório.
— Desafio aceito, Whosis! — gritou o príncipe.
Mesmo que não soubesse o que realmente estava sentindo pela Bridgerton, havia um fato importantíssimo em questão, o olhar singelo e delicado dela estava a lhe tirar o sono.
Estaria nosso libertino se inclinando aos encantos sutis de nossa pérola intocável? E o que dizer de mais um protetor em sua vida? Confesso que nunca imaginei ouvir de vossa graça tais palavras.
Será que ele realmente estaria decidido a casar-se com nossa , para que o príncipe não a fizesse sofrer? Estou admirado por seu lado protetor, vossa graça, porém ainda há muito para acontecer e só estamos no início da primavera. Ainda não me esqueci da inesperada senhorita Bourbon.
Preparem suas xícaras de porcelana chinesa, pois o chá logo será servido.
Lady Lewis.
Por que eu preciso de você
mesmo sabendo que vou me machucar?
– I Need U / BTS
VII. Chá da Tarde
Dentre todas as obrigações de uma singela senhora casada, a que mais a agrada é receber convidados em sua casa. Seja um vasto banquete para a aristocracia ou um simples encontro com as amigas.
E naquela tarde de sábado, nossa pérola intocável estava desfrutando do gosto de preparar um chá da tarde para suas duas novas amigas. Sim, meus caros leitores, vocês leram corretamente. Duas. Pois também havia enviado um convite formal para a doce , convidando-a para a ocasião. O coração de Bridgerton estava um tanto quanto ansioso, e olhar constantemente para o relógio havia se tornado notório para sua tia.
— Está muito nervosa, — disse lady Violet, impressionada com o estado da sobrinha.
— Minha tia, confesso que estou mesmo. — sentou no sofá contendo seus impulsos de olhar o relógio novamente. — É minha primeira vez dando um chá para minhas amigas, apesar de serem somente duas, minha mente fervilha de preocupação. Não me esqueci de nada, não é?
— Claro que não, está tudo impecável — disse a tia, dando um sorriso reconfortante. — Tenho certeza que quando estiver em vossa casa, oferecerá recepções impecáveis.
— Só de imaginar, sinto minhas mãos trêmulas. — A jovem sorriu de leve e manteve o olhar para a porta.
Assim que o mordomo anunciou a chegada das visitas, se levantou para recebê-las. Um sorriso gentil no rosto e um olhar meigo para elas, que adentraram o espaço observando toda a arquitetura ao seu redor. se mostrou mais tímida e acanhada, por seu jeito de ser. Já não se mostrou impressionada com o luxo da residência, afinal a sua era ainda mais estonteante e monumental.
— Sejam bem-vindas — disse , esticando a mão para que sentassem.
— Agradecemos o convite — se pronunciou, movendo seu olhar para —, não é?!
— Sim — o rubi inesperado disse, assentando-se ao seu lado. — Sua casa é muito bonita, lady Violet.
— Agradeço o elogio e deixarei as senhoritas à vontade. — A tia Bridgerton se afastou. — Tenho uma visita para realizar à casa de lady Danbury.
Querida Violet Bridgerton, nós sabemos muito bem o teor da vossa visita. Entre planos e acordos, seu principal objetivo é realizar um bom casamento para sua sobrinha.
Mas será que realmente vossa graça, o duque de Whosis é o cavalheiro ideal para tal papel? Ainda tenho minhas dúvidas.
— Estou feliz por terem vindo — comentou . — Conversamos tão pouco no jantar de lord Brook.
— Sim, se retirou cedo naquele dia. — olhou para a moça.
— Não estava me sentindo muito bem — explicou ela.
De fato, ainda não se sentia bem, entretanto, o problema não era mais físico e sim sentimental. Por mais que não quisesse criar nenhuma expectativa sobre a carta de vossa graça, seus impulsos internos foram maiores e nosso rubi inesperado ousadamente escrevera uma carta resposta que, acredito eu, está sendo entregue ao duque neste exato momento.
Fato é que isto ocorreu antes dela ler alguns de meus relatos sobre o jantar na casa do Bridgertons, envolvendo vossa graça e nosso libertino príncipe. Peço que não me culpem por relatar tal evento fechado, afinal, tem sido este o real motivo para o mal-estar da senhorita Bourbon. Os inúmeros pensamentos negativos lhe tomaram a mente.
Quem poderia competir com a pérola intocável, de família conceituada? Uma simples donzela de pai endividado? — Estou sentindo um olhar curioso vindo de vós, — comentou , após serem servidas pela criada. — Há algo que queira perguntar?
— Bem, andei lendo sobre um jantar em vossa casa — confessou , segurando o riso. — Está a ser cortejada por quem? O duque ou o príncipe?
— Este é um segredo que em breve saberão, mas devo confessar que me impressionou as palavras de Lady
Lewis sobre o assunto. — sorriu de leve.
— Espero que possa fazer um bom casamento, ambos parecem ser bons homens — disse , controlando suas frustrações.
Mas é claro que um duque jamais olharia para alguém como eu. Pensou ela.
— Agradeço vossas palavras, minha amiga. — a olhou com gentileza. — E vós? Soube que vosso pai lhe conseguiu uma corte.
— Conseguiu?! — a olhou também com curiosidade.
— Bem… Eu não sei exatamente quem é tal cavalheiro, meu pai apenas disse que há um nobre interessado em mim e que ambos estão discutindo sobre os trâmites, mas não mencionou o nome — respondeu ela, se encolhendo um pouco.
Internamente seus devaneios de uma donzela desesperada a fizeram imaginar que pudesse ser Tenebrae. Fantasia essa que terminou após a leitura do meu jornal esta manhã.
— Hum… — começou a pensar. — Quem poderá ser? Eu avistei vosso pai conversando com muitos nobres nos últimos eventos, descartamos o marquês de Hamilton por estar interessado em .
controlou seu olhar inconformado e continuou.
— O duque e vossa alteza também — disse com segurança, por aparentemente estar sendo cortejada por ambos. — Quem mais sobrou?
— Tem o sir Ulrich — comentou . — Eu o vi a conversar com vosso pai, .
— Ele não é tão ruim assim — acrescentou . — Militares conseguem ser extremamente atraentes de farda.
Seu comentário fez as outras rirem envergonhadas juntamente com ela.
— Que não seja lord Brook — disse num tom mais baixo. — Tenho calafrios ao olhar para aquele homem.
— Não desejo tal senhor nem para minha pior inimiga — concordou . — Não podes de nenhuma forma casar-se com um homem como aquele.
— Será que o lord Magnus não teria um amigo? — observou , projetando em sua mente algumas ideias. — Posso perguntar a ele… E que tal promovermos um passeio entre casais?
— Uma excelente ideia, assim teríamos a oportunidade de conhecer melhor nossos pretendentes. — se empolgou um pouco. — E ao mesmo tempo encontrar um bom cavalheiro para .
— Sim. — olhou para a amiga ao lado. — Não vamos deixá-la passar por isso sozinha.
— Nunca imaginei ter amigas tão maravilhosas como ambas. — sorriu com delicadeza. — Mas… Há um problema.
— Qual? — disseram e , juntas em coral.
— Se o encontro é de casais, acho que terá um problema por estar em um triângulo — disse ela, num tom inocente.
Elas caíram em gargalhadas de imediato. No entanto, nosso rubi inesperado tinha razão em suas palavras.
— Então, quem escolheria, ? — perguntou , ao pegar um dos biscoitos que fora servido.
tomou um gole do chá em sua xícara, pensativa na resposta. Por um lado, sua opção mais segura seria a vossa graça, entretanto, a sutil demonstração de ciúmes de vossa alteza a deixou um tanto quanto curiosa.
— Bem… Acho que convidaria o duque. — O som da sua voz soou de forma envergonhada, e talvez com traços de dúvida.
desviou o vosso olhar para a xícara de porcelana em sua mão, disfarçando a tristeza, mas se esforçando para se sentir feliz pela amiga. Se havia uma pessoa que merecia ser tão feliz quando ela, seria as duas jovens que a acompanhara naquele chá. E por mais que não tivesse o privilégio de ter os olhares do duque de Whosis para ela, saber que eram de a deixava um pouco conformada.
— Mas vamos mudar o foco. — sentiu algo de estranho na amiga, então rapidamente desviou seu olhar para . — Como tem sido as visitas de lord Magnus? Prometeu que me contaria tudo neste chá.
se sentiu um pouco constrangida pela insistência da amiga. Pobre diamante bruto, mal sabia ela que a amiga ainda tinha esperanças de transformá-la em sua cunhada. A Bridgerton não se dera por vencida e queria saber as estratégias do inimigo para assim atacar da melhor forma possível.
— Ele é um cavalheiro… O que mais posso dizer? — deu uma mordiscada no restante do biscoito em sua mão.
— Detalhes, , quero detalhes — insistiu . — Só cavalheiro não quer dizer nada.
— A princípio lord Magnus é um homem muito educado e, pelas pesquisas de meu pai, é honrado e seu marquesado vem há mais de dez gerações, o que mostra que é de boa família — explicou a moça. — Eu confesso que não me importava em casar-me com alguém de minha classe, nunca ambicionei ter algum título de nobreza, mas meu pai…
— Bem, para vós é mais fácil, , pelo dote que vosso pai ofereceu — comentou , ao se servir de mais chá. — Olhe para minha situação, até mesmo entre os nobres, a fortuna da família conta muito.
— Isso não há o que discutir — concordou , ao se aproximar da mesa de centro. — Deixe me servi-la adequadamente, . Preciso aprender a ser uma boa anfitriã.
— Posso lhe assegurar que é o melhor chá que já participei — disse com sinceridade em suas palavras.
— Agradeço pela honestidade, confesso que estava ansiosa e nervosa pela vinda de ambas hoje — disse , ao se sentar novamente. — Temendo fazer algo errado.
— Estamos entre amigas, mas quero muito ser convidada quando casar-se com vossa graça — brincou . — Ou se tornar uma princesa.
Elas riram de leve.
Entretanto permaneceu pensativa. Até aquele momento a jovem não havia se atentado para a profundidade que a palavra “princesa” representava. Ela apenas via como um libertino de tal fama e pouco respeito pela sua posição diante da coroa britânica.
Mais algumas conversas surgiram entre elas, até que e se despediram da amiga. A senhorita Bourbon seguiu para sua casa acompanhada da amiga, que insistiu por levá-la em sua carruagem, que depois seguiu para a casa Sollary. Claro que nosso diamante bruto fora recebida por uma enxurrada de perguntas de vossas irmãs sobre a tarde que passara com as amigas.
Uma tarde refrescante e cheia de risos entre nossas lindas pedras preciosas. Algo que marcou o início de uma forte amizade. Mas me atento para o plano de Bridgerton e Sollary em favor da amiga, uma raridade encontrar pessoas assim que se preocupam com a felicidade alheia, mas a senhorita Bourbon havia tido essa sorte.
Um pouco distante dali, sendo servido de um legítimo vinho francês, estava nosso príncipe libertino no clube dos nobres cavalheiros, entre conversas com os muitos senhores que se divertiam pelo lugar. Logo avistou uma cena que o deixou desconfortável. Lord Bridgerton em uma conversa aparentemente interessante com vossa graça, o duque.
— Cavalheiros, que surpresa vê-los aqui — disse ao se aproximar deles, e puxar uma cadeira para se sentar.
— Vossa alteza. — O Bridgerton deu um leve aceno com a cabeça.
— Whosis. — O príncipe olhou para o amigo, ainda com seu desafio entalado na garganta. — Não é de frequentar o clube, o que aconteceu?
— Bem, lord Bridgerton me convidou para uma conversa sobre a ascensão dos burgueses em nossa sociedade, deseja se juntar a nós ou tal assunto não o agrada? — manteve o olhar sereno para o amigo, pois o conhecia muito bem.
— Agradeço o convite. — aceitou de bom grado. — Deveríamos chamar o marquês de Hamilton também, já que ele anda frequentando muito a casa do senhor Sollary.
— Sabe de algo, vossa alteza? — perguntou , controlando seu interesse.
— Bem, só comentei os fatos relatados por Lady
Lewis — se explicou o homem. — Mas aposto que nosso amigo está mais interessado no dote, apesar do diamante ser tão belo quanto a classificação que recebera.
— Acho indelicada a forma em que Lady Lewis menciona as pessoas — comentou Bridgerton.
— É uma lástima que não aproves, acho subitamente divertida a forma em que ela escreve — defendeu o príncipe.
— Achas que é uma mulher também? — perguntou .
— Bem, após a pontual avaliação da senhorita Bridgerton, tomei a liberdade de ler com mais atenção as palavras do jornal, devo admitir que um homem não teria tal olhar para tantos detalhes — explicou .
— Interessante. — voltou o olhar para os cavalheiros que jogavam cartas na mesa diante deles.
— Senhores, foi um prazer, mas preciso retornar para casa. — O Bridgerton se levantou da poltrona e olhou para o relógio de bolso. — Acho que o chá de minha irmã deve ter finalizado.
— Um chá entre damas? — perguntou curioso.
assentiu com a cabeça e se afastou dele, seguindo seu caminho. O príncipe manteve o olhar no amigo, e sua mente fervia de perguntas sobre qual tipo de conversa realmente o duque havia mantido com lord Bridgerton antes de sua aproximação.
— Pare de tentar adivinhar e comece a agir como um cavalheiro de verdade. — se levantou da poltrona em que estava e o olhou sério. — Não houve nenhum assunto sobre o jantar, menos ainda sobre a senhorita Bridgerton, mas saiba que depois daquela noite, não será comigo que deves se preocupar.
— Do que estás a falar?! — perguntou , com um olhar confuso.
— Soube que vosso primo, o marquês de Baux, está vindo para Londres — respondeu . — Me parece que há intenções de encontrar uma nobre inglesa para desposar.
— Não sabia de tal fato — disse ele.
— Acho que deverias voltar para casa e averiguar com vossa majestade. — se afastou do amigo seguindo para a saída.
O príncipe ajeitou o corpo na cadeira e controlou sua respiração. August Grimaldi não era somente um mero marquês ou seu primo distante, ele também era o príncipe de Mônaco, e como tal, na mesma posição social, havia uma grande rixa entre ambos que fazia tudo ficar ainda mais interessante.
Será que nosso triângulo verdadeiramente não é entre um duque e um príncipe, entretanto, entre duas altezas? Mal posso esperar pelo cogitado passeio entre casais.
Lady Lewis.
Eu nunca me senti assim antes,
Como se minha respiração fosse parar.
– My Answer / EXO
VIII. Domingo ao ar livre
Em um mundo cheio onde a Revolução Industrial vem a cada dia sendo uma mudança constante, quando uma pequena peça indesejável cai dentro de máquina a vapor travando toda a sua engrenagem, o resultante desta equação é um colapso no sistema. E era exatamente assim que nosso libertino sentia ao receber a notícia da visita de vosso primo, o príncipe de Mônaco.
— Desejo alguns minutos com vossa majestade — disse ao se apresentar diante da rainha.
— Olha só quem ainda está vivo. — O soar irônico da mulher assentada ao trono deixava o ambiente mais tenso. — Lembrou-se que tens uma casa?
— Por favor, majestade — pediu ele, mantendo o olhar baixo.
— Não estou inclinada a aceitar vosso pedido, volte daqui alguns dias — disse ela, mantendo o tom suave.
— Posso então pedir alguns minutos de atenção de uma mãe para um filho? — Ele levantou seu olhar e a encarou.
A rainha respirou fundo, não sabia os motivos do filho, mas estava curiosa.
— Todos, deixe-nos a sós — ordenou ela.
Assim que suas damas de companhia se retiraram com os demais criados, ela voltou o olhar atento para ele. Analisando todas as suas expressões.
— Diga agora, o que o trouxe a presença de sua mãe? — indagou ela.
— É verdade que Grimaldi está vindo para Londres? — Ele foi direto e preciso.
— Ah, então é por isso que está aqui. — Ela soltou uma gargalhada maldosa, mantendo o tom ponderado. — Está preocupado com a concorrência? Não será o único príncipe da estação.
— És a minha mãe, deveria ser mais condescendente comigo — reclamou ele.
— Se fosse um filho de orgulhar o coração de uma mãe — retrucou ela. — Foi-me enviada uma carta direta de Mônaco, não pude recusar e vosso primo deve chegar em alguns dias.
se manteve em silêncio, irritado com tal confirmação.
— Eu vos conheço, , se está tão nervoso pela vinda de August é porque está com medo de perder algo para ele. Ambos sempre foram assim desde pequenos, para provoca-lo August conquistava tudo que lhe atraía o interesse. — A rainha começou a formular teorias em sua mente. — Devo entender que tenhas uma donzela em mente que lhe tenha roubado os olhares?
— Não existe tal donzela — disse ele, relutante consigo mesmo em admitir algo muito provável.
— Vou fingir que acredito por saber sempre quando mente para mim. — Ela sorriu de leve. — Pois agora vejo que estás a mentir para si mesmo.
Vossa majestade, mesmo em seus momentos extravagantes, tinha uma sutil sabedoria nos momentos precisos. Seu olhar clínico para o filho a deixava entender tudo o que ocorria com o jovem libertino. Algo que lhe deixou com um misto de preocupação e alívio.
se retirou da presença de sua mãe e seguiu em direção ao clube. Se sentia tão sufocado internamente que precisava de breves momentos de diversão. Assim que chegou fora servido por um dos funcionários e, permanecendo um pouco distante, ficou observando alguns cavalheiros apostarem na mesa de cartas.
— Vossa alteza?! — A voz de Robert Magnus soou ao lado dele. — Tem frequentado bastante o clube.
— Marquês, digo o mesmo de vós. — tomou um gole do vinho em sua taça. — Veio jogar esta noite?
— Não, não jogo às segundas, apenas aos finais de semana — contou o homem.
— Na vida não se perde em ter um pouco de controle — comentou o príncipe. — Veio ver a má sorte de alguns cavalheiros?
— Sim. — Ele riu. — Há um jogador que me deve e deu-me certeza de pagar tal dívida hoje.
— Bem, desejo-lhe sorte para que recebas. — Ele voltou seu olhar para a mesa de jogos.
— Ouvi os boatos sobre vossa alteza estar interessado na senhorita Bridgerton — comentou o marquês, entrando no assunto.
— As pessoas têm comentado muita coisa sobre mim ultimamente. — não deu importância àquilo.
— Então é verdade?! — O olhar curioso de Magnus se voltou para ele.
— Por que tanta curiosidade? — o olhou intrigado pela insistência do homem.
— Bem, sabes que estou a cortejar a senhorita Sollary — iniciou ele, sua explicação.
— E o que isso tem relacionado a vossas indagações? — O príncipe continuou desconfiado do homem ao lado.
— A senhorita Sollary convidou-me inesperadamente para um passeio ao parque no próximo domingo, um passeio entre casais no qual a senhorita Bridgerton estará presente acompanhada do duque de Whosis — contou o homem com um ar presunçoso.
controlou sua raiva momentânea e tomou o último gole em sua taça a deixando no móvel ao lado.
— Interessante, presumo que eu não deveria saber de tal passeio — insinuou o príncipe —, afinal, é vosso amigo.
— Bem, achei que ele já havia mencionado isso a vós, alteza. — Suas intenções não pareciam tão generosas assim, ainda mais se tratando dele. — A senhorita Sollary me pediu para levar um amigo que pudesse apresentar a uma amiga e…
— Será um prazer participar — o interrompeu.
— Vossa alteza fora a única pessoa que me veio à mente — alegou ele —, já que Whosis já tem sua companhia.
— Agradeço a consideração, só gostaria que mantivesse a discrição de minha presença até o encontro — pediu ele.
Sete dias nunca passaram tão lentamente quanto naquela semana.
E quanto mais se aproximava do momento planejado pelas pedras preciosas, mais o coração de se apertava. Nosso doce rubi não se sentia pronto para ver o duque ao lado da amiga, e quanto mais a pobre donzela se forçava a não pensar em tal homem, mais a imagem de tocando vosso tornozelo lhe invadia a mente, deixando seu corpo em sensações de arrepios.
— . — O olhar de para a amiga, seguido de um sorriso a deixou mais reconfortada. — Boa tarde.
— Boa tarde, . — se encolheu um pouco e manteve o olhar baixo, ao perceber a presença de vossa graça ao lado da amiga. — Boa tarde, vossa graça.
— Boa tarde, senhorita Bourbon. — A voz de soou como um sino para ela.
sentiu seu corpo estremecer de leve, segurando seus sentimentos reprimidos. Como poderia estar tão inclinada a um cavalheiro em tão pouco tempo, ainda mais sendo alguém tão inalcançável como vossa graça.
Havia um toque de esperança para este coração aflito? — não chegou ainda? — perguntou , olhando à sua volta, percebendo os olhares das pessoas para eles.
— Ainda não — respondeu , tentando não olhá-los.
— Devemos esperá-los então. — olhou para o duque, que discretamente mantinha o olhar no rubi.
— Sim, não seria cordial iniciarmos nosso passeio já que marcamos com vossa amiga. — Assentiu o duque.
Ambas assentiram. Felizmente não precisaram esperar tanto pela chegada do segundo casal, entretanto, a surpresa de lord Magnus fora seu amigo acompanhante, nosso príncipe libertino. Os olhos arregalados de deram lugar a sua expressão boquiaberta, já , sempre inexpressivo, voltou o olhar para que, na teoria, seria o par de naquele encontro. Por dentro, nosso duque sentiu um gosto amargo como se estivesse recebendo o troco de vossa alteza.
— Boa tarde, senhoritas e vossa graça — disse o príncipe, dando um sorriso de canto presunçoso.
Ambos reverenciaram cordialmente e as jovens donzelas seguiram na frente, todos surpresos com o acontecimento, recebendo mais olhares intrigados ainda. Estou curiosa para saber como este passeio ao final de uma tarde de domingo vai terminar, afinal, nossos casais ainda não estão de fato definidos e há a ausência de um certo lord Bridgerton.
Que rufem os tambores, pois meus dedos estão ávidos a escrever mais este capítulo cheio de planos, acordos e paixões ocultas.
— , de onde vossa alteza surgiu em nosso encontro? — perguntou , sentindo seu coração acelerado pelos olhares marcantes do príncipe para ela.
Ela demonstrou em seu olhar uma pequena insatisfação, pois aquele dia havia sido preparado com tanto cuidado nos detalhes, que agora se sentia frustrada por lorde Magnus não ter convidado vosso irmão como sugeriu . Claro que nossa pérola intocável estava planejando causar uma pequena distração e troca de casais para que vosso irmão tomasse o lugar do marquês e obtivesse o prazer de passar uma tarde com a Sollary.
E no final, não estaria em falta com Amélia já que lorde Magnus também era um bom partido para ela, de boa família e várias posses.
— Eu juro que não sei o que houve — disse , num tom mais baixo para que os cavalheiros atrás não ouvissem. — Eu pedi para ele convidar o lorde Bridgerton, como indicou.
— Deverias ter convidado pessoalmente. — bufou de leve.
— Eu?! — se impressionou com as palavras da amiga. — E o que vosso irmão iria pensar de mim? Sendo cortejada por um, enviando convites a outro?
— Meu irmão não pensaria tal coisa, pelo contrário, acharia curioso e viria — retrucou . — Estamos aqui para ajudar , e não para me deixar em uma situação estranha e embaraçosa.
— Não se preocupem comigo, acho que já me conformei com o casamento às escuras que meu pai está a promover. — manteve o olhar baixo a todo momento, escondendo sua profunda tristeza.
— Não digas isso, , vamos reverter esta situação, de alguma forma. — olhou para .
A Sollary por sua vez não entendeu tamanha revolta da amiga por algo que ela não tinha culpa. Imprevistos acontecem e dizem que quem manda nessas situações é o destino… Que neste momento está mesmo pregando algumas peças na vida das três donzelas. A senhorita Bridgerton começou a pensar o que poderia fazer para ajudar a amiga e afastar lorde Magnus de , se ao menos vosso irmão estivesse ali, poderia projetar um plano B para deixar tudo em ordem como imaginou inicialmente.
Meus caros leitores, ando impressionada com nossa casamenteira amadora.
Será que ela conseguirá obter sucesso? — Confesse que está surpreso com minha presença — cochichou o príncipe para vossa graça.
— O que faz aqui ?! — indagou o duque, num tom sério.
— Fui convidado por um amigo e estou curioso para conhecer nosso rubi. — A voz dele soou com uma sutil ponta de malícia, o que atraiu o olhar atravessado de , que parou para encará-lo. — O que? Não me diga que não gostou da minha mudança de opinião? — manteve o olhar de confronto para o amigo. — Apesar de não ser o melhor em administração, lord Bourbon ainda é um homem muito respeitado e sua filha se revelou ser tão bela quanto a mãe.
— Aonde quer chegar?! — reforçou , ardendo de raiva por dentro.
— Ser o sexto na linha de sucessão me dá vantagens de não ser obrigado a desposar uma princesa ou duquesa, acho que viscondessa seria uma boa ideia… — Ele manteve o sorriso de canto.
pela primeira vez não mediu a consequência de seus atos, pela primeira vez agiu por impulso e sem pensar duas vezes, socou a cara de vossa alteza. Algo que chocou a todos os presentes no lugar. Até mesmo a mim.
Vossa graça, como consegues guardar tamanha ousadia dentro de vós? Ando inquieta em descobrir vossos reais sentimentos por nossa delicada senhorita Bourbon. Quando finalmente voltou a si, notou os olhares assustados de para ele, o que o fez se sentir um tanto envergonhado por seus atos.
— Agora sei seu ponto fraco — disse , rindo daquilo, ao sentir o gosto de sangue no canto da boca.
— Vossa alteza?! — se abaixou e tocou de leve o rosto do príncipe, então voltou seu olhar para o duque. — Vossa graça?!
Em sua mente nossa pérola imaginava ser a causa de tamanho gesto de agressividade. Mal ela sabia que o verdadeiro motivo era sua aparente amiga rejeitada pelos nobres da sociedade.
— Deixe-me ajudá-lo — disse lorde Magnus ao se aproximar do príncipe.
— Perdoem-me por meus atos, preciso me retirar. — reverenciou com o olhar e se afastou deles com pressa.
— O que houve?! — perguntou , ainda perplexa com tal cena.
— Um desentendimento. — olhou para , mantendo o sorriso presunçoso.
Algo que a fez desaprovar com o olhar sério para ele.
— Bem, perdoem-me, mas este passeio também encerrou para mim. — Ela se afastou deles, seguindo em direção ao duque que já estava a uma distância considerável.
— Acho melhor seguirmos para casa também — aconselhou , voltando o olhar para lord Magnus. — Poderias me levar?
— Claro, farei isso. — O marquês sorriu de leve e lhe deu o braço.
— , eu… — tentou se explicar.
— Não se preocupem, eu a levarei para casa, se me permitir é claro — disse o príncipe sendo cordial.
— Agradeço, vossa alteza — disse .
A senhorita Bourbon sabia que vossa alteza não estava ali por ela, mas sim pela amiga, entretanto, jamais negaria tal ato vindo dele. Talvez, sendo vista em sua companhia, poderia ser algo positivo para sua imagem que é somente lembrada pela falência financeira do pai. Cada casal seguiu em sua direção, e permaneceu por um tempo em silêncio olhando fixamente para , que se sentiu envergonhada.
— Vossa alteza está a me constranger com o olhar — confessou a moça, com o soar tímido da voz.
— Perdoe-me por tal indelicadeza de minha parte. — Ele desviou o olhar para o lado.
— Sem problemas. — Ela manteve o olhar curioso nele. — Posso lhe fazer uma pergunta? Um tanto pessoal?
— Diga. — Ele voltou a olhá-la.
— O senhor tem sentimentos pela senhorita Bridgerton? — indagou ela, extraindo do fundo sua ousadia.
— O que a faz pensar isso? — manteve a suavidade no olhar.
— A forma como a olha, é exatamente a mesma forma que meu pai olhava para minha mãe — explicou ela.
— E como seria essa forma? — Ele se viu curioso pela observação da moça.
— Uma mistura de encantamento e desejo — revelou a Bourbon. — É como uma mulher sempre espera ser olhada pelo marido, por isso eu acho que esteja apaixonado por ela.
— Para haver um casamento ambos devem estar apaixonados — argumentou ele, de forma evasiva.
— Nem todos conseguem a sorte de casar com alguém que ama — revelou a moça, se lembrando do arranjo do pai. — Algumas estão à própria sorte de conseguir pelo menos um bom casamento.
— Tenho certeza que fará um bom casamento, senhorita Bourbon — assegurou ele, com firmeza nas palavras.
— E como o senhor poderia saber sobre isso? — perguntou ela, se deixando ficar esperançosa.
— Apenas sei que não serei eu a desposá-la, mas tenho minhas convicções de quem seja. — Ele voltou o olhar para frente e continuou a caminhar.
se mostrou pensativa e permaneceu em silêncio, sendo acompanhada por ele. Na mente dela, inúmeras perguntas e inseguranças surgiram a cada passo em direção a sua casa.
— Terei o prazer de vê-la no Vauxhall? — perguntou o príncipe.
— Não tenho certeza, senhor — respondeu ela. — Não ando com disposições para os muitos eventos sociais que estão surgindo nesta temporada.
— Acredito que especialmente este devas comparecer e, adiantado, lhe peço que me conceda a primeira dança — pediu ele ao olhá-la.
— Vossa alteza, eu… — Ela não sabia como reagir, afinal, seria sua primeira dança em toda a temporada e talvez a única.
— Quero lhe retribui o favor — completou ele, de forma enigmática.
— Que favor?! — Seu olhar ficou confuso.
Continuando a caminhar, o príncipe permaneceu em silêncio ocultando a explicação de suas palavras.
Vossa alteza, não é somente nosso rubi que está em curiosidades aqui! Será o que estou pensando?
Seguindo na direção oposta, estava vossa graça que fora alcançado pela senhorita Bridgerton, a deixando no portão de sua casa. Ele manteve-se ao longo do percurso com o pensamento distante e constante silêncio. Algo que a deixou intrigada e confusa, afinal, se fosse por vossa causa, o duque não estaria tão frio assim. Então, por quais motivos ele socaria o rosto de vossa alteza? Uma forte indagação surgiu.
— Mais uma vez, perdoe-me por meus atos, asseguro que não irá repetir. — Ele fez uma breve reverência para ela.
— Não me preocupo com isso, vossa graça, mas com os motivos que o levaram a isso. — Assegurou a Bridgerton. — E pelo que vejo em vosso distante olhar, certamente eu não sou a causa de tal ato.
— Não quero que aches que esteja lhe dando falsas esperanças — pronunciou ele. — Entretanto…
— Não sou a nobre dama que despertou vossa atenção — completou , já entendendo em partes aquele enigma. — Confesso que me inclinei para vossa companhia por seus conselhos na festa de lord Brook e por saber que és um homem honrado… Mas uma mulher sabe exatamente quando um homem está interessado por ela.
— Gostaria de saber a razão do convite de hoje — indagou ele, olhando-a curioso.
— Confesso que não havia outra opção a não ser convidar o príncipe. — Ela voltou o olhar para o chão. — E eu…
Não queria dar o braço a torcer e convidar vossa alteza no lugar do duque.
— Não queria demonstrar que o acordo de ambos ainda estava contando — concluiu o duque precisamente.
— Como o senhor sabe sobre isso?! Vossa alteza lhe contou? — Ela arregalou os olhos surpresa.
— Não, mas acidentalmente eu ouvi no dia em que ambos estavam no jardim — confessou ele, com serenidade. — Estava curioso para saber até onde chegaria com o plano, e me impressionou o fato de vossa alteza tê-lo levado com tanta seriedade.
— Ele fez isso? — Por essa não esperava.
— Sim. — Assentiu o duque. — Acho que este será nosso último encontro, então.
Ele tomou impulso para se retirar.
— Vossa graça — o chamou, com uma ideia insana em sua mente.
— Sim? — Ele voltou o olhar para ela.
— Sou dessas pessoas céticas que só acredita vendo, poderia lhe pedir um último favor? — pediu ela.
— Se estiver ao meu alcance? — disse ele.
— Gostaria que me acompanhasse ao Vauxhall na próxima semana — esclareceu ela seu pedido inusitado.
— O que pretende com isso? — indagou o duque, disfarçando um sorriso intuitivo no rosto.
— Confesso que estou confusa quanto aos meus sentimentos por vossa alteza, e saber que ele está mesmo interessado em mim é um tanto perturbador, a considerar por sua sutil conduta com as mulheres — disse ela suas considerações. — Tenho medo do que posso sentir por ele e sair machucada nessa história, mas preciso de respostas e…
— Vou ajudá-la quanto a isso. — Ele demonstrou segurança no olhar. — Lhe asseguro que não deixarei que vossa alteza seja leviano com vossos sentimentos, farei o que for preciso para fazê-lo declarar o que realmente sente por vós.
Um brilho de esperança surgiu no olhar de , seguido de alívio por saber que poderia contar com o duque neste ousado plano de ataque ao libertino.
Ainda pelas ruas de Londres, se sentiu um pouco indisposta e pediu para que lorde Magnus chamasse o pai, enquanto o nobre marquês se afastou, deixando-a sozinha próximo à entrada da igreja. Aquela fora uma sutil estratégia para se desviar do caminho e seguir para uma confeitaria modesta e pouco movimentada, em uma rua estreita e isolada. O coração da jovem estava acelerado por tamanha ousadia sem saber se sua carta teria uma resposta.
Entretanto, logo ao entrar no estabelecimento, sentiu uma suave brisa passar por seu corpo ao avistar lord Bridgerton assentado em uma mesa aos fundos, bebericando seu chá. A passos lentos e cautelosos, ela se aproximou dele, tentando deixar em evidência o vestido em seu corpo.
— Lord Bridgerton — disse ela, ao se colocar diante dele. — Agradeço por ter vindo.
— Senhorita Sollary. — Ele se levantou e puxou a cadeira à frente para que ela sentasse.
— Agradeço. — se sentou, respirando fundo e colocando seus pensamentos em ordem.
Desde o dia em que recebera o presente do irmão de sua amiga, seus pensamentos a respeito disso lhe perturbavam as noites de sono.
— Confesso que estou curioso para saber o motivo de tal convite — disse ele, em sua inocência. — Ouvi boatos de que estaria em um encontro de casais nesta tarde e a presenciar o pôr-do-sol, acredito que tenha sido proveitoso, cheguei a achar que não viria.
— Para ser honesta, não durou muito tempo e… Precisei inventar uma desculpa para encontrar-te. — Ela manteve sua respiração tranquila, apesar dos batimentos acelerados.
— O que nos traz aqui, a senhorita vem sendo cortejada por lorde Magnus e ser vista neste lugar com outro não lhe trará bons olhares. — Ele foi prudente em sua colocação, e se preocupava com a honra da dama à sua frente.
— Eu não consegui imaginar outra forma de estar em sua presença se não esta — alegou ela, buscando as palavras em sua mente. — Mas não notou algo familiar em mim? O motivo pelo qual estamos aqui.
— Não. — se manteve confuso, olhando-a com atenção, mas sem entender do que ela mencionava. — Peço se sejas mais clara.
— Sendo honesta, não me importo com os olhares — disse ela, deixando transparecer sua coragem. — Parte da minha vida fui invisível para todos, quando olham para mim só enxergam a quantia do meu dote.
Ele se manteve em silêncio e pensativo. As palavras dela tinham fundamento e relevância.
— Mas o vestido em meu corpo, meu senhor, ele é o motivo de estarmos aqui — explicou ela.
— O que tem o vestido? — perguntou ele.
— Vejo que não se lembra, ou não quer se lembrar. — Ela se levantou da cadeira. — Perdoe-me por fazê-lo perder o vosso tempo.
não queria acreditar que fora tão tola a ponto de pensar que lorde Bridgerton teria algo a mais que um simples pedido de desculpas pelo suco derramado. E se sentiu envergonhada por promover tal encontro oculto.
— Espere. — Ele segurou de leve sua mão, parando-a. — Por favor… Sou eu quem devo desculpas por meu comportamento. — Seu olhar sincero e gentil a fez render-se.
Sentindo-se internamente estremecida pelo cavalheiro à sua frente.
— Não lembro de nenhuma ligação que posso ter com o vestido em vosso corpo, mas estou feliz por estarmos aqui. — Em continuidade, ele finalmente declarou seus iniciais sentimentos relacionados ao momento em questão. — Confesso ter ficado curioso em saber vossos pensamentos sobre o cavalheiro que lhe estragou um vestido…
— Não entendo como podes não admitir o óbvio. — Ela retirou de sua bolsa de mão a carta que recebera juntamente com o vestido. — E sinto-me decepcionada por estar diante de um cavalheiro que não assume seus próprios atos.
— Ainda não entendo do que falas?! — Ele continuou confuso. — Se for mais clara, talvez.
— Serei clara lhe devolvendo isso. — Ela colocou a carta em cima da mesa. — Em breve receberá o vestido, por motivos óbvios não o devolverei agora.
Ela se afastou dele, retirando-se do lugar.
Devo considerar que nem tudo está perdido e aguardar ansiosamente pelo Vauxhall? Nada como uma noite mágica para finalmente resolver as coisas entre nossos embaralhados casais.
Lady Lewis.
Quanto mais você me perturba
Mais eu gosto de você
E eu não sei o porquê.
– Yeowooya / Lunafly
IX. Confissões
Todos em algum momento da vida, por mais insignificante que seja, já teve um segredo que lhe corroeu por dentro, a ponto de ansiar alguém de confiança para compartilhar. E alguns singelos sentimentos podem ser considerados assim quando a então pessoa não consegue a coragem para revelar a quem de fato é relacionado. E tudo isso me lembra que tudo que me é escondido, em algum momento pode ser revelado, se não pelo homem, poderia ser pelas mãos divinas.
É assim que nossas pedras preciosas estão começando a se sentir, como pecadoras desonestas consigo mesmas ao esconder a sete chaves seus sentimentos mais obscuros.
Um conselho a cada uma delas? Sejam sinceras quando finalmente se confessarem, pois nem sempre soa verdadeiro a famosa frase: Padre, perdoe-me, pois eu pequei.
Não que sua mente estivesse pesada, mas naquela manhã ensolarada de quarta-feira, ironicamente acompanhou sua tia até a igreja. Ela observou muito bem, enquanto se manteve sentada no banco, uma mulher se aproximar do confessionário. Se o homem que ouvia as pessoas descobrisse todos os segredos que a jovem Bridgerton tem a contar, certamente sua família ficaria em espanto. Após as damas se retirarem do local, seguiram para a loja da modista, mademoiselle Tatou que, a propósito, tem sido meu lugar favorito para recolher informações de nossa querida Londres e sua intrigante aristocracia.
— A senhorita perdeu alguns gramas — comentou mademoiselle ao tirar a nova medida da cintura de . — Terei que fazer alguns ajustes no vosso vestido para o
Vauxhall.
— Essa temporada tem sido bem movimentada e repleta de eventos. — tentou disfarçar.
Entretanto, a causa eram as diversas preocupações com seu futuro, que lhe tiravam o apetite. Em alguns momentos, sua tia até mesmo a forçava a não pular as refeições. O fato é que nossa Bridgerton andava ansiosa e seus pensamentos voltados para nosso libertino príncipe.
— A senhorita precisa descansar mais então — aconselhou a modista, não sendo nem um pouco discreta. — Percebo olheiras em vosso rosto.
— O quê?! — Ela se aproximou rapidamente do espelho analisando a delicada maquiagem no rosto.
Seu olhar estava mesmo um pouco caído, talvez pela noite mal dormida e pela carta que recebera de . Carta essa que não havia tido coragem para abrir, mantendo-a debaixo do travesseiro a dois dias. Ela respirou fundo e voltou à posição inicial para fazer a prova do vestido. Sua tia que estava um pouco distante conversando com lady Dellorie, a observava com carinho.
— Está lindo, minha querida — disse lady Violet ao se aproximar da sobrinha e tocar de leve no tecido de cetim do vestido. — Azul claro combina muito bem com seus olhos.
— Sim, de fato, agora consigo ver seu rosto mais iluminado — concordou a mademoiselle.
apenas deixou um leve sorriso em seu rosto e manteve o olhar voltado ao espelho. Ela sabia que o Vauxhall poderia ser um divisor de águas em sua vida, o que a deixava um pouco mais nervosa e ansiosa.
— Souberam da novidade? — comentou a modista.
— Qual? — Lady Violet a olhou curiosa.
—
Lady Lewis anunciou em seu jornal sobre a visita do príncipe de Mônaco a Londres, sobrinho de vossa majestade, o rei George — relatou ela, voltando seu olhar para a jovem. — Dizem que ele está à procura de uma donzela para desposar.
— Devo concordar com Lady Lewis quando ela disse que esta temporada está surpreendente — comentou a tia, olhando para a sobrinha.
— Ainda mais considerando o fato de vossa senhoria August Grimaldi ter uma pequena rivalidade com o nosso príncipe — acrescentou Tatou, de forma instigante.
Em sua mente, Lady Violet já estava certa de que já estava a um passo do altar e de se tornar duquesa ou, quem sabe, princesa. De fato, o passeio de domingo havia me rendido muitos assuntos ao longo da semana e todos os olhares estavam fixos na Bridgerton, uma consequência decorrida do jantar em sua casa que levou ao pensamento da aristocracia inglesa que uma disputa por seu coração estava sendo travada pelos amigos.
Entretanto, curioso o fato de somente ela saber a parcial verdade por detrás dos acontecimentos.
— Tenho certeza que muitas mães se matarão para conquistar a atenção de vossa alteza para suas filhas — comentou lady Violet, se sentindo segura.
— Ah sim, quem não quer ter uma filha princesa. — Concordou mademoiselle, fazendo suas insinuações para recolher alguma fofoca. — Felizmente, a senhorita Bridgerton não precisa se preocupar, já que conquistou dois dos melhores pretendentes da temporada, um príncipe e um duque.
se pegou com o pensamento distante. Sua mente parou na parte em que a modista mencionou sobre o tal príncipe de Mônaco e a famigerada rivalidade. Ela se lembrava raramente de uma visita do tal homem anos atrás, em um evento da rainha que também participou.
— A única coisa que podemos assegurar é que minha querida sobrinha se casará nesta temporada — disse lady Violet, convicta de suas palavras.
Claro que nesta parte seu tom fora um pouco mais alto para que as outras senhoras que haviam no lugar escutassem, principalmente lady Featherington que acompanhava sua afilhada Freya Wintehall. Terminando a conferência dos ajustes no vestido, e sua tia retornaram para casa. Coincidentemente seu irmão estava na sala à espera de ambas.
Bridgerton havia passado os últimos dois dias em intenso silêncio tentando entender o que havia acontecido com ele e a senhorita Sollary. Mais ainda intrigado pelo que tinha lido na carta, que carregava sua caligrafia mas que não havia sido escrita por ele. Ele não queria admitir o óbvio, entretanto, não poderia adiar a conversa com sua irmã.
— , posso lhe falar por um instante? — pediu ele, antes que a jovem se ausentasse.
— O que desejas irmão? — Ela o olhou curiosa.
— Me acompanhas ao jardim? — Ele estendeu a mão para que ela seguisse na frente.
A jovem assentiu e deu o primeiro passo para o corredor em direção à porta para o jardim. Lady Violet ficou um tanto intrigada pelo pedido do sobrinho, porém manteve o coração tranquilo quanto a isso. Ela tinha algumas cartas para responder aos filhos, contando as novidades da atual temporada em Londres.
— Diga, irmão, o que desejas? — disse com serenidade, ao se colocar em frente ao canteiro de tulipas.
— Peço que sejas sincera comigo e não mintas. — Ele parou ao seu lado, mantendo o corpo voltado para a irmã.
— ?! — Ela se virou para ele. — Estás a me assustar agora.
— Esta carta — ele ergueu a mão e mostrou —, devo pensar que vós a escreveu em meu lugar?
— Hum?! — Ela engoliu seco e pegou o papel de sua mão.
Um frio passou por seu corpo, ainda mais perante o olhar furioso de seu irmão. Ela tinha dois caminhos, confessar que realmente era a arquiteta por detrás daquela carta, ou manter-se em silêncio guardando seu segredo. Seu olhar se voltou para o papel e leu em voz alta o que estava escrito.
— Irmão… Não imaginava que houvesse sentimentos vossos pela senhorita Sollary. — Ela voltou o olhar para ele, se fazendo a surpresa.
— , não finja, sabes que não fui eu quem escreveu isso — ele retrucou para que ela confessasse.
— Se não fora vós, quem seria, irmão? — perguntou mantendo a ingenuidade. — Esta caligrafia é exatamente igual à vossa e possui o selo da família.
O soar inocente de sua voz era surreal para vosso irmão.
— Não tens nenhuma ideia?! — Ele deixou sair em tom de ironia, querendo saber até onde ela iria com sua negação.
— , não achas que deveria aceitar vossos sentimentos e se declarar para ela ao invés de tentar encontrar uma forma de negar tudo e fingir que não aconteceu? — disse ela numa forma de aconselhamento.
— O quê?! — Ele bufou de leve, indignado.
— Isso mesmo, deverias sentir vergonha pelo que está me perguntar. — Ela cruzou os braços, se fazendo de irritada. — Se estás encantado pela senhorita Sollary, seja um cavalheiro e admita, como podes escrever-lhe algo assim e agora ignorar?
— , não fui eu quem escreveu. — Ele intensificou seu olhar de reprovação para ela.
— Tens certeza? Ou vosso ato de negação é somente uma demonstração de covardia? — Ela deu um passo para se afastar. — Deverias sentir-se envergonhado, irmão.
Ela voltou-se para casa e seguiu caminhando a passos seguros e prudentes. ficou estático por um momento, até começar a rir no automático. Ele conhecia bem vossa irmã e sabia quando mentia, o que, no caso, estava a fazer naquele momento.
— O que fizeste ?! — sussurrou ele, mantendo o olhar na irmã que já entrava na casa.
De certa forma, mesmo não tendo sido ele, havia se sentido um pouco agradecido pelas interferências da irmã. Mesmo que não quisesse admitir, suas curiosidades pelo belo diamante raro o deixava inquieto ao longo do dia. Mais do que imaginou ficar por uma donzela novamente.
Ao que me parece, caros leitores, nosso querido lord Bridgerton também possui sentimentos que devem ser confessados.
poderia fugir daquela situação entre vosso irmão e a amiga, porém, de seus problemas ela não conseguiria tal sucesso. O plano já estava traçado com a ajuda de vossa graça e só faltava o grande dia para que tudo se revelasse a ela. Mais uma vez, ao entrar em vossos aposentos e se aproximar da cama, sentou na mesma e retirou a carta de vossa alteza debaixo do travesseiro.
Neste instante seu coração acelerou involuntariamente ao sentir o leve perfume que aquele pequeno papel exalava. Se era proposital ou não, não saberia, mas seja o que fosse escrito ali, ela desejava ouvir da própria pessoa que o escreveu, então, sem o menor remorso, ela abriu a gaveta e colocou a carta na página central do livro que lia antes de adormecer.
Somente desejando esquecê-lo.
Este poderia ser considerado o dia repleto de corações angustiados.
Tanto que uma visita inesperada ocorreu na casa da família Bourbon. se assustou quando a criada anunciou a presença da senhorita Sollary na sala de estar. Nosso delicado rubi, ajeitou o vestido em seu corpo e envolveu um xale nos ombros. Ao sair do quarto, desceu as escadas e seguiu para a sala. Pelo caminho ela percebera a falta de alguns quadros que existiam dias atrás nas paredes de sua casa. Além de muitas preocupações com seu futuro, nosso rubi inesperado ainda tinha que lidar com a realidade financeira de sua família.
— . — Seu olhar ainda se mantinha surpreso com a presença da amiga ali. — O que fazes aqui?!
— Não consegui escrever uma resposta quando li o vosso bilhete e apenas deixei que meu corpo me conduzisse até a vossa casa — confessou ela, com um olhar desesperado. — Preciso desabafar com uma amiga e não podes ser a .
sorriu de leve e, tomando impulso, abraçou a amiga que retribuiu.
— Sinto que também preciso compartilhar meus sentimentos com alguém, mas também não pode ser a — concordou a senhorita Bourbon.
— Por que não?! — a olhou confusa e curiosa.
afastou-se um pouco, desviando o olhar com timidez.
— Amiga — segurou em sua mão —, vejo que estás mais aflita do que eu, podes contar primeiro.
— Oh não, meu bilhete para vós a trouxe aqui, então certamente vosso problema é maior ou mais complexo. — Ela estendeu a mão para o sofá. — Sente-se aqui e diga-me primeiro. Aceitas um chá?
— Oh, acho que seria bom para acalmar-me. — Assentiu ela.
— Pedirei à criada. — manteve a suavidade no rosto e olhou para a criada, única que restara na casa. — Franchy, poderia nos trazer um chá de camomila, por favor, e peço que nos deixe à sós depois.
— Sim, senhorita. — A criada se retirou em direção à cozinha.
Então voltou o olhar para a miga.
— Diga-me então, , o que houve? — indagou.
— Nem sei por onde começar… — Ela soltou um suspiro cansado. — Venho perdendo minhas noites de sono há dias, apenas por pensar em alguém que não deveria.
se manteve atenta às palavras da amiga, sentindo-se na mesma situação.
— Em quem tens pensado? — perguntou .
— Lord Bridgerton — disse a amiga, em um tom baixo. — A primeira vez que o vi foi no baile de Lady Danbury… Ele…
Sollary, a primeiro momento, sentiu-se aliviada de certa forma por finalmente dizer em voz alta para alguém confiável, porém depois respirou fundo, lembrando-se do dia ocorrido em sua mente. Logo uma leve e inesperada brisa passou por seu corpo, ao pensar no olhar de em sua direção no jantar de lord Brook. Evento esse que ganhara duas amigas.
— Ele derramou limonada em meu vestido naquele dia — continuou ela a contar sua história. — Eu não sei exatamente o motivo, mas desde aquele dia seu olhar não me sai do pensamento… , ele me enviou um vestido como pedido de desculpas formais pela limonada, por qual motivo tal cavalheiro se daria o trabalho de encomendar um vestido para mim, se não houvesse interesse?
continuou em silêncio, um tanto estática por não saber como reagir aos desabafos da amiga.
— Mas isso não chega a ser a parte trágica de tudo, lorde Magnus tem se mostrado inclinado a pedir minha mão… E no domingo eu me perdi dele propositalmente para me encontrar em oculto com lorde Bridgerton.
— Fizeste isso? — Ela levou a mão à boca, sentindo-se admirada pela coragem de . — Fostes tão corajosa, eu não teria tamanha ousadia.
— Corajosa? , o que eu fiz poderia desonrar minha família, e para que? Sair ainda mais frustrada, o que achei ser não era, lorde Bridgerton certamente não se importa se tenho ou não sentimentos por ele, nem sequer lembrava do vestido, se comportou como um… — reprimiu sua raiva e tristeza. — Eu não posso estar apaixonada por alguém que nem mesmo se importa, não posso continuar a tomar minhas noites pensando no irmão de uma amiga, ainda mais sendo cortejada por outro.
Sollary abaixou o olhar, sentindo seu coração apertado. Desejava mesmo não ter alimentado nenhum tipo de ilusão sobre o presente que recebera. O olhar da anfitriã se voltou para a criada que trazia nas mãos a bandeja com o chá. Ao colocar em cima da mesa de centro, retirou-se de imediato como pedido. Nossa senhorita Bourbon serviu primeiro a xícara da amiga lhe entregando e depois a vossa como aprendera com a tia na temporada ao campo.
— Mas estás a gostar de lorde Bridgerton? — indagou , ao dar o primeiro gole saboreando o chá.
— Tenho medo de minha própria resposta. — a olhou, saboreando o aroma e tomando seu primeiro gole também, sentindo as mãos trêmulas.
— Gostas dele, consigo ver em vosso olhar — afirmou o rubi, sorrindo de leve.
— Sinto-me envergonhada por isso, o que pensaria de mim?! — Ela voltou a abaixar seu olhar. — Uma leviana com os sentimentos alheios.
— Estou certa de que não pensaria nada de errado, pelo contrário, certamente se alegrará. — deixou sua xícara na bandeja, assim como a da amiga e segurou em suas mãos para animá-la. — Não és culpada por ter se apaixonado por alguém tão distante de vós, é algo surpreendente para ser honesta e se eu tivesse um irmão que lhe despertasse tais sentimentos, ficaria mais do que feliz.
— Agradeço por vossa amizade. — se inclinou e a abraçou de imediato. — Como é reconfortante poder compartilhar isso com você.
A Sollary parou por um momento de se atentar às catástrofes de sua vida e finalmente notou um olhar tristonho de sua amiga. Agora ela que segurou a mão de , suavizando o olhar, curiosa para descobrir o que a afligia.
— Por vosso olhar, percebo que suas aflições também são perturbadoras — comentou .
— Não consigo nem mesmo forças para pronunciar tal coisa. — reprimiu ainda mais suas emoções que afloravam como lágrimas no canto do olho. — Certamente vais me achar uma invejosa pecadora.
— , céus… Como podes se classificar assim? — Aquilo impressionou a Sollary.
— Como devo classificar-me então, meu coração está a se inclinar para alguém que não me pertence — confessou ela, entrelinhas.
— Como assim?! — Isso confundiu .
— Acho que estou apaixonada por vossa graça — sussurrou a Bourbon, sentindo a voz falhar um pouco.
— Vossa graça, o duque de Whosis? — indagou . — Tenebrae?
— Sim… Juro que não foi proposital, mas estou sentindo um peso em meu coração por , como posso dizer tal coisa a ela? Seria de fato egoísmo de minha parte. — As lágrimas rolaram no rosto de .
apenas a abraçou novamente, sem saber como confortá-la.
— Por certo que a vossa situação é bem mais embaraçosa que a minha — comentou ela, mantendo o abraço. — Uma coisa é se apaixonar pelo irmão, outra pela corte da amiga.
— Eu juro que foi antes do jantar na casa dos Bridgertons. — a olhou, tentando se explicar para que não houvesse maus pensamentos sobre ela. — Pelo menos iniciou antes… Envolvi-me em um acidente e vossa graça socorreu-me, não posso contar-lhe em detalhes, mas , eu juro que tentei ao máximo controlar meus devaneios e não criar expectativas, mas recebi uma carta de vossa graça que me deixou sem juízo…
— Como eu a entendo, minha amiga. — a olhou com gentileza e ternura. — Assim como em meu caso, não sei como a aconselhar, mas a entendo perfeitamente.
— Confesso que em alguns momentos queria ter a sorte de — disse , sentindo uma ponta de amargura. — Estou prometida a um desconhecido e nem tenho a certeza se serei feliz, pior, amando em segredo outro homem.
Minhas queridas pedras preciosas passando pela mais delicada e incerta fase da temporada, a de descobrir seus sentimentos e não saber se serão correspondidos no futuro. Ser cortejada por um cavalheiro não é sinal de casamento, pelo contrário, o mundo dá constantes voltas. Assim como e tinham seu futuro desconhecido, talvez até mesmo poderia ter surpresas em dias próximos.
O fato é que ao final da semana, todos esses seis corações confusos e desorientados estarão apenas esperando a coragem para confessar seus segredos mais escondidos.
Lady Lewis.
Eu perdi minha cabeça,
Desde o momento em que te vi.
Só de estar ao seu lado, meu mundo fica em câmera lenta,
Por favor, diga se isso é amor?
– What Is Love / EXO
X. Vauxhall
Quando o brilho do sol se apaga, ainda temos as luzes da noite para manter as esperanças acesas. E nosso tão esperado Vauxhall se iniciava numa calorosa noite de domingo, iluminando da forma mais sublime e graciosa nosso jardim londrino, com os nobres mais conhecidos e importantes presentes no local. As atrações deram início à noite com seus fogos de artifício.
Um olhar tímido em questão estava deslumbrado com as luminárias de garrafas penduradas em longos varais de barbantes, trajando um vestido simples de tons sóbrios, apenas seus cabelos avermelhados lhe proporcionavam cor, juntamente com as bochechas coradas devido a presença do cavalheiro ao seu lado. Sim, meus caros leitores, estou falando de nosso rubi inesperado, que fora pega de surpresa pelo cumprimento do convite de vossa alteza. O príncipe se mantinha com o olhar confiante de braço dado com a jovem, apenas saboreando os olhares confusos e curiosos em sua direção.
— Retiro o que disse, vossa alteza, receio não estar nenhum pouco à vontade nesta situação — confessou agarrando de leve no braço dele. — Todos esses olhares em nossa direção me fazem ficar com receio de estragar tudo.
— Não se preocupe, senhorita Bourbon — disse ele confiante, mantendo a voz baixa. — Estarei ao seu lado durante todo o evento.
Será? Pergunto-me agora qual a real intenção de vossa alteza com esta jogada. Seguindo mais adiante, estava chegando ao local acompanhada de vosso pai e irmãs. Era a sua primeira vez em um
Vauxhall, entretanto, apesar de suas curiosidades pela noite, seus pensamentos ainda se mantinham em um certo conde que lhe roubou o coração sem o menor esforço.
— Será que lorde Magnus já chegou? — perguntou Rose olhando entre os rostos presentes tentando avistar o que procurava.
— Irmã, quanto entusiasmo por alguém que nem é vosso pretendente. — Daisy permitiu seu comentário soar com sarcasmo.
— Não implique com ela, Daisy. — tentou defendê-la e por certo que não se importava em ter a irmã interessada pelo marquês.
Pelo contrário, não conseguia mesmo se imaginar seguindo mais a fundo nas investidas do homem que se mostrava mais certo que a desejava como noiva. O olhar de nosso diamante bruto estava à procura de outro cavalheiro e, nesta busca, acabou por avistar sendo conduzida ao espaço de dança por vossa alteza.
Devo lhes contar que lorde Bourbon estava em um misto de preocupação por sua filha já comprometida estar acompanhada pela realeza, e orgulho. Afinal nosso rubi inesperado que ano passado era a chacota da sociedade, este ano tem se mostrado um dos destaques da estação. Lamentável que a situação econômica de sua família seja um dos impedimentos para mais interessados em sua pessoa.
— — sussurrou ela, mantendo a atenção na amiga. — Por essa eu não esperava.
— Menos ainda eu. — A voz de soou ao seu lado, a assustando um pouco.
— ?! Quando chegaste? — perguntou , voltando o olhar para ela.
— Há poucos minutos e já sinto-me perplexa pela cena que presencio — confessou a jovem.
olhou mais adiante, se deparando com a aproximação do irmão dela. Mantendo-se alheia a isso, apenas desviou o olhar para suas irmãs que seguiram se dispersando pelo jardim.
— Senhorita Sollary, senhor Sollary, boa noite — disse , mantendo o olhar fixo em .
Nosso diamante bruto apenas acenou com a cabeça e abaixou o olhar, evitando encará-lo após os acontecimentos na confeitaria que a fizeram entender seus sentimentos.
— Boa noite, lorde Bridgerton — respondeu o senhor Sollary. — Boa noite, senhorita Bridgerton.
— Boa noite, senhor Sollary — o cumprimentou, mantendo sua atenção no casal inesperado em sua primeira dança da noite.
pegou a amiga pelo braço e a puxou para longe dos cavalheiros. Não conseguiria permanecer mais um minuto próximo ao conde Bridgerton, fingindo que não havia lhes acontecido nada.
— Por qual motivo me trouxe para a mesa de doces? — perguntou , confusa por suas ações.
— Só precisava de um pouco de ar — explicou . — E você? Está tudo bem, e o príncipe dançando juntos?
— Devo confessar que não esperava por isso e vê-lo ao lado de outra, mesmo sendo uma amiga, faz sentir-me mal de uma forma estranha. — A voz de falhou um pouco.
— Está se apaixonando por sua alteza? — perguntou diretamente. — Pensávamos que estivesse inclinada ao duque.
— Bem, eu também achei, mas meu coração tem me pregado peças — confessou a Bridgerton. — Além do mais, tenho por certo que os olhares de vossa graça estão em outra direção.
— E agora? O que acontecerá? — olhou para a direção de .
Sabendo das aflições da amiga e seu amor secreto por Tenebrae, estava mais do que confusa pelas informações descobertas. Em um piscar de olhos, lorde Robert Magnus se aproximou delas convidando a Sollary para a próxima dança.
— Bem… — recuou um pouco, voltando o olhar para .
— Não se preocupe comigo, não podes recusar um convite tão nobre como este. — assentiu para a amiga.
Mesmo com as iniciativas do marquês, a Bridgerton sabia que algo em oculto acontecia entre o irmão e a amiga.
Como? Através do olhar de ambos um para o outro, assim como a inesperada abordagem de no jardim de vossa casa. E isso a deixava em borbulhos de curiosidade. Seguindo a Sollary com o olhar, continuou onde estava, apenas esperando por seu parceiro de plano. Não demorou até que vossa graça se aproximou dela em silêncio, apenas estendendo a mão para que seguissem como planejado.
Assim estavam três curiosos casais no espaço de dança, para desfrutar da alegre canção tocada pelos instrumentistas. e , e lorde Magnus, ambos sendo observados com amargura por , inconformado com o traçado dos acontecimentos. Por último e não menos importante, e , que arrancaram um olhar atravessado de vossa alteza.
No meio de tudo isso, meus caros leitores, estou eu desfrutando deste sublime momento e aguardando pelos próximos atos.
E a noite só estava no início.
No final da terceira dança, pediu um tempo à vossa alteza, pois precisava se refrescar com uma limonada e recarregar as energias. Pela primeira vez em um evento da sociedade londrina, nossa querida Bourbon estava se divertindo e mantendo o sorriso no rosto com espontaneidade. O fato era que nosso rubi não tinha o costume de ser tirada para dançar. Menos ainda por alguém tão habilidoso de conversas descontraídas como .
— Senhorita Bourbon? — A voz de vossa graça soou atrás da jovem, o que a fez estremecer internamente.
— Vossa graça. — Ela voltou-se para ele, porém manteve o olhar baixo e reverenciado. — Boa noite.
— Pensei que não viria, não a tenho visto nos últimos eventos — comentou ele, com o semblante sério.
— Confesso que após o jantar de lorde Brook, não tenho me sentido confortável em grandes eventos. Apenas estou aqui por dever uma dança ao príncipe — explicou ela, pausadamente, segurando suas emoções internas. — Após me acompanhar no passeio no domingo, ele fez-me prometer uma dança.
— Curioso, pois segundo meus cálculos, contei três danças — retrucou ele, com a voz mais áspera e fria.
se encolheu um pouco, não entendendo a postura do homem que lhe indagava. Ele não era próximo.
Por que parecia se importar tanto? O que a confundia ainda mais.
— Vossa graça. — Lorde Brook, por um inesperado infortúnio da noite se aproximou dele e, olhando a jovem, estendeu a mão. — Dar-me-ia a honra de uma dança, senhorita Bourbon?
— Não — respondeu o duque em seu lugar, de imediato.
Isso fez com que lorde Brook o olhasse um pouco intimidado.
— Perdão? — Brook pigarreou um pouco.
— Ouviste muito bem, a senhorita Bourbon não dançará convosco, pois a próxima dança será comigo — informou seguro de suas palavras. — E a próxima também, até o final da noite.
Lorde Brook deu um sorriso sem graça e se retirou em seguida.
— Vossa graça, não o entendo. — Ela o olhou perplexa.
— Gostaria de lhe fazer um pedido. — Seu olhar se manteve sereno para ela, mesmo estando sério.
— Diga, meu senhor. — Ela manteve sua atenção no homem enigmático à sua frente.
— Prometa-me que não voltará a dançar com qualquer outro homem — pediu ele.
Um surto, eu diria! E não falo na mente de nossa delicada Bourbon, mas sim em minha mente. Quanto mais tento entender vossa graça, mais fico embasbacada com tamanho charme e mistério que o rodeia. Principalmente por seus atos recentes. Um cavalheiro que me tira o fôlego apenas por apreciar esta bela história.
— Meu senhor, não sei se é de vosso conhecimento, mas estou comprometida a um casamento do qual não conheço o noivo. — Ela começou a explicar-se, procurando pelos melhores argumentos. — Como posso prometer tal coisa e na manhã seguinte ser forçada a uma valsa com meu futuro marido?
O coração dela já estava acelerado com o olhar intenso que emanava dele que, segurando sua mão, perseverou no pedido.
— Apenas prometa-me — disse ele.
— Isso é uma loucura — sussurrou ela. — Mas eu prometo, vossa graça.
Um sorriso discreto surgiu no rosto de , deixando-a ainda mais vulnerável aos sentimentos que se inclinam para o duque.
Agora é a hora que digo que as engrenagens começam a se encaixar? Hum… Por certo que pouco mais afastado, estava observando sua amiga com o duque. Seu plano não estava conforme esperava, mas sentia uma esperança inusitada. Quando, de repente, fora abordada por vossa alteza.
— Foste deixada? Pelo menos não na porta do altar. — Ele brincou ao se aproximar, recebendo um olhar fuzilante dela.
— O que desejas com vosso comentário inoportuno? — Ela voltou o olhar para frente. — Não fui abandonada por ninguém, se não percebeu, vim apenas acompanhada por meu irmão e minha tia.
— Hum — resmungou o homem.
— Mas é claro que não negaria uma dança ao duque. — Continuou ela, sem se importar com ele.
— O que desejas com isso? — perguntou . — Ignora-me quando estou perto, se move de forma a chamar-me a atenção e quando está longe mantém o olhar em mim.
— Não sei do que está falando. — Ela deu de ombros.
— Estou a um passo de enlouquecer com vossa… — Ele parou por um momento encarando-a. — O que desejas de mim, senhorita Bridgerton? Por vosso olhar, não acho que esteja arrependida de quebrar nosso acordo, entretanto, não consigo vê-la mais interessada em ser uma duquesa também.
— Tocaste no ponto certo — disse ela, mantendo a segurança na voz. — Não quero mais um mero acordo que pode me ferir no final, e quanto a ser uma duquesa, não vem ao caso… Mas estou cansada de incertezas em minha vida, é o meu futuro que está em jogo e apenas desejo a verdade.
— De qual verdade falas? — indagou.
— Do que sentes por mim — explicou ela, tomando coragem para continuar. — Pude ver nitidamente vosso desconforto ao ver-me com vossa graça desde o passeio no último domingo, não achas que percebi forçar vossa presença? E mesmo que tenhas disfarçado, alteza, ter convidado a senhorita Bourbon para o acompanhar no Vauxhall de hoje, seus olhares para mim não lhe deixaram enganar.
— Não sei do que estás falando. — Ele se virou para afastar-se dela.
ainda vivia em seu misto de indecisão. Ao mesmo tempo que havia coragem para enfrentar , lhe faltava a mesma para encarar .
— E agora vais mesmo fugir de mim!? — Ela insistiu, indo atrás dele.
Quanto mais o príncipe se afastava da multidão, mais o seguia.
— E ainda me ignoras — continuou ela.
— Não deverias vir atrás de mim. — Ele parou e a olhou. — Não coloque a vossa honra em risco por alguém como eu. Como disse antes, um homem de tal fama não merece alguém como a senhorita.
Uma ponta de insegurança estava ardendo dentro de vossa alteza, talvez pela notícia da chegada do primo, por não querer que Grimaldi descubra seu interesse pela pérola intocável. Talvez por inúmeros outros motivos, ele esteja tentando afastá-la.
— Depois de toda provocação desde o início da noite, como poder dizer tais palavras? — Ela se sentiu confusa e irritada. — Vejo que está lutando para afastar-me e desejo saber o motivo.
— Desejas mesmo saber a verdade? — indagou ele.
— Sim, foi para isso que vim esta noite. — Assentiu segura.
— Não há um só dia que eu não pense em vós — ele disse alto e claro. — Passo minhas noites em claro com vosso rosto a atormentar-me os pensamentos. Minhas mãos suam e meu corpo se aquece quando me aproximo de vós, e desejo tanto tocar-te…
Ela permaneceu em silêncio, estática pela declaração. Não imaginava ouvi-lo pronunciar de forma tão aberta o que sentia.
— Mas quando a olho, realmente parece algo inalcançável para mim… — continuou ele, reunindo sua coragem. — Fico me perguntando se conseguiria fazer-te feliz por meu passado, e penso que exista alguém melhor que eu para vosso futuro.
— Vossa alteza… — ela começou a sussurrar.
— Na carta que me escreveste, perguntou se eu conseguiria ser o homem de uma só mulher. — Ele respirou fundo para finalizar suas palavras. — Desde que essa mulher seja a senhorita, Bridgerton, eu seria inteiramente teu.
O coração de acelerou de imediato. O que a levou a sentir-se internamente estremecida. O que iniciou com uma fuga, terminou na mais inesperada declaração de amor.
Mas a noite continua. E do outro lado do jardim.
Após se afastar de lorde Magnus com a desculpa de procurar pelas irmãs gêmeas, fora abordada por que a pegou pela mão, a conduzindo para o labirinto de tecidos que fora montado na parte leste do jardim.
— O que pensas que estás a fazer? — Ela soltou de sua mão, olhando-o sério. — Estás louco?
— Talvez sim, muito provavelmente, mas se não fizer nada neste momento, sinto que perderei a oportunidade. — Ele começou a se explicar.
— Oportunidade para que? Mentir novamente e fingir que nada aconteceu? — Ela o confrontou.
Sentia as pernas bambas, porém permanecia firme.
— Perdoe-me, talvez não tenhamos dado espaço para as devidas explicações e… — Ele procurava pela melhor forma de se expressar. — Não vou admitir algo que não fiz, mas peço-te uma chance de começar de novo.
— Começar de novo? — Ela deu um passo para trás. — Não sabes o que eu arrisquei ao encontrar-te naquele lugar, minha honra fora colocada em risco por algo que não valia a pena.
— Mas se estava lá, é porque havia sim um valor para vós — insistiu ele.
— Disseste bem, apenas para mim — concordou. — Algo que não importa agora.
Ela tomou impulso para se retirar.
— Espere, por favor. — segurou em sua mão, mantendo um olhar singelo.
sentiu seu coração acelerado. Sua mente confusa e sentindo-se uma traidora, pois lorde Magnus continuava lhe transmitindo interesses.
— Me dê apenas mais uma chance — pediu o Bridgerton. — Eu vos imploro.
— Eu não deveria estar aqui sozinha com o senhor — alegou ela. — Se meu pai nos visse em tal situação, nos mataria.
— Eu a deixo ir, apenas se me disser o que sentes de verdade pelo marquês. — O olhar de ficou mais intenso e fixo nela.
— Por que me perguntas isso? — Ela se mostrou confusa.
— Porque vejo a distância em vosso olhar quando ele está perto — explicou , certo de suas avaliações. — Seja sincera, o vosso coração pertence a ele?
não podia mentir, como também não tinha forças o suficiente para encarar a verdade.
— Senhorita Sollary! ! — As vozes de lorde Magnus e o senhor Sollary soaram próximo.
Uma deixa para a jovem donzela que precisava de uma desculpa para fugir da pergunta de Bridgerton.
— Como eu disse, não deveria estar aqui. — Ela deu mais um passo para se retirar.
também se moveu para impedi-la novamente. Ele não aceitava o silêncio do diamante bruto que lhe roubou os pensamentos. Nos olhos de , era nítido, seus sentimentos estavam inclinados a ele. Só precisava de uma confirmação.
Em um movimento em falso para se afastar mais dele, o vestido de se agarrou à estrutura de madeira que prendia uma das divisórias de tecido do labirinto. Ao se desequilibrar, a jovem foi amparada por , entretanto, no calor do momento, a estrutura também se abalou, desabando na grama, derrubando ambos com ela.
— ?! — A voz do senhor Sollary soou mais à frente.
— Lorde Bridgerton. — Assim como a do marquês logo atrás.
Lá estava nosso terceiro casal, caído ao chão com o corpo do nosso diamante bruto sobre o tecido e o de sobre ela. Ambos na pior de todas as situações em que uma donzela poderia estar.
Com os olhares arregalados dos dois cavalheiros.
Um frio pelo corpo e uma honra sofrendo riscos.
Será que teremos um duelo à vista?
Lady Lewis.
Você é tão perfeita,
E eu busco um futuro ao seu lado.
Não esconda o amor, agarre a felicidade,
E seja honesta consigo mesma.
– What Is Love / EXO
XI. Honra
Quando eu era criança, minha mãe sempre me dizia: Na vida não importa a quantidade de quedas, pois o que fará toda a diferença é a quantidade de vezes que uma pessoa é capaz de erguer-se novamente. Entretanto, a queda de nosso diamante bruto não fora tão simples assim. Um ocorrido com duas testemunhas, e uma delas o próprio pretendente à corte, é de fato preocupante as cenas que viriam a seguir. E desde o início dessa história entre idas e vindas e todos os desfechos incendiários, nunca imaginei tal escândalo de causar surto no coração e nos dedos dessa singela autora.
Com seu olhar vívido em fúria e sua mente finalmente assimilando a cena à sua frente, o senhor Sollary, ao perceber que se impulsionava para levantar-se e também auxiliar , apressou-se para distanciá-lo de sua filha com um inesperado, porém, certeiro soco, derrubando o homem novamente. Nosso diamante levou a mão à boca, assustada pela reação do pai, enquanto lorde Magnus continuou em sua paralisia do momento.
Devo confessar que até eu mesma não consigo absorver tanta emoção em um curto espaço de tempo. E vou além, ao dizer que se estivesse no lugar desta infortuna donzela, provavelmente um desmaio proposital seria meu plano de escape para não ser esquartejada em praça pública.
— Papai, eu posso explicar-lhe — disse ela temendo as próximas ações do pai.
— Falaremos sobre isso em casa. — A voz áspera do senhor Sollary lhe trouxe um frio no corpo, ao segurá-la pelo pulso de forma firme. — E quanto a vós…
— Senhor Sollary… — Lorde Bridgerton, ao levantar-se novamente tentou tomar a palavra, sem sucesso.
— Poupe vossas palavras e guarde-as para o Senhor Deus, pois ao amanhecer um reparo será feito à honra de minha filha, como nos tempos antigos. — O senhor Sollary o interrompeu, enquanto segurava com mais força o pulso de vossa filha.
— Um duelo?! — perguntou temerosa.
— Nada do que acontecer a este desrespeitoso senhor é de sua conta. — Concluiu o senhor Sollary ainda mais rude e irado.
Assim que pai e filha seguiram para se retirar e passaram pelo marquês de Hamilton, o senhor Sollary respirou fundo pela vergonha que vossa filha lhe causara. Nunca em sua vida havia imaginado passar por tal situação, ainda mais com sua primogênita que tanto o orgulhava. Nem mesmo a afeição da moça por um militar havia lhe causado tanto sentimento negativo quanto o que ocorrera naquele momento.
— Perdoe-me pela cena constrangedora, lorde Magnus, espero poder repará-lo da melhor forma possível no futuro. — Antes mesmo que o homem pudesse responder tal retratação, o senhor Sollary se afastou dele, arrastando vossa filha consigo.
O olhar de Robert Magnus se direcionou para , com traços certeiros de ódio e raiva. Em sua concepção, o maior causador de toda a cena era o Bridgerton à sua frente, que por certo havia seduzido nosso diamante com a ambição de conquistar para si a bela fortuna que viria ao desposá-la.
— Lorde Magnus… — o Bridgerton já se recompondo fisicamente da reação de um pai em fúria.
— Não ouse dirigir-me a palavra, acaso achas que sou algum idiota? Sei muito bem vossas intenções acerca da senhorita Sollary. — O marquês o interrompeu dando alguns passos de aproximação. — Muito sagaz vossa jogada para forçar uma união inesperada, não imaginava tal trapaça vindo de alguém desta família.
— Do que estás a me acusar? — se pegou confuso pelas palavras do homem.
Era certo que tal ocorrido deveria ser classificado como um acidente, pelo que de fato realmente foi. Entretanto, em sua mente, Robert tinha traçado inúmeras teorias da conspiração, que não o deixariam enxergar a verdade.
— Estou a afirmar que causaste toda esta situação para obviamente impor um acordo entre as famílias e tomar para si o dote oferecido pela mão da senhorita Sollary. — Magnus cuspiu as palavras, dizendo com mais clareza sua insinuação.
— Achas que sou como vós, que a tem apenas como um baú de tesouros? — retrucou o Bridgerton indignado por tais palavras. — Pois antes estava arrependido pelo que aconteceu, não por vós, mas pela honra de uma dama inocente, entretanto, agora devo dizer-lhe com sinceridade que mesmo sendo um acidente, foi a melhor imprudência que cometi em anos…Libertá-la de um homem de baixa estirpe como vós.
Ao finalizar sua declaração que mais parecia um sinal de alívio por atrapalhar a ganância alheia, nem mesmo conseguiu tempo para reagir ao soco que lorde Magnus lhe dera. Certo que nosso conde não deixaria por menos e se esquecendo de todas as regras de etiqueta e cavalheirismo que aprendera com suas tutoras de infância, revidou o soco iniciando um duelo a força bruta.
Ah, meus caros leitores, como esta autora adoraria contar-lhes inúmeras histórias de lutas de boxe que tive o prazer de assistir, afinal, em toda delicadeza há seu toque de brutalidade. Contudo, nem todas elas foram mais emocionantes que este confronto que nos apresenta. Impossível não saberem para quem estou torcendo e, por mais que eu deva ser imparcial em nossa história, seguindo as preocupações de um certo coração de diamante rumo ao lar…
Devo então me preparar para anunciar o vencedor? Por ora, para estragar nosso momento de tensão, eis que surge vossa alteza acompanhado de dois outros senhores. Nada como alguns cavalheiros alheios ao assunto para encerrar o embate e distanciá-los o máximo que pudessem. E digo-lhes que estou admirada por tamanha força de vossa alteza, por arrastar lorde Bridgerton para a direção oposta.
— Solte-me! — gritou o conde pela última vez, ao finalmente voltar à sanidade.
— Irmão, o que houve para que tenha se deixado na situação de trocar socos com o marquês Magnus? — perguntou que fatidicamente presenciara tudo, pois a mesma havia seguido as altas vozes juntamente com o príncipe.
— Fora sorte eu e o duque termos chegado ao lugar antes de outras pessoas — comentou vossa alteza, com um sorriso de canto presunçoso aparentemente, sentindo graça pelo ocorrido. — Mas se quer saber, acho que você estava ganhando.
— Não me respondeu, irmão. — Insistiu ela. — O que aconteceu?
— Desculpe-me pela vergonha, . — Ele respirou fundo e se recompôs. — Agradeço por vossa interferência, vossa alteza, mas creio que este é um assunto familiar que tratarei em particular com minha irmã.
— Imaginei que dissesse isso, não irei impor minha curiosidade. — O príncipe deu um passo para trás. — Senhorita Bridgerton, tenha uma boa noite, lorde Bridgerton.
Assim que vossa alteza se distanciou deles, o olhar de voltou-se desconfiado para a irmã, que se mantinha séria à espera de respostas. Afinal, lorde Magnus não era qualquer cavalheiro, mas sim o famigerado pretendente de sua amiga que tanto se esforçava para transformar em cunhada. Nossa pérola não queria tirar conclusões precipitadas, entretanto uma ponta de esperança lhe ardia no coração.
— O que fazia próxima a vossa alteza? — perguntou , não deixando-a nem mesmo voltar ao assunto inicial.
— Achas mesmo que desviar o foco para mim lhe trará a chance de encerrarmos por aqui? — Ela cruzou os braços. — Não deixarei que a presença do príncipe lhe distraia, irmão, ainda me deve uma explicação.
— Não lhe devo — disse ele.
— Há minutos disse que falaríamos em casa, pois então vamos — relembrou ela.
— Vamos sim para casa, porém não lhe direi nada ao chegarmos. — Ele deu o primeiro passo para irem.
— Como assim? — Ela manteve sua indignação. — Então devo ir diretamente a causa de tudo isso?
— Do que estás a falar? — Ele a olhou confuso.
— De , estava aos socos com o marquês por ela, não é? — supôs . — E não negue o que é óbvio, vosso olhar o condena, irmão.
— Odeio quando faz suas suposições — comentou ele, voltando a andar.
— Se odeia é porque sabe que todas são verdadeiras e precisas — replicou ela. — Agora conte-me tudo o que aconteceu.
— Vossa pessoa me anda mais bisbilhoteira que a própria Lady Lewis — brincou ele, rindo baixo. — Deverias ser mais discreta, irmã.
— E morrer na curiosidade?! — retrucou ela.
queria mais é saber se vossos esforços haviam valido a pena. Afinal, seu objetivo para a temporada não era apenas encontrar o amor de sua vida e formar sua própria família, mas também ver suas inesperadas amigas serem felizes também.
Distante de toda a confusão causada na área do labirinto de tecidos, lá estava nosso amado duque de Whosis em sua quarta dança com o rubi inesperado. Para alguém que na última temporada nem mesmo conseguiu se apresentar com segurança para vossa majestade, obter a honra de dançar com dois cavalheiros de alto nível fora além do que poderíamos imaginar. Me pergunto agora se o misterioso noivo de lady Bourbon sabe de todas estas honrarias, e se as vê como uma forma de valorizar a imagem de sua noiva.
— Vossa graça, perdoe-me, mas acho que minhas pernas não querem mais me acompanhar — comentou ela, ao final da canção.
— Eu que devo desculpas, não me atentei às vossas condições físicas. — Ele manteve seu olhar sério, porém sereno.
— Não há o que se desculpar, meu senhor. — Ela abaixou o olhar, ainda se sentia envergonhada por estar ali diante dele por tanto tempo.
No fundo, lorde Tenebrae apenas queria descontar as três danças de com vossa alteza, apesar de não admitir para si mesmo o sublime ciúme que inconscientemente se permitiu sentir da jovem.
— Vossa graça, é uma honra tê-lo visto dançar com minha filha, entretanto, acho que é o momento oportuno para nos retirar do Vauxhall — disse lorde Bourbon, ao estender a mão para a filha. — Vamos, querida?
— Sim. — assentiu prontamente, afastando-se do homem para se aproximar do pai.
— Permita-me oferecer minha carruagem para levá-los em casa — disse , antes mesmo que pudessem se retirar de sua presença. — Observei quando chegaram com vossa alteza, presumo que não tenham como retornar.
— Vossa graça, não tenho palavras para tamanho cavalheirismo de vossa parte, e estou inclinado a aceitar vosso convite — respondeu lorde Bourbon.
O duque de Whosis sorriu de canto de forma disfarçada, mantendo o olhar em . Nosso rubi, entretanto, se manteve encolhida e envergonhada pela intensidade que emanava dele.
Assim que se despediram nos portões em frente à sua casa, recebera um bilhete de seu amigo Magnus pedindo para se encontrarem no clube. Certamente uma conversa de desabafo que renderia longas horas e algumas garrafas de vinhos consumidas por parte do marquês.
Já nosso rubi inesperado apenas conseguia se sentir derretida internamente. Um misto de surpresa e conquista a fazia ansiar pela felicidade de poder sonhar com o homem que lhe acelerava o coração. Por mais que racionalmente ela deveria preocupar-se com o tal noivo, seus sentimentos eram visivelmente mais fortes.
— A senhorita está com um brilho a mais no olhar — comentou Franchy, sua criada, ao ajudá-la a se trocar.
— Sim, a noite de hoje foi mágica como sempre dizem do Vauxhall. — deu alguns rodopios pelo quarto, sentindo-se nas nuvens. — Franchy, desejo-lhe para toda a vida, a mesma felicidade com que fui agraciada nesta noite.
— A senhorita conheceu vosso noivo? Ele é um nobre de boa família? — perguntou a criada.
— Não. — Logo a realidade voltou em sua mente, fazendo-a deixar de lodo a empolgação.
Ao assentar em sua cama, um longo suspiro veio juntamente com o olhar caído.
— Poderia se retirar agora? — pediu , abalada.
— O que aconteceu, senhorita, algo que eu disse? — indagou Franchy preocupada.
— Não, está tudo bem, só preciso descansar. — Uma desculpa nada convincente, mas necessária.
Após a saída da criada, nosso rubi inesperado trancou a porta de seu quarto e deitou-se na cama. Mesmo que seu futuro fosse oculto e totalmente um mistério, ela não deixaria que o sonho vivido naquele Vauxhall fosse apagado de sua memória. Pelo contrário, desejava mesmo uma singela continuação da noite em seus sonhos, com direito a não acordar cedo para que pudesse aproveitar ainda mais.
Me atrevo a dizer que após esta sequência de danças com vossa graça com direito a ser levada em casa na carruagem do mesmo, apenas fechar os olhos e sonhar ainda é pouco para o coração de uma autora que anseia ver este casal juntos de verdade.
Devo manter minhas esperanças?
E apesar de saber que em breve poderemos ter rumores de casamento, ou boatos de um velório…
Aqui estamos na mansão da família Sollary. Voltando um pouco na sequência de acontecimentos em que as irmãs de ficaram confusas e intrigadas pela forma que o pai as intimou para retornarem ao lar. Ainda enfurecido, a primeira ordem que dera assim que colocou os pés na residência, fora ordenar a permanência contínua do diamante raro em seu quarto por tempo indeterminado.
— Pai, o que pensas em fazer?! — se atreveu a indagar no percurso do caminho em que era arrastada pelo pai em meio ao corredor dos quartos.
— Pai, o que a fez? — perguntou Rose, sendo seguida pelas irmãs, que se mantinham assustadas por tal ato de vosso progenitor.
— Achas que deixarei barato a desonra causada em nossa família? — Ele parou em frente ao quarto da filha. — Aquele homem não viverá para ver nosso nome na lama.
— Pai, por favor, duelos são ilegais, o senhor pode ser preso ou morto, ambos podem. — tentou apelar para o bom senso do homem. — Não podes pensar em tal ato, matar alguém ou morrer por minha causa.
— Deverias ter pensado nisso antes de envergonhar nossa família. — A voz dele ficou ainda mais áspera e fria, com traços de ressentimento.
— O que fez para causar esta comoção no senhor, meu pai? — perguntou Daisy, preocupando-se com a situação.
— Já está decidido — confirmou ele, seguro de suas atitudes. — Você não sairá deste quarto, a menos que não queira mais ser minha filha.
E voltando-se para as outras meninas.
— E vocês vão para seus quartos, o que ouviram aqui tratem de esquecer — ordenou.
— Mas pai — Rose tentou argumentar.
— Obedeça, Rose. — Finalizou ele, com um tom mais elevado e assustador.
— Sim, senhor — disseram elas em coral, seguindo para seus quartos temerosas.
— Pai… — já com os olhos lacrimejados. — Eu juro que foi um acidente…
— Acidentes acontecem quando se está no lugar errado na hora errada de forma inesperada, não quando se está por vontade própria — retrucou ele, conhecendo bem vossa filha. — Quando me contaram sobre sua visita à confeitaria, achei que a tinham confundido com outra donzela, mas agora só consigo sentir desapontamento com vossas atitudes, .
— Perdoe-me, papai. — Nosso diamante raro sentiu um aperto no coração diante do olhar triste do pai. — Eu não…
— Sempre foi meu motivo de orgulho. — Ele deu um passo para trás. — Agora, é minha maior vergonha.
Antes que a primeira lágrima rolasse em seu rosto, viu seu pai virar de costas e seguir em direção às escadas. Assim como ordenado, a jovem donzela entrou em seu quarto e pôs-se a chorar por um longo tempo. Mas nem tudo estaria perdido, afinal, existem anjos em nossas vidas que costumamos apelidar de amigos. E em meio ao seu desespero, só havia uma pessoa para lhe ajudar a não deixar o pai cometer uma loucura. sabia que se endereçasse seu bilhete diretamente a , poderia ser embargado por seu pai, afinal, o sobrenome Bridgerton já estava mais do que proibido naquela casa.
— Obrigada, Daisy — sussurrou ao colocar seu envelope branco dentro do amarelo de sua irmã. — Eu contava com sua curiosidade em voltar aqui.
Sim, Daisy não deixaria para o dia seguinte algo que lhe tiraria o sono e, pela fresta embaixo da porta, poderia ser a ponte que sua irmã precisava para o pedido de socorro.
— Jamais te deixaria dormir sem me contar o que aconteceu, mas agora sabendo, estou preocupada. — Ela se abaixou para pegar o envelope que a irmã passara por baixo. — Não se preocupe, chegará ao seu destino.
— Serei sempre grata, irmã — sussurrou .
Daisy sorriu ao ouvir aquelas palavras e leu o endereço de destino. Claro que a única solução para o caso é enviar a carta à para que a mesma repassasse à .
Elas não sabiam, mas contavam com uma ajudinha divina para isso.
— Sim? — Nosso diamante estava sentado ao chão, tentando encontrar forças para chegar à sua cama.
— Posso lhe fazer uma pergunta íntima? — perguntou ela.
— O que de tão íntimo terias para me perguntar? — se viu confusa pelas palavras da irmã.
— Você disse que se encontrou na confeitaria com lorde Bridgerton — iniciou ela sua indagação — e depois, no Vauxhall, ficou sozinha com ele novamente…
— O ama? — Ela foi direta e objetiva.
Entretanto, aquela era uma resposta que nem mesmo ousava procurar responder para si mesma. O misto de sentimentos que, desde o início, sentiu por a deixava desnorteada e irritada por não compreender o que lhe acontecia internamente. A primogênita que sempre fora convicta de suas ações ao longo da vida, apenas a menção do termo indecisa já lhe causava desespero.
Esta autora não a recrimina, meu raro diamante bruto, pois há sempre uma primeira vez na vida para nos sentir oscilantes em nossos sentimentos. Principalmente quando há um certo cavalheiro que nos tira o fôlego apenas com o olhar, e desta vez não me refiro ao duque de Whosis que sempre me arranca suspiros.
Ao amanhecer o dia, não somente o coração de estava acelerado pelo duelo, como também o desta autora aflita. Admito que gosto de fortes emoções, mas quando se trata do futuro de um dos casais dessa história, não me forçarei a ver tal cena.
E afirmo que nunca desejei tanto que uma noite fosse longa.
Lady Lewis
Há curiosidade em seus olhos,
Você já está apaixonada por mim
Não tenha medo, o amor é o caminho
Meu amor, eu entendi.
– Monster / EXO
XII. Corte
Aos corações aflitos e acelerados, aqui está esta humilde autora a roer as unhas de preocupação. Todos sabemos que em histórias de romance o final feliz é sempre esperado e nunca nos decepciona, entretanto, estamos longe de um final para as nossas pedras preciosas. Há uma longa estação pela frente e lhes garanto que nossa doce primavera não quer dizer adeus tão rapidamente.
Nunca o nascer do sol fora tão agonizante assim e para , ainda mais por não saber o que se passava do outro lado da porta. Nem mesmo sua cúmplice, Daisy, conseguira lhe ajudar, pois o bilhete enviado a não havia tido nenhum retorno. Nosso diamante bruto, após uma noite em claro, se manteve ao chão em frente a porta abraçada às suas pernas. Com o olhar fixo, num misto de desespero e esperança, ouvia alguns passos apressados soando pelo corredor. Do outro lado estava o senhor Frederick Sollary dando ordens ao seu empregado mais leal, senhor Rilian, o mordomo da casa.
— Rilian, serás o meu substituto no duelo. — Reforçou o senhor Sollary tirando de sua gaveta secreta da mesa do escritório a caixa com sua arma.
— E se o senhor morrer? — perguntou o homem, preocupado. — O que acontece?
Ambos além da relação de funcionário e senhor, eram também amigos de muitos anos. Quando a família de Rillian de pequenos comerciantes de lã de ovelha faliu, Frederick logo se prontificou a ajudá-lo lhe dando um emprego como seu braço direito. A lealdade e amizade de ambos continuou sólida e crescente no decorrer do tempo, principalmente após Marie Sollary adoecer com a última gravidez. Em sábias palavras, sabemos que há amigos mais chegados que um irmão, e assim era a amizade de ambos.
— Terei a vós para cuidar de minha família e garantir que meu pequeno herdeiro cresça com saúde para administrar tudo o que tenho — respondeu Frederick seguro de suas palavras.
— Sou apenas um mordomo, ainda há tempo de desistir dessa loucura — insistiu ele.
— És mais do que apenas um mordomo e sabes disso, és meu melhor amigo, um irmão que nunca tive e confio minha vida a vós. — A certeza de suas palavras causava mais espanto no homem que o olhava ainda temeroso.
— Mas e se matar o tal conde? — Rilian manteve o olhar preocupado. — O que acontecerá? Meu amigo…
— Ainda assim, deixarei o país e à distância pedirei que continue a cuidar de minha família, só tenho a vós com quem contar. — O olhar de pai decidido e amigo desesperado ficou mais nítido, o que fez Rilian assentir com a cabeça.
— Vamos então. — O homem pegou a caixa das mãos do amigo e verificou todos os detalhes da arma.
Ainda relutante, mas certo de que não deixaria o amigo na mão, Rilian guardou a arma de volta na caixa e o acompanhou até a coxia dos cavalos. Um longo suspiro para elevar a coragem de um pai envergonhado, e a cavalgada em direção a um duelo pela honra de um diamante bruto.
Ainda presa ao quarto, se levantou ao ouvir o som dos cavalos. Sua agonia ao olhar o pai pela janela, com as mãos tremendo do que poderia acontecer por sua causa. Ela queria sair daquele quarto e impedir toda aquela loucura de acontecer, se não fosse pela promessa que fizera ao mesmo. Nosso diamante era uma donzela de palavra que sempre ao prometer algo aos pais, ainda que lhe causasse tristeza, o fazia sem pensar duas vezes.
Em sua mente a cena de sua queda sobre a grama, juntamente com lord Bridgerton se repetia várias e várias vezes. Talvez se a mesma não tivesse criado afetos iniciais pelo mesmo devido a um vestido presenteado ou insistido por entender o motivo do mesmo não admitir tal presente, ou se perder de algo certo para se encontrar com o incerto em uma loja de doces… Ela não sabia qual das situações lhe causava mais arrependimento ainda.
— ! — O som da voz de soou do corredor, chamando-a para a realidade.
— ? — correu para a porta. — O que fazes aqui, e a carta que lhe enviei?!
— Não se preocupe, está nas mãos de um amigo que pode nos ajudar. — A voz de surgiu então, a deixando ainda mais atordoada.
— O que fazes aqui, ? — perguntou ela sentindo o dobro de aflição.
— Ah, por favor. — A voz de Daisy entrou em cena, e logo o som da chave girando no trinco soou, uma girada de maçaneta e a porta se abriu.
O olhar ainda surpreso de fora recebido por abraços calorosos de suas amigas, o que a fez desfalecer brevemente nos braços de ambas. Amparada, ambas se acomodaram na cama do nosso diamante, com o olhar atento de Daisy que permanecera da porta, vigiando as outras irmãs em curiosidade que se mantinham no corredor.
— O que fazem aqui? E a minha carta? — perguntou novamente com aflição.
— Não se preocupe, vossa carta chegou até mim e fiz o que pude para ajudar — explicou prontamente. — e eu pedimos ajuda a uma pessoa.
— Vai ficar tudo bem, — assegurou convicta que seu plano de casar o irmão com a amiga ainda estava vivo.
— Meu coração está acelerado com todos esses acontecimentos e todas as escolhas erradas que eu fiz — desabafou ela, sentindo seus olhos lacrimejarem. — Não quero que ninguém morra por minha causa, nem o meu pai e nem vosso irmão, .
— Ninguém morrerá, ficará tudo bem. — A outra manteve o olhar tranquilo e a esperança acesa internamente para manter a amiga tranquila, voltando o olhar para Daisy na porta. — Foi brilhante a vossa ideia da carta dentro da carta.
— Agradeço o reconhecimento — disse Daisy com um sorriso mimoso.
— Mas nada do que eu dissesse faria meu irmão ignorar a convocação de vosso pai. — fora realista quanto a postura de um nobre cavalheiro de seu irmão.
— E agora? Esperamos? — perguntou Rose ao aparecer na porta do quarto.
— Sim, esperamos e rezamos — disse .
— Afinal de contas, quem é o tal amigo de ambas que nos ajudará? — perguntou Daisy intrigada com a informação incompleta.
— O homem mais sensato e gentil que conhecemos — assegurou com segurança.
Distante do centro de Londres e no caminho para as colinas, próximo a um carvalho vistoso estava o Dr. Green esperando pelos senhores em questão. Frederick Sollary fora o primeiro a chegar, descendo de seu cavalo aproximou-se do homem já retirando o saquitel de moedas como pagamento por sua discrição.
— O senhor tem a certeza de seus atos, senhor Sollary? — perguntou o Dr. Green, também preocupado com o homem. — Afinal, o homem é um nobre de título importante e família conhecida.
— Nobre ou não, aprenderá com a vida a não desonrar a filha de alguém. — Frederick respirou fundo. — Não voltarei atrás.
— Que assim seja, senhor. — O Dr Green olhou mais atrás, avistando lord Bridgerton acompanhado de seu primo, Gregory, que estava a passeio pela cidade.
Frederick Sollary ao perceber a aproximação, virou-se para trás fixando o olhar nele, segurando a raiva para não cometer o impulso de atirar naquele mesmo instante. Rilian apoiou a mão direita sobre o ombro do amigo o acalmando, internamente ainda tinha esperanças que o mesmo dobrasse a raiva e começasse a pensar com mais clareza e razão.
— Senhor Sollary — disse assim que desceu do cavalo, ainda envergonhado pela situação que causara o duelo. — Por favor, não me importo que queira tirar-me a vida e entendo vossa atitude, não resistirei ao duelo, meu primo é minha testemunha, mas peço que me escute antes.
— Não ouvirei uma só palavra do homem que desonrou minha casa, eu admirava vossa família, principalmente vossos tios pelo número de filhos e de como foram criados — retrucou ele, deixando a raiva transparecer.
— Senhor Sollary…
— Se não o ouvir, peço que me ouça então. — A voz de lord Tenebrae soou atrás dos senhores, seguido do relinchar de seu cavalo.
E aqui está nosso duque de Whosis, a cada vez que vosso nome aparece diante de mim, um pulsar mais forte surge no coração desta autora que vos relata. E ao descer de seu cavalo, tal homem com toda elegância e sensatez se aproximou dos cavalheiros diante dele.
— Não permitirei que este duelo ocorra sem que um pouco razão seja apresentada ao senhor — a voz de estava mais grossa e firme, num tom de autoridade que me estremece internamente —, Frederick Sollary.
— Vossa graça. — Frederick o olhou confuso por sua presença em tal ocasião. — Não entendo a vossa presença aqui, é um assunto em particular e…
— E três damas em repleto desespero são a explicação de minha presença. — voltou o olhar para . — Tens uma irmã muito cuidadosa, lorde Bridgerton.
— O que … — ele sussurrou de leve, sabia que vossa irmã não se deixaria sem respostas que o mesmo não lhe dera.
— Vossa graça, nada do que disser me fará desistir. — Seguro do que dizia, Frederick deu um passo para se preparar.
— Eu tenho a certeza do contrário, senhor Sollary, está mesmo disposto a matar um homem e viver longe de vossa família e esposa pelo resto da vida? — Iniciou ele seu argumento, fazendo-o refletir. — Há uma outra forma de reparar o acidente ocorrido, em que sua filha terá um futuro que não seja órfã ou com a família separada.
— E qual? — o senhor Sollary manteve o olhar fixo nele.
— Tenho a plena certeza que até o presente momento, mesmo com rumores de vossa procura, lorde Bridgerton não está comprometido com nenhuma dama e por certo a melhor forma de reparar tal ato é desposando vossa filha — completou ele, proferindo o óbvio que todos esperávamos. — Sei que vossa primeira opção para a senhorita Sollary era meu amigo, o marquês de Hamilton, entretanto, tenho certeza que vossa filha ainda fará um bom casamento se tornando uma condessa, sendo assim referenciada como lady Bridgerton.
As palavras do duque de Whosis fizeram ambos os cavalheiros presentes voltarem os olhares para , que internamente sentia como se quisesse tê-las proferido ele mesmo. Desde o início o que ele queria não era o duelo, mas fazer o pedido ao senhor Sollary e manter a honra de nosso diamante bruto.
Agora um pai estava a encaixar as peças em sua mente após os olhos lhe serem abertos da forma mais racional possível. Como o mesmo não havia pensado em tal saída antes? A raiva, vossa raiva fora uma pequena trave que não lhe deu a oportunidade de seguir pelo caminho mais fácil e seguro. Entretanto, agora Frederick tinha a solução diante de si e a única coisa que precisava fazer era consentir o que será a união da primeira pedra preciosa.
Que lorde Magnus não me ouça dizer isso, mas nada se compara a um Bridgerton apaixonado…
A não ser, claro, um duque misterioso ou um príncipe libertino.
E é claro que eu posso me deliciar com ambos os cavalheiros mais intensos de toda a Londres.
Lady Lewis
Eu já abri o meu coração para você há muito tempo
Você é tudo para mim, esse é o meu jeito de confirmar
Eu deveria ser cuidadoso e me amar mais,
desse jeito eu nunca irei me machucar.
– My Answer / EXO
XIII. O diamante Bridgerton
Certa vez eu ouvi de meu pai:
“O homem comum fala, o sábio escuta e o tolo discute.”
Para ele, saber ouvir era a maior virtude de uma pessoa, que demonstrava a sabedoria que ela possuía. Entretanto, em raros casos esta demonstração era necessária ser verbalizada e vinha em forma de palavras sábias que conduziam os homens a momentos de paz. E assim foi com vossa graça, ao se colocar em meio a um duelo para trazer a razão a um pai desesperado.
O cessar fogo mais esperado desta temporada!
— O que me diz, senhor Sollary? — insistiu vossa graça, esperando uma posição do homem.
— Eu não havia pensado nesta possibilidade — admitiu o homem, mantendo o olhar firme e sério em . — Lorde Bridgerton, estaria disposto a casar-se com minha filha?
— Sim, senhor, faria o que fosse necessário para reparar a vergonha que trouxe a vossa casa. — assentiu, mantendo-se sereno na expressão. — E como prova de minha sinceridade, recusarei o dote que estás a oferecer pela mão de vossa filha.
O que?! Que nosso lorde Bridgerton já demonstrava sentimentos por nosso diamante bruto, eu já havia notado, contudo, a ponto de recusar o cobiçado dote de duzentas mil libras, deixa o coração desta autora ainda mais derretido.
— Tens certeza, meu primo?! — sussurrou Gregory, em seu ouvido. — É uma fortuna considerável este dote.
O olhar ainda desconfiado do senhor Sollary se desfez com a segurança que o Bridgerton transmitia em sua decisão.
— Sim, tenho certeza. — voltou seu olhar para Frederick. — Não quero que o senhor pense que todo o ocorrido fora uma estratégia minha para casar-me com vossa filha pelo dote… Como disse anteriormente, foi um acidente e estou disposto a reparar e devolver a honra para vossa filha.
— Devo admitir que vossas palavras me surpreendem. — O senhor Sollary respirou fundo, pensando em suas próximas ações. — Está decidido então, falarei hoje mesmo com o bispo, esta união será celebrada o mais rápido possível.
— Não achas melhor esperar pelo final da temporada, senhor? — perguntou Rillian. — As pessoas podem achar estranho uma cerimônia tão rápida.
— Não me importo com o que as pessoas pensarão sobre, se lorde Bridgerton está inclinado a honrar com a palavra, esta cerimônia acontecerá no final deste mês — declarou Frederick com confiança e firmeza.
Como eu sempre digo, o frescor da primavera nos traz surpresas das quais jamais nos esqueceremos, e este quase duelo não será esquecido. No final, a interferência de vossa graça nos rendeu a confirmação do primeiro casal de nossa história.
Após mais algumas palavras, ambos os cavalheiros se recolheram em direção a vossas residências. A casa do senhor Sollary parecia mais uma convenção de donzelas aflitas, que foram pegas de surpresa com sua chegada pacífica e tranquila, acompanhado de vossa graça.
— Senhoritas. — O duque fez uma breve reverência após ser apresentado juntamente com o dono da casa.
— Vossa graça — disseram e juntas.
— Papai. — se aproximou de seu pai temerosa e ansiosa por notícias.
Ele ignorou a filha a princípio e olhou para suas amigas.
— Eu imagino o motivo da presença das senhoritas, mas peço que se retirem, por favor. — Frederick se pronunciou, mantendo o tom frio. — Vossa graça, poderia acompanhá-las?
Mas é claro que nosso duque de Whosis sabia que as damas certamente estariam reunidas na Sollary House para dar apoio ao diamante bruto. Antes mesmo que pudesse retrucar o pedido…
— O senhor Sollary precisa de um momento com a família — disse , voltando sua atenção para . — Será um prazer acompanhá-las, senhoritas.
— Tudo bem. — sorriu de leve, controlando seu coração já acelerado somente por vê-lo e voltou-se para a amiga. — Espero uma carta sua, .
— Agradeço por tudo, . — Nosso diamante sorriu de leve e a abraçou, então deu outro abraço em . — E a vós também, minha amiga, muito obrigada.
— Sabe que podes contar conosco sempre — disse , retribuindo o abraço. — Boa sorte.
— Obrigada. — tentou manter um sorriso singelo no rosto, enquanto suas amigas se retiravam.
Porém, após o fechar da porta, toda a sua coragem se desfez e, voltando seu olhar para o pai que se mantinha em silêncio, o observou.
— Venha comigo, , temos muito o que conversar. — Finalmente Frederick pronunciou, direcionando-se para o escritório.
assentiu com a cabeça e olhou para as irmãs que se mantinham paradas próximo às escadas e, a passos lentos, seguiu o pai até o escritório. Ao entrarem, ela se sentou em uma cadeira em frente à mesa, enquanto ele se manteve de pé com as mãos nos bolsos pensativo em como iniciaria aquela conversa. Quanto mais o silêncio pairava entre ambos, mais ela sentia seu coração apertar dentro do peito.